Acessibilidade / Reportar erro

Dor crônica e a crença de medo da dor e evitação ao movimento

Caros colegas,

Na área de dor crônica há crenças capazes de influir na magnitude do quadro álgico, na aceitação do fenômeno doloroso, na adesão ao tratamento e na piora da incapacidade. Dentre elas destacam-se as crenças de controle, cura, solicitude, autoeficácia frente à dor e medo da dor e evitação ao movimento11. Pimenta CA, da Cruz DA. Crenças em dor crônica: validação do inventário de atitudes frente à dor para a lingua portuguesa. Rev Esc Enferm USP. 2006;40(3):365-73.

2. Sardá Junior J, Nicholas MK, Pereira IA, Pimenta CA, Asghari A, Cruz RM. Validação da escala de pensamentos catastróficos sobre dor. Acta Fisiatr. 2008;15(1):31-6.

3. Tait RC, Chibnall JT. Development of a brief version of the Survey of Pain Attitudes. Pain. 1997;70(2-3):229-35

4. Jensen MP. Control beliefs, coping efforts, and adjustment to chronic pain. J Consult Clin Psychol. 1991;59(3):431-8.
-55. Salvetti MG, Pimenta CA, Braga PE, Corrêa CF. Incapacidade relacionada à dor lombar crônica: prevalência e fatores associados. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(Esp):16-23..

Crenças são noções pré-existentes, estáveis e culturalmente aprendidas sobre situações, eventos, pessoas e ideias. O modo como "compreendemos" algo e os significados que lhe atribuímos, influem na emoção que sentimos e nos nossos comportamentos relacionados a essas situações, ideias e pessoas11. Pimenta CA, da Cruz DA. Crenças em dor crônica: validação do inventário de atitudes frente à dor para a lingua portuguesa. Rev Esc Enferm USP. 2006;40(3):365-73.,22. Sardá Junior J, Nicholas MK, Pereira IA, Pimenta CA, Asghari A, Cruz RM. Validação da escala de pensamentos catastróficos sobre dor. Acta Fisiatr. 2008;15(1):31-6..

O medo do movimento é denominado por alguns autores como cinesiofobia, situação na qual os indivíduos desenvolvem medo exacerbado, pois julgam que o movimento é a causa da dor e da piora da lesão e assim passam a evitar movimentos e a acentuar comportamentos de imobilidade que resultam em maior incapacidade, dependência e desuso66. de Moraes Vieira EB, de Góes Salvetti M, Damiani LP, de Mattos Pimenta CA. Self-efficacy and fear avoidance beliefs in chronic low back pain patients: coexistence and associated factors. Pain Manag Nurs. 2014 [Epub ahead of print]..

A imobilidade na dor aguda e crônica tem razões diferentes. Na dor aguda, a imobilidade visa restaurar a lesão, é temporária e adaptativa. Na dor crônica, a imobilidade não se justifica, pois muitas vezes não há lesão a restaurar, o quadro doloroso é prolongado e a imobilidade leva a maiores desajustes funcionais, emocionais e sociais.

Nem todos os indivíduos com dor crônica desenvolvem medo exacerbado do movimento, e alguns podem lidar com a dor e a atividade física de forma adaptativa. Se a experiência dolorosa é percebida de forma não ameaçadora, pode ser confrontada pelo indivíduo. O enfrentamento mal adaptativo ocorre quando, após uma lesão e vivência dolorosa, pensamentos catastróficos levam ao medo da dor, a comportamentos de evitação do movimento, diminuição das atividades diárias e aumento da dependência. Se os comportamentos de evitação do movimento tornam-se persistentes, observam-se quadros de prejuízo do sistema musculoesquelético, síndrome do desuso, fadiga, ansiedade e hipervigilância, depressão e piora da dor. O paciente entra em um ciclo vicioso onde, quanto maior o medo da dor, maior a catastrofização, a hipervigilância e maior a evitação de movimentos77. Vlaeyen JW, Linton SJ. Fear-avoidance and its consequences in chronic musculoskeletal pain: a state of the art. Pain. 2000;85(3):317-32..

O ajuste da crença de medo da dor e evitação do movimento visando à extinção do comportamento de imobilidade exige ações educativas, estratégias específicas para mensuração e resignificação dessa crença e o uso de técnicas de exposição ao vivo e atividade gradual, entre outras possibilidades. Deseja-se que os pacientes desconstruam as ideias pré-concebidas, exponham-se aos movimentos "proibidos", percebam que medo e imobilidade são exagerados e que o movimento não está relacionado à piora da dor crônica88. Vlaeyen JW, Linton SJ. Fear-avoidance model of chronic musculoskeletal pain: 12 years on. Pain. 2012;153(6):1144-7.,99. Henschke N, Ostelo RW, van Tulder MW, Vlaeyen JW, Morley S, Assendelft WJ, Main CJ. Behavioural treatment for chronic low-back pain. Cochrane Database Syst Rev. 2010;(7):CD002014..

No Brasil, experiências que exploraram todas essas intervenções são ainda em número reduzido e, considerando que tais estratégias têm semostrado muito úteis em âmbito mundial, é desejável ampliar estudos nessa área em nosso meio. É com grande satisfação que nesta edição há dois estudos que abordam o problema causado pela cinesiofobia.


Érica Brandão de Moraes

Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta

REFERENCES

  • 1
    Pimenta CA, da Cruz DA. Crenças em dor crônica: validação do inventário de atitudes frente à dor para a lingua portuguesa. Rev Esc Enferm USP. 2006;40(3):365-73.
  • 2
    Sardá Junior J, Nicholas MK, Pereira IA, Pimenta CA, Asghari A, Cruz RM. Validação da escala de pensamentos catastróficos sobre dor. Acta Fisiatr. 2008;15(1):31-6.
  • 3
    Tait RC, Chibnall JT. Development of a brief version of the Survey of Pain Attitudes. Pain. 1997;70(2-3):229-35
  • 4
    Jensen MP. Control beliefs, coping efforts, and adjustment to chronic pain. J Consult Clin Psychol. 1991;59(3):431-8.
  • 5
    Salvetti MG, Pimenta CA, Braga PE, Corrêa CF. Incapacidade relacionada à dor lombar crônica: prevalência e fatores associados. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(Esp):16-23.
  • 6
    de Moraes Vieira EB, de Góes Salvetti M, Damiani LP, de Mattos Pimenta CA. Self-efficacy and fear avoidance beliefs in chronic low back pain patients: coexistence and associated factors. Pain Manag Nurs. 2014 [Epub ahead of print].
  • 7
    Vlaeyen JW, Linton SJ. Fear-avoidance and its consequences in chronic musculoskeletal pain: a state of the art. Pain. 2000;85(3):317-32.
  • 8
    Vlaeyen JW, Linton SJ. Fear-avoidance model of chronic musculoskeletal pain: 12 years on. Pain. 2012;153(6):1144-7.
  • 9
    Henschke N, Ostelo RW, van Tulder MW, Vlaeyen JW, Morley S, Assendelft WJ, Main CJ. Behavioural treatment for chronic low-back pain. Cochrane Database Syst Rev. 2010;(7):CD002014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2014
Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 937 cj 2, 04014-012 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 5904 3959, Fax: (55 11) 5904 2881 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: dor@dor.org.br