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Localização da dor no início da fase ativa do trabalho de parto

Resumos

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Dor, sensação individual e multifatorial associada ou não à lesão tecidual, pode se influenciar por fatores psicológicos, biológicos, socioculturais e econômicos. Existem escalas e questionários que tornam possível localizá-la e mensurá-la, durante o trabalho de parto. O objetivo deste estudo foi identificar a região mais frequente da dor nas mulheres no início da fase ativa do trabalho de parto. MÉTODOS: Ensaio clínico que analisou 87 primigestas com idade gestacional superior a 37 semanas, dilatação cervical entre 4 e 5 cm com dinâmica uterina adequada para esta fase do trabalho de parto. Foram incluídas gestantes com trabalho de parto de início espontâneo, que não utilizaram fármacos durante este período e sem fatores de risco associado; para avaliar a dor, utilizou-se o diagrama corporal de localização e distribuição espacial da dor durante uma fase do trabalho de parto. RESULTADOS: Observou-se que, no início da fase ativa do trabalho de parto, a maior parte das pacientes relatou dor na região infrapúbica e lombar (78%) e a menor parte, apenas na região infrapúbica (20%) ou na região lombar (2%). CONCLUSÃO: A incidência da dor na fase ativa do trabalho do parto com dilatação cervical de 4 a 5 cm foi maior nas regiões infrapúbica e lombar.

Avaliação da dor; Local de dor; Fisioterapia


BACKGROUND AND OBJECTIVES: Pain, which is an individual and multifactorial sensation associated or not to tissue injury, may be influenced by psychological, biological, socio-cultural and economic factors. There are scales and questionnaires which enable its location and measurement during labor. This study aimed at identifying the most frequent pain location during early active labor stage. METHODS: Clinical trial assessing 87 primiparous women with gestational age above 37 weeks, cervical dilatation between 4 and 5 cm, with adequate uterine dynamics for this labor stage. Participated in this study pregnant woman with spontaneous labor, not using drugs during this period and without associated risk factors; pain was evaluated with the body diagram for location and spatial distribution of pain during one labor stage. RESULTS: It was observed during early active labor stage that most patients have reported pain in the infra-pubic and lumbar region (78%), followed by infra-pubic (20%) or lumbar (2%) region alone. CONCLUSION: Pain during active labor stage with cervical dilatation from 4 to 5 cm was predominant in infra-pubic and lumbar regions.

Pain evaluation; Pain location; Physical therapy


ARTIGO ORIGINAL

Localização da dor no início da fase ativa do trabalho de parto * Endereço para correspondência: Dra. Licia Santos Santana Av. Bandeirantes, 3900 - Monte Alegre 14049-900 Ribeirão Preto, SP E-mail: licia2s@hotmail.com

Licia Santos Santana; Rubneide Barreto Silva Gallo; Cristine Homsi Jorge Ferreira; Silvana Maria Quintana; Alessandra Cristina Marcolin

Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina. Ribeirão Preto, SP, Brasil

Correspondence Endereço para correspondência: Dra. Licia Santos Santana Av. Bandeirantes, 3900 - Monte Alegre 14049-900 Ribeirão Preto, SP E-mail: licia2s@hotmail.com

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Dor, sensação individual e multifatorial associada ou não à lesão tecidual, pode se influenciar por fatores psicológicos, biológicos, socioculturais e econômicos. Existem escalas e questionários que tornam possível localizá-la e mensurá-la, durante o trabalho de parto. O objetivo deste estudo foi identificar a região mais frequente da dor nas mulheres no início da fase ativa do trabalho de parto.

MÉTODOS: Ensaio clínico que analisou 87 primigestas com idade gestacional superior a 37 semanas, dilatação cervical entre 4 e 5 cm com dinâmica uterina adequada para esta fase do trabalho de parto. Foram incluídas gestantes com trabalho de parto de início espontâneo, que não utilizaram fármacos durante este período e sem fatores de risco associado; para avaliar a dor, utilizou-se o diagrama corporal de localização e distribuição espacial da dor durante uma fase do trabalho de parto.

RESULTADOS: Observou-se que, no início da fase ativa do trabalho de parto, a maior parte das pacientes relatou dor na região infrapúbica e lombar (78%) e a menor parte, apenas na região infrapúbica (20%) ou na região lombar (2%).

CONCLUSÃO: A incidência da dor na fase ativa do trabalho do parto com dilatação cervical de 4 a 5 cm foi maior nas regiões infrapúbica e lombar.

Descritores: Avaliação da dor, Local de dor, Fisioterapia.

INTRODUÇÃO

O trabalho de parto é um processo fisiológico e natural, porém doloroso1. A dor durante o trabalho de parto promove o aumento da secreção de catecolaminas e cortisol, resulta em respostas fisiológicas como o aumento do débito cardíaco, da pressão arterial e da resistência vascular periférica, portanto o seu alívio é conduta reconhecida como um dos pilares da humanização ao parto2-4.

Para avaliar a localização da dor durante o trabalho de parto e mensurá-la, criaram-se escalas e questionários, tornando possível sua quantificação e qualificação por profissional especializado.

O Diagrama Corporal da Localização e Distribuição Espacial da Dor consiste em um instrumento multidimensional que permite aferir de forma simples não somente a intensidade, como o tipo de dor por um símbolo desenvolvido por Ransford. Na representação esquemática anterior e posterior do corpo humano, a paciente assinala a área em que sente a dor5.

A atuação da fisioterapia na fase do trabalho de parto objetiva facilitar a evolução da dilatação cervical e da descida fetal, promover o suporte contínuo e aliviar a dor das parturientes, por meio de seus inúmeros recursos terapêuticos como a eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS), a bola suíça, massoterapia, banho de imersão e de chuveiro, exercícios respiratórios, mudanças de posturas, deambulação, relaxamento, mobilidade materna, banquetas, suporte contínuo, dentre outros6,7.

Justifica-se analisar a localização da dor das parturientes para indicar recursos da fisioterapia que possam proporcionar o seu alívio. Esses recursos, de fácil aplicabilidade e baixo custo, podem contribuir para a diminuição do uso de fármacos por favorecer maior tolerância à dor, promover conforto e suporte psicológico à parturiente6.

O objetivo deste estudo foi identificar a localização da dor das parturientes no início da fase ativa do trabalho de parto pelo Diagrama Corporal de Localização e Distribuição Espacial da Dor.

MÉTODOS

Ensaio clínico, com 87 parturientes, alfabetizadas, sem problemas cognitivos ou psiquiátricos, com gestação sem intercorrências, primigestas a termo, feto único em posição cefálica, trabalho de parto de início espontâneo, dilatação cervical entre 4 e 5 cm com dinâmica uterina adequada para a fase, que não utilizaram fármacos durante o período do estudo, com membranas ovulares íntegras que concordaram em participar da pesquisa.

As pacientes admitidas na maternidade que apresentavam os critérios para o estudo eram entrevistadas pela fisioterapeuta que informava sobre a pesquisa e, após concordarem em participar, assinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Posteriormente, eram avaliadas pela fisioterapeuta, uma vez na fase ativa do trabalho de parto, ou seja, em um único momento com dilatação cervical entre 4 e 5 cm, utilizando o diagrama corporal de localização e distribuição espacial da dor.

Esta pesquisa foi desenvolvida no Centro de Referência da Saúde da Mulher de Ribeirão Preto-MATER, no período de janeiro a dezembro de 2011.

Para análise estatística dos dados, utilizou-se o Excel e os resultados foram apresentados em forma de tabela e figura com média e porcentagem.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP sob o nº 4262/2009.

RESULTADOS

Neste estudo, a média de idade das pacientes foi 25 ± 9 anos. A escolaridade das parturientes foi de 66,7% com o ensino médio completo ou incompleto, 31% com ensino fundamental completo ou incompleto e 2,3% com ensino superior completo (Tabela 1).

No início da fase ativa do trabalho de parto, 78% das pacientes relataram dor na região infrapúbica e lombar, 20% a região infrapúbica e 2% na lombar, com diferença significativa entre as localizações (p < 0,01) (Figura 1).


DISCUSSÃO

A idade das parturientes é uma característica que não deve ser encarada como um fator isolado determinante de complicações maternas e fetais. São escassos os trabalhos que correlacionam idade e dor no trabalho de parto, portanto, torna-se difícil a comparação com os resultados deste estudo.

A dor, principal queixa referida pelas mulheres durante o trabalho de parto, pode associar-se a fatores emocionais, socioculturais, biológicos e econômicos. Para o bom desenvolvimento do trabalho de parto, é necessário o bem-estar físico e emocional da mulher, o que favorece a redução dos riscos e complicações. O respeito ao direito da privacidade, a segurança e o conforto, a assistência humanizada e de qualidade, aliado ao apoio familiar durante a parturição, transformam o nascimento em um momento único e especial8-10.

No trabalho de parto a dor pode ser visceral ou somática, pois envolve o útero e a distensão do assoalho pélvico, respectivamente. Durante a dilatação cervical, a dor visceral caracteriza-se por ser mal localizada, difusa e gera desconforto, enquanto na fase de descida fetal, segundo estágio do trabalho de parto, a dor somática é intensa, nítida, contínua e superficial11.

No trabalho de parto, a dor é progressiva, aumenta com o avançar da dilatação e intensidade das contrações uterinas. A dor no primeiro estágio do trabalho de parto localiza-se principalmente na porção inferior do abdômen e irradia para a região lombar e para as coxas4,12.

Como meio de localizar a dor, elaborou-se o diagrama corporal, que é um instrumento de mensuração de dor que fornece informações sobre a localização e distribuição espacial da dor do paciente5. Por meio de uma representação esquemática do corpo humano em vista anterior e posterior, vários autores têm estudado a prevalência de regiões dolorosas durante o trabalho de parto8,13,14. Para identificar a região do corpo de maior percepção das contrações uterinas, durante o trabalho de parto e parto, realizou-se um estudo com 40 primigestas que se encontrava no início da fase ativa do trabalho de parto, o local de dor mais frequente foi a região pubiana, seguida da região sacral, presente apenas durante as contrações uterinas, seja para aquelas que fizeram uso de misoprostol ou que evoluíram para trabalho de parto espontâneo14.

Os resultados do presente estudo estão de acordo com os encontrados na literatura, as parturientes selecionadas encontravam-se no início da fase ativa do trabalho de parto e evidenciaram a dor principalmente na região infrapúbica e lombar. São necessárias mais pesquisas de melhor metodologia que relacione a fase de dilatação do trabalho de parto com a localização da dor, para que assim se possa escolher o recurso que melhor alivie a dor da parturiente.

CONCLUSÃO

No presente estudo, observou-se que a dor na fase ativa do trabalho do parto com dilatação cervical de 4 a 5 cm foi maior nas regiões infrapúbica e lombar.

Apresentado em 01 de abril de 2013.

Aceito para publicação em 09 de agosto de 2013.

Conflito de interesses: Nenhum.

* Recebido do Centro de Referência da Saúde da Mulher de Ribeirão Preto (MATER). Ribeirão Preto, SP.

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  • Endereço para correspondência:
    Dra. Licia Santos Santana
    Av. Bandeirantes, 3900 - Monte Alegre
    14049-900 Ribeirão Preto, SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Out 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      01 Abr 2013
    • Aceito
      09 Ago 2013
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