Acessibilidade / Reportar erro

Cisto aracnoide selar e suprasselar

Paciente do sexo feminino, 36 anos, que apresentava dor de cabeça e visão embaçada por 2 semanas. Seu histórico médico foi positivo para menstruação irregular e hipotireoidismo. O teste de campo visual revelou defeitos nos quadrantes superiores bilaterais, e os exames de sangue indicaram pequena elevação dos níveis de prolactina (24,4; variação de 4,8 a 23,3), cortisol reduzido no período da manhã (3,8; variação 4 a 22) e níveis do hormônio do crescimento reduzidos (<0,05; variação 0,13 a 9,88).

A imagem por ressonância magnética identificou lesão cística selar com extensão suprasselar bem delineada e homogênea, com paredes finas. A glândula pituitária e a haste hipofisária pareceram estar alargadas ao longo das margens do cisto e pressionadas contra o dorso selar. Não foram identificadas calcificações e nem áreas sólidas ( Figuras 1 e 2 ).

Figura 1
Imagens de ressonância magnética ponderada em T2. (A) Visão coronal revelando grande lesão selar (asterisco) hipertensa e bem delineada com extensão suprasselar. (B) Visão axial. Lesão homogênea (asterisco) ocupando a toda a sela túrcica

Figura 2
Imagens de ressonância magnética ponderadas em T1. (A) Imagem coronal após administração de gadolínio. A lesão (asterisco) mostra parede fina com leve realce do contorno (seta). (B) Imagem de ressonância magnética na sequência FLAIR sagital. É possível observar extensão selar e suprasselar de lesão e glândula pituitária plana, em oposição ao dorso da sela (ponta da seta)

A paciente realizou cirurgia endoscópica endonasal, e a lesão foi descomprimida. A evolução após a cirurgia foi boa, e o exame patológico das paredes confirmou o diagnóstico de cisto aracnoide ( Figura 3 ).

Figura 3
Imagens histopatológica e de análise imuno-histoquímica da peça cirúrgica. (A) Imagem histopatológica de espécime cirúrgica (hematoxilina e eosina, 200x). Note a matriz fibrosa alinhada pelas células aracnoides retas, e a ausência de células ciliadas e células escamosas. (B) Análise imuno-histoquímica foi positiva para antígeno de membrana epitelial, corroborando diagnóstico de cisto aracnoide

A região selar pode ser acometida por diversas lesões císticas não hipofisárias, incluindo craniofaringiomas, cistos de bolsa de Rathke e cisto aracnoide.(11. Zada G, Lin N, Ojerholm E, Ramkissoon S, Laws ER. Craniopharyngioma and other cystic epithelial lesions of the sellar region: a review of clinical, imaging, and histopathological relationships. Neurosurg Focus. 2010;28(4):E4. Review.)Tais lesões representam apenas 5,5% das lesões selares, com o cisto aracnoide representado em até 20% delas.(22. Valassi E, Biller BM, Klibanski A, Swearingen B. Clinical features of nonpituitary sellar lesions in a large surgical series. Clin Endocrinol (Oxf). 2010;73(6):798-807.,33. Cavallo LM, Prevedello D, Esposito F, Laws ER Jr, Dusick JR, Messina A, et al. The role of the endoscope in the transsphenoidal management of cystic lesions of the sellar region. Neurosurg Rev. 2008;31(1):55-64; discussion 64.)O cisto aracnoide selar é raro e representa apenas 0,6% a 0,08% de todas as lesões selares.(22. Valassi E, Biller BM, Klibanski A, Swearingen B. Clinical features of nonpituitary sellar lesions in a large surgical series. Clin Endocrinol (Oxf). 2010;73(6):798-807.,44. Dubuisson AS, Stevenaert A, Martin DH, Flandroy PP. Intrasellar arachnoid cysts. Neurosurgery. 2007;61(3):505-13; discussion 513.)

A diferenciação radiológia entre craniofaringiomas, cistos de bolsa de Rathke e cisto aracnoide é fundamental para o planejamento pré-operatório e para a determinação do prognóstico, porém, algumas vezes, tal diferenciação pode ser desafiadora.(11. Zada G, Lin N, Ojerholm E, Ramkissoon S, Laws ER. Craniopharyngioma and other cystic epithelial lesions of the sellar region: a review of clinical, imaging, and histopathological relationships. Neurosurg Focus. 2010;28(4):E4. Review.,55. Shin JL, Asa SL, Woodhouse LJ, Smyth HS, Ezzat S. Cystic lesions of the pituitary: clinicopathological features distinguishing craniopharyngioma, Rathke’s cleft cyst, and arachnoid cyst. J Clin Endocrinol Metab. 1999;84(11):3972-82.)

Na imagem por ressonância magnética, os craniofaringiomas são heterogêneos (sólido-císticos) e, com frequência, apresentam-se como lesão calcificada. Em contraste, os cistos de bolsa de Rathke e o cisto aracnoide mostram se apresentam como lesões homogêneas com contornos leves.(22. Valassi E, Biller BM, Klibanski A, Swearingen B. Clinical features of nonpituitary sellar lesions in a large surgical series. Clin Endocrinol (Oxf). 2010;73(6):798-807.,55. Shin JL, Asa SL, Woodhouse LJ, Smyth HS, Ezzat S. Cystic lesions of the pituitary: clinicopathological features distinguishing craniopharyngioma, Rathke’s cleft cyst, and arachnoid cyst. J Clin Endocrinol Metab. 1999;84(11):3972-82.)Os cistos de bolsa de Rathke têm tipicamente localização na linha média, já que se originam entre a hipófise anterior e posterior. Apresentam aspecto variável à ressonância magnética, dependendo de seu conteúdo proteico/mucoso, e a maioria dos cistos apresenta um nódulo sólido intracístico. Os cistos de bolsa de Rathke podem exibir realce periférico após injeção do contraste, representado pelo tecido hipofisário comprimido ao redor do cisto (sinal da garra).(66. Seeburg DP, Dremmen MH, Huisman TA. Imaging of the sella and parasellar region in the pediatric population. Neuroimag Clin N Am. 2017;27(1):99-121. Review.)Do mesmo modo, os cistos aracnoides não mostram aumento do sinal após injeção de contraste, e a glândula pituitária pode ser vista comprimida contra as paredes da sela.(77. Nomura M, Tachibana O, Hasegawa M, Kohda Y, Nonaka M, Yamashima T, et al. Contrast-enhanced MRI of intrasellar arachnoyd cysts: relationship between the pituitary gland and cyst. Neuroradiol. 1996;38(6):566-8.)O cisto aracnoide contém líquor no seu interior, sendo, portanto, a lesão mais homogênea e menos variável entre todas as acima descritas, como ilustrado no presente caso.(11. Zada G, Lin N, Ojerholm E, Ramkissoon S, Laws ER. Craniopharyngioma and other cystic epithelial lesions of the sellar region: a review of clinical, imaging, and histopathological relationships. Neurosurg Focus. 2010;28(4):E4. Review.,22. Valassi E, Biller BM, Klibanski A, Swearingen B. Clinical features of nonpituitary sellar lesions in a large surgical series. Clin Endocrinol (Oxf). 2010;73(6):798-807.)

REFERENCES

  • 1
    Zada G, Lin N, Ojerholm E, Ramkissoon S, Laws ER. Craniopharyngioma and other cystic epithelial lesions of the sellar region: a review of clinical, imaging, and histopathological relationships. Neurosurg Focus. 2010;28(4):E4. Review.
  • 2
    Valassi E, Biller BM, Klibanski A, Swearingen B. Clinical features of nonpituitary sellar lesions in a large surgical series. Clin Endocrinol (Oxf). 2010;73(6):798-807.
  • 3
    Cavallo LM, Prevedello D, Esposito F, Laws ER Jr, Dusick JR, Messina A, et al. The role of the endoscope in the transsphenoidal management of cystic lesions of the sellar region. Neurosurg Rev. 2008;31(1):55-64; discussion 64.
  • 4
    Dubuisson AS, Stevenaert A, Martin DH, Flandroy PP. Intrasellar arachnoid cysts. Neurosurgery. 2007;61(3):505-13; discussion 513.
  • 5
    Shin JL, Asa SL, Woodhouse LJ, Smyth HS, Ezzat S. Cystic lesions of the pituitary: clinicopathological features distinguishing craniopharyngioma, Rathke’s cleft cyst, and arachnoid cyst. J Clin Endocrinol Metab. 1999;84(11):3972-82.
  • 6
    Seeburg DP, Dremmen MH, Huisman TA. Imaging of the sella and parasellar region in the pediatric population. Neuroimag Clin N Am. 2017;27(1):99-121. Review.
  • 7
    Nomura M, Tachibana O, Hasegawa M, Kohda Y, Nonaka M, Yamashima T, et al. Contrast-enhanced MRI of intrasellar arachnoyd cysts: relationship between the pituitary gland and cyst. Neuroradiol. 1996;38(6):566-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jan 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    10 Out 2017
  • Aceito
    27 Abr 2018
Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein Avenida Albert Einstein, 627/701 , 05651-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 2151 0904 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@einstein.br