Acessibilidade / Reportar erro

Um Estudo Bibliométrico da Contribuição de John Dunning na Pesquisa em Negócios Internacionais

Un Estudio Bibliométrico de la Contribución de John Dunning a la Investigación en los Negocios Internacionales

RESUMO

Este artigo proporciona uma revisão da contribuição de John Dunning na pesquisa em negócios internacionais, para entender o impacto de sua obra e do paradigma Eclético na disciplina. A contribuição de Dunning e do paradigma Eclético - usualmente referido como OLI - é uma referência central na pesquisa atual em negócios internacionais e, mais frequentemente, para o estudo de decisões de localização, investimento, modos de entrada e internacionalização e para a teoria da empresa multinacional. Primeiro, fazemos uma revisão dos fundamentos da contribuição acadêmica de Dunning. Segundo, metodologicamente, realizamos um estudo bibliométrico dos artigos publicados em 14 periódicos acadêmicos de alta reputação na área da Administração, em um período de 31 anos, entre 1980 e 2010. Uma amostra de 697 artigos que citam o trabalho de Dunning apoia a análise de matrizes de citações e cocitações e dos temas abordados, permitindo verificar a influência dos trabalhos de Dunning na disciplina de negócios internacionais e em Administração, em sentido mais amplo. Este estudo permitiu identificar a rede de ligações do paradigma Eclético de Dunning com uma variedade de teorias, conceitos e autores em negócios internacionais, além de com os principais temas estudados na disciplina. Observamos as ligações com a teoria dos custos de transação, visão baseada nos recursos, organização industrial e teoria evolucionária. Contribui, também, para os acadêmicos compreenderem melhor o desenvolvimento da disciplina e a estrutura do conhecimento nas inter-relações entre teorias e autores. Alguns autores, como John Dunning, marcam a forma como as disciplinas e o conhecimento evoluem com suas contribuições. O trabalho de Dunning, no paradigma Eclético, sistematizou três condições que presidem a internacionalização das empresas e é hoje uma referência para a prática empresarial, os acadêmicos e a pesquisa.

Palavras-chave:
John Dunning; OLI; Paradigma eclético; Estudo bibliométrico; Negócios internacionais

RESUMEN

Este artículo ofrece una revisión de la contribución de John Dunning a la investigación de los negocios internacionales, para comprender el impacto del trabajo de Dunning y del paradigma Ecléctico en la disciplina. La contribución de Dunning y del paradigma Ecléctico - normalmente denominado OLI - es una referencia central en la investigación actual de los negocios internacionales, en particular el estudio de las decisiones de localización, inversión, entrega e internacionalización, así como para la teoría de la empresa multinacional. En primer lugar, se revisaron los fundamentos de la contribución académica de Dunning. En segundo lugar, metodológicamente, se realizó un estudio bibliométrico de los artículos publicados en 14 revistas académicas de prestigio, en el área de Administración, en un período de 31 años, entre 1980 y 2010. Una muestra de 697 artículos que mencionan a Dunning apoya el análisis de las matrices de citas y co-citas y los campos estudiados que permiten comprobar la influencia del trabajo de Dunning en la disciplina de los negocios internacionales y en la Administración en el sentido más amplio. Este estudio ha permitido identificar una red de conexiones del paradigma ecléctico de Dunning con una variedad de teorías, conceptos y autores de negocios internacionales, y con los principales temas estudiados en la disciplina. Observamos las conexiones con la teoría de los costes de transacción, visión basada en recursos, organización industrial y teoría evolucionaria. Ha contribuido igualmente a que los académicos comprendieran mejor el desarrollo de la disciplina y la estructura del conocimiento de las interrelaciones entre teorías y autores. Algunos autores, como John Dunning, marcan con su contribución la forma en que las disciplinas y el conocimiento evolucionan. El trabajo de Dunning, en el paradigma Ecléctico, ha sistematizado tres condiciones que encabezan la internacionalización de las empresas y es hoy una referencia para la práctica empresarial, los académicos y la investigación.

Palabras clave:
John Dunning; OLI; Paradigma ecléctico; Estudio bibliométrico; Negocios internacionales

ABSTRACT

This article offers a review of John Dunning’s contribution to international business (IB) research, so as to assess the impact of Dunning and of the Eclectic paradigm on this discipline. The contribution of Dunning and of the Eclectic paradigm - usually referred to as OLI - are a core reference to current international business research, namely for studying location decisions, foreign investment, entry modes and internationalization, and for the multinational enterprise theory. First, we review the conceptual foundations of Dunning’s academic contribution. Second, methodologically, we carry out a bibliometric study of articles published in 14 respected academic business magazines over a period of 31 years, between 1980 and 2010. A sample of 697 published articles that refer to Dunning’s work supports the analysis of citations and co-citations matrixes and of relevant themes, allowing us to verify the influence of Dunning’s work on the international business and Management disciplines. This study allowed us to identify the network of connections between Dunning’s Eclectic paradigm and a variety of international business theories, concepts and authors, as well as with the main subjects studied in the discipline. We observed the connections to the transaction costs theory, resource-based view, industrial organization and evolutionary theory. This study also contributes to scholars’ better understanding of the development of the discipline and of the structure of knowledge within connections between theories and authors. Through their contributions, scholars such as John Dunning leave their imprint on the way in which disciplines and knowledge evolve. Dunning’s work, in the Eclectic paradigm, systematized three conditions that guide the internationalization of companies - and is now a reference for entrepreneurial activities, scholars and research.

Keywords:
John Dunning; OLI; Eclectic paradigm; Bibliometric study; International business

1 INTRODUÇÃO

O atual cenário dos negócios não concede aos executivos a oportunidade de ignorar os mercados estrangeiros em suas múltiplas vertentes, desde a comercialização até a produção. Da indústria automobilística ao cinema, à fast-food e à eletrônica de consumo, a globalização alargou a esfera de atuação das empresas e a mente dos executivos. Para acompanhar as mutações no ambiente, a pesquisa em negócios internacionais adotou novas trajetórias, absorveu novos conceitos e abordagens conceituais e começou a focar em temas que vão ganhando relevo, como a internacionalização de pequenas empresas, as born globals, o empreendedorismo internacional, a relação entre a sede corporativa e as subsidiárias dispersas pelo mundo e a entrada em mercados emergentes, entre outros. Uma das mutações importantes, que tem, aliás, acompanhado a evolução da disciplina de Administração, é o foco em aspectos internos à empresa - seus recursos estratégicos, capacidades e conhecimento - em relativo desfavor de abordagens baseadas em fatores unicamente externos ou transacionais. Mas, mesmo quando há alterações nas abordagens conceituais, algumas teorias anteriores permanecem por sua utilidade, rigor ou impacto sobre a forma de pensar e pesquisar.

Este artigo analisa a influência de John Dunning na pesquisa acadêmica em negócios e estratégia internacionais. A articulação proposta por Dunning sobre a natureza da produção internacional das empresas multinacionais e dos fatores que afetam sua localização influencia, direta ou indiretamente, a generalidade da pesquisa na disciplina de negócios/gestão internacionais. A pesquisa de Dunning notabilizou-se ao propor uma taxonomia de três aspectos essenciais na internacionalização das empresas e, em especial, em sua decisão de produzir no estrangeiro. Essa taxonomia, conhecida como paradigma Eclético, ou simplesmente como OLI, inclui três vetores: ownership (posse), location (localização) e internalization (internalização). A taxonomia proposta por Dunning dos fatores que sustentam a decisão de internacionalizar - baseada em vantagens específicas da empresa, na escolha de localização da produção e na opção pela internalização ou externalização das transações - serve de fundação teórica a diversas pesquisas que, nas últimas três décadas, se debruçam sobre as operações das empresas multinacionais (EMN). Este é um dos modelos teóricos mais reconhecidos em negócios internacionais (STOIAN; FILIPPAIOS, 2008STOIAN, C. R.; FILIPPAIOS, F. Dunning’s eclectic paradigm: a holistic, yet context specific framework for analysing the determinants of outward FDI: evidence from international Greek investments. International Business Review, London, v. 17, n. 3, p. 349-367, June 2008.), talvez por ser uma abordagem que combina os vários fatores que oferecem uma explicação das atividades das empresas multinacionais (HUGGINS; DEMIRBAG; RATCHEVA, 2007HUGGINS, R.; DEMIRBAG, M.; RATCHEVA, V. I. Global knowledge and R&D foreign direct investment flows: recent patterns in Asia Pacific, Europe, and North America. International Review of Applied Economics, Abingdon, v. 21, n. 3, p. 437-451, 2007.). A importância do extenso trabalho de Dunning, conduzido ao longo de cinquenta anos de carreira acadêmica, e sua contribuição, são evidenciadas nas atuais referências a seus trabalhos iniciais (DUNNING, 1958DUNNING, J. H. American investment in British manufacturing industry. London: Allen & Unwin, 1958., 1972DUNNING, J. H. The location of international firms in an enlarged EEC: an exploratory paper. Manchester: Manchester Statistical Society, 1972., 1973DUNNING, J. H. The determinants of international production. Oxford Economic Papers, Oxford, v. 25, n. 3, p. 289-336, Nov. 1973., 1977DUNNING, J. H. Trade, location of economic activity and the MNE: a search for an eclectic approach. In: OHLIN, B.; HESSELBORN, P.; WIJKMAN, P. (Ed.) The international allocation of economic activity: proceedings of a Nobel symposium held at Stockholm. London: Macmillan, 1977. p. 395-418.) sobre o paradigma Eclético e a razão de ser da empresa multinacional e de seus investimentos no estrangeiro (DUNNING, 1981bDUNNING, J. H. International production and the multinational enterprise. Londres: Allen & Unwin, 1981b., 2000DUNNING, J. H. The eclectic paradigm as an envelope for economic and business theories of MNE activity. International Business Review, London, v. 9, n. 2, p. 163-190, Apr. 2000.). Peng e Zhou (2006PENG, M. W.; ZHOU, J. Q. Most cited articles and authors in global strategy research. Journal of International Management, New York, v. 12, n. 4, p. 490-508, Dec. 2006.) e Ferreira et al. (2011FERREIRA, M. P. et al. John Dunning’s influence in IB/ strategy research: a bibliometric study in the SMJ. Journal of Strategic Management Education, Dublin, v. 7, n. 2, 2011.) identificaram Dunning como uma das principais referências em estratégia internacional e Lahiri e Kumar (2012LAHIRI, S.; KUMAR, V. Ranking international business institutions and faculty members using research publication as the measure: update and extension of prior research. Management International Review, Wiesbaden, v. 52, n. 3, p. 317-340, June 2012.) como o quarto principal autor no principal periódico de negócios internacionais, o Journal of International Business Studies, entre autores como Yadong Luo, Peter Buckley, John e Klaus Meyer.

O objetivo deste artigo é examinar a contribuição teórica de um autor - John Dunning - e do paradigma Eclético para o desenvolvimento da disciplina e a influência do autor, que se presume estender para além de seu domínio restrito inicial nos negócios internacionais, com ramificações em estudos de estratégia empresarial e, de modo mais amplo, de Administração. Para isso, foram analisados artigos publicados em 14 periódicos acadêmicos de alta reputação,em um período de 31 anos, entre 1980 e 2010 - Academy of Management Journal, Academy of Management Review, Asia Pacific Journal of Management, International Business Review, International Marketing Review, Journal of World Business, Journal of International Business Studies, Journal of International Management, Journal of Management, Journal of Management Studies, Management International Review, Organization Science, Organization Studies e Strategic Management Journal. A análise bibliométrica sobre 675 artigos publicados nesses periódicos que citam os trabalhos de Dunning permite entender melhor a estrutura intelectual que liga teorias e autores (WHITE; MCCAIN, 1998WHITE, H. D.; MCCAIN, K. W. Visualizing a discipline: an author co-citation analysis of information science, 1972-1995. Journal of the American Society for Information Science, New York, v. 49, n. 4, p. 327-355, 1998.; RAMOS-RODRIGUEZ; RUIZ-NAVARRO, 2004RAMOS-RODRIGUEZ, A. R.; RUIZ-NAVARRO, J. Changes in the intellectual structure of strategic management research: a bibliometric study of the Strategic Management Journal, 1980- 2000. Strategic Management Journal, Chichester, v. 25, n. 10, p. 981-1004, Oct. 2004.; FERREIRA et al., 2011FERREIRA, M. P. et al. John Dunning’s influence in IB/ strategy research: a bibliometric study in the SMJ. Journal of Strategic Management Education, Dublin, v. 7, n. 2, 2011.). O objetivo é enquadrar a essência da contribuição de Dunning - o paradigma Eclético - na pesquisa em negócios internacionais e analisar ligações com outros autores e temas, por meio de análises bibliométricas de citações e cocitações.

Este artigo está estruturado da seguinte forma: na primeira parte, analisamos a gênese do paradigma Eclético. Depois, apresentamos a metodologia, procedimento para coleta de dados e amostra. Os resultados antecedem uma discussão ampla, apontando algumas limitações e perspectivas para futuras pesquisas.

2 O PARADIGMA ECLÉTICO

A carreira acadêmica de Dunning foi centrada no desenvolvimento, e posteriores extensões, do paradigma Eclético (DUNNING, 1977DUNNING, J. H. Trade, location of economic activity and the MNE: a search for an eclectic approach. In: OHLIN, B.; HESSELBORN, P.; WIJKMAN, P. (Ed.) The international allocation of economic activity: proceedings of a Nobel symposium held at Stockholm. London: Macmillan, 1977. p. 395-418., 1995DUNNING, J. H. Reappraising the eclectic paradigm in the age of alliance capitalism. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v.26, n. 3, p. 461-491, 3rd Qtr.1995., 2004DUNNING, J. H. An evolving paradigm of the economic determinants of international business activity. In: CHENG, J. ; HITT, M. (Ed.). Managing multinationals in a knowledge economy: economics, culture, and human resources. Amsterdam: Elsevier, 2004. v. 15, p. 3-27.). O paradigma Eclético é uma abordagem da produção internacional, isto é, da produção realizada no estrangeiro por meio de investimento direto no estrangeiro (IDE) (ver, em especial, DUNNING, 1977DUNNING, J. H. Trade, location of economic activity and the MNE: a search for an eclectic approach. In: OHLIN, B.; HESSELBORN, P.; WIJKMAN, P. (Ed.) The international allocation of economic activity: proceedings of a Nobel symposium held at Stockholm. London: Macmillan, 1977. p. 395-418., 1981bDUNNING, J. H. International production and the multinational enterprise. Londres: Allen & Unwin, 1981b., 1988DUNNING, J. H. The eclectic paradigm of international production: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n. 1, p. 1-31, Spring 1988., 1993aDUNNING, J. H. Multinational enterprises and the global economy. Wokingham: Addison-Wesley, 1993a., 2000DUNNING, J. H. The eclectic paradigm as an envelope for economic and business theories of MNE activity. International Business Review, London, v. 9, n. 2, p. 163-190, Apr. 2000.). O paradigma explica os motivos e as razões (porquê), a localização (onde) e a forma (como) pelas quais as operações internacionais de empresas multinacionais são desenvolvidas. É designado por Eclético porque integra abordagens teóricas distintas, convertendo-as em uma só taxonomia, comumente designada por OLI. Em essência, o objetivo conceitual do paradigma Eclético é explicar por que existem empresas multinacionais (EMN) e por que elas podem ser relativamente mais bem-sucedidas do que as empresas domésticas (HYMER, 1976HYMER, S. H. The international operations of national firms: a study of FDI. Cambridge: MIT Press, 1976.; DUNNING, 1988DUNNING, J. H. The eclectic paradigm of international production: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n. 1, p. 1-31, Spring 1988.; DUNNING; WYMBS, 2001DUNNING, J.; WYMBS, C. The challenge of electronic markets for international business theory. International Journal of the Economics of Business, London, v. 8, n. 2, p. 273-301, July 2001.).

Os trabalhos de Dunning podem ser seguidos até sua origem, em 1958, com sua tese de doutorado - American Investment in British Manufacturing Industry -, quando observou que as empresas que operavam nos Estados Unidos tinham maiores níveis de produtividade que suas congêneres inglesas. Sugeriu, em consequência, dois tipos de fatores que ficaram conhecidos como vantagens de posse (ou ownership advantages) e vantagens de localização (ou location advantages). As vantagens de posse são as que a empresa detém e que poderia transferir para outras operações, principalmente no estrangeiro. Evidenciam uma vantagem competitiva de a EMN deter um recurso, capability,1 1 . A designação capability não tem uma tradução direta para português, sendo referida como competência, capacidade dinâmica ou capacitação dinâmica por diferentes autores. ou ativo específico, que lhe confere uma capacidade superior de gerar valor. Assim, as vantagens de posse podem ser devidas a melhores tecnologias, ativos intangíveis, ou a um processo de produção mais eficiente e melhor capacidade de gestão, entre outros.

As vantagens de localização são explicadas como específicas de certos locais (regiões ou países), que não podem ser apropriadas a distância e que só beneficiam as empresas ali localizadas. Ou seja, para se beneficiar das vantagens de localização as empresas precisam ter operações no local. Assim, a EMN precisa ter em conta fatores específicos do local, como custo dos fatores produtivos, acessibilidade, disponibilidade de conhecimento, políticas industriais governamentais, dimensão e potencial do mercado, entre outros. A localização selecionada para as operações influencia a capacidade da empresa de explorar seus ativos, ou recursos, específicos (suas vantagens de posse). Então, inerente à análise das vantagens de localização é que os recursos em questão não são comercializáveis, pelo que não podem ser transferidos para outra localização (RUGMAN, 1981RUGMAN, A. M. Inside the multinationals: the economics of internal markets. London: Croom Helm, 1981.).

Os estudos de Dunning sobre as vantagens de posse e de localização são complementares a teorias neoclássicas então vigentes, principalmente as relacionadas com a alocação de fatores (LEONTIEF, 1953LEONTIEF, W. Domestic production and foreign trade: the american capital position re-examined. Proceedings of the American Philosophical Society, Philadelphia, v. 97, n. 4, p. 332-349, Sep. 1953.; HYMER, 1976HYMER, S. H. The international operations of national firms: a study of FDI. Cambridge: MIT Press, 1976.; POSNER, 1961POSNER, M. V. International trade and technical change. Oxford Economic Papers, Oxford, v. 13, n. 3, p. 323-341, Oct. 1961.). O paradigma Eclético, no entanto, manifestava diferenças face às teorias vigentes, principalmente ao considerar que muitas das alocações dos fatores eram específicas às empresas e, como tais, eram móveis - na medida em que as empresas os podiam deslocar, mesmo que de forma imperfeita (DUNNING, 1972DUNNING, J. H. The location of international firms in an enlarged EEC: an exploratory paper. Manchester: Manchester Statistical Society, 1972.; HENNART, 1982HENNART, J.-F. A theory of multinational enterprise. University of Michigan Press: Ann Arbor, 1982.; DUNNING; LUNDAN, 2008DUNNING, J. H.; LUNDAN, S. M. Multinational enterprises and the global economy. 2nd ed. Basingstoke: Edward Elgar, 2008.). Nos anos 1960, a visão econômica reinante ditava que os ativos seriam transferíveis apenas se as imperfeições estruturais de mercado (como a intervenção governamental ou os monopólios) pudessem ser removidas (DUNNING; RUGMAN, 1985DUNNING, J.; RUGMAN, A. M. The influence of Hymer’s dissertation on the theory of foreign direct investment. American Economic Review, Nashville, v. 75, n. 2, p. 228-232, May 1985.). Um dos elementos diferenciadores em Dunning foi a ênfase não nas restrições estruturais de acesso aos fatores locais (como barreiras tarifárias ou restrições à posse), mas sim na transferência imperfeita das vantagens de posse que impediam as empresas de transferir seus recursos (ou ativos) competitivos específicos para o estrangeiro (RUGMAN, 1981RUGMAN, A. M. Inside the multinationals: the economics of internal markets. London: Croom Helm, 1981.).

O terceiro componente do paradigma Eclético - vantagens de internalização - emerge em um contexto acadêmico em que ganhava importância o papel das instituições (AKERLOF, 1970AKERLOF, G. A. The market for ‘lemons’: quality uncertainty and the market mechanism. Quarterly Journal of Economics, Cambridge, v. 84, n. 3, p. 488-500, Aug. 1970.; WILLIAMSON, 1971WILLIAMSON, O. E. The vertical integration of production: market failure considerations. American Economic Review, Nashville, v. 61, n. 2, p. 112-123, May 1971.; ALCHIAN; DEMSETZ, 1972ALCHIAN, A. A.; DEMSETZ, H. Production, information costs, and economic organization. American Economic Review, Nashville, v. 62, n. 5, p. 777-795, Dec. 1972.; SPENCE, 1976SPENCE, A. Informational aspects of market structure: an introduction. Quarterly Journal of Economics, Cambridge, v. 90, n. 4, p. 591-597, Nov. 1976.) e a internalização das atividades, face às evoluções na teoria dos custos de transação (BUCKLEY; CASSON, 1976BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. The future of the multinational enterprise. London: Macmillan, 1976.; NORTH, 1984NORTH, D. C. Transaction costs, institutions and economic history. Zeitschrift fur die Gesamte Staatswissenschaft (JITE), Tuebingen, v. 140, n. 1, p. 7-17, Mar. 1984.; TEECE, 1981TEECE, D. J. The multinational enterprise: market failure and market power considerations. Sloan Management Review, Cambridge, v. 22, n. 3, p. 3-17, Spring 1981., 1986TEECE, D. J. Transaction cost economics and the multinational enterprise: an assessment. Journal of Economic Behavior and Organization, Amsterdam, v. 7, n. 1, p. 21-45, Mar. 1986.; NELSON; WINTER, 1982NELSON, R. R.; WINTER, S. G. An evolutionary theory of economic change. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 1982.; WILLIAMSON, 1975WILLIAMSON, O. E. Markets and hierarchies: analysis and antitrust implications. New York: Free Press , 1975., 1985WILLIAMSON, O. E. The economic institutions of capitalism: firms, markets, relational contracting. New York: The Free Press, 1985.). Fica, assim, completo o paradigma Eclético composto por três fatores: posse, localização e internalização (DUNNING, 1981bDUNNING, J. H. International production and the multinational enterprise. Londres: Allen & Unwin, 1981b.).

As vantagens de internalização - ou a opção de internalizar ou externalizar as operações - consistem nos benefícios para a empresa de explorar suas vantagens de posse internamente, em vez de por meio de transações no mercado. Ou seja, por que as empresas escolhem comercializar suas vantagens específicas em vez de explorá-las internamente? Só é possível explicar a própria existência de empresas multinacionais quando existem vantagens de internalização. Guisinger (2001GUISINGER, S. From OLI to OLMA: incorporating higher levels of environmental and structural complexity into the eclectic paradigm. International Journal of the Economics of Business, London, v. 8, n. 2, p. 257-272, 2001.) propõe mesmo alterar o I, em OLI, por M, que significa modos de entrada - dado que a opção de internalização se reflete na seleção do modo de entrada no mercado externo. Em certos casos, os benefícios de realizar internamente as operações são superiores, especialmente para explorar mais eficazmente os recursos específicos - e, nesses casos, a EMN realiza IDE. Em outros casos, é possível a eficiente contratação no mercado ou o licenciamento a parceiros externos. Como regra geral, quanto mais importante for a exploração das vantagens de posse em um dado país estrangeiro, maior a propensão para a internalização das operações pela realização de IDE.

As três vantagens - posse, localização e internalização, que compõem o OLI - precisam estar, simultaneamente, presentes para que a EMN prefira realizar IDE face a modos de entrada alternativos (DUNNING, 1977DUNNING, J. H. Trade, location of economic activity and the MNE: a search for an eclectic approach. In: OHLIN, B.; HESSELBORN, P.; WIJKMAN, P. (Ed.) The international allocation of economic activity: proceedings of a Nobel symposium held at Stockholm. London: Macmillan, 1977. p. 395-418., 1981aDUNNING, J. H. Explaining the international direct investment position of countries: towards a dynamic or developmental approach, Weltwirtschaftliches Archiv, Kiel, v. 117, p. 30-64, 1981a., 1981bDUNNING, J. H. International production and the multinational enterprise. Londres: Allen & Unwin, 1981b., 1988DUNNING, J. H. The eclectic paradigm of international production: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n. 1, p. 1-31, Spring 1988., 1995DUNNING, J. H. Reappraising the eclectic paradigm in the age of alliance capitalism. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v.26, n. 3, p. 461-491, 3rd Qtr.1995., 2001DUNNING, J.; WYMBS, C. The challenge of electronic markets for international business theory. International Journal of the Economics of Business, London, v. 8, n. 2, p. 273-301, July 2001.). A combinação dessas três vantagens permite explicar o escopo e a distribuição geográfica das atividades das EMN (ver, por exemplo, DUNNING, 1993aDUNNING, J. H. Multinational enterprises and the global economy. Wokingham: Addison-Wesley, 1993a.).

Em suma, segundo Dunning (1988DUNNING, J. H. The eclectic paradigm of international production: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n. 1, p. 1-31, Spring 1988.), a forma concreta como as EMN atuam depende da combinação de três fatores. A Tabela 1 exemplifica os tipos de vantagens.

Tabela 1:
Vantagens OLI.

Ao longo das últimas três décadas, o paradigma Eclético teve múltiplas evoluções e extensões (Tabela 2) e com a publicação, em 1995, de The Eclectic Paradigm in an Age of Alliance Capitalism, Dunning revelou como o foco se desvia de questões apenas do IDE e da produção internacional para passar a incluir a própria estrutura da empresa multinacional, que é crescentemente vista como uma rede (HEDLUND, 1986HEDLUND, G. The hypermodern MNC: a heterarchy?. Human Resources Management, Oxford, v. 25, n. 1, p. 9-35, Spring 1986.; BARTLETT; GHOSHAL, 1989BARTLETT, C. A.; GHOSHAL, B. S. Managing across borders: the transnational solution. Boston: Harvard Business School Press, 1989.; LI; FERREIRA; SERRA, 2009LI, D.; FERREIRA, M.P.; SERRA, F. R. Technology transfer within MNEs: inter-subsidiary competition and cooperation. Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 6, n.1, p. 139-158, 2009.).

Tabela 2:
Genealogia do paradigma OLI.

Dunning (1988DUNNING, J. H. The eclectic paradigm of international production: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n. 1, p. 1-31, Spring 1988., 1993bDUNNING, J. H. The globalization of business. London: Routledge, 1993b.) propõe quatro tipos diferentes de motivos para a realização de investimento estrangeiro, como segue.

  • busca de recursos (resource seeking) - visa aceder a recursos naturais, matérias-primas ou outro fator produtivo em condições mais vantajosas (por exemplo, em maior abundância ou a menor custo).

  • busca de mercado (market seeking) - visa entrar em um novo mercado para, por exemplo, ampliar a base de clientes.

  • busca de eficiência (efficiency seeking) - visa melhorar a eficiência da EMN, tornando-a mais produtiva, por exemplo, por meio de melhor divisão do trabalho ou da especialização dos seus recursos.

  • busca de recursos estratégicos (strategic asset seeking) - visa desenvolver as competências, recursos e capabilities da empresa, contribuindo para aumentar sua vantagem competitiva. A motivação de procura de recursos estratégicos pelas EMN tem ganho relevo (KOGUT; ZANDER, 1992KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm, combinative capabilities, and the replication of technology. Organization Science, Linthicum, v. 3, n.3, p. 383-397, Aug. 1992., 1993KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm and the evolutionary theory of the multinational corporation. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 24, n. 4, p. 625-645, Dec. 1993.), denotando que o fator localização perde alguma importância em favor do predomínio das vantagens de posse e de internalização, como condição necessária às operações das EMN.

Em extensões posteriores do trabalho sobre o paradigma Eclético, Dunning (1995DUNNING, J. H. Reappraising the eclectic paradigm in the age of alliance capitalism. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v.26, n. 3, p. 461-491, 3rd Qtr.1995., 1997DUNNING, J. H. Alliance capitalism and global business. London: Routledge, 1997.) refere-se às formas de cooperação entre empresas, como as alianças estratégicas, para notar como a trilogia OLI pode ser modificada, afetando a realização de IDE. Os modelos de colaboração entre empresas permitem a redução das imperfeições do mercado, pelo menos em certas situações, reduzindo-se, assim, a necessidade de internalizar as operações para capturar os benefícios da posse de recursos valiosos.

Uma das contribuições essenciais do trabalho de Dunning (patente já em 1988) foi estabelecer o requisito de as empresas terem uma vantagem competitiva específica como precondição para a própria existência de multinacionais. Efetivamente, muito do foco da pesquisa em negócios internacionais assenta hoje sobre quais são esses recursos e como influenciam as EMN em múltiplas dimensões - desde a seleção das localizações até os modos de entrada e a própria configuração das relações entre as subsidiárias no estrangeiro (BARTLETT; GHOSHAL, 1989BARTLETT, C. A.; GHOSHAL, B. S. Managing across borders: the transnational solution. Boston: Harvard Business School Press, 1989.; KOGUT; CHANG, 1991KOGUT, B.; CHANG, S. J. Technological capabilities and Japanese foreign direct investment in the United States. Review of Economics and Statistics, Cambridge, v. 73, n. 3, p. 401-413, Aug. 1991.; KOGUT; ZANDER, 1992KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm, combinative capabilities, and the replication of technology. Organization Science, Linthicum, v. 3, n.3, p. 383-397, Aug. 1992., 1993KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm and the evolutionary theory of the multinational corporation. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 24, n. 4, p. 625-645, Dec. 1993.; LI; FERREIRA; SERRA, 2009LI, D.; FERREIRA, M.P.; SERRA, F. R. Technology transfer within MNEs: inter-subsidiary competition and cooperation. Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 6, n.1, p. 139-158, 2009.). Atualmente, essa vertente da pesquisa é sustentada na visão baseada em recursos (ou resource-based view) desenvolvida por autores como Barney (1986BARNEY, J. Strategic factor markets: expectations, luck and business strategy. Management Science, Hanover, v. 32, n. 10, p. 1231-1241, Oct. 1986., 1991BARNEY, J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, Thousand Oaks, v. 17, n. 1, p. 99-120, Mar. 1991), Wernerfelt (1984WERNERFELT, B. A resourced-based view of the firm. Strategic Management Journal, Chichester, v. 5, n. 2, p. 171-180, Apr./June 1984.), Penrose (1959PENROSE, E. The theory of the growth of the firm. New York: Oxford University Press, 1959.), Tallman (1991TALLMAN, S. B. Strategic management models and resource-based strategies among MNEs in a host market. Strategic Management Journal, Chichester, v. 12, n. 1 p. 69-82, 1991. Special Issue.) e Peteraf (1993PETERAF, M. A. The cornerstones of competitive advantage: a resource-based view. Strategic Management Journal, Chichester, v. 14, n. 3, p. 179-191, Mar. 1993.), entre outros. De fato, não é irrelevante o foco atualmente dado a um recurso específico: o conhecimento, como originador da EMN (KOGUT; ZANDER, 1992KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm, combinative capabilities, and the replication of technology. Organization Science, Linthicum, v. 3, n.3, p. 383-397, Aug. 1992.).

3 ESTUDO BIBLIOMÉTRICO

3.1 Método

O método bibliométrico usado segue o descrito por Ramos-Rodriguez e Ruiz-Navarro (2004RAMOS-RODRIGUEZ, A. R.; RUIZ-NAVARRO, J. Changes in the intellectual structure of strategic management research: a bibliometric study of the Strategic Management Journal, 1980- 2000. Strategic Management Journal, Chichester, v. 25, n. 10, p. 981-1004, Oct. 2004.) na análise da evolução e das alterações na estrutura intelectual da pesquisa, publicada no Strategic Management Journal. Neste estudo bibliométrico examinamos artigos publicados procurando identificar relações entre autores e temáticas na pesquisa. Especificamente, utilizamos a análise de citações e cocitações (WHITE; GRIFFITH, 1981WHITE, H. D.; GRIFFITH, B. C. Author co-citation: a literature measure of intellectual structure. Journal of the American Society for Information Science, New York, v. 32, n. 3, p. 163-171, May 1981.; WHITE; MCCAIN, 1998WHITE, H. D.; MCCAIN, K. W. Visualizing a discipline: an author co-citation analysis of information science, 1972-1995. Journal of the American Society for Information Science, New York, v. 49, n. 4, p. 327-355, 1998.). A análise de citações depende do uso de outros documentos (livros, artigos etc.) que os autores referenciam quando escrevem um trabalho acadêmico. O uso dessas referências manifesta que alguns trabalhos anteriores têm importância, ou servem de referência, para seu próprio trabalho. É, então, razoável sugerir que, quanto mais um determinado artigo for citado, e por mais autores, maior é sua influência para a disciplina e o desenvolvimento do conhecimento (TAHAI; MEYER, 1999TAHAI, A.; MEYER, M. J. A revealed preference study of management journals’ direct influences. Strategic Management Journal, Chichester, v. 20, n. 3, p. 279-296, Mar. 1999.). A análise de cocitações, por seu lado, examina possíveis grupos, ou pares, de artigos que são citados simultaneamente em um mesmo artigo. Assim, artigos que são citados juntamente em um mesmo artigo terão, provavelmente, alguma identidade de conteúdo, ou servirão propósito idêntico. Por meio desse processo, podemos determinar grupos de autores, temas e teorias para entender como poderão estar relacionados (ver, a este propósito, WHITE; GRIFFITH, 1981WHITE, H. D.; GRIFFITH, B. C. Author co-citation: a literature measure of intellectual structure. Journal of the American Society for Information Science, New York, v. 32, n. 3, p. 163-171, May 1981.; MCCAIN, 1990MCCAIN, K. W. Mapping authors in intellectual space: a technical overview. Journal of the American Society for Information Science, New York, 41, n. 6, p. 433-443, Sep. 1990.; WHITE; MCCAIN, 1998WHITE, H. D.; MCCAIN, K. W. Visualizing a discipline: an author co-citation analysis of information science, 1972-1995. Journal of the American Society for Information Science, New York, v. 49, n. 4, p. 327-355, 1998.).

3.2 Amostra

O estudo bibliométrico realizado incidiu sobre 14 periódicos de alta reputação em Administração. Os periódicos e respectivas classificações (Tabela 3) foram selecionadas a partir do trabalho de Ann-Will Harzing (2011HARZING, A-W. Journal quality list 2011. Acessada em http://www.harzing.com
http://www.harzing.com...
) Journal Quality List (disponível em <www.harzing.com/jql.htm>). Vários estudos usaram uma seleção idêntica de periódicos ou mais estreita, mas incluindo os aqui utilizados (WERNER, 2002WERNER, S. Recent developments in international management research: a review of 20 top management journals. Journal of Management, Thousand Oaks, v. 28, n. 3, p. 277-305, June 2002.; LU, 2003LU, J. W. The evolving contributions in international strategic management research. Journal of International Management, New York, v. 9, n. 2, p. 193-213, 2003.; PENG; ZHOU, 2006PENG, M. W.; ZHOU, J. Q. Most cited articles and authors in global strategy research. Journal of International Management, New York, v. 12, n. 4, p. 490-508, Dec. 2006.; FERREIRA et al., 2009FERREIRA, M. P. et al. Is the international business environment the actual context for international business research?. Revista de Administração Empresas, São Paulo, v. 49, n. 3, p. 282-294, jul./set. 2009.; PISANI, 2009PISANI, N. International management research: investigating its recent diffusion in top management journals. Journal of Management, Thousand Oaks, v. 35, n. 2, p. 199-218, Mar. 2009.; TREVINO et al., 2010TREVINO, L. J. et al. A perspective on the state of the field: international business publications in the elite journals as a measure of institutional and faculty productivity. International Business Review, London, v. 19, n. 4, p. 378-387, Aug. 2010.; FERREIRA et al., 2011FERREIRA, M. P. et al. John Dunning’s influence in IB/ strategy research: a bibliometric study in the SMJ. Journal of Strategic Management Education, Dublin, v. 7, n. 2, 2011.; LAHIRI; KUMAR, 2012LAHIRI, S.; KUMAR, V. Ranking international business institutions and faculty members using research publication as the measure: update and extension of prior research. Management International Review, Wiesbaden, v. 52, n. 3, p. 317-340, June 2012.). Esses periódicos estão entre os mais bem ranqueados para a publicação de artigos científicos em negócios internacionais: Journal of International Business Studies (JIBS), Management International Review (MIR), International Business Review (IBR), Journal of World Business (JWB) e Journal of International Management (JIM). Foi incluído, também, um conjunto de periódicos que, tendo uma vocação mais generalista em Administração, publicam pesquisa em negócios internacionais: Academy of Management Journal (AMJ), Academy of Management Review (AMR), Journal of Management (JM), Asia Pacific Journal of Management (APJM), Journal of Management Studies (JMS), Organization Science (OS), Organization Studies (Ost) e Strategic Management Journal (SMJ).

Os 14 periódicos estão disponíveis para download nas bases de dados online usualmente subscritas pelas universidades, ainda que com eventuais restrições temporais. Todos os periódicos estão, também, disponíveis na ISI Web of Knowledge, de onde são retirados os dados usados neste trabalho. Genericamente, foi considerado o período de 1980 a 2010 - 31 anos - para análise. Importa notar que alguns periódicos não têm dados disponíveis para todo o período, como revela a Tabela 3. Por exemplo, o JWB só está disponível entre 1997 e 2011 e o APJM, entre 1998 e 2011, mas outros periódicos têm um longo histórico disponível, como o JIBS, cuja inserção se inicia em 1976, e o AMJ, que tem início em 1958, sendo então possível analisar todo o período considerado.

Tabela 3:
Ranking dos periódicos de base ao estudo.

A amostra foi construída seguindo o procedimento de identificar e selecionar todos os artigos que citavam pelo menos uma obra de John Dunning. Esse procedimento resultou em 697 artigos com citação de pelo menos um trabalho de Dunning. Quaisquer divergências nos títulos de artigos, volumes ou números foram corrigidas e, no caso de livros, uniformizadas para a primeira edição. Selecionamos esses artigos e todas as referências usadas em cada um dos 697 artigos para análises subsequentes. A Tabela 4 revela, para cada um dos 14 periódicos, os artigos publicados e o número total de artigos que citam Dunning. É evidente a tendência crescente de citações a Dunning, mesmo considerando o maior volume de artigos publicados, o que pode manifestar a crescente aceitação da contribuição teórica de Dunning para a disciplina de negócios internacionais. Não é surpreendente que os trabalhos de Dunning sejam mais citados nas revistas da disciplina - JIBS, MIR, IBR, JWB e JIM - e em estratégia (SMJ, em que 87 artigos publicados citam Dunning).

Tabela 4:
Artigos publicados por revista: 1980-2010.

Os dados recolhidos foram organizados usando o software Bibexcel - disponível em <http://www.umu.se/inforsk/Bibexcel> - para a geração das matrizes de citação e cocitação, seguindo o método proposto em Ramos-Rodriguez e Ruiz-Navarro (2004).

3 RESULTADOS

A Figura 1 mostra uma tendência crescente na utilização dos trabalhos de Dunning na pesquisa em Negócios Internacionais desde os trabalhos iniciais no início dos anos 1980. Embora outras perspectivas conceituais tenham emergido na pesquisa realizada na disciplina, talvez mais pronunciadamente a Visão Baseada nos Recursos na década de 1990, ou as abordagens baseadas na teoria Institucional, o paradigma Eclético de Dunning tem mantido e reforçado sua relevância. Em 2009, cerca de 10% dos artigos publicados nos 14 periódicos usados citava pelo menos um dos trabalhos de Dunning.

Figura 1:
Evolução das citações a Dunning: 1980-2010 (%).

A Tabela 5 mostra os 12 trabalhos mais citados na amostra, destacando-se o livro de 1993, Multinational Enterprises and the Global Economy como o mais citado.

Tabela 5:
Artigos de Dunning mais citados.

A Figura 2 revela o mapa de cocitações para os 20 autores mais citados juntamente com os trabalhos de Dunning. A figura mostra três efeitos: primeiro, os laços que ligam diferentes trabalhos (um artigo ou livro, por um dado autor); segundo, a força do laço existente; e, terceiro, a posição de centralidade ou periferia relativa. O trabalho de 1993, de Dunning, surge no centro da figura, como o mais citado - quanto mais próximos estiverem os trabalhos do centro, maior o número de cocitações. Por exemplo, Dunning (1993aDUNNING, J. H. Multinational enterprises and the global economy. Wokingham: Addison-Wesley, 1993a.), Johanson e Vahle (1977JOHANSON, J.; VAHLNE, J. The internationalisation process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitment. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 8, n. 1, p. 23-32, Spring/Summer 1977.) e Buckley e Casson (1976BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. The future of the multinational enterprise. London: Macmillan, 1976.) são mais centrais e estão mais próximos, o que indica que são mais frequentemente cocitados e que, dada sua centralidade, são mais relevantes para todos os outros trabalhos. A partir de Dunning (1993aDUNNING, J. H. Multinational enterprises and the global economy. Wokingham: Addison-Wesley, 1993a.), desenvolvem-se ligações importantes com os trabalhos de Kogut e Zander (1993KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm and the evolutionary theory of the multinational corporation. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 24, n. 4, p. 625-645, Dec. 1993.) e Kogut e Singh (1988KOGUT, B.; SINGH, H. The effect of national culture on the choice of entry mode. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n.3, p. 411-432, Autumn 1988.), com 53 ligações e, também, com Caves (1982CAVES, R. E. Multinational enterprise and economic analysis. Cambridge: The Cambridge University Press, 1982.), com 63 ligações. Destacam-se, ainda, as ligações entre os trabalhos de Dunning de 1977 e de 1980 e o livro de Buckley e Casson (1976BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. The future of the multinational enterprise. London: Macmillan, 1976.) sobre o futuro das empresas multinacionais, porque as multinacionais existem quando as empresas investem e se expandem nos mercados externos.

A análise da Figura 2 revela, também, a centralidade relativa de cada trabalho (artigo ou livro) relativamente aos demais trabalhos. Na periferia da Figura 2 estão trabalhos que, apesar de muito cocitados com Dunning, são, ainda assim, menos relevantes para os outros trabalhos da rede. Esse é o caso, por exemplo, de Porter (1990PORTER, M. E. The competitive advantage of nations. New York: Free Press, 1990.), que, embora importante, é menos relevante para os restantes 18 trabalhos na rede.

Figura 2:
Mapa de cocitações dos 20 artigos mais citados.

A espessura relativa das linhas reflete a força do laço entre cada trabalho, sendo uma medida da frequência de citações. O software desloca para a periferia da figura os trabalhos que, embora frequentemente cocitados com Dunning, são menos frequentemente citados nos demais trabalhos. Portanto, a posição na rede e a força do laço mostram o uso relativo de um dado trabalho na pesquisa existente.

É interessante entender quais dos temas pesquisados se servem dos trabalhos de Dunning. A análise bibliométrica adotada não permite uma análise de conteúdo individualizada de cada um dos 697 artigos que citam Dunning. Essa análise é realizada de uma forma bastante direta e, possivelmente, mais significativa por meio da análise das palavras-chave fornecidas pelos autores. Note que os autores indicam um conjunto de palavras-chave em seus artigos de forma a refletir seu conteúdo, quer para efeitos de catalogação, seja pelos periódicos ou em bibliotecas, quer para identificar a temática a potenciais leitores interessados. Assim, é razoável afirmar que as palavras-chave indicadas pelos autores permitem uma razoável identificação dos temas tratados em seus artigos.

Na Figura 3, são representadas as principais palavras-chave dos 697 artigos selecionados (o conjunto desses artigos usou 1.082 palavras-chave distintas). É de notar que os temas principais dos artigos que citam Dunning estão relacionados com o investimento direto estrangeiro (FDI - Foreign Direct Investment) e com empresas multinacionais (MNE - Multinational Enterprises), que são, efetivamente, o core da contribuição de Dunning. Outros temas - como conhecimento (knowledge), globalização, economias e mercados emergentes, localização, desvantagens de ser estrangeiro, modos de entrada e internacionalização - são, também, significativos. Globalmente considerados, esses são os principais temas de pesquisa em negócios internacionais. A análise realizada é evidência prima facie de que os trabalhos de Dunning contribuem para a pesquisa dos principais temas da disciplina.

Figura 3:
Principais temas dos artigos que citam Dunning.

4 DISCUSSÃO

Neste artigo examinamos a influência dos trabalhos do professor e pesquisador John Dunning na pesquisa em Administração e, especificamente, na disciplina de Negócios Internacionais (International Business) durante as últimas três décadas. O legado de Dunning é reconhecido por sua contribuição conceitual para a evolução da disciplina, sendo sua taxonomia OLI amplamente usada na pesquisa. A análise teórica do trabalho de Dunning, na primeira parte deste artigo, foi seguida de um estudo bibliométrico em 14 dos principais periódicos de Administração que publicam pesquisa em negócios internacionais. Seguindo os procedimentos de um estudo bibliométrico, este trabalho envolveu a análise de quase 22 mil artigos publicados, que, em conjunto, foram citados mais de 604 mil vezes. Como amostra, para a análise empírica, foi construída uma base de dados que incluiu 697 artigos publicados entre 1980 e 2010, nos 14 periódicos indicados, que citam pelo menos um trabalho de Dunning. Com esse estudo, procuramos perceber o impacto de um autor e de suas propostas - em especial do paradigma Eclético -, bem como a estrutura intelectual das ligações com outros autores e teorias ou temas. A análise de citações e cocitações e uma breve abordagem aos temas focados permitiu identificar a forma como os trabalhos de Dunning são usados.

O estudo bibliométrico permite-nos observar um conjunto de resultados. Primeiro, notamos como os trabalhos de Dunning e seu paradigma Eclético têm um lugar proeminente, e crescente, na pesquisa na disciplina de Negócios Internacionais (Figura 1). A análise da Figura 2 permitiu identificar as ligações entre os trabalhos de Dunning e um conjunto de autores e teorias. Na figura estão representadas diversas correntes de pensamento e temáticas nos negócios internacionais. Por exemplo, a ligação com Johanson e Vahlne (1977JOHANSON, J.; VAHLNE, J. The internationalisation process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitment. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 8, n. 1, p. 23-32, Spring/Summer 1977.) revela, efetivamente, que a taxonomia OLI tem proximidade com os trabalhos sobre a internacionalização como um processo gradual e incremental, como proposto pela escola sueca de Uppsala. Mesmo em uma internacionalização gradual, a empresa faz uso de suas vantagens competitivas e escolhe sequencialmente as localizações para seus investimentos produtivos.

A cocitação de Dunning com Michael Porter, em especial as obras de 1990 e de 1986, revela a proximidade com temas como as vantagens de localização e a necessidade de explorar e conhecer os mercados estrangeiros para onde as EMN se internacionalizam, mas também com a competição em indústrias globais. Há, ainda, uma proximidade com os trabalhos sobre custos de transação (WILLIAMSON, 1975WILLIAMSON, O. E. Markets and hierarchies: analysis and antitrust implications. New York: Free Press , 1975., 1985WILLIAMSON, O. E. The economic institutions of capitalism: firms, markets, relational contracting. New York: The Free Press, 1985.; RUGMAN, 1981RUGMAN, A. M. Inside the multinationals: the economics of internal markets. London: Croom Helm, 1981.; HENNART, 1982HENNART, J.-F. A theory of multinational enterprise. University of Michigan Press: Ann Arbor, 1982.) - a decisão de internalizar as operações no estrangeiro requer a avaliação das vantagens de internalização que pode ser suportada na comparação dos custos de transação das diferentes alternativas, ou modos de entrada. Buckley e Casson (1976BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. The future of the multinational enterprise. London: Macmillan, 1976.), por exemplo, focam a existência da empresa multinacional como forma de ultrapassar imperfeições do mercado dos bens intermediários, fundamentalmente do conhecimento. A cocitação com o trabalho de Vernon (1966VERNON, R. International investments and international trade in the product cycle. Quarterly Journal of Economics, Cambridge, v. 80, n. 2, p. 190-207, May 1966.), sobre o ciclo de vida internacional do produto, explica-se na tentativa de compreender os fluxos de comércio e de investimento e, possivelmente, complementarmente na decisão das melhores localizações para operar com investimento direto.

É de notar a ligação de Dunning com uma abordagem teórica que vem ganhando importância em negócios internacionais - a visão baseada em recursos. Um dos artigos mais notados é de Barney (1991BARNEY, J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, Thousand Oaks, v. 17, n. 1, p. 99-120, Mar. 1991), no qual identifica e explica quatro características que os recursos estratégicos devem ter para conferir uma vantagem competitiva à empresa. Nessa linha de pensamento está, também, o trabalho de Kogut e Zander (1993KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm and the evolutionary theory of the multinational corporation. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 24, n. 4, p. 625-645, Dec. 1993.) sobre o conhecimento e uma perspectiva evolucionária da empresa multinacional. A associação entre esses trabalhos pode estar nas vantagens de posse, como propostas por Dunning, e na necessidade de a empresa deter uma vantagem competitiva como condição essencial para a internacionalização.

A cultura é uma das dimensões mais usadas na pesquisa em negócios internacionais (Ferreira et al., 2009FERREIRA, M. P. et al. Is the international business environment the actual context for international business research?. Revista de Administração Empresas, São Paulo, v. 49, n. 3, p. 282-294, jul./set. 2009.). Destaca-se, assim, a cocitação com o trabalho de Hofstede (1980HOFSTEDE, G. Culture’s consequences: international differences in work related values. Beverly Hills: Sage Publications, 1980.), em que define quatro dimensões culturais, e com o artigo de Kogut e Singh (1988KOGUT, B.; SINGH, H. The effect of national culture on the choice of entry mode. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n.3, p. 411-432, Autumn 1988.), que apresenta o conceito de distância cultural e o efeito da cultura nacional na escolha do modo de entrada. As diferenças culturais geram incerteza nas operações internacionais e na entrada em mercados estrangeiros. A incerteza condiciona não apenas a decisão de localização, mas também conduz as empresas à escolha do modo de entrada (portanto, à decisão de internalização) que minimiza os riscos. Como forma de diminuir riscos, uma solução possível é entrar primeiro em mercados mais próximos e menos diferentes, aprendendo com essas operações antes de se aventurar por mercados mais distantes e diferentes (JOHANSON; VAHLNE, 1977JOHANSON, J.; VAHLNE, J. The internationalisation process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitment. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 8, n. 1, p. 23-32, Spring/Summer 1977.).

Há limitações neste trabalho que merecem um apontamento, em especial no que concerne à componente empírica. São, por exemplo, limitações do próprio método bibliométrico e da utilização de apenas 14 periódicos para conduzir a análise. Os periódicos foram escolhidos por estarem disponíveis para consulta, mas há outras revistas que também incluem pesquisas em negócios internacionais. Por outro lado, alguns periódicos não têm disponível todo o histórico de publicação disponível na ISI Web of Knowledge. Ainda assim, os periódicos escolhidos estão entre os de maior prestígio em Administração e na publicação de artigos acadêmicos de negócios internacionais. A limitação está, portanto, na generalização dos resultados, dado que foi usada apenas uma pequena parte de toda a pesquisa publicada em Administração.

Outra limitação, também inerente ao método bibliométrico, é a dificuldade de observar o contexto em que as citações são feitas. Em alguns casos, os autores citam um trabalho anterior para suportar um dado argumento, noutros casos usam a citação para revelar um contraste ou até para criticar. O método bibliométrico usado não infere o contexto em que uma citação é feita, mas pesquisa futura pode ultrapassar essa limitação com uma análise de conteúdo mais profunda (RAMOS-RODRIGUEZ; RUIZ-NAVARRO, 2004RAMOS-RODRIGUEZ, A. R.; RUIZ-NAVARRO, J. Changes in the intellectual structure of strategic management research: a bibliometric study of the Strategic Management Journal, 1980- 2000. Strategic Management Journal, Chichester, v. 25, n. 10, p. 981-1004, Oct. 2004.). Neste estudo, o conteúdo, ou tema, é observado apenas pela frequência das palavras-chave (Figura 3). Efetivamente, é razoável sugerir que a análise das palavras-chave é um teste mais exigente do que técnicas alternativas, mas não proporciona detalhe adicional. Pesquisas futuras, no entanto, poderão aprofundar a compreensão dos temas tratados com o recurso a metodologias de análise de conteúdo, eventualmente usando software específico ou criando taxonomias de temas e áreas de pesquisa e classificando as contribuições e aplicações em cada um dos artigos.

Por último, é de salientar que são geralmente os artigos e livros mais antigos os que têm maior número de citações. Esta é antes uma observação do que uma limitação deste trabalho. A realidade é que trabalhos mais antigos são mais conhecidos e alguns ganham uma posição de “clássicos”, o que torna “obrigatória” sua citação em novas pesquisas.

A pesquisa futura pode evoluir em várias direções. Por exemplo, usando uma base mais ampla de periódicos científicos e, talvez, distinguindo periódicos acadêmicos de outras revistas mais orientadas para gestores (como a Harvard Business Review). Também seria interessante analisar as inter-relações entre autores - e suas teorias ou propostas conceituais - por meio de métodos estatísticos que permitam construir redes mais elaboradas e clusters de artigos e teorias. Essas análises podem ser relevantes para entender melhor quais são os autores e teorias que estão no centro do estudo e quais são aqueles mais periféricos. De forma idêntica, pesquisa futura pode incluir uma componente longitudinal, observando que autores e teorias desaparecem ou emergem como mais citados em determinados períodos e como essas variações ao longo do tempo refletem preocupações e eventos externos.

6 NOTAS FINAIS

A obra de Dunning é baseada na taxonomia OLI, que apresenta três condições para as empresas realizarem investimento produtivo estrangeiro. Essas condições dão corpo a três tipos de vantagens - de posse, de localização e de internalização -, que devem ocorrer simultaneamente para que a empresa se internacionalize por meio da produção internacional no estrangeiro, em vez de recorrer a alternativas como exportação ou licenciamento. Ou seja, não é todo o movimento de internacionalização que é relevante, mas apenas o realizado em investimento no estrangeiro, mas implica a necessidade de as empresas considerarem desde logo quais são as vantagens específicas que possuem (ou vantagens de posse) que lhes pode permitir competir com sucesso nos mercados externos. Depois, necessita avaliar as vantagens de localização que os países oferecem e se a realização de investimento direto é realmente a melhor opção face às alternativas como o licenciamento ou exportação.

Em conclusão, é importante para os acadêmicos compreenderem o impacto de autores selecionados, autores cuja contribuição marca, ou marcou, a evolução da disciplina, bem como compreender como esse impacto se verifica. Parte dessa compreensão está na análise da estrutura do conhecimento e das inter-relações entre teorias, conceitos, escolas de pensamento e autores. A vida e a obra de Dunning, por meio de seus trabalhos, são marcantes no estudo dos negócios internacionais e suas contribuições impactam as decisões empresariais. A contribuição de Dunning, aparente no paradigma Eclético, sistematizou três condições que presidem a internacionalização das empresas e estende-se às formas ou modelos de internacionalização, aos modos como as empresas se organizam internamente para transacionar nos mercados e à própria seleção dos destinos. Hoje, para gestores e acadêmicos, o trabalho de Dunning é uma referência imprescindível para a pesquisa e para a prática.

REFERÊNCIAS

  • AKERLOF, G. A. The market for ‘lemons’: quality uncertainty and the market mechanism. Quarterly Journal of Economics, Cambridge, v. 84, n. 3, p. 488-500, Aug. 1970.
  • ALCHIAN, A. A.; DEMSETZ, H. Production, information costs, and economic organization. American Economic Review, Nashville, v. 62, n. 5, p. 777-795, Dec. 1972.
  • BARNEY, J. Strategic factor markets: expectations, luck and business strategy. Management Science, Hanover, v. 32, n. 10, p. 1231-1241, Oct. 1986.
  • BARNEY, J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, Thousand Oaks, v. 17, n. 1, p. 99-120, Mar. 1991
  • BARTLETT, C. A.; GHOSHAL, B. S. Managing across borders: the transnational solution. Boston: Harvard Business School Press, 1989.
  • BUCKLEY, P. J.; CASSON, M. The future of the multinational enterprise. London: Macmillan, 1976.
  • CAVES, R. E. Multinational enterprise and economic analysis. Cambridge: The Cambridge University Press, 1982.
  • DUNNING, J. H. Alliance capitalism and global business. London: Routledge, 1997.
  • DUNNING, J. H. American investment in British manufacturing industry. London: Allen & Unwin, 1958.
  • DUNNING, J. H. The determinants of international production. Oxford Economic Papers, Oxford, v. 25, n. 3, p. 289-336, Nov. 1973.
  • DUNNING, J. H. The eclectic paradigm as an envelope for economic and business theories of MNE activity. International Business Review, London, v. 9, n. 2, p. 163-190, Apr. 2000.
  • DUNNING, J. H. The eclectic paradigm of international production: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n. 1, p. 1-31, Spring 1988.
  • DUNNING, J. H. An evolving paradigm of the economic determinants of international business activity. In: CHENG, J. ; HITT, M. (Ed.). Managing multinationals in a knowledge economy: economics, culture, and human resources. Amsterdam: Elsevier, 2004. v. 15, p. 3-27.
  • DUNNING, J. H. Explaining changing patterns of international production: In defense of the eclectic theory, Oxford Bulletin of Economics and Statistics, Oxford, v. 41, n. 4, p. 269-295, Nov. 1979.
  • DUNNING, J. H. Explaining the international direct investment position of countries: towards a dynamic or developmental approach, Weltwirtschaftliches Archiv, Kiel, v. 117, p. 30-64, 1981a.
  • DUNNING, J. H. Globalization and the theory of MNE activity. In: HOOD, N.; Young, S. (Ed.). The globalization of multinational enterprise activity. Londres: Macmillan, 1999a. v. 2, p. 1-54.
  • DUNNING, J. H. The globalization of business. London: Routledge, 1993b.
  • DUNNING, J. H. International production and the multinational enterprise. Londres: Allen & Unwin, 1981b.
  • DUNNING, J. H. Location and the multinational enterprise: a neglected factor. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 29, n. l, p. 45-66, 1st Qtr. 1998.
  • DUNNING, J. H. The location of international firms in an enlarged EEC: an exploratory paper. Manchester: Manchester Statistical Society, 1972.
  • DUNNING, J. H. Multinational enterprises and the global economy. Wokingham: Addison-Wesley, 1993a.
  • DUNNING, J. H. Reappraising the eclectic paradigm in the age of alliance capitalism. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v.26, n. 3, p. 461-491, 3rd Qtr.1995.
  • DUNNING, J. H. A Rose by any other name…? FDI theory in retrospect and prospect. Mimeo: University of Reading and Rutgers University, 1999b.
  • DUNNING, J. H. Toward an eclectic theory of international production: Some empirical tests. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 11, n. 1, p. 9-31, Spring-Summer 1980.
  • DUNNING, J. H. Trade, location of economic activity and the MNE: a search for an eclectic approach. In: OHLIN, B.; HESSELBORN, P.; WIJKMAN, P. (Ed.) The international allocation of economic activity: proceedings of a Nobel symposium held at Stockholm. London: Macmillan, 1977. p. 395-418.
  • DUNNING, J. H.; LUNDAN, S. M. Multinational enterprises and the global economy. 2nd ed. Basingstoke: Edward Elgar, 2008.
  • DUNNING, J.; RUGMAN, A. M. The influence of Hymer’s dissertation on the theory of foreign direct investment. American Economic Review, Nashville, v. 75, n. 2, p. 228-232, May 1985.
  • DUNNING, J.; WYMBS, C. The challenge of electronic markets for international business theory. International Journal of the Economics of Business, London, v. 8, n. 2, p. 273-301, July 2001.
  • FERREIRA, M. P. A bibliometric study on Ghoshal’s managing across borders. Multinational Business Review, St. Louis, v. 19, n. 4, p. 357-375, 2011.
  • FERREIRA, M. P. et al. Is the international business environment the actual context for international business research?. Revista de Administração Empresas, São Paulo, v. 49, n. 3, p. 282-294, jul./set. 2009.
  • FERREIRA, M. P. et al. John Dunning’s influence in IB/ strategy research: a bibliometric study in the SMJ. Journal of Strategic Management Education, Dublin, v. 7, n. 2, 2011.
  • GUISINGER, S. From OLI to OLMA: incorporating higher levels of environmental and structural complexity into the eclectic paradigm. International Journal of the Economics of Business, London, v. 8, n. 2, p. 257-272, 2001.
  • HEDLUND, G. The hypermodern MNC: a heterarchy?. Human Resources Management, Oxford, v. 25, n. 1, p. 9-35, Spring 1986.
  • HARZING, A-W. Journal quality list 2011. Acessada em http://www.harzing.com
    » http://www.harzing.com
  • HENNART, J.-F. A theory of multinational enterprise. University of Michigan Press: Ann Arbor, 1982.
  • HOFSTEDE, G. Culture’s consequences: international differences in work related values. Beverly Hills: Sage Publications, 1980.
  • HUGGINS, R.; DEMIRBAG, M.; RATCHEVA, V. I. Global knowledge and R&D foreign direct investment flows: recent patterns in Asia Pacific, Europe, and North America. International Review of Applied Economics, Abingdon, v. 21, n. 3, p. 437-451, 2007.
  • HYMER, S. H. The international operations of national firms: a study of FDI. Cambridge: MIT Press, 1976.
  • JOHANSON, J.; VAHLNE, J. The internationalisation process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitment. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 8, n. 1, p. 23-32, Spring/Summer 1977.
  • KOGUT, B.; CHANG, S. J. Technological capabilities and Japanese foreign direct investment in the United States. Review of Economics and Statistics, Cambridge, v. 73, n. 3, p. 401-413, Aug. 1991.
  • KOGUT, B.; SINGH, H. The effect of national culture on the choice of entry mode. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 19, n.3, p. 411-432, Autumn 1988.
  • KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm and the evolutionary theory of the multinational corporation. Journal of International Business Studies, Basingstoke, v. 24, n. 4, p. 625-645, Dec. 1993.
  • KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm, combinative capabilities, and the replication of technology. Organization Science, Linthicum, v. 3, n.3, p. 383-397, Aug. 1992.
  • LAHIRI, S.; KUMAR, V. Ranking international business institutions and faculty members using research publication as the measure: update and extension of prior research. Management International Review, Wiesbaden, v. 52, n. 3, p. 317-340, June 2012.
  • LEONTIEF, W. Domestic production and foreign trade: the american capital position re-examined. Proceedings of the American Philosophical Society, Philadelphia, v. 97, n. 4, p. 332-349, Sep. 1953.
  • LI, D.; FERREIRA, M.P.; SERRA, F. R. Technology transfer within MNEs: inter-subsidiary competition and cooperation. Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 6, n.1, p. 139-158, 2009.
  • LU, J. W. The evolving contributions in international strategic management research. Journal of International Management, New York, v. 9, n. 2, p. 193-213, 2003.
  • MCCAIN, K. W. Mapping authors in intellectual space: a technical overview. Journal of the American Society for Information Science, New York, 41, n. 6, p. 433-443, Sep. 1990.
  • NELSON, R. R.; WINTER, S. G. An evolutionary theory of economic change. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 1982.
  • NORTH, D. C. Transaction costs, institutions and economic history. Zeitschrift fur die Gesamte Staatswissenschaft (JITE), Tuebingen, v. 140, n. 1, p. 7-17, Mar. 1984.
  • PENG, M. W.; ZHOU, J. Q. Most cited articles and authors in global strategy research. Journal of International Management, New York, v. 12, n. 4, p. 490-508, Dec. 2006.
  • PENROSE, E. The theory of the growth of the firm. New York: Oxford University Press, 1959.
  • PETERAF, M. A. The cornerstones of competitive advantage: a resource-based view. Strategic Management Journal, Chichester, v. 14, n. 3, p. 179-191, Mar. 1993.
  • PISANI, N. International management research: investigating its recent diffusion in top management journals. Journal of Management, Thousand Oaks, v. 35, n. 2, p. 199-218, Mar. 2009.
  • PORTER, M. E. The competitive advantage of nations. New York: Free Press, 1990.
  • POSNER, M. V. International trade and technical change. Oxford Economic Papers, Oxford, v. 13, n. 3, p. 323-341, Oct. 1961.
  • RAMOS-RODRIGUEZ, A. R.; RUIZ-NAVARRO, J. Changes in the intellectual structure of strategic management research: a bibliometric study of the Strategic Management Journal, 1980- 2000. Strategic Management Journal, Chichester, v. 25, n. 10, p. 981-1004, Oct. 2004.
  • RUGMAN, A. M. Inside the multinationals: the economics of internal markets. London: Croom Helm, 1981.
  • SPENCE, A. Informational aspects of market structure: an introduction. Quarterly Journal of Economics, Cambridge, v. 90, n. 4, p. 591-597, Nov. 1976.
  • STOIAN, C. R.; FILIPPAIOS, F. Dunning’s eclectic paradigm: a holistic, yet context specific framework for analysing the determinants of outward FDI: evidence from international Greek investments. International Business Review, London, v. 17, n. 3, p. 349-367, June 2008.
  • TAHAI, A.; MEYER, M. J. A revealed preference study of management journals’ direct influences. Strategic Management Journal, Chichester, v. 20, n. 3, p. 279-296, Mar. 1999.
  • TALLMAN, S. B. Strategic management models and resource-based strategies among MNEs in a host market. Strategic Management Journal, Chichester, v. 12, n. 1 p. 69-82, 1991. Special Issue.
  • TEECE, D. J. The multinational enterprise: market failure and market power considerations. Sloan Management Review, Cambridge, v. 22, n. 3, p. 3-17, Spring 1981.
  • TEECE, D. J. Transaction cost economics and the multinational enterprise: an assessment. Journal of Economic Behavior and Organization, Amsterdam, v. 7, n. 1, p. 21-45, Mar. 1986.
  • TREVINO, L. J. et al. A perspective on the state of the field: international business publications in the elite journals as a measure of institutional and faculty productivity. International Business Review, London, v. 19, n. 4, p. 378-387, Aug. 2010.
  • VERNON, R. International investments and international trade in the product cycle. Quarterly Journal of Economics, Cambridge, v. 80, n. 2, p. 190-207, May 1966.
  • WERNER, S. Recent developments in international management research: a review of 20 top management journals. Journal of Management, Thousand Oaks, v. 28, n. 3, p. 277-305, June 2002.
  • WERNERFELT, B. A resourced-based view of the firm. Strategic Management Journal, Chichester, v. 5, n. 2, p. 171-180, Apr./June 1984.
  • WHITE, H. D.; MCCAIN, K. W. Visualizing a discipline: an author co-citation analysis of information science, 1972-1995. Journal of the American Society for Information Science, New York, v. 49, n. 4, p. 327-355, 1998.
  • WHITE, H. D.; GRIFFITH, B. C. Author co-citation: a literature measure of intellectual structure. Journal of the American Society for Information Science, New York, v. 32, n. 3, p. 163-171, May 1981.
  • WILLIAMSON, O. E. The vertical integration of production: market failure considerations. American Economic Review, Nashville, v. 61, n. 2, p. 112-123, May 1971.
  • WILLIAMSON, O. E. Markets and hierarchies: analysis and antitrust implications. New York: Free Press , 1975.
  • WILLIAMSON, O. E. The economic institutions of capitalism: firms, markets, relational contracting. New York: The Free Press, 1985.

NOTAS

  • 1
    . A designação capability não tem uma tradução direta para português, sendo referida como competência, capacidade dinâmica ou capacitação dinâmica por diferentes autores.
  • Processo de Avaliação: Double Blind Review

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2013

Histórico

  • Recebido
    13 Dez 2011
  • Aceito
    05 Mar 2013
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, Av. da Liberdade, 532, 01.502-001 , São Paulo, SP, Brasil , (+55 11) 3272-2340 , (+55 11) 3272-2302, (+55 11) 3272-2302 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbgn@fecap.br