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Escrevendo o “Livro da Natureza” na linguagem da matemática: A lei de Ampère

(Writing the “Book of Nature” in the language of mathematics: Ampère's law)

Resumos

O artigo revê a dedução da lei de Ampère, como feita por ele e na mesma sequência de etapas. Indicam-se princípios que a fundamentam. A expressão da lei resultou de uma interação entre experimento e a habilidade de Ampère em “narrar” o fato na linguagem da matemática.

Palavras-chave:
lei de Ampère; corrente elétrica; força entre circuitos; história da física


This paper reviews the deduction of Ampère's law as made by Ampère himself, and following the same sequence of steps. We indicate the principles on which the law is founded. The expression of the law is the result of an interaction between experiment, and Ampère's skills to account for facts in the language of mathematics.

Keywords:
Ampère's law; electric current; force between two circuits; history of physics


1. Introdução

André-Marie Ampère comunicou à Académie Royale des Sciences, em várias sessões, entre 1820 e 1825, uma série de experimentos [1[1] João Paulo Martins de Castro Chaib, Análise do Significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com a Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica. Tese de Doutoramento, Unicamp, Campinas, 2009.]. Uma coletânea de seu trabalho foi publicada em 1827, sob o nome de “Mémoire sur la Théorie Mathématique des Phénomènes Electro-dynamiques Uniquement Déduite de l'Expérience” (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990).], traduzida na Ref. [1[1] João Paulo Martins de Castro Chaib, Análise do Significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com a Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica. Tese de Doutoramento, Unicamp, Campinas, 2009.]). Nessa Mémoire, é reproduzida a demonstração da força entre correntes, a chamada Lei de Ampère, a qual ele já havia apresentado em artigos [3[3]André-Marie Ampère, Annales de Chimie et de Physique, 20, 398, 419 (1822), disponível em www.ampere.cnrs.fr.
www.ampere.cnrs.fr...
]. A Fig. 1 ilustra a lei.

Figura 1
Lei de Ampère. A figura mostra dois circuitos. As correntes são respectivamente i e i; os elementos de circuito são respectivamente ds e ds; r liga os centros dos circuitos elementares, isto é, r=s-s, em que s e s são as posições dos centros, respectivamente.

Em notação moderna, a força entre os circuitos da figura (Lei de Ampère) é [4[4]John David Jackson, Classical Electrodynamics (John Wiley & Sons, New York, London, Sydney, 1967), sexta impressão.]1 1 No sistema CGS.

(1)F=iic2dsx(dsxr)|r|3,
em que c é a velocidade da luz. Definindo a indução magnética
(2)B(r)=ic(dsxr)|r|3,
a força pode ser escrita
(3)F=icdsxBr.

A expressão (1) é instigante dos pontos de vista físico e matemático. Matematicamente, pode-se perguntar como foi possível chegar a uma expressão tão complicada.2 2 Ela é complicada para um aluno iniciante da graduação, tanto em seu significado, quanto matematicamente, por envolver vários produtos vetoriais, o que sempre é difícil para esse aluno. Talvez por isso, livros de física básica largamente adotados nas universidades (Ref. [5], [6]) omitem a expressão (1) e apresentam somente (2) ou sua forma diferencial, ∇xB​​=4πc​j, em que j é a corrente. Além disso, limitam-se a apresentar somente um caso particular de (2), a chamada Lei de Biot-Savart (Refs. [4, p. 135]; [7, p. 197]), que fornece a indução magnética gerada por uma corrente em um fio linear, infinito, a uma distância R do fio. O resultado é obtida por integração de (2), adaptada às condições do problema [4] |B(R)|​​=i′Rc​∫−∞+∞ds′[R2+(s′)2]32=2i′cR. Fisicamente, um modo de justificar a lei, sem entrar em discussão sobre a natureza da descoberta científica [8[8] Rom Harré, The Philosophies of Science (An Introductory Survey) (Oxford University Press, Oxford, 1972).], é um enfoque histórico, no qual se analisa a construção da lei #82 como originalmente feita por Ampère — na procura dos princípios que a fundamentam e que lhe conferem racionalidade.3 3 Foi proposto [9] que a história da física tem propriedades que a tornam um bom “organizador prévio”, um conceito da teoria da Aprendizagem Significativa, constituindo-se em um facilitador do aprendizado. Uma abordagem histórica foi apresentada por José Goldemberg [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2.]; após discutir quatro experimentos auxiliares realizados por Ampère, que mostram propriedades fundamentais da força, Goldemberg conclui (Ref. [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 190]):

As informações das quatro experiências acima bastam para que se descubra a expressão analítica da força entre dois elementos de corrente […].

Mas entre os quatro experimentos e (1) existe um abismo, que foi transposto pela capacidade de Ampère em matematizar. Este artigo segue o enfoque de Goldemberg, mas com ênfase na “matematização”, isto é, na construção da complicada (1) a partir dos quatro experimentos.

A expressão (1) resultou de uma interação entre os quatro experimentos citados e a capacidade de Ampère de “narrar” o fato empírico na linguagem da Matemática, o que é expresso na metáfora do título do artigo. Autores conceituados de história, talvez por optarem por uma apresentação historiográfica exaustiva [10[10] Olivier Darrigol, Electrodynamics from Ampère to Einstein, (Oxford University Press, Oxford, 2000).], limitam-se a uma descrição sumária da dedução da lei, deixando escapar o significado do fato matemático e criando um “vazio”, como se “fazer conta” fosse, apenas, um detalhe. Abner Shimony dizia a um de nós (PMCD) que contas são classificadas em “illuminating” e “non-illuminating”; em nossa interpretação, aquelas explicam e são parte do significado físico, essas são, como o nome diz, sem brilho próprio e são só manipulações analíticas (embora, muitas vezes, brilhante manipulações). No caso de Ampère, as contas “iluminam” os pressupostos da derivação, isto é, o caminho até (9), abaixo, e a derivação de n = 2, na seção 4.5.

A seção 2 é introdutória e contextualiza as pesquisas de Ampère; ele observou o fenômeno da atração entre duas bobinas, no decurso de outros estudos (Refs. [10[10] Olivier Darrigol, Electrodynamics from Ampère to Einstein, (Oxford University Press, Oxford, 2000)., 11[11] M.P. Souza Filho, J.P.M.C. Chaib, J.J. Caluzi, A.K.T. Assis, Revista Brasileira de Ensino de Física 29, 605 (2007).]). Na seção 3, discutimos os experimentos auxiliares, ressaltando seus objetivos. Na seção 4, discutimos a dedução da força; como o objetivo é a procura do significado da lei contido nos elementos que levaram Ampère a ela, são reproduzidos os mesmos cálculos feitos na Mémoire [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990).] e na mesma seqüência de etapas; cálculos auxiliares longos (mas que nem por isso deixam de ser brilhantes), foram colocados em apêndices. A notação é muito pouco modernizada, por exemplo, com a introdução da notação vetorial, mas as componentes são, também, apresentadas; o leitor é avisado, quando uma notação não original de Ampère é introduzida, de modo a não lhe atribuir categorias que não poderia ter conhecido.

As contribuições de Ampère vão além de sua equação (o que já teria sido suficiente em uma única vida), por exemplo, os conceitos de circuito e de elementos de corrente (Ref. [10[10] Olivier Darrigol, Electrodynamics from Ampère to Einstein, (Oxford University Press, Oxford, 2000)., p. 6]). Sua motivação mais profunda (Ref. [10[10] Olivier Darrigol, Electrodynamics from Ampère to Einstein, (Oxford University Press, Oxford, 2000)., p. 7]) “[…] era estabelecer sua teoria em bases experimentais firmes e formulá-la em uma forma matemática irrepreensível”. Sobre a Lei de Ampère expressou-se James Clerk Maxwell (apud Ref. [12[12] Edmund Whittaker, A History of the Theories of Æther and Electricity, (The Philosophical Library, New York, 1951), 2 vols.; v. 1., p. 88]):

O todo, teoria e experimento, parece ter saltado, inteiramente pronto e com o instrumental completo, do cérebro do “Newton da Eletricidade”. Ela é perfeita em forma e inatingível em acuracidade; e é sumarizada em uma fórmula da qual todos os fenômenos podem ser deduzidos e que deve sempre permanecer a fórmula cardinal da eletrodinâmica.

2. A descoberta de Ampère

Em 1820, Hans Christian Ørsted observou que um longo fio, próximo a uma bússola, alterava a orientação da agulha da bússola (que é naturalmente ao longo do meridiano terrestre local), sempre que uma corrente atravessava o fio. Quando a bússola era colocada acima do fio, a agulha se desviava para leste; para oeste, se colocada abaixo. A descoberta de Ampère, de que correntes se atraem ou repelem foi feita no decurso de sua investigação do efeito relatado por Ørsted.

Ampère verificou que o efeito observado por Ørsted era, também, produzido por uma pilha, o que o levou à idéia de circuito, fechando a corrente (Ref. [10[10] Olivier Darrigol, Electrodynamics from Ampère to Einstein, (Oxford University Press, Oxford, 2000)., p. 6]).4 4 Na época, não havia um consenso sobre o funcionamento de pilhas e nem se existia uma corrente dentro dela (Ref. [10, p. 6]). As etapas importantes que levaram à observação do fenômeno formam um silogismo; seguimos a apresentação na Ref. [11[11] M.P. Souza Filho, J.P.M.C. Chaib, J.J. Caluzi, A.K.T. Assis, Revista Brasileira de Ensino de Física 29, 605 (2007).]:

  1. Ampère faz uma analogia entre correntes e o magnetismo terrestre (Ref. [13[13] André-Marie Ampère, Annales de Chimie et de Physique, 15, 170 (1820), disponível em www.ampere.cnrs.fr.
    www.ampere.cnrs.fr...
    , p. 202–203]):

    Minha primeira reflexão, quando desejei procurar as causas dos novos fenômenos descobertos pelo [Senhor] [Ørsted], foi que [—] a ordem na qual dois fatos são descobertos não fazendo nenhuma diferença nas conseqüências das analogias que eles apresentam [—] nós podemos supor que, antes de saber que a agulha imantada assume uma direção constante do sul ao norte, já tivéssemos conhecido a propriedade que ela tem de ser conduzida, por uma corrente elétrica, a uma situação perpendicular à da corrente, de modo que o pólo austral da agulha fosse levado à esquerda da corrente; e que, em seguida, se descobrisse a propriedade que ela tem de girar constantemente para o norte a extremidade que se dirigia para o lado esquerdo da corrente. A idéia mais simples, aquela que se apresentaria imediatamente àquele que desejasse explicar a direção constante do sul ao norte, não seria admitir na Terra uma corrente elétrica […]?

  2. Se o magnetismo terrestre é devido a correntes na Terra, assim o deve ser qualquer magnetismo, incluindo ímãs (Ref. [13[13] André-Marie Ampère, Annales de Chimie et de Physique, 15, 170 (1820), disponível em www.ampere.cnrs.fr.
    www.ampere.cnrs.fr...
    , p. 207]):

    Entretanto, se as correntes elétricas são a causa da ação diretriz da Terra, as correntes elétricas serão também a causa [da ação] de um ímã sobre um outro ímã; donde se segue que um ímã deve ser considerado como um conjunto de correntes elétricas que ocorrem no plano perpendicular a seu eixo, […].

  3. O próximo experimento verifica o fenômeno entre ímãs e circuitos fechados com correntes constantes (Ref. [13[13] André-Marie Ampère, Annales de Chimie et de Physique, 15, 170 (1820), disponível em www.ampere.cnrs.fr.
    www.ampere.cnrs.fr...
    , p. 207]):

    Assim, em cada um dos pólos de um ímã, as correntes elétricas em que se compõem são dirigidas ao longo de curvas fechadas concêntricas. Imitei esta disposição tanto quanto possível, com uma corrente elétrica, dobrando o fio condutor em espiral.

    O experimento de Ampère é, assim, descrito (Ref. [11[11] M.P. Souza Filho, J.P.M.C. Chaib, J.J. Caluzi, A.K.T. Assis, Revista Brasileira de Ensino de Física 29, 605 (2007)., p. 607]):

    Enrolou um fio na forma de uma espiral plana; colocou o eixo da espiral alinhado com o eixo norte-sul de um ímã em forma de barra; ao passar uma corrente constante no fio, observou uma atração ou uma repulsão entre a espiral e o ímã. A atração tornava-se uma repulsão, quando ele invertia o pólo do ímã que estava mais próximo da espiral ou quando invertia a direção da corrente elétrica que fluía através da espira

    O resultado é interpretado (Ref. [11[11] M.P. Souza Filho, J.P.M.C. Chaib, J.J. Caluzi, A.K.T. Assis, Revista Brasileira de Ensino de Física 29, 605 (2007)., p. 607]):

    A diferença principal dessa experiência em relação à experiência de [Ørsted] é que Ampère observou atrações e repulsões entre a espiral e o ímã, enquanto que [Ørsted] observou uma deflexão lateral da agulha imantada, devido a um torque exercido pelo fio com corrente.

  4. A seguir, Ampère substituiu o ímã em forma de barra por uma segunda espiral. Segundo Moacir P. Souza Filho e cols. [11[11] M.P. Souza Filho, J.P.M.C. Chaib, J.J. Caluzi, A.K.T. Assis, Revista Brasileira de Ensino de Física 29, 605 (2007).], embora Ampère não tenha justificado essa substituição, ele estaria (Ref. [11[11] M.P. Souza Filho, J.P.M.C. Chaib, J.J. Caluzi, A.K.T. Assis, Revista Brasileira de Ensino de Física 29, 605 (2007)., p. 607–608]) “dando continuidade à verificação experimental de sua hipótese inicial de que todos os efeitos magnéticos são devidos a correntes no interior dos ímãs. Logo, deveria, pois, ser possível reproduzir atrações e repulsões entre ímãs, trabalhando apenas com condutores conduzindo correntes constantes”.

Após descrever seu experimento com as duas espirais, Ampère declara (Ref. [13[13] André-Marie Ampère, Annales de Chimie et de Physique, 15, 170 (1820), disponível em www.ampere.cnrs.fr.
www.ampere.cnrs.fr...
, p. 208]):

Substituindo o ímã por uma outra espiral, cuja corrente tinha o mesmo sentido que o seu, obteve-se as mesmas atrações e repulsões; foi assim que descobri que duas correntes elétricas se atraem, quando ocorrem no mesmo sentido, e se repelem, no sentido contrário.

Os autores formulam uma tese historiográfica (Ref. [11[11] M.P. Souza Filho, J.P.M.C. Chaib, J.J. Caluzi, A.K.T. Assis, Revista Brasileira de Ensino de Física 29, 605 (2007)., p. 608]): O texto acima “[…] indica o caminho seguido por Ampère e o fato de sua descoberta da atração e repulsão entre condutores retilíneos ter vindo depois da observação da atração e repulsão entre espirais, inspirada por este último fato”.

3. Os quatro casos de equilíbrio

Os casos de equilíbrio são constituídos por quatro experimentos (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 185–199]). Esses são experimentos em que nada acontece. Por nada acontecer, as forças envolvidas estão em equilíbrio e é possível fazer inferências sobre as direções das forças ou sobre a ação de correntes. Antecipando resultados, nos dois primeiros experimentos, o aparelho básico é a chamada balança de Ampère (Fig. 2); a balança permanece equilibrada, sem girar em torno do eixo vertical; nesses experimentos (Ref. [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 190]):

[…] a noção de elemento de corrente[idl e idl é útil porque a [primeira] e [segunda] experiências mostram que a dependência da força em i e [dl] é de caráter aditivo e vetorial.

Figura 2
A balança esquematizada (Ref; [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 187]). Dois circuitos são pivotados em O e O, respectivamente, podendo girar em torno do eixo vertical OO. A corrente neles circula em sentidos opostos.
No terceiro e quarto experimentos (Ref. [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 190]):

A [quarta] experiência mostra que a força é proporcional a 1r e a [terceira], que a dependência com [rdl] e [dl] deve envolver produtos vetoriais (que são sempre perpendiculares a [dl] e ([dl]).

3.1. Primeiro caso de equilíbrio

3.1.1. Objetivo

Mostrar que (Ref. [12[12] Edmund Whittaker, A History of the Theories of Æther and Electricity, (The Philosophical Library, New York, 1951), 2 vols.; v. 1., p. 85]) “[o] efeito de uma corrente é revertido, quando a direção da corrente for revertida”. Significa que correntes iguais e opostas produzem forças iguais e opostas.

3.1.2. Descrição

O aparato é mostrado na Fig. 3 e um detalhe de AB, na Fig. 4. No experimento, qualquer que seja o ângulo formado pelo plano da balança com o condutor AB, a balança fica estacionária. Então, as correntes em AB causam forças nas correntes em bcde e bcde (Fig. 5), que exercem torques que se cancelam mutuamente (Fig. 6).

Figura 3
Experimento 1 (o aparato na Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 186–188]). Os circuitos bcde e bcde formam uma balança que pode girar em torno do eixo vertical pivotado em bb; AB é um condutor dobrado várias vêzes.
Figura 4
O fio AB (Ref. [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 188]). A figura mostra uma dobra do fio AB e as correntes nos ramos dobrados.
Figura 5
Correntes. A figura mostra as correntes nos braços da balança da Fig. 3 [1[1] João Paulo Martins de Castro Chaib, Análise do Significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com a Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica. Tese de Doutoramento, Unicamp, Campinas, 2009.].
Figura 6
Campos e forças. Aparelho da Fig. 5, visto por um observador no topo do aparelho, olhando verticalmente para baixo. F é a força; B, a indução; i a corrente. A convenção é a usual: círculo com ponto, o campo é direcionado para fora da folha de papel; círculo com cruz, o campo é direcionado para dentro da folha.

3.1.3. Diagramas de correntes e de campos e forças

As correntes na balança (Fig. 3) estão indicadas na Fig. 5 e os campos e forças, na Fig. 6.

3.2. Segundo caso de equilíbrio

3.2.1. Objetivo

Mostrar que (Ref. [12[12] Edmund Whittaker, A History of the Theories of Æther and Electricity, (The Philosophical Library, New York, 1951), 2 vols.; v. 1., p. 85]) “o efeito de uma corrente […] torcida em pequenas sinuosidades é o mesmo, se o circuito fosse retificado”.

3.2.2. Descrição

O aparato é mostrado na Fig. 7 e uma ilustração de correntes em fios retilíneo e sinuoso, na Fig. 8. No experimento (Fig. 9), a corrente percorre os condutores fixos, RS (sinuoso) e PQ (retilíneo), no mesmo sentido (ascendente), contrário ao sentido em GH (descendente). Como a ação dos dois condutores é a mesma a distâncias iguais, o fio GH é igualmente repelido por RS e por PQ, ficando estacionário no meio do intervalo entre os fios fixos (Fig. 10).

Figura 7
Experimento 2 (aparato em (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 188–194])). O circuito é formado por pabcdefgMABCDEFGHIKNhiklmnq. A parte CDEFGHIK do circuito forma uma balança, pivotada em MN; PQ (retilíneo) e RS (sinuoso) são condutores fixos; GH é móvel e está no meio do intervalo entre os dois condutores fixos.
Figura 8
Correntes em fios retilíneo e sinuoso (Ref. [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 188]). O efeito de uma corrente em um fio sinuoso é igual em intensidade ao da mesma corrente em um fio retilíneo.
Figura 9
Corrente [1[1] João Paulo Martins de Castro Chaib, Análise do Significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com a Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica. Tese de Doutoramento, Unicamp, Campinas, 2009.]. A figura é um esquema da Fig. 7; mostra as correntes nos braços da balança e nos fios retilíneo e sinuoso.
Figura 10
Campos e forças [1[1] João Paulo Martins de Castro Chaib, Análise do Significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com a Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica. Tese de Doutoramento, Unicamp, Campinas, 2009.]. Aparelho da Fig. 7, visto por um observador no topo do aparelho, olhando verticalmente para baixo. A convenção é a mesma da Fig. 6.

3.2.3. Diagramas de correntes e de campos e forças

As correntes na balança estão indicadas na Fig. 9 e os campos e forças, na Fig. 10.

3.3. Terceiro caso de equilíbrio

3.3.1. Objetivo

Mostrar que (Ref. [12[12] Edmund Whittaker, A History of the Theories of Æther and Electricity, (The Philosophical Library, New York, 1951), 2 vols.; v. 1., p.85]) “[a] força exercida por um circuito fechado, em um elemento de outro circuito faz um ângulo reto com este [circuito]”.

3.3.2. Descrição

O aparato é mostrado na Fig. 11. No experimento (Fig. 11 e Fig. 12), se o centro do arco BB é inicialmente alinhado com o eixo GH, ao ao ligar a corrente, BB desliza sobre os recipientes de mercúrio, M e M, de modo a alinhar O com GH, onde permanece imóvel. Significa que o torque é perpendicular ao arco, por onde passa a corrente (Fig. 13).

Figura 11
Experimento 3 (o aparato na Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 194–197]). MA e MB são recipientes com mercúrio sobre os quais o condutor AA desliza. O circuito total é formado (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 196]): “1° Do arco BB e dos condutores MN e MN; 2° De um circuito que se compõe das partes RIP, PIR do aparelho, do condutor curvilíneo indo de R a S e da própria pilha”.
Figura 12
Fig. 11 esquematizada (Ref. [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 188]). O esquema clarifica detalhes da Fig. 11.
Figura 13
Correntes, campos e forças. O diagrama [1[1] João Paulo Martins de Castro Chaib, Análise do Significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com a Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica. Tese de Doutoramento, Unicamp, Campinas, 2009.] mostra a corrente, a direção de B e de F.

3.3.3. Diagrama de correntes, campos e forças

A Fig. 13 é um esquema do circuito. Nela estão indicados a corrente no circuito, os campos e as forças emBB.

3.4. Quarto caso de equilíbrio

3.4.1. Objetivo

Mostrar que (Ref. [12[12] Edmund Whittaker, A History of the Theories of Æther and Electricity, (The Philosophical Library, New York, 1951), 2 vols.; v. 1., p. 85]) “[a] força entre dois elementos de circuitos não é afetada, quando todos as dimensões lineares crescem proporcionalmente, mantendo inalterada a intensidade da corrente”. Significa que o sistema de círculos (Fig. 14) está em equilíbrio, se os círculos forem construídos na razão geométrica dos raios r1=r,r2=λr,r3=λ2r2r e as distâncias estiverem na razãoOO=d,OO=λd.

Figura 14
Experimento 4 (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 197–199]). A primeira parte do circuito é ABCDEFGHI; a segunda parte, IKLMNPQRS, é móvel e pivota em torno de GHS; a terceira parte é STUV XY EA; A e A são, respectivamente, ligados aos pólos da pilha. As setas indicam o sentido da corrente no circuito. As espirais estão no plano da bancada. A espiral do meio, MNP, pode girar com o circuito móvel, as outras espirais, CDE e VXY, são fixas.

3.4.2. Descrição

O aparato é mostrado na Fig. 14 e na Fig. 15. As três espirais são similares, isto é, distâncias homólogas são proporcionais, de modo que seus raios estão na proporção 1,λ,λ2. A espiral central (LMNPQ) pode pivotar em torno do eixo KRQ. No experimento, é mostrado que a espiral central fica estacionária, quando as distâncias entre os centros OO e OO estão na razão de similaridade

OOOO=raio do círculo da esquerdaraio do círculo do meio=raio do círculo do meioraio do círculo da direita=1λ.

Figura 15
Fig. 14 esquematizada (Ref. [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 189]).

Significa que as forças de um lado e do outro da espiral central se cancelam (Fig. 16).

Figura 16
Correntes, campos e forças nas espirais [1[1] João Paulo Martins de Castro Chaib, Análise do Significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com a Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica. Tese de Doutoramento, Unicamp, Campinas, 2009.]. A convenção é a mesma da Fig. 6.

3.4.3. Diagrama de correntes, campos e forças

A Fig. 16 mostra as direções das correntes, forças e campos em cada espiral.

4. A expressão matemática da nova lei

Ampère (Ref. [12[12] Edmund Whittaker, A History of the Theories of Æther and Electricity, (The Philosophical Library, New York, 1951), 2 vols.; v. 1., p. 83]) “[proclama-se] um seguidor da escola que explica todos os fenômenos físicos em termos de forças iguais e diretamente opostas, entre pares de partículas”. Parece que o experimento 1 suporta essa consideração; o experimento 2 suporta a consideração de elementos infinitesimais (portanto lineares) de corrente. Posto isso, Ampère estabelece uma lei entre elementos de corrente.

4.1. Determinação das variáveis envolvidas na lei

Ampère inicia os cálculos, estabelecendo que a força é proporcional aos comprimentos dos elementos de circuito, ds e ds (Fig. 1); indicando a força por d2F (o que ele não fez)

d2Fds×ds.

Ampère assim o justifica (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 199]):

Inicialmente, é evidente que a ação mútua de dois elementos de correntes elétricas é proporcional a seus comprimentos; pois, ao supô-los divididos em partes infinitesimalmente pequenas, iguais à sua medida comum, todas as atrações ou repulsões dessas partes, podendo ser consideradas como sendo dirigidas segundo uma mesma reta, ajuntando-se necessariamente.

Segundo Edmund Whittaker, isso depende do experimento 2 (Ref. [12[12] Edmund Whittaker, A History of the Theories of Æther and Electricity, (The Philosophical Library, New York, 1951), 2 vols.; v. 1., p. 85]):

[Do experimento 2], vemos que o efeito de ds em ds é a soma vetorial dos efeitos de dx, dy, dz em ds, em que essas são as três componentes de ds

Depois, Ampère estabelece que a força é proporcional às correntes, i e i (Fig. 1)
d2Fi×i;
ele assim o justifica (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p.199]):

Esta mesma ação deve, ainda, ser proporcional às intensidades das duas correntes. Para exprimir, em números, a intensidade de uma corrente qualquer, concebe-se que se tenha escolhido uma outra corrente arbitrária como termo de comparação, que se tenha pego dois elementos iguais em cada uma dessas correntes, que se tenha procurado a razão entre as ações que elas exercem a uma mesma distância sobre um mesmo elemento de qualquer outra corrente, na situação em que ela [a corrente teste] lhes seja paralela [às outras duas] e na qual sua direção seja perpendicular às retas que ligam seu meio ao meio dos outros dois elementos. Essa razão será a medida de uma das intensidades, tomando a outra como unidade.

Então para elementos de corrente paralelos entre si
d2Fi×i×ds×ds,
ou, nas palavras de Ampère, tacitamente invocando o experimento 3 (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 200]):

[…] suas ações mútuas [i.e., dos elementos de circuito], quando eles são perpendiculares à linha que liga seus meios, paralelos entre si e situados a uma unidade de distância, um do outro, será expressa por iidsds; que tomaremos com o sinal + quando as duas correntes, indo no mesmo sentido, se atraem, e com sinal -, no caso contrário.

Generalizando à situação de interação, em que os elementos de corrente não mais são paralelos (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 200]):

[…] [considerando] dois elementos colocados de uma maneira qualquer, sua ação mútua dependerá de seus comprimentos, das intensidades das correntes das quais eles fazem parte e de suas posições respectivas.

A posição respectiva dos elementos de circuito é determinada por (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 200]):

Essa posição pode-se determinar por meio do comprimento r da reta que liga os seus centros, dos ângulos θ e θ que fazem, com um mesmo prolongamento desta reta, as direções de dois elementos tomados no sentido de suas correntes respectivas e, enfim, do ângulo ω que fazem entre eles os planos traçados por cada uma destas direções e pela reta que liga o centro dos elementos.

ou seja, as grandezas definindo a posição dos elementos de circuito são mostradas na Fig. 17.

Figura 17
Variáveis de direção. O vetor r liga os centros dos elementos de circuito e r^ é o unitário em sua direção; ds e r^ formam um plano e ds e r^, outro plano; o ângulo entre os planos é ω.

Então, introduzindo uma função, até aqui desconhecida, dos ângulos (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 201])

d2Fρ(θ,θ,ω)×(i×i×ds×ds).

Ampère introduz uma hipótese para a dependência em r (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 200–201]):

A consideração de diversas atrações ou repulsões observadas na natureza me levou a crer que a força, cuja expressão procuro, agia na razão inversa da distância; eu a suporei, para maior generalidade, na razão inversa da n-ésima potência dessa distância, n sendo uma constante a ser determinada.

Finalmente, a expressão mais geral da força é

(4)d2F=ρθ,θ,ωi×i×ds×dsrn.

Ampère determina ρ (Eq. (9), abaixo) e mostra que n = 2.

4.1.1. Valor de ρ em uma situação simples

Se ad for transportado paralelo a si mesmo, ao longo de um círculo com centro no meio de ad, ocupando as posições ad, ad, como na Fig. 18, continuará a ser ω=0;θ e θ são ou iguais ou suplementares. Assim, nessa situação, será (ρϕθ,θ) e

d2F=ϕθ,θi×i×ds×dsrn,
sendo dsds e situados em um mesmo plano. Quando ad tiver girado de 90°, chegando finalmente a ad, estará no prolongamento de ad; θ=θ=0 e nessa situação (ρ já independe das outras variáveis) será ρ=k=constante e
(5)d2F=ki×i×ds×dsrn(ds e dsna mesma linha).

Figura 18
Elementos de circuito paralelos. (Fig. 5 na Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990).]) ad e ad são dois elementos de circuito perpendiculares a r; ω=0; θ e θ são fixos e iguais a ±π2, dependendo do sentido das correntes.

4.2. Determinação das componente dos elementos de circuitos que interagem entre si

4.2.1. Teorema: A influência mútua dos elementos de correntes é somente entre elementos paralelos

O teorema estabelece que componentes de correntes perpendiculares entre si não interagem, de modo que a influência mútua é, apenas, entre as componentes paralelas (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 202]):

[…] [uma] porção infinitamente pequena de corrente elétrica não exerce nenhuma ação sobre uma outra porção infinitamente pequena de uma corrente situada em um plano que passa por seu meio e que é perpendicular a sua direção.

Parafraseando a demonstração: As duas metades do circuito perpendicular ao plano produzem, sobre o circuito no plano, ações iguais que se cancelam, pois, em uma metade do primeiro circuito, a corrente se aproxima do plano e, na outra, se afasta. Esta afirmativa pressupõe os experimentos 1 e 2; quando o circuito perpendicular ao plano tende para zero, as forças tendem a ser iguais e opostas, paralelas ao plano, e se cancelam.

4.2.2. A várias componentes dos elementos de circuitos

Vetores nos planos das correntes com r^ podem ser escritos em termos dos eixos, de modo que

ds=dscosθr^+sinθζ^,ds=dscosθr^+sinθζ^.

Inspeção da figura mostra que ζ^.ζ^=cosω. Portanto

ds.ds=dsdscosθcosθ+sinθsinθcosωdsdscosϵ,
em que
(6)cosϵ=cosθcosθ+sinθsinθcosω.

As várias componentes dos elementos dos circuitos são (Fig. 19)

  1. Componentes dos elementos dos circuitos na direção de r^

    dsrds.r^=dscosθdsrds.r^=dscosθ.

  2. Componentes dos elementos dos circuitos na direção perpendicular a r^
    1. Em seus respectivos planos com r^

      dsζ|dsxr^|=dssinθ,dsζ|dsxr^|=dssinθ.

    2. Como os planos não são perpendiculares, essas componentes, quando respectivamente projetadas no plano ao qual não pertencem, produzem componentes perpendiculares a r^

      no planods,r:dsζds.ζ^=dssinθcosω.no planods,r:dsζds.ζ^=dssinθcosω.

Figura 19
Componentes dos elementos de circuito. ζ̂ é o eixo perpendicular a r̂, no plano (ds,r̂);ζ̂ o eixo perpendicular a r̂ no plano (ds,r̂);AB¯B;AB¯ plano(ds,r̂);oA¯AB¯, pois oA¯ pertence ao plano (ds,r̂);ζ̂; então AB¯=ds.B̂ e OA¯=|dsxB̂|. Os elementos de circuito estão em preto; as componentes que interagem entre si estão com a mesma cor (vermelho em um caso, verde em outro); outras projeções estão em azul e amarelo. Ângulos de 90° são indicados pelo sinal convencional (um quadrado dentro do qual há um ponto).

4.2.3. As componentes dos elementos dos circuitos que interagem

São as componentes paralelas entre si (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 203])

  1. Na direção r̂

    (7)dsr=dscosθ,edsr=dscosθ.

  2. Na direção r̂

    São as componentes no plano (ds,r)

    (8)dζsds.ζ^=dssinθcosω,edssinθ.

    Ou alternativa e eqüivalentemente, as componentes no plano (ds,r)

    dζsds.ζ^=dssinθcosω,edssinθ.

4.3. A Força entre os circuitos

A interação é na direção perpendicular a ambos circuitos (experimento 3), que é r̂. Portanto a força é dada pelos dois conjuntos de Eqs. (7) e (8):

  1. Força definida pelo conjunto (8) (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 203]):

    d2Fr1=iidsdsrnsinθsinθcosω.

  2. Força definida pelo conjunto (7) (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 204]):

    d2Fr2=kiidsdsrncosθcosθ.

A força total tem a direção r̂ e o módulo é a soma d2Fr1+d2Fr2 (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 204]):

(9) d 2 F r = i i d s d s r n sin θ sin θ cos ω + k cos θ cos θ .

4.4. As componentes cartesianas da força

A expressão (9) já é a solução. Mas Ampère obtém as componentes cartesianas. Inicialmente, a Eq. (9) tem de ser posta em uma forma que permita escrever as variáveis em termos de suas componentes cartesianas; por exemplo, não é fácil obter cosω.

Inicialmente, fazendo h=k-1 na Eq. (9) e notando que cosϵ é definido na Eq. (6), Ampère re-escreve a Eq. (9) (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 204])

(10)d2Fr=iidsdsrncosϵ+hcosθcosθ.

Após um longo cálculo (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 207–212]), apresentado nos apêndices A A Cálculos intermediários para provar a Eq. (11) Seja (Ref. [2, p. 206]) coordenadas do centro de d s x , y , z , coordenadas do centro de d s ′ x ′ , y ′ , z ′ . Logo, ds = d x i ̂ + d y j ̂ + d z k ̂ , ds ′ = d x ′ i ̂ + d y ′ j ̂ + d z ′ k ̂ . A distância entre os centros é (Ref. [2, p. 206]) r = ( x − x ′ ) 2 + ( y − y ′ ) 2 + ( z − z ′ ) 2 . O vetor unitário nas direção dos centros é5 r ̂ = x − x ′ r i ̂ + y − y ′ r j ̂ + z − z ′ r k ̂ . A1. Re-escrevendo a Eq. (6) Os cossenos dos ângulos de ds e ds′ com os eixos, î, ĵ e k̂ são, respectivamente, ds.î=dxds, ds.ĵ=dyds, ds.k̂=dzds e ds′.î=dx′ds′, ds′.ĵ=dy′ds′, ds′.k̂=dy′dz′. Então ds.ds′=dsds′[dxdsdx′ds′+dydsdy′ds′+dzdsdz′ds′]; por outro lado (Eq. (6)) dsds.ds′ds′≡cosϵ=(cosθcosθ′+sinθsinθ′cosω). Logo, a Eq. (6) pode ser escrita em termos dos cossenos diretores (22)cosϵ=dxdsdx′ds′+dydsdy′ds′+dzdsdz′ds′. A2. Re-escrevendo a Eq. (22) Pela definição de cosseno diretor, cosθ=drds e cosθ′=−drds′; Ampère calcula essas derivadas para obter as Eqs. (23) e (24), abaixo.6 Mas para o leitor moderno, é melhor proceder como se segue (23)cosθ=ds.r̂ds=x−x′rdxds+y−y′rdyds+z−z′rdzds≡drds, (24)cosθ′=ds′.r̂ds′=x−x′rdx′ds′+y−y′rdy′ds′+z−z′rdz′ds′≡drds′. ou (Ref. [2, p. 206]) rdrds=(x−x′)dxds+(y−y′)dyds+(z−z′)dzds,rdrds′=−(x−x′)dxds′−(y−y′)dyds′−(z−z′)dzds′. Derivando rdrds em relação s′ (Ref. [2, p. 207]) rd2rdsds′+drdsdrds′=(dxds′−dx′ds′)dxds+(x−x′)d2xdsds′+etc. como as coordenadas cartesianas sem linha independem de s′ e vice-versa, só sobra (Ref. [2, p. 207]) (25)rd2rdsds′+drdsdrds′=-dxdsdx′ds′-dydsdy′ds′-dzdsdz′ds′≡-cosϵ. e B B Demonstração da Eq. (11) Substituindo a Eq. (25) na Eq. (10) e lembrando que h=k-1 d2Fr=ii′dsds′rn-rd2rdsds′-drdsdrds′-hdrdsdrds′=-ii′dsds′rnrd2rdsds′+kdrdsdrds′≡-ii′dsds′rn×1rk-1×drkdrdsds′, ou d2Fr=-ii′r1-n-kdrkdrdsds′dsds′. Lembrando que cosθ=drds, obtém-se a força em ds (Ref. [2, p. 207]) d2Fr=-ii′r1-n-kdrkcosθds′dsds′=-ii′r1-n-kdrkcosθds; trocando s por s′ e lembrando que -cosθ′=drds′, a força no circuito ds′ é (Ref. [2, p. 208]) ii′r1-n-kdrkcosθ′dsdsds′=ii′r1-n-kdrkcosθ′ds′. Finalmente, a Eq. (11) é obtida, fazendo 1-n=2k (Ref. [2, p. 212]): a forca em ds ed2Fr=−ii′rkdds′(rkcos⁡θ)dsds′=−ii′rkd(rkcos⁡θ)ds;a forca em ds′ ed2Fr=ii′rkdds(rkcos⁡θ′)dsds′=ii′rkd(rkcos⁡θ′)ds′. B1. Demonstração de 11-n-2k=0 A força em cada um dos circuitos elementares é na direção r̂ ligando seus meios; como θ′ é o ângulo entre r̂ e ds′, a componente da força ao longo de ds′ é (Ref. [2, p. 208]) d2Fs'=ii'r1−n−2k(rkcos⁡θ')d(rkcos⁡θ')dsdsds'≡ii'r1−n−2k12dds(rkcos⁡θ')2dsds'. Multiplicando e dividindo por rk e agrupando termos d2Fs′=ii′r1−n−k(rkcosθ′)d(rkcosθ′)dscosθ′dsds′≡ii′r1−n−2k12dds(rkcosθ′)2dsds′. Desenvolvendo as derivadas (não apresentado p or Ampère) d2Fs′=ii′r1−n−2k12dds(rkcosθ′)2dsds′=ii′2ds′ds×{dds[r1−n−2k(rkcosθ′)2]−(rkcosθ′)2dds(r1−n−2k)}=ii′2ds′[dds(r1−ncos2θ′)−r2kcos2θ′(1−n−2k)r−n−2kdrds]. Integrando em ds, sobre um circuito fechado, a força em um elemento ds′ é (Ref. [2, p. 209]) dFs'=ii'2ds'×[(r1−ncos⁡2θ')|s=0s=0−∫r2kcos⁡2θ'(1−n−2k)r−n−2kdr]=ii'2ds'×[(r1−ncos⁡2θ')|s=0s=0−(1−n−2k)∫cos⁡2θ'r−ndr]. Ampère invoca o experimento 3 (Ref. [2, p. 208]): Examinemos, entretanto, o que resulta do terceiro caso de equilíbrio […], o qual demonstra que a componente da ação de um circuito fechado qualquer sobre um elemento, segundo a direção desse elemento é sempre nula, qualquer que seja a forma do circuito. Então, dFs′=0. O primeiro termo é obviamente igual a zero. Ampère produz um exemplo em que o segundo não é zero; logo, a única possibilidade é 1-n-2k=0 e n=1-2k. Para produzir um exemplo em que o primeiro termo é diferente de zero, Ampère imagina esferas infinitesimalmente próximas, com centro no meio de ds′. Essas esferas cortam o circuito em pontos simétricos em relação ao centro de ds′, resultando em dr's iguais mas de sinal oposto; quanto aos valores de cos2θ′ (Ref. [2, p. 209]): […] os valores de cos2θ′ podem ser diferentes e haverá uma infinidade de maneiras de fazê-lo [de escolher os raios das esferas] de modo que os quadrados de todos os cossenos relativos aos pontos situados de um mesmo lado entre os pontos extremos do circuito sejam menores que os relativos aos pontos correspondentes do outro lado; , a Eq. (10) é re-escrita (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 212])

(11)d2Fr=iirkddsrkcosθdsds.

A Eq. (11) envolve variáveis que podem ser escritas em termos das variáveis cartesianas. Os vetores r̂ e ds podem ser escritos em termos de seus cossenos diretores com î, ĵ, k̂

(12)r̂=xrî+yrĵ+zrk̂,
(13)ds=ds(cosλî+cosμĵ+cosvk̂)
(14)cosθ=ds.r̂ds=xrcosλ+yrcosμ+zrcosν.

Substituindo as Eqs. (12), (13) e (14) na Eq. (11), a força em ds é (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 213])

(15)d2Fr=iirkdsdrkcosθ=iirkdsrk×drk-1xcosλycosμ+zcosν.

É demonstrado (apêndice C) que a força (15) tem as componentes cartesianas (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 214])

(16)dX=12iids(Ccosμ-Bcosν),
(17)dY=12iids(AcosνBcosλ),
(18)dZ=12iids(BcosλAcosμ),
em que
(19)A=ydzzdyrn+1[rxds]componentexrn+1,
(20)B=zdxxdzrn+1[rxds]componentexrn+1,
(21)C=xdyydyrn+1[rxds]componentezrn+1,

Como dscosλ=ds.î, dscosμ=ds.ĵ e dscosν=ds.k̂, o leitor moderno reconhece que

X=12iidsyC-dszB12iidsxrxdscomponentexrn+1,Y=12iidszA-dsxC12iidsxrxdscomponenteyrn+1,Z=12iidsxB-dsyA12iidsxrxdscomponentezrn+1.

4.5. A dependência da distância (n = 2)

Ampère demonstra que a força entre dois circuitos fechados, finitos, de áreas respectivamente Λ e Λ, situados no mesmo plano, age ao longo da reta ligando os centros e é igual a (p. 231)

nn-12iiΛΛrn+2.

A dedução é longa (da página 222 à página 231), cheia de resultados intermediários, e nada acrescentaria ao que já foi feito e basta citar sua interpretação (p. 231):

… pode-se obter a ação mútua de dois circuitos finitos, situados em um mesmo plano, considerando que suas áreas estejam divididas em elementos infinitamente pequenos, em todas as direções, e supondo que esses elementos ajam, um sobre o outro, segundo a reta que os liga, em razão direta das áreas e inversa da potência n + 2 de sua distâncias.

A ação mútua das correntes fechadas não sendo função senão da distância, tira-se essa conseqüência importante, [a saber] que não pode resultar dessa ação um movimento de rotação contínuo.

A expressão acima (p. 231) “conduz à determinação do valor de n”, segundo Ampère. Suponha que os circuitos sejam similares, de tal modo que distâncias lineares estejam na proporção λ. Então, as pequenas áreas similares estão na proporção λ2, enquanto as distâncias entre elas, na proporção m. Então, as forças nos circuitos infinitesimais homólogos são

nn-12iiΛΛrn+2,enn-12iiΛΛrn+2λ4λn+2.

Ora, pelo experimento 4, as forças são iguais, então

λ4λn+2=1n+2-4=0n=2.

5. A direção da força após integração

Em notação vetorial, a força é

=ii2dsxr̂xdsr2.

Com escolha apropriada de unidades, se torna F (1).

Ampère não escreveu a expressão vetorial. Mas ele fez uma tentativa de achar a direção de . Ampère define a reta “diretriz” (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 215])

B=Aî+Bĵ+Ck^,ouB=r̂xdsr2,
a menos de sinais e escolha apropriada de unidades, isso é a indução magnética (2).

A diretriz é perpendicular a d, o que se constata, multiplicando as Eqs. (16), (17) e (18) respectivamente por A, B, C e somando (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 215])

.d=0.

A força d, de componentes das Eqs. (16), (17) e (18), é, também, perpendicular a ds. De modo que d está em um plano perpendicular a ambos,ds e , o plano OBA (Fig. 19); Ampère chama esse plano de plano diretor.

Finalmente,

=ii2dsx.

  • 1
    No sistema CGS.
  • 2
    Ela é complicada para um aluno iniciante da graduação, tanto em seu significado, quanto matematicamente, por envolver vários produtos vetoriais, o que sempre é difícil para esse aluno. Talvez por isso, livros de física básica largamente adotados nas universidades (Ref. [5[5] David Halliday & Robert Resnick & Kenneth Krane Física 3 (LTC - Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, 2004), 4 vols.; vol. 3.], [6[6] Paul A. Tipler, Física (Para Cientistas e Engenheiros) (LTC - Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, 2000), quarta edição, 2 vols., vol. 2.]) omitem a expressão (1) e apresentam somente (2) ou sua forma diferencial, xB=4πcj, em que j é a corrente. Além disso, limitam-se a apresentar somente um caso particular de (2), a chamada Lei de Biot-Savart (Refs. [4[4]John David Jackson, Classical Electrodynamics (John Wiley & Sons, New York, London, Sydney, 1967), sexta impressão., p. 135]; [7[7] José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2., p. 197]), que fornece a indução magnética gerada por uma corrente em um fio linear, infinito, a uma distância R do fio. O resultado é obtida por integração de (2), adaptada às condições do problema [4[4]John David Jackson, Classical Electrodynamics (John Wiley & Sons, New York, London, Sydney, 1967), sexta impressão.] |B(R)|=iRc+ds[R2+(s)2]32=2icR.
  • 3
    Foi proposto [9[9] Murilo de F. Magalhães, Wilma M.S. Santos, Penha M.C. Dias, Revista Brasileira de Ensino de Física, 24, 489 (2002).] que a história da física tem propriedades que a tornam um bom “organizador prévio”, um conceito da teoria da Aprendizagem Significativa, constituindo-se em um facilitador do aprendizado.
  • 4
    Na época, não havia um consenso sobre o funcionamento de pilhas e nem se existia uma corrente dentro dela (Ref. [10[10] Olivier Darrigol, Electrodynamics from Ampère to Einstein, (Oxford University Press, Oxford, 2000)., p. 6]).
  • 5
    Essa definição difere da definição na Eq. (12); Ampère mudou a notação. Mas isso não altera o resultado, pois (11) envolve somente a distância escalar, r.
  • 6
    As Eqs. (23) e (24) expressam o fato que r depende implicitamente das variáveis independentes s e s′ e explicitamente das variáveis x, y, z, x′, y′ e z′; a dependência funcional de r é r(x (s), y(s), z(s); x′(s′), y′(s′), z′(s′). Portanto, as derivadas parciais de r em s e s′ são obtidas derivando parcialmente r, respectivamente, em relação às variáveis, x, y, z e x′, y′, z′ e cada uma dessas totalmente em relação a s ou s′. Para enfatizar que as derivadas em s e s′ são totais, alguns autores introduzem um símbolo diferenciado sobre a notação de derivada parcial, por exemplo, ; assim, deveria ser cosθ=rs e cosθ′=rs′. No tempo de Ampère, o símbolo para derivadas parciais não era usado. Além disso, o preciosismo na notação em nada altera a Eq. (11), que se tornaria iir1nks(rkcosθ)dsds=iir1nks(rkrs)dsds, na qual as derivadas são totais em relação às variáveis s e s′.

Referências

  • [1]
    João Paulo Martins de Castro Chaib, Análise do Significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com a Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica Tese de Doutoramento, Unicamp, Campinas, 2009.
  • [2]
    André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990).
  • [3]
    André-Marie Ampère, Annales de Chimie et de Physique, 20, 398, 419 (1822), disponível em www.ampere.cnrs.fr.
    » www.ampere.cnrs.fr
  • [4]
    John David Jackson, Classical Electrodynamics (John Wiley & Sons, New York, London, Sydney, 1967), sexta impressão.
  • [5]
    David Halliday & Robert Resnick & Kenneth Krane Física 3 (LTC - Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, 2004), 4 vols.; vol. 3.
  • [6]
    Paul A. Tipler, Física (Para Cientistas e Engenheiros) (LTC - Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, 2000), quarta edição, 2 vols., vol. 2.
  • [7]
    José Goldemberg, Física Geral e Experimental (Editora Nacional, São Paulo, 1970), vol. 2.
  • [8]
    Rom Harré, The Philosophies of Science (An Introductory Survey) (Oxford University Press, Oxford, 1972).
  • [9]
    Murilo de F. Magalhães, Wilma M.S. Santos, Penha M.C. Dias, Revista Brasileira de Ensino de Física, 24, 489 (2002).
  • [10]
    Olivier Darrigol, Electrodynamics from Ampère to Einstein, (Oxford University Press, Oxford, 2000).
  • [11]
    M.P. Souza Filho, J.P.M.C. Chaib, J.J. Caluzi, A.K.T. Assis, Revista Brasileira de Ensino de Física 29, 605 (2007).
  • [12]
    Edmund Whittaker, A History of the Theories of Æther and Electricity, (The Philosophical Library, New York, 1951), 2 vols.; v. 1.
  • [13]
    André-Marie Ampère, Annales de Chimie et de Physique, 15, 170 (1820), disponível em www.ampere.cnrs.fr.
    » www.ampere.cnrs.fr

A Cálculos intermediários para provar a Eq. (11)

Seja (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 206])

coordenadas do centro de d s x , y , z , coordenadas do centro de d s x , y , z .

Logo,

ds = d x i ̂ + d y j ̂ + d z k ̂ , ds = d x i ̂ + d y j ̂ + d z k ̂ .

A distância entre os centros é (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 206])

r = ( x x ) 2 + ( y y ) 2 + ( z z ) 2 .

O vetor unitário nas direção dos centros é5 5 Essa definição difere da definição na Eq. (12); Ampère mudou a notação. Mas isso não altera o resultado, pois (11) envolve somente a distância escalar, r.

r ̂ = x x r i ̂ + y y r j ̂ + z z r k ̂ .
A1. Re-escrevendo a Eq. (6)

Os cossenos dos ângulos de ds e ds com os eixos, î, ĵ e k̂ são, respectivamente, ds.î=dxds, ds.ĵ=dyds, ds.k̂=dzds e ds.î=dxds, ds.ĵ=dyds, ds.k̂=dydz. Então

ds.ds=dsds[dxdsdxds+dydsdyds+dzdsdzds];
por outro lado (Eq. (6))
dsds.dsdscosϵ=(cosθcosθ+sinθsinθcosω).

Logo, a Eq. (6) pode ser escrita em termos dos cossenos diretores

(22)cosϵ=dxdsdxds+dydsdyds+dzdsdzds.

A2. Re-escrevendo a Eq. (22)

Pela definição de cosseno diretor, cosθ=drds e cosθ=drds; Ampère calcula essas derivadas para obter as Eqs. (23) e (24), abaixo.6 6 As Eqs. (23) e (24) expressam o fato que r depende implicitamente das variáveis independentes s e s′ e explicitamente das variáveis x, y, z, x′, y′ e z′; a dependência funcional de r é r(x (s), y(s), z(s); x′(s′), y′(s′), z′(s′). Portanto, as derivadas parciais de r em s e s′ são obtidas derivando parcialmente r, respectivamente, em relação às variáveis, x, y, z e x′, y′, z′ e cada uma dessas totalmente em relação a s ou s′. Para enfatizar que as derivadas em s e s′ são totais, alguns autores introduzem um símbolo diferenciado sobre a notação de derivada parcial, por exemplo, ∂⌣; assim, deveria ser cosθ=∂⌣r∂s e cosθ′=∂⌣r∂s′. No tempo de Ampère, o símbolo ∂ para derivadas parciais não era usado. Além disso, o preciosismo na notação em nada altera a Eq. (11), que se tornaria −ii′r1−n−k∂⌣∂s′(rkcosθ)dsds′=−ii′r1−n−k∂⌣∂s′(rk∂⌣r∂s)dsds′, na qual as derivadas são totais em relação às variáveis s e s′. Mas para o leitor moderno, é melhor proceder como se segue

(23)cosθ=ds.r̂ds=xxrdxds+yyrdyds+zzrdzdsdrds,
(24)cosθ=ds.r̂ds=xxrdxds+yyrdyds+zzrdzdsdrds.

ou (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 206])

rdrds=(xx)dxds+(yy)dyds+(zz)dzds,rdrds=(xx)dxds(yy)dyds(zz)dzds.

Derivando rdrds em relação s (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 207])

rd2rdsds+drdsdrds=(dxdsdxds)dxds+(xx)d2xdsds+etc.

como as coordenadas cartesianas sem linha independem de s e vice-versa, só sobra (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 207])

(25)rd2rdsds+drdsdrds=-dxdsdxds-dydsdyds-dzdsdzds-cosϵ.

B Demonstração da Eq. (11)

Substituindo a Eq. (25) na Eq. (10) e lembrando que h=k-1

d2Fr=iidsdsrn-rd2rdsds-drdsdrds-hdrdsdrds=-iidsdsrnrd2rdsds+kdrdsdrds-iidsdsrn×1rk-1×drkdrdsds,

ou

d2Fr=-iir1-n-kdrkdrdsdsdsds.

Lembrando que cosθ=drds, obtém-se a força em ds (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 207])

d2Fr=-iir1-n-kdrkcosθdsdsds=-iir1-n-kdrkcosθds;

trocando s por s e lembrando que -cosθ=drds, a força no circuito ds é (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 208])

iir1-n-kdrkcosθdsdsds=iir1-n-kdrkcosθds.

Finalmente, a Eq. (11) é obtida, fazendo 1-n=2k (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 212]): a forca em ds ed2Fr=iirkdds(rkcosθ)dsds=iirkd(rkcosθ)ds;a forca em ds′ ed2Fr=iirkdds(rkcosθ)dsds=iirkd(rkcosθ)ds.

B1. Demonstração de 11-n-2k=0

A força em cada um dos circuitos elementares é na direção r̂ ligando seus meios; como θ é o ângulo entre r̂ e ds, a componente da força ao longo de ds é (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 208])

d2Fs'=ii'r1n2k(rkcosθ')d(rkcosθ')dsdsds'ii'r1n2k12dds(rkcosθ')2dsds'.

Multiplicando e dividindo por rk e agrupando termos

d2Fs=iir1nk(rkcosθ)d(rkcosθ)dscosθdsdsiir1n2k12dds(rkcosθ)2dsds.

Desenvolvendo as derivadas (não apresentado p or Ampère)

d2Fs=iir1n2k12dds(rkcosθ)2dsds=ii2dsds×{dds[r1n2k(rkcosθ)2](rkcosθ)2dds(r1n2k)}=ii2ds[dds(r1ncos2θ)r2kcos2θ(1n2k)rn2kdrds].

Integrando em ds, sobre um circuito fechado, a força em um elemento ds é (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 209])

dFs'=ii'2ds'×[(r1ncos2θ')|s=0s=0r2kcos2θ'(1n2k)rn2kdr]=ii'2ds'×[(r1ncos2θ')|s=0s=0(1n2k)cos2θ'rndr].

Ampère invoca o experimento 3 (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 208]):

Examinemos, entretanto, o que resulta do terceiro caso de equilíbrio […], o qual demonstra que a componente da ação de um circuito fechado qualquer sobre um elemento, segundo a direção desse elemento é sempre nula, qualquer que seja a forma do circuito.

Então, dFs=0. O primeiro termo é obviamente igual a zero. Ampère produz um exemplo em que o segundo não é zero; logo, a única possibilidade é 1-n-2k=0 e n=1-2k.

Para produzir um exemplo em que o primeiro termo é diferente de zero, Ampère imagina esferas infinitesimalmente próximas, com centro no meio de ds. Essas esferas cortam o circuito em pontos simétricos em relação ao centro de ds, resultando em dr's iguais mas de sinal oposto; quanto aos valores de cos2θ (Ref. [2[2] André-Marie Ampère, in: Réimpression du Mémoire Fondamental d'André-Marie Ampère Paru en 1827 dans les Mémoires de l'Académie Royale des Sciences de l'Institut de France, Année 1823 (Editions Jacques Gabay, Sceaux, 1990)., p. 209]):

[…] os valores de cos2θ podem ser diferentes e haverá uma infinidade de maneiras de fazê-lo [de escolher os raios das esferas] de modo que os quadrados de todos os cossenos relativos aos pontos situados de um mesmo lado entre os pontos extremos do circuito sejam menores que os relativos aos pontos correspondentes do outro lado;

C Demonstração das Eqs. (16) a (21)

As contas serão feitas, somente, para a componente X; as outras são uma generalização óbvia. Para obter X, é só multiplicar a força na Eq. (15) (que é na direção r̂) por xr, que é o cosseno diretor de r na direção î; então

d2X=iidsrk1x×d[rk1(xcosλ+ycosμ+zcosν)].

Desenvolvendo os cálculos, lembrando que a derivada d não afeta as variáveis com linha

d2X=ii'ds'×[x cosλ'rk1d(rk1x)+xcosμ'rk1d(rk1y)+xcosv'rk1d(rk1z)]ii'ds'×[cosλ'(rk1x)d(rk1x)+xycosμ'(rk1y)d(rk1y)+xzcosν'(rk1z)d(rk1z)]12ii'ds'×[cosλ'd(r2k2x2)+xycosμ'd(r2k2y2)+xzcosν'd(r2k2z2)=12ii'ds'×{d[r2k2(x2cosλ'+xycosμ'+xzcosν')]r2k2[y2cosμ'd(xy)+z2cosν'd(xz)]}

Como 2k-2=-n-1, segue-se que

d2X=12ii'ds'[d(x2cosλ'+xycosμ'+xzcosν'rn+1)y2cosμ'rn+1d(xy)z2cosν'rn+1d(xz)]=12ii'ds'[x(xcosλ'+ycosμ'+zcosν'rn+1)]+12ii'ds'×[xdyydxrn+1cosμ'+zdxxdzrn+1cosν']12ii'ds'×[d(xcosθ'rn)+xdyydxrn+1cosμ'+zdxxdzrn+1cosν'],

em que a Eq. 14 foi usada para escrever cosθ. Integrando

dX=12ii'ds'×{[xcosθ'rn]cricuitofechado+cosμ'xdyydxrn+1+cosν'zdxxdzrn+1}.

O primeiro termo é zero, pois a integral é de s = 0 a s = 0 (circuito fechado).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    30 Jun 2015
  • Aceito
    08 Set 2015
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