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Construção e validação de cenário de simulação de transporte intra-hospitalar

RESUMO

Objetivo

Construir e validar o conteúdo de um cenário de simulação clínica para ensino do transporte intra-hospitalar de pacientes críticos.

Métodos

Estudo descritivo de construção e validação de um cenário de simulação clínica para o ensino de transporte intra-hospitalar. Foi construído um cenário fundamentado na literatura seguido da validação, por meio da técnica Delphi, por cinco especialistas, com nível de concordância de 80%. Os especialistas foram selecionados por meio da amostragem do tipo bola de neve. Foi desenvolvido um instrumento contendo 26 tópicos, para serem avaliados quanto a pertinência, clareza, objetividade, exequibilidade, conteúdo atual e vocabulário. Havia ainda um campo para observações.

Resultados

Foram realizadas duas rodadas pelos especialistas para a obtenção de consenso de 80%. De acordo com a recomendação dos especialistas, o cenário inicial foi escrito de forma mais clara e objetiva, e divido em duas partes: preparo do paciente e transporte do paciente.

Conclusão

Neste estudo, foram realizadas, com êxito, a construção e a validação do cenário para ensino do transporte intra-hospitalar. Ele poderá ser aplicado em diversos serviços para avaliação da formação dos graduandos de enfermagem, assim como para aprimoramento profissional daqueles que atuam no serviço de transporte intra-hospitalar.

Simulação; Educação em enfermagem; Transferência de pacientes

ABSTRACT

Objective

To build and validate the content of a clinical simulation scenario for teaching in-hospital transport of critically ill patients.

Methods

A descriptive study of construction and validation of a clinical simulation scenario for teaching in-hospital transport. A scenario based on the literature was built, followed by validation, using the Delphi technique, by five specialists, with an agreement of 80%. The experts were selected through snowball sampling. An instrument was developed containing 26 topics to be assessed for relevance, clarity, objectivity, feasibility, current content, vocabulary, and a field for observations.

Results

Two rounds were carried out by the specialists to reach a consensus of 80%. According to the experts´ recommendation, the initial scenario was written more clearly and objectively, and divided into two parts: patient preparation and patient transport.

Conclusion

In this study, the construction and validation of the scenario for teaching in-hospital transport were successfully performed. It may be applied in several services to evaluate the training of nursing undergraduate students, as well as for the professional improvement of those who work in the in-hospital transport service.

Simulation technique; Education, nursing; Patient transfer

INTRODUÇÃO

A simulação clínica é uma técnica educacional que possibilita a execução de cenários de modo a reproduzir uma situação da vida real, promover o processo de ensino e aprendizado centrado no paciente e permitir ao discente experimentar a representação de um evento sob a perspectiva clínica, além de permitir abordar grande variedade de situações em diferentes graus de complexidade, bem como o desenvolvimento de múltiplas habilidades e tomada de decisão.(11. Jeffries PR, editor. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. Washington (DC): National League for Nursing; 2007. p. 21-33.

2. da Silva Magro MC, Barreto DG, Silva KG, Moreira SC, Silva TS, dos Santos CE. Vivência prática de simulação realística no cuidado ao paciente crítico: relato de experiência. Rev Baiana Enferm. 2012;26(2):556-61.

3. Kim J, Park JH, Shin S. Effectiveness of simulation-based nursing education depending on fidelity: a meta-analysis. BMC Med Educ. 2016;16:152.
-44. Quilici AP, Abrão KC, Timermam S, Gutierrez F, editores. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Atheneu; 2012. p. 1-82.)

Com a crescente utilização da simulação clínica, como metodologia ativa no ensino das ciências da saúde, surgiu a necessidade de que fosse instituído um método para a construção de cenários, visto que a ausência de um roteiro pode comprometer a eficácia da atividade.(44. Quilici AP, Abrão KC, Timermam S, Gutierrez F, editores. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Atheneu; 2012. p. 1-82.,55. Howard VM, Ross C, Mitchell AM, Nelson GM. Human patient simulators and interactive case studies: a comparative analysis of learning outcomes and student perceptions. Comput Inform Nurs. 2010;28(1):42-8.)

Assim, a construção do cenário de simulação clínica exige o cumprimento de todas as etapas, incluindo levantamento bibliográfico; determinação dos objetivos; construção da situação clínica; preparação do conteúdo, do facilitador e do local e planejamento dos materiais e recursos necessários para o desenvolvimento da atividade.(11. Jeffries PR, editor. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. Washington (DC): National League for Nursing; 2007. p. 21-33.,33. Kim J, Park JH, Shin S. Effectiveness of simulation-based nursing education depending on fidelity: a meta-analysis. BMC Med Educ. 2016;16:152.)

A descrição do cenário não deve ser fundamentada somente em experiências clínicas, pois elas podem não apresentar todas as informações necessárias para o alcance dos objetivos de aprendizagem. Nesse contexto, o processo de validação por meio de consenso entre especialistas contribui para que a simulação clínica seja efetiva, e contemple todos os itens para desenvolvimento adequado das competências a serem adquiridas.(66. Williams PL, Webb C. The Delphi technique: a methodological discussion. J Adv Nurs. 1994;19(1):180-6.

7. Hsu CC, Sandford BA. The Delphi technique: making sense of consensus. Pract Assessment Res Evolution. 2007;12(10):1-8.
-88. Glavin R. Simulation in nursing education and practice. In: Riley RH, editor. Manual of simulation in healthcare. 2nd ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 174-194. Chapter 9.)

Considerando o alto índice de eventos adversos no transporte intra-hospitalar de pacientes críticos, como queda da saturação, alteração da pressão arterial e frequência cardíaca e falhas técnicas dos equipamentos utilizados, é fundamental reforçar a importância de boas práticas e realizar treinamento simulado pautado em diretrizes atualizadas, nas quais o raciocínio clínico, a avaliação otimizada e a definição dos riscos e benefícios relacionados ao transporte sejam analisados, a fim de garantir a segurança do paciente e a redução dos danos evitáveis que ameacem a vida do paciente durante o deslocamento.(99. Almeida AC, Neves AL, Souza CL, Garcia JH, Lopes JL, Barros AL. Intra-hospital transport of critically ill adult patients: complications related to staff, equipment and physiological factors. Acta Paul Enferm. 2012;25(3):471-6. Review.

10. Silva R, Amante LN. Checklist para o transporte intra-hospitalar de pacientes internados na unidade de terapia intensiva. Texto Contexto Enferm. 2015;24(2):539-47.

11. Japiassú AM. Transporte intra-hospitalar de pacientes graves. Rev Bras Ter Intensiva. 2005;17(3):217-20.

12. Australian and New Zealand College of Anaesthetists (ANZCA). Guidelines for transport of critically ill patients. Melbourne: ANZCA; 2015 [cited 2015 Aug 30]. Available from: https://www.anzca.edu.au/resources/professional-documents/guidelines/ps52-guideline-for-transport-of-critically-ill-pat
https://www.anzca.edu.au/resources/profe...
-1313. Morais SA, Almeida LF. Por uma rotina no transporte intra-hospitalar: elementos fundamentais para a segurança do paciente crítico. Rev HUPE. 2013;12(3):138-46.)

Desse modo, a utilização da simulação clínica para o ensino de discentes para realização do transporte intra-hospitalar de pacientes críticos torna-se de grande importância, pois permite aplicar um treinamento simulado de alta fidelidade, replicando os desafios enfrentados por profissionais da saúde no cotidiano, possíveis instabilidades e complicações clínicas, e desenvolver competências para a tomada constante de decisões complexas, prevenção de possíveis eventos adversos e estratégias que atendam às necessidades terapêuticas do paciente crítico, em um ambiente completamente seguro, controlado e, sobretudo, livre de riscos aos profissionais/pacientes.(44. Quilici AP, Abrão KC, Timermam S, Gutierrez F, editores. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Atheneu; 2012. p. 1-82.,88. Glavin R. Simulation in nursing education and practice. In: Riley RH, editor. Manual of simulation in healthcare. 2nd ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 174-194. Chapter 9.

9. Almeida AC, Neves AL, Souza CL, Garcia JH, Lopes JL, Barros AL. Intra-hospital transport of critically ill adult patients: complications related to staff, equipment and physiological factors. Acta Paul Enferm. 2012;25(3):471-6. Review.

10. Silva R, Amante LN. Checklist para o transporte intra-hospitalar de pacientes internados na unidade de terapia intensiva. Texto Contexto Enferm. 2015;24(2):539-47.
-1111. Japiassú AM. Transporte intra-hospitalar de pacientes graves. Rev Bras Ter Intensiva. 2005;17(3):217-20.)

Considerando que a operacionalização da atividade pedagógica é relevante para o aprendizado, com a necessária associação da teoria com a prática, a utilização de estratégias que contribuam para melhor compreensão dos fenômenos é essencial para a formação dos profissionais de saúde, e, com isso, a segurança do paciente é priorizada.

OBJETIVO

Construir e validar o conteúdo de um cenário de simulação clínica para ensino do transporte intra-hospitalar de pacientes críticos.

MÉTODOS

Estudo descritivo de construção e validação de um cenário em atividade clínica simulada sobre transporte intra-hospitalar do paciente crítico. O estudo foi desenvolvido no período de agosto de 2017 a março de 2018, em duas etapas: na primeira, foi realizada a construção do cenário sobre transporte intra-hospitalar de pacientes críticos fundamentada na literatura. Na segunda etapa, foi realizada a validação do cenário por meio da técnica Delphi, que permite a obtenção de consenso entre um grupo de especialistas na área de conhecimento sobre determinado fenômeno – neste caso, sobre o ensino simulado na área da saúde. Quanto ao número de experts, não há consenso na literatura do número ideal, mas sugere-se um mínimo de cinco como suficiente para o controle de concordância.(66. Williams PL, Webb C. The Delphi technique: a methodological discussion. J Adv Nurs. 1994;19(1):180-6.,77. Hsu CC, Sandford BA. The Delphi technique: making sense of consensus. Pract Assessment Res Evolution. 2007;12(10):1-8.)Neste estudo, utilizamos cinco especialistas, e o nível de concordância considerado entre eles para validação do cenário foi de 80%, considerando que o valor recomendado na literatura é superior a 70%.(1414. Castro AV, Rezende M. A técnica Delphi e seu uso na pesquisa de enfermagem: revisão bibliográfica. Rev Min Enferm. 2009;13(3):429-34. Review.)

Os especialistas foram selecionados por meio da amostragem bola de neve, e os critérios para seleção foram possuir título de Mestre e/ou Doutor na área da saúde ou educação e ter experiência mínima de 2 anos no ensino simulado na área da saúde em instituição de ensino superior.(1515. Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 7th ed. Porto Alegre: Artmed; 2011. p. 343 - 44.)Os especialistas receberam por e-mail a carta convite e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após o aceite, responderam um questionário com informações para caracterização profissional e outro para avaliação o cenário.

A primeira versão do cenário foi desenvolvida com os seguintes tópicos: descrição do tema, público-alvo, pré-requisitos para participar da atividade, número de participantes, duração da cena e debriefing, objetivos da aprendizagem, fidelidade, complexidade, materiais necessários, orientações para preparo do cenário e ações esperadas em cada momento. Como alguns tópicos tinham mais de um item, o instrumento estruturado continha 26 itens para validação de conteúdo quanto a pertinência, clareza, objetividade, exequibilidade, conteúdo atual, vocabulário. Havia também um campo aberto para observações, caso o examinador julgasse necessário fazê-las.(1616. Medeiros RK, Ferreira Júnior MA, Pinto DP, Vitor AF, Santos VE, Barichello E. Modelo de validação de conteúdo de Pasquali nas pesquisas em Enfermagem. Rev Enf Ref. 2015;4(4):127-35. Review.)

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (CAAE: 80661017.7.0000.5505, parecer 2.503.340).

RESULTADOS

Os especialistas selecionados para validação do cenário eram, em sua maioria, do sexo feminino (80%) e com média de idade de 43 anos (±7,33). Quanto à escolaridade, todos possuíam formação na área da saúde, e 80% possuíam título de Doutor. Em relação à experiência com simulação clínica, todos participaram do curso de capacitação para instrutor em simulação, simpósios e congressos na área, com experiência média de 9,6 anos (±6,58), sendo que 20% referiram atuar em instituições públicas, 60% em instituições privadas e 20% em ambas. Foram realizadas duas rodadas para avaliação dos especialistas para obtenção da concordância de pelo menos 80%. Na primeira, obteve-se concordância em 24 itens e discordância em dois, sendo eles a descrição do caso clínico, no qual o consenso entre os juízes foi de 40%, e no item que se referia ao tempo da atividade, no qual o consenso dos juízes foi 60% (Tabela 1).

Tabela 1
Discordância entre os especialistas na primeira rodada

De acordo com a recomendação dos especialistas, o caso foi escrito de forma mais clara e objetiva, e o cenário inicial foi divido em duas partes: preparo do paciente e transporte do paciente. Cada cena teve duração de 10 minutos com debriefing de 20 minutos. A tabela 2 apresenta a versão final do cenário. Dessa vez, obteve-se concordância de pelo menos 80% para todos os itens avaliados.

Tabela 2
Versão final de cenário de simulação clínica para transporte intra-hospitalar do paciente crítico

DISCUSSÃO

A simulação clínica tem sido utilizada como estratégia de ensino para aproximação com a realidade, na qual o aluno participa efetivamente da construção do saber, sendo possível uma avaliação mais aprofundada e a aquisição de competências psicomotoras, atitudinais e cognitivas.(1717. Oliveira SN, Massaroli A, Martini JG, Rodrigues J. Da teoria à prática, operacionalizando a simulação clínica no ensino de Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 4):1791-8.,1818. Salvador PT, Martins CC, Alves KY, Pereira MS, Santos VE, Tourinho FS. Tecnologia no ensino de enfermagem. Rev Baiana Enferm. 2015;29(1):33-41.)

O cenário simulado sobre transporte intra-hospitalar do paciente crítico pode possibilitar ao aluno integrar, fortalecer e reforçar o conteúdo teórico/prático sobre esse assunto; assumir postura profissional e aumentar a confiança em relação à sua conduta, decorrente da execução prévia e da possibilidade de repetição – muitas vezes impossível na prática clínica durante a graduação.(1919. Barreto DG, Silva KG, Moreira SS, Silva TS, Magro MC. Simulação realística ceomo estratégia de ensino para o curso de graduação em enfermagem: revisão integrativa. Rev Baiana Enferm. 2014;28(2):208-14. Review.)

Um dos fatores que influenciam no sucesso da simulação clínica está relacionado diretamente à organização e à operacionalização das atividades. Portanto, deve ser considerada a sistematização na construção do instrumento norteador, levando em conta os objetivos que se desejam alcançar.(11. Jeffries PR, editor. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. Washington (DC): National League for Nursing; 2007. p. 21-33.,44. Quilici AP, Abrão KC, Timermam S, Gutierrez F, editores. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Atheneu; 2012. p. 1-82.,1717. Oliveira SN, Massaroli A, Martini JG, Rodrigues J. Da teoria à prática, operacionalizando a simulação clínica no ensino de Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 4):1791-8.)

A validação é fundamental na construção do cenário, pois verifica se ele é adequado ao que se propõe e confere maior credibilidade ao processo. A utilização da técnica Delphi, neste estudo, proporcionou a validação do conteúdo do cenário a ser utilizado na simulação clínica em transporte intra-hospitalar, a partir de um consenso entre especialistas.(1414. Castro AV, Rezende M. A técnica Delphi e seu uso na pesquisa de enfermagem: revisão bibliográfica. Rev Min Enferm. 2009;13(3):429-34. Review.,2020. Alexandre NM, Coluci MZ. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Cien Saude Colet. 2011;16(7):3061-8. Review.)

Essa técnica tem como vantagens a possibilidade de acesso a pessoas geograficamente distantes, o baixo custo para operacionalização, a possibilidade de interação entre pesquisador e participantes, o compartilhamento de opiniões e ideias e a produção de um instrumento com alta qualidade e especificidade.(66. Williams PL, Webb C. The Delphi technique: a methodological discussion. J Adv Nurs. 1994;19(1):180-6.,77. Hsu CC, Sandford BA. The Delphi technique: making sense of consensus. Pract Assessment Res Evolution. 2007;12(10):1-8.,1414. Castro AV, Rezende M. A técnica Delphi e seu uso na pesquisa de enfermagem: revisão bibliográfica. Rev Min Enferm. 2009;13(3):429-34. Review.)Entretanto, a técnica Delphi pode ter desvantagens, como demora na devolução dos questionários, dificuldades na composição do painel de especialistas e necessidade de muitas rodadas para o estabelecimento do consenso final.(66. Williams PL, Webb C. The Delphi technique: a methodological discussion. J Adv Nurs. 1994;19(1):180-6.,77. Hsu CC, Sandford BA. The Delphi technique: making sense of consensus. Pract Assessment Res Evolution. 2007;12(10):1-8.,1414. Castro AV, Rezende M. A técnica Delphi e seu uso na pesquisa de enfermagem: revisão bibliográfica. Rev Min Enferm. 2009;13(3):429-34. Review.)

A construção do cenário de forma estruturada possibilita reunir um conjunto de informações, cujo objetivo final é nortear docentes/discentes no desenvolvimento da atividade clínica simulada. A sequência e a qualidade da informação inserida, fortalecem o processo educativo.(44. Quilici AP, Abrão KC, Timermam S, Gutierrez F, editores. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Atheneu; 2012. p. 1-82.,55. Howard VM, Ross C, Mitchell AM, Nelson GM. Human patient simulators and interactive case studies: a comparative analysis of learning outcomes and student perceptions. Comput Inform Nurs. 2010;28(1):42-8.,88. Glavin R. Simulation in nursing education and practice. In: Riley RH, editor. Manual of simulation in healthcare. 2nd ed. Oxford: Oxford University Press; 2016. p. 174-194. Chapter 9.)

O desenvolvimento da atividade deve contar com a descrição de um tema relevante, que trabalhe a construção do conhecimento e favoreça o reconhecimento de prioridades, planejamento, interação da equipe, comunicação efetiva, agilidade na tomada de decisão e execução do caso, para que o discente assuma a responsabilidade do próprio aprendizado.(11. Jeffries PR, editor. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. Washington (DC): National League for Nursing; 2007. p. 21-33.,1717. Oliveira SN, Massaroli A, Martini JG, Rodrigues J. Da teoria à prática, operacionalizando a simulação clínica no ensino de Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 4):1791-8.)

Outro aspecto importante do ensino por simulação é a oportunidade de integrar e aprimorar competências, além de valorizar tecnologias pedagógicas que tornam o processo de ensino e aprendizado mais rico e prazeroso, bem como favorecem uma aprendizagem ativa. Tais técnicas ainda despertam, no discente, a curiosidade e a necessidade de aprender e contribui para que as atitudes sejam mais assertivas diante de situações vivenciadas no cenário.(1717. Oliveira SN, Massaroli A, Martini JG, Rodrigues J. Da teoria à prática, operacionalizando a simulação clínica no ensino de Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 4):1791-8.

18. Salvador PT, Martins CC, Alves KY, Pereira MS, Santos VE, Tourinho FS. Tecnologia no ensino de enfermagem. Rev Baiana Enferm. 2015;29(1):33-41.
-1919. Barreto DG, Silva KG, Moreira SS, Silva TS, Magro MC. Simulação realística ceomo estratégia de ensino para o curso de graduação em enfermagem: revisão integrativa. Rev Baiana Enferm. 2014;28(2):208-14. Review.)Pensando nisso, optamos por estruturar as informações em tópicos.

No primeiro tópico, foram disponibilizados itens de orientações sobre o tema, público-alvo, número de discentes, duração da atividade, duração do debriefing, pré-requisitos, objetivos gerais e específicos. Essas informações são de extrema relevância para que o discente consiga desenvolver a atividade proposta. Ressalta-se a importância de compreender o nível de conhecimento prévio dos participantes, que deve ser compatível com a complexidade do cenário, pois a simulação clínica é vista como uma técnica de apoio didático-pedagógica, que proporciona adequada integração curricular e associa conhecimentos prévios à experiência prática. Além de favorecer o aprendizado permanente, de acordo com o objetivo proposto e as habilidades a serem desenvolvidas em cada etapa da formação profissional.(11. Jeffries PR, editor. Simulation in nursing education: from conceptualization to evaluation. Washington (DC): National League for Nursing; 2007. p. 21-33.)

No segundo tópico, são descritas definição, relevância, importância do tema e as habilidades a serem desenvolvidas durante o atendimento. Embora o transporte intra-hospitalar do paciente crítico sempre envolva uma série de riscos, a necessidade de exames diagnósticos, os cuidados adicionais ou as intervenções terapêuticas levam à avaliação dos riscos e benefícios e, por fim, à indicação de transportar ou não o paciente em determinado momento. Dessa forma, demanda-se o reconhecimento da complexidade do transporte do paciente gravemente enfermo e da necessidade de profissionais qualificados para garantir a integridade do paciente, além da manutenção da vida durante esse procedimento.(44. Quilici AP, Abrão KC, Timermam S, Gutierrez F, editores. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Atheneu; 2012. p. 1-82.,1212. Australian and New Zealand College of Anaesthetists (ANZCA). Guidelines for transport of critically ill patients. Melbourne: ANZCA; 2015 [cited 2015 Aug 30]. Available from: https://www.anzca.edu.au/resources/professional-documents/guidelines/ps52-guideline-for-transport-of-critically-ill-pat
https://www.anzca.edu.au/resources/profe...
,1313. Morais SA, Almeida LF. Por uma rotina no transporte intra-hospitalar: elementos fundamentais para a segurança do paciente crítico. Rev HUPE. 2013;12(3):138-46.)

No terceiro, quarto e quinto tópicos, são descritos: a metodologia de simulação com informações sobre o caso clínico, o preparo do cenário e os materiais necessários. A descrição do caso foi realizada de forma objetiva e estruturada, para fácil compreensão, fornecendo informações necessárias para seu desenvolvimento, e esteve pautada em evidências científicas, contemplando todos os passos a serem desenvolvidos em um ambiente autêntico e real. Cada tópico foi descrito, a fim de nortear a montagem do cenário e garantir sua adequada utilização para o desenvolvimento das melhores práticas simuladas.

No primeiro cenário, foram descritas as ações esperadas para realizar o preparo do paciente que será transportado, e, no segundo cenário, as ações esperadas para realização do transporte propriamente dito. Essa divisão foi sugerida pelos especialistas para que o cenário não se prolongasse.

Nos demais itens, são descritas as ações esperadas para realização de cada cenário e questões relacionadas ao paciente, aos cuidados de enfermagem a serem prestados, aos cuidados com equipamentos e à comunicação, para permitir ao facilitador identificar o que foi planejado e o que foi realizado, a fim de fornecer um feedback imediato aos discentes.

O debriefing é um momento que ocorre logo após a simulação, para fornecer o feedback e fortalecer o aprendizado. Ele também permite a livre expressão do discente, por meio de um diálogo direcionado à reflexão sobre as várias áreas em que esteve envolvido, identificando os resultados positivos ou não das práticas realizadas durante a cena. É fundamental manter um ambiente calmo, para que o discente compartilhe suas experiências, integrando conteúdos, práticas realizadas e discussão dos pontos de melhoria, para obter uma nova compreensão, consolidação da aprendizagem e praticar o que foi aprendido em eventos futuros.(2121. Decker S, Fey M, Sideras S, Caballero S, Rockstraw L, Boese T, et al. Standards of best practice: simulation standard VI: the debriefing process. Clin Simul Nurs. 2013;9(6S):e26-9.,2222. Fanning RM, Gaba DM. The role of debriefing in simulation-based learning. Simul Healthc. 2007;2(2):115-25. Review.)

Devemos enfatizar também a ocorrência dos eventos adversos mais frequentes durante o transporte. Eles estão diretamente relacionados à instabilidade hemodinâmica, à falha na comunicação entre a equipe e à falha ou falta de equipamentos. Para oferecer um atendimento seguro, é necessário melhorar a comunicação entre a equipe, padronizar ações e equipamentos a serem utilizados durante o transporte e saber identificar as intercorrências de forma precoce, minimizando os possíveis danos ao paciente.(44. Quilici AP, Abrão KC, Timermam S, Gutierrez F, editores. Simulação clínica: do conceito à aplicabilidade. São Paulo: Atheneu; 2012. p. 1-82.,99. Almeida AC, Neves AL, Souza CL, Garcia JH, Lopes JL, Barros AL. Intra-hospital transport of critically ill adult patients: complications related to staff, equipment and physiological factors. Acta Paul Enferm. 2012;25(3):471-6. Review.

10. Silva R, Amante LN. Checklist para o transporte intra-hospitalar de pacientes internados na unidade de terapia intensiva. Texto Contexto Enferm. 2015;24(2):539-47.

11. Japiassú AM. Transporte intra-hospitalar de pacientes graves. Rev Bras Ter Intensiva. 2005;17(3):217-20.
-1212. Australian and New Zealand College of Anaesthetists (ANZCA). Guidelines for transport of critically ill patients. Melbourne: ANZCA; 2015 [cited 2015 Aug 30]. Available from: https://www.anzca.edu.au/resources/professional-documents/guidelines/ps52-guideline-for-transport-of-critically-ill-pat
https://www.anzca.edu.au/resources/profe...
)

Esse instrumento pode ser também utilizado para sinalizar os resultados obtidos e nortear o momento de reflexão durante o debriefing, consolidando a construção do aprendizado.

A simulação clínica como estratégia de ensino tem alcançado amplo espaço no ensino de ciências da saúde e contribui para maior segurança na atuação, enquanto profissionais. Em razão de seu crescimento acelerado, essa estratégia necessita de mais estudos, que descrevam suas especificidades para construção de cenários e instrumentos que apresentem real impacto na formação e no aprimoramento profissional.

Este estudo teve como limitações a ausência de um teste-piloto após a validação e sua não aplicação na prática com os alunos ou mesmo profissionais.

CONCLUSÃO

Neste estudo foram realizadas, com êxito, a construção e a validação, por meio da técnica Delphi, do cenário para ensino do transporte intra-hospitalar para graduandos de enfermagem, que certamente devem fornecer subsídios para reforçar o conteúdo teórico e prático; manejar situações de emergência; desenvolver habilidades preventivas e corretivas e fortalecer a comunicação, o trabalho em equipe e o raciocínio clínico, além de ser um instrumento que permite ao facilitador replicar esse conteúdo em outras instituições de ensino.

Este cenário pode ser aplicado por diversos serviços de saúde para avaliação da formação dos graduandos de enfermagem, assim como para o aprimoramento profissional daqueles que atuam no serviço de transporte intra-hospitalar.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 33009015.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    19 Maio 2020
  • Aceito
    1 Dez 2020
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