Acessibilidade / Reportar erro

Osciladores quânticos com massa dependente da posição

Quantum oscillators with position-dependent mass

Resumos

Neste trabalho investigamos as soluções da equação de Schrödinger de osciladores com massa dependente da posição utilizando o método algébrico de operadores escada e uma transformação canônica de ponto. Os resultados são ilustrados para um sistema onde m(x) ∝ x2. De posse das funções de onda, calculamos a informação de Fisher e a entropia de Shannon para a posição e momentum de uma partícula no estado fundamental deste sistema.

Palavras-chave:
Informação de Fisher; entropia de Shannon; massa dependente da posição; transformação canônica de ponto


In this work we investigate the solutions of the Schrödinger equation of position-dependent mass oscillators by employing the algebraic method of ladder operators and a point canonical transformation. The results are illustrated for a system where m(x) ∝ x2. From the wave functions, we calculate the Fisher information and Shannon entropy in the position and momentum for a particle in the ground state of this system.

Keywords:
Fisher information; Shannon entropy; position-dependent mass; point canonical transformation


1. Introdução

Sistemas onde a massa depende da posição são importantes não apenas do ponto de vista teórico, mas também do ponto de vista prático, pois podem ser utilizados para descrever heteroestruturas abruptas ou suaves [1[1] R. Koç, M. Koca and G. Sahinoglu, Eur. Phys. J. B 48, 583 (2005).], no estudo das propriedades eletrônicas de semicondutores [2[2] G. Bastard, Wave Mechanics Applied to Semiconductor Heterostructures (Les Editions de Physique, Les Ulis, 1988).], de cristais homogêneos [3[3] D.L. Smith and C. Mailhiot, Rev. of Mod. Phys. 62, 173 (1990).], de pontos [4[4] L.I. Serra and E. Lipparini, Europhys. Lett. 40, 667 (1997).] e líquidos quânticos [5[5] F.A. Saavedra, J. Boronat, A. Polls and S. Fabrocini, Phys. Rev. B 50, 4282 (1994).]. Em 2015, Macedo e Guedes [6[6] D.X. Macedo and I. Guedes, Physica A 434, 211 (2015).] resolveram a equação de Schrödinger e calcularam a Informação de Fisher e a e Entropia de Shannon para três diferentes osciladores com massa dependente da posição (OMDP). As distribuições de massa consideradas na Ref. [6[6] D.X. Macedo and I. Guedes, Physica A 434, 211 (2015).] foram: (i) m(x) = m0[1 + tanh2 (λx)] e (iii) m(x) = m0[1 + (λx)2]. A primeira distribuição de massa é similar à distribuição m(x) = sech2(λx), que é utilizada na geração de uma sequência infinita de estados ligados para o problema de uma partícula livre [7[7] B. Bagchi, P. Gorain, C. Quesne and R. Roychoudhury, Modern Phys. Lett. A 19, 2765 (2004).]. A segunda distribuição é análoga as que são utilizadas no estudo de estados eletrônicos confinados em estruturas do tipo AlyGa1-yAs [8[8] K.C. Yung and J.H. Yee, Phys. Rev. A 50, 104 (1994).]. Já a terceira distribuição pode ser utilizada na análise das estruturas GaAs/AlxGa1-xAs [1[1] R. Koç, M. Koca and G. Sahinoglu, Eur. Phys. J. B 48, 583 (2005).], (ii)

Recentemente, na Ref. [9[9] J.P.G. Nascimento e I. Guedes, Revista Brasileira de Ensino de Física 36, 4308 (2014).], estudamos classicamente um OMDP cuja distribuição de massa era dada por m(x) = m0(x2 + λ2), que é muito parecida com a distribuição de massa (iii) considerada por Macedo e Guedes [6[6] D.X. Macedo and I. Guedes, Physica A 434, 211 (2015).]. Por meio do método da fatoração, estabelecemos uma correspondência entre as soluções do OMDP e do oscilador com massa constante (OMC). Analisamos ainda o espaço de fase do sistema para λ = 0, 0,25 e 1,0. Observamos que para λ = 0, as trajetórias no espaço de fase são deformadas próximo à origem devido ao fato que m(x) → 0 quando x → 0. Para λ ≠ 0, a deformação diminui e praticamente desaparece para λ = 1,0. Mostramos assim que para sistemas tipo OMDP para os quais as equações de Hamilton ficam muito complicadas, a análise das trajetórias no espaço de fase fornece uma boa descrição da dinâmica do sistema em consideração.

O objetivo deste trabalho, como uma extensão natural daquele apresentado na Ref. [9[9] J.P.G. Nascimento e I. Guedes, Revista Brasileira de Ensino de Física 36, 4308 (2014).], é obter as soluções da equação de Schrödinger para o sistema com m(x) = m0(x2 + λ2), e de posse dessas soluções calcular a informação de Fisher e a entropia de Shannon para o estado fundamental.

Este trabalho encontra-se assim dividido. Na seção 2, mostraremos como obter a forma do operador energia cinética, T(x), e resolver a correspondente equação de Schrödinger para sistemas OMDP usando o método algébrico de operadores escada e uma transformação canônica de ponto. Na Seção 3, calculamos a informação de Fisher e a entropia de Shannon para o sistema considerado e apresentamos uma análise dos resultados. Por fim, na Seção 4, apresentamos alguns comentários finais.

2. Solução da equação de Schrödinger - Álgebra de Heisenberg e a TCP

Na Ref. [9[9] J.P.G. Nascimento e I. Guedes, Revista Brasileira de Ensino de Física 36, 4308 (2014).], vimos que para uma dada distribuição de massa m(x), o hamiltoniano clássico é dado por

(1)
onde X0 sendo uma constante de integração. e , com

Infelizmente, a extensão do hamiltoniano clássico para o quântico em casos onde a massa depende da posição, não é trivial como em casos onde a massa é constante ou varia com o tempo. O problema surge do fato que para sistemas com massa dependente da posição, a massa não comuta com o momentum. De acordo com von Roos [10[10] O. von Roos, Phys. Rev. B 27, 7547 (1983).], para que o hamiltoniano que descreve o sistema seja hermitiano, o operador energia cinética deve ser escrito como

(2)
onde m = m(x), p = −iℏd/dx e α, β e γ satisfazem a relação de vínculo
(3)

Dessa forma, a equação de Schrödinger independente do tempo (ES) para estados estacionários é dada por

(4)

Com T(x) sendo dado pela Eq. (2) no caso de OMDP.

Existem diversos artigos que discutem sobre qual é a forma correta do operador T(x). Por exemplo, em 1966, BenDaniel e Duke [11[11] D.J. BenDaniel and C.B. Duke Phys. Rev. B 152, 683 (1966).] consideraram α = γ = 0, β = −1. Em 1969, Gora e Williams [12[12] T. Gora and F. Williams, Phys. Rev. 177, 1179 (1969).] estudaram o caso α = −1, β = γ = 0. Zhu e Kroemer [13[13] Q.G. Zhu and H. Kroemer, Phys. Rev. B 27, 3519 (1983).], em 1983, analisaram sistemas com α = γ = −β = 0 e, em 1993, o caso α = 0, β = γ = −14[14] T. Li and K.J. Kuhn, Phys. Rev. B 27, 3519 (1983).]., foi estudado por Li e Kuhn [

Como mencionamos na Ref. [9[9] J.P.G. Nascimento e I. Guedes, Revista Brasileira de Ensino de Física 36, 4308 (2014).], o procedimento utilizado para obter as soluções da equação de Schrödinger para sistemas tipo OMDP é baseado em buscar transformações que permitam tratar o problema de OMDP da mesma forma que fazemos para sistemas tipo OMC. Assim, inicialmente consideremos o OMC (com m = 1). O espectro de energia e os autoestados do hamiltoniano = 1, podem ser obtidos de duas maneiras [15[15] D.J. Griffiths, Introduction to Quantum Mechanics (Prentice Hall, New Jersey, 2005), 2nd ed.], a saber:, onde consideramos

(a) Método algébrico, que consiste em fatorar o hamiltoniano em termos de dois operadores, b e b+, definidos como

(5)
Neste caso o hamiltoniano é dado por
(6)

Pode-se mostrar facilmente que estes operadores satisfazem as seguintes propriedades:

(a.1) Os operadores b e b+ são conjugados hermitianos (auto-adjuntos)

(7)

(a.2) Os operadores b e b+ obedecem à álgebra de Heisenberg

(8a)
(8b)

Como consequência dessas propriedades, e considerando ϕ0 como o estado fundamental do sistema descrito por h (veja Eq. (6)), temos as seguintes relações

(9)
(10)
(11)
(12)
(13)

Resolvendo a Eq. (9), obtemos o estado fundamental e, aplicando sucessivamente o operador b+ sobre ϕ(y), chegamos aos demais autoestados (Eq. (12)).

(b) Método analítico, que consiste em resolver diretamente a equação diferencial associada à equação de Schrödinger. Levando-se em consideração a normalização de estados ligados, as autofunções normalizadas (ϕn(y)) são identificadas em termos dos polinômios de Hermite expressos por

(14)

Voltemos agora para o problema da solução da equação de Schrödinger para o OMDP (veja Eq. (4)). Considerando α = γ = a e β = 2b, podemos reescrever o operador energia cinética como

(15)
com a nova relação de vínculo sendo dada por a + b = −1/2. Uma vez que Ha é dado por
(16)
vamos supor que possamos fatorá-lo na forma
(17)
utilizando os seguintes operadores auto-adjuntos
(18a)
(18b)
onde Wa(x) é denominado de superpotencial. Observe que podemos ainda reescrever as Eqs. (18) na forma
(19a)
(19b)
onde ’ significa derivada com respeito a x. A relação entre Va(x) e Wa(x) é obtida da seguinte maneira. Considerando uma função arbitrária f(x), obtemos a partir da Eq. (16) que
(20)

Por outro lado, utilizando a Eq. (17) combinada com as Eqs. (19.a) e (19.b) temos

(21)

Comparando as Eqs. (20) e (21), obtemos a seguinte expressão

(22)

Não é difícil mostrar que a relação de comutação entre

(23)
é dada por e

Impondo que Wa(x) é expresso por

(24)
, obtemos que

Substituindo a Eq. (24) na Eq. (22) chegamos à seguinte expressão para Va(x)

(25)

Na Ref. [9[9] J.P.G. Nascimento e I. Guedes, Revista Brasileira de Ensino de Física 36, 4308 (2014).] mostramos que a expressão clássica de Va(x) é dada por

(26)

Assim, para que haja concordância entre as expressões clássica e quântica de Va(x), devemos escolher a = −1/4. Dessa forma, a hamiltoniana quântica do sistema é dada simplesmente por

(27)
onde a constante X0 é usualmente tomada de maneira a tornar Va(x = 0) = 0.

De maneira análoga ao OMC quântico, as propriedades de

(28)
(29)
(30)
(31)
com a equação de autovalores de H-1/4(x, p) sendo expressa por
(32)
onde En = n + 1/2. e garantem que

A TCP consiste em considerarmos as seguintes substituições na Eq. (32)

(33)
(34)
obtendo assim a expressão
(35)
ou seja, a equação de autovalores do OMC deslocado de−X0, cujas soluções são bastante conhecidas. Logo, as autofunções de H−1/4(x, p) serão dadas por
(36)

Estas soluções satisfazem automaticamente a seguinte condição de normalização

(37)

3. Resultados e discussão – Princípio da Incerteza de Heisenberg, Informação de Fisher e Entropia de Shannon

A partir das soluções da equação de Schrödinger dadas pela Eq.(36) podemos obter os valores de várias grandezas físicas, incluindo as incertezas na posição (Δx) e no momentum (Δp) que são utilizadas no cálculo do Princípio de Incerteza de Heisenberg (PIH) [16[16] W. Heisenberg, Z. Phys. 43, 172 (1927).], que impõe à mecânica quântica um caráter intrínseco sobre incertezas nas medidas de observáveis físicos. O PIH nos diz que para um dado sistema físico a seguinte relação deve ser obedecida: ΔxΔp/2. Qualitativamente, o PIH estabelece um limite inferior ao produto das incertezas da posição e do momento, revelando um aspecto da natureza, em nível atômico, totalmente diverso daquele a que estamos habituados, ou seja, quanto mais sabemos acerca da posição da partícula, menos podemos dizer a respeito de seu momento, e vice-versa. Devido ao fato de as incertezas (Δx) e (Δp) serem obtidas a partir da densidade de probabilidade da função de onda (|ψn(x)|2), dizemos que o PIH é associado a medidas globais de |ψn (x)|2.

Recentemente, foram propostas diferentes relações de incerteza, as chamadas relações de incerteza entrópicas, que podem fornecer novos limites inferiores ao produto das incertezas. Entre outras, mencionamos a relação de incerteza obtida a partir da informação de Fisher e da entropia de Shannon.

A informação de Fisher foi estabelecida em 1925 [17[17] R.A. Fisher, Proc. Cambridge Philos. Soc. 22, 700 (1925).] como uma maneira de medir a quantidade de informação que um observável X carrega em relação a um dado parâmetro θ para o qual a densidade de probabilidade de X varia, ou seja, para o qual a densidade de probabilidade seja uma função explícita de X e θ, X, θ) (

A entropia de Shannon [18[18] C. Shannon and W. Weaver, A Mathematical Theory of Communication (Urbana, 1949).] estabelece o conceito de informação e define-o como tudo aquilo que reduz a incerteza. Essa incerteza é definida para cada conjunto de elementos que se tenha. Por exemplo, como varia a idade dos alunos de uma sala. A Entropia de Shannon para um conjunto de elementos discretos X = {xi}, onde a cada elemento está associada uma densidade de probabilidade {xi)}, é dada por

(38)
(

Observe que se temos certeza do resultado de um dado experimento, ou seja, se o conjunto X for constituído de um único elemento x1, então x1) = 1 e xi) = 0 para i ≠ 1. Dessa maneira, a entropia de Shannon está relacionada com o grau de incerteza e quantifica, portanto, a informação. Quanto menor for SX menor é o grau de incerteza e maior será a informação que se tem.((

A informação de Fisher de um observável unidimensional θ(∈ ℝ) com uma densidade de probabilidade θ) é dada por [19[19] A.L. Martín, J.C. Angulo and J. Antolín, Physica A 392, 5552 (2013).]

(39)
(

Assim, a informação de Fisher da posição de um sistema quântico, cuja densidade de probabilidade no espaço das posições é x) = |ψn (x, t)|2, será

ou seja,
(40)
(

Da mesma maneira, a informação de Fisher para o momento será dada por

(41)
onde φ (p,t) é a transformada de Fourier de ψ (x,t), ou seja
(42)

Como mostram as Eqs. (40) e (41), as informações de Fisher são associadas a medidas locais das densidades de probabilidades. A informação de Fisher e os desvios padrão de posição e momento de osciladores harmônicos estão relacionadas pelas inequações de Stam [20[20] A.J. Stam, Inf. Control 2, 101(1959).] e Cramer-Rao [21[21] A. Dembo, T.M. Cover and J.A. Thomas, IEEE Trans. Inform. Theory 37, 1501 (1991).], dadas respectivamente, por

(43)
e
(44)

Por sua vez, a entropia de Shannon de um observável unidimensional θ com uma densidade de probabilidade θ) é dada por [22[22] S. Dong, Guo-Hua Sun, Shin-Hai Dong and J.P. Draayer, Phys. Lett. A 378, 124 (2014).]

(45)
(

Assim, as entropias de Shannon no espaço da posição e do momento são, respectivamente

(46)
(47)
que também são associadas a medidas globais das densidades de probabilidades. A partir das expressões para Sx e Sp, podemos estabelecer a seguinte relação de incerteza entrópica [23[23] I. Bialynicki-Birula and J., Mycielski, Comm. Math. Phys. 44, 129 (1975)., 24[24] W. Beckner, Ann. of Math. 102, 159 (1975).] para problemas unidimensionais
(48)

Substituindo m (x) = m0(x2 + λ2) na Eq. (36), os estados estacionários para este sistema são

(49)
onde consideramos m0 = 1 e .

Como o princípio de incerteza estabelecido para o OMC é mínimo para o estado fundamental, vamos considerar apenas a função de onda para n = 0 no cálculo das informações de Fisher e entropias de Shannon. Neste caso, temos que ψ0 (x, t) é dada por

(50)

As Figs. 1(a) e 1(b) mostram as densidades de probabilidade no espaço da posição 0 (x) = |ψ0 (x)|2 e do momento 0 (p) = |φ0 (p)|2 para λ = 0, λ = 0,2 e λ = 0,4, enquanto as Figs. 2(a) e 2(b) mostram as mesmas quantidades, 0 (x) = |ψ0 (x)|2 e 0 (p) = |φ0 (p)|2, para λ = 0,6, λ = 0,8 e λ = 1.

Figura 1
Densidades de probabilidade no espaço da posição 0 (x) = |ψ0(x)|2 e do momento 0 (p) = |φ0(p)|2 para λ = 0 (linha grossa), λ = 0, 2 (linha pontilhada) e λ = 0, 4 (linha fina). Nos cálculos consideramos m0 = 1.
Figura 2
Densidades de probabilidade no espaço da posição 0 (x) = |ψ0(x)|2 e do momento 0 (p) = |φ0(p)|2 para λ = 0, 6 (linha grossa), λ = 0, 8 (linha pontilhada) e λ = 1 (linha fina). Nos cálculos consideramos m0 = 1.

Nas Figs. 3(a) e 3(b) mostramos a variação das incertezas na posição (Δx0) e no momentum (Δp0) em função do parâmetro λ. Ao aumentarmos λ, observamos que Δx0 diminui. Podemos entender este resultado a partir da variação de 0 (x) mostrada nas Figs. 1(a) e 2(a). Observamos que a largura de 0 (x) diminui, o que torna a partícula mais localizada à medida em que λ aumenta, diminuindo a incerteza na posição. Nesse cenário devíamos esperar que tanto a incerteza para o momento, Δp0, como a informação de Fisher na posição, Fx, também aumentassem, enquanto a entropia de Shannon, Sx, diminuísse. Entretanto, observamos da Fig. 3(b) que à medida em que λ aumenta, Δp0 diminui no intervalo 0 ≤ λ ≤ 0,6, ao invés de aumentar como esperado. Para λ > 0,6, Δp0 sempre aumenta.

Figura 3
Dependência das incertezas (a) Δx0 e (b) Δp0 com relação ao parâmetro λ. Nos cálculos consideramos m0 = 1.

Nas Figs. 4(a) e 4(b) mostramos o comportamento de Fx e Fp, enquanto nas Figs. 5(a) e 5(b) os de Sx e Sp, em função da variação de λ. Consideremos as variações de Fx e Fp. Como já mencionado, deveríamos esperar um aumento de Fx e uma diminuição de Sx; o contrário ocorrendo para Fp e Sp. Entretanto, observamos que no intervalo 0 ≤ λ ≤ 0,6 tanto Fx quanto Fp diminuem enquanto λ aumenta. A partir de λ = 0,6, Fx aumenta e Fp diminui.

Figura 4
Dependência das informações de Fisher (a) Fx e (b) Fp com relação ao parâmetro λ. Nos cálculos consideramos m0 = 1.
Figura 5
Dependência das entropias de Shannon (a) Sx, e (b) Sp com relação ao parâmetro λ. Nos cálculos consideramos m0 = 1.

Consideremos agora o comportamento de Sx e Sp mostrado nas Figs. 5(a) e 5(b), respectivamente. Observamos que no intervalo 0 ≤ λ ≤ 0,4, Sx tem um pequeno aumento, enquanto Sp diminui de forma mais acentuada. Já no intervalo 0,4 < λ ≤ 2, observamos que Sx diminui, enquanto que Sp aumenta.

Para entendermos esses resultados, consideremos, mais uma vez, o comportamento de 0 (x) com relação ao parâmetro λ mostrado nas Figs.1(a) e 2(a). Observamos que, no intervalo 0 ≤ λ ≤ 1,0, a dispersão nos valores de posição da partícula torna-se menos deformada na origem e sua largura mais estreita. Como 0 (x) torna-se mais localizado com o aumento de λ, é razoável supor que os comportamentos de Fx, Fp, Sx e Sp observados no intervalo 0 ≤ λ ≤ 0,6, sejam por causa da deformação que ocorre em 0 (x) para pontos próximos da origem. Para λ > 0,6, os comportamentos de Fx, Fp, Sx e Sp correspondem àqueles esperados quando ocorre uma diminuição na dispersão da posição. Em outras palavras, a partícula fica mais localizada, aumentando Fx e diminuindo Sx.

As deformações observadas em 0 (x), por causa da forma de m(x), não são percebidas pela incerteza Δx0 (veja Fig. 1(a)) porque o integrando x2P0(x) é sempre nulo na origem. Para verificarmos a consistência dessa explicação, vamos analisar o comportamento de 0 (x) em função de λ para a distribuição de massa considerada na Ref.[6[6] D.X. Macedo and I. Guedes, Physica A 434, 211 (2015).], ou seja, m (x) = m0 [1+ (λx)2], pois nesse sistema as quantidades Fx, Fp, Sx e Sp são bem comportadas, no sentido que sempre crescem ou decrescem quando λ varia. Nas Figs. 6(a) e 6(b) mostramos o comportamento de 0 (x) para (a) λ = 0, λ = 0,2 e λ = 0,4 e (b) λ = 0,6, λ = 0,8 e λ = 1. Observamos que 0 (x) não apresenta deformações, pois independentemente do valor de λ, a massa deste sistema nunca se anula, seja na origem ou em qualquer outro valor de posição.

Figura 6
Variação de 0 (x) para o sistema m (x) = m0 [1+ (λx)2], para (a) λ = 0 (linha grossa), λ = 0.2 (linha pontilhada) e λ = 0.4 (linha fina) e (b) λ = 0.6 (linha grossa), λ = 0.8 (linha pontilhada) e λ = 1 (linha fina). Nos cálculos consideramos m0 = 1.

Mas, ao contrário de Δx0, a incerteza Δp0 percebe as deformações. Da mesma maneira que Δx0, o desvio padrão Δp0 depende do integrando p20 (p). A diferença está no fato que as deformações de 0 (p) não se encontram em p = 0, mas sim nas regiões −3.5 ≤ p ≤ −1.5 e 1.5 ≤ p ≤ 3.5 (veja as Figs. 1(b) e 2(b)). Assim, como nas outras quantidades, atribuímos o comportamento não usual de Δp0, no intervalo 0 ≤ λ ≤ 0,6, a essas deformações. A partir de λ > 0,6 as deformações em 0 (p) desaparecem e o comportamento de Δp0 passa a concordar com o que é esperado quando Δx0 diminui.

4. Conclusões

Neste trabalho estudamos o oscilador harmônico quântico com massa dependente da posição (OMDP). Utilizamos a álgebra de operadores escada juntamente com o método da TCP para obter a função de onda exata de um OMDP. Este procedimento consiste em decompor a hamiltoniana que descreve o sistema quântico OMDP (Eq. (16)) em termos de dois operadores auto-adjuntos, 19(a) e 19(b)) e impondo a álgebra de Heisenberg sobre estes operadores, obtivemos uma expressão geral para o potencial Va(x) (Eq. (25)) em termos da distribuição de massa m(x) e da constante de vínculo a. Para que haja concordância entre as expressões quântica (Eq. (25)) e clássica (Eq. (26)) de Va(x), escolhemos a = −1/4. De posse das expressões de T(x) e V−1/4(x), obtivemos a equação diferencial associada a equação de Schrödinger de um OMDP (Eq. (32)), cuja solução pode ser obtida reduzindo-a a equação de autovalores do oscilador harmônico com massa constante através das transformações expressas pelas Eqs. (33) e (34). e e . Utilizando as definições de (Eqs.

Em particular, consideramos o sistema com distribuição de massa dada por m (x) = m0 (x2 + λ2). Após obtermos a função de onda, determinamos numericamente as informações de Fisher, as entropias de Shannon além das incertezas para o estado fundamental deste sistema. Tanto a entropia de Shannon quanto a informação de Fisher estão sendo investigadas como possíveis substitutas das incertezas que aparecem no princípio de incerteza de Heisenberg.

Observamos que ao aumentarmos λ, Δx0 diminui. Entretanto o comportamento de Δp0, Fx, Fp, Sx e Sp é um pouco mais complexo. Se Δx0 sempre diminui, Fx e Δp0 deveriam sempre aumentar e Sx diminuir. Atribuímos o comportamento não usual de Δp0, Fx, Fp, Sx e Sp no intervalo 0 ≤ λ ≤ 0,6, às deformações que surgem nas densidades de probabilidade 0 (x) e 0 (p) em função da forma de m(x) considerada. Para λ > 0,6, quando as deformações tornam-se menores e desaparecem, os comportamentos de Δp0, Fx, Fp, Sx e Sp correspondem àqueles esperados quando Δx0 diminui.

Confirmamos esta hipótese, analisando o comportamento de 0 (x) em função de λ, para o sistema estudado na Ref. [6[6] D.X. Macedo and I. Guedes, Physica A 434, 211 (2015).], onde m (x) = m0 [1+ (λx)2]. Como mostrado nas Figs. 6(a) e 6(b), 0 (x) não apresenta nenhuma distorção em qualquer valor de posição, e, como consequência os comportamentos de Δp0, Fx, Fp, Sx e Sp seguem os previstos para quando Δx0 diminui. Observamos que a igualdade na inequação de Stam (Eq. (43)) é satisfeita para qualquer valor de λ, enquanto que a igualdade na inequação de Cramer-Rao (Eq. (44)) é satisfeita apenas para λ > 1,1.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPQ pelo auxílio financeiro.

Referências

  • [1] R. Koç, M. Koca and G. Sahinoglu, Eur. Phys. J. B 48, 583 (2005).
  • [2] G. Bastard, Wave Mechanics Applied to Semiconductor Heterostructures (Les Editions de Physique, Les Ulis, 1988).
  • [3] D.L. Smith and C. Mailhiot, Rev. of Mod. Phys. 62, 173 (1990).
  • [4] L.I. Serra and E. Lipparini, Europhys. Lett. 40, 667 (1997).
  • [5] F.A. Saavedra, J. Boronat, A. Polls and S. Fabrocini, Phys. Rev. B 50, 4282 (1994).
  • [6] D.X. Macedo and I. Guedes, Physica A 434, 211 (2015).
  • [7] B. Bagchi, P. Gorain, C. Quesne and R. Roychoudhury, Modern Phys. Lett. A 19, 2765 (2004).
  • [8] K.C. Yung and J.H. Yee, Phys. Rev. A 50, 104 (1994).
  • [9] J.P.G. Nascimento e I. Guedes, Revista Brasileira de Ensino de Física 36, 4308 (2014).
  • [10] O. von Roos, Phys. Rev. B 27, 7547 (1983).
  • [11] D.J. BenDaniel and C.B. Duke Phys. Rev. B 152, 683 (1966).
  • [12] T. Gora and F. Williams, Phys. Rev. 177, 1179 (1969).
  • [13] Q.G. Zhu and H. Kroemer, Phys. Rev. B 27, 3519 (1983).
  • [14] T. Li and K.J. Kuhn, Phys. Rev. B 27, 3519 (1983).
  • [15] D.J. Griffiths, Introduction to Quantum Mechanics (Prentice Hall, New Jersey, 2005), 2nd ed.
  • [16] W. Heisenberg, Z. Phys. 43, 172 (1927).
  • [17] R.A. Fisher, Proc. Cambridge Philos. Soc. 22, 700 (1925).
  • [18] C. Shannon and W. Weaver, A Mathematical Theory of Communication (Urbana, 1949).
  • [19] A.L. Martín, J.C. Angulo and J. Antolín, Physica A 392, 5552 (2013).
  • [20] A.J. Stam, Inf. Control 2, 101(1959).
  • [21] A. Dembo, T.M. Cover and J.A. Thomas, IEEE Trans. Inform. Theory 37, 1501 (1991).
  • [22] S. Dong, Guo-Hua Sun, Shin-Hai Dong and J.P. Draayer, Phys. Lett. A 378, 124 (2014).
  • [23] I. Bialynicki-Birula and J., Mycielski, Comm. Math. Phys. 44, 129 (1975).
  • [24] W. Beckner, Ann. of Math. 102, 159 (1975).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2016

Histórico

  • Recebido
    03 Dez 2015
  • Revisado
    26 Jan 2016
  • Aceito
    14 Fev 2016
Sociedade Brasileira de Física Caixa Postal 66328, 05389-970 São Paulo SP - Brazil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: marcio@sbfisica.org.br