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Disfunção temporomandibular em gestantes

Resumos

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: As disfunções temporomandibulares (DTM) podem apresentar-se como dor à função e palpação muscular e/ou articular, diminuição da amplitude bucal, travamentos mandibulares, estalos articulares, entre outros, que quando presentes durante a gravidez podem gerar um importante impacto na qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi analisar a literatura a respeito da prevalência de sinais e sintomas de DTM em gestantes. CONTEÚDO: Realizou-se busca eletrônica nas principais bases de dados internacionais disponíveis (Medline, Cochrane, EMBASE, Pubmed), referente ao período de janeiro de 2000 a agosto de 2012. Inicialmente foram encontrados 17 artigos, e após a aplicação dos critérios estabelecidos restaram três para inclusão e discussão neste estudo. CONCLUSÃO: Há menor, porém não significativa prevalência de sinais e sintomas de DTM em pacientes gestantes.

Dor facial; Gestantes; Prevalência; Transtornos da articulação temporomandibular


BACKGROUND AND OBJECTIVES: Temporomandibular disorders (TMD) may present as pain at muscle and/or joint function and palpation, decreased mouth amplitude, jaw locking, clicking joints, among others, which when present during pregnancy may significantly impact quality of life. This study aimed at reviewing the literature on the prevalence of TMD signs and symptoms during pregnancy. CONTENTS: Major available international databases (Medline, Cochrane, EMBASE, Pubmed) were queried from January 2000 to August 2012. Initially, 17 articles were found and after applying established criteria, only three were eligible for inclusion and discussion herein. CONCLUSION: There is smaller however significant prevalence of TMD signs and symptoms during pregnancy.

Facial pain; Pregnancy; Prevalence; Temporomandibular joint disorders


ARTIGO DE REVISÃO

Disfunção temporomandibular em gestantes* * Recebido da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitiba, PR.

Priscila Brenner HilgenbergI; Rafael Schlogel CunaliII; Daniel BonottoIII; Aguinaldo Coelho de FariasIV; Paulo Afonso CunaliV

I Mestre em Reabilitação Oral e Especialista em Prótese Dentária, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo (USP). Curitiba, PR, Brasil

IIEspecialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial e Especialista em Prótese Dentária, Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitiba, PR, Brasil

IIIMestre em Ciências da Saúde, Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e Especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial e Especialista em Prótese Dentária, Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitiba, PR, Brasil

IVDoutor em Ortodontia, Faculdade de Odontologia de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, Conselho Federal de Odontologia (CFO). Curitiba, PR, Brasil

VDoutor em Ciências, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, Conselho Federal de Odontologia (CFO). Curitiba, PR, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Priscila Brenner Hilgenberg Rua da Glória, 314, Cj. 23 – Centro Cívico 80030-060 Curitiba, PR. Fone: (41) 3253-4616 E-mail: priscilabhs@me.com

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: As disfunções temporomandibulares (DTM) podem apresentar-se como dor à função e palpação muscular e/ou articular, diminuição da amplitude bucal, travamentos mandibulares, estalos articulares, entre outros, que quando presentes durante a gravidez podem gerar um importante impacto na qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi analisar a literatura a respeito da prevalência de sinais e sintomas de DTM em gestantes.

CONTEÚDO: Realizou-se busca eletrônica nas principais bases de dados internacionais disponíveis (Medline, Cochrane, EMBASE, Pubmed), referente ao período de janeiro de 2000 a agosto de 2012. Inicialmente foram encontrados 17 artigos, e após a aplicação dos critérios estabelecidos restaram três para inclusão e discussão neste estudo.

CONCLUSÃO: Há menor, porém não significativa prevalência de sinais e sintomas de DTM em pacientes gestantes.

Descritores: Dor facial, Gestantes, Prevalência, Transtornos da articulação temporomandibular.

INTRODUÇÃO

As disfunções temporomandibulares (DTM) são consideradas um subgrupo das disfunções musculoesqueletais e constituem a principal fonte de dor na região facial, excluindo-se as de origem dental1. A literatura sugere que a desordem é 1,5 a 2 vezes mais prevalente em mulheres do que em homens, e que 80% dos pacientes tratados para DTM são mulheres2-4. A gravidade dos sintomas está também relacionada à idade dos pacientes, com picos na idade reprodutiva, com a mais alta prevalência ocorrendo em mulheres com idade entre 20 e 40 anos5,6, sendo menor tanto em crianças quanto em idosos6,7.

A maioria dos indivíduos que buscam tratamento para DTM são mulheres em idade reprodutiva5,6, porém ainda não existe consenso na literatura sobre a razão da maior prevalência em mulheres do que em homens6. A maior prevalência de DTM na idade reprodutiva, aliada ao padrão de início após a puberdade, maior associação com período pré-menstrual e taxas de prevalência diminuídas no período pós-menopausa sugerem que os hormônios reprodutivos femininos podem ter um importante papel na etiologia ou na manutenção da condição de DTM6,8,9.

Além disso, durante a gravidez ocorrem mudanças dramáticas nos níveis dos hormônios sexuais estrogênio e progesterona. Ambos os níveis aumentam do começo ao fim da gravidez, com a maior taxa de elevação começando no início do segundo trimestre e voltam ao seu padrão normal em até um ano pós-parto10. Durante a gestação ocorre também o aumento nos níveis do hormônio relaxina, hormônio responsável pelo aumento da mobilidade das articulações do corpo6. Hipermobilidade articular generalizada pode contribuir para o desenvolvimento de DTM de origem articular11, como um quadro de luxação ou subluxação da articulação temporomandibular (ATM), por exemplo.

As DTM podem apresentar-se como dor à função e palpação muscular e/ou articular, diminuição da amplitude bucal, travamentos mandibulares, estalos articulares1-3, entre outros, que quando presentes durante a gravidez podem gerar um importante impacto na qualidade de vida10,12. Fez-se busca na literatura a respeito da prevalência de sinais e sintomas de DTM em gestantes.

CONTEÚDO

Foi realizada busca eletrônica nas principais bases de dados internacionais disponíveis (Medline, Cochrane, EMBASE, Pubmed), referente ao período de janeiro de 2000 a agosto de 2012. Os descritores utilizados, cruzados nos mecanismos de busca foram "gestantes", "transtornos da articulação temporomandibular", "dor facial", "prevalência", "hormônios". Os mesmos foram obtidos pelo dicionário DeCS/MeSH. A lista inicial de artigos obtidos foi submetida a avaliação seguindo critérios de inclusão e exclusão. São eles: artigos redigidos em língua inglesa; seguindo o conceito de odontologia baseada em evidência, foram selecionados os estudos tipo observacionais (transversais) e longitudinais (prospectivos); artigos publicados de janeiro de 2000 a agosto de 2012; estudos que avaliaram a prevalência de dor orofacial e/ou DTM em gestantes, em idade adulta, acima de 18 anos; a classificação de dor orofacial e/ou DTM de acordo com os critérios da Academia Americana de Dor Orofacial ou do RDC/TMD. Foram excluídos artigos que avaliavam a prevalência de dor dental, cefaleia, doença periodontal em gestantes.

Foram encontrados 17 artigos, e após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram três para inclusão e discussão neste trabalho (Tabela 1).

No contexto da odontologia baseada em evidências, os estudos observacionais não constituem o nível mais elevado de evidência científica, no entanto, são os mais indicados quando se quer estudar a prevalência de determinada condição em uma população. Os estudos tipo longitudinais podem avaliar tanto a prevalência quanto a incidência de determinada condição/doença em uma população15. Neste trabalho, buscaram-se estudos observacionais e longitudinais que avaliaram a prevalência de dor orofacial e/ou DTM em pacientes gestantes.

Em um importante estudo10 avaliou-se a evolução de sinais e sintomas de DTM em mulheres antes, durante e após a gravidez e foi observado que os sintomas de DTM que estavam presentes previamente, diminuíram durante o curso da gravidez, bem como houve um aumento da amplitude bucal no mesmo período. Os índices de dor relatada que diminuíram ao longo da gravidez, voltaram aos seus valores iniciais um ano após o parto. O mesmo aconteceu para os níveis de estradiol e progesterona, o que os autores acreditaram ser um indicativo do papel destes hormônios na modulação da dor durante a gravidez.

Também em 2005, um grupo de autores13 estudou a possível associação com a presença de hipermobilidade articular sistêmica com hipermobilidade da articulação temporomandibular em gestantes, como forma de se estabelecer uma maior predisposição ao desenvolvimento de DTM. Apesar de não ter sido encontrada uma associação entre essas duas condições, uma prevalência de 46% de hipermobilidade das ATM durante abertura bucal entre as gestantes.

Com objetivo semelhante, estudo que avaliou 70 gestantes14 não encontrou maior prevalência de hipermobilidade articular sistêmica, quando comparadas com mulheres não gestantes. Além disso, assim como no estudo já citado13, não se consegue estabelecer uma associação entre hipermobilidade articular sistêmica e hipermobilidade das ATM.

Se os níveis de estradiol e progesterona influenciam a experiência de dor orofacial, uma diminuição no relato de dor pode ser esperada durante o curso da gravidez. Apesar de ter sido encontrado aumento da amplitude bucal durante a gravidez, não houve associação com hipermobilidade articular generalizada em pacientes grávidas.

O presente estudo alerta para a escassez de trabalhos que avaliam a prevalência de DTM em gestantes, sendo necessários trabalhos com metodologia bem definida para que se obtenham resultados confiáveis.

CONCLUSÃO

Os artigos analisados evidenciaram menores, porém não significativas prevalências de sinais e sintomas de DTM em pacientes gestantes.

Apresentado em 01 de junho de 2012.

Aceito para publicação em 04 de setembro de 2012.

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  • Endereço para correspondência:

    Priscila Brenner Hilgenberg
    Rua da Glória, 314, Cj. 23 – Centro Cívico
    80030-060 Curitiba, PR.
    Fone: (41) 3253-4616
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    Recebido da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitiba, PR.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Jan 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      01 Jun 2012
    • Aceito
      04 Set 2012
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