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A partida de Jorge Kavakama, um pixel que se apaga na medicina brasileira

MEMÓRIA

A partida de Jorge Kavakama, um pixel que se apaga na medicina brasileira

Mário Terra Filho

Professor Associado do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - InCor HCFMUSP Disciplina de Pneumologia

Em primeiro de dezembro, de Chicago, veio a trágica notícia: Dr. Jorge Kavakama não está mais entre nós. Escrever sobre um amigo que partiu é uma tarefa difícil, mas no caso do Dr. Jorge Kavakama, Prof. Jorge ou Jorginho a missão se torna menos dolorosa, pois estaremos lembrando de alguém que era alegria, amizade, eterna disponibilidade. Jorge, segundo nosso amigo comum Chico Hora, era sinônimo de sorriso, abraço fraterno, aperto de mão e conversa fácil. Jorge tinha a cara do melhor dia da semana, ele era a própria sexta-feira. Amava a música, a cor, a forma. Era uma pessoa sensível. Apreciava grandes encontros em bares e restaurantes. Nessas ocasiões havia participação de todos que o cercavam, os profissionais da limpeza, funcionários responsáveis pelo cafezinho, escriturários, biomédicos, enfermeiras, residentes, estagiários, colegas médicos e toda sorte de amigos. Jorginho tinha uma relação especial com a família, amava seus filhos e sempre estava procurando oferecer mais. Professor sem título, era um docente livre, ensinava em qualquer lugar sem as amarras da academia. Era um mestre, não tinha alunos, possuía discípulos que, a partir dos ensinamentos do corte básico em tomografia de tórax, se tornavam fiéis por toda a vida, multiplicando o conhecimento obtido. Seus cursos e aulas eram os mais concorridos. Ensinava com a mente, expressão corporal, humor e com a inflexão de voz, algumas vezes transvertido de samurai, outras de sério professor. Suas apresentações eram incomparáveis. Não era um radiologista de gabinete, detestava baixar pilhas de exames. Na verdade era um radiologista clínico, apaixonado pelo desafio diagnóstico, sempre reunido com clínicos e cirurgiões. Era um ser integrador: foi o principal responsável pela junção entre a Pneumologia e a Radiologia Torácica. Foi uma presença constante no meio pneumológico. Foi editor de imagem do nosso Jornal Brasileiro de Pneumologia. Era o radiogista torácico mais requisitado para participar de congressos, jornadas e encontros de expressão nacional ou regional, e a todos dedicava igual atenção. Sua contribuição como pesquisador era a menos conhecida. Introduziu a tomografia de alta resolução em tórax aqui no Brasil nos anos 90. Lia, classificava, interpretava e discutia 500 tomografias. Entretanto não escrevia cinco linhas, tarefa que dividia com outros que tiveram o privilégio de trabalhar com ele. Só em 2004 e 2005 foi co-autor de artigos publicados no Radiology e Journal of Computed Assisted Tomography. Para nós, pneumologistas brasileiros, era um ídolo, o maior de todos, sem comparações. Tentou, mas não conseguiu coordenar o Departamento de Imagem da SBPT, apesar de qualificações não lhe faltarem. Sem dúvida perderam os pneumologistas brasileiros. Partiu cedo, deixou um fosso. Sei que, onde estiver, se houver um negatoscópio e uma tomografia, com certeza estará ensinando, mesmo que seja para anjos, arcanjos, querubins e serafins. Você partiu, mas para nós o Jorge será para sempre.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Jun 2006
  • Data do Fascículo
    Abr 2006
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