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Equipamento experimental para determinação de dados pVt para sistemas gasosos

Experimental equipment for obtaining pVt data for gaseous systems

Resumos

Dados de equilíbrio p-V-t isotérmicos são coletados para o ar de 23 ºC a 60 ºC na faixa de pressão de 1,04 atm até 1,73 atm. O equipamento experimental consiste de uma célula que é termostatizada por um banho. Os resultados permitem verificar as leis de Boyle-Mariotte e Gay-Lussac, tão bem quanto a equação dos gases ideais.

dados pVt; experimental; equilíbrio; dados isotérmicos; sistemas gasosos


Experimental data (pressure-temperature-volume) at the fixed temperature were measured for air in low pressures. The experimental apparatus was an equilibrium cell equipped with an isothermal water bath. The range of temperature was 23 ºC to 60 ºC and for the pressure, 1.04 atm up to 1.73 atm. The results permitted to check some lays found in the literature, such as: Boyle-Marriotte and Gay-Lussac, as well as the ideal gas equation.

pVt data; experimental; equilibrium; isothermal data; gaseous systems


ARTIGOS GERAIS

Equipamento experimental para determinação de dados pVt para sistemas gasosos

Experimental equipment for obtaining pVt data for gaseous systems

Raphaella Santos Brunetto; Amanda Cristina Oliveira; Moilton Ribeiro Franco Júnior1 1 E-mail: moilton@ufu.br.

Faculdade de Engenharia Química, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil

RESUMO

Dados de equilíbrio p-V-t isotérmicos são coletados para o ar de 23 ºC a 60 ºC na faixa de pressão de 1,04 atm até 1,73 atm. O equipamento experimental consiste de uma célula que é termostatizada por um banho. Os resultados permitem verificar as leis de Boyle-Mariotte e Gay-Lussac, tão bem quanto a equação dos gases ideais.

Palavras-chave: dados pVt, experimental, equilíbrio, dados isotérmicos, sistemas gasosos.

ABSTRACT

Experimental data (pressure-temperature-volume) at the fixed temperature were measured for air in low pressures. The experimental apparatus was an equilibrium cell equipped with an isothermal water bath. The range of temperature was 23 ºC to 60 ºC and for the pressure, 1.04 atm up to 1.73 atm. The results permitted to check some lays found in the literature, such as: Boyle-Marriotte and Gay-Lussac, as well as the ideal gas equation.

Keywords:pVt data, experimental, equilibrium, isothermal data, gaseous systems.

1. Introdução

O estado gasoso de um sistema puro pode ser descrito especificando-se os valores de quatro propriedades, são elas: temperatura (t), pressão (p), massa (m) e volume (V). Considerando-se que nenhuma perturbação externa afeta o sistema em estudo, diz-se que o sistema está em equilíbrio, portanto o valor de suas propriedades não se altera com o passar do tempo. Dentre essas propriedades, pode-se medir, experimentalmente, três, sendo que a quarta poderá ser calculada por uma equação de estado [1], que é uma relação matemática entre as propriedades do gás ou do líquido.

Robert Boyle [2] realizou, em 1962, as primeiras medidas quantitativas de pressão (p)-volume (V) com sistemas gasosos. Seus resultados indicaram que o volume é inversamente proporcional à pressão, em experimentos isotérmicos:

Charles [4] mostrou que a constante, C, é uma função da temperatura.

Gay-Lussac [4], através de experimentos, descobriram que o volume do gás variava linearmente com a temperatura, quando se tinha a massa e a pressão fixas. Isto é expresso na equação:

em que V0 é um valor de referência numa dada condição fixa de temperatura (t0) e pressão (p0). A equação anterior pode ser mostrada, matematicamente escrevendo-se o diferencial exato da função volume (V(t,p)), assim:

Dividindo-se a Eq. (3) por V0, vem:

A quantidade é o coeficiente de expansão térmica a 0 ºC, para o qual se emprega o símbolo a0 , ou seja:

Integrando-se a Eq. (4) à pressão constante, chega-se à equação de Charles [4]:

que é a equação de uma reta com inclinação V0a0 . O termo entre parênteses, que aparece na Eq. (6), define uma nova escala de temperatura, a escala de temperatura termodinâmica de gás ideal, e o valor de 1/a0 para todos os gases ideais é o mesmo e vale 273,15. Isto vem resultar na nova escala de temperatura termodinâmica Kelvin (T), assim definida:

As equações de Charles e Boyle combinadas originam a lei dos gases ideais:

em que n é o número de moles de gás dentro do recipiente de volume V e R é a constante dos gases perfeitos que pode ser verificada experimentalmente e vale 82,05 atm.cm3mol–1K–1. Este valor pode ser verificado caso se conheça o número de moles de gás dentro do recipiente, ao se realizar medidas p – V – t em laboratório.

Castellan [4] exemplifica gráficos do tipo: volume em função da temperatura e pressão em função da temperatura que comprovam a linearidade das curvas obtidas e que são preditas pela equação dos gases ideais.

Neste trabalho, além da determinação do produto, número de moles de ar com a constante dos gases, nR, os dados p-V-t coletados permitirão a construção de gráficos visando verificar este comportamento de gás ideal, que é predito pela literatura, quando se trabalha em baixas pressões.

2. Descrição do equipamento experimental

O equipamento completo encontra-se na Fig. 1, através da qual pode-se conferir, em detalhes os seguintes elementos enumerados:

1, 2 - suporte; 2.1 - régua graduada; 3 - vaso (célula de medidas); 3.1 - vaso termostatizado contendo o gás em estudo; 3.2 - camisa termostática; 3.2.1/3.2.2 - entrada e saída de água; 3.2.3 - local onde é introduzido o termômetro para medida da temperatura de equilíbrio; 4 - vaso de mercúrio; 4.1 - Haste móvel que permite o vaso se deslocar na vertical; 4.2 - Tampão de borracha; 5 - Tubo de plástico.


Um experimento deve ser reiniciado, desconectando-se o tubo de borracha da célula de medidas (soltar as presilhas 5.1 e 5.2). Observar se não há mercúrio nesta região. A célula de medidas (3.1) é separada e fixada numa haste, após ser invertida de um ângulo de 180º (ver Fig. 2).


A Fig. 2 representa o equipamento sendo preparado para os experimentos. O tubo flexível deve estar no mesmo nível que o vaso de mercúrio. A célula que contém o gás (fluido de trabalho) está presa num suporte de cabeça para baixo de forma que parte do mercúrio pode ser introduzido dentro dela caso se queira trabalhar com massas menores de ar. Cabe ressaltar que além dos limites de pressão impostos pela estrutura do equipamento, não é possível introduzir um outro fluido na célula de equilíbrio. Esta desvantagem deve ser eliminada em trabalhos futuros. O controle de volume de trabalho pode ser feito alimentando-se uma quantidade desejada de mercúrio, pelo funil superior, visto na Fig. 2. O vaso de mercúrio e o tubo de plástico são preenchidos com mercúrio e são dispostos de forma que o mercúrio não extravase.

O nível de Hg, tanto no vaso de reserva quanto no tubo de plástico, devem estar idênticos. A união do tubo de plástico à célula de medidas é feita pelo tubo de borracha, unindo-se as duas partes através das presilhas 5.1 e 5.2. Gira-se a célula de medidas de 180º, retira-se o tampão do vaso de Hg e conecta-se a célula novamente ao suporte. Pequenos golpes devem ser dados no tubo de plástico visando eliminar bolhas de ar.

3. Procedimento experimental

O aparelho consiste em uma coluna de ar envolvida por um recipiente de regulação de temperatura, ligada a uma coluna de mercúrio por um tubo de plástico em U e um banho termostático.

Inicialmente conecta-se o banho termostático à camisa da célula de medida, de forma que a água entre e saia da camisa para manter a temperatura constante. Liga-se o banho e escolhe a temperatura desejada, esperando que o termômetro a indique de forma constante.

Em seguida, abre-se o tampão do vaso de mercúrio para que a coluna sofra ação da pressão atmosférica. Feito isso, varia-se a coluna de mercúrio, que desce e sobe ao lado da escala, e faz-se a leitura para o volume e a variação da pressão de cada medida na escala do aparelho. O volume (V) é obtido diretamente pela altura de ar encontrado dentro da célula e a variação de pressão (Dp) é a diferença entre a altura do mercúrio na coluna e a altura de mercúrio dentro da célula.

4. Resultados e discussões

O equipamento experimental permite coletar dados pV isotérmicos de uma dada massa de fluido (ar), contida na célula. Devido a limitações do banho termostático fornecido pelo fabricante, só foi possível obter dados pVt numa faixa de 23 ºC até 60 ºC. Outra limitação é o fato de que a faixa de pressão de trabalho seja muito restrita para se obter medidas mais completas de interesse em pesquisa.

Os resultados de pressão x volume para cada experimento isotérmico encontram-se nas Tabelas de 1 a 5 [3]. A Tabela 1 exibe resultados, medidos em laboratório, para experimento realizado à temperatura de 23 ºC. O valor da constante nR foi calculado para cada ponto experimental observando-se um valor médio de 0,105 atm.cm3/K, o que confirma o comportamento do fluido pela Eq. (8). Não foi possível determinar o valor de R devido não se conhecer, ou não ser possível determinar, até então, a massa de ar dentro da célula. Esta limitação do equipamento experimental impede o conhecimento da massa de trabalho e também, que se opere com fluidos diferentes e de interesse para pesquisa.

As Figs. 5 e 6 confirmam a linearidade das isóbaras e isocóricas para um gás em baixa pressão.




Os dados isotérmicos [3] foram apresentados em um gráfico, como mostra a Fig. 3. Percebe-se que as curvas estão em perfeita concordância, nos aspetos qualitativos esperados pela teoria [1, 4].

A Fig. 3 confirma os experimentos de Boyle e afirmação de Charles de que o produto pV é uma função da temperatura.

5. Obtenção dos gráficos que confirmam a teoria de gás ideal

Através dos dados obtidos experimentalmente, procurou-se fazer um estudo que confirmasse os experimentos e equações publicados na literatura [1, 4]. Para se obter, os dados isobáricos e isovolumétricos, efetuou-se interpolações dos dados encontrados para pressões constantes e volumes constantes.

Visando verificar as equações de Gay-Lussac e Charles, procedeu-se em obter as Tabelas 6 e 7 a partir dos dados isotérmicos, obtendo dados empíricos isobáricos e isocóricos. A verificação das Eqs. (2) e (6) pode ser realizada através da construção de gráficos representativos a partir das Tabelas 6 e 7.

As Figs. 4 e 5 confirmam a linearidade das isóbaras e isocóricas para um gás em baixa pressão.

6. Conclusão

O equipamento experimental se presta para obtenção de dados isotérmicos pressão-volume numa faixa que vai de 23 a 60 ºC, em baixas pressões. Limitações do equipamento impedem que o mesmo seja empregado para a determinação de dados pVt de fluidos diferentes do ar atmosférico e para pressões superiores a 1,8 atm.

Não foi possível quantificar a quantidade de ar contida na célula para se determinar a constante dos gases perfeitos, entretanto foi possível verificar que existe uma constante que correlaciona todos os dados coletados e que vale em média 0,105 atm.cm3 K–1.

As Figs. 3, 4 e 5 confirmam o comportamento pVt de sistemas gasosos ideais e as teorias publicadas na literatura referente a eles.

Recebido em 12/7/2004; Revisado em 29/1/2005; Aceito em 13/4/2005

  • [1] M.M. Abbott, J.M. Smith e H.C. Van Ness, Introduçăo ŕ Termodinâmica da Engenharia Química (LTC, Rio de Janeiro, 2000), 5Ş ediçăo.
  • [2] P.W. Atkins, Physical Chemistry (Oxford University Press, 1997), 6th edition.
  • [3] R.S. Brunetto, D. Shilton e M.R. Franco Jr, Equipamento experimental para determinaçăo de dados pVt para sistemas gasosos (Relatório Interno do Laboratório de Catálise e Termodinâmica da UFU, Uberlândia, 2004).
  • [4] G. Castellan, Fundamentos de Físico-Química (LTC, Rio de Janeiro, 1989), 1Ş ediçăo.
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    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Dez 2005
    • Data do Fascículo
      Set 2005

    Histórico

    • Revisado
      29 Jan 2005
    • Recebido
      12 Jul 2004
    • Aceito
      13 Abr 2005
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