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Efeito comparativo entre clonixinato de lisina e paracetamol no controle da dor pós-exodontia

Resumos

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A exodontia é praticada desde os primórdios da humanidade como forma de resolver cirurgicamente os problemas dentários. Porém, como todo procedimento cirúrgico, ela promove um processo inflamatório reacional que se apresenta clinicamente com dor. Muitos fármacos têm sido usados no intuito de minimizar o desconforto pós-operatório, porém um protocolo para o seu controle ainda não está estabelecido. Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito analgésico do clonixinato de lisina e paracetamol no controle de dor pós-exodontia. MÉTODO: Estudo duplamente encoberto e randomizado com 40 pacientes atendidos no Ambulatório de Cirurgia I no Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (DOD/UFS) que necessitaram de extrações por via alveolar em hemiarcadas diferentes utilizando clonixinato de lisina (125 mg) três vezes ao dia ou paracetamol (750 mg) quatro vezes ao dia, ambos por três dias no pós-operatório. A dor foi avaliada nas primeiras 24 e 48h com o uso da escala analógica visual. Os dados foram submetidos aos testes estatísticos t de Student e de Friedman. RESULTADOS: Não houve diferenças estatisticamente significantes entre idade, em relação aos gêneros e em relação à intensidade da dor. CONCLUSÃO: Tanto o clonixinato de lisina como o paracetamol foi eficaz para o controle da dor pós-exodontia.

Dor; Exodontia; Lisina; Paracetamol


BACKGROUND AND OBJECTIVES: Tooth extraction is practiced since the early days of mankind to surgically solve dental problems. However, as any surgical procedure, it promotes an inflammatory reaction with clinical presentation of pain. Several drugs have been used to minimize postoperative discomfort; however there is still no established protocol for its control. This study aimed at evaluating the analgesic effect of lysine and paracetamol to control post tooth extraction pain. METHOD: Double blind randomized study with 40 patients seen by the Surgical Outpatient Setting I, Dentistry Department, Federal University of Sergipe (DOD/UFS), who needed alveolar extractions in different hemiarcades using lysine (125 mg) three times a day or paracetamol (750 mg) four times a day, both during three postoperative days. Pain was evaluated at 24 and 48 hours with the visual analog scale. Data were submitted to Student's t and Friedman statistical tests. RESULTS: There have been no statistically significant differences in age, gender and pain intensity. CONCLUSION: Both lysine and paracetamol were effective to control post tooth extraction pain.

Lysine; Pain; Paracetamol; Tooth extraction


ARTIGO ORIGINAL

Efeito comparativo entre clonixinato de lisina e paracetamol no controle da dor pós-exodontia* * Recebido do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Aracaju, SE.

Klinger de Souza AmorimI; Lucas Celestino Guerzet AyresI; Rafael Soares da CunhaI; Liane Maciel de Almeida SouzaII; Mônica Silveira PaixaoIII; Francisco GroppoIV

IGraduando em Odontologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Aracaju, SE, Brasil

IIProfessora Associado de Anestesia e Cirurgia I da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Doutora em Implantodontia pela São Leopoldo Mandic. Aracaju, SE, Brasil

IIIProfessora Adjunta de Odontologia Legal da Universidade Federal de Sergipe. Doutora em Biotecnologia pela RENORBIO. Aracaju, SE, Brasil

IVProfessor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP/UNICAMP) Doutor em Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica Medicamentosa (FOP/UNICAMP). Campinas, SP, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Klinger de Souza Amorim Rua Cláudio Batista s/n. Hospital Universitário - Sanatório 49060-100 Aracaju, SE. Fone: (79) 2105-1821 E-mail: klinger28@hotmail.com

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A exodontia é praticada desde os primórdios da humanidade como forma de resolver cirurgicamente os problemas dentários. Porém, como todo procedimento cirúrgico, ela promove um processo inflamatório reacional que se apresenta clinicamente com dor. Muitos fármacos têm sido usados no intuito de minimizar o desconforto pós-operatório, porém um protocolo para o seu controle ainda não está estabelecido. Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito analgésico do clonixinato de lisina e paracetamol no controle de dor pós-exodontia.

MÉTODO: Estudo duplamente encoberto e randomizado com 40 pacientes atendidos no Ambulatório de Cirurgia I no Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (DOD/UFS) que necessitaram de extrações por via alveolar em hemiarcadas diferentes utilizando clonixinato de lisina (125 mg) três vezes ao dia ou paracetamol (750 mg) quatro vezes ao dia, ambos por três dias no pós-operatório. A dor foi avaliada nas primeiras 24 e 48h com o uso da escala analógica visual. Os dados foram submetidos aos testes estatísticos t de Student e de Friedman.

RESULTADOS: Não houve diferenças estatisticamente significantes entre idade, em relação aos gêneros e em relação à intensidade da dor.

CONCLUSÃO: Tanto o clonixinato de lisina como o paracetamol foi eficaz para o controle da dor pós-exodontia.

Descritores: Dor, Exodontia, Lisina, Paracetamol.

INTRODUÇÃO

A exodontia é praticada desde os primórdios da humanidade como forma de resolver cirurgicamente os problemas dentários, porém como todo procedimento cirúrgico, ela promove um processo inflamatório reacional que se apresenta clinicamente com sintomatologia dolorosa.

O controle da dor no pós-operatório em odontologia deveria ser feito antes do procedimento cirúrgico, uma vez que muitos estudos sugerem a prescrição de fármacos anti-inflamatórios esteroides ou não, ou analgésicos com alguma propriedade anti-inflamatória1.

Muitos fármacos têm sido usados no intuito de minimizar o desconforto pós-operatório. Alguns protocolos incluem o uso de medicação após o ato cirúrgico. O melhor momento para o seu uso de forma eficaz ainda não está totalmente esclarecido2.

O paracetamol é um analgésico não opioide muito importante que é geralmente prescrito no pós-operatório de exodontias. A dose de 1.000 mg de paracetamol produz uma analgesia eficiente após cirurgia oral. Nível de concentração plasmática adequada se estabelece após 90 minutos da administração oral. Deve ser prescrita na dose de 60 a 90 mg/kg a cada seis horas2.

Clonixinato de lisina é um analgésico anti-inflamatório do grupo dos ácidos carboxílicos, caracterizado por ter intenso poder analgésico central e periférico e baixa ação anti-inflamatória3. Seu mecanismo de ação é pela inibição reversível da ciclo-oxigenase, com bloqueio da síntese de prostaglandinas e pelo antagonismo às prostaglandinas3.

Estudo comparando clonixinato de lisina com paracetamol na dor pós-operatória oral não evidenciou diferença significativa entre os fármacos4. Em animais, clonixinato de lisina apresentou meia-vida de 3 horas, sendo um anti-inflamatório não esteroide (AINE) de vida curta, quando comparado a outros fármacos de sua categoria5.

Administrado por via oral, o clonixinato de lisina possui uma excelente tolerância biológica e baixa incidência de efeitos colaterais no tratamento de síndromes dolorosas, como dor renal, dor neurogênica, dores musculares, dor de dente6,7 e migrânea8.

Tendo em vista a escassez de estudos com este fármaco na Odontologia, o objetivo deste estudo foi avaliar e comparar o efeito analgésico de ambos os fármacos.

MÉTODO

Foi realizado este estudo experimental, duplamente encoberto, cruzado e randomizado, que incluiu 40 pacientes atendidos no Ambulatório de Cirurgia I no Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (DOD/UFS) no período entre maio de 2011 e maio de 2012, submetidos a extrações por via alveolar em hemiarcadas diferentes.

Cada paciente foi abordado individualmente e explicada a importância da pesquisa. Foram incluídos indivíduos de ambos os gêneros na faixa etária compreendida entre 18 e 60 anos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos menores de 18 anos e maiores de 60 anos, pacientes portadores de úlcera péptica ativa ou hemorragia digestiva, lactantes ou alérgicos ao paracetamol ou clonixinato de lisina.

Os pacientes foram encaminhados ao primeiro pesquisador, que entregou ao paciente um vidro contendo a medicação A (clonixinato de lisina 125 mg) ou B (paracetamol 750 mg). Estes fármacos foram manipulados em farmácia com o objetivo de que o paciente e os demais pesquisadores não pudessem identificá-los.

A seguir o paciente foi encaminhado ao cirurgião (segundo pesquisador) que realizou as exodontias seguindo o protocolo9. Todos os pacientes foram anestesiados com cloridrato de lidocaína a 2%, com epinefrina 1:100.000, não ultrapassando 2 tubetes10. Após a exodontia, o paciente recebeu todas as informações sobre os cuidados pós-operatórios e foi orientado a retornar em 24h ao DOD.

Decorridas 24h, o terceiro pesquisador avaliou a eficácia analgésica do fármaco por meio da escala analógica visual (EAV) de 10 cm, em que zero corresponde a nenhuma dor e 10, a dor insuportável. O paciente era orientado a retornar em 48h para nova avaliação da intensidade álgica. Decorridos oito dias do primeiro procedimento, o paciente retornava para a retirada dos pontos e a realização de nova exodontia com o outro fármaco a ser observado (A ou B), conforme o caso.

Após coleta os dados foram tabulados e submetidos aos testes estatísticos t de Student e de Friedman com p < 0,05.

Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (UFS), protocolo CAAE 0263.0.000.107-2011.

RESULTADOS

Dos 40 pacientes incluídos 12 eram do gênero masculino e 28 do gênero feminino. Não houve diferenças estatisticamente significantes (teste t, p = 0,2176) entre as idades em relação aos gêneros feminino (35,1 ± 13,8 anos) e masculino (41,3 ± 15 anos).

A análise da intensidade da dor pelo teste de Friedman não evidenciou diferença estatisticamente significante (p > 0,05) entre os fármacos e nem entre os períodos.

O gráfico 1 evidencia que a dor apresentada pelos pacientes foi leve, quando se considera a classificação da dor em leve, moderada e intensa em função do valor da EAV em cm11.


DISCUSSÃO

Como descrito na literatura12, a variação de gênero não teve influência estatisticamente significante na intensidade da dor pós-exodontia por via alveolar. Diferente do relatado em outro estudo13, este não apresentou diferenças estatisticamente significantes na apresentação da dor com relação à idade dos pacientes.

A EAV, mais frequentemente utilizada na mensuração da dor pós-operatória, consiste de uma linha de 100 mm de comprimento, a qual representa o contínuo da experiência dolorosa e tem em suas extremidades as palavras-âncora sem dor e pior dor possível. Os participantes são instruídos a assinalar a intensidade da sensação dolorosa em um ponto dessa reta, sendo que os escores podem variar de zero a 10 e são obtidos medindo-se, em milímetros, a distância entre a extremidade ancorada pelas palavras sem dor e o ponto assinalado pelo participante. Essa escala tem a vantagem de ser de fácil aplicação14. A avaliação da dor pela EAV é bem aceita, inclusive na aferição da dor em pacientes de pós-operatório15. Neste estudo optou-se pelo uso da EAV sem demarcações pré-existentes para que não houvesse nenhum tipo de indução na marcação do paciente para sua representação álgica.

Os resultados deste estudo não mostraram diferenças estatisticamente significantes entre a ação do paracetamol e clonixinato de lisina no controle da dor pós-exodontia por via alveolar3. A ação do clonixinato de lisina sobre o sistema nervoso central é sugerida pela presença de efeito analgésico importante, semelhante aos opioides. A ação antinociceptiva central intensa independe da presença de processo inflamatório ou hiperálgico, o que ainda não está bem esclarecido. Parece ocorrer interação do clonixinato de lisina com receptores opioides centrais, apesar da ação mediada por esses receptores não ter sido evidenciada16. Este estudo evidenciou boa ação analgésica deste fármaco, o que é confirmado pela presença apenas de dor leve11.

Divergindo dos achados17, a intensidade da dor não se mostrou estatisticamente significante 24h ou 48h após o procedimento cirúrgico. Assim como em estudos anteriores18, os pacientes que fizeram uso do clonixinato de lisina não relataram presença de efeitos indesejáveis demonstrando a boa tolerabilidade do fármaco.

CONCLUSÃO

Tanto o clonixinato de lisina como o paracetamol foi eficaz para o controle da dor pós-exodontia. O clonixinato de lisina pode ser considerado uma boa opção para pacientes que não podem fazer uso de outros fármacos analgésicos.

Apresentado em 07 de agosto de 2012.

Aceito para publicação em 14 de novembro de 2012.

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  • Endereço para correspondência:

    Klinger de Souza Amorim
    Rua Cláudio Batista s/n. Hospital Universitário - Sanatório
    49060-100 Aracaju, SE.
    Fone: (79) 2105-1821
    E-mail:
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    Recebido do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Aracaju, SE.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Jan 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      07 Ago 2012
    • Aceito
      14 Nov 2012
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