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Relatório corporativo socioambiental e greenwashing: análise de uma empresa mineradora brasileira

Informe social y ambiental corporativo y greenwashing: análisis de una empresa minera brasileña

Resumo

O presente estudo de caso propõe-se a analisar o relatório corporativo socioambiental (RCS) de uma empresa brasileira com o objetivo de identificar suas potenciais vulnerabilidades ao greenwashing. Com o mapeamento de literatura nas bases de dados do Portal de Periódicos CAPES, Spell e Google Scholar, foi possível identificar os pressupostos, que foram reunidos em categorias de análise, para ocorrência do greenwashing. Mediante abordagem qualitativa, de cunho exploratório, utilizou-se a análise temática reflexiva para confrontar as divulgações da empresa, as informações veiculadas em jornais e a legislação pertinente. Em conclusão, o caso analisado oferece evidências de que é possível que o greenwashing ocorra por meio do RCS. Também se concluiu que o processo de verificação independente dos relatórios tem uma atuação limitada na contenção dessa prática potencial. A singularidade deste estudo decorre da abordagem interdisciplinar e da disponibilidade de informações públicas sobre determinado período da empresa, analisadas em comparação com o conteúdo do RCS. Espera-se que a triangulação dessas perspectivas contribua para um melhor conhecimento sobre variedades de greenwashing presentes no RCS e fomente a reflexão sobre o papel da comunicação ambiental empresarial e o necessário aprimoramento das informações contábeis não financeiras.

Palavras-chave:
Meio ambiente; Aspectos socioambientais; Políticas ambientais; Relatório corporativo socioambiental; Sustentabilidade

Resumen

El presente estudio de caso se propone analizar el informe corporativo socioambiental (RCS, por sus siglas en portugués) de una empresa brasileña para identificar sus potenciales vulnerabilidades al greenwashing. A partir del mapeo de literatura en las bases de datos de los portales de publicaciones científicas CAPES, SPELL y Google Scholar, fue posible identificar los presupuestos para la ocurrencia del greenwashing, reunidos en categorías de análisis. A través de un enfoque cualitativo, de carácter exploratorio, se utilizó el análisis temático reflexivo para confrontar las divulgaciones de la empresa, la información publicada en periódicos y la legislación pertinente. En conclusión, las proposiciones del estudio fueron parcialmente confirmadas, en el sentido de que es posible que el greenwashing ocurra a través del RCS. También se concluyó que el proceso de verificación independiente de los informes tiene un papel limitado para contener esta potencial práctica. La singularidad de este estudio deviene de su enfoque interdisciplinario y de la disponibilidad de información pública sobre determinado período de la empresa, analizada comparativamente con el contenido del RCS. Se espera que la triangulación de estas perspectivas de análisis contribuya a una mejor comprensión del RCS y fomente la reflexión sobre el papel de la comunicación ambiental empresarial y la necesaria mejora de la información contable no financiera.

Palabras clave:
Medio ambiente; Aspectos socioambientales; Políticas ambientales; Informe corporativo socioambiental; Sostenibilidad

Abstract

This case study analyzes the corporate socioenvironmental report (CSR) of a Brazilian company to identify potential vulnerabilities of the practice of greenwashing. Based on consultation of the relevant literature obtained from the databases of the CAPES Periodical Portal, SPELL, and Google Scholar, it was possible to identify the assumptions for the occurrence of greenwashing, arranged in categories for analysis. The study is qualitative and exploratory in nature, employing reflexive thematic analysis of the company’s disclosures and the information obtained from newspapers in light of the pertinent legislation. The results partially confirmed the hypotheses in the sense that it is possible for greenwashing to occur related to the CSR. The results also indicated that the process of independent verification of the reports has a limited effect to counteract this potential practice. The singularity of this study is the interdisciplinary approach and analysis of publicly available information about a determined period compared to the content of the CSR. The triangulation of the information can contribute to a better understanding of the CSR and foster reflection on the role of corporate environmental communication and the need for better reporting of non-financial information.

Keywords:
Environment; Socioenvironmental aspects; Environmental policies; Corporate sustainability report; Sustainability

INTRODUÇÃO

Neste artigo, procura-se responder à seguinte pergunta: quais as vulnerabilidades ao greenwashing no relatório corporativo socioambiental (RCS) da mineradora Vale S.A.? Esta empresa foi selecionada em virtude de sua performance afetar de forma expressiva a economia nacional e os ganhos de milhares de brasileiros, direta e indiretamente, e de este perfil tornar relevante a transparência de suas informações. Em 2016, a Vale, que contava com mais de 45.000 empregados (Figo, Salomão, Melo, & Vaz, 2016Figo, A; Salomão, K; Melo, L; & Vaz, T. (2016, junho 30). Maiores e Melhores 2016. Exame. Recuperado de https://exame.com/negocios/as-empresas-que-foram-destaque-em-melhores-e-maiores-2016/
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), foi excluída do índice de sustentabilidade empresarial (ISE) da Bolsa de Valores, uma carteira teórica que distingue empresas pelo seu comprometimento com a sustentabilidade. Em 2021, foi considerada a segunda maior empresa de capital aberto do Brasil e a 113ª no mundo (Forbes, 2021Forbes. (2021, maio 13). Global 2000: 21 maiores empresas brasileiras de capital aberto em 2021. Recuperado de https://forbes.com.br/forbes-money/2021/05/global-2000-21-maiores-empresas-brasileiras-de-capital-aberto-em-2021
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).

O caso é representativo porque as práticas socioambientais desta empresa afetam o bem-estar de milhões de pessoas e têm um grande potencial de impacto ambiental. Isso ficou claro no rompimento da barragem de Fundão, da empresa Samarco, em Mariana-MG, em novembro de 2015 - considerado o maior desastre ambiental do Brasil (G1, 2019aG1. (2019a, janeiro 25). Há 3 anos, rompimento de barragem de Mariana causou maior desastre ambiental do país e matou 19 pessoas. Recuperado dehttps://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/01/25/ha-3-anos-rompimento-de-barragem-de-mariana-causou-maior-desastre-ambiental-do-pais-e-matou-19-pessoas.ghtml
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; Marshall, 2018Marshall, J. (2018, agosto). Tailings dam spills at Mount Polley and Mariana: Chronicles of Disasters Foretold. Canadian Centre for Policy Alternatives. Recuperado dehttps://www.policyalternatives.ca/tailings-disasters
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). A Vale dividia, em partes iguais com a BHP Billiton, o controle das ações da Samarco (Vale, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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). Adicionalmente, em fevereiro de 2019, ocorreu o segundo rompimento com o colapso de outra barragem de rejeitos ligada à empresa, a barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho-MG. A Vale ficou em evidência novamente, o que promoveu, no noticiário, a divulgação de grande volume de informações a respeito de sua gestão ambiental. Essas circunstâncias tornaram a empresa um caso singular de estudo, porque permitiram realizar uma comparação entre as informações ambientais divulgadas publicamente pela empresa e pela imprensa. A verificação empírica a respeito das vulnerabilidades ao greenwashing via RCS pela Vale é algo ainda inédito nas 9.060 produções bibliográficas relacionadas ao tema pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC, 2019Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. (2019). Ciência por Brumadinho: os especialistas no desastre de Mariana-MG. Recuperado dehttp://brumadinho.ibict.br/desastre_mariana/PB-0.html
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). A escolha do caso mostrou-se pertinente, porque, após o evento de Mariana-MG, a empresa apresentou inconsistências nas normas contábeis aplicáveis e uma publicação imprecisa de seu patrimônio (Volpato & Tavares, 2016Volpato, F., & Tavares, M. F. N. (2016). Uma análise dos reflexos nas demonstrações contábeis da Vale SA após o reconhecimento de Passivos ambientais pela Samarco SA. In Anais do 1o Congresso UFPE de Ciências Contábeis, Recife, PE.).

O RCS consiste em um instrumento estratégico de avaliação, cuja função é apresentar indicadores de como são conduzidos os assuntos de responsabilidade socioambiental pela empresa (Ribeiro, 2012Ribeiro, M. D. S. (2012). Uma reflexão sobre as oportunidades para a Contabilidade Ambiental. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, 17, 4-17.), o que gera questionamentos sobre sua acurácia. P. R. Silva (2013Silva, P. R. (2013). Reflexões sobre a divulgação do balanço socioambiental no Brasil (Tese de Doutorado). Universidade de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina.), por exemplo, afirma que predominantemente as informações ambientais e sociais não estão a serviço da transparência, mas, sim, do marketing corporativo, de forma que sua contribuição para a transparência e para o equacionamento dos problemas socioambientais seria bastante reduzida. As pesquisas que tiveram por objeto os RCS divulgados no Brasil apontaram falhas que precisam ser supridas. Os incipientes relatórios ambientais realizados no país mostravam um índice de evidenciação desigual e de difícil análise (Calixto, Barbosa, & M. B. Lima, 2007Calixto, L; Barbosa, R. R; & Lima, M. B. (2007). The spread of voluntary environmental information: accounting reports versus internet. Revista Contabilidade & Finanças, 18(Spe.), 84-95.). Mostra-se pertinente, então, depurar o que é divulgado no RCS, visto que, muitas vezes, trata-se de peça publicitária (Lins & R. N. S. Silva, 2010Lins, L. D. S; & Silva, R. N. S. (2010). Responsabilidade Sócio-Ambiental ou Greenwash: uma avaliação com base nos relatórios de sustentabilidade ambiental. Sociedade, Contabilidade e Gestão, 4(1), 91-105.; Torres & Mansur, 2008Torres, C., & Mansur, C. (2008). Balanço social, dez anos: o desafio da transparência. Rio de Janeiro, RJ: IBASE.), com dados não confirmados e sem certificação independente.

Neste estudo, a perspectiva de greenwashing é lançada sobre a divulgação de RCS com dados ambientais possivelmente errôneos, que posicionem, de forma infundada ou enganosa, a empresa como ambientalmente responsável. Aqui, o greenwashing foi tratado como a propagação de falsas informações socioambientais, duvidosas ou oportunistas, que induzam terceiros a conclusões equivocadas sobre a natureza, atributos, benefícios ou atividades da empresa que as promovem (Antoniolli & Gonçalves-Dias, 2015Antoniolli, G. A; & Gonçalves-Dias, S. L. F. (2015) Uma discussão em torno de responsabilidades, comunicação ambiental e greenwashing: o caso Petrobras. Organizações e Sustentabilidade, 3(1), 3-46.; Pagotto & Carvalho, 2020Pagotto, É. L., & Carvalho, M. B. (2020). Natureza à venda: da ecopornografia a um modelo compreensivo de indicadores de greenwashing. Scripta Nova: revista electrónica de geografía y ciencias sociales, 24. Recuperado dehttps://raco.cat/index.php/ScriptaNova/article/view/364698
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). Greenwashing também pode se manifestar pela divulgação seletiva de informações sobre o desempenho ambiental de uma empresa (Marquis, Toffel, & Zhou, 2016Marquis, C; Toffel, M. W; & Zhou, Y. (2016). Scrutiny, norms, and selective disclosure: a global study of greenwashing. Organization Science, 27(2), 483-504.), com ocultação de informações negativas (Lyon & Maxwell, 2011Lyon, T. P; & Maxwell, J. W. (2011). Greenwash: Corporate environmental disclosure under threat of audit. Journal of Economics & Management Strategy, 20(1), 3-41.). O presente estudo se justifica por trazer elementos que apontam evidências empíricas sobre a utilização de greenwashing nas divulgações corporativas.

Em análise de conteúdo das divulgações ambientais de quatro empresas do setor de mineração, K. R. Batista, Melo, e Carvalho (2016Batista, K. R; Melo, J. F. M; & Carvalho, J. R. M. (2016). Evidenciação dos itens ambientais nas empresas do setor de mineração de metálicos cadastradas na BM&FBOVESPA. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, 5(1), 128-143.) constataram que não são divulgados os itens ambientais de forma suficiente para uma análise mais profunda. Após os desastres de inéditas proporções no Brasil associados à Vale, esperava-se uma melhoria no RCS da empresa, visto que a temática atraiu a atenção da sociedade e de pesquisadores. A atualidade, relevância e pertinência do tema são aferidas pelos impactos socioambientais que perduram após as tragédias, bem como pela crescente tendência de divulgação do RCS pelas empresas, que geram questões sobre a legitimidade e eficácia de sua utilização (Misoczky & Böhm, 2012Misoczky, M. C., & Böhm, S. (2012). Do desenvolvimento sustentável à economia verde: a constante e acelerada investida do capital sobre a natureza. Cadernos EBAPE.BR, 10(3), 546-568.).

REVISÃO DE LITERATURA

A evidenciação contábil dos passivos ambientais é uma plataforma para a divulgação de questões ambientais e redução da assimetria informacional, mas a crescente publicação de RCS não encontra uma explicação única, embora este seja um tema recorrente na literatura (C. R. M. Silva, D. S. V. R. Lima, Santos, Cabral, & Pessoa, 2017Silva, C. R. M; Lima, D. S. V. R; Santos, S. M; Cabral, A. C. A; & Pessoa, M. N. M. (2017). Contabilidade socioambiental: mapeamento da produção científica em periódicos da base SPELL. Revista Metropolitana de Sustentabilidade, 7(3), 83-102.). Esse incremento pode ser um indicativo de que as empresas reagiram aos novos mecanismos regulatórios (Cunha & Ribeiro, 2016Cunha, L. M. S; & Ribeiro, M. S. (2016). A divulgação de provisões e passivos contingentes ambientais pelas empresas do setor de energia elétrica em comparação ao desenvolvimento da normatização da evidenciação contábil. Revista Universo Contábil, 12(4), 86-106.), ou que há uma relação diretamente proporcional entre o grau de internacionalização e o nível de divulgação ambiental (A. B. Batista, Bruni, & Cruz, 2016Batista, A. B; Bruni, A. L; & Cruz, N. V. S. (2016). Fatores determinantes do nível de divulgação ambiental nas maiores transnacionais brasileiras em 2014 segundo a Fundação Dom Cabral. Contextus, 14(3), 140-161.; Kolk, 2004Kolk, A. (2004). A decade of sustainability reporting: developments and significance. International Journal of Environment and Sustainable Development, 3(1), 51-64.). As empresas que publicam RCS auferem benefícios, porque sinalizam um comportamento responsável, favorecendo, com isso, o processo de legitimação perante clientes e investidores e o incremento do nível de lealdade e de investimentos externos. Essa legitimação pode advir do cumprimento das normas por meio do gerenciamento de impressões a respeito do atendimento da regulação (Di Tullio, Valentinetti, Nielsen, & Rea, 2019Di Tullio, P; Valentinetti, D; Nielsen, C; & Rea, M. A. (2019, novembro). In search of legitimacy: a semiotic analysis of business model disclosure practices. Meditari Accountancy Research, 28(5), 863-887.; Jatahi, 2004Jatahi, P. J. D. C. (2004). O poder simbólico e o gerenciamento de impressões em organizações públicas: a construção do mito da eficácia do Banco Central na administração da política econômica. Cadernos EBAPE.BR, 2(3), 1-13.). Albuquerque, Rodrigues, Miranda, e Sampaio (2017Albuquerque, J. R; Rodrigues, R. N; Miranda, L. C; & Sampaio, Y. D. S. B. (2017). Influência da divulgação do relato integrado nos indicadores econômico-financeiros. Revista de Contabilidade da UFBA, 11(3), 188-208.) confirmam que o RCS tem um potencial de gerar ganhos financeiros, e as empresas podem estar motivadas ao disclosure pela maximização de seus ganhos de forma racional. Outros fatores que levam à divulgação voluntária de informações (Lopes & Demajorovic, 2020Lopes, J. C; & Demajorovic, J. (2020). Responsabilidade Social Corporativa: uma visão crítica a partir do estudo de caso da tragédia socioambiental da Samarco. Cadernos EBAPE.BR, 18(2), 308-322.; Miller, Su, Perez-Batres, & Pisani, 2020Miller, V. V; Su, Q; Perez-Batres, L. A; & Pisani, M. J. (2020). China’s green watch program: beyond greenwashing. Chinese Management Studies, 14(4), 977-993. Recuperado de https://doi.org/10.1108/CMS-11-2018-0736
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) podem relacionar-se com (i) o seu potencial de causar impactos ambientais (Cardoso, Luca, & Almeida, 2016Cardoso, V. I. C; De Luca, M. M. M; & Almeida, T. A. (2016). Práticas de disclosure econômico e socioambiental nas maiores empresas do Brasil. Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria, 9(1), 156-173.); (ii) forte regulação, como ocorre com as empresas do setor de energia (J. S. Ferreira, Rover, D. D. M. Ferreira, & Borba, 2016Ferreira, J. S; Rover, S; Ferreira, D. D. M; & Borba, J. A. (2016). Informações Financeiras Ambientais: diferença entre o nível de disclosure entre empresas brasileiras. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade, 10(1), 5-24.); e (iii) grau de exposição e necessidade de legitimação da empresa (Bertrand, Betschinger, & Moschieri, 2021Bertrand, O; Betschinger, M. A; & Moschieri, C. (2021). Are firms with foreign CEOs better citizens? A study of the impact of CEO foreignness on corporate social performance. Journal of International Business Studies, 52, 525-543.).

Ainda que a literatura reconheça os benefícios econômicos advindos do RCS e que estes são um meio pelo qual as empresas podem demonstrar sua atitude em contribuição à sociedade, há um caminho a ser percorrido para que essa ferramenta possa ajudar de modo mais explícito as empresas e organizações a angariar legitimação social perante seus stakeholders (Ditlevsen, Nielsen, & Thomsen, 2013Ditlevsen, M. G; Nielsen, A. E; & Thomsen, C. (2013). Corporate Reporting: an Integrated Approach to Legitimacy. Journal of Modern Accounting and Auditing, 9(12), 1637-1643.). Com efeito, diante das necessárias interações de um mundo globalizado, ou hiperconectado, tornou-se imperativo que as empresas, de um lado, divulguem suas ações de sustentabilidade; enquanto os stakeholders, de outro, acreditem que elas adotam as ações sustentáveis (Antoniolli & Gonçalves-Dias, 2015Antoniolli, G. A; & Gonçalves-Dias, S. L. F. (2015) Uma discussão em torno de responsabilidades, comunicação ambiental e greenwashing: o caso Petrobras. Organizações e Sustentabilidade, 3(1), 3-46.; Araújo, Gonçalves-Dias & Pagotto, 2019Araújo, R. S; Gonçalves-Dias, S. L. F; & Pagotto, E. L. (2019) Rotulagem ambiental e greenwashing: análise de discursos e práticas empresariais. Organizações e Sustentabilidade, 7(2), 25-42.; Jenkins & Yakovleva, 2006Jenkins, H; & Yakovleva, N. (2006). Corporate social responsibility in the mining industry: exploring trends in social enviromental disclosure. Journal of Cleaner Production, 14, 271-284.).

Há uma crescente literatura examinando a necessidade de normas e verificação de terceiros para orientar as empresas sobre os indicadores ambientais e as questões que deveriam comunicar (Jones, 2019Jones, E. (2019). Rethinking Greenwashing: Corporate Discourse, Unethical Practice, and the Unmet Potential of Ethical Consumerism. Sociological Perspectives, 62(5), 728-754.; Kolk, 2004Kolk, A. (2004). A decade of sustainability reporting: developments and significance. International Journal of Environment and Sustainable Development, 3(1), 51-64.; Reid & Toffel, 2009Reid, E. M., & Toffel, M. W. (2009). Responding to public and private politics: corporate disclosure of climate change strategies. Strategic Management Journal, 30(11), 1157-1178.; Ribeiro, 2012Ribeiro, M. D. S. (2012). Uma reflexão sobre as oportunidades para a Contabilidade Ambiental. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, 17, 4-17.). Contudo o conceito “sustentabilidade” é polissêmico, comporta variadas interpretações (M. Bursztyn & M. A. Bursztyn, 2012Bursztyn, M; & Bursztyn, M. A. (2012). Fundamentos de política e gestão ambiental: os caminhos do desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro, RJ: Garamond.) e foi apropriado por diferentes grupos de interesse, que o entendem de variadas formas e projetam diferentes expectativas em torno de seus desdobramentos (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2011Gonçalves-Dias, S. L. F. & Teodósio, A. D. S. S. (2011). Perspectivas de análise do ambientalismo empresarial para além de demonizações e santificações. Revista de Gestão Social e Ambiental, 5(2), 3-17.). A ausência de critérios confiáveis parece militar unicamente em favor dos discursos das empresas, como óbices à construção de espaços para o consumidor-cidadão (Gonçalves-Dias & Teodósio, 2012Gonçalves-Dias, S. L. F. & Teodósio J. A. S. S. (2012). Controvérsias em torno do consumo e da sustentabilidade: uma análise exploratória da literatura. AOS - Amazônia, Organizações e Sustentabilidade, 1(2), 61-77.; Portilho, 2005Portilho, F. (2005). Consumo sustentável: limites e possibilidades de ambientalização e politização das práticas de consumo. Cadernos EBAPE.BR, 3(3), 1-12.). Nessa linha, têm surgido propostas para monitorar e verificar o desempenho das empresas no quesito sustentabilidade. Entretanto, Antoniolli e Gonçalves-Dias (2015Antoniolli, G. A; & Gonçalves-Dias, S. L. F. (2015) Uma discussão em torno de responsabilidades, comunicação ambiental e greenwashing: o caso Petrobras. Organizações e Sustentabilidade, 3(1), 3-46.) já destacavam que, para a regulação dessa comunicação por parte do governo, ainda há muitas lacunas conceituais e metodológicas a serem supridas.

No Brasil, as publicações de RCS ainda são restritas numericamente, são predominantes entre empresas de maior porte, visto que estas são submetidas a controles de mercados internacionais ou de regulação. Tal divulgação não corresponde necessariamente a práticas reais de sustentabilidade (Jenkins & Yakovleva, 2006Jenkins, H; & Yakovleva, N. (2006). Corporate social responsibility in the mining industry: exploring trends in social enviromental disclosure. Journal of Cleaner Production, 14, 271-284.). Iudícibus, Martins, e Carvalho (2005Iudícibus, S; Martins, E; & Carvalho, L. N. (2005) Contabilidade: aspectos relevantes da epopéia de sua evolução. Revista de contabilidade e finanças, 16(38), 7-19.) notaram que as evidenciações tendem à promoção institucional e, não, a fidedignos reportes sociais. Nas avaliações dos RCS, mediante confronto com os discursos e as práticas empresariais, foram identificadas deficiências quanto à acurácia (Garcia, Cintra, Ribeiro, & Dibbern, 2015Garcia, S; Cintra, Y. C; Ribeiro, M. S; & Dibbern, B. R. S. (2015). Qualidade da divulgação socioambiental: um estudo sobre a acurácia das informações contábeis nos relatórios de sustentabilidade. Revista Contemporânea de Contabilidade, 12(25), 67-94.), ao conteúdo (Oliveira, 2005Oliveira, J. A. P. D. (2005). Uma avaliação dos balanços sociais das 500 maiores. RAE eletrônica, 4(1), 1-19. Recuperado de https://rae.fgv.br/rae-eletronica/vol4-num1-2005/avaliacao-balancos-sociais-500-maiores#
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) e à comparabilidade de tais relatórios, sugerindo oportunidades e desafios a enfrentar (Brucksch & Grünschloß, 2009Brucksch, S; & Grünschloß, C. (2009). From environmental accountability to corporate social responsibility? Reflections on the CSR boom in Japan from the perspective of business management and civil society groups. Japanstudien, 20(1), 307-329.). Zaro (2015Zaro, E. S. (2015). Análise comparativa de relatos integrados das empresas brasileiras à luz da estrutura conceitual (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, SC.), referindo-se a RCS de empresas brasileiras, apontou que o conteúdo não demonstra uma análise aprofundada, sendo necessário amadurecimento para uma gestão de longo prazo e integração. Dessa maneira, os RCS precisam evoluir, apresentar maior precisão de dados, pois poderiam ser mais bem aproveitados como meio de prestação de contas e atração de investidores (Ribeiro, 2012Ribeiro, M. D. S. (2012). Uma reflexão sobre as oportunidades para a Contabilidade Ambiental. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, 17, 4-17.).

Souza, Tarifa, e Panhoca (2019Souza, F. M., Tarifa, M. R., & Panhoca, L. (2019). O rompimento da barragem de Mariana (MG): mudanças no disclosure ambiental do setor de mineração. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, 8(1), 172-187.), em análise sobre as mudanças no disclosure ambiental do setor de mineração brasileiro após o rompimento da barragem de Mariana-MG, apontou o uso, pelas empresas analisadas, de estratégias de gerenciamento de impressões (Jatahi, 2004Jatahi, P. J. D. C. (2004). O poder simbólico e o gerenciamento de impressões em organizações públicas: a construção do mito da eficácia do Banco Central na administração da política econômica. Cadernos EBAPE.BR, 2(3), 1-13.) para divulgação de seus impactos ambientais. Lopes e Demajorovic (2020Lopes, J. C; & Demajorovic, J. (2020). Responsabilidade Social Corporativa: uma visão crítica a partir do estudo de caso da tragédia socioambiental da Samarco. Cadernos EBAPE.BR, 18(2), 308-322.), ao verificar os relatórios de sustentabilidade da Samarco de 2005 a 2014, concluíram haver fragilidades entre discurso e prática de iniciativas de responsabilidade social corporativa. Embora a Samarco tenha apontado uma crescente preocupação com os temas segurança, barragens e resíduos, estas questões não se refletiam no diálogo e percepção da comunidade (Lopes & Demajorovic, 2020Lopes, J. C; & Demajorovic, J. (2020). Responsabilidade Social Corporativa: uma visão crítica a partir do estudo de caso da tragédia socioambiental da Samarco. Cadernos EBAPE.BR, 18(2), 308-322.), tampouco no relatório da própria Vale, até a ocorrência da tragédia (Souza et al; 2019Souza, F. M., Tarifa, M. R., & Panhoca, L. (2019). O rompimento da barragem de Mariana (MG): mudanças no disclosure ambiental do setor de mineração. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, 8(1), 172-187.). Marshall (2018Marshall, J. (2018, agosto). Tailings dam spills at Mount Polley and Mariana: Chronicles of Disasters Foretold. Canadian Centre for Policy Alternatives. Recuperado dehttps://www.policyalternatives.ca/tailings-disasters
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), ao relatar uma comparação entre os desastres de Mariana-MG e o de Mount Polley, no Canadá, encontrou semelhanças nos discursos das organizações, na medida em que elas trataram os episódios como incidentes isolados e tentaram atenuar a percepção sobre os níveis de toxicidade das lamas de rejeitos e da contaminação dos sistemas hídricos atingidos. Essas táticas consistiram em ocultação de informações e atribuição a fatores externos, apresentando um discurso seletivo sobre seus impactos ambientais, o que se alinha a concepções sobre greenwashing expressas na literatura (Delmas & Burbano, 2011Delmas, M.A; & Burbano, V.C. (2011). The drivers of greenwashing. California Management Review, 54(1), 64-87.; Lyon & Maxwell, 2011Lyon, T. P; & Maxwell, J. W. (2011). Greenwash: Corporate environmental disclosure under threat of audit. Journal of Economics & Management Strategy, 20(1), 3-41.; Marquis et al; 2016Marquis, C; Toffel, M. W; & Zhou, Y. (2016). Scrutiny, norms, and selective disclosure: a global study of greenwashing. Organization Science, 27(2), 483-504.).

Nesse contexto, justifica-se a questão sobre as vulnerabilidades do RCS ao greenwashing. Desde o estudo de Delmas e Burbano (2011Delmas, M.A; & Burbano, V.C. (2011). The drivers of greenwashing. California Management Review, 54(1), 64-87.), apontando possíveis gatilhos para tal prática, houve tentativa de demonstrações empíricas de sua ocorrência (Miller et al; 2020Miller, V. V; Su, Q; Perez-Batres, L. A; & Pisani, M. J. (2020). China’s green watch program: beyond greenwashing. Chinese Management Studies, 14(4), 977-993. Recuperado de https://doi.org/10.1108/CMS-11-2018-0736
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). A respeito da aferição do greenwashing (Bowen, 2014Bowen, F. (2014). After Greenwashing: Symbolic Corporate Environmentalism and Society. Cambridge, UK: Cambridge University Press.; Reid & Toffel, 2009Reid, E. M., & Toffel, M. W. (2009). Responding to public and private politics: corporate disclosure of climate change strategies. Strategic Management Journal, 30(11), 1157-1178.), não há um conceito que seja adotado de maneira unívoca na literatura, especialmente porque as pesquisas sobre greenwashing expressam visões de diferentes disciplinas sobre o fenômeno (Gatti, Seele, & Rademacher, 2019Gatti, L; Seele, P; & Rademacher, L. (2019). Grey zone in-greenwash out. A review of greenwashing research and implications for the voluntary-mandatory transition of CSR. International Journal of Corporate Social Responsibility, 4(1), 1-15.). Neste estudo, foram utilizadas as categorias de análise conforme variedades de greenwashing apontadas no Quadro 1.

Quadro 1
Algumas variedades do greenwashing identificadas na literatura

Segundo essas balizas da literatura, é possível a realização de greenwashing via RCS. Assim, foram investigados se elementos de greenwashing poderiam ser identificados no RCS da Vale entre os anos de 2015 e 2021.

MÉTODO

A pergunta central é: quais as vulnerabilidades para o greenwashing identificadas em um determinado RCS? A estratégia da pesquisa consistiu na seleção de um estudo de caso da mineradora Vale S.A. Utilizou-se a análise temática (Braun & Clarke, 2012Braun, V; & Clarke, V. (2012). Thematic analysis. In H. Cooper; P. M. Camic; D. L. Long; A. T. Panter; D. Rindskopf; & K. J. Sher(Eds.), APA handbook of research methods in psychology (Vol. 2, pp. 57-71). Washington, DC: American Psychological Association.) com o objetivo de confrontar as divulgações da empresa, as informações veiculadas em jornais e a legislação pertinente, sob a ótica dos conceitos de greenwashing.

Por se tratar de uma tragédia sem precedentes no Brasil, a abordagem qualitativa de caráter exploratório mostrou-se adequada. Sob uma perspectiva interdisciplinar (Gatti et al; 2019Gatti, L; Seele, P; & Rademacher, L. (2019). Grey zone in-greenwash out. A review of greenwashing research and implications for the voluntary-mandatory transition of CSR. International Journal of Corporate Social Responsibility, 4(1), 1-15.) em relação ao corpus de dados, recorreu-se à busca e codificação de padrões de informação que formassem temas que seriam objeto de uma análise reflexiva e dedutiva, com base nos conceitos eleitos (Clarke, Braun, Terry, & Hayfield, 2019Clarke, V; Braun, V; Terry, G; & Hayfield, N. (2019). Thematic analysis. In P. Liamputtong (Ed.), Handbook of research methods in health and social sciences (pp. 843-860). Verlag, Singapore: Springer.). A análise temática foi útil para o fim de identificar, codificar e possibilitar compreensão ampla, por meio de padrões temáticos selecionados nos RCS da Vale do período de 2015 e 2021. Tais padrões permitiram identificar as relações de um determinado tópico com a pergunta de pesquisa (Braun & Clarke, 2012Braun, V; & Clarke, V. (2012). Thematic analysis. In H. Cooper; P. M. Camic; D. L. Long; A. T. Panter; D. Rindskopf; & K. J. Sher(Eds.), APA handbook of research methods in psychology (Vol. 2, pp. 57-71). Washington, DC: American Psychological Association.). Os passos seguidos para construção do quadro conceitual-teórico e posterior análise dos dados estão expressos no Quadro 2.

Quadro 2
Percurso metodológico

A aferição do greenwashing pode ser feita por meio de uma única unidade de informação, como uma peça publicitária (Antoniolli & Gonçalves-Dias, 2015Antoniolli, G. A; & Gonçalves-Dias, S. L. F. (2015) Uma discussão em torno de responsabilidades, comunicação ambiental e greenwashing: o caso Petrobras. Organizações e Sustentabilidade, 3(1), 3-46.; Pagotto & Carvalho, 2020Pagotto, É. L., & Carvalho, M. B. (2020). Natureza à venda: da ecopornografia a um modelo compreensivo de indicadores de greenwashing. Scripta Nova: revista electrónica de geografía y ciencias sociales, 24. Recuperado dehttps://raco.cat/index.php/ScriptaNova/article/view/364698
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), ou site (Kassinis & Panayiotou, 2018Kassinis, G; & Panayiotou, A. (2018). Visuality as greenwashing: the case of BP and Deepwater Horizon. Organization & Environment, 31(1), 25-47.). Dessa forma, o RCS da Vale (2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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), produzido após o primeiro rompimento de barragem, foi o ponto de partida para identificação dos temas desta análise. A singularidade do momento analisado, a escolha do RCS apresentado entre as duas tragédias e as contradições presentes entre o RCS e as declarações públicas da empresa justificam a abordagem realizada e a seleção dos códigos e temas. Para confirmar os achados da pesquisa e obter uma maior amplitude da escala de tempo, foram comparados os temas de análise nos relatórios de 2015 a 2021.

A construção do quadro conceitual para avaliação de greenwashing nos RCS foi baseada em um mapeamento de literatura. Foram realizadas buscas automáticas das palavras-chave relacionadas ao tema (relatório corporativo socioambiental, comunicação ambiental e greenwashing) no acervo da USP, sequenciadas com pesquisas em localizadores de reconhecida relevância, como o Google Scholar, Portal de Periódicos da CAPES e Spell. Os mesmos descritores foram procurados na produção bibliográfica, até 2019, sobre os desastres (MCTIC, 2019Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. (2019). Ciência por Brumadinho: os especialistas no desastre de Mariana-MG. Recuperado dehttp://brumadinho.ibict.br/desastre_mariana/PB-0.html
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). Houve uma análise da aderência do tema e possíveis novas fontes foram incorporadas. Após identificação das fontes, foi realizada uma análise de conteúdo (Quivy & Van Campenhoudt, 1992Quivy, R; & Van Campenhoudt, L. (1992). Manual de investigação em ciências sociais. Lisboa, Portugal: Gradiva.), e a leitura dos resumos permitiu identificar os documentos mais significativos para o propósito desta pesquisa. Em seguida, teve início a leitura em profundidade das fontes secundárias. Ao final desta etapa, foi possível identificar os pressupostos para ocorrência do greenwashing. Por meio da base conceitual descrita no Quadro 1, buscou-se elementos de greenwashing nos RCS da Vale dos anos de 2015 a 2021.

O levantamento de documentos incluiu o próprio objeto de estudo: os RCS da Vale de 2015 até 2021, declarações e documentos públicos da empresa e de stakeholders, incluindo processos judiciais relacionados ao caso selecionado. Os RCS da Vale foram localizados na página de internet da empresa. Quanto à legislação ambiental, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF, 1988Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. (1988). Brasília, DF. Recuperado dehttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/con...
); o Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008. (2008). Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente. Brasília, DF. Recuperado dehttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6514.htm
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, que define as infrações administrativas ambientais; e a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que estabelece os crimes ambientais, formam o conjunto de normas estabelecedoras das principais obrigações em matéria de meio ambiente e são de interesse para este caso estudado. Com isso, foi possível distinguir quais ações ambientais enumeradas como investimentos, pela empresa em seu RCS, consistiriam, na verdade, em mero cumprimento de obrigações legais. Para a seleção das matérias jornalísticas e declarações públicas da Vale, foram pesquisados os sites de notícias mais acessados pelos brasileiros em 2015 (Canaltech, 2015): Google, Globo, Yahoo; bem como foram realizadas buscas das dez notícias mais relevantes publicadas nestes portais, com as seguintes palavras: “fundão”, “Mariana” e “Vale”. No Google, o período da busca foi estabelecido entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016. Nos demais portais, não foi possível limitar esse intervalo de tempo.

Foi realizada uma leitura detalhada dos RCS da Vale (2015Vale. (2015). Relatório de Sustentabilidade 2014. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2014.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
, 2017Vale. (2017). Relatório de Sustentabilidade 2016. Recuperado de http://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2016.pdf
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, 2018Vale. (2018). Relatório de Sustentabilidade 2017. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/aboutvale/relatorio-de-sustentabilidade-2017/Documents/v_VALE_RelatorioSustentabilidade_2017_v.pdf
http://www.vale.com/PT/aboutvale/relator...
, 2019Vale. (2019). Relatório de Sustentabilidade 2018. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/aboutvale/relatorio-de-sustentabilidade-2018/Documents/relatorio-sustentabilidade-2018/pdf/Relatorio_Sustentabilidade_Vale_2018.pdf
http://www.vale.com/PT/aboutvale/relator...
, 2020Vale. (2020). Relatório de Sustentabilidade 2019. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/Relatorio_sustentabilidade_vale_2019_alta_pt.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
, 2021Vale. (2021). Relatório de Sustentabilidade 2020. Recuperado de http://www.vale.com/brasil/pt/business/reports/siteassets/relato-integrado-2020/assets/docs/vale_relato_integrado_2020.pdf
http://www.vale.com/brasil/pt/business/r...
), identificando potenciais pontos de greenwashing por meio da técnica de análise de conteúdo (Quivy & Van Campenhoudt, 1992Quivy, R; & Van Campenhoudt, L. (1992). Manual de investigação em ciências sociais. Lisboa, Portugal: Gradiva.), combinada com a análise temática (Braun & Clarke, 2012Braun, V; & Clarke, V. (2012). Thematic analysis. In H. Cooper; P. M. Camic; D. L. Long; A. T. Panter; D. Rindskopf; & K. J. Sher(Eds.), APA handbook of research methods in psychology (Vol. 2, pp. 57-71). Washington, DC: American Psychological Association.). Com base nessa leitura, houve a classificação temática e a triangulação dos dados com os documentos levantados e a literatura mapeada, com o objetivo de verificar se o RCS da Vale poderia ser mais vulnerável à prática do greenwashing mediante categorias de análise relacionadas no Quadro 3.

Quadro 3
Códigos e temas de análise utilizados neste estudo

ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O RCS que definiu as categorias desta análise (Vale, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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) foi apresentado após o rompimento da barragem em Mariana-MG (G1, 2019aBowen, F. (2014). After Greenwashing: Symbolic Corporate Environmentalism and Society. Cambridge, UK: Cambridge University Press.). Após 2017, há ênfase nas atividades da Fundação Renova, mantida pela Vale, Samarco e BHP, para execução dos programas de reparação do desastre de Mariana-MG. São citados os valores despendidos na recuperação ambiental, em indenizações e aperfeiçoamento da gestão da empresa.

O RCS da Vale para o ano de 2015 (Vale, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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) refere-se a “acidente” quando trata do rompimento da barragem de Fundão. O uso sistemático dos termos “desastre natural” e “resposta humanitária” no discurso da Samarco foi observado por Lopes (2017Lopes, J. C. (2017). A licença social para operar na atividade mineradora no Brasil: o caso Samarco e a gestão de riscos ampliados (Dissertação de Mestrado). Centro Universitário FEI, São Paulo, SP.). Segundo este autor, os termos não se aplicam ao caso, porque a tragédia corresponde a um desastre tecnológico, causado pela empresa por mal dimensionamento dos riscos conhecidos.

A mensagem do Conselho de Administração da Vale (2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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) presta solidariedade aos atingidos, com o compromisso de desenvolvimento sustentável e a declaração de que foram investidos em torno de USD 800 milhões na área socioambiental. Em outras passagens (Vale, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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), há menção a este valor como proveniente de recursos aplicados em ações ambientais e sociais. Ao detalhar os dispêndios sociais, porém, resta esclarecido que 70% atenderam a ações obrigatórias e 30% referem-se a investimento social voluntário. Quanto aos dispêndios ambientais, não há a indicação percentual acerca dos gastos voluntários e obrigatórios. Nota-se que cerca de USD$ 83 milhões foram alocados na recuperação de áreas degradadas e contaminadas, uma ação obrigatória e de especial materialidade para empresas mineradoras em geral, por força do § 2º do artigo 225 da CF (1988), segundo o qual quem explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado.

O RCS (Vale, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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) não cumpriu os requisitos de evidenciação descritos no item 15.2.4 - Interação com o Meio Ambiente, da NBC T 15, emitida pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2004Conselho Federal de Contabilidade. (2004). Resolução nº 1003 de 2004 (NBC-T-15). Recuperado dehttp://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes
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), que determinam a diferenciação entre investimentos e gastos com manutenção ou recuperação de ambientes degradados, ou com outros projetos ambientais.

Na DVA (Demonstração de Valor Adicionado), não há referência ao investimento de USD$ 800 milhões citado na mensagem do Conselho de Administração da empresa (Vale, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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), mas constam investimentos de USD$ 228 milhões na comunidade, dos quais USD$ 193 milhões foram despendidos no Brasil. Observa-se que a norma técnica contábil (CFC, 2004Conselho Federal de Contabilidade. (2004). Resolução nº 1003 de 2004 (NBC-T-15). Recuperado dehttp://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes
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) faz distinção entre gasto e investimento, entre manutenção de processos operacionais e atividade de preservação, entre multas e indenizações e passivos ambientais - o que não parece muito evidente no RCS analisado. Uma variedade de greenwashing é apresentar obrigações legais como investimentos em meio ambiente (Lyon & Montgomery, 2015Lyon, T. P; & Montgomery, A. W. (2015). The means and end of greenwashing. Organization and Environment, 28(2), 223-249.; Marciniak, 2009Marciniak, A. (2009). Greenwashing as an example of ecological marketing misleading practices. Comparative Economic Research. Central and Eastern Europe, 12(1/2), 49-59.; Pagotto & Carvalho, 2020Pagotto, É. L., & Carvalho, M. B. (2020). Natureza à venda: da ecopornografia a um modelo compreensivo de indicadores de greenwashing. Scripta Nova: revista electrónica de geografía y ciencias sociales, 24. Recuperado dehttps://raco.cat/index.php/ScriptaNova/article/view/364698
https://raco.cat/index.php/ScriptaNova/a...
). Embora não estejam detalhados os gastos socioambientais da empresa no ano de 2015, as demais informações do RCS da Vale (2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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) permitem inferir que parte dos valores reputados como investimentos diz respeito, na verdade, a dispêndios decorrentes de obrigações legais. Afinal, a reparação integral dos danos ambientais é obrigação prevista no artigo 225, § 3º, da CF (1988Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. (1988). Brasília, DF. Recuperado dehttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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).

Não se pode aferir se os USD$ 800 milhões em investimentos socioambientais contemplam gastos com reparações e indenizações já assumidos pela empresa no ano de 2015 em decorrência do desastre de Mariana-MG. Na seção denominada “Acidente em Mariana”, aponta-se que foi firmado um amplo acordo entre a Advocacia-Geral da União (AGU) e as empresas Samarco e suas acionistas Vale e BHP. Mencionam-se apenas os gastos realizados pela Samarco após o rompimento da barragem e, em seguida, há a indicação de vários investimentos que foram ou serão realizados em decorrência do evento, mas não se pode distingui-los dos investimentos na área socioambiental daquele ano. São citados alguns “projetos socioambientais”, no entanto, os valores de investimentos em projetos futuros estão entre as “declarações de intenções”, ou seja, itens não auditados pela certificação independente contratada pela Vale.

Marquis et al. (2016Marquis, C; Toffel, M. W; & Zhou, Y. (2016). Scrutiny, norms, and selective disclosure: a global study of greenwashing. Organization Science, 27(2), 483-504.) consideram a divulgação seletiva de informações como greenwashing. No caso estudado, por exemplo, não ficou explícito no RCS que os valores apresentados não devem ser confundidos com investimentos, uma vez que se tratam das obrigações legais de compensação, mitigação e reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão. Assim, embora não se possa concluir sobre a manifestação de greenwashing no caso analisado, pode-se inferir que os RCS são imprecisos ou vagos quanto a esses gastos com obrigações legais e, com isso, tornam-se vulneráveis ao greenwashing. Por exemplo, gastos com obtenção de licenças ambientais, compensações ambientais para impactos não mitigáveis, estudos exigidos pela fiscalização e reparação de danos podem ser confundidos com investimentos quando não fica explícita a diferenciação entre os investimentos voluntários na área socioambiental e as obrigações legais.

Em outra passagem, o RCS da Vale (2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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, p. 82) menciona a conduta da empresa como exemplar e ágil, uma vez que “Em todas as situações, a empresa tem contribuído de forma proativa com os agentes fiscalizadores apresentando prontamente os documentos solicitados [...]”. O dicionário Michaelis (2021Michaelis. (2021). Dicionário de português on-line. Recuperado de https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/proativo/
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) define o adjetivo: “proativo: que se antecipa a futuras mudanças ou problemas; antecipatório”. Cogita-se, então, que há exagero ou irrelevância nas afirmações (Lyon & Montgomery, 2015Lyon, T. P; & Montgomery, A. W. (2015). The means and end of greenwashing. Organization and Environment, 28(2), 223-249.) quando se menciona no RCS (2016) que a Vale agiu de forma proativa ao entregar documentos e informações solicitados pela fiscalização após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana-MG. Tal ação é uma obrigação legal, prevista nos artigos 68 e 69 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Obstar a fiscalização ou descumprir obrigação ambiental relevante pode acarretar detenção de um a três anos e multa. Deixar de apresentar informações solicitadas pela fiscalização ou obstar a fiscalização configuram, ao mesmo tempo, infração administrativa ambiental, punível com multa, nos termos do artigo 81 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008.

Considerando os dispositivos legais acima descritos, pode ser considerada irrelevante ou exagerada a afirmação de que a empresa, após o rompimento da barragem em Mariana-MG, agiu de forma proativa, somente por ter apresentado documentos e informações solicitados pelas autoridades. Isso porque o cumprimento da lei é pressuposto da atuação das empresas, de forma que elas podem sofrer penalidades (sanções) se não observarem o comando legal. Afirmações exageradas ou irrelevantes constituem uma prática de greenwashing relacionada à discursividade (Lyon & Montgomery, 2015Lyon, T. P; & Montgomery, A. W. (2015). The means and end of greenwashing. Organization and Environment, 28(2), 223-249.; Pagotto & Carvalho, 2020Pagotto, É. L., & Carvalho, M. B. (2020). Natureza à venda: da ecopornografia a um modelo compreensivo de indicadores de greenwashing. Scripta Nova: revista electrónica de geografía y ciencias sociales, 24. Recuperado dehttps://raco.cat/index.php/ScriptaNova/article/view/364698
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). Jones (2019Jones, E. (2019). Rethinking Greenwashing: Corporate Discourse, Unethical Practice, and the Unmet Potential of Ethical Consumerism. Sociological Perspectives, 62(5), 728-754.) também considera manifestação de greenwashing o exagero e a irrelevância nas afirmações.

Chamar a atenção para a conduta “proativa” após o desastre pode ser um meio de desviar a atenção no RCS, ou de manipulação do discurso: formas também de manifestação de greenwashing (Pagotto & Carvalho, 2020Pagotto, É. L., & Carvalho, M. B. (2020). Natureza à venda: da ecopornografia a um modelo compreensivo de indicadores de greenwashing. Scripta Nova: revista electrónica de geografía y ciencias sociales, 24. Recuperado dehttps://raco.cat/index.php/ScriptaNova/article/view/364698
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). Tal afirmação no RCS pode ainda ser posta em dúvida, tendo em vista que, na denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal do Estado de Minas Gerais (MPF-MG), uma conduta criminal atribuída à empresa foi ter se omitido, assumindo o risco da produção do resultado trágico. Isto é, a Vale é acusada de não ter agido “proativamente” para evitar a tragédia, mesmo conhecendo o incremento de riscos não permitidos (MPF-MG, 2021Ministério Público Federal no Estado de Minas Gerais. (2021). Denúncia Samarco. Recuperado de http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/denuncia-samarco
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).

O MPF-MG também acusou a Vale por não ter prestado informações suficientes às autoridades e dificultado a ação fiscalizadora, descumprindo obrigações legais de relevante interesse ambiental ao depositar “lama” na barragem de Fundão, sem dar ciência disto aos órgãos competentes (MPF-MG, 2021Ministério Público Federal no Estado de Minas Gerais. (2021). Denúncia Samarco. Recuperado de http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/denuncia-samarco
http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa...
).

Importante a ressalva de que as acusações do MPF-MG são parciais, representam um lado oposto ao da empresa e precisarão ser provadas no processo criminal instaurado com a denúncia. Contudo os elementos ali contidos podem pôr em dúvida a postura e o discurso ambiental publicados pela Vale (2015Vale. (2015). Relatório de Sustentabilidade 2014. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2014.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
, 2017Vale. (2017). Relatório de Sustentabilidade 2016. Recuperado de http://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2016.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
, 2018Vale. (2018). Relatório de Sustentabilidade 2017. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/aboutvale/relatorio-de-sustentabilidade-2017/Documents/v_VALE_RelatorioSustentabilidade_2017_v.pdf
http://www.vale.com/PT/aboutvale/relator...
, 2019Vale. (2019). Relatório de Sustentabilidade 2018. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/aboutvale/relatorio-de-sustentabilidade-2018/Documents/relatorio-sustentabilidade-2018/pdf/Relatorio_Sustentabilidade_Vale_2018.pdf
http://www.vale.com/PT/aboutvale/relator...
, 2020Vale. (2020). Relatório de Sustentabilidade 2019. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/Relatorio_sustentabilidade_vale_2019_alta_pt.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
, 2021Vale. (2021). Relatório de Sustentabilidade 2020. Recuperado de http://www.vale.com/brasil/pt/business/reports/siteassets/relato-integrado-2020/assets/docs/vale_relato_integrado_2020.pdf
http://www.vale.com/brasil/pt/business/r...
).

A denúncia criminal foi recebida pela Justiça Federal, originando o processo nº 0002725-15.2016.4.01.3822, ainda em trâmite na 1ª Vara da Subseção Federal, em Ponte Nova-MG, para apuração do crime de inundação - a acusação do crime de homicídio foi excluída do processo (MPF-MG, 2021Ministério Público Federal no Estado de Minas Gerais. (2021). Denúncia Samarco. Recuperado de http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/denuncia-samarco
http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa...
). Em novembro de 2020, o MP e Defensorias recomendaram que a Fundação Renova deixasse não apenas de veicular conteúdo incorreto, como também de realizar gastos milionários (R$ 17,4 milhões com agência de publicidade), evitando despender indevidamente recursos que seriam destinados à reparação do acidente com a divulgação de informações “imprecisas, dúbias, incompletas e equivocadas” e também com conteúdo que visa à autopromoção das mantedoras da Fundação (MPF-MG, 2020). Essas alegações deram início, em 2021, a uma ação judicial contra a empresa.

Outro ponto que poderia ser objeto de questionamento quanto à manifestação, ou não, de greenwashing, diz respeito às afirmações da Vale (2016) quanto à segurança de suas barragens. Em 2016, a Vale (2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
, p. 81) afirmou que, com o objetivo de “trazer um maior conforto para a sociedade”, realizou uma verificação extraordinária e detalhada das condições estruturais de todas as suas barragens; no entanto, as inspeções de segurança não apontaram risco algum de novos rompimentos, nem alterações em nenhuma das estruturas. Lopes e Demajorovic (2020Lopes, J. C; & Demajorovic, J. (2020). Responsabilidade Social Corporativa: uma visão crítica a partir do estudo de caso da tragédia socioambiental da Samarco. Cadernos EBAPE.BR, 18(2), 308-322.) não encontraram indícios de uma comunicação transparente com relação aos riscos inerentes à atividade da empresa Samarco até 2014, um ano antes da tragédia de Mariana-MG. Na mesma linha, a existência de riscos relevantes foi negada no RCS da Vale (2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
). Até a ocorrência do segundo rompimento, em Brumadinho-MG, não se havia difundido um conhecimento dos possíveis riscos de outras barragens. No entanto, Marshall (2018Marshall, J. (2018, agosto). Tailings dam spills at Mount Polley and Mariana: Chronicles of Disasters Foretold. Canadian Centre for Policy Alternatives. Recuperado dehttps://www.policyalternatives.ca/tailings-disasters
https://www.policyalternatives.ca/tailin...
) reporta que representantes da Vale e BHP participaram de múltiplas discussões entre 2009 e 2014 acerca de problemas construtivos das barragens. Além disso, as notícias que se seguiram ao segundo desastre, em 2019, apontaram a reclassificação dos riscos das barragens e a urgência da empresa em descomissionar ou reparar pontos de maior risco, o que acarretou, até mesmo, de forma preventiva, o deslocamento de pessoas que viviam no entorno de algumas dessas barragens (Jucá, 2019Jucá, B. (2019, fevereiro 20). Vale desloca 125 pessoas que vivem no entorno de mais cinco barragens. El País. Recuperado dehttps://brasil.elpais.com/brasil/2019/02/20/politica/1550676740_507630.html
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02...
). Após a tragédia de Brumadinho-MG, também foram noticiados investimentos excepcionais da Vale (R$ 7,4 bilhões) para acelerar o encerramento de nove barragens no Estado de Minas Gerais (Reuters, 2019Reuters. (2019, junho 08). Vale vai investir R$7,4 bilhões para acelerar o encerramento de 9 barragens no Estado de MG. Exame. Recuperado dehttps://exame.com/negocios/vale-investira-19-bilhao-de-dolares-para-fechar-nove-barragens/
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). Em 2020, a Vale (2021Vale. (2021). Relatório de Sustentabilidade 2020. Recuperado de http://www.vale.com/brasil/pt/business/reports/siteassets/relato-integrado-2020/assets/docs/vale_relato_integrado_2020.pdf
http://www.vale.com/brasil/pt/business/r...
) aprovou novas políticas de segurança de barragens e gerenciamento de rejeitos, incluindo a implementação do Sistema Vale de Gestão de Rejeitos e Barragens, com uma série de medidas voltadas a proporcionar mais transparência, rotina, performance e monitoramento de riscos das 157 barragens mantidas no Brasil, despendendo, com isso, USD$ 2,3 bilhões até 2025.

Vários autores (Gillepsie, 2008Gillespie, E. (2008). Stemming the tide of ‘greenwash’: how an ostensibly greener market could pose challenges for environmentally sustainable consumerism. Consumer Policy Review, 18(3), 1-16.; Marciniak, 2009Marciniak, A. (2009). Greenwashing as an example of ecological marketing misleading practices. Comparative Economic Research. Central and Eastern Europe, 12(1/2), 49-59.; Pagotto & Carvalho, 2020Pagotto, É. L., & Carvalho, M. B. (2020). Natureza à venda: da ecopornografia a um modelo compreensivo de indicadores de greenwashing. Scripta Nova: revista electrónica de geografía y ciencias sociales, 24. Recuperado dehttps://raco.cat/index.php/ScriptaNova/article/view/364698
https://raco.cat/index.php/ScriptaNova/a...
) referem-se a outras manifestações de greenwashing, quais sejam: mentir, usar dados falsos, fazer afirmações que distorcem a realidade ou que não podem ser provadas. Não se pode, com base nos dados expostos acima, concluir que houve a distorção de dados e informações pela Vale (2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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). No entanto, as informações da empresa a respeito do impacto ambiental do rompimento da barragem de Fundão foram contestadas por renomadas instituições, de forma que autorizariam o questionamento quanto à veracidade dos dados informados no RCS (2016).

A Vale (2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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) negou os impactos na região de Abrolhos-BA, afirmou que o rejeito não apresentava nenhum elemento químico nocivo à saúde, tendo sido caracterizado como não perigoso, e destacou a continuação da existência de peixes e cardumes ao longo do Rio Doce, o qual teria sido afetado em área inferior a 1%. Todavia foram contestadas publicamente por organismos internacionais e por pesquisadores científicos tais afirmações a respeito da toxicidade dos rejeitos (G1, 2015G1. (2015, novembro 26). Samarco diz que rejeitos não são perigosos após acusação da ONU. Recuperado de http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/2015/11/samarco-diz-que-rejeitos-nao-sao-perigosos-apos-acusacao-da-onu.html
http://g1.globo.com/minas-gerais/desastr...
) e impacto ambiental da poluição (G1, 2019aG1. (2019a, janeiro 25). Há 3 anos, rompimento de barragem de Mariana causou maior desastre ambiental do país e matou 19 pessoas. Recuperado dehttps://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/01/25/ha-3-anos-rompimento-de-barragem-de-mariana-causou-maior-desastre-ambiental-do-pais-e-matou-19-pessoas.ghtml
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; Jornal da USP, 2018Jornal da USP. (2018, julho 17). Lama da Samarco pode ser “bomba-relógio” de metais pesados no Rio Doce. Recuperado de https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/lama-da-samarco-pode-ser-bomba-relogio-de-metais-pesados-no-rio-doce/
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-...
). Quanto ao acidente de Brumadinho-MG, a Vale (2019Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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) também afirmou que os rejeitos não eram perigosos. Contudo a divulgação sobre os riscos da operação e periculosidade dos rejeitos foi considerada aparentemente enganosa por acionistas estrangeiros, que ajuizaram ações contra a empresa após o desastre de Brumadinho-MG. Segundo noticiado na imprensa brasileira, a empresa falhou em “avaliar o risco e o potencial de danos de um rompimento na barragem”, por isso, as declarações da Vale foram avaliadas como “falsas ou enganadoras e/ou não tinham fundamentos razoáveis” (O Globo, 2019O Globo. (2019, janeiro 28). Vale será alvo de ações coletivas de investidores estrangeiros nos EUA. Recuperado de https://oglobo.globo.com/economia/vale-sera-alvo-de-acoes-coletivas-de-investidores-estrangeiros-nos-eua-23409494
https://oglobo.globo.com/economia/vale-s...
).

Para o ano de 2014, a Vale (2015Vale. (2015). Relatório de Sustentabilidade 2014. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2014.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
) classificou o tema “resíduos” como não material, ou seja, não relevante. No ano subsequente (Vale, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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), houve revisão do processo e o tema passou a compor o RCS. Ainda que a empresa tenha utilizado um discurso enviesado (Souza et al; 2019Souza, F. M., Tarifa, M. R., & Panhoca, L. (2019). O rompimento da barragem de Mariana (MG): mudanças no disclosure ambiental do setor de mineração. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, 8(1), 172-187.), não seria mais possível ocultar a relevância desse tema quanto às operações e ao impacto da empresa sobre o meio ambiente. Lopes e Demajorovic (2020Lopes, J. C; & Demajorovic, J. (2020). Responsabilidade Social Corporativa: uma visão crítica a partir do estudo de caso da tragédia socioambiental da Samarco. Cadernos EBAPE.BR, 18(2), 308-322.) indicam que, após a tragédia, um painel de especialistas independentes contratado pela Vale e BHP apontou incidentes envolvendo a barragem de Mariana-MG desde 2009. Coissi e Braga (2015Coissi, J; & Braga, F. (2015, novembro 21). Lama de Mariana chega ao litoral do ES com protesto de moradores. Folha de S. Paulo. Recuperado de http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/11/1709414-lama-de-mariana-chega-ao-mar-do-es-com-protesto-de-moradores.shtml
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) especificam que 28% dos lançamentos na barragem do Fundão em 2014 correspondiam a rejeitos da Vale, sem a correspondente licença ambiental para essa atividade.

Expostas, com exemplos concretos, as possibilidades de manifestação de greenwashing via RCS, é preciso registrar que nenhum dos dados apresentados neste estudo levaram a conclusões definitivas a respeito da ocorrência, ou não, desta prática no RCS ora analisado. Os fatos são controversos e não há manifestação judicial definitiva sobre sua ocorrência e extensão. O desastre de Brumadinho-MG ainda é recente, tendo sido noticiada a condenação judicial da empresa ao reparo dos danos causados às pessoas, ao meio ambiente e à atividade econômica exercida nas regiões atingidas (Coissi & Braga, 2015Coissi, J; & Braga, F. (2015, novembro 21). Lama de Mariana chega ao litoral do ES com protesto de moradores. Folha de S. Paulo. Recuperado de http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/11/1709414-lama-de-mariana-chega-ao-mar-do-es-com-protesto-de-moradores.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2...
; G1, 2019bG1. (2019b, julho 09). Brumadinho: Vale é condenada pela primeira vez pelo rompimento da barragem da Mina de Córrego do Feijão. Recuperado de https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/07/09/brumadinho-justica-estadual-condena-vale-a-reparar-danos-provocados-por-rompimento-de-barragem.ghtml
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/not...
). Esta sentença ainda não reflete pronunciamento definitivo do Poder Judiciário. Quanto ao desastre de Mariana-MG, não houve condenações judiciais da empresa até o momento, o que pode ocorrer independentemente dos acordos extrajudiciais realizados pela empresa. A Samarco e seus acionistas celebraram um acordo de USD$ 5,8 bilhões com a União Federal, os estados do Espírito Santo e de Minas Gerais e outras autoridades governamentais brasileiras, para a implementação de programas de reparação e compensação pelo colapso de Fundão.

O Bureau Veritas Certification Brasil (2015Vale. (2015). Relatório de Sustentabilidade 2014. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2014.pdf
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) e a SGS ICS Certificadora (Vale, 2018Vale. (2018). Relatório de Sustentabilidade 2017. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/aboutvale/relatorio-de-sustentabilidade-2017/Documents/v_VALE_RelatorioSustentabilidade_2017_v.pdf
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, 2020Vale. (2020). Relatório de Sustentabilidade 2019. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/Relatorio_sustentabilidade_vale_2019_alta_pt.pdf
http://www.vale.com/PT/investors/informa...
) realizaram a verificação independente do RCS. O escopo dessa verificação abrangeu as Diretrizes e os Princípios da Global Reporting Initiative (GRI) para Relatórios de Sustentabilidade, incluindo o Suplemento Setorial de Mineração & Metais de 2013 da GRI (Vale, 2016Vale. (2016). Relatório de Sustentabilidade 2015. Recuperado dehttp://www.vale.com/PT/investors/information-market/annual-reports/sustainability-reports/Sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade-2015.pdf
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). Em 2021 foi adotado o relatório integrado, também com verificação independente. Ocorre que, como de praxe, foi excluída da análise da auditoria independente, dentre outros itens, qualquer avaliação de informações relacionadas às declarações de posicionamento (expressões de opinião, crença, objetivos ou futuras intenções) por parte da Vale. Nesse passo, os critérios de manifestação de greenwashing apresentados pela literatura e discutidos neste trabalho não foram objeto da certificação independente do RCS da Vale.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente à complexidade envolvendo a temática do greenwashing, este artigo trata de maneira exploratória um caso de evidenciação contábil e comunicação ambiental. Ao descrever o fenômeno e explorar as perspectivas apresentadas no estudo de caso do RCS da Vale dos anos de 2015 a 2021, ofereceu evidências de que o RCS pode ser vulnerável ao greenwashing. A singularidade deste estudo decorreu da abordagem interdisciplinar e das informações públicas disponibilizadas sobre determinado período da empresa, que foram analisadas em comparação com o conteúdo do RCS.

Observou-se, quanto à análise temática, que houve uma melhoria das informações do RCS da Vale (2021) em relação aos itens: segurança de barragens e indenizações decorrentes dos desastres de Mariana-MG e Brumadinho-MG. Entretanto, permanecem pouco claras as informações sobre os efeitos da poluição decorrentes das tragédias, sendo ainda necessários avanços para distinguir os investimentos socioambientais do cumprimento de obrigações legais, conforme determina a norma contábil aplicável (CFC, 2004Conselho Federal de Contabilidade. (2004). Resolução nº 1003 de 2004 (NBC-T-15). Recuperado dehttp://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes
http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalh...
).

Espera-se que a triangulação dessas perspectivas contribua para um melhor conhecimento sobre variedades de greenwashing presentes no RCS e fomente a reflexão sobre o papel da comunicação ambiental empresarial e o necessário aprimoramento das informações contábeis não financeiras. Nesse sentido, há uma clara reivindicação do aumento da transparência sobre o desempenho ambiental, para que se incremente o conhecimento sobre greenwashing.

Desse modo, a implementação efetiva de uma regulamentação mais rigorosa seria um desafio, devido à falta de clareza sobre o que constitui um comportamento verde e à confusão em torno da divulgação das ações empresariais em direção à sustentabilidade. O caso analisado evidenciou que o processo de verificação independente dos RCS tem uma atuação limitada na contenção da prática potencial do greenwashing. Assim, independentemente da conclusão a que se chegue sobre a ocorrência, ou não, de greenwashing, pode-se afirmar, após esse exercício empírico, que é possível a ocorrência dessa prática por meio do RCS e que nem mesmo a certificação independente pode evitá-la, conhecidas as limitações de escopo normalmente adotadas. Assim, os resultados apontam para a necessidade de um trabalho conjunto entre empresas e poder público em torno de um quadro regulatório para que as informações sejam disponibilizadas de maneira adequada tanto para a sociedade como para a tomada de decisão nas empresas. Por meio de uma abordagem multistakeholders, deve-se privilegiar a transparência e o aprimoramento de desempenhos ambientais empresariais. Nessa perspectiva, há uma clara necessidade de incentivos, por meio de políticas públicas, à disponibilização de informação ambiental por parte das empresas.

Por fim, como sugestões para futuras pesquisas, pode-se testar a hipótese de que a prática do greenwashing via RCS talvez não tenha utilidade, ou pouca eficácia, para o público destinatário do RCS. Ainda, outras empresas podem ser consultadas para realização de estudos empíricos ou de caso, análise sistemática, comparação com métricas de gerenciamento de resultado e busca de outros métodos de verificação de ocorrência da prática do greenwashing, contribuindo para o aprimoramento dos debates sobre RCS.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/PROEX) pelo apoio financeiro para a revisão e tradução deste artigo para a língua inglesa, concedido à coautora Ana Carolina F. de Melo Brito, durante seu doutorado no Procam.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    Mar-Apr 2022

Histórico

  • Recebido
    17 Mar 2021
  • Aceito
    14 Set 2021
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