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Gestão social e cidadania deliberativa: convergência de temas de pesquisa

Como nos mostra Fernando Tenório em Tem Razão a Administração? (TENÓRIO, 2016TENÓRIO, F. G. Tem Razão A Administração?: Ensaios de Teoria Organizacional e Gestão Social. 4. ed. Ijuí: Unijuí, 2016., p. 160), os expoentes da Escola de Frankfurt, Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, críticos da racionalidade instrumental, e Jürgen Habermas, com a sua proposta centrada na racionalidade comunicativa, influenciam o autor na sua definição de gestão social. “O adjetivo social qualificando o substantivo gestão será entendido como o espaço privilegiado de relações sociais no qual todos têm direito à fala, sem nenhum tipo de coação.” (TENÓRIO, 2016TENÓRIO, F. G. Tem Razão A Administração?: Ensaios de Teoria Organizacional e Gestão Social. 4. ed. Ijuí: Unijuí, 2016., p. 162). Tenório define também o termo cidadania deliberativa, que acompanha o conceito de gestão social: “[...] a legitimidade das decisões deve ter origem em processos de discussão orientados pelos princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do bem comum” (p. 162).

O número atual do Cadernos EBAPE.BR poderia ser naturalmente um número temático, tendo em vista a qualidade dos artigos, entre os quais reúnem-se ensaios teóricos voltados aos temas acima citados e às interfaces entre Filosofia, Sociologia, História e Teoria das Organizações.

Desta forma, o artigo 1, “O potencial da frankfurtianidade de Habermas em estudos organizacionais”, de Luis Gustavo Alves de Lara e Fábio Vizeu, reforça a análise da produção intelectual de Habermas como uma produção intelectual politicamente engajada nos problemas sociais contemporâneos, sendo Habermas considerado pelos autores do artigo como um autor crítico.

O artigo 2, “Comunicação que constitui e transforma os sujeitos: agir comunicativo em Jürgen Habermas, ação dialógica em Paulo Freire e os estudos organizacionais”, de Luis Fernando Silva Andrade, Valderí de Castro Alcântara e José Roberto Pereira, mostra que os dois autores, Habermas e Paulo Freire, oferecem elementos para desconstruir a lógica instrumental dominante e fornecem bases em suas teorias para a reconstrução de possibilidades inéditas e viáveis nas formas de organização e gestão.

Desta forma, os artigos 1 e 2 tratam também da cidadania deliberativa da qual fala Fernando Tenório, ainda que não definam este termo.

O artigo 3, “A escola e as identidades dos alunos do campo: um estudo a partir de Bourdieu e Althusser”, de Eline Gomes de Oliveira Zioli e Elisa Yoshie Ichikawa, mostra como a educação transforma identidades, tendo como foco as dimensões urbana e rural, a partir da análise do tipo de ensino que ocorre no colégio Estadual do Campo Odélia Rossi Arnaldi, em Paranavaí, PR. Processos de inclusão social a partir da educação são evidenciados neste artigo.

O artigo 4, “Razão e Administração: revisitando alguns elementos fundamentais”, de Laís Silveira Santos, Maurício C. Serafim, Daniel Moraes Pinheiro e Maria Clara Figueiredo Dalla Costa Ames, traz um ensaio teórico sobre Filosofia e Razão, analisando as dimensões da razão instrumental e substantiva.

O artigo 5, “Modelos de negócio na esfera pública: o modelo canvas de governança pública”, de Humberto Falcão Martins, João Paulo Mota e Caio Marini, apresenta este modelo analisando-o em relação aos stakeholders tendo em vista o aperfeiçoamento da Governança Pública dentro da perspectiva estudada.

O artigo 6, “Gerenciando a inovação a partir das lentes da ciência, tecnologia e estudos da sociedade: a partir de uma perspectiva construtivista e crítica do gerenciamento da inovação”, de Juan Felipe Espinosa-Cristia, analisa criticamente as visões de mundo e os tipos de epistemologia subjacentes às teorias de inovação atuais, desvendando dimensões subjacentes aos discursos atualmente dominantes em administração sobre inovação e inovação radical.

O artigo 7, “Metodologia Planeação Estratégica e Comunicativa: tecnologia social para o planejamento de programas de pós-graduação”, de Luciano Santos Magalhães e Mariluce Paes de Souza, analisa criticamente a Metodologia Planeação Estratégica e Comunicativa (PEC) e mostra como ela pode ajudar em processos de planejamento de cursos acadêmicos e inclusão social.

O artigo 8, “Características da colaboração científica entre grupos de pesquisa de áreas exatas, vida e humanas”, de Catarina Cecília Odelius e Rafael Nishino Ono, realiza uma pesquisa extensa sobre quais fatores favorecem este tipo de colaboração entre pesquisadores de áreas diferentes no Brasil e quais as consequências positivas deste tipo de colaboração para os pesquisadores e para as universidades.

O artigo 9, “Confiança em contratos relacionais: um estudo teórico”, de Marco Túlio Fundão Zanini e Carmen Pires Migueles, discute extensivamente o conceito de confiança a partir de diversas perspectivas teóricas.

O artigo 10, “O uso de metodologias ativas de aprendizagem em MBA de marketing”, de Alexandre Borba Salvador e Ana Akemi Ikeda, realiza uma análise crítica do método PBL (Problem Based Learning) em uma disciplina de marketing ministrada em um MBA (Pós-graduação lato sensu). O artigo reflete sobre o aprimoramento de metodologias de ensino para maior desenvolvimento da capacidade analítica dos alunos deste tipo de curso.

O artigo 11, “De missionários americanos na Bahia: o bacharelado em administração da Escola de Administração da UFBA”, de Carlos Osmar Bertero, Amon Barros e Rafael Alcadipani, apresenta uma historiografia sobre como os Estados Unidos apoiaram a Escola de Administração da UFBA juntamente com a FGV EAESP, a qual era disseminadora do modelo estadunidense no Brasil. O artigo analisa as dificuldades e também os êxitos que aqueles envolvidos no processo de apoio científico à UFBA enfrentaram no processo de criação dos cursos de administração.

O artigo 12, “Identificação e análise dos riscos corporativos associados ao ambiente de valor do negócio de cacau da Cargill”, de Marcelo Albuquerque, Marcelo Henrique Gomes Couto e Fábio Lotti Oliva, identifica e analisa os riscos corporativos associados ao ambiente de valor do negócio de cacau da Cargill, adotando método qualitativo e estudo de caso.

O artigo 13, “Dimensões da inovação em organizações da justiça: proposição de um modelo teórico-metodológico”, de Marilu Pereira Castro e Tomás Aquino Guimarães, propõe um modelo teórico-metodológico que aponta as dimensões que influenciam o processo de inovação em organizações da Justiça. O artigo trata da dimensão da inclusão social na medida em que salienta a importância da igualdade no acesso à Justiça, vencendo-se a morosidade e as dificuldades que impedem o acesso efetivo à Justiça para todos os cidadãos.

O artigo 14, “POP-Management - 15 anos depois: a incorporação do POP-Management no trabalho de executivos de grandes empresas”, de Maria Paula Ferraz Calfat Duarte e Cíntia Rodrigues de Oliveira Medeiros, apresenta-nos de certa forma a “ crítica da crítica” ou a resposta para as críticas feitas ao POP-Management, mostrando, que na visão dos executivos, o POP-Management apresenta vantagens que os mesmos valorizam ao buscar literatura para compreensão dos novos paradigmas e ideias em administração de empresas. Para a Academia, é importante pesquisas como esta que mostram as razões pelas quais esta forma de literatura é procurada pelo grande público, apesar de suas limitações. A pesquisa é relevante tendo em vista também o fato de que muitas vezes, os próprios acadêmicos reconhecem as dificuldades encontradas pelos estudos científicos em atingir um público maior.

O artigo 15, “Consciência Política e Participação dos Representantes da Sociedade Civil no Conselho Municipal de Vitória-ES”, de Arthur Gomes Dau, Márcia Prezotti Palassi e Marta Zorzal e Silva, trata de inclusão social e também do conceito definido por Fernando Tenório e apresentado neste editorial, de “cidadania deliberativa”, apesar de não fazer diretamente citação deste conceito e do autor, o artigo, em sua temática, se aproxima do mesmo.

Conforme apresentado no início do editorial, este número poderia ser uma edição temática, levando-se em consideração que todos os artigos tratam de problemáticas próximas e coerentes. No entanto, esta convergência de temas combinou este número com uma feliz coincidência que esperamos proporcionar aos leitores uma agradável leitura e frutíferas pesquisas.

Desejamos a todos uma excelente leitura!

REFERÊNCIA

  • TENÓRIO, F. G. Tem Razão A Administração?: Ensaios de Teoria Organizacional e Gestão Social. 4. ed. Ijuí: Unijuí, 2016.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2019
  • Data do Fascículo
    Mar 2019
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