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Fusariose disseminada com endoftalmite em paciente com neoplasia hematológica

APRENDENDO POR IMAGENS

Fusariose disseminada com endoftalmite em paciente com neoplasia hematológica

Guilherme Fleury Perini; Luis Fernando Aranha Camargo; Claudio Luiz Lottenberg; Nelson Hamerschlak

Hospital Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Guilherme Fleury Perini Hospital Israelita Albert Einstein Istituto Israelita de Ensino e Pesquisa Avenida Albert Einstein, 627/701, Bloco A - Morumbi CEP: 05652-900 - São Paulo, SP, Brasil Tel.: (11) 2151-8709 E-mail: guiperini@einstein.br

Paciente de 68 anos com diagnóstico anterior de leucemia melodie aguda iniciada com febre e mialgia durante quimioterapia. Apesar do largo espectro de antibióticos, a febre persistiu e, após 3 dias, foram observadas, nos membros inferiores do paciente, lesões na pele compatíveis com infecção por Fusarium. Observaram-se dispneia e hipóxia. Tomografia computadorizada mostrou infiltrações pulmonares extensas, e as culturas sanguíneas foram positivas para Fusarium sp. Fusariose disseminada foi diagnosticada sendo, assim, iniciado o uso de anfotericina lipossomal, voriconazol e infusão de granulócitos.

As lesões na pele regrediram completamente, assim como os infiltrados pulmonares; porém, após 1 semana, o paciente relatou embaçamento da visão no olho esquerdo. A imagem por ressonância magnética da órbita mostrou melhora do globo ocular esquerdo com laminação lateral, mediana e anterior compatível com endoftalmites (Figura 1). Iniciou-se tratamento intraocular com voriconazol, sendo observada pequena melhora. Diagnosticou-se endoftalmites por Fusarium sp, após o paciente relatar perda da visão do olho direito. Apesar do tratamento, houve piora progressiva de endoftalmites bilateral, ocorrendo enucleação do olho e sendo necessário o controle da doença. O exame patológico do olho enucleado mostrou abscesso adjacente à retina (Figura 2). Em alta magnificação, foi possível identificar Fusarium hifa (Figura 3).




As espécies de Fusarium causam diversas infecções em humanos, incluindo infecções superficiais, localmente invasivas e disseminadas. Pacientes imunocomprometidos têm alto risco, especialmente aqueles com neutropenia prolongada ou grave e/ou imunodeficiência grave de células T(1). Indivíduos com leucemia aguda e também pacientes submetidos à transplante de célula-tronco hematopoiética têm risco principalmente por meio das formas invasivas e disseminadas(2). O padrão típico de doenças disseminadas é uma combinação de lesões cutâneas (tipicamente com necrose externa no centro da lesão) e cultura positiva de sangue, com ou sem envolvimento de outros locais (sinusites, pulmões e outros)(3).

A endoftalmite por Fusarium em hospedeiros imunocomprometidos resulta mais comumente de semeadura hematogênica(4,5). A terapia intraocular e sistemática é, geralmente, aplicada com resposta baixa, podendo ser necessário a evisceração do olho, para evitar o envolvimento do sistema nervoso central(6). Poucos casos relatados descrevem o tratamento com sucesso da endoftalmite por Fusarium sp com voriconazola isolada ou combinada com caspofungina e posaconazole(7,8).

Data de submissão: 2/8/2012

Data de aceite: 24/2/2013

  • 1. Boutati EI, Anaissie EJ. Fusarium, a significant emerging pathogen in patients with hematologic malignancy: ten years' experience at a cancer center andimplications for management. Blood. 1997;90(3):999-1008.
  • 2. Nucci M, Anaissie E. Cutaneous infection by Fusarium species in healthy and immunocompromised hosts: implications for diagnosis and management. Clin Infect Dis. 2002;35(8):909-20.
  • 3. Nucci M, Anaissie E. Fusarium infections in immunocompromised patients. Clin Microbiol Rev. 2007;20(4):695-704.
  • 4. Dursun D, Fernandez V, Miller D, Alfonso EC. Advanced fusarium keratitis progressing to endophthalmitis. Cornea. 2003;22(4):300-3.
  • 5. Rezai KA, Eliott D, Plous O, Vazquez JA, Abrams GW. Disseminated Fusarium infection presenting as bilateral endogenous endophthalmitis in a patient with acute myeloid leukemia. Arch Ophthalmol. 2005;123(5):702-3.
  • 6. Tiribelli M, Zaja F, Filì C, Michelutti T, Prosdocimo S, Candoni A, et al. Endogenous endophthalmitis following disseminated fungemia due to Fusariumsolaniin a patient with acute myeloid leukemia. Eur J Haematol. 2002; 68(5):314-7.
  • 7. Tu EY, McCartney DL, Beatty RF, Springer KL, Levy J, Edward D. Successful treatment of resistant ocular fusariosis with posaconazole (SCH-56592). Am J Ophthalmol. 2007;143(2):222-7.
  • 8. Durand ML, Kim IK, D'Amico DJ, Loewenstein JI, Tobin EH, Kieval SJ, et al. Successful treatment of Fusarium endophthalmitis with voriconazole and Aspergillus endophthalmitis with voriconazole plus caspofungin. Am J Ophthalmol. 2005;140(3):552-4.
  • Endereço para correspondência:
    Guilherme Fleury Perini
    Hospital Israelita Albert Einstein
    Istituto Israelita de Ensino e Pesquisa
    Avenida Albert Einstein, 627/701, Bloco A - Morumbi
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    Tel.: (11) 2151-8709
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      31 Jan 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013
    Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein Avenida Albert Einstein, 627/701 , 05651-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 2151 0904 - São Paulo - SP - Brazil
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