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Efeito da transparência e do capital social na intenção de mobilizar recursos

Efecto de la transparencia y el capital social sobre la intención de movilizar recursos

Resumo

O objetivo, neste artigo, consistiu em analisar o efeito da transparência e o efeito moderador do capital social na intenção dos gestores de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) quanto à mobilização de recursos. Para atender ao objetivo, foi realizado um experimento, entre sujeitos, baseado em vinhetas, com 92 gestores de OSCs. Por meio do experimento, os gestores foram submetidos à decisão de aceitar apoio financeiro de um patrocinador com vistas a viabilizar a participação em um edital de concessão de recursos para desenvolvimento de projetos sociais. Os resultados evidenciam que o gestor da OSC está mais propenso a mobilizar recursos quando o patrocinador apresenta transparência em suas ações e que o capital social entre o gestor e o patrocinador não modera a relação entre transparência e a intenção de mobilizar recursos. Como principais contribuições, o estudo demonstra o papel do gestor da OSC como tomador de decisão.

Palavras-chave:
Transparência; Capital Social; Mobilização de Recursos; Experimento

Resumen

El objetivo de este artículo fue analizar el efecto de la transparencia y el efecto moderador del capital social sobre la intención de los gestores de organizaciones de la sociedad civil (OSC) con respecto a la movilización de recursos. Para atender el objetivo, se realizó un experimento entre sujetos, basado en viñetas, con 92 gestores de OSC, en el que los gestores fueron sometidos a la decisión de aceptar apoyo financiero de un patrocinador para viabilizar la participación en una convocatoria de concesión de recursos para el desarrollo de proyectos sociales. Los resultados evidencian que el gestor de la OSC es más propenso a movilizar recursos cuando el patrocinador presenta transparencia en sus acciones, y que el capital social entre el gestor y patrocinador no modera la relación entre transparencia e intención de movilizar recursos. Como principales contribuciones, el estudio demuestra el papel del gestor de la OSC como tomador de decisiones.

Palabras clave:
Transparencia; Capital social; Movilización de recursos; Experimento

Abstract

This article analyzes the effect of transparency and the moderating effect of social capital in Civil Society Organization (CSO) managers’ fundraising intentions. An experiment was carried out based on vignettes, with 92 CSO managers. Through the experiment, managers were asked to accept or decline financial support from a sponsor to enable participation in a public call for proposals to develop social projects. The results show that CSO managers are more likely to raise funds when the sponsor shows transparency in their actions and that the social capital between the manager and sponsor does not moderate the relationship between transparency and fundraising intentions. The study’s main contribution is that it demonstrates the role of the CSO manager as a decision-maker.

Keywords:
Transparency; Social Capital; Resources Mobilization; Experiment

INTRODUÇÃO

As OSCs possuem um papel central no país, na medida em que prestam diversos serviços para a população brasileira, suprindo, na maioria das vezes, demandas não atendidas pelo poder público (Dall’Agnol, R. R. P. Tondolo, V. A. G. Tondolo, & Sarquis, 2017Dall’Agnol, C. F., Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., & Sarquis, A. B. (2017). Transparência e prestação de contas na mobilização de recursos no terceiro setor: um estudo de casos múltiplos realizado no sul do Brasil. Revista Universo Contábil, 13(2), 187-203. Recuperado de https://doi.org/10.4270/ruc.2017215
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). Em geral, as OSCs atuam nas mais diversas áreas, incluindo desenvolvimento local, desenvolvimento sustentável, direitos civis, saúde e educação (Khieng, 2014Khieng, S. (2014). Funding Mobilization Strategies of Nongovernmental Organizations in Cambodia. VOLUNTAS: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, 25(6), 1441-1464. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11266-013-9400-7
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; Salamon, 1998Salamon, L. (1998). A emergência do terceiro setor uma revolução associativa global. Revista de Administração, 33(1), 5-11.). As OSCs são denominadas por diferentes termos, por exemplo: organizações voluntárias e organizações do terceiro setor. O termo OSC remete à compreensão de suas características gerenciais, políticas, de diversidade e de complexidade (Mansur & Teodósio, 2016Mansur, Y. S., & Teodósio, A. S. S. (2016). Participação das organizações da sociedade civil na cooperação Sul/Sul: em busca de um modelo de análise nos estudos em administração. Cadernos EBAPE.BR, 14(3), 676-694. Recuperado dehttps://doi.org/10.1590/1679-395129371
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). São organizações privadas, que não visam ao lucro, estabelecidas legalmente, com gestão própria e voluntária (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [IPEA], 2020Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2020). Perfil das organizações sociais e organizações da sociedade civil de interesse público em atividade no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Autor. Recuperado de http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/10406
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).

No Brasil existem mais de 780 mil OSCs registradas no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), das quais mais de 8 mil estão habilitadas a receber recursos do poder público e geram aproximadamente 55 mil empregos diretos, ocupados em sua maioria por mulheres, com uma renda média em torno de 3 mil reais. O volume de repasses federais pagos para essas organizações, entre 2010 e 2018, foi superior a 4 milhões de reais (IPEA, 2020Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2020). Perfil das organizações sociais e organizações da sociedade civil de interesse público em atividade no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Autor. Recuperado de http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/10406
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).

É crescente a preocupação dos brasileiros com os processos que envolvem a administração pública e a alocação de recursos, incluindo as OSCs. Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado frequentes denúncias de má gestão de recursos e corrupção em diferentes esferas administrativas, o que inclui a corrupção de empresas estatais e privadas (R. R. P. Tondolo et al., 2019Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., Longaray, A. A., Camargo, M. E., Bitencourt, C. C., & Zanandrea, G. (2019). Transparency and resource mobilization in times of crisis: An analysis of the Brazilian nonprofit sector. In A. Ferreira, R. Marques, G. Azevedo, H. Inácio, & C. Santos (Eds.), Modernization and Accountability in the Social Economy Sector (pp. 57-75). Hershey, PA: IGI Global.), ocorrendo, algumas vezes, a captura do Estado por organizações privadas (Coelho & Barros, 2021Coelho, C. C., & Barros, A. (2021). Padrinhos e caciques: o lado sombrio da atividade política corporativa na captura do Estado. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 20(1), 15-42. Recuperado de https://doi.org/10.21529/RECADM.2021001
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).

As OSCs não estão isentas de desconfiança e de casos de corrupção. A transferência de recursos para as OSCs foi alvo de inúmeras denúncias entre 2007 e 2010. Na época, tal pressão fez o governo federal suspender os repasses aos convênios federais com as OSCs, bem como o Legislativo instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito [CPI)] (Mendonça & Falcão, 2016Mendonça, P., & Falcão, D. S. (2016). Novo Marco Regulatório para a realização de parcerias entre Estado e Organização da Sociedade Civil (OSC). Inovação ou peso do passado? Cadernos Gestão Pública e Cidadania, 21(68), 42-60. Recuperado de https://doi.org/10.12660/cgpc.v21n68.56484
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). Uma das constatações da CPI foi a fragilidade do controle de liberação de recursos para OSCs cuja prestação de contas não estava em dia e/ou haviam sido rejeitadas (Congresso Nacional, 2010Congresso Nacional. (2010, outubro). Comissão Parlamentar de Inquérito “das ONGs”. (Relatório final da “CPI das ONGs”). Brasília, DF: Senado Federal. Recuperado de https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/194594
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), o que facilitava desvios de conduta por parte das OSCs. Esse quadro gerou desconfiança sobre estas organizações (Cáritas Brasileira, 2019Cáritas Brasileira. (2019, dezembro 17). Marco Regulatório das relações entre Estado e Sociedade Civil: contra a criminalização e pelo reconhecimento das Organizações da Sociedade Civil. Recuperado dehttp://plataformaosc.org.br/marco-regulatorio-das-relacoes-entre-estado-e-sociedade-civil-contra-a-criminalizacao-e-pelo-reconhecimento-das-oscs/
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).

A escassez de recursos para desenvolvimento de projetos sociais e o aumento da falta de confiança nas OSCs impactam a capacidade dessas organizações de mobilizar recursos (R. R. P. Tondolo et al., 2019Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., Longaray, A. A., Camargo, M. E., Bitencourt, C. C., & Zanandrea, G. (2019). Transparency and resource mobilization in times of crisis: An analysis of the Brazilian nonprofit sector. In A. Ferreira, R. Marques, G. Azevedo, H. Inácio, & C. Santos (Eds.), Modernization and Accountability in the Social Economy Sector (pp. 57-75). Hershey, PA: IGI Global.). Diante desse cenário, é central que organizações apresentem transparência, prestando contas de suas atividades e projetos concernentes à sua missão e ao seu objetivo social, visando à legitimidade perante a sociedade (Dall’Agnol et al., 2017Dall’Agnol, C. F., Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., & Sarquis, A. B. (2017). Transparência e prestação de contas na mobilização de recursos no terceiro setor: um estudo de casos múltiplos realizado no sul do Brasil. Revista Universo Contábil, 13(2), 187-203. Recuperado de https://doi.org/10.4270/ruc.2017215
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). Em consonância, o capital social (CS), considerado como o desenvolvimento de recursos gerados por meio de relações intraorganizacionais (Zahra, 2010Zahra, S. A. (2010). Harvesting Family Firms’ Organizational Social Capital: A Relational Perspective. Journal of Management Studies, 47(2), 345-366. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2009.00894.x
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), elemento norteador para desenvolvimento de políticas públicas (Helal & Neves, 2007Helal, D. H., & Neves, J. A. B. (2007). Superando a pobreza: o papel do capital social na região metropolitana de Belo Horizonte. Cadernos EBAPE.BR, 5(2), 1-13. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S1679-39512007000200013
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), é uma forma de as OSCs mobilizarem recursos mediante relações estabelecidas ao longo de suas trajetórias (Gulati, 2007Gulati, R. (2007). Managing network resources: alliances, affiliations, and other relational assets. Oxford, UK: Oxford University Press.).

Nesse sentido, esta pesquisa entende que é oportuno e necessário testar empiricamente o efeito da transparência e do CS na intenção de mobilizar recursos no contexto das OSCs. Portanto o objetivo é analisar o efeito da transparência e o efeito moderador do capital social na intenção de mobilizar recursos dos gestores de OSCs. Para atender ao objetivo, foi realizado um experimento entre sujeitos, baseado em vinhetas, com 92 gestores de OSCs. Por meio do experimento, os gestores foram submetidos à decisão de aceitar apoio financeiro de um patrocinador com vistas a viabilizar a participação em um edital de concessão de recursos para desenvolvimento de projetos sociais. Os estímulos do experimento continham versões dos cenários, variando nas combinações de patrocinador, com e/ou sem transparência em suas ações, e relação entre patrocinador e gestor da OSC com e/ou sem capital social.

Diante do objetivo proposto, este artigo avança ao demonstrar o papel do gestor da OSC como tomador de decisão, o qual, mesmo em um cenário de escassez de recursos, mostrou-se vigilante frente à situação de suspeita das ações e práticas do patrocinador.

Além desta seção introdutória, o presente artigo está organizado em: referencial teórico e modelo proposto, procedimentos metodológicos, resultados e discussão, conclusão e referências.

REFERENCIAL TEÓRICO E MODELO PROPOSTO

Mobilização de recursos

No contexto das OSCs, este estudo compreende a mobilização de recursos como uma capacidade que é direcionada desde o momento da identificação até a implementação de recursos em ações e projetos sociais (R. R. P. Tondolo et al., 2019Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., Longaray, A. A., Camargo, M. E., Bitencourt, C. C., & Zanandrea, G. (2019). Transparency and resource mobilization in times of crisis: An analysis of the Brazilian nonprofit sector. In A. Ferreira, R. Marques, G. Azevedo, H. Inácio, & C. Santos (Eds.), Modernization and Accountability in the Social Economy Sector (pp. 57-75). Hershey, PA: IGI Global.). Assim, a mobilização de recursos é indispensável, por se tratar de um fator que atua como articulador da estratégia organizacional, promovendo um ambiente sustentável por meio da efetividade de seus objetivos sociais (Armani, 2008Armani, D. (2008). Mobilizar para transformar: a mobilização de recursos nas organizações da sociedade civil. São Paulo, SP: Peirópolis.). A utilização dos laços fortes na mobilização de recursos organizacionais é importante na formação das redes organizacionais, uma vez que envolve a mobilização por meio do ajuste, da transferência e do agrupamento de recursos (Thornton, Henneberg, & Naudé, 2014Thornton, S. C., Henneberg, S. C., & Naudé, P. (2014). Conceptualizing and validating organizational networking as a second-order formative construct. Industrial Marketing Management, 43(6), 951-966. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2014.05.001
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). Como os recursos são originários de doações e de estabelecimento de parcerias, a mobilização de recursos é central para a continuidade das ações e projetos das OSCs (Khieng, 2014Khieng, S. (2014). Funding Mobilization Strategies of Nongovernmental Organizations in Cambodia. VOLUNTAS: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, 25(6), 1441-1464. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11266-013-9400-7
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).

Baseando-se na Resource Based View (RBV), a mobilização de recursos pode ser compreendida por intermédio de quatro elementos: tipos de recurso, articulação dos recursos, mobilização dos recursos e o compartilhamento dos recursos (Armani, 2008Armani, D. (2008). Mobilizar para transformar: a mobilização de recursos nas organizações da sociedade civil. São Paulo, SP: Peirópolis.; Barney, 1991Barney, J. B. (1991). Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Management, 17(1), 99-120. Recuperado de https://doi.org/10.1177/014920639101700108
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, 2001Barney, J. B. (2001). Is the Resource-Based “View” a Useful Perspective for Strategic Management Research? Yes. The Academy of Management Review, 26(1), 41-56. Recuperado de https://doi.org/10.2307/259393
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; Dall’Agnol et al., 2017Dall’Agnol, C. F., Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., & Sarquis, A. B. (2017). Transparência e prestação de contas na mobilização de recursos no terceiro setor: um estudo de casos múltiplos realizado no sul do Brasil. Revista Universo Contábil, 13(2), 187-203. Recuperado de https://doi.org/10.4270/ruc.2017215
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; Froelich, 1999Froelich, K. A. (1999). Diversification of Revenue Strategies: Evolving Resource Dependence in Nonprofit Organizations. Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly, 28(3), 246-268. Recuperado dehttps://doi.org/10.1177/0899764099283002
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; R. R. P. Tondolo et al., 2019Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., Longaray, A. A., Camargo, M. E., Bitencourt, C. C., & Zanandrea, G. (2019). Transparency and resource mobilization in times of crisis: An analysis of the Brazilian nonprofit sector. In A. Ferreira, R. Marques, G. Azevedo, H. Inácio, & C. Santos (Eds.), Modernization and Accountability in the Social Economy Sector (pp. 57-75). Hershey, PA: IGI Global.). Com o complemento das capacidades dinâmicas (CD), a mobilização de recursos também envolve a captação e aplicação dos recursos em ações e projetos sociais, porque visa à sustentação das atividades da OSC ao longo do tempo (L. M. Costa, V. A. G. Tondolo, R. R. P. Tondolo, Longaray, & Guimarães, 2020Costa, L. M., Tondolo, V. A. G., Tondolo, R. R. P., Longaray, A. A., & Guimarães, J. C. (2020). Dynamic Capabilities and Organizational Performance in the Nonprofit Sector. Latin American Business Review, 21(4), 393-415. Recuperado de https://doi.org/10.1080/10978526.2020.1768540
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), à articulação de diversos recursos (pessoas, informação, conhecimento, físico, financeiro...), ao alcance dos propósitos da OSC (Kwon & Adler, 2014Kwon, S. W., & Adler, P. S. (2014). Social Capital: Maturation of a Field of Research. Academy of Management Review, 39(4), 412-422. Recuperado dehttps://doi.org/10.5465/amr.2014.0210
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; Sirmon, Hitt, & Ireland, 2007Sirmon, D. G., Hitt, M. A., & Ireland, R. D. (2007). Managing Firm Resources in Dynamic Environments to Create Value: Looking Inside the Black Box. Academy of Management Review, 32(1), 273-292. Recuperado de https://doi.org/10.5465/amr.2007.23466005
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).

Nesta pesquisa, a mobilização de recursos é operacionalizada pela intenção de mobilizar recursos pelo gestor, uma vez que, por meio do método do experimento, o gestor encontra-se em um cenário de identificação de oportunidade de captação de recursos e decidirá pela aplicação em projeto social verificando as circunstâncias de transparência e de capital social apresentadas. Cabe, portanto, destacar que neste estudo não estão sendo abordados o papel ou a decisão do doador, os quais também são predominante no contexto das OSCs.

Transparência

A transparência vai além da prestação de contas formal e legal, prevista nos contratos e convênios, estabelecendo, assim, relações espontâneas e transparentes por meio da postura ética e moral dos gestores (Carneiro, D. D. L. Oliveira, & Torres, 2011Carneiro, A. D. F., Oliveira, D. D. L., & Torres, L. C. (2011). Accountability e Prestação de Contas das Organizações do Terceiro Setor: Uma Abordagem à Relevância da Contabilidade. Sociedade, Contabilidade e Gestão, 6(2), 90-105. Recuperado de https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v6i2.13240
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; Rapoport, 2011Rapoport, S. G. (2011). Transparencia y rendición de cuentas de organizaciones civiles en México. Revista Mexicana de Sociología, 73(2), 199-229. Recuperado dehttp://www.jstor.org/stable/41105384
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; Salamon & Sokolowski, 2016Salamon, L. M., & Sokolowski, S. W. (2016). Beyond Nonprofits: Re-conceptualizing the Third Sector. Voluntas: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, 27(4), 1515-1545. Recuperado dehttp://www.jstor.org/stable/43923245
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). Dessa forma, a prestação de contas apresentada de forma errônea ou pouco clara gera um ambiente de desconfiança, ocasionando reflexos na captação de recursos da organização (Dall’Agnol et al., 2017Dall’Agnol, C. F., Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., & Sarquis, A. B. (2017). Transparência e prestação de contas na mobilização de recursos no terceiro setor: um estudo de casos múltiplos realizado no sul do Brasil. Revista Universo Contábil, 13(2), 187-203. Recuperado de https://doi.org/10.4270/ruc.2017215
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). Além disso, ainda são poucos os estudos que demonstram a relação entre transparência e eficiência econômica (Rocha-Valencia, Queiruga, & González-Benito, 2015Rocha-Valencia, L. A., Queiruga, D., & González-Benito, J. (2015). Relationship Between Transparency and Efficiency in the Allocation of Funds in Nongovernmental Development Organizations. VOLUNTAS: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, 26(6), 2517-2535. Recuperado dehttps://doi.org/10.1007/s11266-014-9527-1
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; R. R. P. Tondolo et al., 2019Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., Longaray, A. A., Camargo, M. E., Bitencourt, C. C., & Zanandrea, G. (2019). Transparency and resource mobilization in times of crisis: An analysis of the Brazilian nonprofit sector. In A. Ferreira, R. Marques, G. Azevedo, H. Inácio, & C. Santos (Eds.), Modernization and Accountability in the Social Economy Sector (pp. 57-75). Hershey, PA: IGI Global.).

Embora a transparência possa ser compreendida como uma capacidade pública (Heald, 2006Heald, D. (2006). Varieties of transparency. In C. Hood, & D. Heald (Eds.), Transparency: The key to better government? (pp. 25-53). Oxford, UK: Oxford University Press .), ainda há dificuldades por parte das organizações de articulação e interpretação a respeito de como essa transparência deva ser realizada ou ainda a quem deva ser destinada. Um exemplo clássico dessa situação é que as organizações sem fins lucrativos têm destinado seus esforços para serem transparentes, uma vez que apresentam mecanismos eficientes de accountability direcionados a doadores e “borders”, no entanto os mecanismos de accountability direcionados aos beneficiários e à comunidade em que estão inseridas ainda são extremamente fracos (Murtaza, 2012Murtaza, N. (2012). Putting the Lasts First: The Case for Community-Focused and Peer-Managed NGO Accountability Mechanisms. VOLUNTAS: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, 23(1), 109-125. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11266-011-9181-9
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). Cabe destacar que a transparência refere-se à visibilidade de ações e decisões ao público geral e instituições, enquanto o accountability refere-se à devida prestação de contas e de ações a algum indivíduo e/ou organização (Rodrigues, 2020Rodrigues, K. F. (2020). Desvelando o conceito de transparência: seus limites, suas variedades e a criação de uma tipologia. Cadernos EBAPE.BR, 18(2), 237-253. Recuperado dehttps://doi.org/10.1590/1679-395173192
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).

Mesmo com a importância da transparência para as OSCs, há aquelas que mantêm apenas o padrão legal mínimo, por questões tributárias, e ainda as que possuem problemas de gestão, visto que não atendem nem aos padrões mínimos necessários (Becker, 2018Becker, A. (2018). An Experimental Study of Voluntary Nonprofit Accountability and Effects on Public Trust, Reputation, Perceived Quality, and Donation Behavior. Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly, 47(3), 562-582. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0899764018756200
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). Essas organizações, por falta de transparência, acabam perdendo a confiança do público, o que é nocivo para a alavancagem de recursos e manutenção das atividades e projetos sociais (R. R. P. Tondolo, Bitencourt, & V. A. G. Tondolo, 2016Tondolo, R. da R. P., Bitencourt, C. C., & Tondolo, V. A. G. (2016). Social Capital in Temporary Inter-organizational Projects. A Third Sector Perspective. Desenvolvimento Em Questão, 14(33), 363-388. Recuperado dehttps://doi.org/10.21527/2237-6453.2016.33.363-388
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). Nesse contexto, sendo central o papel do gestor para a implementação das práticas de transparência nas organizações, são necessários seu cuidado e atenção com a imagem da organização e com a sua própria imagem em seu meio profissional (Striebing, 2017Striebing, C. (2017). Professionalization and Voluntary Transparency Practices in Nonprofit Organizations. Nonprofit Management and Leadership, 28(1), 65-83. Recuperado dehttps://doi.org/10.1002/nml.21263
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), contribuindo, desse modo, para a visibilidade e credibilidade da organização e do gestor (Chowdhury, Wahab, & Islam, 2019Chowdhury, S. R., Wahab, H. A., & Islam, M. R. (2019). The role of faith-based NGOs in social development: Invisible empowerment. International Social Work, 62(3), 1055-1074. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0020872818767260
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).

Consonante a isso, a transparência das práticas das OSCs é central para o fortalecimento da legitimidade da organização perante potenciais doadores, sejam eles individuais, governamentais ou organizacionais (Mansur & Teodósio, 2016Mansur, Y. S., & Teodósio, A. S. S. (2016). Participação das organizações da sociedade civil na cooperação Sul/Sul: em busca de um modelo de análise nos estudos em administração. Cadernos EBAPE.BR, 14(3), 676-694. Recuperado dehttps://doi.org/10.1590/1679-395129371
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). Porém a transparência não cabe apenas às OSCs, a ação transparente por parte de doadores também é fundamental. Como destacam Mendonça, Teodósio, Alvin, e Araújo (2009Mendonça, P., Teodósio, A. S. S., Alvim, F. M., & Araújo, E. T. (2009). Desafios e Dilemas das Ongs na Cooperação Internacional: Uma Análise da Realidade Brasileira. Gestão.Org: Revista Eletrônica de Gestão Organizacional, 7(1), 69-83.), há situações em que recursos doados para uma OSC são destinados a atividades que não constituem ações sociais e utilizados de maneira que não contribuem para as comunidades, mas, sim, segundo os interesses da própria organização doadora.

Nesse sentido, a legitimidade é um ponto a se debater, visto que a legitimidade das OSCs pode ser comprometida pelo desvio de finalidade das suas ações em prol do acesso a recursos (Krieger & Andion, 2014Krieger, M. G. M., & Andion, C. (2014). Legitimidade das organizações da sociedade civil: análise de conteúdo à luz da teoria da capacidade crítica. Revista de Administração Pública, 48(1), 83-110. Recuperado dehttps://doi.org/10.1590/S0034-76122014000100004
https://doi.org/10.1590/S0034-7612201400...
). O estabelecimento de mecanismos de colaboração na relação entre patrocinadores e OSCs, pautados pela transparência e pela democracia, contribuem para desenvolver e aumentar os vínculos de confiança entre as partes interessadas (Alves & M. M. Costa, 2020Alves, M. A., & Costa, M. M. (2020). Colaboração entre governos e organizações da sociedade civil em resposta a situações de emergência. Revista de Administração Pública, 54(4), 923-935. Recuperado de https://doi.org/10.1590/0034-761220200168
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).

Dado o contexto deste estudo, o de uma relação entre uma organização privada patrocinadora e uma OSC, destaca-se o papel da confiança interorganizacional. A confiança nesse tipo de relação contribui para manutenção da parceria, mas encontra dificuldade especialmente no Brasil, em virtude da predominância de relações interpessoais no contexto organizacional (Peci, Oquendo, & Mendonça, 2020Peci, A., Oquendo, M. I., & Mendonça, P. (2020). Collaboration, (Dis)trust and Control in Brazilian Manufactured Public/Non-profit Partnerships. VOLUNTAS: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, 31(2), 375-389. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11266-018-0027-6
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). Neste ponto, este estudo entende que a conduta transparente por parte da organização patrocinadora ameniza uma eventual falta de confiança constituída, contribuindo para que o gestor da OSC esteja disposto a mobilizar recursos.

O que se estabelece neste estudo é a premissa de que o gestor da OSC aceite apoio de um patrocinador que também seja transparente, visando, dessa forma, não manchar a reputação e a legitimidade da sua organização. A legitimidade é um recurso que se fortalece à medida que a OSC estabelece relações de confiança com patrocinadores que lhe pareçam confiáveis e legítimos.

Dessa forma, torna-se relevante analisar como os gestores de OSCs brasileiras têm se adaptado a esse novo cenário, em que novas exigências legais estão presentes; além de um cenário nacional com verbas governamentais escassas. Ademais, há uma atmosfera de desconfiança tanto por parte de parceiros e doadores nacionais como internacionais. Diante disso, apresenta-se a hipótese um (H1) da pesquisa.

(H1): A intenção do gestor em mobilizar recursos é maior quando o patrocinador apresenta transparência no processo.

Capital social

Nahapiet e Ghoshal (1998Nahapiet, J., & Ghoshal, S. (1998). Social Capital, Intellectual Capital, and the Organizational Advantage. The Academy of Management Review, 23(2), 242-266. Recuperado dehttps://doi.org/10.2307/259373
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), autores seminais sobre o tema CS no contexto dos estudos organizacionais, destacam-se por concatenar o conceito do CS com a linguagem e teorias da área da Administração (Melo, Regis, & Bellen, 2015Melo, P. T. N. B., Regis, H. P., & Bellen, H. M. (2015). Princípios epistemológicos da teoria do capital social na área da Administração. Cadernos EBAPE.BR, 13(1), 136-164. Recuperado dehttps://doi.org/10.1590/1679-395125382
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). Os autores propuseram um framework para a compreensão do CS, o qual apresenta três dimensões: estrutural, cognitiva e relacional. Neste estudo, são utilizadas as dimensões estrutural e relacional do CS. A primeira refere-se à configuração e ao padrão das ligações entre os atores; as conexões são o principal aspecto a ser analisado. Essa dimensão ressalta os laços sociais e as redes de contato (Nahapiet, 2008Nahapiet, J. (2008). The Role of Social Capital in Inter-organizational Relationships. In S. Cropper, M. Ebers, C. Huxman, & P. Smith Ring (Eds.), The Oxford handbook of interorganizational relations (pp. 580-606). Oxford, UK: Oxford University Press . Recuperado de https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199282944.003.0022
https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
; Nahapiet & Ghoshal, 1998Nahapiet, J., & Ghoshal, S. (1998). Social Capital, Intellectual Capital, and the Organizational Advantage. The Academy of Management Review, 23(2), 242-266. Recuperado dehttps://doi.org/10.2307/259373
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). A dimensão relacional centra-se nos relacionamentos entre os atores, por meio dessa dimensão são descritos aspectos como vínculos de amizade, normas compartilhadas, obrigações mútuas e identificação, as quais influenciam o comportamento do indivíduo nos contextos sociais (Coleman, 1988Coleman, J. S. (1988). Social Capital in the Creation of Human Capital. American Journal of Sociology, 94, S95-S120. Recuperado de http://www.jstor.org/stable/2780243
http://www.jstor.org/stable/2780243...
; Nahapiet, 2008Nahapiet, J. (2008). The Role of Social Capital in Inter-organizational Relationships. In S. Cropper, M. Ebers, C. Huxman, & P. Smith Ring (Eds.), The Oxford handbook of interorganizational relations (pp. 580-606). Oxford, UK: Oxford University Press . Recuperado de https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199282944.003.0022
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). Essa dimensão é analisada com base na confiança, sendo uma das principais propulsoras do CS e das normas e regras de conduta, as quais são consideradas como aspectos facilitadores do CS.

O CS consiste nos recursos que as organizações desenvolvem via relações com outras organizações (Zahra, 2010Zahra, S. A. (2010). Harvesting Family Firms’ Organizational Social Capital: A Relational Perspective. Journal of Management Studies, 47(2), 345-366. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2009.00894.x
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), ou, ainda, pode ser interpretado como a boa vontade de disponibilizar recursos a um ator por meio de suas recíprocas relações de confiança (Arregle, Hitt, Sirmon, & Very, 2007Arregle, J. L., Hitt, M. A., Sirmon, D. G., & Very, P. (2007). The Development of Organizational Social Capital: Attributes of Family Firms. Journal of Management Studies, 44(1), 73-95. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2007.00665.x
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); as redes de relacionamento são, nesse, caso, um recurso central para o CS (Melo et al., 2015Melo, P. T. N. B., Regis, H. P., & Bellen, H. M. (2015). Princípios epistemológicos da teoria do capital social na área da Administração. Cadernos EBAPE.BR, 13(1), 136-164. Recuperado dehttps://doi.org/10.1590/1679-395125382
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), as quais podem ser formadas pelos próprios gestores mediante competências sociais (Ducci & Teixeira, 2011Ducci, N. P. C., & Teixeira, R. M. (2011). As redes sociais dos empreendedores na formação do capital social: um estudo de casos múltiplos em municípios do norte pioneiro no estado do Paraná. Cadernos EBAPE.BR, 9(4), 967-997. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S1679-39512011000400003
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). O CS pode prover diferentes tipos de recursos para as organizações, tais como informações, conhecimento, tecnologia, capital financeiro, posicionamento em redes e relações com atores estratégicos (Arregle et al., 2007Arregle, J. L., Hitt, M. A., Sirmon, D. G., & Very, P. (2007). The Development of Organizational Social Capital: Attributes of Family Firms. Journal of Management Studies, 44(1), 73-95. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2007.00665.x
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).

A maior parte dos estudos sobre CS no contexto organizacional tem como escopo as organizações com fins lucrativos. Embora a VBR apresente preceitos estratégicos em ambientes competitivos (L. Oliveira, 2008Oliveira, L. (2008). Capacidades diferenciadoras como vantagem competitiva nas empresas torrefadoras de café. Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria, 1(1), 85-100. Recuperado dehttps://doi.org/10.5902/19834659571
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), entende-se que suas premissas, em especial no que tange ao papel dos recursos e das capacidades, podem ser consideradas quando analisadas as organizações sem fins lucrativos (L. M. Costa et al., 2020Costa, L. M., Tondolo, V. A. G., Tondolo, R. R. P., Longaray, A. A., & Guimarães, J. C. (2020). Dynamic Capabilities and Organizational Performance in the Nonprofit Sector. Latin American Business Review, 21(4), 393-415. Recuperado de https://doi.org/10.1080/10978526.2020.1768540
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; R. R. P. Tondolo et al., 2016Tondolo, R. da R. P., Bitencourt, C. C., & Tondolo, V. A. G. (2016). Social Capital in Temporary Inter-organizational Projects. A Third Sector Perspective. Desenvolvimento Em Questão, 14(33), 363-388. Recuperado dehttps://doi.org/10.21527/2237-6453.2016.33.363-388
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, R. R. P. Tondolo et al., 2019Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., Longaray, A. A., Camargo, M. E., Bitencourt, C. C., & Zanandrea, G. (2019). Transparency and resource mobilization in times of crisis: An analysis of the Brazilian nonprofit sector. In A. Ferreira, R. Marques, G. Azevedo, H. Inácio, & C. Santos (Eds.), Modernization and Accountability in the Social Economy Sector (pp. 57-75). Hershey, PA: IGI Global.).

Neste contexto, a utilização da VBR como lente para entender o CS pode ser aplicada também às OSCs, uma vez que estas organizações necessitam de recursos tanto quanto as organizações com fins lucrativos. Isto é, recursos e capacidades são necessários para essas organizações cumprirem sua função social e desempenharem seus objetivos organizacionais. Desse modo, os recursos e as capacidades internas da organização contribuem de forma efetiva para as estratégias e sustentabilidade das OSCs. Assim, é importante investir em relações que promovam o desenvolvimento, utilizando laços permeados por confiança e reciprocidade, com vistas a facilitar a aquisição de recursos e a cooperação entre as organizações (Nahapiet, 2008Nahapiet, J. (2008). The Role of Social Capital in Inter-organizational Relationships. In S. Cropper, M. Ebers, C. Huxman, & P. Smith Ring (Eds.), The Oxford handbook of interorganizational relations (pp. 580-606). Oxford, UK: Oxford University Press . Recuperado de https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199282944.003.0022
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; Son, 2015Son, J. (2015). Organizational Social Capital and Generalized Trust in Korea. American Behavioral Scientist, 59(8), 1007-1023. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0002764215580611
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). O CS é, portanto, um meio que os gestores das OSCs possuem para acessar recursos com vistas à implementação das ações e projetos sociais de suas organizações (R. R. P. Tondolo et al., 2016Tondolo, R. da R. P., Bitencourt, C. C., & Tondolo, V. A. G. (2016). Social Capital in Temporary Inter-organizational Projects. A Third Sector Perspective. Desenvolvimento Em Questão, 14(33), 363-388. Recuperado dehttps://doi.org/10.21527/2237-6453.2016.33.363-388
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) Diante disso, apresenta-se a hipótese dois (H2).

(H2): A presença de capital social na relação entre gestor e patrocinador reforça o efeito da transparência na intenção do gestor sem fins lucrativos quanto a mobilizar recursos.

Com base nas hipóteses formuladas, apresenta-se o modelo conceitual da pesquisa (Figura 1).

Figura 1
Modelo conceitual

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para atender ao objetivo do estudo, foi utilizado um experimento entre sujeitos, baseado em vinhetas (Bachrach & Bendoly, 2011Bachrach, D. G., & Bendoly, E. (2011). Rigor in behavioral experiments: a basic primer for supply chain management researchers. Journal of Supply Chain Management, 47(3), 5-8. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1745-493X.2011.03230.x
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; Eckerd, 2016Eckerd, S. (2016). Experiments in purchasing and supply management research. Journal of Purchasing and Supply Management, 22(4), 258-261. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.pursup.2016.08.002
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; Rungtusanatham, Wallin, & Eckerd, 2011Rungtusanatham, M., Wallin, C., & Eckerd, S. (2011). The vignette in a scenario-based role-playing experiment. Journal of Supply Chain Management, 47(3), 9-16. Recuperado dehttps://doi.org/10.1111/j.1745-493X.2011.03232.x
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). Com esse método, é possível influenciar julgamentos, preferências ou decisões fazendo uso da manipulação de níveis específicos de fatores de interesse (Eckerd, 2016Eckerd, S. (2016). Experiments in purchasing and supply management research. Journal of Purchasing and Supply Management, 22(4), 258-261. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.pursup.2016.08.002
https://doi.org/10.1016/j.pursup.2016.08...
; Rungtusanatham et al., 2011Rungtusanatham, M., Wallin, C., & Eckerd, S. (2011). The vignette in a scenario-based role-playing experiment. Journal of Supply Chain Management, 47(3), 9-16. Recuperado dehttps://doi.org/10.1111/j.1745-493X.2011.03232.x
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) e modificações nas descrições dos cenários (Croson, Schultz, Siemsen, & Yeo, 2013Croson, R., Schultz, K., Siemsen, E., & Yeo, M. L. (2013). Behavioral operations: The state of the field. Journal of Operations Management, 31(1-2), 1-5. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.jom.2012.12.001
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). Esses procedimentos permitem que o experimento seja replicado, generalizado e possua maior potencial de validade externa (Eckerd, DuHadway, Bendoly, Carter, & Kaufmann, 2021Eckerd, S., DuHadway, S., Bendoly, E., Carter, C. R., & Kaufmann, L. (2021). On making experimental design choices: Discussions on the use and challenges of demand effects, incentives, deception, samples, and vignettes. Journal of Operations Management, 67(2), 261-275. Recuperado de https://doi.org/10.1002/joom.1128
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).

Desenho da vinheta

A vinheta foi desenvolvida com base nas etapas de criação e validação sugeridas por Rungtusanatham et al. (2011Rungtusanatham, M., Wallin, C., & Eckerd, S. (2011). The vignette in a scenario-based role-playing experiment. Journal of Supply Chain Management, 47(3), 9-16. Recuperado dehttps://doi.org/10.1111/j.1745-493X.2011.03232.x
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). Na etapa de pré-projeto, foram coletadas informações sobre o contexto do terceiro setor. Na fase de projeto, o rascunho foi discutido com docentes de uma escola de negócios credenciada pela Association for Advance Collegiate Schools of Business (AACSB) no Brasil. Na fase de pós-projeto, a vinheta foi testada com 80 estudantes de MBA com experiência em gestão. Os resultados da Análise de Variância (ANOVA) foram satisfatórios quanto à verificação de manipulação e realismo, validando a vinheta para a aplicação. A vinheta completa e o questionário encontram-se no Apêndice A. Já os resultados dos testes de verificação do experimento estão disponíveis via documento suplementar.

Estímulos para transparência e capital social

As duas variáveis independentes incluídas na vinheta foram a transparência e CS. Para a transparência, foram manipulados dois níveis, sem e com transparência. Em um nível, a vinheta descreve um patrocinador que não pratica a transparência. Em situação oposta, a vinheta descreve um patrocinador que pratica a transparência em suas ações. Para a variável capital social, também foram manipulados dois níveis, sem e com CS. Em um nível, a vinheta apresenta a situação em que a organização nunca teve relação com o patrocinador. Na situação oposta, a vinheta descreve a situação em que a organização já possui relacionamento com o patrocinador.

Variável dependente

Já a variável dependente, intenção de mobilizar recurso, foi mensurada por meio de um item. Após a leitura da vinheta, solicitou-se ao participante, no papel de gestor de uma organização do terceiro setor, que determinasse, com base no cenário descrito, a probabilidade de aceitar o apoio do patrocinador.

Participantes

Um total de 416 participantes brasileiros com experiência gerencial foram recrutados pela Pollfish (www.pollfish.com) para participar deste experimento. Destes, 171 foram excluídos por não responderem corretamente ao teste de atenção. Outros 149 foram eliminados por não possuírem experiência em gestão de organizações do terceiro setor. Permaneceram, portanto, 92 participantes, 46 do sexo feminino e 46 do sexo masculino. Os participantes tinham em média: 31 a 38 anos e 5 anos de experiência em gestão de organizações do terceiro setor.

Procedimentos do experimento

Na primeira etapa, todos os participantes leram o módulo comum, foram introduzidos ao cenário e conduzidos ao papel de gestor de uma OSC. No segundo módulo, cada participante foi aleatoriamente direcionado (random assignement) a uma das quatro versões da vinheta, por meio do teste A/B da plataforma SurveyMonkey Inc, contendo as manipulações das variáveis “transparência” e “capital social”. Na sequência, os participantes foram convidados a responder à questão de mobilização de recursos com base no cenário recebido. Responderam também às questões de verificação do experimento (atenção, realismo e manipulação). Ao final, responderam ao questionário com questões gerais de caracterização da amostra e sobre sua orientação social (OS), com base em Buerke, Straatmann, Lin-Hi, e Müller (2017Buerke, A., Straatmann, T., Lin-Hi, N., & Müller, K. (2017). Consumer awareness and sustainability-focused value orientation as motivating factors of responsible consumer behavior. Review of Managerial Science, 11(4), 959-991. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11846-016-0211-2
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).

Verificações do experimento

Duas questões de verificação de atenção foram utilizadas para detectar respostas desatentas. Essa verificação é central para a qualidade dos resultados em experimentos (Abbey & Meloy, 2017Abbey, J. D., & Meloy, M. G. (2017). Attention by design: Using attention checks to detect inattentive respondents and improve data quality. Journal of Operations Management, 53-56 (1), 63-70. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.jom.2017.06.001
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). Todos os 171 participantes que não responderam corretamente foram excluídos para assegurar a qualidade do procedimento. Outras duas questões foram utilizadas para verificar o realismo. A verificação do realismo é importante para assegurar a qualidade e validação (Eckerd, 2016Eckerd, S. (2016). Experiments in purchasing and supply management research. Journal of Purchasing and Supply Management, 22(4), 258-261. Recuperado de https://doi.org/10.1016/j.pursup.2016.08.002
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). Os participantes consideraram o cenário realista, com uma média de 4,8 (±1,9), e interessante, com uma média de 5,1 (±1,9).

Embora tenham sido realizadas a verificação de manipulação na etapa de desenvolvimento e a validação da vinheta, foi mantida uma questão para cada variável. Esse teste é central para assegurar a validade convergente em experimentos (Bachrach & Bendoly, 2011Bachrach, D. G., & Bendoly, E. (2011). Rigor in behavioral experiments: a basic primer for supply chain management researchers. Journal of Supply Chain Management, 47(3), 5-8. Recuperado de https://doi.org/10.1111/j.1745-493X.2011.03230.x
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; Rungtusanatham et al., 2011Rungtusanatham, M., Wallin, C., & Eckerd, S. (2011). The vignette in a scenario-based role-playing experiment. Journal of Supply Chain Management, 47(3), 9-16. Recuperado dehttps://doi.org/10.1111/j.1745-493X.2011.03232.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-493X.2011...
). Para a variável transparência, solicitou-se que os participantes avaliassem se o patrocinador procura ser transparente em suas ações. Os resultados da ANOVA indicaram diferenças significativas entre os participantes designados para cada um dos grupos (F1,90= 20,457; p<0,000), cuja média do tratamento “sem transparência” foi de 3,98 (±2,55) e do tratamento “com transparência” foi de 5,91 (±1,44). Para a variável CS, solicitou-se que os participantes avaliassem se o patrocinador já apresentava relacionamento com a OSC. Os resultados da ANOVA indicaram diferenças significativas entre os participantes designados para cada um dos grupos (F1,90= 7,155; p<0,009), cuja média do tratamento “sem CS” foi de 3,47 (±2,09) e do tratamento “com transparência” foi de 4,62 (±2,03).

O efeito demanda diz respeito à eventual tendência do participante de modular sua decisão na variável dependente para representar um possível “comportamento apropriado” com base em alguma influência da própria manipulação das variáveis nas vinhetas (Zizzo, 2010Zizzo, D. J. (2010). Experimenter demand effects in economic experiments. Experimental Economics, 13(1), 75-98. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s10683-009-9230-z
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). Para minimizar essa possível ameaça, dois expedientes foram utilizados. O primeiro consistiu em optar pela abordagem between-subjects (entre sujeitos), em que cada participante recebe apenas uma das combinações das vinhetas distribuídas de forma aleatória. O segundo trata-se de uma variável alternativa - orientação social (OS) - que permite verificar se a manipulação nas variáveis independentes apresentaria efeito na OS dos participantes. A OS foi composta por três itens, adaptados de Buerke et al. (2017Buerke, A., Straatmann, T., Lin-Hi, N., & Müller, K. (2017). Consumer awareness and sustainability-focused value orientation as motivating factors of responsible consumer behavior. Review of Managerial Science, 11(4), 959-991. Recuperado de https://doi.org/10.1007/s11846-016-0211-2
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). Os resultados do teste de diferença de médias indicaram que as variações de transparência e de CS não apresentaram efeito significante em OS, dessa forma, descartando um eventual efeito demanda.

Por fim foi realizado a verificação de um eventual confounding, o qual se refere ao teste de validade discriminante para verificar se a manipulação de uma variável está sendo afetada por outra variável do experimento (Perdue & Summers, 1986Perdue, B. C., & Summers, J. O. (1986). Checking the Success of Manipulations in Marketing Experiments. Journal of Marketing Research, 23(4), 317-326. Recuperado de https://doi.org/10.2307/3151807
https://doi.org/10.2307/3151807...
; S. P. Thomas, R. W. Thomas, Manrodt, & Rutner, 2013Thomas, S. P., Thomas, R. W., Manrodt, K. B., & Rutner, S. M. (2013). An Experimental Test of Negotiation Strategy Effects on Knowledge Sharing Intentions in Buyer-Supplier Relationships. Journal of Supply Chain Management, 49(2), 96-113. Recuperado dehttps://doi.org/10.1111/jscm.12004
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). Os resultados do teste de diferença de médias indicaram que as variações de transparência e de CS não apresentaram efeito significante entre as duas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das variáveis de controle (Tabela 1), gênero, idade, experiência em gestão de OSC (EXP) e OS apresentaram apenas a variável EXP como positiva e significante (b = 0,74; p < 0,01), indicando que quanto maior a experiência do participante, maior a intenção de mobilizar recursos.

Tabela 1
Resultados da regressão múltipla

Para verificar as hipóteses, foi realizada análise de regressão múltipla utilizando a macro Process (Hayes, 2018Hayes, A. F. (2018). Introduction to mediation, moderation, and monditional mrocess analisis: a regression based approach (2a ed.). Nova York, NY: Guilford Press.). Os resultados apontam que a transparência possui efeito positivo e significante na intenção de mobilizar recursos (b = 1,58; p < 0,001), apresentando suporte para a hipótese H1. Já a interação entre a transparência e o CS não apresentou significância (b = 0,76; p> 0,05), não oferecendo suporte para a hipótese H2. A variável CS também não apresentou efeito direto significante na intenção de mobilizar recursos (b = 0,15; p> 0,05). A Figura 2 representa o efeito combinado entre transparência e CS na intenção de mobilizar recursos. Mesmo os dados da Tabela 1 não apresentando suporte para a hipótese H2, cabe observar que o maior nível de intenção de mobilizar recursos é observado na combinação entre as variáveis com transparência e com CS.

Figura 2
Interação entre transparência e CS na intenção de mobilizar recursos (IMR)

A Tabela 2 apresenta a análise do efeito condicional pela técnica Johnson-Neyman, a qual possibilita observar os limites da interação entre as variáveis. Como esperado, pelos resultados da Tabela 1, o CS não altera a significância e o sinal do efeito da transparência na intenção de mobilizar recursos. Porém, cabe observar que, quando há CS, o valor do efeito da transparência passa de 1,20 para 1,96, e o nível de significância passa de (p<0,05) para (p<0,001). Dessa forma, considera-se que o CS também contribui para a intenção dos gestores de OSCs quanto a mobilizar recursos, o que potencializa o efeito da transparência.

Tabela 2
Análise dos efeitos condicionais

Os resultados do experimento confirmam a hipótese H1, fornecendo evidências de que o gestor da OSC está mais propenso a mobilizar recursos quando o patrocinador apresenta transparência em suas ações. Esses achados corroboram a premissa de que o gestor tem papel ativo na manutenção da imagem da OSC, bem como de sua imagem como profissional (Chowdhury et al., 2019Chowdhury, S. R., Wahab, H. A., & Islam, M. R. (2019). The role of faith-based NGOs in social development: Invisible empowerment. International Social Work, 62(3), 1055-1074. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0020872818767260
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; Striebing, 2017Striebing, C. (2017). Professionalization and Voluntary Transparency Practices in Nonprofit Organizations. Nonprofit Management and Leadership, 28(1), 65-83. Recuperado dehttps://doi.org/10.1002/nml.21263
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), ao evitar aceitar recursos de fontes duvidosas. Os resultados contribuem para demostrar a importância da transparência nas relações estabelecidas pelos gestores das OSCs, que, mesmo em uma situação de escassez de recursos, refutam a possibilidade de acessá-los quando podem colocar em risco a sua reputação e a de sua organização. Nesse sentido, é possível entender a transparência como uma capacidade organizacional exercida pelos gestores (Heald, 2006Heald, D. (2006). Varieties of transparency. In C. Hood, & D. Heald (Eds.), Transparency: The key to better government? (pp. 25-53). Oxford, UK: Oxford University Press .), com potencial de influenciar a mobilização de recursos (R. R. P. Tondolo et al., 2019Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., Longaray, A. A., Camargo, M. E., Bitencourt, C. C., & Zanandrea, G. (2019). Transparency and resource mobilization in times of crisis: An analysis of the Brazilian nonprofit sector. In A. Ferreira, R. Marques, G. Azevedo, H. Inácio, & C. Santos (Eds.), Modernization and Accountability in the Social Economy Sector (pp. 57-75). Hershey, PA: IGI Global.).

Importante salientar que os resultados do experimento não trouxeram suporte à hipótese H2, visto que o CS não se mostrou significante na relação entre transparência e mobilização dos recursos. No entanto, uma análise mais detalhada dos resultados aponta algumas ressalvas. Primeiro, o maior valor para a intenção de mobilizar recursos é observado na situação em que o patrocinador apresenta transparência em suas ações e há CS na relação entre gestor da OSC e patrocinador. Segundo, embora o efeito moderador do CS na relação transparência e intenção de mobilizar recursos não seja significante, há acréscimo do efeito da transparência na intenção de mobilizar recursos quando há CS na relação entre gestor e patrocinador. Dessa forma, é prudente não desconsiderar a importância do CS para as OSCs, em especial em relação a mobilização de recursos.

CONCLUSÃO

O objetivo deste artigo foi analisar o efeito da transparência e o efeito moderador do capital social na intenção de mobilizar recursos por parte dos gestores de OSCs. Para atender ao objetivo, foi realizado um experimento, entre sujeitos, baseado em vinhetas, com 92 gestores de OSCs.

Os resultados evidenciaram o efeito central da transparência do patrocinador na intenção do gestor de OSC quanto a mobilizar recursos. No entanto, os resultados não suportaram a hipótese de que o CS teria um efeito moderador importante na relação entre transparência e intenção de mobilizar recursos. Apesar disso, o CS gera, mesmo que de forma não significante, um incremento do efeito da transparência na intenção de mobilizar recursos. Dessa forma, é possível concluir que a transparência nas ações do patrocinador com o CS e na relação entre patrocinador e gestor de OSC é fator determinante na intenção de mobilizar recursos.

Esta pesquisa contribui ao demonstrar de forma empírica a importância da transparência no contexto das OSCs. Estudos anteriores já estabeleceram a relevância da transparência na captação e mobilização de recursos nas OSCs (Dall’Agnol et al., 2017Dall’Agnol, C. F., Tondolo, R. R. P., Tondolo, V. A. G., & Sarquis, A. B. (2017). Transparência e prestação de contas na mobilização de recursos no terceiro setor: um estudo de casos múltiplos realizado no sul do Brasil. Revista Universo Contábil, 13(2), 187-203. Recuperado de https://doi.org/10.4270/ruc.2017215
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) e da necessidade de estudos sobre transparência considerando o foco interno das OSCs (Martins & Olivieri, 2019Martins, L. J., & Olivieri, C. (2019). Contratualização de resultados: fragilidades na transparência e baixa accountability das organizações sociais. Revista de Administração Pública, 53(6), 1189-1202. Recuperado de https://doi.org/10.1590/0034-761220180412
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). Nesse sentido, este é um dos primeiros estudos a explorar, empiricamente em uma relação causal, o efeito da transparência na perspectiva do gestor da OSCs.

Com a realização desta pesquisa, foi possível observar que os gestores não estão dispostos a manchar a reputação da organização, nem sua reputação profissional aceitando recursos de um patrocinador com suspeitas de não agir de forma transparente. Este resultado reflete a crescente pressão da sociedade em relação à transparência na gestão das OSCs (Mansur & Teodósio, 2016Mansur, Y. S., & Teodósio, A. S. S. (2016). Participação das organizações da sociedade civil na cooperação Sul/Sul: em busca de um modelo de análise nos estudos em administração. Cadernos EBAPE.BR, 14(3), 676-694. Recuperado dehttps://doi.org/10.1590/1679-395129371
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; Mendonça & Falcão, 2016Mendonça, P., & Falcão, D. S. (2016). Novo Marco Regulatório para a realização de parcerias entre Estado e Organização da Sociedade Civil (OSC). Inovação ou peso do passado? Cadernos Gestão Pública e Cidadania, 21(68), 42-60. Recuperado de https://doi.org/10.12660/cgpc.v21n68.56484
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). Os mecanismos de transparência são centrais para identificar eventuais desvios nas práticas das OSCs, os quais afetam a sua legitimidade (Alves & M. M. Costa, 2020Alves, M. A., & Costa, M. M. (2020). Colaboração entre governos e organizações da sociedade civil em resposta a situações de emergência. Revista de Administração Pública, 54(4), 923-935. Recuperado de https://doi.org/10.1590/0034-761220200168
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). Os achados deste estudo também contribuem para o entendimento da transparência como uma capacidade das organizações e do efeito desta capacidade na mobilização de recursos. Cada vez mais a transparência, em especial a espontânea, será decisiva para a obtenção de recursos pelas OSCs (Becker, 2018Becker, A. (2018). An Experimental Study of Voluntary Nonprofit Accountability and Effects on Public Trust, Reputation, Perceived Quality, and Donation Behavior. Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly, 47(3), 562-582. Recuperado de https://doi.org/10.1177/0899764018756200
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).

Ademais, a pesquisa também contribui ao evidenciar os limites do CS. Uma eventual premissa é de que, quando há CS na relação, este poderia amenizar uma situação de falta de transparência do patrocinador, em especial devido ao relacionamento já existente e aos laços estabelecidos. Observou-se, no entanto, que o CS não possui um efeito da mesma magnitude como o da transparência, bem como que o CS reforça as atitudes positivas na relação entre patrocinador e gestor.

O estudo limitou-se às análises quantitativas da transparência e do CS na intenção de mobilizar recursos, com dois níveis para transparência e com dois níveis para CS: sem e com. No entanto, não se pretende realizar uma divisão entre o quantitativo e o qualitativo, uma vez que essas fronteiras não são realidade nas ciências sociais (King, Keohane, & Verba, 1994King, G., Keohane, R. O., & Verba, S. (1994). Designing Social Inquiry: scientific inference in qualitative research. Princeton, NJ: Princeton University Press.), cada qual possui o seu papel e importância e sua interação é central para a construção do conhecimento em administração (Fernandes, Teixeira, Nascimento, & Tude, 2021Fernandes, A. S. A., Teixeira, M. A. C., Nascimento, A. B. F. M., & Tude, J. M. (2021). Ideias Sobre Epistemologia e Pesquisa em Administração. Estudos de Administração e Sociedade, 6(2), 42-50. Recuperado de https://doi.org/10.22409/eas.v6i2.52776
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). Salienta-se que o estudo abordou o efeito, no sentido de intensidade, significância da relação e seus condicionantes (Hayes, 2018Hayes, A. F. (2018). Introduction to mediation, moderation, and monditional mrocess analisis: a regression based approach (2a ed.). Nova York, NY: Guilford Press.). São necessários, portanto, mais estudos em profundidade para analisar os “porquês” da relação entre transparência, capital social e mobilização de recursos.

O estudo também analisou uma situação em que mediu a intenção de mobilizar recursos pela probabilidade de aceitar o apoio financeiro de um patrocinador para poder participar de um edital de captação de recursos, sob a ótica do gestor da OSC, não sendo analisada a decisão do doador. Dessa forma, entende-se que pesquisas futuras podem ampliar e comparar os resultados desta pesquisa com outros níveis de transparência e de CS. Também, podem ser utilizados, ainda, outros cenários de vinheta. Sugere-se explorar o papel da reputação e da imagem da organização e do próprio gestor no contexto da transparência, bem como a situação de decisão pela ótica da organização doadora.

AGRADECIMENTOS

Os autores reconhecem que este estudo foi possível graças à Universidade Federal de Pelotas, FGV EAESP e CNPq [428197/2018-3].

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  • 1
    As partes no texto estão grifadas para destacar as alterações entre as manipulações. Na aplicação do experimento elas não foram grifadas.

APÊNDICE A - VINHETA E QUESTIONÁRIO

A1 - Módulo comum

A Fundação BIO tem um edital aberto para concessão de recursos por meio de projetos. O objeto desse edital está alinhado com a atuação da sua organização. O valor de até R$ 500.000,00 a ser concedido é relevante considerando o cenário nacional. No entanto, um dos requisitos desse edital é que a organização que submeta o projeto comprove uma contrapartida financeira no valor de R$ 200.000,00. A OSC que você gerencia não dispõe desses recursos, mas você pode buscá-los com parceiros locais. Como o montante a ser comprovado é um valor considerável, você de imediato descarta as possibilidades de captar esses recursos por meio de doações de pessoas físicas e da administração pública municipal. Então, sua única alternativa, considerando a limitação de tempo, é buscar o apoio de empresas privadas. Após o contato com diversas empresas locais, uma empresa se disponibilizou a apoiar o projeto:

A JK investimentos é uma empresa de grande porte, reconhecida nacionalmente por atuar em diversos setores e ser uma empresa lucrativa em seu segmento. A JK, que tem um patrimônio considerável, já está no mercado há algumas décadas, dispôs-se a contribuir para o projeto.

A2 - Estímulos do experimento - fatorial 2 x 2

A 2.1 - Com transparência e com capital social

A JK investimentos faz parte1 1 As partes no texto estão grifadas para destacar as alterações entre as manipulações. Na aplicação do experimento elas não foram grifadas. de uma rede de empresas parceiras que apoiam a sua organização, já tendo apoiado alguns projetos anteriores. Você se relaciona com a empresa há muitos anos, conhece muito bem o gestor da área de responsabilidade social e confia na JK. A empresa se empenha em ser transparente em todas as suas ações, apresenta anualmente o balanço social e divulga os demonstrativos contábeis para a sociedade em seu site. Antes de fechar essa parceria, você procura se certificar da origem dos recursos destinados pela empresa ao seu projeto e constata que não há irregularidades.

A 2.2 - Com transparência e sem capital social

A JK investimentos não faz parte de uma rede de empresas parceiras que apoiam a sua organização, nunca tendo apoiado os projetos anteriores. Você nunca se relacionou com a empresa, não conhece muito bem o gestor da área de responsabilidade social e não pode afirmar que confia na JK. A empresa se empenha em ser transparente em todas as suas ações, apresenta anualmente o balanço social e divulga os demonstrativos contábeis para a sociedade em seu site. Antes de fechar essa parceria, você procura se certificar da origem dos recursos destinados pela empresa ao seu projeto e constata que não há irregularidades.

A 2.3 - Sem transparência e com capital social

A JK investimentos faz parte de uma rede de empresas parceiras que apoiam a sua organização, já tendo apoiado alguns projetos anteriores. Você se relaciona com a empresa há muitos anos, conhece muito bem o gestor da área de responsabilidade social e confia na JK. A empresa não se empenha em ser transparente em todas as suas ações, não apresenta anualmente o balanço social e não divulga os demonstrativos contábeis para a sociedade em seu site. Antes de fechar essa parceria, você procura se certificar da origem dos recursos destinados pela empresa ao seu projeto e constata que há irregularidades.

A 2.4 - Sem transparência e sem capital social

A JK investimentos não faz parte de uma rede de empresas parceiras que apoiam a sua organização, nunca tendo apoiado os projetos anteriores. Você nunca se relacionou com a empresa, não conhece muito bem o gestor da área de responsabilidade social e não pode afirmar que confia na JK. A empresa não se empenha em ser transparente em todas as suas ações, não apresenta anualmente o balanço social e não divulga os demonstrativos contábeis para a sociedade em seu site. Antes de fechar essa parceria você procura se certificar da origem dos recursos destinados pela empresa ao seu projeto e constata que há irregularidades.

A3 - Questões sobre o cenário recebido

Baseado no cenário apresentado, por favor, responda as questões abaixo.

A 3.1 - Variável dependente

Q1) Baseado no caso descrito, qual é a probabilidade de você aceitar o apoio da JK investimentos?

A 3.2 - Realismo

Q2.1) Diante do cenário apresentado, você o considera?

Q2.2) Quão interessante você considera o cenário apresentado?

A 3.3 - Teste de atenção

A 3.4 - Verificação da manipulação

Todas as 6 questões foram utilizadas para verificar o teste de manipulação na etapa de validação da vinheta. As questões marcadas com * foram mantidas para o teste de manipulação na coleta final.

A 4 - Questões sobre o indivíduo e de caracterização da amostra

AS QUESTÕES A SEGUIR NÃO ESTÃO RELACIONADAS COM O CENÁRIO ACIMA.

Considerando a sua percepção enquanto gestor, apresente a resposta que mais condiz com a sua prática profissional.

A 4.1 - Orientação social (Buerke et al., 2017)

A 4.2 - Caracterização da amostra

DOCUMENTO SUPLEMENTAR

B - RESULTADOS DO TESTE DE VERIFICAÇÃO DA MANIPULAÇÃO - ETAPA DE DESENVOLVIMENTO DA VINHETA

B1 - Transparência

Tabela 1
Descriptives
Tabela 2
ANOVA
Tabela 3
ANOVA

B2 - Capital social

Tabela 4
Descriptives
Tabela 5
ANOVA
Tabela 6
ANOVA

C - VERIFICAÇÕES DO EXPERIMENTO COM A AMOSTRA FINAL

C1 - Teste de atenção

Tabela 7
Quem é você nesse contexto?
Tabela 8
Qual a sua maior preocupação nesse contexto?

C2 - Teste de realismo

Tabela 9
Estatísticas descritivas

C3 - Teste de manipulação

C3.1 - Transparência

Tabela 10
A JK investimentos procura ser transparente em suas ações
Tabela 11
ANOVA
Tabela 12
ANOVA

C3.2 - Capital social

Tabela 13
A JK investimentos já apresenta relação com a sua organização social
Tabela 14
ANOVA
Tabela 15
ANOVA

C4 - Efeito demanda

C4.1 - Orientação Social x Social Capital

Tabela 16
Orientação social
Tabela 17
ANOVA
Tabela 18
ANOVA

C4.2 - Orientação Social x Transparência

Tabela 19
Orientação social
Tabela 20
ANOVA
Tabela 21
ANOVA

C5 - Confounding

C5.1 - A JK investimentos procura ser transparente em suas ações. X Capital social

Tabela 22
Capital Social
Tabela 23
ANOVA
Tabela 24
ANOVA

C5.5 - A JK investimentos já apresenta relação com a sua organização social. X Transparência

Tabela 25
Transparência
Tabela 26
ANOVA
Tabela 27
ANOVA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2023

Histórico

  • Recebido
    11 Mar 2022
  • Aceito
    18 Jun 2022
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