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Abordagem fisioterápica na dor e na qualidade de vida de um indivíduo com artrite hemofílica. Relato de caso

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

A hemofilia é uma coagulopatia congênita, rara e crônica, caracterizada pelos surtos recidivantes de hemartroses. Predomina no gênero masculino e produz agravos osteomioarticulares importantes como restrição dos movimentos, fibrose articular, hemartroses e hemorragias tissulares, contraturas musculares, déficit de força muscular e artrite hemofílica, resultando em quadros de dor e piora na qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de um programa fisioterápico de intervenção na dor e na qualidade de vida de um indivíduo com artrite hemofílica.

RELATO DO CASO:

Paciente do gênero masculino, 23 anos de idade, com diagnóstico de artrite hemofílica. Sua queixa principal era a dor em diversos pontos do corpo, especialmente em tornozelos e joelho direito. A dor foi avaliada através da escala analógica visual e do mapa de dor corporal, e a qualidade de vida por meio questionário Short-Form Health Survey. O paciente foi submetido a oito sessões de fisioterapia, uma vez por semana, com duração média de 50 minutos, entre os meses de maio a junho de 2015. O protocolo de intervenção adotado baseou-se em cinesioterapia convencional.

CONCLUSÃO:

O presente estudo demonstrou que um programa de fisioterapia baseado na cinesioterapia diminuiu o número de pontos dolorosos e a intensidade da dor, bem como melhorou os domínios da qualidade de vida em um indivíduo com artrite hemofílica.

Descritores:
Dor; Fisioterapia; Hemofilia A; Hemofilia B; Qualidade de vida

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

Hemophilia is a congenital, uncommon and chronic coagulopathy characterized by recurrent hemarthrosis outbreaks. It affects predominantly males and produces major musculoskeletal disorders, such as movement limitation, joint fibrosis, hemarthrosis and tissue hemorrhages, muscle contractures, muscle strength deficit and hemophilic arthritis, resulting in pain and impaired quality of life. This study aimed at evaluating the effects of a physiotherapeutic intervention program on pain and quality of life of a patient with hemophilic arthritis.

CASE REPORT:

Male patient, 23 years old, with hemophilic arthritis. His major complaint was pain in different body sites, especially in ankles and right knee. Pain was evaluated with the visual analog scale and body pain map, and quality of life was evaluated with the Short-Form Health Survey questionnaire. Patient was submitted to eight physiotherapy sessions, once a week, with mean duration of 50 minutes, between May and June 2015. Adopted intervention protocol was based on conventional kinesiotherapy.

CONCLUSION:

This study has shown that a physiotherapy program based on kinesiotherapy has decreased the number of tender points and pain intensity, as well as has improved quality of life of a patient with hemophilic arthritis.

Keywords:
Hemophilia A; Hemophilia B; Pain; Physiotherapy; Quality of life

INTRODUÇÃO

A hemofilia é uma doença congênita, causada por uma deficiência do fator de coagulação sanguínea e caracterizada pela reincidência das hemartroses principalmente em articulações. Pode-se apresentar de duas formas: tipo A (déficit do fator VIII) ou tipo B (déficit do fator IX)11 Bortolon AP, Sachetti A, Wibelinger LM. Análise da qualidade de vida de um indivíduo portador de artrite hemofílica: um estudo de caso. EFDeportes. 2012;17(169), Disponível em:<http://www.efdeportes.com/efd169/individuo-portador-de-artrite-hemofilica.htm>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
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O gênero masculino é o mais acometido, com pico de ocorrência entre 20 e 29 anos, sendo que o tipo A aparece com maior frequência22 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados. Perfil das coagulopatias hereditárias no Brasil: 2011-2012 / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados. - Brasília: Ministério da Saúde, 2014.. Em todo mundo, 6,9 milhões de pessoas apresentam algum distúrbio hemorrágico33 Gonzalez, DC. La hemofilia: situación actual en Cuba y perspectivas. Rev Cubana Hematol Inmunol Hemoter. 2013;29(2):112-3. e, no Brasil, quase 11 mil pessoas possuíam diagnóstico de algum tipo de hemofilia em 2012. Ainda, nesse mesmo período, o Rio Grande do Sul registrava pouco mais de 600 casos da doença22 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados. Perfil das coagulopatias hereditárias no Brasil: 2011-2012 / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados. - Brasília: Ministério da Saúde, 2014..

Os portadores de hemofilia apresentam dor persistente, que varia de intensidades moderada a intensa. Nessa população, o quadro álgico pode ocasionar a ocorrência de complicações musculoesqueléticas44 Lambing A, Kohn-Converse B, Hanagavadi S, Varma V. Use of acupuncture in the management of chronic haemophilia pain. Haemophilia. 2012;18(4):613-17, como restrição dos movimentos articulares, fibrose articular, contraturas, alterações da marcha e da força muscular, hemartroses, hemorragias tissulares e artrite hemofílica (AH)11 Bortolon AP, Sachetti A, Wibelinger LM. Análise da qualidade de vida de um indivíduo portador de artrite hemofílica: um estudo de caso. EFDeportes. 2012;17(169), Disponível em:<http://www.efdeportes.com/efd169/individuo-portador-de-artrite-hemofilica.htm>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
http://www.efdeportes.com/efd169/individ...
,55 Querol F, Pérez-Alenda S, Gallach JE, Devís-Devís J, Valencia-Peris A, Moreno LM. Haemophilia: exercise and sport. Apunts Med Esport. 2011;46(169):29-39.. Em virtude das alterações do processo de coagulação, as hemorragias tornam-se as complicações mais frequentes no indivíduo hemofílico, podendo ser espontâneas ou secundárias a um trauma66 Gidaris D, Economou M, Valeri R, Gombakis N, Athanasiou-Metaxa M. Successful treatment of a spontaneous haemothorax with recombinant factor VIIa in a haemophilic child with inhibitors. Hippokratia. 2010;14(4):289-90..

Atualmente, há um consenso generalizado pelos profissionais da área da saúde sobre a instituição da fisioterapia na vida do indivíduo hemofílico55 Querol F, Pérez-Alenda S, Gallach JE, Devís-Devís J, Valencia-Peris A, Moreno LM. Haemophilia: exercise and sport. Apunts Med Esport. 2011;46(169):29-39., pois corrigem os déficits motores, melhora a funcionalidade, diminui a dor e melhora a qualidade de vida (QV)11 Bortolon AP, Sachetti A, Wibelinger LM. Análise da qualidade de vida de um indivíduo portador de artrite hemofílica: um estudo de caso. EFDeportes. 2012;17(169), Disponível em:<http://www.efdeportes.com/efd169/individuo-portador-de-artrite-hemofilica.htm>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
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. O exercício regular objetiva melhor condições psicossociais, o aumento ou a manutenção da força e do trofismo muscular, a mobilidade e a estabilidade articular, a flexibilidade o equilíbrio e a funcionalidade, melhorando as atividades de vida diária (AVD). Recursos fisioterápicos diversos são bem-vindos ao tratamento, especialmente a cinesioterapia77 Melo CC, Pereira CA, Formiga CK, Sandoval RA, Viana FP. Tratamento fisioterapêutico das alterações musculoesqueléticas em pacientes com Hemofilia. Estudos, Goiânia. 2010;37(1/2):113-24.,88 Negrier C, Seuser A, Forsyth A, Lobet S, Llinas A, Rosas M, Heijnen L. The benefits of exercise for patients with haemophilia and recommendations for safe and effective physicalactivity. Haemophilia. 2013;19(4):487-98.. Contudo, a literatura ainda carece de fontes que discutam e explorem o tratamento fisioterápicos mais indicado para hemofílicos11 Bortolon AP, Sachetti A, Wibelinger LM. Análise da qualidade de vida de um indivíduo portador de artrite hemofílica: um estudo de caso. EFDeportes. 2012;17(169), Disponível em:<http://www.efdeportes.com/efd169/individuo-portador-de-artrite-hemofilica.htm>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
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,55 Querol F, Pérez-Alenda S, Gallach JE, Devís-Devís J, Valencia-Peris A, Moreno LM. Haemophilia: exercise and sport. Apunts Med Esport. 2011;46(169):29-39.,77 Melo CC, Pereira CA, Formiga CK, Sandoval RA, Viana FP. Tratamento fisioterapêutico das alterações musculoesqueléticas em pacientes com Hemofilia. Estudos, Goiânia. 2010;37(1/2):113-24..

Em virtude disso, o presente estudo teve como objetivo verificar os efeitos de um programa de intervenção fisioterápica na dor e na QV de um indivíduo com artrite hemofílica.

RELATO DO CASO

O estudo é longitudinal, intervencionista e do tipo estudo de caso. Faz parte de um projeto guarda-chuva denominado "Efeitos do tratamento fisioterápicos em pacientes portadores de doenças reumáticas", aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade de Passo Fundo sob protocolo nº 348.381 conforme determina a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Paciente do gênero masculino, 23 anos de idade, portador de AH, nos meses de maio à junho de 2015 participou de 8 sessões de fisioterapia, uma vez por semana, com duração de aproximadamente uma hora na Clínica de Fisioterapia da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia, da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo/RS, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A avaliação pré-intervenção fisioterápicas consistiu na coleta dos dados (idade, profissão, exame físico e outros), avaliação da QV, por meio do questionário de qualidade de vida - Medical Outcomes Study 36 - Item Short-Form Health Survey (SF-36), traduzido e validado para o português, e avaliação da dor por meio do mapa corporal de dor e da escala analógica visual (EAV), todos realizados em forma de entrevista mediante prévia explicação do procedimento e esclarecimento de dúvidas.

O SF-36 é uma escala de 36 itens, reunindo componentes físicos (capacidade funcional, aspectos físicos, dor e estado geral de saúde) e mentais (vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental). Quanto mais alto o escore obtido, melhor é a QV relacionada à saúde99 Burille A, Cervinski T, Vidmar MF, Wibelinger LM. Qualidade de vida de portadores de espondilite anquilosante submetidos a um programa de hidrocinesioterapia. EFDeportes. 2012;17(169). Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd169/espondilite-anquilosante-a-hidrocinesioterapia.htm>. Acesso em: 11 de novembro de 2015.
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O mapa corporal de dor consiste numa representação do corpo humano onde o examinado indica a localização e distribuição específica da dor no momento da avaliação1010 Wenngren A, Stalnacke BM. Computerized assessment of pain drawing area: a pilot study. Neuropsychiatr Dis Treat. 2009;5:451-56.. Já a EAV é uma linha reta horizontal com suas extremidades numeradas de 0 (nenhuma dor) à 10 (pior dor imaginável). O indivíduo avaliado deve indicar, quantitativamente, a dor presente naquele momento1111 Martinez JE, Grassi DC, Marques LG. Análise da aplicabilidade de três instrumentos de avaliação de dor em distintas unidades de atendimento: ambulatório, enfermaria e urgência. Rev Bras Reumatol. 2011;51(4):304-8.

O protocolo de intervenção baseou-se na cinesioterapia convencional de forma global, com ênfase nos membros inferiores, e objetivou o fortalecimento muscular, a mobilidade, o equilíbrio, a propriocepção e o treino de marcha, por meio de descarga de peso. A ordem dos exercícios constituiu em: aferição da pressão arterial inicial e final; alongamentos globais ativos e/ou passivos dos principais grupos musculares dos membros superiores e inferiores e do tronco (durante 15 segundos); mobilização articular dos tornozelos, metatarsos bilaterais, falanges dos pés, joelho direito, quadril esquerdo, cotovelo esquerdo e coluna lombar e cervical; apertar uma bola proprioceptiva com os pés (3x10); exercício de sentar e levantar segurando tornozeleiras de 2kg (3x10); miniagachamento em airex, progredindo para o discoball (3x10); plantiflexão com caneleira de 2kg, progredindo para 3kg (3x10); exercício para chutar uma bola de futsal com caneleiras de 2kg, progredindo para 2,5kg (10 chutes com cada perna, em 3 séries); subir e descer escadas com caneleira de 3kg (3x15 degraus); bicicleta ergonômica com carga 3, progredindo para carga 5 (durante 10 minutos). Finalizou-se a sessão com crioterapia nos tornozelos por 20 minutos. O número das cargas e repetições foi elencado conforme as condições físicas do indivíduo e manteve o mesmo valor durante o tratamento fisioterápicos. Após as 8 sessões de fisioterapia todos os parâmetros foram reavaliados. A tabela 1 apresenta os dados referentes à QV do indivíduo participante do estudo pré e pós-intervenção fisioterápica, de acordo com o SF-36.

Tabela 1
Qualidade de vida pré e pós-intervenção fisioterápica, de acordo com o SF-36

Houve incremento considerável no domínio limitação por aspectos físico, seguido pelos domínios dor, aspectos sociais e limitação por aspectos emocionais, enquanto os demais mantiveram o mesmo valor ou não apresentaram resultados satisfatórios.

A tabela 2 apresenta os dados referentes à dor do indivíduo participante do estudo, de acordo com o mapa corporal de dor e da EAV. Observa-se que a dor diminuiu consideravelmente após a intervenção fisioterápica, de acordo com os relatos do indivíduo. Os pontos dolorosos, que inicialmente eram seis, diminuíram para dois apenas, e a intensidade geral da dor diminuiu em 6 pontos na EAV.

Tabela 2
Dor pré e pós-intervenção fisioterápica, de acordo com o mapa corporal da dor e a escala analógica visual

DISCUSSÃO

Entende-se que a dor contribui para a incapacidade dos indivíduos com doenças crônicas1212 Simões AS. A dor irruptiva na doença oncológica avançada. Rev Dor. 2011;12(2):166-71., visto que na contração estática a atividade do músculo dolorido diminui e atenua a atividade do músculo sinergista, aumentando a dor1313 Falla D, Farina D, Dahl MK, Graven-Nielsen T. Muscle pain induces task-dependent changes in cervical agonist/antagonist activity. J Appl Physiol. 2007;102(2):601-9.. Em torno de 86% dos casos de hemofilia a dor se faz presente, sendo que desses, 92% relatam artralgia1414 Kalnins W, Schelle G, Jost K, Eberl W, Tiede A. Pain therapy in haemophilia in Germany. Patient survey (BESTH study). Hamostaseologie. 2014;21(1):35.. O que vai ao encontro do estudo atual, pois o indivíduo apresentava queixa de dor nas articulações, especialmente em tornozelos e joelhos, condição essa que ocasiona a incapacidade e o desequilíbrio muscular, contribuindo para a acentuação do quadro álgico.

Na AH, as hemartroses recorrentes causam degeneração articular, deformidades articulares, deficiência funcional grave e, consequentemente, geram um quadro de dor como descrito nesse relato1515 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Manual de reabilitação na hemofilia / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados. - Brasília : Ministério da Saúde, 2011.. Os indivíduos portadores de AH apresentam complicações como déficit de força e atrofias musculares, instabilidade articular, hipomobilidade, diminuição proprioceptiva e restrição dos movimentos biomecânicos, dificultando o alívio da dor1616 Gomis M1, Querol F, Gallach JE, González LM, Aznar JA. Exercise and sport in the treatment of haemophilic patients: a systematic review. Haemophilia. 2009;15(1):43-54.. O paciente relatou fazer uso do concentrado de fator VIII e manteve a terapia farmacológica durante o tratamento fisioterápico. Essa estratégia associada a fisioterapia, pode reduzir o período de duração das hemorragias, gerando melhores resultados e menores gastos públicos1717 Júnior NS, Vieira WH. Meios físicos na reabilitação do paciente portador de hemofilia. Uma revisão de literatura. Rev da FARN. 2010;9(1/2):197-210..

Alguns estudos sugerem que o exercício aumenta o nível de fator VIII circulante no sangue1818 Andery SCA, Galatti LR, Alves MLT, Duarte E. Exercício físico e hemofilia: conceitos e intervenção. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. 2005;11(2):96-109. e quando realizado precocemente proporciona resultados positivos, como a redução dos sangramentos articulares, o alívio da dor, o aumento da força e da resistência muscular e a prevenção de possíveis deformidades mioarticulares, garantindo melhor QV e condição física aos portadores da doença1616 Gomis M1, Querol F, Gallach JE, González LM, Aznar JA. Exercise and sport in the treatment of haemophilic patients: a systematic review. Haemophilia. 2009;15(1):43-54.. Por essa razão é que se optou pela escolha dos exercícios físicos como forma de intervenção no estudo proposto.

A literatura diz que a cinesioterapia se utiliza do movimento para proporcionar mobilidade, flexibilidade, coordenação muscular, aumento de força muscular e resistência à fadiga1919 Florentino DM, De Sousa FR, Maiworn AI, Carvalho AC, Silva KM. A fisioterapia no alívio da dor: uma visão reabilitadora em cuidados paliativos. Rev Hosp. Univ Pedro Ernesto. 2012;11(2):50-7.. Devido às instabilidades articulares é necessário incentivar os exercícios proprioceptivos visando ao equilíbrio e reposicionamento articular77 Melo CC, Pereira CA, Formiga CK, Sandoval RA, Viana FP. Tratamento fisioterapêutico das alterações musculoesqueléticas em pacientes com Hemofilia. Estudos, Goiânia. 2010;37(1/2):113-24., garantindo-se um bom desenvolvimento da musculatura e proteção das articulações contra novos eventos hemorrágicos11 Bortolon AP, Sachetti A, Wibelinger LM. Análise da qualidade de vida de um indivíduo portador de artrite hemofílica: um estudo de caso. EFDeportes. 2012;17(169), Disponível em:<http://www.efdeportes.com/efd169/individuo-portador-de-artrite-hemofilica.htm>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
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. Por isso os exercícios foram realizados através da descarga de peso, objetivando a prevenção da recidiva das hemartroses, que são a causa de dor e impacto na funcionalidade e QV dos portadores de AH.

As evidências recomendam que o plano de tratamento fisioterápico seja aplicado de duas a três vezes por semana, com duração mínima de três meses2020 Stephensen D, Rodriguez-Merchan EC. Orthopaedic comorbidities in the elderly haemophilia population: a review. Haemophilia. 2013;19(2):166-73.. Um trabalho avaliou a eficácia de duas intervenções fisioterápicas em nove indivíduos com AH do tornozelo. Foram randomizados em grupo mobilização e alongamento (G1) e grupo terapia manual (G2). Após 12 sessões, ambos os grupos melhoraram todos os movimentos do tornozelo, sendo que o G1 apresentou melhores resultados relacionado à percepção de dor e QV2121 Cuesta-Barriuso R, Gómez-Conesa A, López-Pina JA. Manual therapy in the treatment of ankle hemophilic arthropathy. A randomized pilot study. Physiother Theory Pract. 2014;30(8):534-9.. Neste estudo, o paciente realizou um protocolo de exercícios baseados em cinesioterapia e apresentou melhora na QV, com destaque para os domínios limitação por aspectos físicos e dor. Assim, entende-se que a fisioterapia pode ser uma alternativa eficaz na manutenção ou reabilitação da dor e da QV do indivíduo hemofílico, além de minimizar o impacto financeiro o com tratamentos farmacológicos. Desse modo, como na população geral, indivíduos com hemofilia são beneficiados pela atividade física55 Querol F, Pérez-Alenda S, Gallach JE, Devís-Devís J, Valencia-Peris A, Moreno LM. Haemophilia: exercise and sport. Apunts Med Esport. 2011;46(169):29-39..

Alguns estudos sugerem que o exercício aumenta o nível de fator VIII circulante no sangue1818 Andery SCA, Galatti LR, Alves MLT, Duarte E. Exercício físico e hemofilia: conceitos e intervenção. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. 2005;11(2):96-109. e quando realizado precocemente proporciona resultados positivos, como a diminuição dos sangramentos articulares, o alívio da dor, o aumento da força e da resistência muscular e a prevenção de possíveis deformidades mioarticulares, garantindo melhor QV e condição física aos portadores da doença1616 Gomis M1, Querol F, Gallach JE, González LM, Aznar JA. Exercise and sport in the treatment of haemophilic patients: a systematic review. Haemophilia. 2009;15(1):43-54.. Por essa razão é que se optou pela escolha dos exercícios físicos como forma de intervenção no estudo proposto.

A literatura diz que a cinesioterapia se utiliza do movimento para proporcionar mobilidade, flexibilidade, coordenação muscular, aumento de força muscular e resistência à fadiga1919 Florentino DM, De Sousa FR, Maiworn AI, Carvalho AC, Silva KM. A fisioterapia no alívio da dor: uma visão reabilitadora em cuidados paliativos. Rev Hosp. Univ Pedro Ernesto. 2012;11(2):50-7.. Devido aos seus benefícios, é que se optou pela cinesioterapia como base do programa proposto.

Devido às instabilidades articulares é necessário incentivar os exercícios proprioceptivos visando ao equilíbrio e reposicionamento articular77 Melo CC, Pereira CA, Formiga CK, Sandoval RA, Viana FP. Tratamento fisioterapêutico das alterações musculoesqueléticas em pacientes com Hemofilia. Estudos, Goiânia. 2010;37(1/2):113-24., garantindo-se um bom desenvolvimento da musculatura e proteção das articulações contra novos eventos hemorrágicos11 Bortolon AP, Sachetti A, Wibelinger LM. Análise da qualidade de vida de um indivíduo portador de artrite hemofílica: um estudo de caso. EFDeportes. 2012;17(169), Disponível em:<http://www.efdeportes.com/efd169/individuo-portador-de-artrite-hemofilica.htm>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
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. Por isso os exercícios foram realizados através da descarga de peso, objetivando a prevenção da recidiva das hemartroses, que são a causa de dor e impacto na funcionalidade e QV dos portadores de AH.

As evidências recomendam que o plano de tratamento fisioterápicos seja aplicado de duas a três vezes por semana, com duração mínima de três meses2020 Stephensen D, Rodriguez-Merchan EC. Orthopaedic comorbidities in the elderly haemophilia population: a review. Haemophilia. 2013;19(2):166-73.. O que vai de encontro ao estudo atual, que abordou um tempo de intervenção menor e o indivíduo apresentou melhora ou manutenção na dor e na QV.

Um estudo de caso com um portador de AH, que realizou 20 sessões de fisioterapia, envolveu alongamentos globais, mobilizações articulares, exercícios de fortalecimento com carga (resistidos e isométricos), exercícios de transferência de peso, reeducação postural e treino de marcha. Ao final, constatou-se que a QV do indivíduo melhorou significantemente11 Bortolon AP, Sachetti A, Wibelinger LM. Análise da qualidade de vida de um indivíduo portador de artrite hemofílica: um estudo de caso. EFDeportes. 2012;17(169), Disponível em:<http://www.efdeportes.com/efd169/individuo-portador-de-artrite-hemofilica.htm>. Acesso em 10 de novembro de 2015.
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. O que vai ao encontro do estudo atual, pois o paciente do presente caso realizou um protocolo de exercícios baseados em cinesioterapia e apresentou melhora na QV, com destaque para os domínios limitação por aspectos físicos e dor.

Outro estudo avaliou a eficácia de duas intervenções fisioterápicas em nove indivíduos com AH do tornozelo. Foram randomizados em grupo mobilização e alongamento (G1) e grupo terapia manual (G2). Após 12 sessões, ambos os grupos melhoraram todos os movimentos do tornozelo, sendo que o G1 apresentou melhores resultados relacionado à percepção de dor e QV2121 Cuesta-Barriuso R, Gómez-Conesa A, López-Pina JA. Manual therapy in the treatment of ankle hemophilic arthropathy. A randomized pilot study. Physiother Theory Pract. 2014;30(8):534-9.. No presente estudo, que utilizou técnicas semelhantes, como as mobilizações articulares e alongamentos, o indivíduo apresentou aumento da QV e diminuição do quadro álgico.

Trinta e um indivíduos com AH do tornozelo foram divididos em grupos: terapia manual, que consistia em tração articular, alongamentos passivos de gastrocnêmios, exercícios de força muscular e propriocepção (G1), grupo educacional e exercícios domiciliares (G2) e grupo controle (G3). O estudo durou 12 semanas, e o G1 se sobressaiu em relação aos demais, pois melhorou o trofismo muscular e reduziu a dor dos tornozelos2222 Cuesta-Barriuso R, Gómez-Conesa A, López-Pina JA. Effectiveness of two modalities of physiotherapy in the treatment of haemophilic arthropathy of the ankle: a randomized pilot study. Haemophilia. 2014;20(1):71-8., o que corrobora o atual estudo, pois a intervenção adotada foi eficaz no alívio da dor, principalmente nos tornozelos, segundo os relatos do indivíduo, e na melhora da QV.

Um estudo de caso com um paciente do gênero masculino portador de AH de joelho e tornozelo, realizou fisioterapia com duração de 8 semanas. Na conduta foi utilizado como recurso, técnicas de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP). Os resultados demonstraram a melhora da amplitude de movimento e a diminuição da dor nas articulações envolvidas de acordo com a EAV2323 Luterek M, Baranowski M, Zakiewicz W, Biel A, Pedzisz P. PNF-based rehabilitation in patients with severe haemophilic arthropathy-case study. Ortop Traumatol Rehabil. 2009;11(3):280-9.. Neste estudo, o protocolo cinesioterápico foi eficaz na diminuição da dor apresentada pelo indivíduo estudado.

CONCLUSÃO

Um protocolo de fisioterapia, baseado em exercícios cinesioterápicos, demonstrou-se eficaz na diminuição de pontos dolorosos, alívio da intensidade da dor e melhora da qualidade de vida em um indivíduo com artrite hemofílica.

  • Fontes de fomento: não há.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2016

Histórico

  • Recebido
    26 Nov 2015
  • Aceito
    27 Jan 2016
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