"A prevalência de tabagismo em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica e asma é elevada - a importância da anamnese e uso de biomarcadores na prática clinica." - Ubiratan de Paula Santos.
O tabagismo é o principal fator de risco evitável de óbitos. Estima-se que, em 2010,
tenha sido globalmente responsável por 6,3 milhões de óbitos.(1)1 Lim SS, Vos T, Flaxman AD, Danaei G, Shibuya K,Adair-Rohani H, et al. A
comparative risk assessment of burden of disease and injury attributable to 67 risk
factors and risk factor clusters in 21 regions, 1990-2010: a systematic analysis for
the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet. 2012;380(9859):2224-60. Erratum in:
Lancet. 2013;381(9867):628; Lancet. 2013;381(9874):1276
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(12)61766-8 .
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(12)...
Estudos sugerem que os fumantes vivem, em média, 10 anos a menos
com relação aos não fumantes e que, de cada dois fumantes, um morre em decorrência de
doença tabaco-relacionada. (22 Doll R, Peto R, Boreham J, Sutherland I. Mortality in relation to
smoking: 50 years' observations on male British doctors. BMJ.
2004;328(7455):1519.
http://dx.doi.org/10.1136/bmj.38142.5544...
,
33 Pirie K, Peto R, Reeves GK, Green J, Beral V; Million Women Study
Collaborators. The 21st century hazards of smoking and benefits of stopping: a
prospective study of one million women in the UK. Lancet.
2013;381(9861):133-41.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(12)...
) A razão de tamanho impacto é a presença, na fumaça inalada pela queima do
tabaco, de cerca de 5.300 produtos químicos, 250 deles tóxicos, 72 agentes cancerígenos
(600 trilhões de moléculas de cancerígenos/cigarro fumado) e 4 × 109
partículas finas/cm3 de fumaça tragada.(4)4 IARC Working Group on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans.
Personal habits and indoor combustions. Volume 100 E. A review of human carcinogens.
IARC Monogr Eval Carcinog Risks Hum. 2012;100(Pt E):1-538. Entre os principais acometimentos associados ao tabagismo estão as
doenças respiratórias das vias aéreas e intersticiais, com destaque para a DPOC e
cânceres em mais de 10 sítios, entre eles os de cabeça e pescoço(5)5 Almeida AÁ, Bandeira CM, Gonçalves AJ, Araújo AJ. Nicotine dependence
and smoking habits in patients with head and neck cancer. J Bras Pneumol.
2014;40(3):286-93.
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132014...
e o câncer de pulmão, que ocupa o primeiro lugar no ranking
global de óbitos por cânceres,(6)6 World Health Organization. International Agency for Research on Cancer
[homepage on the Internet]. Geneva: WHO; [cited 2015 Mar 17]. Globocan 2012:
Estimated cancer Incidence, Mortality and Prevalence Worldwide 2012. Available from:
http://globocan.iarc.fr/ia/World/atlas.html
http://globocan.iarc.fr/ia/World/atlas.h...
sendo o
tabagismo é responsável por mais de 80% dos casos. Acrescentam-se a essas conhecidas
morbidades evidências de novos estudos sugerindo que o tabagismo aumenta o risco de
óbitos por insuficiência renal, isquemia intestinal, câncer de mama e câncer de
próstata,(7)7 Carter BD, Abnet CC, Feskanich D, Freedman ND, Hartge P, Lewis CE, et
al. Smoking and mortality--beyond established causes. N Engl J Med.
2015;372(7):631-40.
http://dx.doi.org/10.1056/NEJMsa1407211...
ampliando assim o espectro e a
dimensão de seus efeitos. Em outras doenças como a asma, embora diversos estudos tenham
sugerido ser o tabagismo um fator causal, ainda resta controvérsia sobre sua
causalidade, mas as evidências confirmam que fumar ou a exposição à fumaça ambiental do
tabaco dificulta o controle da asma e causa exacerbações com maior frequência.(8)8 U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of
Smoking: 50 Years of Progress. A Report of the Surgeon General. Atlanta, GA: U.S.
Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention,
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on
Smoking and Health; 2014. Com o maior conhecimento dos riscos e as medidas
adotadas pelos países, a prevalência de fumantes vem declinando progressivamente, com
destaque para o Brasil com redução na prevalência de fumantes, na população com 18 anos
ou mais, de 35,4% para 16,8% entre 1989 e 2010.(9)9 Levy D, de Almeida LM, Szklo A. The Brazil SimSmoke policy simulation
model: the effect of strong tobacco control policies on smoking prevalence and
smoking-attributable deaths in a middle income nation. PLoS Med.
2012;9(11):e1001336.
http://dx.doi.org/10.1371/journal.pmed.1...
No presente número, o Jornal Brasileiro de Pneumologia publica um interessante
estudo(10)10 Stelmach R, Fernandes FL, Carvalho-Pinto RM, Athanazio RA, Rached SZ,
Prado GF, et al. Comparison between objective measures of smoking and self-reported
smoking status in patients with asthma or COPD: are our patients telling us the
truth? J Bras Pneumol. 2015;41(2):124-132 . comparando marcadores de tabagismo,
envolvendo pacientes com DPOC e asma e controles formados por indivíduos hígidos
fumantes e não fumantes, para avaliar a efetividade da autodeclaração da condição de
fumante. Os dados são impressionantes: 29% dos pacientes com asma e DPOC que se
declararam não fumantes apresentaram valores elevados de cotinina urinária e de CO no ar
exalado. Se considerarmos apenas a dosagem isolada da cotinina, cujo valor de corte de
200 ng/ml é empregado para discriminar fumantes de não fumantes é suficientemente
elevada para ser explicada apenas pela exposição à fumaça ambiental do tabaco. A
prevalência de pacientes declarados não fumantes e com esse marcador elevado atingiu 38%
(29% e 47% dos pacientes com asma e DPOC, respectivamente). Como o estudo(10)
aponta, os valores observados de falsa informação foram superiores aos observados em
outros estudos, o que pode, em parte, ser explicado pelas diferenças de prevalências de
fumantes nas populações locais nos períodos dos diversos estudos. Pesquisas realizadas
em diversos países evidenciaram que a prevalência de fumantes entre pacientes com
DPOC(1111 Tønnesen P. Smoking cessation and COPD. Eur Respir Rev.
2013;22(127):37-43.
http://dx.doi.org/10.1183/09059180.00007...
,
1212 Vozoris NT, Stanbrook MB. Smoking prevalence, behaviours, and cessation
among individuals with COPD or asthma. Respir Med.
2011;105(3):477-84.
http://dx.doi.org/10.1016/j.rmed.2010.08...
) e asma(1212 Vozoris NT, Stanbrook MB. Smoking prevalence, behaviours, and cessation
among individuals with COPD or asthma. Respir Med.
2011;105(3):477-84.
http://dx.doi.org/10.1016/j.rmed.2010.08...
,
1313 Lemiere C, Boulet LP. Cigarette smoking and asthma: a dangerous mix. Can
Respir J. 2005;12(2):79-80.
) é semelhante à observada entre os fumantes em geral. No estudo de Stelmach
et al.,(10) por ter sido realizado num hospital de atendimento especializado,
deve também ser considerada a possibilidade de receio, por parte do paciente, de
eventualmente ter seu acompanhamento descontinuado como um dos fatores a influenciar tão
elevado número de falsos relatos.
Os dados desse estudo(10)10 Stelmach R, Fernandes FL, Carvalho-Pinto RM, Athanazio RA, Rached SZ,
Prado GF, et al. Comparison between objective measures of smoking and self-reported
smoking status in patients with asthma or COPD: are our patients telling us the
truth? J Bras Pneumol. 2015;41(2):124-132 . sugerem fortemente que
na abordagem dos pacientes com asma ou DPOC se reitere, a cada consulta, a pergunta e se
faça a checagem sobre o status tabágico, incluindo o uso de biomarcadores, especialmente
nos pacientes com maior frequência de exacerbações, e que seja oferecida ajuda aos que
desejem parar de fumar. Embora a cotinina seja um marcador com maior acurácia, a medida
de CO exalado, por ser de baixo custo, medição instantânea e não apresentar diferenças
relevantes entre fumantes com ou sem DPOC, pode ser utilizada para este fim.(14)14 Chatkin G, Chatkin JM, Aued G, Petersen GO, Jeremias ET, Thiesen FV.
Evaluation of the exhaled carbon monoxide levels in smokers with COPD. J Bras
Pneumol. 2010;36(3):332-8.
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132010...
Estudo realizado no Reino Unido revelou que
apenas 13% dos fumantes recebiam prescrição para parar de fumar, embora os com DPOC
fossem mais contemplados.(15)15 Huang Y, Britton J, Hubbard R, Lewis S. Who receives prescriptions for
smoking cessation medications? An association rule mining analysis using a large
primary care database. Tob Control. 2013;22(4):274-9.
http://dx.doi.org/10.1136/tobaccocontrol...
Outro estudo do
mesmo grupo(16)16 Dias-Júnior SA, Pinto RC, Angelini L, Fernandes FL, Cukier A, Stelmach
R. Prevalence of active and passive smoking in a population of patients with asthma.
J Bras Pneumol. 2009;35(3):261-5. revelou também ser elevada (17%)
a prevalência de exposição à fumaça ambiental do tabaco em pacientes com asma,
reconhecidamente um fator associado a exacerbações.(8)8 U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of
Smoking: 50 Years of Progress. A Report of the Surgeon General. Atlanta, GA: U.S.
Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention,
National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on
Smoking and Health; 2014. Embora os estudos sugiram que pacientes com doenças crônicas apresentem
taxas de cessação, com uso de medicamentos para ajudá-los, semelhantes às daqueles que
não as têm,(11)11 Tønnesen P. Smoking cessation and COPD. Eur Respir Rev.
2013;22(127):37-43.
http://dx.doi.org/10.1183/09059180.00007...
é possível que pacientes com
doenças pulmonares crônicas que continuam fumando tenham mais dificuldades para cessar o
tabagismo, necessitando de um suporte maior com relação aos fumantes sem essas
comorbidades, incluindo maior observância da presença de morbidade psicológicas
associadas,(17)17 Afonso MF, Alves MG. Psychological morbidity as a moderator of intention
to quit smoking: a study of smokers and former smokers. J Bras Pneumol.
2013;39(4):461-8.
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132013...
que podem influenciar o êxito
da cessação.
References
-
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Mar-Apr 2015