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Efeito do salbutamol liberado através de inalador de pó seco sobre o broncoespasmo induzido por metacolina

Resumos

INTRODUÇÃO: Os beta2-agonistas de curta duração sob a forma de nebulímetro pressurizado são os fármacos utilizados rotineiramente na reversão do broncoespasmo induzido pela metacolina. A administração desses fármacos na forma de pó seco, liberados por inaladores de pó seco pode ser uma alternativa eficaz. OBJETIVO: Avaliar a efetividade e rapidez de ação do salbutamol liberado através de inalador de pó seco pulvinal (Butovent®) na reversão do broncoespasmo induzido por metacolina, comparando-o com o salbutamol liberado por nebulímetro pressurizado. MÉTODO: Foram avaliados prospectivamente 60 pacientes sucessivos com broncoespasmo induzido por metacolina, cuja queda do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) foi de, no mínimo, 20%. Foram randomizados 30 pacientes para receber 200 mcg de salbutamol liberado por nebulímetro pressurizado e 30 pacientes para receber 200 mcg de salbutamol através de inalador de pó seco (pulvinal), na etapa final do teste de broncoprovocação, com o objetivo de reverter o broncoespasmo induzido pela metacolina. Foram avaliados os VEF1 obtidos 1 minuto e 5 minutos após a administração do broncodilatador. RESULTADOS: Os grupos foram pareados por sexo, idade, peso, altura, dose provocativa causadora de queda de 20% no VEF1 (primeiro grupo: 1,3 mg ; segundo grupo: 1,19 mg; p = 0,79) e VEF1 pós-metacolina (primeiro grupo: 2,03 l; segundo grupo: 1,99 l; p = 0,87), sem diferença significativa entre eles. O incremento médio do VEF1 foi de 16,2% (1 minuto) e 22,2% (5 minutos) no primeiro grupo e de 17% (1 minuto) e 23,6% (5 minutos) no segundo grupo, não havendo diferença estatística entre eles (p = 0,8). CONCLUSÕES: Os beta2-agonistas administrados através de inalador de pó seco (pulvinal) apresentam a mesma eficácia broncodilatadora e rapidez de ação que no tradicional método por nebulímetro pressurizado.

Asma; Broncodilatadores; Albuterol; Cloreto de metacolina; Terapia respiratória; Administração por inalação; Estudos prospectivos


BACKGROUND: Short-acting beta2 agonists delivered by metered-dose inhaler (MDIs) are the drugs usually used for the reversal of methacholine-induced bronchoconstriction. The b2 agonists that are delivered by dry-powder inhaler (DPI) can be an efficacious option. OBJECTIVE: To evaluate the effectiveness and speed of action of salbutamol delivered by DPI (Pulvinal; Butovent®), in comparison to salbutamol delivered by MDI, in reversing methacholine-induced bronchoconstriction. METHOD: Sixty successive methacholine-induced bronchoconstriction patients who presented a decrease of at least 20% in forced expiratory volume (FEV1) were evaluated prospectively. Of these 60 patients, we randomized 30 (first group) to receive 200 mcg of salbutamol by MDI and 30 (second group) to receive 200 mcg of salbutamol by DPI (Pulvinal). Both drugs were administered with the objective of reversing bronchoconstriction during the final phase of a bronchoprovocation test. The FEV1 values obtained at 1 and 5 minutes after bronchodilator administration were evaluated. RESULTS: The groups were comparable in gender distribution, age, weight, dose level provoking a 20% drop in FEV1 (first group: 1.3 mg; second group: 1.19 mg; p = 0.79) and post-methacholine FEV1 (first group: 2.03 l; second group: 1.99 l; p = 0.87), with no statistically significant differences between the two groups. In the first group (MDI), the mean increase in FEV1 was 16.2% (at 1 minute) and 22.2% (at 5 minutes), and in the second group (DPI) it was 17% (at 1 minute) and 23.6% (at 5 minutes). There was no statistically significant difference between the groups (p = 0.8). CONCLUSION: The beta2-agonists delivered by DPI (Pulvinal) present the same bronchodilator efficacy and speed of action as do those delivered by the more traditional MDI method.

Asthma; Bronchodilator agents; Albuterol; Methacholine chloride; Respiratory therapy; Administration, inhalation; Prospective studies


ARTIGO ORIGINAL

Efeito do salbutamol liberado através de inalador de pó seco sobre o broncoespasmo induzido por metacolina* * Trabalho realizado no Laboratório de Função Pulmonar do Pavilhão Pereira Filho - Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre. Disciplina de Pneumologia da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA).

Adalberto Sperb Rubin; Liliana G Pelegrin; Christiano Perin; MaurÍcio Roux Leite(TE SBPT); Luiz Carlos Corrêa da Silva(TE SBPT)

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Adalberto Sperb Rubin Rua Almirante Abreu, 246/402 CEP 90420-010, Porto Alegre, RS Tel: 55-51-3332 2629 E-mail: arubin@terra.com.br

RESUMO

INTRODUÇÃO: Os b2-agonistas de curta duração sob a forma de nebulímetro pressurizado são os fármacos utilizados rotineiramente na reversão do broncoespasmo induzido pela metacolina. A administração desses fármacos na forma de pó seco, liberados por inaladores de pó seco pode ser uma alternativa eficaz.

OBJETIVO: Avaliar a efetividade e rapidez de ação do salbutamol liberado através de inalador de pó seco pulvinal (Butoventâ) na reversão do broncoespasmo induzido por metacolina, comparando-o com o salbutamol liberado por nebulímetro pressurizado.

MÉTODO: Foram avaliados prospectivamente 60 pacientes sucessivos com broncoespasmo induzido por metacolina, cuja queda do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) foi de, no mínimo, 20%. Foram randomizados 30 pacientes para receber 200 mcg de salbutamol liberado por nebulímetro pressurizado e 30 pacientes para receber 200 mcg de salbutamol através de inalador de pó seco (pulvinal), na etapa final do teste de broncoprovocação, com o objetivo de reverter o broncoespasmo induzido pela metacolina. Foram avaliados os VEF1 obtidos 1 minuto e 5 minutos após a administração do broncodilatador.

RESULTADOS: Os grupos foram pareados por sexo, idade, peso, altura, dose provocativa causadora de queda de 20% no VEF1 (primeiro grupo: 1,3 mg ; segundo grupo: 1,19 mg; p = 0,79) e VEF1 pós-metacolina (primeiro grupo: 2,03 l; segundo grupo: 1,99 l; p = 0,87), sem diferença significativa entre eles. O incremento médio do VEF1 foi de 16,2% (1 minuto) e 22,2% (5 minutos) no primeiro grupo e de 17% (1 minuto) e 23,6% (5 minutos) no segundo grupo, não havendo diferença estatística entre eles (p = 0,8).

CONCLUSÕES: Os b2-agonistas administrados através de inalador de pó seco (pulvinal) apresentam a mesma eficácia broncodilatadora e rapidez de ação que no tradicional método por nebulímetro pressurizado.

Descritores: Asma. Broncodilatadores/administração & dosagem. Albuterol/administração & dosagem. Cloreto de metacolina/administração & dosagem. Terapia respiratória/métodos. Administração por inalação/métodos. Estudos prospectivos.

Siglas e abreviaturas utilizadas neste trabalho:

DP20 - dose provocativa causadora de queda de 20 % no VEF1

IPS - inalador de pó seco

NP - nebulímetro pressurizado

PFE - pico do fluxo expiratório

SBPT - Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

TBP - teste de broncoprovocação

VEF1 - volume expiratório forçado no primeiro segundo

VEF1/CVF - índice de Tiffenau

Introdução

A asma é uma doença inflamatória crônica caracterizada por hiper-responsividade das vias aéreas inferiores e por limitação variável do fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento, e que se manifesta clinicamente por episódios recorrentes de sibilância, dispnéia, aperto no peito e tosse, particularmente à noite e pela manhã, ao despertar (1). Segundo dados da literatura internacional e nacional existem indícios de que a prevalência da asma esteja aumentando, bem como sua morbi-mortalidade (2,3).

O cuidado da asma envolve basicamente dois tipos de tratamento: os medicamentos de alívio, em especial os broncodilatadores, e os medicamentos para controle da doença. A terapêutica broncodilatadora representa a base da organização de qualquer esquema de tratamento de pacientes portadores de asma, seja no simples alívio de sintomas ocasionados pelo broncoespasmo, seja na reversão da broncoconstrição grave durante as crises (4). Os b2-agonistas de curta duração sob a forma de nebulímetro pressurizado (NP) são os fármacos utilizados rotineiramente na reversão do broncoespasmo induzido por exercício ou por fatores inespecíficos. O emprego de broncodilatadores beta-adrenérgicos por NP permite uma rápida liberação da substância ativa, com a possibilidade de múltiplas doses com baixo custo. A eficácia e os efeitos colaterais das medicações inaladas dependem, no entanto, do dispositivo empregado, do medicamento que contém e do seu uso adequado (coordenação, adesão, padrão respiratório, etc.), de maneira que a resposta pode ser altamente variável (5). Alguns pacientes, em especial idosos e crianças, podem apresentar dificuldades na utilização do NP em decorrência de dificuldades na aplicação do spray, o que leva a uma perda da eficiência broncodilatadora.

Para simplificar o método inalatório, uma série de dispositivos em pó seco foi elaborada com o intuito de facilitar a administração de broncodilatadores em asmáticos. Sua liberação através de inaladores de pó seco (IPS) pode constituir-se em uma opção eficaz de reversão imediata do broncoespasmo. Esses dispositivos têm sua carga liberada através da respiração, eliminando a necessidade de sincronizar a inalação com o disparo, como ocorre com os NP. Os IPS possibilitam depositar aproximadamente 20% da dose liberada no pulmão, enquanto que são depositados 8% a 10% no caso dos NP (6). Os efeitos, com o uso de broncodilatadores e corticóides de pó seco, são maiores, e pode-se reduzir a dose à metade em relação ao NP. A despeito dessas informações, são poucos os estudos na literatura comparando a eficácia broncodilatadora do salbutamol administrado por IPS e por NP.

Método

Em um estudo prospectivo, foram randomizados 60 pacientes encaminhados ao Laboratório de Função Pulmonar do Pavilhão Pereira Filho da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (RS), para investigação de sintomas relacionados à hiper-reatividade brônquica, em especial tosse, dispnéia e sibilância.

Todos os pacientes apresentaram espirometria com curva fluxo-volume inicial com a relação entre o volume expiratório forçado no primeiro segundo e a capacidade vital máxima (VEF1/CVF) superior a 70%, e nenhum fazia uso de broncodilatadores ou corticóide inalatório. Os pacientes apresentaram broncoespasmo como conseqüência do teste de broncoprovocação (TBP) com metacolina, seguindo-se o protocolo de administração da metacolina inalada por nebulizador de jato durante dois minutos, conforme orientações da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) (7). Em todos os pacientes selecionados foi atingida uma queda no VEF1 de no mínimo 20% em relação ao valor inicial como conseqüência da administração de diferentes concentrações de metacolina. Após a indução da broncoconstrição, os pacientes foram divididos de maneira randomizada em dois grupos de 30 pacientes por meio de sorteio realizado por pessoa não participante do estudo. O grupo 1 recebeu imediatamente após o término do TBP uma dose de 200 mcg de salbutamol (2 jatos) sob forma de NP com aerocâmera de 50 ml, com a técnica efetuada de acordo com as orientações da SBPT(1). O grupo 2 recebeu 200 mcg de salbutamol (1 inalação) através de IPS (pulvinal - Butovent®), e os pacientes foram orientados a expirar todo o ar dos pulmões, manter o aparelho na posição levemente inclinada e inspirar o mais profundamente possível, mantendo uma apnéia de, no mínimo, cinco segundos. O broncodilatador foi administrado por um médico do laboratório de função pulmonar, com técnica inalatória adequada. A espirometria foi realizada sempre no período da manhã por técnico do laboratório sem conhecimento do dispositivo inalatório utilizado. Os pacientes realizaram nova medida do VEF1 1 e 5 minutos após receberem o salbutamol.

Foram analisadas as seguintes variáveis: sexo, idade, altura, peso, dose provocativa causadora de queda de 20% no VEF1 (DP20), VEF1 inicial, VEF1 pós TBP, e VEF1 após 1 e 5 minutos do uso do broncodilatador.

Para comparação de proporções foi empregado o teste do Qui-quadrado de Pearson e para comparação entre médias foi utilizado o Teste t de Student. O nível de significância estatística adotado foi de 5%. O número de pacientes alocados em cada grupo foi definido arbitrariamente. Contudo, após a análise dos dados, calculamos o poder estatístico das comparações encontrando valores em torno de 90%, o que garante que a amostra utilizada foi suficiente para responder aos objetivos do estudo.

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Resultados

Foram analisados 30 pacientes randomizados para o grupo 1 (NP) e 30 pacientes para o grupo 2 (IPS). Os grupos apresentaram características semelhantes quanto ao sexo, idade, peso e DP20 (Tabela 1).

Os dois grupos apresentaram referenciais para função pulmonar semelhantes antes do início do teste de broncoprovocação, com VEF1 de 2,88 l no grupo 1 e 2,9 l no grupo2.Após a indução do broncoespasmo por metacolina, o grupo 1 apresentou VEF1 de 2,03 l e o grupo 2 1,99 l (Tabela 2). O grupo 1 apresentou um VEF1 médio de 2,36 l um minuto após a administração do fármaco, estabelecendo uma variação média em relação ao VEF1 inicial de 16,2%. Já o grupo 2 apresentou um VEF1 médio no primeiro minuto de 2,33 l, perfazendo uma variação de 17%, sem diferença significativa em relação ao grupo 1 (p = 0,89). Na medida do VEF1 em 5 minutos, o grupo 1 apresentou um VEF1 médio de 2,48 l, uma variação de 22,2% em relação ao valor basal, enquanto que o grupo 2 apresentou VEF1 médio de 2,46 l, com uma variação de 23,6% também em relação ao valor basal, demonstrando uma quase total semelhança entre os dois grupos (p = 0,8) (Figura 1).


Discussão

Os dados do presente estudo demonstram que o grau de broncodilatação, alcançada por pacientes submetidos a broncoespasmo induzido por metacolina, é praticamente idêntico após a administração de salbutamol por NP ou por IPS liberado pelo dispositivo pulvinal. A resposta broncodilatadora medida no VEF1 em 1 e 5 minutos foi praticamente a mesma com o emprego dos dois dispositivos. Tanto a variação de VEF1 em litros quanto seu percentual de resposta foram muito semelhantes, o que demonstra um efeito broncodilatador praticamente igual do salbutamol quando administrado pelos dois dispositivos.

Na literatura internacional, encontram-se poucos trabalhos comparando o efeito broncodilatador dos IPS com o do NP. Com o IPS pulvinal, por se tratar de dispositivo novo, não existem trabalhos semelhantes a este. Quase sempre os estudos são realizados empregando-se o dispositivo turbuhaler.

Os resultados do presente estudo foram semelhantes a estudos anteriores encontrados na literatura com outros IPS. Chapman et al. (6) publicaram estudo com 37 asmáticos com administração de salbutamol por turbuhaler ou NP, em que foi verificada a variação do VEF1 e do pico do fluxo expiratório (PFE) matinal durante as duas semanas do estudo. A dose de salbutamol era de 200 mcg no NP e 100 mcg no IPS. Não houve diferença em relação aos valores de VEF1 e PFE em ambos os dispositivos, mesmo com uma dose menor de salbutamol no IPS. Em outro estudo, com 50 pacientes com doença obstrutiva reversível grave ou moderada,(8) foram comparados os efeitos broncodilatadores do salbutamol a 200 mcg inalado por IPS com a mesma dose por NP. A resposta broncodilatadora durante e após seis horas foi semelhante em ambos os dispositivos. Mellén et al. (9), em estudo com 22 asmáticos, demonstraram um aumento semelhante no VEF1 após administração de salbutamol por NP e IPS. Neste mesmo estudo, não foram verificadas diferenças significativas nos níveis de potássio, glicose e freqüência cardíaca, demonstrando que a eficácia e segurança também foram semelhantes entre os dois dispositivos. Resultados semelhantes quanto à eficácia e tolerância a efeitos adversos foram encontrados no estudo de Bondesson et al. (10) em doze asmáticos com asma moderada ou grave.

A igualdade e muitas vezes superioridade da eficácia da administração de salbutamol por IPS em comparação ao NP talvez seja devida a uma maior deposição da substância nas vias aéreas inferiores, obtendo-se maior atividade broncodilatadora em vias aéreas periféricas. Demonstrou-se deposição nas vias aéreas e pulmões de 20% da substância liberada por IPS (11), valor superior aos 7% a 10% dos NP (12).

Embora o presente estudo tenha avaliado a resposta broncodilatadora em pacientes com broncoespasmo induzido por metacolina, os resultados podem ser extrapolados para os casos de asma cujo mecanismo de broncoconstrição tenha componente broncoespástico. Diversos estudos têm empregado esta técnica na observação da análise da eficácia broncodilatadora de diversos fármacos e variados dispositivos inalatórios (13). Ao estabelecer-se que o grau de broncodilatação alcançado pelo IPS empregado neste estudo foi igual ao observado pelo NP, pode-se concluir que este método se torna uma opção eficaz na reversão do broncoespasmo em crises asmáticas. Em um estudo com 86 asmáticos atendidos em asma aguda em serviço de emergência (14), com VEF1 médio de 37%, fez-se a randomização entre administração de salbutamol em doses semelhantes através de turbuhaler ou NP com espaçador. Foram avaliados VEF1, PFE, eletrocardiograma, K+ sérico, freqüência cardíaca e pressão arterial a cada dez minutos até completar 85 minutos, e não houve diferença significativa entre o grau de broncodilatação alcançado e os efeitos adversos.

Em estudo com desenho semelhante, onde 23 asmáticos foram submetidos à indução de broncoespasmo por metacolina, Wong et al. (15) demonstraram que o efeito protetor contra a broncoconstrição foi superior quando o salbutamol foi administrado pelo turbuhaler em comparação com o NP. Em estudo realizado por Mellén et al. (16), 20 asmáticos com quadro obstrutivo receberam salbutamol através de NP ou turbuhaler. A variação no VEF1 e as alterações no potássio sérico, freqüência cardíaca e pressão arterial foram semelhantes com ambos dispositivos.

Diversos estudos demonstraram a dificuldade de realização da técnica inalatória adequada em asmáticos com NP (17,18,19). Em estudo recente, Muniz et al. (5) observaram que até 40% de pacientes e médicos demonstraram desempenho inadequado para os NP, em decorrência de má coordenação respiratória e mecânica. O mesmo estudo apresentou um desempenho inadequado de apenas 12% quando avaliada a técnica de IPS. Como o IPS é colocado diretamente na boca, a coordenação dos movimentos respiratórios é realizada de forma mais eficiente que a técnica dos NP, cuja utilização requer noções de distância, coordenação motora e treinamento suficiente para iniciar a inspiração e acionar o dispositivo quase simultaneamente. O dispositivo pulvinal, assim como outros IPS, necessitam de uma força inspiratória geralmente obtida tanto por asmáticos com obstrução grave quanto por idosos. Em estudo com 52 asmáticos graves, mesmo idosos, taxas inspiratórias de até 20 l/min permitiram variações no pico do fluxo e VEF1 consideradas satisfatórias (20). Resultados semelhantes foram encontrados em estudos com beclometasona administrada pelo IPS pulvinal em asmáticos (21).

O presente estudo demonstrou que a melhora funcional, quantificada através do VEF1, em 1 e 5 minutos após o uso de salbutamol sob a forma de nebulímetro ou de inalador de pó seco, em pacientes submetidos a broncoespasmo induzido por metacolina, foi semelhante para ambos os dispositivos inalatórios estudados. Pode-se concluir que os b2-agonistas administrados através de IPS pulvinal apresentam a mesma eficiência broncodilatadora e rapidez de ação que o tradicional método por NP. A facilidade de administração do salbutamol e a grande adesão dos pacientes ao método, em conjunto com sua eficácia, tornam os inaladores de pó seco uma grande opção para o alívio imediato do broncoespasmo em asmáticos.

Recebido para publicação, em 6/10/2003.

Aprovado, após revisão, em 26/1/2004.

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  • Endereço para correspondência
    Adalberto Sperb Rubin
    Rua Almirante Abreu, 246/402
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    Trabalho realizado no Laboratório de Função Pulmonar do Pavilhão Pereira Filho - Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre. Disciplina de Pneumologia da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Set 2004
    • Data do Fascículo
      Jun 2004

    Histórico

    • Aceito
      26 Jan 2004
    • Recebido
      06 Out 2003
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