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Autopercepção de justiça organizacional e de burnout em atitudes e comportamentos no trabalho de auditores internos

Resumo

Objetivo:

Este estudo analisa a autopercepção de justiça e do burnout em atitudes e comportamentos no trabalho (satisfação no trabalho, comprometimento organizacional afetivo e intenções de turnover).

Referencial teórico:

A literatura prenuncia que percepções de injustiça no local de trabalho podem impactar no comprometimento organizacional afetivo (Folger & Konovsky, 1989), na satisfação no trabalho (Folger & Konovsky, 1989; Cohen-Charash & Spector, 2001; Colquitt, Conlon, Wesson, Porter & Ng, 2001) e nas intenções de turnover (Flint, Haley & McNally, 2013; Vaamonde, Omar & Salessi, 2018), além de causar frustrações e gerar estresse crônico e burnout (Maslach, 2007).

Metodologia:

Uma pesquisa quantitativa foi realizada com auditores internos de empresas e obteve-se um total de 124 respostas válidas. Os dados foram analisados com aplicação de modelagem de equações estruturais.

Resultados:

Os resultados indicaram relações diretas entre justiça distributiva e variáveis comportamentais. Também revelaram mediação de burnout nas relações de justiça processual com satisfação no trabalho e comprometimento organizacional afetivo. Mostraram ainda que auditores que percebem injustiça processual apresentam atitudes e comportamentos de intenções de turnover quando exaustos emocionalmente e em estado de despersonalização.

Implicações práticas e sociais da pesquisa:

Este estudo apresenta implicações ao explorar como as percepções de justiça organizacional são capazes de influenciar psicologicamente os indivíduos em comportamentos positivos (maior satisfação no trabalho e comprometimento organizacional afetivo) ou disfuncionais (intenções de turnover) no âmbito organizacional.

Contribuições:

Ampliam-se as discussões sobre atitudes de iniciativa e interação social e atitudes passivas decorrentes do esgotamento e da indiferença ao trabalho, que podem advir de julgamentos de distribuição de recursos, processos de tomada de decisões e interações com supervisores.

Palavras-chave:
Justiça organizacional; burnout; satisfação no trabalho; intenções de turnover; comprometimento organizacional afetivo

Abstract

Purpose:

This study analyzes self-perceptions of justice and burnout in job attitudes and behaviors (job satisfaction, affective organizational commitment, and turnover intentions).

Theoretical framework:

The literature foresees that perceptions of injustice in the workplace may impact affective organizational commitment (Folger & Konovsky, 1989), job satisfaction (Folger & Konovsky, 1989; Cohen-Charash & Spector, 2001; Colquitt, Conlon, Wesson, Porter, & Ng, 2001), and turnover intentions (Flint, Haley, & McNally, 2013; Vaamonde, Omar, & Salessi, 2018), as well as causing frustration, chronic stress, and burnout (Maslach, 2007).

Design/methodology/approach:

A quantitative survey was carried out of internal auditors of companies and a total of 124 valid questionnaires were obtained. The data were analyzed using structural equation modeling.

Findings:

The results indicated direct relationships between distributive justice and behavioral variables. They also revealed mediation by burnout in the relationships between procedural justice and both job satisfaction and affective organizational commitment. They also show that auditors who perceive procedural injustice present turnover intentions when they are emotionally exhausted and in a state of depersonalization.

Research Practical & Social implications:

This research shows how perceptions of organizational justice are capable of psychologically influencing individuals into displaying positive behaviors (greater job satisfaction and affective organizational commitment) or dysfunctional behaviors (turnover intentions).

Originality/value:

The paper discusses attitudes of initiative and social interaction and passive attitudes arising from exhaustion and indifference to work, and how these can derive from judgments about resource allocation, decision-making processes, and interactions with supervisors.

Keywords:
Organizational Justice; Burnout; Job Satisfaction; Turnover Intentions; Affective Organizational Commitment

1 Introdução

A percepção de justiça organizacional tem se revelado um dos fatores que influenciam atitudes, cognições e comportamentos dos funcionários em relação às organizações e seus membros (Folger & Konovsky, 1989Folger, R., & Konovsky, M.A. (1989). Effects of procedural and distributive justice on reactions to pay decisions. Academy of Management Journal, 32(1), 115-130.; Silva & Caetano, 2016Silva, M.R., & Caetano, A. (2016). Organizational justice across cultures: A systematic review of four decades of research and some directions for the future. Social Justice Research, 29(3), 257-287.). Em geral, a justiça organizacional diz respeito à maneira como os funcionários percebem a justiça do sistema organizacional, da política e mensuração correspondentes ao nível de interesse individual na organização (Greenberg, 1990Greenberg, J. (1990). Organizational justice: Yesterday, today, and tomorrow. Journal of Management, 16(2), 399-432.). Quanto maior o nível de justiça organizacional percebido, maior a probabilidade de sentimentos que são tratados de forma justa e de reações positivas em relação ao trabalho, supervisores e resultados (Moorman, 1991Moorman, R.H. (1991). Relationship between organizational justice and organizational citizenship behaviors: Do fairness perceptions influence employee citizenship? Journal of Applied Psychology, 76(6), 845-855.), como: maior confiança e comprometimento organizacional afetivo, melhor desempenho no trabalho, aumento da satisfação no trabalho e diminuição de conflitos (Cropanzano, Bowen & Gilliand, 2007Cropanzano, R., Bowen, D.E. & Gilliland, S.W. (2007). The management of organizational justice. Academy of Management, 21 (4), 34-48.).

Percepções de injustiça no local de trabalho podem impactar no comprometimento organizacional afetivo (Folger & Konovsky, 1989Folger, R., & Konovsky, M.A. (1989). Effects of procedural and distributive justice on reactions to pay decisions. Academy of Management Journal, 32(1), 115-130.), na satisfação no trabalho (Cohen-Charash & Spector, 2001Cohen-Charash, Y., & Spector, P.E. (2001). The role of justice in organizations: A meta-analysis. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 278-321.; Colquitt, Conlon, Wesson, Porter & Ng, 2001Colquitt, J.A., Conlon, D.E., Wesson, M.J., Porter, C.O.L.H., & Ng, K.Y. (2001). Justice at the millennium: A meta-analytic review of 25 years of organizational justice research. Journal of Applied Psychology, 86(3), 425-445.; Folger & Konovsky, 1989) e nas intenções de turnover (Flint, Haley & McNally, 2013Flint, D., Haley, L.M., & McNally, J.J. (2013). Individual and organizational determinants of turnover intent. Personnel Review, 42(5), 552-572.; Vaamonde, Omar & Salessi, 2018Vaamonde, J.D., Omar, A., & Salessi, S. (2018). From organizational justice perceptions to turnover intentions: The mediating effects of burnout and job satisfaction. Europe’s Journal of Psychology,14(3), 554-570.). A percepção de injustiça ainda apresenta efeitos no estresse (J. Greenberg, 2004Greenberg, J. (2004). Stress fairness to fare no stress: Managing workplace stress by promoting organizational justice. Organizational Dynamics, 33(4), 352-365.). Funcionários que não percebem seus esforços reconhecidos pela organização podem apresentar frustrações e resultar em esgotamento (Maslach & Leiter, 1997; Moliner, Martínez-Tur, Ramos, Peiró & Cropanzano, 2008Moliner, C., Martínez-Tur, V., Ramos, J., Peiró, J.M., & Cropanzano, R. (2008). Organizational justice and extra role customer service: The mediating role of well-being at work. European Journal of Work and Organizational Psychology, 17(3), 327-348.). A necessidade de reconhecimento e de avanço na carreira podem gerar estresse crônico e burnout (Maslach, 2007).

Este estudo concentra-se na síndrome de burnout, uma condição psicológica em que os indivíduos sofrem de exaustão emocional, tendem a despersonalizar outros (colegas, superiores, clientes) e sentem baixa capacidade de realização pessoal (Freudenberger, 1974Freudenberger, H.J. (1974). Staff burnout. Journal of Social Issues, 30(1), 159-165.). Além de implicar efeitos físicos e/ou mentais, esses fatores refletem nas relações sociais do indivíduo com seu meio e a organização e, como consequência, esse indivíduo pode ter atitudes e comportamentos contraproducentes e disfuncionais que violam normas organizacionais e são prejudicais ao resultado da organização (Maslach & Jackson, 1984Maslach, C., & Jackson, S.E. (1984). Burnout in organizational settings. In: S. Oskamp (Ed.). Applied social psychology annual: Applications in organizational settings (5nd ed., pp. 133-153). Sage, Beverly Hills, CA.). Apesar de a síndrome de burnout estar prevista como doença do trabalho, há desconhecimento e despreparo sobre o assunto em diversas ocupações profissionais (Benevides-Pereira, 2003Benevides-Pereira, A.M.T. (2003). O estado da arte do burnout no Brasil. Revista Eletrônica Interação Psy, 1(1), 4-11.).

Uma profissão contábil particularmente sujeita ao burnout é a auditoria. Essa profissão exige um conjunto de habilidades e está exposta a desafios que implicam uso de diversas tecnologias de informação, mudanças de normativas, sobrecarga de trabalho e excesso de exigências - fatores que, além de diminuir a qualidade do desempenho de suas funções, condicionam esses profissionais a ambientes de trabalho altamente estressantes (Kalbers & Fogarty, 2005Kalbers, L.P., & Fogarty, T.J. (2005). Antecedents to internal auditor burnout. Journal of Managerial Issues, 12(1), 101-118.). O burnout pode influenciar de maneira disfuncional o desempenho dos auditores no trabalho e refletir na satisfação na função, no comprometimento organizacional afetivo e na intenção de rotatividade (Fogarty, Singh, Rhoads & Moore, 2000).

Nesse sentido, as organizações devem estar atentas às percepções da (in)justiça organizacional entre seus funcionários, que podem desencadear estado de burnout e apresentar efeitos em suas atividades (Maslach & Jackson, 1984Maslach, C., & Jackson, S.E. (1984). Burnout in organizational settings. In: S. Oskamp (Ed.). Applied social psychology annual: Applications in organizational settings (5nd ed., pp. 133-153). Sage, Beverly Hills, CA.). Apesar da relevância da temática nas organizações, poucos estudos têm explorado as implicações da justiça organizacional sobre a saúde dos trabalhadores (Tepper, 2001Tepper, B.J. (2001). Health consequences of organizational injustice: Tests of main and interactive effects. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 197-215.). E, embora se reconheça que esses elementos tendem a afetar negativamente a saúde dos trabalhadores e a organização (Almeida & Silva, 2006Almeida, G.O., & Silva, A.M.M. (2006). Justiça organizacional, impactos no burnout e o comprometimento dos trabalhadores. Revista Eletrônica de Gestão Organizacional, 4(2), 160-175.), pouco conhecimento há sobre os fatores que estimulam reações negativas e disfuncionais em trabalhos estressantes, ou que levam indivíduos ao estado de burnout (Fogarty et al., 2000Fogarty, T.J., Singh, J., Rhoads, G.K., & Moore, R.K. (2000). Antecedents and consequences of burnout in accounting: Beyond the role stress model. Behavioral Research in Accounting, 12(1), 31-67.).

Estudos anteriores relacionaram as dimensões de justiça organizacional com apenas uma das dimensões do burnout (Almeida & Silva, 2006Almeida, G.O., & Silva, A.M.M. (2006). Justiça organizacional, impactos no burnout e o comprometimento dos trabalhadores. Revista Eletrônica de Gestão Organizacional, 4(2), 160-175.) ou com alguma atitude ou comportamento no trabalho (Filenga & Siqueira, 2006Filenga, D., & Siqueira, M.M.M. (2006). O impacto de percepções de justiça em três bases de comprometimento organizacional. Revista de Administração, 41(4), 431-441.). Outros estudos testaram as relações entre justiça organizacional, burnout e algum comportamento funcional ou disfuncional (Campbell, Perry, Maertz, Allen & Griffeth, 2013Campbell, N.S., Perry, S.J., Maertz, C.P., Allen, D.G., & Griffeth, R.W. (2013). All you need is… resources: The effects of justice and support on burnout and turnover. Human Relations, 66(6), 759-782.; Shkoler & Tziner, 2017Shkoler, O., & Tziner, A. (2017). The mediating and moderating role of burnout and emotional intelligence in the relationship between organizational justice and work misbehavior. Revista de Psicologia del Trabajo y de las Organizaciones, 33(2), 157-164.). Em geral, esses estudos analisaram as relações de justiça organizacional, burnout e comportamentos organizacionais de forma fragmentada, dimensões isoladas ou como construtos únicos.

Assim, tem-se a seguinte pergunta de pesquisa: em que medida estão relacionados a justiça organizacional (nas dimensões distributiva, processual e interacional), o burnout (nas dimensões exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal) e atitudes e comportamentos no trabalho (satisfação no trabalho, comprometimento organizacional afetivo e intenções de turnover)? Objetiva-se investigar a autopercepção de justiça organizacional e do burnout em atitudes e comportamentos no trabalho, tendo como população de pesquisa auditores internos. Analisam-se os efeitos diretos e indiretos com a mediação do burnout nessas interações.

O estudo contribui com a literatura ao investigar o papel da justiça organizacional como um antecedente de estados de burnout e de efeitos funcionais e disfuncionais de atitudes e comportamentos do indivíduo no trabalho. Assim, ampliam-se as discussões relativas aos efeitos da percepção de justiça organizacional, sua relevância nos processos psicológicos e em atitudes e comportamentos no trabalho dos auditores internos e os reflexos do burnout no contexto organizacional, geralmente explorado na área de saúde ocupacional e educacional. Contribui ainda para a prática das organizações ao salientar a necessidade de maior atenção às percepções dos auditores internos sobre suas atividades e situações estressantes, que podem culminar em burnout. Esses dois fatores podem afetar o bem-estar dos indivíduos, as relações interpessoais e os resultados organizacionais, o que demanda agir preventivamente.

2 Referencial teórico

2.1 Justiça organizacional e burnout

Justiça organizacional diz respeito à maneira como os funcionários percebem que são tratados de forma (in)justa em seu trabalho e de que forma outras variáveis relacionadas ao trabalho podem ser influenciadas nesse processo (Folger & Cropanzano, 1998Folger, R., & Cropanzano, R. (1998). Organizational justice and human resource management. Sage, Beverly Hills.; Moorman, 1991Moorman, R.H. (1991). Relationship between organizational justice and organizational citizenship behaviors: Do fairness perceptions influence employee citizenship? Journal of Applied Psychology, 76(6), 845-855.). Ela vem sendo estudada como um construto multidimensional, que leva em conta o indivíduo, a interação e o contexto no qual a justiça ocorre (Colquitt et al., 2001Colquitt, J.A., Conlon, D.E., Wesson, M.J., Porter, C.O.L.H., & Ng, K.Y. (2001). Justice at the millennium: A meta-analytic review of 25 years of organizational justice research. Journal of Applied Psychology, 86(3), 425-445.). Apesar das divergências sobre a quantidade de dimensões, neste estudo assume-se que a justiça organizacional é explicada por três dimensões: distributiva, processual e interacional (Cohen-Charash & Spector, 2001Cohen-Charash, Y., & Spector, P.E. (2001). The role of justice in organizations: A meta-analysis. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 278-321.; Moorman, 1991).

A justiça distributiva refere-se ao conteúdo das distribuições (Adams, 1965Adams, J.S. (1965). Inequity in social exchange. Advances in Experimental Social Psychology, 2, 267-299.) e à justiça dos resultados alcançados (Folger & Konovsky, 1989Folger, R., & Konovsky, M.A. (1989). Effects of procedural and distributive justice on reactions to pay decisions. Academy of Management Journal, 32(1), 115-130.). O indivíduo, ao ter a percepção de iniquidade, pode reagir negativamente, expressando reações disfuncionais na organização (Adams, 1965). A justiça processual está ligada à percepção de justiça nos procedimentos formais da organização e nos meios utilizados para determinar esses resultados (Folger & Cropanzano, 1998). E a justiça interacional centra-se no aspecto interpessoal das práticas organizacionais, mais especificamente no tratamento e na comunicação entre superior e subordinado (Cohen-Charash & Spector, 2001Cohen-Charash, Y., & Spector, P.E. (2001). The role of justice in organizations: A meta-analysis. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 278-321.) e as explicações ou justificativas dadas aos trabalhadores sobre ações, decisões e atitudes dos gestores na condução dos procedimentos da tomada de decisão (Bies & Moag, 1986Bies, R.J., & Moag, J.F. (1986). Interactional justice: Communication criteria of fairness. In: R.J. Lewicki, B.H. Sheppard, & M.H. Bazerman (Eds.). Research on negotiations in organizations (vol. 1, pp. 43-55). Greenwich, CT: JAI Press.).

Reconhece-se que a percepção de (in)justiça pelo trabalhador, quanto à distribuição de recursos, adoção de procedimentos e tratamento interpessoal pela gestão, pode fazê-lo vivenciar prazer ou sofrimento no trabalho (Folger & Cropanzano, 1998Folger, R., & Cropanzano, R. (1998). Organizational justice and human resource management. Sage, Beverly Hills.). Quando o ambiente organizacional é percebido pelos indivíduos como justo, há uma gama de atitudes positivas para o indivíduo e a organização (Greenberg, 1990Greenberg, J. (1990). Organizational justice: Yesterday, today, and tomorrow. Journal of Management, 16(2), 399-432.). O sentimento de injustiça, porém, pode refletir de forma negativa em aspectos físicos, psicológicos e comportamentais. Indivíduos expostos a recorrentes situações estressantes, como injustiça organizacional, podem desenvolver a síndrome de burnout (Almeida & Silva, 2006Almeida, G.O., & Silva, A.M.M. (2006). Justiça organizacional, impactos no burnout e o comprometimento dos trabalhadores. Revista Eletrônica de Gestão Organizacional, 4(2), 160-175.).

A síndrome de burnout é um fenômeno do trabalho oriundo da exposição prolongada dos indivíduos a fatores emocionalmente exigentes. Pode decorrer de discrepância contínua nos esforços empregados, estresse interpessoal e trabalhos que excedem as habilidades de enfrentamento (Maslach & Jackson, 1984Maslach, C., & Jackson, S.E. (1984). Burnout in organizational settings. In: S. Oskamp (Ed.). Applied social psychology annual: Applications in organizational settings (5nd ed., pp. 133-153). Sage, Beverly Hills, CA.). Há consenso na literatura de que o burnout é um modelo multidimensional que envolve recursos físicos e emocionais do indivíduo, elementos interpessoais com seus colegas e elementos sociais de autoavaliação do trabalho (Maslach, 2007). Esse modelo remete a três características que, de forma isolada ou conjunta, trazem implicações pessoais e organizacionais: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal (Freudenberger, 1974Freudenberger, H.J. (1974). Staff burnout. Journal of Social Issues, 30(1), 159-165.; Maslach, Jackson & Leiter, 1996).

A exaustão emocional, considerada a manifestação central de burnout, está relacionada aos aspectos individuais causadores de estresse, envolve a fadiga física ou emocional, sentimentos de desgaste e carência de recursos emocionais para enfrentar suas atividades, dadas as demandas excessivas de trabalho (Maslach et al., 1996Maslach, C., Jackson, S.E., & Leiter, M.P. (1996). Maslach Burnout Inventory: Test manual. (3rd ed.). Consult. Psychol. Press, Palo Alto, CA.). A despersonalização refere-se a um contexto interpessoal, pelo distanciamento em relação às pessoas, com o intuito de se defender da carga emocional derivada do contato direto com o outro (Maslach, Schaufeli & Leiter, 2001), o que pode levar ao decréscimo da quantidade de trabalho executado, ao desenvolvimento de sentimentos e reações negativas às pessoas com quem convive e ao trabalho (Maslach, 2007). Já a baixa realização pessoal decorre da exaustão emocional e despersonalização, refere-se às avaliações negativas do trabalho e à sensação de incompetência e ausência de realização profissional (Maslach & Jackson, 1981).

Pesquisas anteriores indicam que o burnout pode se desenvolver principalmente em contextos em que prevalece percepção de injustiça organizacional e os funcionários deparam com situações de estresse crônico (Almeida & Silva, 2006Almeida, G.O., & Silva, A.M.M. (2006). Justiça organizacional, impactos no burnout e o comprometimento dos trabalhadores. Revista Eletrônica de Gestão Organizacional, 4(2), 160-175.; Campbell et al., 2013Campbell, N.S., Perry, S.J., Maertz, C.P., Allen, D.G., & Griffeth, R.W. (2013). All you need is… resources: The effects of justice and support on burnout and turnover. Human Relations, 66(6), 759-782.; Flintet al., 2013Flint, D., Haley, L.M., & McNally, J.J. (2013). Individual and organizational determinants of turnover intent. Personnel Review, 42(5), 552-572.; Moliner, Martínez-Tur, Peiró, Ramos & Cropanzano, 2005Moliner, C., Martínez-Tur, V., Peiró, J.M., Ramos, J., & Cropanzano, R. (2005). Relationships between organizational justice and burnout at the work-unit level. International Journal of Stress Management, 12(2), 99-116.; Moliner et al., 2008; Shkoler & Tziner, 2017Shkoler, O., & Tziner, A. (2017). The mediating and moderating role of burnout and emotional intelligence in the relationship between organizational justice and work misbehavior. Revista de Psicologia del Trabajo y de las Organizaciones, 33(2), 157-164.; Vaamonde et al., 2018Vaamonde, J.D., Omar, A., & Salessi, S. (2018). From organizational justice perceptions to turnover intentions: The mediating effects of burnout and job satisfaction. Europe’s Journal of Psychology,14(3), 554-570.). Nesses estudos, experiências de injustiça distributiva se mostraram positivamente relacionadas com burnout (Tepper, 2001Tepper, B.J. (2001). Health consequences of organizational injustice: Tests of main and interactive effects. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 197-215.). Os funcionários podem perceber injustiça distributiva quando sentem que investem mais em seu trabalho do que são recompensados (Colquitt et al., 2001Colquitt, J.A., Conlon, D.E., Wesson, M.J., Porter, C.O.L.H., & Ng, K.Y. (2001). Justice at the millennium: A meta-analytic review of 25 years of organizational justice research. Journal of Applied Psychology, 86(3), 425-445.).

A falta de reconhecimento de seus esforços gera frustrações que podem culminar em esgotamento (Maslach & Leiter, 1997), ansiedade, depressão e sensação de ameaça da autoeficácia do indivíduo (Tepper, 2001Tepper, B.J. (2001). Health consequences of organizational injustice: Tests of main and interactive effects. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 197-215.). Sentimento de impotência e falta de controle decorrem da percepção deturpada do reconhecimento dos esforços e, como consequência, levam a atitudes e sentimentos negativos e de despersonalização com colegas e a organização (Lewin & Sager, 2007Lewin, J.E., & Sager, J.K. (2007). A process model of burnout among salespeople: Some new thoughts. Journal of Business Research, 60(12), 1216-1224.). Assim, assume-se que a distribuição de recursos de forma injusta pode levar à síndrome de burnout (exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal), formulando-se a primeira hipótese, subdividida em três dimensões:

H1a: A justiça distributiva é negativamente relacionada com burnout.

Percepções de (in)justiça processual também refletem no desenvolvimento de burnout. A falta de feedback, controle e autonomia, a incerteza sobre os processos organizacionais e a pouca participação na tomada de decisão estão associadas às três dimensões de burnout (Maslach et al., 2001Maslach, C., Schaufeli, W.B., & Leiter, M.P. (2001). Job burnout. Annual Review of Psychology, 52(1), 397-422.). A falta de energia e entusiasmo decorrente da percepção de que os processos formais da gestão impactam diretamente em sua rotina profissional pode levar à exaustão emocional, dada a sobrecarga de tarefas, pressões e conflitos interpessoais no local de trabalho. Pode ainda refletir em atitudes hostis, comportamentos ríspidos e de indiferença com os outros e a organização, característicos de despersonalização (Maslach & Goldberg, 1998). A não realização profissional pode decorrer do desequilíbrio entre o que o trabalhador espera e a injustiça procedimental empregada (Moliner et al., 2005Moliner, C., Martínez-Tur, V., Peiró, J.M., Ramos, J., & Cropanzano, R. (2005). Relationships between organizational justice and burnout at the work-unit level. International Journal of Stress Management, 12(2), 99-116.), o indivíduo sem voz no processo organizacional e com ambiguidade de papéis (Lewin & Sager, 2007Lewin, J.E., & Sager, J.K. (2007). A process model of burnout among salespeople: Some new thoughts. Journal of Business Research, 60(12), 1216-1224.). Com base nesses argumentos, sugere-se que os indivíduos podem ser acometidos com burnout (exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal) ao perceberem que os processos organizacionais são injustos:

H1b: A justiça processual é negativamente relacionada com burnout.

Já a percepção de justiça interacional implica melhores relacionamentos interpessoais entre subordinados e supervisores. No entanto, quando ocorre a retenção de informações importantes pelos supervisores (Tepper, 2001Tepper, B.J. (2001). Health consequences of organizational injustice: Tests of main and interactive effects. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 197-215.) e uma sensação de não estar inserido na organização, podem ocorrer experiências negativas, prejudiciais para essas interações sociais. Entre esses comportamentos negativos ocorrem tensões e aumento do sentimento de esgotamento (Moliner et al., 2008Moliner, C., Martínez-Tur, V., Ramos, J., Peiró, J.M., & Cropanzano, R. (2008). Organizational justice and extra role customer service: The mediating role of well-being at work. European Journal of Work and Organizational Psychology, 17(3), 327-348.), condutas mais frias, impessoais ou insensíveis (típicas da despersonalização) (Maslach & Goldberg, 1998Maslach, C., & Goldberg, J. (1998). Prevention of burnout: News perspectives. Applied & Preventive Psychology, 7(1), 63-74.), falta de motivação e insatisfação própria e no trabalho (baixa realização) (Maslach & Jackson, 1981). Com isso, pressupõe-se que, quanto maior o nível de justiça organizacional percebida pelos indivíduos no ambiente de trabalho, menor será a ocorrência de burnout (exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal).

H1c: A justiça interacional é negativamente relacionada com burnout.

2.2 Burnout e atitudes e comportamentos no trabalho

A síndrome de burnout, além de implicações à saúde com reflexos físicos e psicológicos no indivíduo, impacta nas atitudes e comportamentos, muitas vezes disfuncionais, nas relações e resultados organizacionais (Kalbers & Fogarty, 2005Kalbers, L.P., & Fogarty, T.J. (2005). Antecedents to internal auditor burnout. Journal of Managerial Issues, 12(1), 101-118.). O indivíduo em estado de burnout para de tomar o grau usual de cuidado, podendo ocorrer níveis mais baixos de qualidade em seu trabalho ao se retirar psicologicamente da organização, com consequências nos resultados do trabalho (Fogarty et al., 2000).

Os principais impactos na organização, como consequência do estado de burnout, são associados à deterioração da qualidade do atendimento, absentismo, intenções de turnover e turnover efetivo (retirada da organização). Os indivíduos que permanecem em suas atividades, quando acometidos pelas dimensões de burnout, apresentam menor produtividade e eficácia no trabalho. Com isso, efeitos negativos podem ocorrer na satisfação profissional e no comprometimento com suas atividades e/ou organização, gerando maiores conflitos interpessoais e interrupções nas tarefas do trabalho (Maslach et al., 2001Maslach, C., Schaufeli, W.B., & Leiter, M.P. (2001). Job burnout. Annual Review of Psychology, 52(1), 397-422.). Para esses autores, o burnout tem sido concebido como uma forma de estresse no trabalho, com reflexos na satisfação no trabalho, turnover e comprometimento organizacional.

A satisfação no trabalho pode ser compreendida como uma resposta emocional ou afetiva quanto às avaliações de diversos fatores no contexto laboral (Locke, 1984Locke, E.A. (1984). Job satisfaction. In: M. Gruneberg, & T. Wall (Eds.). Social psychology and organizational behavior. John Wiley and Sons, New York.). Tem sido reconhecida como um fator que pode ser influenciado negativamente pelo burnout (Scanlan & Still, 2013Scanlan, J.N., & Still, M. (2013). Job satisfaction, burnout and turnover intention in occupational therapists working in mental health. Aust Occup Ther J, 60(5), 310-318.). Indivíduos que sofrem de exaustão emocional, despersonalização e/ou baixa realização pessoal no trabalho tendem a experimentar falta de satisfação no trabalho (Kuo, Lin & Li, 2014Kuo, H.T., Lin, K.C., & Li, I.C. (2014). The mediating effects of job satisfaction on turnover intention for long-term care nurses in Taiwan. Journal of Nursing Management, 22(2), 225-233.; Maslach & Jackson, 1981Maslach, C., & Jackson, S.E. (1981). The measurement of experienced burnout. Journal of Occupational Behavior, 2(2), 99-113.), por se avaliarem negativamente e se sentirem insatisfeitos consigo e com suas realizações no trabalho (Maslach & Jackson, 1981).

Intenções de turnover (rotatividade) podem decorrer do burnout. É considerada a última sequência de cognições de afastamento, que implica o pensamento de desistir da ocupação e procurar outro emprego (Tett & Meyer, 1993Tett, E.P., & Meyer, J.P. (1993). Job satisfaction, organizational commitment, turnover intention, and turnover: Path analyses based on meta‐analytic findings. Personnel Psychology, 46(2), 259-293.). Implica custos quando a retirada se efetiva, e pode influenciar negativamente nas relações sociais internas e externas, causando desânimo e queda de produtividade. Pesquisas prévias encontraram relação positiva entre burnout e intenções de turnover (Lee & Ashforth, 1996Lee, R. L., & Ashforth, B. (1996). A meta-analytic examination of the correlates of the three dimensions of job burnout. Journal of Applied Psychology, 81(2), 123-133.; Kuo et al., 2014Kuo, H.T., Lin, K.C., & Li, I.C. (2014). The mediating effects of job satisfaction on turnover intention for long-term care nurses in Taiwan. Journal of Nursing Management, 22(2), 225-233.).

Comportamentos organizacionais afetivos, que se referem a estados de identificação, afetivos ou emocionais, com o alvo de seu comprometimento (Meyer, Allen & Smith, 1993Meyer, J.P., Allen, N.J., & Smith, C.A. (1993). Commitment to organizations and occupations: Extension and test of a three-component conceptualization. Journal of Applied Psychology, 78(4), 538-551, 1993.), e o desejo de manter o vínculo e defender a organização (Mowday, Steers & Porter, 1979Mowday, R.T., Steers, R.M., & Porter, L.W. (1979). The measurement of organizational commitment. Journal of Vocational Behavior, 14(2), 224-247.), estão ligados ao burnout (Leiter & Maslach, 2005Leiter, M.P., & Maslach, C. (2005). A mediation model of job burnout. In: A.-S.G. Antoniou, & C.L. Cooper (Eds.). New horizons in management: Research companion to organizational health psychology (pp. 544-564). Edward Elgar Publishing, Northampton, MA, US.). Os resultados do estudo de Leiter e Maslach (2005) revelam que elevado nível de burnout está relacionado a baixo comprometimento organizacional e aspectos do ambiente interpessoal da organização.

R. L. Lee e B. Ashforth (1996Lee, R. L., & Ashforth, B. (1996). A meta-analytic examination of the correlates of the three dimensions of job burnout. Journal of Applied Psychology, 81(2), 123-133.) observaram que todas as dimensões de burnout se relacionam de forma negativa com a satisfação no trabalho e com o comprometimento organizacional e positivamente com as intenções de turnover. Desse modo, esta pesquisa sugere que indivíduos em estado de burnout serão afetados diretamente por atitudes e comportamentos no trabalho, que incluem: (i) redução da satisfação no trabalho; (ii) comprometimento organizacional afetivo; e (iii) aumento da intenção de turnover (Kahill, 1988Kahill, S. (1988). Symptoms of professional burnout: A review of the empirical evidence. Canadian Psychology, 29(3), 284-297.). Assim, propõe-se a segunda hipótese, subdividida em três dimensões:

H2: O burnout está relacionado a atitudes e comportamentos no trabalho, negativamente com satisfação no trabalho (H2a) e com comprometimento organizacional afetivo (H2b) e positivamente com intenções de turnover (H2c).

2.3 Interações entre a justiça organizacional, burnout e atitudes e comportamentos no trabalho

A justiça organizacional pode explicar atitudes e comportamentos dos empregados na organização (Folger & Konovsky, 1989Folger, R., & Konovsky, M.A. (1989). Effects of procedural and distributive justice on reactions to pay decisions. Academy of Management Journal, 32(1), 115-130.; Greenberg, 1990Greenberg, J. (1990). Organizational justice: Yesterday, today, and tomorrow. Journal of Management, 16(2), 399-432.). Estudos anteriores têm visto consequências para as organizações e seus membros (Folger & Cropanzano, 1998), e a relevância de estudá-la como um preditor de atitudes e comportamentos no trabalho (Cohen-Charash & Spector, 2001Cohen-Charash, Y., & Spector, P.E. (2001). The role of justice in organizations: A meta-analysis. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 278-321.; Colquitt et al., 2001Colquitt, J.A., Conlon, D.E., Wesson, M.J., Porter, C.O.L.H., & Ng, K.Y. (2001). Justice at the millennium: A meta-analytic review of 25 years of organizational justice research. Journal of Applied Psychology, 86(3), 425-445.). Percepções de (in)justiça têm respostas atitudinais na satisfação no trabalho, no comprometimento e na confiança no supervisor, e respostas comportamentais de cidadania organizacional, agressão no ambiente do trabalho e rotatividade (Folger & Konovsky, 1989).

R. Folger e M. A. Konovsky (1989Folger, R., & Konovsky, M.A. (1989). Effects of procedural and distributive justice on reactions to pay decisions. Academy of Management Journal, 32(1), 115-130.) constataram em sua pesquisa associação positiva entre justiça distributiva e satisfação no trabalho. Essa interação ocorre na medida em que os indivíduos percebem equilíbrio entre seus esforços e rendimentos, com consequente aumento na satisfação no trabalho e menor interesse em se retirar da organização (Colquitt et al., 2001Colquitt, J.A., Conlon, D.E., Wesson, M.J., Porter, C.O.L.H., & Ng, K.Y. (2001). Justice at the millennium: A meta-analytic review of 25 years of organizational justice research. Journal of Applied Psychology, 86(3), 425-445.). Cohen-Charash e Spector (2001Cohen-Charash, Y., & Spector, P.E. (2001). The role of justice in organizations: A meta-analysis. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 278-321.) identificaram relação positiva das justiças processual e distributiva com satisfação no trabalho. Choi (2011Choi, S. (2011). Organizational justice and employee work attitudes: the federal case. The American Review of Public Administration, 41(2), 185-204.) observou relação positiva das dimensões de justiça distributiva, processual e interacional com satisfação no trabalho.

Vaamonde et al. (2018Vaamonde, J.D., Omar, A., & Salessi, S. (2018). From organizational justice perceptions to turnover intentions: The mediating effects of burnout and job satisfaction. Europe’s Journal of Psychology,14(3), 554-570.) constataram que as dimensões de justiça organizacional se relacionam negativamente com intenções de turnover. Estudos anteriores evidenciam relações com as percepções de injustiça distributiva (Colquitt et al., 2001Colquitt, J.A., Conlon, D.E., Wesson, M.J., Porter, C.O.L.H., & Ng, K.Y. (2001). Justice at the millennium: A meta-analytic review of 25 years of organizational justice research. Journal of Applied Psychology, 86(3), 425-445.). Flint et al. (2013Flint, D., Haley, L.M., & McNally, J.J. (2013). Individual and organizational determinants of turnover intent. Personnel Review, 42(5), 552-572.) identificaram relações negativas nas dimensões processual e interpessoal e que ambas se relacionam com fenômenos de trocas sociais (organização e superiores). Essas percepções podem motivar os funcionários a se retirar da organização quando suas interações lhes passam autopercepção de injustiça.

Filenga e Siqueira (2006Filenga, D., & Siqueira, M.M.M. (2006). O impacto de percepções de justiça em três bases de comprometimento organizacional. Revista de Administração, 41(4), 431-441.) identificaram a percepção de justiça organizacional como um antecedente do comprometimento organizacional. Pesquisas anteriores revelaram que as percepções de recebimento de salário justo, tratamento respeitoso, consideração e poder de voz na organização estão relacionadas ao comprometimento afetivo. Assim, o funcionário é capaz de gerar maior identificação com a organização e criar laços afetivos com ela (Colquitt et al., 2001Colquitt, J.A., Conlon, D.E., Wesson, M.J., Porter, C.O.L.H., & Ng, K.Y. (2001). Justice at the millennium: A meta-analytic review of 25 years of organizational justice research. Journal of Applied Psychology, 86(3), 425-445.).

Além dos reflexos diretos em variáveis comportamentais, cada dimensão de justiça organizacional desempenha um papel distinto no processo de estresse (Greenberg, 2004Greenberg, J. (2004). Stress fairness to fare no stress: Managing workplace stress by promoting organizational justice. Organizational Dynamics, 33(4), 352-365.). Segundo Robbins, Ford e Tetrick (2012Robbins, J.M., Ford, M.T., & Tetrick, L.E. (2012). Perceived unfairness and employee health: A meta-analytic integration. Journal of Applied Psychology, 97(2), 235-272.), a percepção de injustiça sinaliza um sintoma de alto esforço/baixa recompensa, em que os funcionários são colocados em situações exigentes sem serem recompensados, em função dos procedimentos, ou tratados interpessoalmente com desrespeito. Indivíduos que percebem que seus esforços não são reconhecidos pela organização podem ser acometidos de burnout (Maslach & Leiter, 1997; Moliner et al., 2008Moliner, C., Martínez-Tur, V., Ramos, J., Peiró, J.M., & Cropanzano, R. (2008). Organizational justice and extra role customer service: The mediating role of well-being at work. European Journal of Work and Organizational Psychology, 17(3), 327-348.). Assim, a injustiça organizacional pode representar um fator de estresse, que medeia o efeito das características e experiências do trabalho (Cropanzano, Goldman & Benson, 2005Cropanzano, R., Goldman, B.M., & Benson, L. (2005). Organizational justice. In: J. Barling, E.K. Kelloway, & M.R. Frone. Handbook of work stress (pp. 63-88). Sage, Thousand Oaks.).

Nesse contexto, o burnout atua como variável mediadora, por influenciar na magnitude dos relacionamentos entre a justiça organizacional e os comportamentos no trabalho. Assim, formulou-se a terceira hipótese:

H3: O burnout medeia a relação entre a justiça organizacional e atitudes e comportamentos no trabalho (satisfação no trabalho, comprometimento organizacional afetivo e intenções de turnover).

O modelo teórico proposto neste estudo é ilustrado na Figura 1.

Figura 1
Modelo teórico e hipóteses da pesquisa.

Presume-se que a injustiça organizacional (distributiva, processual e interacional) pode levar ao: aumento dos níveis de burnout (exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal) (H1); redução da satisfação no trabalho, menor comprometimento organizacional afetivo e maior intenção de turnover (H3). Por outro lado, menores níveis de burnout podem levar o indivíduo a atitudes e comportamentos mais positivos, como maior satisfação no trabalho e comprometimento organizacional afetivo e menor intenção de turnover (H2).

3 Metodologia

3.1 Seleção da amostra e coleta de dados

Foi realizada uma pesquisa quantitativa com auditores internos de empresas brasileiras, no período de dezembro de 2014 a fevereiro de 2015. A identificação da população da pesquisa deu-se por meio de entidades de classe: Instituto de Auditores Internos no Brasil (IIA Brasil), Grupo de Auditores Internos e Grupo de Auditoria Interna, Controles Internos e Gestão de Riscos, Grupo de Auditores Internos do Paraná (GAIP). Para os 450 auditores internos identificados foi enviado o link do questionário, formatado na plataforma Google Docs, e obtiveram-se 124 respostas válidas.

Foram obtidas respostas de profissionais de 13 estados brasileiros. Cerca de 38% atuam no Paraná, 13% em São Paulo, 10% no Ceará, 9% no Mato Grosso e os respondentes dos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais representam cada um 4% do total da amostra. Nesta amostra, 73% dos respondentes são do gênero masculino, possuem em média 35 anos de idade e a maioria tem pós-graduação lato sensu (65%). Quanto ao cargo que ocupam na empresa, predominaram os cargos de gerentes (35%) e analistas (27%) e cerca de 30% indicaram outros cargos: auditores seniores, auditores plenos, coordenadores, diretores, sócios, supervisores, superintendentes. Em relação ao tempo de empresa, 47% dos respondentes afirmaram trabalhar há mais de cinco anos na mesma empresa. Essas empresas são de 16 segmentos econômicos, desde empresas industriais até segmentos agroindustriais. Esses dados demográficos revelam características heterogêneas dos respondentes e que reúnem as condições necessárias para integrar a amostra desta pesquisa.

3.2 Mensuração dos construtos da pesquisa

Os construtos foram mensurados com escala tipo Likert de sete pontos (Apêndice A). Para auxiliar na redução de vieses que pudessem comprometer a validade das respostas, foram tomados alguns cuidados: (i) os instrumentos foram compostos por assertivas com declarações positivas e negativas, utilizando questões reversas, a fim de manter o respondente alerta; (ii) as questões foram apresentadas de forma variada; (iii) cada construto apresentou solicitações de respostas diferentes umas das outras, por exemplo (0 = discordo totalmente/nunca/nenhuma; 6 = concordo totalmente/todo dia/todo o tempo); e (iv) assegurou-se o anonimato dos respondentes e das empresas onde trabalham para evitar constrangimento ou viés nas respostas (Scheaffer, Mendenhall & Ott, 1996Scheaffer, R.L., Mendenhall, W., & Ott, R.L. (1996). Elementary survey sampling (5th Ed). Duxbury Press, New York.).

A autopercepção de justiça organizacional foi mensurada pela Escala de Percepção de Justiça Organizacional (EPJO), validada por Mendonça, Pereira, Tamayo e Paz (2003Mendonça, H., Pereira, C., Tamayo, A., & Paz, M.G.T. (2003). Validação fatorial de uma escala de percepção de justiça organizacional. Estudos: Saúde e Vida, 30(1), 111-130.), com frases de aspectos do trabalho (0 = discordo totalmente; 6 = concordo totalmente), nas dimensões: distributiva (6 itens), processual (7 itens) e interacional (7 itens). A confiabilidade desse construto indicou um alfa de Cronbach de 0,964. A análise fatorial exploratória (AFE) gerou um modelo de dois fatores: justiça distributiva e justiça processual (agrupando itens processuais e interacionais). A literatura sugere que a justiça interacional pode ser considerada uma ramificação ou uma forma social de justiça processual (Cropanzano & Greenberg, 1997Cropanzano, R., & Greenberg, J. (1997). Progress in organizational justice: Tunneling through the Maze. In: C.L. Cooper, & I.T. Robertson (Eds.). International review of industrial and organizational psychology (Vol. 12, pp. 317-372). John Wiley & Sons, New York.). Foram excluídas duas assertivas que afetavam o modelo. Em conjunto, esses dois construtos representam 70,89% da variância total explicada e um KMO de 0,930, sinalizando consistência interna do construto.

Para mensurar o construto burnout utilizou-se o Maslach Burnout Inventory - General Survey (MBI-GS), aplicado em diversos contextos ocupacionais de trabalho (Maslach et al., 2001), nas dimensões: exaustão emocional (6 itens), baixa realização pessoal (6 itens reversos) e despersonalização (4 itens). Cada uma das assertivas buscou aferir o sentimento relativo a seu trabalho (0 = nunca; 6 = todo dia). Esse construto apresentou um alfa de Cronbach de 0,904, variância total explicada de 66,73% e KMO de 0,829.

No construto comportamentos no trabalho, solicitou-se que os respondentes indicassem o número que representava a ocorrência de situações relativas ao convívio, rotinas e posturas com seu trabalho atual. Para aferir a satisfação no trabalho, adotou-se o instrumento de Hoppock (1935Hoppock, R. (1935). Job satisfaction. Harper and Brothers, New York.), com três itens, que revelou um alfa de Cronbach de 0,757, KMO de 0,624 e variância total explicada de 68,43%. Intenções de turnover foi mensurado por quatro itens, adaptados dos instrumentos de Mobley, Horner e Hollingsworth (1978Mobley, W.H., Horner, S.O., & Hollingsworth, A.T. (1978). An evaluation of precursors of hospital employee turnover. Journal of Applied Psychology, 63(4), 408-414.) e P. C. B. Lee (1996Lee, R. L., & Ashforth, B. (1996). A meta-analytic examination of the correlates of the three dimensions of job burnout. Journal of Applied Psychology, 81(2), 123-133.). Após a exclusão de uma assertiva que afetava o modelo (ITN4, Apêndice A), obteve-se um alfa de Cronbach de 0,917, que representa 85,90% da variância total explicada, e KMO de 0,709. Comprometimento organizacional afetivo foi aferido com o instrumento de pesquisa de Meyer et al. (1993Meyer, J.P., Allen, N.J., & Smith, C.A. (1993). Commitment to organizations and occupations: Extension and test of a three-component conceptualization. Journal of Applied Psychology, 78(4), 538-551, 1993.). Conforme a AFE, formaram-se dois fatores, denominados ligação emocional (3 itens reversos, COA3, COA4 e COA5) e significação (3 itens, COA1, COA2 e COA6). Juntos, apresentaram um alfa de Cronbach de 0,751, KMO 0,737 e variância total explicada de 67,53%.

3.3 Procedimentos para análise dos dados

Testes de viés de não resposta foram aplicados para validar as informações obtidas por meio dos instrumentos de pesquisa. Primeiro adotou-se o método first last (comparação das médias das 10 primeiras com as 10 últimas respostas) e não houve diferenças estatisticamente significativas em todos os construtos (p-values entre 0,236 e 0,678). O mesmo ocorreu ao analisar as 62 respostas iniciais e as 62 finais (p-values entre 0,241 e 0,832). Seguiu-se com testes de confiabilidade e AFE, com análise do viés de método comum (Common method bias), pelo teste de fator único de Harman. A variância total explicada para um único fator foi 71,40%, o que sugere inexistência de tendência de método comum. Isso sinaliza que os instrumentos não introduziram variações nas respostas e que a existência de ruídos não afetou os dados e suas inferências (Podsakoff, MacKenzie, Lee & Podsakoff, 2003Podsakoff, P.M., MacKenzie, S.B., Lee, J.-Y., & Podsakoff, N.P. (2003). Common method biases in behavioral research: A critical review of the literature and recommended remedies. Journal of Applied Psychology, 88(5), 879-903.).

Os dados foram analisados com modelagem de equações estruturais (Structural Equations Modeling - SEM) estimada a partir dos Mínimos Quadrados Parciais (Partial Least Squares - PLS), utilizando-se o software SmartPLS. O PLS-SEM é mais recomendado quando se busca explicar a variação entre as variáveis dependentes do modelo, por sua capacidade de estimar coeficientes que maximizam os valores de R2 dos construtos independentes (Hair, Hult, Ringle & Sarstedt, 2016). Para analisar a mediação, seguiram-se as recomendações de Baron e Kenney (1986Baron, R.M., & Kenny, D.A. (1986). The moderator-mediator variable distinction in social psychological research: Conceptual, strategic, and statistical considerations. Journal of Personality and Social Psychology, 51(6), 1173-1182.) e Hayes (2013Hayes, A.F. (2013). Introduction to mediation, moderation, and conditional process analysis. The Guilford Press, New York.) de análise dos efeitos diretos e indiretos e efeito total do modelo a partir do Bootstrapping. Realizou-se ainda o Teste Sobel para confirmar as mediações encontradas no modelo, que analisa os coeficientes e erros dos efeitos indiretos.

4 Análise dos resultados

4.1 Avaliação do modelo de mensuração

A validação dos modelos de mensuração reflexivos (Tabela 1) confirma a validade convergente do modelo pela variância média extraída (AVE), pois todos os coeficientes de AVE estão acima de 0,50 (Hair et al., 2016). Atesta-se também a validade discriminante, conforme o critério de Fornell e Larcker (1981Fornell, C., & Larcker, D.F. (1981). Structural equation models with unobservable variables and measurement error: Algebra and statistics. Journal of Marketing Research, 18(3), 382-388.), ao avaliar os valores da diagonal de cada construto e constatar que cada construto se diferencia dos demais na captação de fenômenos exclusivos. A análise das cargas cruzadas (Cross Loading) também indica que as cargas fatoriais são maiores nas variáveis latentes do que em outras, e que cada um dos itens é explicado por seu construto. Há ainda indicação de que o modelo é adequado e as respostas são confiáveis, pois o alfa de Cronbach (confiabilidade interna) e a confiabilidade composta são superiores a 0,70.

Tabela 1
Resultados do modelo de mensuração e estatísticas descritivas (n = 124)

Nota-se que justiça organizacional (JD e JP) associa-se positivamente a satisfação no trabalho e comprometimento organizacional afetivo (ligação emocional e significado) e negativamente com intenções de turnover. As dimensões de justiça organizacional associam-se negativamente com burnout em suas três dimensões (EE, Desp e BRP). Esses resultados sinalizam que, quanto maior a autopercepção de justiça organizacional, menor será a incidência de burnout e isso reflete em maiores níveis de satisfação no trabalho e comprometimento com a organização e menores intenções de turnover.

Para verificar a existência de problemas de multicolinearidade entre as variáveis, analisou-se o Variance Inflation Factors (VIF) no SmartPLS, que indicou ausência de multicolinearidade entre as variáveis latentes, pois todos os valores de VIF foram inferiores a 5 (Hair et al., 2016). O fit do modelo apresenta uma Raiz do Erro Médio Quadrático Residual Padronizado (SRMR) de 0,080, o que indica bom ajustamento do modelo. Infere-se, assim, adequação do modelo de mensuração, já que os construtos foram considerados confiáveis e apresentaram validade para análise no modelo estrutural.

4.2 Avaliação do modelo estrutural

Para aferir a validade do modelo estrutural verificaram-se o tamanho e a significância dos coeficientes de caminhos (path), os coeficientes de determinação de Pearson (R2), a relevância preditiva (Q2) e o tamanho do efeito (F2) dos construtos (Hair et al., 2016). Esses dados são analisados a partir do Bootstrapping (path, t-value, p-value e R2) e do módulo Blindfolding (F2 e Q2). Para essas técnicas, executou-se o teste bicaudal ao nível de significância de 5% (bias-corrected and accelerated), com 5.000 interações (Hair et al., 2016). Na Tabela 2 apresentam-se os resultados evidenciados pelo path.

Tabela 2
Resultados do modelo estrutural e hipóteses

Verifica-se que apenas a justiça processual (H1b) revelou relações significativas com burnout. Há suporte para confirmar as hipóteses dos efeitos de burnout nas atitudes e comportamentos do trabalho. A satisfação no trabalho é afetada negativamente pela exaustão emocional e baixa realização pessoal (H2a); as intenções de turnover são afetadas positivamente pela exaustão emocional e despersonalização (H2c); o comprometimento organizacional afetivo de ligação emocional é afetado negativamente pela exaustão emocional e despersonalização, mas positivamente pela baixa realização pessoal (H2b); e o comprometimento organizacional afetivo de significação é afetado negativamente pela despersonalização e baixa realização pessoal (H2b).

A hipótese H3 foi analisada pelos preceitos de Baron e Kenney (1986Baron, R.M., & Kenny, D.A. (1986). The moderator-mediator variable distinction in social psychological research: Conceptual, strategic, and statistical considerations. Journal of Personality and Social Psychology, 51(6), 1173-1182.) e sugestões de Hayes (2013Hayes, A.F. (2013). Introduction to mediation, moderation, and conditional process analysis. The Guilford Press, New York.). Analisaram-se os efeitos diretos e indiretos e o efeito total do modelo, obtidos pelo Bootstrapping, estimando os componentes que constituem os efeitos indiretos. Os efeitos indiretos foram calculados a partir do produto das interações de VI→VM e VM→VD, sendo que a saída agrupa todos os valores de VM, nesse caso o construto burnout, constituído pelas dimensões EE, Desp e BRP. Na Tabela 3 apresentam-se esses efeitos.

Tabela 3
Teste das mediações - H3

Observa-se que o burnout influencia significativamente apenas as interações de justiça processual com os comportamentos organizacionais. Mediação completa do burnout é observada nas relações entre justiça processual e comprometimento organizacional afetivo (ligação emocional e significado p < 0,05) e satisfação (p < 0,1). A variável “intenções de turnover” não foi significativa ao ser analisada de maneira integrada (como um construto de segunda ordem).

Para aferir quais dimensões do burnout foram capazes de confirmar a mediação do modelo realizou-se o teste Sobel e confirmou-se pelo total de efeitos indiretos específicos via Bootstraping. Esses processos indicaram que: (i) a dimensão exaustão emocional medeia a relação da justiça processual com satisfação no trabalho (β 0,100, p < 0,061) e comprometimento afetivo de ligação emocional (β 0,103, p < 0,067); (ii) a despersonalização medeia as interações entre justiça processual e comprometimento afetivo de ligação emocional (β 0,115, p < 0,08); e (iii) a baixa realização pessoal medeia as interações da justiça processual com a satisfação no trabalho (β 0,120, p < 0,099).

Esses achados indicam que a satisfação no trabalho dos auditores e o comprometimento organizacional afetivo serão maiores quando os níveis de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização forem reduzidos por procedimentos percebidos como sendo justos na organização. Além disso, os testes mostram que a variável “intenções de turnover” é mediada pelas dimensões exaustão emocional (β -0,113, p < 0,041) e despersonalização (β -0,105, p < 0,079). Esse resultado sugere que a intenção de turnover ocorrerá apenas quando os indivíduos se sentirem emocionalmente em estado de despersonalização, causado pelo sentimento de injustiça processual. Em si, baixa realização pessoal pode não influenciar os indivíduos a ter tal atitude/comportamento disfuncional.

Diferente do esperado, não se constatou mediação da justiça distributiva com atitudes e comportamentos no trabalho. Já as relações diretas, sem influência residual de burnout, apresentaram-se significativas com intenções de turnover, satisfação no trabalho e comprometimento organizacional afetivo. Isso sinaliza que distribuições percebidas justas levam diretamente à satisfação no trabalho (Adams, 1965Adams, J.S. (1965). Inequity in social exchange. Advances in Experimental Social Psychology, 2, 267-299.), menor intenção de turnover e maior conexão afetiva com a organização (Tepper, 2001Tepper, B.J. (2001). Health consequences of organizational injustice: Tests of main and interactive effects. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 86(2), 197-215.).

Os coeficientes de determinação de Pearson (R2) apontaram qualidade e poder de explicação do modelo estrutural. Efeitos grandes de explicação foram encontrados para intenções de turnover, satisfação no trabalho e comprometimento organizacional afetivo, efeito moderado para exaustão emocional e efeitos pequenos para despersonalização e baixa realização pessoal. A qualidade da predição do modelo (Q2) foi maior que zero em todos os construtos (Hair et al., 2013). O teste de tamanho do efeito (F2), que avalia a capacidade do construto de explicar o modelo, também revelou que todos os construtos possuem efeitos grandes de auxiliar no ajuste do modelo (Hair et al., 2013).

4.3 Discussão dos resultados

Os resultados da pesquisa com auditores internos apresentam relações negativas entre a justiça processual e as dimensões de burnout (exaustão emocional, baixa realização pessoal e despersonalização), o que permite aceitar a hipótese H1b. Esses achados são congruentes com os de Maslachet al. (2001Maslach, C., Schaufeli, W.B., & Leiter, M.P. (2001). Job burnout. Annual Review of Psychology, 52(1), 397-422.) e sugerem que empresas que explicitam os procedimentos que afetam seus funcionários podem reduzir sentimentos de esgotamento. Contrariamente, as organizações que não proporcionam confiança no local de trabalho criam as bases para o burnout (Kalbers & Fogarty, 2005Kalbers, L.P., & Fogarty, T.J. (2005). Antecedents to internal auditor burnout. Journal of Managerial Issues, 12(1), 101-118.).

A despersonalização interage significativamente com a justiça processual. Decorre que os funcionários agirão com ações cínicas, egoísticas de despersonalização quando os processos de tomadas de decisões são percebidos como injustos. A relação entre a dimensão da baixa realização pessoal e a justiça processual sinaliza que as relações interpessoais impactam no comportamento e atitudes das pessoas (Moorman, 1991Moorman, R.H. (1991). Relationship between organizational justice and organizational citizenship behaviors: Do fairness perceptions influence employee citizenship? Journal of Applied Psychology, 76(6), 845-855.) e podem implicar atribuições de ineficácia, baixa motivação e redução da autoestima (Fogarty et al., 2000Fogarty, T.J., Singh, J., Rhoads, G.K., & Moore, R.K. (2000). Antecedents and consequences of burnout in accounting: Beyond the role stress model. Behavioral Research in Accounting, 12(1), 31-67.). Funcionários que sentem que não tiveram a oportunidade de crescer ou provar sua competência na organização provavelmente não sentirão lealdade ou identificação positiva com os processos adotados pela mesma (Campbell et al., 2013Campbell, N.S., Perry, S.J., Maertz, C.P., Allen, D.G., & Griffeth, R.W. (2013). All you need is… resources: The effects of justice and support on burnout and turnover. Human Relations, 66(6), 759-782.).

Diferente do previsto, como em R. Folger e M. A. Konovsky (1989Folger, R., & Konovsky, M.A. (1989). Effects of procedural and distributive justice on reactions to pay decisions. Academy of Management Journal, 32(1), 115-130.), os auditores internos da amostra parecem dar menor atenção à distribuição justa de remuneração. Esse fator parece insuficiente para explicar a influência nas dimensões de burnout (H1a) e levá-los à exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal. R. Folger e R. Cropanzano (1998) alertam que as pessoas, além dos resultados das distribuições, se preocupam com os procedimentos para fazer essas distribuições. DeConinck e Stilwell (2010) ressaltam que os fatores remuneratórios podem ser colocados em segundo plano, ao passo que os métodos de alocação de seus pagamentos, tarefas e relacionamentos com seus supervisores podem ser mais relevantes para gerar sentimentos de injustiças no trabalho. Os auditores parecem ser afetados principalmente pela maneira como as organizações conseguem atender às suas necessidades de crescimento e desenvolvimento pessoal (Muliawan, Green & Robbos, 2009Muliawan, A.D., Green, P.F., & Robb, D.A. (2009). The turnover intentions of information systems auditors. International Journal of Accounting Information Systems, 10(3), 117-136.), por exemplo, com políticas e planos de carreira para que não se sintam prejudicados e injustiçados.

As interações previstas entre o burnout e os comportamentos organizacionais foram suportadas. As três dimensões de burnout, conforme R. L. Lee e B. Ashforth (1996Lee, R. L., & Ashforth, B. (1996). A meta-analytic examination of the correlates of the three dimensions of job burnout. Journal of Applied Psychology, 81(2), 123-133.), se relacionam negativamente com satisfação no trabalho (H2a) e comprometimento organizacional afetivo (H2b) e positivamente com intenções de turnover (H2c). A dimensão “exaustão emocional” se relaciona com os três comportamentos no trabalho. Isso sinaliza que os sentimentos de esgotamento dos auditores em função das demandas psicoemocionais excessivas (Fogarty et al., 2000Fogarty, T.J., Singh, J., Rhoads, G.K., & Moore, R.K. (2000). Antecedents and consequences of burnout in accounting: Beyond the role stress model. Behavioral Research in Accounting, 12(1), 31-67.), decorrentes das tarefas que exigem soluções inovadoras e criativas, ambiente com pressão de tempo e de grande responsabilidade, refletem-se na satisfação no trabalho, comprometimento afetivo e intenções de turnover (Maslach et al., 2001Maslach, C., Schaufeli, W.B., & Leiter, M.P. (2001). Job burnout. Annual Review of Psychology, 52(1), 397-422.).

A dimensão de despersonalização afeta intenções de turnover e comprometimento organizacional afetivo de ligação emocional e significado atribuído à organização. Quando o funcionário se distancia dos outros para se defender emocionalmente (Maslach et al., 1996Maslach, C., Jackson, S.E., & Leiter, M.P. (1996). Maslach Burnout Inventory: Test manual. (3rd ed.). Consult. Psychol. Press, Palo Alto, CA.), tal reflete em condições negativas com o trabalho. Ao sofrer de despersonalização, tende a se tornar menos leal a seu empregador, o que pode gerar sentimentos de não pertencimento e menor identificação com a organização (Campbell et al., 2013Campbell, N.S., Perry, S.J., Maertz, C.P., Allen, D.G., & Griffeth, R.W. (2013). All you need is… resources: The effects of justice and support on burnout and turnover. Human Relations, 66(6), 759-782.).

A dimensão de baixa realização pessoal, que se refere às percepções de incapacidade e incompetência de lidar com suas tarefas, impacta negativamente na satisfação no trabalho e no comprometimento afetivo de ligação emocional e de significação. O resultado sugere que auditores com essa percepção tendem a apresentar menor satisfação no ambiente de trabalho e menor dedicação e capacidade de se identificar com a organização e seus objetivos (Mowday et al., 1979Mowday, R.T., Steers, R.M., & Porter, L.W. (1979). The measurement of organizational commitment. Journal of Vocational Behavior, 14(2), 224-247.). Diferente do esperado, entretanto, parece que indivíduos com baixa realização pessoal, que tendem a se autoavaliar negativamente e a ser infelizes com eles mesmos e com seu desenvolvimento profissional (Maslach & Jackson, 1981Maslach, C., & Jackson, S.E. (1981). The measurement of experienced burnout. Journal of Occupational Behavior, 2(2), 99-113.) não apresentaram menores ligações emocionais com a organização (senso de vínculo e integração com a organização) (Meyer et al., 1993Meyer, J.P., Allen, N.J., & Smith, C.A. (1993). Commitment to organizations and occupations: Extension and test of a three-component conceptualization. Journal of Applied Psychology, 78(4), 538-551, 1993.). Portanto, esse resultado instiga mais investigações.

As análises da hipótese H3 apontam que burnout somente medeia as relações de justiça processual com comprometimento organizacional afetivo de significado e satisfação no trabalho. Isso indica que a forma como as políticas organizacionais são conduzidas e as informações são compartilhadas pode fornecer efeitos motivadores aos funcionários (Silva & Caetano, 2016Silva, M.R., & Caetano, A. (2016). Organizational justice across cultures: A systematic review of four decades of research and some directions for the future. Social Justice Research, 29(3), 257-287.). O uso de procedimentos justos gera expectativas de tratamento justo e, consequentemente, um sentimento de consideração positiva, lealdade com a organização e fortalecimento de laços interpessoais (Cropanzano & Greenberg, 1997Cropanzano, R., & Greenberg, J. (1997). Progress in organizational justice: Tunneling through the Maze. In: C.L. Cooper, & I.T. Robertson (Eds.). International review of industrial and organizational psychology (Vol. 12, pp. 317-372). John Wiley & Sons, New York.).

As dimensões de exaustão emocional e despersonalização conseguem mais fortemente explicar os efeitos mediadores desses construtos. Em conformidade com estudos anteriores, percepção de justiça organizacional parece estar fortemente ligada à dimensão central de burnout, à exaustão e, posteriormente, à despersonalização (Maslach et al., 2001Maslach, C., Schaufeli, W.B., & Leiter, M.P. (2001). Job burnout. Annual Review of Psychology, 52(1), 397-422.). Fogarty et al. (2000Fogarty, T.J., Singh, J., Rhoads, G.K., & Moore, R.K. (2000). Antecedents and consequences of burnout in accounting: Beyond the role stress model. Behavioral Research in Accounting, 12(1), 31-67.) encontraram evidências de um considerável grau de exaustão emocional e despersonalização em profissionais contábeis. Conseguiram também explicar de forma significativa a intenção de turnover, o que está alinhado com Vaamonde et al. (2018Vaamonde, J.D., Omar, A., & Salessi, S. (2018). From organizational justice perceptions to turnover intentions: The mediating effects of burnout and job satisfaction. Europe’s Journal of Psychology,14(3), 554-570.), que indivíduos que percebem maior equidade em suas trocas organizacionais, reciprocidade, apresentam menores níveis de burnout e intenções de turnover.

A relação da percepção de justiça distributiva com as variáveis de resultado, diferente do previsto (H3), não indicou que o burnout atua como variável mediadora. Apenas evidenciou que os efeitos da distribuição equilibrada levam ao aumento direto da satisfação no trabalho e do comprometimento afetivo de significado e redução direta das intenções de deixar a empresa (Folger & Cropanzano, 1998Folger, R., & Cropanzano, R. (1998). Organizational justice and human resource management. Sage, Beverly Hills.). As percepções de injustiça distributiva parecem exercer menor papel estressor do que a injustiça processual. Decorre que o ambiente de trabalho dos profissionais de auditoria interna é reconhecido por sua alta sobrecarga de trabalho, prazos curtos, pressões de tempo, exigência de habilidades e conhecimentos técnicos (Larson, 2004Larson, L.L. (2004). Internal auditors and job stress. Managerial Auditing Journal, 19(9), 1119-1130.; Kalbers & Fogarty, 2005Kalbers, L.P., & Fogarty, T.J. (2005). Antecedents to internal auditor burnout. Journal of Managerial Issues, 12(1), 101-118.). Mesmo que as atividades de auditoria sejam estressantes e que a remuneração (diretamente) possa levar a atitudes e comportamentos disfuncionais, os profissionais de auditoria parecem ser mais impactados pelas políticas e processos organizacionais na atribuição e exercício de suas funções (Muliawan et al., 2009Muliawan, A.D., Green, P.F., & Robb, D.A. (2009). The turnover intentions of information systems auditors. International Journal of Accounting Information Systems, 10(3), 117-136.).

Em geral, os resultados indicam que a injustiça percebida quanto aos processos formais da organização promove respostas mais fortes no trabalho do que os processos distributivos. Destaca-se, assim, a relevância dos valores implícitos dos processos e estruturas organizacionais e sua capacidade de moldar reações emocionais e cognitivas com o trabalho (Maslach et al., 2001Maslach, C., Schaufeli, W.B., & Leiter, M.P. (2001). Job burnout. Annual Review of Psychology, 52(1), 397-422.). Maior justiça processual apoia o desenvolvimento de relacionamentos de maior confiança, lealdade e envolvimento com a organização (Colquitt et al., 2001Colquitt, J.A., Conlon, D.E., Wesson, M.J., Porter, C.O.L.H., & Ng, K.Y. (2001). Justice at the millennium: A meta-analytic review of 25 years of organizational justice research. Journal of Applied Psychology, 86(3), 425-445.). Assim, organizações que compartilham os critérios adotados nos processos que impactam nas rotinas de seus funcionários, que usam tratamentos interpessoais cordiais, tendem a ter menores níveis de percepção de injustiça organizacional, o que diminui o processo de burnout e impacta positivamente em suas operações (Maslach & Jackson, 1984).

5 Considerações finais

Este estudo, que investigou em que medida a justiça organizacional, o burnout e as atitudes e os comportamentos no trabalho (satisfação no trabalho, comprometimento organizacional afetivo e intenções de turnover) estão relacionados, revelou que a justiça distributiva os afeta diretamente, ao passo que a justiça processual os afeta pela mediação de burnout. Conclui-se que as atitudes e os comportamentos no trabalho dos auditores internos tendem a ser mais positivos quando as distribuições de recursos são percebidas como sendo justas e os processos formais da organização não causam estresse e, consequentemente, não provocam burnout.

5.1 Implicações teóricas

Este estudo apresenta implicações teóricas ao explorar como as percepções de justiça organizacional são capazes de influenciar psicologicamente atitudes e comportamentos positivos dos indivíduos (maior satisfação no trabalho e comprometimento organizacional afetivo) ou disfuncionais (intenções de turnover) no âmbito organizacional. Contribui ao explorar os antecedentes de variáveis que afetam o trabalho e de fatores que podem levar ao burnout. Desse modo, ampliam-se as discussões sobre atitudes de iniciativa e interação social, e atitudes passivas decorrentes do esgotamento do corpo e da mente e da indiferença ao trabalho, que podem decorrer de julgamentos de distribuição de recursos, processos de tomada de decisões e interações com supervisores (Maslach et al., 2001Maslach, C., Schaufeli, W.B., & Leiter, M.P. (2001). Job burnout. Annual Review of Psychology, 52(1), 397-422.). As discussões relativas aos efeitos do burnout constituem outra contribuição, pois suas interações no contexto organizacional são menos exploradas do que nas áreas da saúde e educacional.

5.2 Implicações práticas

O estudo apresenta implicações práticas para organizações e profissionais de auditoria ao demonstrar que a percepção de (in)justiça organizacional e o estado de burnout podem gerar consequências disfuncionais e afetar resultados. As organizações podem tentar prevenir o acometimento dessa síndrome ao reduzir as emoções negativas dos funcionários ligadas às questões processuais e à criação de um ambiente percebido como justo. A redução da percepção de injustiça organizacional pode advir de um sistema aberto, dando voz aos funcionários, e favorecer um maior nível de conhecimento e envolvimento nos processos que conduzem aos resultados da organização. Maior compartilhamento de informações internas pode gerar maior interação interpessoal e minimizar fatores que levem à desconexão com a organização. Estudos indicativos sobre os níveis de satisfação no trabalho podem identificar os sentimentos dos funcionários em relação às funções exercidas e ao ambiente de trabalho e servir de diagnóstico sobre problemas mais amplos com a organização e seus processos formais.

5.3 Limitações e sugestões para pesquisas futuras

Esta pesquisa transversal está sujeita a limitações de viés de método comum, autoavaliação e taxas das respostas dos participantes e efeito de halo. Os resultados, entretanto, não indicaram tendência de método comum. Além disso, os testes de viés de não resposta validaram as informações obtidas pelos instrumentos de pesquisa, todos mensurados em escalas multidimensionais difusas, o que torna as autoavaliações menos suscetíveis ao efeito halo. Os testes de confiabilidade e multicolinearidade também indicaram que as respostas podem ser consideradas consistentes. No entanto, o estudo concentrou-se na percepção de justiça organizacional como um antecedente de burnout. Outras variáveis organizacionais podem ajudar a explicar os fenômenos que desencadeiam ou mitigam esses sintomas, como participação, envolvimento e confiança organizacional. Também não se analisaram consequentes das atitudes e comportamentos no trabalho, como desempenho, que pode ser afetado pela (in)satisfação no trabalho e pelo comprometimento organizacional afetivo.

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  • Processo de avaliação:

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Apêndice A


Construtos e assertivas dos instrumentos de pesquisa

Editor responsável:

Prof. Dr. Gina Santos

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Out 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021

Histórico

  • Recebido
    02 Jul 2019
  • Aceito
    02 Dez 2020
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