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Conhecimento teórico e prático dos profissionais de Enfermagem em unidade coronariana sobre a medida indireta da pressão arterial

Resumos

Objetivo

Determinar e analisar o conhecimento teórico e prático de profissionais de Enfermagem sobre a medida indireta da pressão arterial.

Métodos

Estudo descritivo, transversal, com profissionais de Enfermagem de uma unidade coronariana. Participaram do estudo 31 sujeitos (86% da população), sendo 38,7% enfermeiros e 61,3% técnicos em enfermagem. A avaliação teórica ocorreu por meio de questionário validado, e a prática, com técnica auscultatória, em simulação, sob observação não participativa.

Resultados

Sobre o conhecimento teórico do preparo do cliente e ambiente, 12,9% citaram repouso de 5 minutos, 48,4% conferiram calibração e 29,0% escolheram o manguito correto. Já 64,5% evitaram o arredondamento dos valores, e 22,6% citaram o prazo semestral para a calibração dos aparelhos. Na avaliação prática, em média, 65% das etapas foram cumpridas. Dentre as lacunas desse conhecimento, destacaram-se a ausência de checagem da calibração do aparelho e do estetoscópio, a medida da circunferência braquial para escolher o manguito, e o registro do braço usado na medida. Conclusão: O conhecimento foi insatisfatório, com discrepâncias entre a teoria e a prática, com indícios de etapas cumpridas sem a devida consciência, e conhecimentos importantes negligenciados na execução da medida da pressão arterial. Intervenções educativas e operacionais devem ser sistematicamente aplicadas, com o envolvimento institucional, para garantir segurança da assistência com valores fidedignos.

Equipe de enfermagem; Determinação da pressão arterial/ enfermagem; Determinação da pressão arterial/métodos; Conhecimentos, atitudes e práticas em saúde; Questionários


Objective

To determine and to analyze the theoretical and practical knowledge of Nursing professionals on indirect blood pressure measurement.

Methods

This cross-sectional study included 31 professionals of a coronary care unit (86% of the Nursing staff in the unit). Of these, 38.7% of professionals were nurses and 61.3% nurse technicians. A validated questionnaire was used to theoretical evaluation and for practice assessment the auscultatory technique was applied in a simulation environment, under a non-participant observation.

Results

To the theoretical knowledge of the stages of preparation of patient and environment, 12.9% mentioned 5-minute of rest, 48.4% checked calibration, and 29.0% chose adequate cuff width. A total of 64.5% of professionals avoided rounding values, and 22.6% mentioned the 6-month deadline period for the equipment calibration. On average, in practice assessment, 65% of the steps were followed. Lacks in knowledge were primary concerning lack of checking the device calibration and stethoscope, measurement of arm circumference to choose the cuff size, and the record of arm used in blood pressure measurement.

Conclusion

Knowledge was poor and had disparities between theory and practice with evidence of steps taken without proper awareness and lack of consideration of important knowledge during implementation of blood pressure measurement. Educational and operational interventions should be applied systematically with institutional involvement to ensure safe care with reliable values.

Nursing, team; Blood pressure determination/nursing; Blood pressure determination/methods; Health knowledge; attitudes, practice; Questionnaires


INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial (HA) é um importante problema de saúde pública, constituindo o principal fator de risco para doenças cardiovasculares (DCV), que, por sua vez, são as mais onerosas e severas, em complicações e sequelas.(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.) Somente metade das pessoas hipertensas possui sua pressão arterial (PA) controlada(22. Egan BM, Zhao Y, Axon RN. US trends in prevalence, awareness, treatment, and control of hypertension, 1988-2008. JAMA. 2010;303(20):2043-50.) e, em nosso meio, há franca dificuldade de adesão dos hipertensos ao tratamento medicamentoso.(33. Daniel AC, Veiga EV. Factors that interfere the medication compliance in hypertensive patients. Einstein (São Paulo). 2013;11(3):331-7.)

A abordagem terapêutica ao hipertenso deve focar na manutenção da PA em valores <140x90mmHg e considerar a presença de fatores de risco associados.(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.,44. Daskalopoulou SS, Khan NA, Quinn RR, Ruzicka M, McKay DW, Hackam DG, Rabkin SW, Rabi DM, Gilbert RE, Padwal RS, Dawes M, Touyz RM, Campbell TS, Cloutier L, Grover S, Honos G, Herman RJ, Schiffrin EL, Bolli P, Wilson T, Feldman RD, Lindsay MP, Hemmelgarn BR, Hill MD, Gelfer M, Burns KD, Vallée M, Prasad GV, Lebel M, McLean D, Arnold JM, Moe GW, Howlett JG, Boulanger JM, Larochelle P, Leiter LA, Jones C, Ogilvie RI, Woo V, Kaczorowski J, Trudeau L, Bacon SL, Petrella RJ, Milot A, Stone JA, Drouin D, Lamarre-Cliché M, Godwin M, Tremblay G, Hamet P, Fodor G, Carruthers SG, Pylypchuk G, Burgess E, Lewanczuk R, Dresser GK, Penner B, Hegele RA, McFarlane PA, Sharma M, Campbell NR, Reid D, Poirier L, Tobe SW; Canadian Hypertension Education Program. The 2012 Canadian hypertension education program recommendations for the management of hypertension: blood pressure measurement, diagnosis, assessment of risk, and therapy. Can J Cardiol. 2012;28(3):270-87.)

Para a medida da PA, o método mais utilizado é o indireto, com técnica auscultatória,(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.) o qual pode apresentar erros relacionados ao ambiente, ao observador, ao cliente e ao aparelho, mesmo sendo um procedimento simples e fácil de ser realizado.(55. Parati G, Stergiou GS, Asmar R, Bilo G, de Leeuw P, Imai Y, Kario K, Lurbe E, Manolis A, Mengden T, O’Brien E, Ohkubo T, Padfield P, Palatini P, Pickering T, Redon J, Revera M, Ruilope LM, Shennan A, Staessen JA, Tisler A, Waeber B, Zanchetti A, Mancia G; ESH Working Group on Blood Pressure Monitoring. European Society of Hypertension guidelines for blood pressure monitoring at home: a summary report of the Second International Consensus Conference on Home Blood Pressure Monitoring. J Hypertens. 2008;26(8):1505-26.) Por isso, diretrizes de HA descreveram as etapas da medida da PA, reforçando sua importância na obtenção de valores fidedignos, que suportem adequadamente o diagnóstico e tratamento.(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.,44. Daskalopoulou SS, Khan NA, Quinn RR, Ruzicka M, McKay DW, Hackam DG, Rabkin SW, Rabi DM, Gilbert RE, Padwal RS, Dawes M, Touyz RM, Campbell TS, Cloutier L, Grover S, Honos G, Herman RJ, Schiffrin EL, Bolli P, Wilson T, Feldman RD, Lindsay MP, Hemmelgarn BR, Hill MD, Gelfer M, Burns KD, Vallée M, Prasad GV, Lebel M, McLean D, Arnold JM, Moe GW, Howlett JG, Boulanger JM, Larochelle P, Leiter LA, Jones C, Ogilvie RI, Woo V, Kaczorowski J, Trudeau L, Bacon SL, Petrella RJ, Milot A, Stone JA, Drouin D, Lamarre-Cliché M, Godwin M, Tremblay G, Hamet P, Fodor G, Carruthers SG, Pylypchuk G, Burgess E, Lewanczuk R, Dresser GK, Penner B, Hegele RA, McFarlane PA, Sharma M, Campbell NR, Reid D, Poirier L, Tobe SW; Canadian Hypertension Education Program. The 2012 Canadian hypertension education program recommendations for the management of hypertension: blood pressure measurement, diagnosis, assessment of risk, and therapy. Can J Cardiol. 2012;28(3):270-87.,66. National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Hypertension: The clinical management of primary hypertension in adults. London: National Clinical Guideline Centre (NCGC); 2011.,77. Quinn RR, Hemmelgarn BR, Padwal RS, Myers MG, Cloutier L, Bolli P, McKay DW, Khan NA, Hill MD, Mahon J, Hackam DG, Grover S, Wilson T, Penner B, Burgess E, McAlister FA, Lamarre-Cliche M, McLean D, Schiffrin EL, Honos G, Mann K, Tremblay G, Milot A, Chockalingam A, Rabkin SW, Dawes M, Touyz RM, Burns KD, Ruzicka M, Campbell NR, Vallée M, Prasad GV, Lebel M, Tobe SW; Canadian Hypertension Education Program. The 2010 Canadian Hypertension Education Program recommendations for the management of hypertension: part I - blood pressure measurement, diagnosis and assessment of risk. Can J Cardiol. 2010;26(5):241-8.)

Simultaneamente, os aparelhos oscilométricos para medida da PA vêm gradualmente aumentando em ambulatórios, residências e, principalmente, em hospitais.(66. National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Hypertension: The clinical management of primary hypertension in adults. London: National Clinical Guideline Centre (NCGC); 2011.) A técnica oscilométrica reduz erros relacionados ao observador,(55. Parati G, Stergiou GS, Asmar R, Bilo G, de Leeuw P, Imai Y, Kario K, Lurbe E, Manolis A, Mengden T, O’Brien E, Ohkubo T, Padfield P, Palatini P, Pickering T, Redon J, Revera M, Ruilope LM, Shennan A, Staessen JA, Tisler A, Waeber B, Zanchetti A, Mancia G; ESH Working Group on Blood Pressure Monitoring. European Society of Hypertension guidelines for blood pressure monitoring at home: a summary report of the Second International Consensus Conference on Home Blood Pressure Monitoring. J Hypertens. 2008;26(8):1505-26.) contudo, é igualmente influenciada por etapas de preparação do cliente, que contribuem para variações, como, por exemplo, o uso de manguito de tamanho inapropriado,(66. National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Hypertension: The clinical management of primary hypertension in adults. London: National Clinical Guideline Centre (NCGC); 2011.) merecendo rigor no cumprimento das etapas preparatórias para a medida da PA.

Entre os profissionais de saúde, há evidências de falhas na execução da medida da PA, como na escolha do manguito, na posição do cliente, no arredondamento de valores e no repouso inadequado antes da medida.(88. Rabello CC, Pierin AM, Mion D. [Healthcare professionals’ knowledge of blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(2):127-34. Portuguese.,99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.) Entre profissionais de Enfermagem, o conhecimento é insatisfatório, inclusive entre enfermeiros.(1010. Armstrong RS. Nurses’ knowledge of error in blood pressure measurement technique. Int J Nurs Pract. 2002;8(3):118-26.

11. Dickson BK, Hajjar I. Blood Pressure Measurement Education and Evaluation Program improves measurement accuracy in community-based nurses: a pilot study. J Am Acad Nurse Pract. 2007;19(2):93-102.
-1212. Almeida TC, Lamas JL. [Nurses of adult intensive care unit: evaluation about direct and indirect blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2013; 47(2):369-76.)

Pela escassez de estudos que possam subsidiar a elaboração de intervenções educativas e operacionais específicas, visando à segurança e à garantia dos valores fidedignos para direcionar as condutas clínicas interdisciplinares, entende-se que o presente estudo é de grande importância para embasar o planejamento e a implementação de ações que promovam melhorias da prática da medida indireta da PA.

OBJETIVO

Determinar o conhecimento teórico e prático de profissionais de Enfermagem de uma unidade coronariana sobre as etapas da medida indireta da pressão arterial.

MÉTODOS

Estudo descritivo e transversal, conduzido na Unidade Coronariana da Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, tendo em vista a magnitude do gerenciamento da PA nas decisões clínicas nesse setor. A amostra foi composta pela totalidade dos profissionais alocados na unidade, disponíveis em período de trabalho. Excluíram-se os profissionais que estavam em férias ou afastamento.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, sob o protocolo 1418/2011, em 13 de março de 2012. Cada profissional foi convidado pessoalmente pela pesquisadora e, após aceitação, manifestou clareza e ciência dos riscos e benefícios de sua participação, além de assinar espontaneamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A coleta de dados deu-se por meio de questionário elaborado e validado pelo mesmo grupo de pesquisa deste estudo, cujos resultados estão em fase de publicação, com questões relacionadas às etapas da medida indireta da PA, segundo diretrizes.(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.,44. Daskalopoulou SS, Khan NA, Quinn RR, Ruzicka M, McKay DW, Hackam DG, Rabkin SW, Rabi DM, Gilbert RE, Padwal RS, Dawes M, Touyz RM, Campbell TS, Cloutier L, Grover S, Honos G, Herman RJ, Schiffrin EL, Bolli P, Wilson T, Feldman RD, Lindsay MP, Hemmelgarn BR, Hill MD, Gelfer M, Burns KD, Vallée M, Prasad GV, Lebel M, McLean D, Arnold JM, Moe GW, Howlett JG, Boulanger JM, Larochelle P, Leiter LA, Jones C, Ogilvie RI, Woo V, Kaczorowski J, Trudeau L, Bacon SL, Petrella RJ, Milot A, Stone JA, Drouin D, Lamarre-Cliché M, Godwin M, Tremblay G, Hamet P, Fodor G, Carruthers SG, Pylypchuk G, Burgess E, Lewanczuk R, Dresser GK, Penner B, Hegele RA, McFarlane PA, Sharma M, Campbell NR, Reid D, Poirier L, Tobe SW; Canadian Hypertension Education Program. The 2012 Canadian hypertension education program recommendations for the management of hypertension: blood pressure measurement, diagnosis, assessment of risk, and therapy. Can J Cardiol. 2012;28(3):270-87.,66. National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Hypertension: The clinical management of primary hypertension in adults. London: National Clinical Guideline Centre (NCGC); 2011.,1313. Pickering TG, Hall JE, Appel LJ, Falkner BE, Graves J, Hill MN, et al. Recommendations for blood pressure measurement in humans and experimental animals: part 1: blood pressure measurement in humans: a statement for professionals from the Subcommittee of Professional and Public Education of the American Heart Association Council on High Blood Pressure Research. Circulation. 2005;111(5):697-716.) Tal questionário é composto por 28 questões, sendo 20 delas sobre medida indireta da PA. As perguntas versam sobre o preparo do cliente (informações que devem ser checadas antes da medida); preparo do ambiente (condições ideais para a medida da PA); checagem do aparelho (calibração, seleção e escolha do manguito ideal, de acordo com o braço do cliente, colocação do manguito e estetoscópio); posição do cliente (acomodação, posição do dorso, pernas e braços); obtenção e registros dos valores (estimativa da PA sistólica por palpação, registro dos valores sem arredondamento, em mmHg, intervalo entre duas medidas, tempo entre verificação e registro, braço usado na medida); e cuidados com o aparelho (avaliação de extensões e conexões, funcionalidade e conhecimentos sobre prazos de calibração).

Além do conhecimento teórico, cada participante demonstrou a técnica da medida da PA em ambiente de simulação, num consultório de Enfermagem. Essa atividade transcorreu com o participante no papel de enfermeiro ou técnico de Enfermagem, que deveria chamar o cliente, representado por um ator (role play),(1414. Martins JC, Mazzo A, Baptista RC, Coutinho VR, Godoy S, Mendes IA, et al. A experiência clínica simulada no ensino de enfermagem: retrospectiva histórica. Acta Paul Enferm. 2012;25(4):619-25.) acomodá-lo e executar a medida da PA na posição sentada, pela técnica auscultatória. A simulação era acompanhada por um auxiliar da pesquisa, por observação não participativa, que registrava as etapas executadas num checklist validado,(1515. Gerolim F, Santos AB. A medida indireta da pressão arterial, compreensão, interpretação e conduta mediante valores obtidos: conhecimento entre estudantes de graduação em enfermagem. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP; 2009.) em fase de publicação, baseado nas diretrizes brasileiras.(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.)

Para padronizar o cenário, foram utilizados: uma mesa de escritório com computador, duas cadeiras, dois aparelhos aneroides, dois estetoscópios, uma fita métrica e uma ficha de atendimento para prontuário clínico do cliente. A simulação ocorreu sempre na mesma sala, climatizada, mantendo-se a porta aberta no início da atividade. O cliente/ator aguardava numa antessala e adentrava ao consultório de Enfermagem assim que fosse chamado. Ele deveria sentar-se sempre com as pernas cruzadas e os braços dispostos sobre o colo; seu histórico era padronizado: negava relato, nos últimos 30 minutos, de bexiga cheia ou ingestão de alimentos, álcool, café e fumo; relatava ter caminhado por 10 minutos e ter chegado ao serviço de saúde naquele momento, para sua primeira consulta.

Inicialmente, o participante realizava a demonstração da técnica e, depois, a avaliação teórica, para que não fosse induzido por alguma informação contida no questionário.

Os resultados foram inseridos em banco de dados em Excel® por dupla digitação e submetidos à estatística descritiva, por frequência de respostas categóricas ou dicotômicas, apresentadas em números absolutos e relativos.

RESULTADOS

Para determinar e analisar o conhecimento teórico e prático dos profissionais de Enfermagem sobre as etapas da medida da PA, a amostra contou com 31 participantes, com média de idade de 33,1 anos, e 64,5% (n=20) do gênero feminino. Em relação à função, 38,7% (n=12) eram enfermeiros e 61,3% (n=19) técnicos ou auxiliares de Enfermagem; 54,9% (n=17) tinham 5 anos ou mais na função atual. Entre os que tiveram treinamentos sobre a medida da PA após sua formação profissional (n=11), 54,5% (n=6) referiram que foi há pelo menos 2 anos.

Os resultados sobre o preparo do cliente e do ambiente para a medida indireta da PA (Tabela 1) mostraram conhecimento teórico satisfatório sobre exercícios físicos praticados antes da medida.

Tabela 1
Frequência de respostas corretas sobre o preparo do cliente e ambiente para a medida da pressão arterial, entre profissionais de Enfermagem de uma unidade coronariana

Com relação à posição do cliente para a realização da medida da PA (Tabela 2), o conhecimento prático foi satisfatório, diferentemente do teórico. As etapas que descrevem os cuidados com o aparelho (Tabela 3) obtiveram frequência baixa, tanto na teoria quanto na prática em simulação, exceto a colocação do manguito. A obtenção e o registro dos valores de PA obtidos na medida indireta (Tabela 4), que foram as etapas mais prejudicadas na prática, versaram sobre anotar o membro em que a PA foi medida, bem como os valores sem arredondamento.

Tabela 2
Frequência de respostas corretas sobre a posição do cliente para a medida da pressão arterial, entre profissionais de Enfermagem de uma unidade coronariana

Tabela 3
Frequência de respostas corretas sobre os cuidados com o aparelho para a medida da pressão arterial, entre profissionais de Enfermagem de uma unidade coronariana

Tabela 4
Frequência de respostas corretas sobre a obtenção e o registro dos valores para a medida da pressão arterial, entre profissionais de Enfermagem de uma unidade coronariana

DISCUSSÃO

Este estudo evidenciou frágil conhecimento teórico e prático de profissionais de Enfermagem sobre etapas da medida indireta de PA na amostra estudada. Além disso, algumas etapas diferem entre teoria e prática.

A média de idade foi semelhante a de estudo anterior.(99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.) Entretanto, a maior presença de profissionais homens diferiu de outros estudos, com 39%,(99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.) 13%(1212. Almeida TC, Lamas JL. [Nurses of adult intensive care unit: evaluation about direct and indirect blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2013; 47(2):369-76.) e 8%.(88. Rabello CC, Pierin AM, Mion D. [Healthcare professionals’ knowledge of blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(2):127-34. Portuguese.) O tempo de exercício da função foi considerável e concordou com estudo anterior (51,8%).(99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.) Apenas um terço da amostra participou de treinamentos sobre a medida da PA após sua formação, demonstrando a pouca importância dada a esse tema. De fato, a revisão de conceitos e a abordagem de procedimentos devem ser encorajadas,(1616. Alavarce DC, Pierin AM. [Development of educational hypermedia to teach an arterial blood pressure measurement procedure]. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(4):939-44.,1717. Leblanc ME, Cloutier L, Veiga EV. Knowledge and practice outcomes after home blood pressure measurement education programs. Blood Press Monit. 2011;16(6):265-9.) pois o desinteresse institucional, as políticas ineficazes e a ausência de programas educativos podem comprometer o desempenho profissional na medida da PA.(1818. Arcuri EA, de Araújo TL, Veiga EV, de Oliveira SM, Lamas JL, Santos JL. [Korotkoff sounds: development of the sphygmomanometry research at the Nursing School of the USP]. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(1):147-53.) Conscientizar gestores institucionais sobre a importância dessa necessidade tornou-se um desafio.(1717. Leblanc ME, Cloutier L, Veiga EV. Knowledge and practice outcomes after home blood pressure measurement education programs. Blood Press Monit. 2011;16(6):265-9.)

Sobre as etapas que compõem o preparo do cliente para a medida indireta da PA, houve a preocupação com a influência que exercícios físicos podem exercer, sobretudo a elevação da PA sistólica,(1919. Morris CJ, Hastings JA, Boyd K, Krainski F, Perhonen MA, Scheer FA, et al. Day/night variability in blood pressure: influence of posture and physical activity. Am J Hypertens. 2013;26(6):822-8.) contrapondo-se a resultados anteriores, nos quais esse cuidado foi pouco valorizado, principalmente por auxiliares e técnicos de Enfermagem.(88. Rabello CC, Pierin AM, Mion D. [Healthcare professionals’ knowledge of blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(2):127-34. Portuguese.,2020. da Silva SS, Colósimo FC, Pierin AM. [The effect of educational interventions on nursing team knowledge about arterial hypertension]. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):488-96.)

Os resultados deste estudo mostraram que os conhecimentos práticos sobre a ingestão de café, álcool, alimentos, e sobre o fumo foram muito frágeis e insatisfatórios, e concordam com outros estudos brasileiros,(88. Rabello CC, Pierin AM, Mion D. [Healthcare professionals’ knowledge of blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(2):127-34. Portuguese.,2121. Moreira MA, Bernardino Júnior RB. Análise do conhecimento teórico/prático de profissionais da área da saúde sobre medida indireta da pressão arterial. Biosci J. (Uberlândia). 2013;29(1):247-54.) o que pode comprometer os valores de PA obtidos. A atenção à bexiga cheia, mencionada de forma satisfatória na teoria e na prática, foi ligeiramente superior a resultados de estudos anteriores, com médicos e a Enfermagem de Unidade de Terapia Intensiva,(2222. Araujo CR, Veiga EV, Costa Jr ML, Nogueira MS, Carnio EC. Avaliação dos procedimentos para a medida indireta da pressão arterial em unidade de terapia intensiva por profissionais de saúde. Rev Soc Bras Cardiol Est São Paulo. 2006;16(1 Supl):1-8.) e com Enfermagem e agentes comunitários de saúde.(2020. da Silva SS, Colósimo FC, Pierin AM. [The effect of educational interventions on nursing team knowledge about arterial hypertension]. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):488-96.) O conhecimento teórico sobre repouso antes da medida da PA foi insatisfatório, inferior a estudo em que 27% dos enfermeiros e 23% dos auxiliares de Enfermagem citaram tal cuidado.(99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.) Na prática simulada, entretanto, essa etapa foi cumprida pela maioria, confirmando estudos brasileiros.(2020. da Silva SS, Colósimo FC, Pierin AM. [The effect of educational interventions on nursing team knowledge about arterial hypertension]. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):488-96.,2323. Lima LT, Gusmão JL. Conhecimento teórico e prático de auxiliares de enfermagem sobre medida da pressão arterial. Rev Saúde. 2008;2(1):12-6.) A discrepância entre teoria e prática permite deduzir que essa etapa é executada sem a devida noção de sua importância em relação aos valores de PA.

A menção sobre o ambiente calmo esteve na maioria das respostas; diferentemente do silêncio, o que pode ser problemático, pois ruídos interferem na técnica auscultatória e no estado de relaxamento do cliente. Dentre os estudos disponíveis, nenhum mensurou o conhecimento sobre essa etapa especificamente, contudo, ressalta-se que a recomendação presente em diretrizes é essencial, sobretudo para promover o estado de relaxamento do cliente e não interferir na técnica auscultatória. A privacidade é necessária(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.) pela eventual exposição dos membros, pelo incômodo do cliente com PA alterada e para evitar situação de tensão, porém, nesta amostra, ela foi desvalorizada.

Com relação à posição do cliente para a medida indireta da PA, a altura do braço foi citada corretamente na teoria e prática, sobrepondo-se a estudo com enfermeiros(1010. Armstrong RS. Nurses’ knowledge of error in blood pressure measurement technique. Int J Nurs Pract. 2002;8(3):118-26.) e concordando com resultados anteriores do Brasil(99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.,2020. da Silva SS, Colósimo FC, Pierin AM. [The effect of educational interventions on nursing team knowledge about arterial hypertension]. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):488-96.,2323. Lima LT, Gusmão JL. Conhecimento teórico e prático de auxiliares de enfermagem sobre medida da pressão arterial. Rev Saúde. 2008;2(1):12-6.) e do Canadá.(2323. Lima LT, Gusmão JL. Conhecimento teórico e prático de auxiliares de enfermagem sobre medida da pressão arterial. Rev Saúde. 2008;2(1):12-6.)

Manter o braço apoiado foi especificamente uma etapa pouco mencionada na teoria, mas, na prática, a maioria a cumpriu − talvez favorecidos pela disposição adequada do mobiliário. Estudos que avaliaram o conhecimento prático obtiveram resultados semelhantes.(88. Rabello CC, Pierin AM, Mion D. [Healthcare professionals’ knowledge of blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(2):127-34. Portuguese.) Tal discrepância confirma estudo canadense, que obteve igual desproporção.(2424. Cloutier L. L’évaluation des connaissances théoriques et pratiques des infirmières à l’égard de la mesure de la pression atérielle. Quebec: Université de Sherbrooke; 2007.)

Outras etapas foram muito executadas na prática, sobretudo aquelas relacionadas ao posicionamento do braço, sem o conhecimento teórico correspondente. Tais achados evocam questionamentos sobre o risco da prática não reflexiva e automatizada,(2525. Tiburcio MP, Torres GV, Enders BC, Tourinho FS, Melo GS, Costa IK. Análise contextual da mensuração da pressão arterial na prática clínica. J Res Fundam Care Online. 2013;5(3):328-36.) sobretudo nos clientes acamados, e levanta necessidade de atualizações periódicas, para resgatar esses conceitos. Na prática clínica, é comum manter continuamente o manguito envolto ao braço pela automaticidade da técnica. Com relação a manter as pernas do cliente descruzadas, o conhecimento teórico e prático foi satisfatório, e mostrou-se alinhado às evidências,(2626. van Velthoven MH, Thien T, Holewijn S, van der Wilt GJ, Deinum J. The effect of crossing legs on blood pressure. J Hypertens. 2010;28(7):1591-2.) a exemplo de dados obtidos anteriormente.(2020. da Silva SS, Colósimo FC, Pierin AM. [The effect of educational interventions on nursing team knowledge about arterial hypertension]. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):488-96.,2222. Araujo CR, Veiga EV, Costa Jr ML, Nogueira MS, Carnio EC. Avaliação dos procedimentos para a medida indireta da pressão arterial em unidade de terapia intensiva por profissionais de saúde. Rev Soc Bras Cardiol Est São Paulo. 2006;16(1 Supl):1-8.)

Sobre os cuidados com os aparelhos, no conhecimento teórico, a checagem da calibração foi pouco valorizada, fato que concorda com estudo em que enfermeiros de terapia intensiva não tiveram bom aproveitamento.(1212. Almeida TC, Lamas JL. [Nurses of adult intensive care unit: evaluation about direct and indirect blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2013; 47(2):369-76.) A prática foi ainda mais negligenciada, o que talvez possa estar relacionado à falta do hábito de usar dispositivos calibrados ou realizar checagem. Esses resultados discordam de estudo em que 88,9% dos profissionais acertaram essa resposta.(2020. da Silva SS, Colósimo FC, Pierin AM. [The effect of educational interventions on nursing team knowledge about arterial hypertension]. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):488-96.) Vale dizer que, no referido estudo,(2020. da Silva SS, Colósimo FC, Pierin AM. [The effect of educational interventions on nursing team knowledge about arterial hypertension]. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):488-96.) a questão era fechada e dicotômica, o que pode ter induzido a tais resultados. Em nosso estudo, a questão era aberta.

Na avaliação teórica, a maioria afirmou que o manguito inadequado pode influenciar os valores obtidos, contrariando dados de estudo entre profissionais de saúde do interior paulista.(88. Rabello CC, Pierin AM, Mion D. [Healthcare professionals’ knowledge of blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(2):127-34. Portuguese.) Adversamente, na prática, as etapas de medir a circunferência braquial e selecionar o manguito adequado ao braço foram muito negligenciadas, o que confirmou dados anteriores, em que profissionais de saúde utilizaram preferencialmente manguito padrão e não correlacionaram com circunferência braquial.(88. Rabello CC, Pierin AM, Mion D. [Healthcare professionals’ knowledge of blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(2):127-34. Portuguese.

9. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.
-1010. Armstrong RS. Nurses’ knowledge of error in blood pressure measurement technique. Int J Nurs Pract. 2002;8(3):118-26.) De fato, nesta amostra, os profissionais não conseguiram associar o tamanho do manguito com a precisão dos valores de PA e executam a medida sem a devida reflexão. Contudo, é necessário considerar a indisponibilidade de diferentes tamanhos de manguitos,(2727. Veiga EV, Arcuri EA, Cloutier L, Santos JL. Medida da pressão arterial: circunferência braquial e disponibilidade de manguitos. Rev Latinoam Enferm. 2009;17(4):455-61.) o que pode tendenciosamente, induzir o profissional a usar o que tem disponível, sem refletir sobre a relevância dessa etapa. As responsabilidades intrínsecas a essa prática merecem reflexões, inclusive institucionais,(2828. Nobre F, Coelho EB, Dallora ME, Figueiredo PA, Ferreira AB, Rosa MA. Avaliação de esfigmomanômetros: uma proposta para excelência da medida da pressão arterial. Arq Bras Cardiol. 2009;93(2):e39-41.) no momento da aquisição desses manguitos.

Sobre a colocação do manguito sem folgas, na avaliação prática, o conhecimento foi satisfatório, confirmando outros estudos,(2020. da Silva SS, Colósimo FC, Pierin AM. [The effect of educational interventions on nursing team knowledge about arterial hypertension]. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):488-96.,2323. Lima LT, Gusmão JL. Conhecimento teórico e prático de auxiliares de enfermagem sobre medida da pressão arterial. Rev Saúde. 2008;2(1):12-6.) e teve melhor desempenho, comparando-se a estudo semelhante.(99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.) Preocupa, porém, o fato dessa etapa ter sido ignorada no conhecimento teórico, pois o ajuste ao braço e a remoção de roupas podem comprometer os valores obtidos.(2929. Beevers G, Lip GY, O’Brien E. ABC of hypertension. Blood pressure measurement. Part I-sphygmomanometry: factors common to all techniques. BMJ. 2001; 322(7292):981-5.) Novamente, esse fato suscita questionamentos sobre a prática rotineira, descuidada e sem a devida reflexão.

O estudo evidenciou também divergências sobre qual valor tomar como referência para as próximas medidas, no caso de diferença entre os braços, quando é clara a recomendação é utilizar o maior valor.(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.,44. Daskalopoulou SS, Khan NA, Quinn RR, Ruzicka M, McKay DW, Hackam DG, Rabkin SW, Rabi DM, Gilbert RE, Padwal RS, Dawes M, Touyz RM, Campbell TS, Cloutier L, Grover S, Honos G, Herman RJ, Schiffrin EL, Bolli P, Wilson T, Feldman RD, Lindsay MP, Hemmelgarn BR, Hill MD, Gelfer M, Burns KD, Vallée M, Prasad GV, Lebel M, McLean D, Arnold JM, Moe GW, Howlett JG, Boulanger JM, Larochelle P, Leiter LA, Jones C, Ogilvie RI, Woo V, Kaczorowski J, Trudeau L, Bacon SL, Petrella RJ, Milot A, Stone JA, Drouin D, Lamarre-Cliché M, Godwin M, Tremblay G, Hamet P, Fodor G, Carruthers SG, Pylypchuk G, Burgess E, Lewanczuk R, Dresser GK, Penner B, Hegele RA, McFarlane PA, Sharma M, Campbell NR, Reid D, Poirier L, Tobe SW; Canadian Hypertension Education Program. The 2012 Canadian hypertension education program recommendations for the management of hypertension: blood pressure measurement, diagnosis, assessment of risk, and therapy. Can J Cardiol. 2012;28(3):270-87.,66. National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Hypertension: The clinical management of primary hypertension in adults. London: National Clinical Guideline Centre (NCGC); 2011.)

Sobre o intervalo para outra medida de PA, não houve consenso na teoria e, na avaliação prática, ele foi cumprido por poucos. Outros estudos não foram específicos com relação ao tempo; somente citaram que houve intervalo,(88. Rabello CC, Pierin AM, Mion D. [Healthcare professionals’ knowledge of blood pressure measurement]. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(2):127-34. Portuguese.) ou, então, que este foi de 30 segundos.(99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.) É bem verdade que as diretrizes brasileiras informam não haver consenso.(11. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Brazilian Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Suppl):1-51. Erratum: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553.) O mais preocupante é, contudo, repetir a medida imediatamente, sem que a região comprimida possa restabelecer o fluxo sanguíneo normal.

Nos cuidados com aparelhos, na teoria, há entendimento correto de descartar manguitos com Velcro® não aderente e extensões com vazamentos. Ora, se estudos em nosso meio demonstram descuido com aparelhos na clínica,(2828. Nobre F, Coelho EB, Dallora ME, Figueiredo PA, Ferreira AB, Rosa MA. Avaliação de esfigmomanômetros: uma proposta para excelência da medida da pressão arterial. Arq Bras Cardiol. 2009;93(2):e39-41.,3030. Mion D, Pierin AM, Lessa I, Nobre F. Aparelhos, técnicas de medida da pressão arterial e critérios de hipertensão adotados por médicos brasileiros. Estudo exploratório. Arq Bras Cardiol. 2002;79(6):593-600.) questiona-se se os descartes acontecem de fato e se existe algum critério para que isso ocorra diante da dificuldade de reposição verbalizada pelos participantes. A calibração semestral dos aparelhos aneroides é citada minimamente, tal como em estudo anterior, com 4,8%.(99. Veiga EV, Nogueira MS, Cárnio EC, Marques S, Lavrador MA, Moraes SA, et al. Avaliação de técnicas da medida da pressão arterial pelos profissionais de saúde. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):83-8.) Além das atividades educativas, programas institucionais de manutenção de equipamentos,(2828. Nobre F, Coelho EB, Dallora ME, Figueiredo PA, Ferreira AB, Rosa MA. Avaliação de esfigmomanômetros: uma proposta para excelência da medida da pressão arterial. Arq Bras Cardiol. 2009;93(2):e39-41.) aliados ao conhecimento sobre prazos de revisão e calibração, são imprescindíveis para a melhoria da qualidade da medida da PA.

Os dados são consistentes e representativos para a amostra estudada, pois esta compreende a população de uma unidade coronariana com perfil epidemiológico característico e equipe de Enfermagem compatível com a região na qual está inserida. Entretanto, acredita-se que não possam ser generalizados para profissionais de outros níveis de atenção.

CONCLUSÃO

Esse estudo evidenciou que o conhecimento teórico e prático sobre as etapas da medida da pressão arterial, nesta amostra, está aquém das diretrizes, e muitas etapas da medida não foram cumpridas. Também se evidenciaram escassez de treinamentos específicos após a formação e grande desconhecimento sobre calibração, ausência de programas de manutenção preventiva e critérios de descarte de aparelhos e acessórios.

Estratégias de melhoria do conhecimento e da prática são necessárias para a obtenção de valores de pressão arterial fidedignos, assim como é importante investir no papel das instituições na atualização profissional e na gestão de equipamentos, com ações institucionais participativas, desde a aquisição, a manutenção e a guarda de equipamentos, para melhorar a assistência prestada à medida que proporciona uma prática mais segura.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2014

Histórico

  • Recebido
    20 Set 2013
  • Aceito
    16 Abr 2014
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