Acessibilidade / Reportar erro

Introdução à edição especial: pessoas refugiadas ou deslocadas no ambiente de trabalho

Resumo

Esta edição especial se concentra nas experiências de refugiados e deslocados em meio a um conjunto diversificado de etnias e circunstâncias. O número crescente de pessoas nessas condições, bem como suas dificuldades na vida e no trabalho, são questões sociais centrais no mundo de hoje. A presente edição traz estudos que exploram como refugiados e deslocados - uma população ainda pouco estudada, mas crescente em todo o planeta - podem ser totalmente integrados, socializados, engajados, acolhidos e afirmados no local de trabalho e na sociedade, considerando o contexto brasileiro. Pouco se sabe sobre as experiências de carreira dessa população e sobre como organizações, lideranças e formuladores de políticas públicas podem contribuir para que ela possa encontrar trabalho, manter empregos e alcançar bons resultados na vida. São apresentados aqui 12 artigos, reunidos em três áreas relacionadas ao tema dos refugiados e seu local de trabalho. A primeira área explora preconceitos nas percepções a respeito de pessoas refugiadas em base a fatores como o tom da pele, país de origem e raça. A segunda apresenta pesquisas que abordam o deslocamento de refugiados e as barreiras à integração, inclusão, reconhecimento social e pertencimento. A terceira área, finalmente, examina com os refugiados têm sido integrados e aculturados na sociedade brasileira, muitas vezes por meio da assistência de organizações da sociedade civil ou pelos esforços de gestores no local de trabalho. Esperamos que as pesquisas apresentadas nesta edição especial contribuam para ampliar o interesse nesse importante tópico, inspirando futuros estudos que possam levar à redução das barreiras enfrentadas pelos refugiados e deslocados em seus processos de integração e aculturação.

Palavras-chave:
Refugiados; Carreiras; Integração de refugiados; Aculturação de refugiados; Organizações da sociedade civil

Abstract

This special issue focuses on refugees’ experiences and displaced people across a diverse set of ethnicities and circumstances. The growing number of refugees and displaced people and the work and life difficulties they face are central social issues in the world today. This special issue will explore how refugees and displaced people in Brazil can be fully integrated, socialized, engaged, embraced, and affirmed into the workplace and society. Research is presented on the experiences of refugees and displaced people, a growing but under-researched segment of the world’s population. Little is known about refugees’ career experiences and displaced people and how organizations, leaders, and policymakers can assist them in finding work, maintaining employment, and creating positive life outcomes. There are 12 articles included in this special issue. They focus on three areas of refugees in the workplace. The first area explores biases in the perceptions of refugees based on factors such as skin complexion, countries of origin, and race. The second area presents research that elaborates on the theme of displacement of refugees and barriers to integration, inclusion, social recognition, and belonging. The third area examines ways in which refugees have been integrated and acculturated into Brazilian society, often through the assistance of NGOs or through the efforts of managers in the workplace. It is our hope that the research presented in this special issue will increase interest in this important topic and lead to additional future research related to reducing barriers to integration and acculturation that refugees and displaced people face.

Keywords:
Refugees; Careers; Refugee integration; Refugee acculturation; NGOs

Resumen

Esta edición especial se centra en las experiencias de los refugiados y desplazados en medio de un conjunto diverso de etnias y circunstancias. El creciente número de personas en estas condiciones, así como sus dificultades en la vida y en el trabajo, son cuestiones sociales centrales en el mundo actual. Los estudios publicados en esta edición exploran cómo los refugiados y las personas desplazadas -una población aún poco estudiada, pero que crece en todo el planeta - pueden ser plenamente integrados, socializados, involucrados, acogidos y afianzados en el lugar de trabajo y en la sociedad, considerando el contexto brasileño. Poco se sabe sobre las experiencias profesionales de esta población y sobre cómo organizaciones, líderes y formuladores de políticas públicas pueden contribuir a que esta encuentre trabajo, mantenga su empleo y logre buenos resultados en la vida. Aquí se presentan 12 artículos reunidos en tres áreas relacionadas con el tema de los refugiados y su lugar de trabajo. La primera área explora los prejuicios en las percepciones con respecto a los refugiados en función de factores como el tono de piel, el país de origen y la raza. La segunda presenta investigaciones que abordan el desplazamiento de refugiados y las barreras a la integración, inclusión, reconocimiento social y pertenencia. Finalmente, la tercera área examina cómo los refugiados han sido integrados y aculturados en la sociedad brasileña, a menudo a través de la asistencia de organizaciones de la sociedad civil o mediante los esfuerzos de gestores en el lugar de trabajo. Esperamos que las investigaciones presentadas en esta edición especial contribuyan a incrementar el interés en este importante tema e inspiren futuros estudios que puedan conducir a la reducción de las barreras que enfrentan los refugiados y desplazados en sus procesos de integración y aculturación.

Palabras clave:
Refugiados; Carreras; Integración de refugiados; Aculturación de refugiados; Organizaciones de la sociedad civil

Essa edição temática do Cadernos EBAPE.BR foi elaborada a partir da chamada de trabalhos com foco em experiências de pessoas deslocadas e refugiados, de diversas etnias e contextos. Apesar de formar um segmento da população mundial ainda pouco estudado, seu crescente número e as dificuldades de trabalho e vida que enfrentam são questões sociais centrais no mundo atual. Nesse sentido, os artigos publicados nessa edição exploram como pessoas deslocadas e refugiados no Brasil podem ser integrados, socializados, engajados, acolhidos e afirmados no local de trabalho e na sociedade.

Pouco se sabe sobre a experiência profissional das pessoas deslocadas ou refugiados, e sobre como organizações, lideranças e formuladores de políticas públicas podem ajudar essa população a encontrar e manter empregos, alcançando uma vida melhor. As estatísticas da Agência da ONU para Refugiados mostram números impressionantes. As estimativas apontam para mais de 80 milhões de pessoas deslocadas à força em todo o mundo, com 30 a 34 milhões delas sendo crianças menores de 18 anos. Quase 46 milhões de pessoas estão deslocadas internamente, enquanto 26,3 milhões são refugiados e 4,2 milhões são requerentes de asilo (United Nations High Commissioner for Refugees [UNHCR], 2021). Os países em desenvolvimento hospedam aproximadamente 86% dos refugiados do mundo, enquanto países menos desenvolvidos abrem suas fronteiras para 28% dos refugiados. Mais de 67% dos refugiados vêm dos seguintes cinco países: Síria (6,6 milhões), Venezuela (3,7 milhões), Afeganistão (2,7 milhões), Sudão do Sul (2,3 milhões) e Mianmar (1,0 milhão).

De acordo com dados da Macro Trends, as estatísticas sobre refugiados no Brasil revelam um aumento de 190,55% entre 2018 e 2019, de 11.304 para 32.844 refugiados oficiais (Macro Trends, 2021). Essas pessoas são procedentes da Venezuela, Haiti, países do Oriente Médio como a Síria e vários países africanos. Em 2019, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), o Brasil recebeu 81.485 pedidos de asilo, em sua maioria vindos da Venezuela e do Haiti. No caso desse último, desde o terremoto de 2010 no país, mais de 100.000 haitianos buscaram refúgio no Brasil. Com relação a Venezuela, a população vem deixando o país para escapar da fome, problemas de saúde, insegurança, violência, agitação política, ameaças e violação de direitos humanos, que têm se agravado em decorrência de graves problemas socioeconômicos.

Nos últimos anos, de acordo com o ACNUR, a crise venezuelana se tornou uma das maiores crises de deslocamento do mundo, com mais de 5,4 milhões de refugiados e migrantes, mais de 800.000 requerentes de asilo e mais de 2,5 milhões de venezuelanos amparados em formas legais de permanência (UNHCR, 2020). A maioria dessa população deslocada vive agora em países da América Latina e do Caribe. Pesquisadores das Nações Unidas afirmam que o governo venezuelano “cometeu violações flagrantes”, incluindo assassinatos, tortura, violência e desaparecimento de pessoas em um esforço para suprimir a oposição política (Rueda, 2020Rueda, M. (2020, October 07). Venezuelans brave ‘brutal’ migrant route made tougher by pandemic. BBC News. Retrieved from https://www.bbc.com/news/world-latin-america-54418542
https://www.bbc.com/news/world-latin-ame...
). A pandemia tornou a situação ainda mais desesperadora para aqueles que tentam deixar a Venezuela, já que muitos dos abrigos ao longo das rotas de fuga foram fechados, e as pessoas que normalmente poderiam oferecer assistência estão preocupadas com a possibilidade de contaminação pela COVID-19.

Nesse movimento de fuga do país, muitos venezuelanos são forçados a dormir na calçada em temperaturas bem abaixo de zero enquanto rumam para locais com temperaturas mais altas (Rueda, 2020Rueda, M. (2020, October 07). Venezuelans brave ‘brutal’ migrant route made tougher by pandemic. BBC News. Retrieved from https://www.bbc.com/news/world-latin-america-54418542
https://www.bbc.com/news/world-latin-ame...
). Aproximadamente um quarto dos que viajam têm filhos (International Organization for Migration, 2021) e colaboradores de organizações como a Caritas França fornecem água, barras energéticas e equipamentos para ajudar com o frio. Na Venezuela, essa população teria sorte se conseguisse ganhar cerca de US$ 2 por mês, e gastariam todo o salário em suprimentos básicos, como um quilo de arroz, quando disponível. Enquanto isso, os salários nos países vizinhos são aproximadamente 100 vezes mais altos, o que é um grande incentivo para migrar (Rueda, 2020).

O grande aumento no número de refugiados pode levar à reação dos cidadãos dos países que recebem essa população, que pode ocorrer na forma de preconceito e discriminação com base em fatores como cor da pele, idioma, sotaque, raça, religião e país de origem. Nessa edição temática do Cadernos EBAPE.BR, muitos dos artigos discutem o racismo e outros tipos de discriminação que podem criar barreiras à integração da população deslocada e refugiados no Brasil. Eles exploram a integração e aculturação dos refugiados, em processos que ocorrem frequentemente nas relações de emprego e com ajuda de organizações da sociedade civil.

A estrutura de integração de Ager e Strang (2008Ager, A., & Strang, A. (2008). Understanding Integration: A conceptual framework. Journal of Refugee Studies, 21(2), 166-191. Retrieved from https://doi.org/10.1093/jrs/fen016
https://doi.org/10.1093/jrs/fen016...
) indica que o emprego é extremamente importante para a integração de refugiados, uma vez que influencia muitas outras questões, como autoestima, autossuficiência, independência econômica e planejamento para o futuro. São elementos importantes em uma integração bem-sucedida: obtenção e acesso a empregos em vários setores, habitação, educação, saúde, acesso e garantia de direitos, conexões sociais dentro da comunidade e superação de barreiras para conexão e reassentamento relacionadas à cultura e idioma locais. Em alguns casos, os governos não têm planos de integração para refugiados (por exemplo, oferecendo a esse público locais de alojamento conjunto, isolados do restante da população), o que comprovadamente prejudica sua aculturação no longo prazo. A discussão produtiva das questões enfrentadas pelas pessoas deslocadas é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas coerentes e para o eficaz reassentamento e integração dessa população.

A chamada de trabalhos para compor essa edição buscou pesquisas que examinassem as inúmeras questões enfrentadas pelos refugiados e os programas elaborados para ajudá-los a desenvolver habilidades profissionais e encontrar emprego. As perguntas de pesquisa para a edição incluem: Quais são os desafios relacionados ao trabalho que atingem especificamente as pessoas deslocadas? Como as pessoas deslocadas vivenciam e gerenciam suas carreiras? Como as organizações podem melhorar a carreira, o trabalho e os resultados de vida dos refugiados e pessoas deslocadas? Que tipos de programas educacionais e de treinamento podem ser eficazes para melhorar os resultados profissionais e a vida desses indivíduos? Esta edição inclui 12 artigos que examinam questões relacionadas ao racismo, preconceito e discriminação contra refugiados no Brasil e os esforços para integrar e aculturar refugiados na sociedade brasileira.

Os três primeiros artigos tratam de vieses nas percepções dos refugiados com base em fatores como compleição da pele, países de origem e raça. O artigo de abertura, Seu lar, meu refúgio: sobre o que ser um refugiado no Brasil, representa uma contribuição à literatura sobre migração Sul-Sul entrevistando 24 refugiados empregados em pequenas e médias empresas em São Paulo. Os dados das entrevistas foram analisados usando a abordagem da Análise Crítica do Discurso resultando em 3 categorias a priori: discursiva, social e textual. Os autores descobriram que as práticas sociais variam de acordo com os países de origem, gênero, cor da pele e raça, e três papéis diferentes foram revelados: vítima, falsificador ou herói. Uma análise textual adicional indicou resistência ao status social inferior dado aos refugiados na sociedade brasileira.

O segundo artigo, Relação entre trabalho precário e racismo para migrantes no Brasil, examinou dados de questionários aplicados a 274 participantes, refugiados vindos da Venezuela, Haiti, Bangladesh e Senegal, e vivendo nas cidades de Passo Fundo e Erechim. Os dados foram obtidos por meio de contatos pessoais e da utilização da amostragem por bola de neve. Os resultados mostraram que o trabalho precário afetou significativamente as percepções dos imigrantes sobre racismo devido à etnia (por exemplo, religião, nacionalidade) ou cor de pele mais escura. Além disso, a discriminação no trabalho moderou a relação entre o trabalho precário e a percepção de racismo dos imigrantes. Os autores observaram que o movimento de segregação é atualmente bastante forte no Brasil, que políticas públicas são necessárias para abordar a inclusão racial, e que as organizações, instituições da sociedade civil e gestores também devem estar cientes desses problemas, uma vez que a aceitação no local de trabalho é o principal meio de integração à sociedade.

O terceiro artigo, Migração Sul-Sul: um estudo sobre refugiados trabalhando em pequenas e médias empresas brasileiras, analisou a integração de refugiados no Brasil a partir do Sul global, expandindo a literatura sobre migração Sul-Sul e estereótipos a respeito de refugiados no Brasil. Entrevistas semiestruturadas e observações foram conduzidas com 28 entrevistados, sendo sete refugiados, incluindo 2 haitianos, 1 nigeriano, 1 congolês e 1 beninense; 7 empregadores brasileiros em diversos setores; e 14 colegas de trabalho brasileiros. Constatou-se que empregadores e trabalhadores brasileiros tendem a estereotipar refugiados negros de vários países da África e do Haiti em um grupo de “negros africanos” com base na cor da pele, demonstrando desconhecimento das diferenças culturais e geográficas desses refugiados. A falta de conhecimento dificulta a integração dos refugiados no local de trabalho e as barreiras linguísticas contribuíram para problemas de comunicação. Além disso foi observada uma desconfiança geral em relação aos refugiados e desrespeito por aqueles com costumes diferentes, como refugiados muçulmanos que consomem alimentos Halal. Os autores sugerem incentivos gerenciais adicionais para integrar com sucesso os refugiados no local de trabalho e treinamento em diversidade cultural para empregadores e funcionários brasileiros que trabalham com refugiados mitigando os problemas identificados.

O próximo conjunto de artigos aborda o deslocamento de refugiados e barreiras à integração, inclusão, reconhecimento social e pertencimento. O quarto artigo, Por que é tão difícil pertencer? As dificuldades dos refugiados em seus processos de inserção no mercado de trabalho e na sociedade brasileira, utilizou análises qualitativas de entrevistas em profundidade com refugiados de várias nacionalidades e gêneros na cidade do Rio de Janeiro. Os resultados revelaram uma lacuna entre as políticas públicas e as práticas envolvendo refugiados no ambiente de trabalho, observando que, além da discriminação percebida, os refugiados tinham problemas relacionados às diferenças no sistema educacional no Brasil em relação ao sistema educacional em seus países de origem e dificuldades em obter equivalência de diploma. O estudo mostrou que, independentemente dos desafios enfrentados para se integrarem à sociedade brasileira, os entrevistados têm intenção de permanecer no Brasil.

O quinto artigo, Deslocamento humano e reconhecimento social: relações e condições de trabalho de refugiados e migrantes no Brasil, analisa o processo de inclusão e reconhecimento social de deslocados e refugiados de diversos países, incluindo Haiti, Síria e Venezuela, por meio da análise qualitativa de aproximadamente 300 entrevistas não estruturadas e consultas psicossociais realizadas com migrantes e refugiados em Curitiba. Os autores adotaram a categoria de “reconhecimento social” proposta por Hegel a partir da centralidade do trabalho como fundamento do reconhecimento social. Os resultados indicaram uma inserção precária dessa população no mercado de trabalho com evidências de condições de trabalho semelhantes à “escravidão remunerada” e as experiências de injustiça social e sofrimento psíquico.

O sexto artigo, Deslocamento humano e reconhecimento social: relações e condições de trabalho de refugiados e migrantes no Brasil, analisou a migração haitiana a partir da perspectiva da Teoria da Administração. As técnicas de história de vida e observação foram utilizadas para detalhar o cotidiano dos imigrantes haitianos na região metropolitana de Goiânia, concluindo-se que as práticas de deslocamento estão profundamente entrelaçadas com as práticas organizacionais. Uma constatação geral foi que o processo de deslocamento de haitianos é um fenômeno contínuo envolvendo diferentes dimensões de eventos, com deslocamento internacional, nacional e comunitário. Além disso, a pesquisa expandiu as análises migratórias para a região de Goiás.

O sétimo artigo, Exílio político no contexto do Brasil pós-2019: História do desterro e do trabalho existência/resistência de uma intelectual brasileira, utilizou a metodologia da história de vida para entender melhor a situação dos brasileiros que foram forçados a se mudar de seu próprio país devido aos conflitos políticos, sociais, profissionais e pessoais com o neofascismo contemporâneo. Suas divergências são baseadas no anti-intelectualismo do neofascismo contemporâneo, na noção de pátria, tradição patriarcal, irrealidade, veneração mítica do passado e desarticulação do bem-estar público e da união. Um dos destaques discutidos neste artigo é a importância psicológica do trabalho devido à sua centralidade como principal dimensão da vida humana, forma de inserção na sociedade, fonte de identidade e meio de mobilidade social.

Os últimos cinco artigos examinam as maneiras pelas quais os refugiados foram integrados e aculturados na sociedade brasileira, muitas vezes por meio da assistência de organizações da sociedade civil ou dos esforços de gestores no local de trabalho. No oitavo artigo, O direito ao trabalho para refugiados: características das políticas migratórias brasileiras do pós-guerra até 2019, uma instituição sem fins lucrativos do estado de Minas Gerais, usando roteiros de entrevista semiestruturada e submetendo os resultados à análise de conteúdo. Os achados revelaram que todos os refugiados precisaram de menos tempo do que o esperado para conseguir um emprego, o que contribuiu para uma vida mais plena e para um acesso mais amplo a direitos. A pesquisa enfatizou a importância de parcerias sólidas entre os setores público e privado para ajudar esse público a encontrar emprego e se integrar na sociedade.

O nono artigo, Integração de refugiados envolvendo experiências de gestores organizacionais, utilizou a análise de conteúdo de entrevistas semiestruturadas com 5 gestores na cidade de São Paulo. Os resultados indicaram que nas empresas estudadas não existiam práticas formais de Recursos Humanos relacionadas aos refugiados. Alguns dos gerentes reservaram cargos para essa população em um esforço para ter uma política informal de diversidade. Esses gerentes reconheceram a importância de integrar os refugiados em sua organização e os benefícios da diversidade de experiências trazida por esse público. Os benefícios adicionais experimentados pela organização incluem força de vontade, gratidão, criatividade, talento, reputação da empresa e envolvimento profissional. No entanto, problemas de idioma, dificuldade em provar a formação, diferenças culturais e traumas psicológicos foram observados como barreiras para a integração e inclusão efetiva no local de trabalho. Além disso, as organizações de mediação foram indispensáveis na preparação dos refugiados para encontrar emprego e integrá-los ao local de trabalho.

O décimo artigo, Dinâmicas de aculturação e acesso ao emprego em uma ONG brasileira voltada para a integração social de refugiados haitianos, examinou as atividades de uma organização da sociedade civil que se concentra em ajudar refugiados haitianos. Os autores utilizaram a análise de conteúdo de entrevistas em profundidade com os administradores, juntamente com observações e análises de documentos, constatando que o processo de contratação e aculturação são indissociáveis. Os seminários interculturais, os cursos de língua portuguesa, as rodas de conversa, as entrevistas de emprego mediadas e as visitas a empresas após o emprego foram considerados como proporcionando uma visão prática do ponto de vista administrativo para outros empreendedores sociais e legisladores que pretendem estruturar programas de excelência como este.

O décimo primeiro artigo, O papel das estruturas de proteção social para integração econômica dos refugiados: uma análise dos refugiados sírios na cidade de São Paulo, utilizou entrevistas com refugiados e assistentes sociais, uma análise de documentos de organizações da sociedade civil e do governo brasileiro e métodos etnográficos para avaliar a estrutura da rede de segurança utilizada por refugiados sírios em São Paulo. Essa população conta com uma rede informal complexa composta por locais de trabalho informal, apoio da comunidade árabe, assistência social e apoio fornecido pelas mesquitas.

O décimo segundo artigo, Trabalho imaterial e organizações da sociedade civil: alternativa aos modos de trabalhar e de viver de refugiados, utilizou cartografia, entrevistas em profundidade com refugiados, entrevistas semiestruturadas com representantes de 3 organizações e informações coletadas de panfletos e em mídias sociais. As seguintes dimensões emergiram como variáveis importantes na integração dos refugiados: as ações de organizações da sociedade civil, a reinvenção das formas de viver e trabalhar dos refugiados e a rota do refugiado. Finalmente, o trabalho imaterial e as redes de cooperação foram vistos como essenciais para ajudar os refugiados a reinventar sua vida e trabalho.

Esperamos que os artigos apresentados nessa edição temática do Cadernos EBAPE.BR sirvam para ampliar o interesse nesse tema fundamental, inspirando novas pesquisas relacionadas as dificuldades de integração e aculturação enfrentadas pelos refugiados. Ainda, desejamos que mais estudos sejam conduzidos no sentido de explorar às maneiras pelas quais a integração social pode ser facilitada por meio do trabalho, da assistência de organizações da sociedade civil e de políticas públicas que contribuam para melhorar a vida das pessoas deslocadas e refugiados.

REFERENCES

  • [Versão traduzida]

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    30 Mar 2021
  • Aceito
    27 Maio 2021
Fundação Getulio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas Rua Jornalista Orlando Dantas, 30 - sala 107, 22231-010 Rio de Janeiro/RJ Brasil, Tel.: (21) 3083-2731 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernosebape@fgv.br