Acessibilidade / Reportar erro

Desafio no diagnóstico de estrongiloidíase pulmonar

Paciente do sexo masculino, 33 anos, deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva de alta complexidade com diagnóstico de cirrose por álcool, drogadição por cocaína e choque séptico a esclarecer. Foram solicitados exames para investigação.

Raios X não apresentaram padrões compatíveis com estrongiloidíase pulmonar, hemoculturas positivas para enterobactéria produtora de KPC, hemograma com discreta eosinofilia e cultura de secreção traqueal.

Na cultura solicitada 6 dias após a internação, foram observados crescimento de flora polimicrobiana característica e padrão incomum entre as colônias no meio de cultura. Nas figuras 1 e 2, observa-se o fenômeno de “trilhas”, sugerindo que algo se movia entre as colônias no ágar, como já demonstrado por outros autores.(11. Kia EB, Mahmoudi M, Zahabiun F, Meamar AR. An evaluation on the efficacy of agar plate culture for detection of strongyloides stercoralis. Iranian J Parasitol. 2007;2(1):29-34.) Nesta cultura, foi realizada pesquisa a fresco, tendo sido confirmada a presença de larvas de Strongyloides stercoralis (Figura 3).

Figura 1
Ágar sangue com 24 horas de incubação

Desenho de “trilhas" entre as colônias bacterianas (setas).


Figura 2
Ágar sangue com 48 horas de incubação

Desenho de “trilhas" entre as colónias bacterianas (seta).


Figura 3
Larva de Strongyloides stercoralis em pesquisa a fresco da secreção traqueal

O resultado da pesquisa foi imediatamente comunicado ao departamento de controle de infecção hospitalar e à equipe médica. Foi iniciado o tratamento com ivermectina. O paciente, apesar de receber terapia específica para estrongiloidíase disseminada, faleceu devido a complicações clínicas avançadas.

A estrogiloidíase é uma infecção parasitária causada pelo helminto Strongyloides stercoralis. Sua distribuição se dá principalmente em países tropicais e subtropicais em áreas rurais e de nível socioeconômico baixo. Possui dois ciclos de vida: (1) ciclo de vida livre, no qual a larva no solo penetra a pele intacta, iniciando a infecção e (2) a larva migra até os pulmões e, depois, à faringe, na qual é deglutida, tornando-se adulta no intestino e sendo eliminada nas fezes.

Em pacientes imunossuprimidos, é fundamental que tanto o médico como o laboratório de microbiologia fiquem atentos ao crescimento de microrganismos que geralmente não são observados em culturas de pacientes imunocompetentes. A microscopia do material a fresco foi fundamental para elucidação diagnóstica, uma vez que a pesquisa de strongyloides não foi incialmente solicitada. Em indivíduos imunossuprimidos, a infecção pode ser fulminante e fatal.(22. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). DPDx - Laboratory identification of parasites of public health concern. Strongyloidiasis [Internet]. USA: CDC; 2017 [cited 2018 June 20]. Available from: https://www.cdc.gov/dpdx/strongyloidiasis/index.html
https://www.cdc.gov/dpdx/strongyloidiasi...
,33. Ash LR, Orihel TC. Atlas of Human Parasitology. 4th ed. Chicago: ASCP Press; 1997.)

REFERÊNCIAS

  • 1
    Kia EB, Mahmoudi M, Zahabiun F, Meamar AR. An evaluation on the efficacy of agar plate culture for detection of strongyloides stercoralis. Iranian J Parasitol. 2007;2(1):29-34.
  • 2
    Centers for Disease Control and Prevention (CDC). DPDx - Laboratory identification of parasites of public health concern. Strongyloidiasis [Internet]. USA: CDC; 2017 [cited 2018 June 20]. Available from: https://www.cdc.gov/dpdx/strongyloidiasis/index.html
    » https://www.cdc.gov/dpdx/strongyloidiasis/index.html
  • 3
    Ash LR, Orihel TC. Atlas of Human Parasitology. 4th ed. Chicago: ASCP Press; 1997.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Dez 2018
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    01 Mar 2018
  • Aceito
    22 Jun 2018
Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein Avenida Albert Einstein, 627/701 , 05651-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 2151 0904 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@einstein.br