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Efeito repelente de azadiractina e óleos essenciais sobre Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) em algodoeiro

Repellent effect of azadirachtin and essential oils on Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) in cotton plants

Resumos

A repelência de inseticidas botânicos tem se destacado como uma tática promissora no controle alternativo de pragas agrícolas e urbanas, podendo ser um dos componentes do manejo integrado de pragas. Objetivou-se com este trabalho identificar a repelência de inseticidas botânicos sobre fêmeas ápteras de Aphis gossypii Glover. Testes com chance de escolha foram realizados com discos de folha de algodoeiro, imersos nas caldas dos inseticidas e testemunha (água destilada com DMSO a 2%). Utilizou-se azadirachtina (0,075%) e os óleos essenciais de Piper hispidinervum CDC, P. aduncum L., Cymbopogon winterianus (L.), C. citratus (D.C.) Stapf, Foeniculum vulgare Mill, Syzygium aromaticum (L.) Merrill e Perry, Cinnamomum zeylanicum Blume, Schinus terebinthifolius Raddi e Chenopodium ambrosioides L. na concentração de 0,05%. C. citratus, C. winterianus, P. aduncum, S. terebinthifolius, azadirachtina e C. zeylanicum apresentaram os maiores percentuais de repelência, 100; 84; 66,67; 64; 60,87 e 48% respectivamente e reduziram a produção de ninfas em 100; 92; 42,9; 87,5; 80,65 e 89,74%, apresentando resultados significativos pelo teste do χ2 ao nível de 10% de probabilidade. Nos testes com F. vulgare (χ2 = 3,66, P = 0,05) as fêmeas de A. gossypii foram atraídas significativamente para os discos tratados e ocorreu um aumento na produção de ninfas nos resultados obtidos para F. vulgare (χ2 = 5,87, P = 0,02) e C. ambrosioides (χ2 = 14,31, P = 0,001).

Gossypium hirsutum; Pulgão-do-algodoeiro; Comportamento; Inseticidas de origem vegetal


The repellence of botanical insecticides has emerged as a promising technique in the alternative control of urban and agricultural pests, being seen as one component of integrated pest management. The aim of this work was to identify the repellence of botanical insecticides on apterous females of Aphis gossypii Glover. Random-choice tests were carried out with discs from the leaves of cotton plants immersed in insecticide solution and in a control (distilled water with 2% DMSO). Azadirachtin was used (0.075%) and the essential oils of Piper hispidinervum CDC, P. aduncum L., Cymbopogon winterianus (L.), C. citratus (DC) Stapf, Foeniculum vulgare Mill, Syzygium aromaticum (L.) Merrill and Perry, Cinnamomum zeylanicum Blume, Schinus terebinthifolius Raddi and Chenopodium ambrosioides L. at a concentration of 0.05%. C. citratus, C. winterianus, P. aduncum, S. terebinthifolius, azadirachtin and C. zeylanicum showed the highest percentage of repellence, 100, 84, 66.67, 64, 60.87 and 48% respectively, and reduced nymph production by 100, 92, 42.9, 87.5, 80.65 and 89, 74%, with significant results from the χ2 test at 10% probability. In tests with F. vulgare (χ2 = 3.66, P = 0.05) females of A. gossypii were significantly attracted to the treated discs, and there was an increase in the production of nymphs in the results obtained for F. vulgare (χ2 = 5.87, P = 0.02) and C. ambrosioides (χ2 = 14.31, P = 0.001).

Gossypium hirsutum; Cotton aphid; Behaviour; Insecticides of plant origin


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FITOTECNIA

ARTIGO CIENTÍFICO

Efeito repelente de azadiractina e óleos essenciais sobre Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) em algodoeiro1 * Autor correspondência 1 Capítulo de Tese do primeiro autor financiado por bolsa fornecida pela CAPES e CNPq ao mesmo

Repellent effect of azadirachtin and essential oils on Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) in cotton plants

Lígia Helena de AndradeI,* * Autor correspondência 1 Capítulo de Tese do primeiro autor financiado por bolsa fornecida pela CAPES e CNPq ao mesmo ; José Vargas de OliveiraII; Iracilda Maria de Moura LimaIII; Mauricéa Fidelis de SantanaIV; Mariana Oliveira BredaIV

IDepartamento de Ciências Biológicas/UFPI, Br 135, Km 03 s/n, Planalto Horizonte, Bom Jesus-PI, Brasil, 64.900-000, ligia.helenandrade@gmail.com

IIDepartamento de Agronomia/Entomologia/UFRPE, Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, Brasil, 52.171-900, vargasoliveira@uol.com.br

IIIDepartamento de Zoologia/UFAL, P. Afrânio Jorge s/n, Centro, Maceió-Al, Brasil, 57.010-020, iracildalimae@gmail.com

IVDepartamento de Agronomia/Entomologia, Programa de Pós-Graduação em Entomologia Agrícola/UFRPE, Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, Brasil, 52.171-900, agrocea@yahoo.com.br, breda.mariana@hotmail.com

RESUMO

A repelência de inseticidas botânicos tem se destacado como uma tática promissora no controle alternativo de pragas agrícolas e urbanas, podendo ser um dos componentes do manejo integrado de pragas. Objetivou-se com este trabalho identificar a repelência de inseticidas botânicos sobre fêmeas ápteras de Aphis gossypii Glover. Testes com chance de escolha foram realizados com discos de folha de algodoeiro, imersos nas caldas dos inseticidas e testemunha (água destilada com DMSO a 2%). Utilizou-se azadirachtina (0,075%) e os óleos essenciais de Piper hispidinervum CDC, P. aduncum L., Cymbopogon winterianus (L.), C. citratus (D.C.) Stapf, Foeniculum vulgare Mill, Syzygium aromaticum (L.) Merrill e Perry, Cinnamomum zeylanicum Blume, Schinus terebinthifolius Raddi e Chenopodium ambrosioides L. na concentração de 0,05%. C. citratus, C. winterianus, P. aduncum, S. terebinthifolius, azadirachtina e C. zeylanicum apresentaram os maiores percentuais de repelência, 100; 84; 66,67; 64; 60,87 e 48% respectivamente e reduziram a produção de ninfas em 100; 92; 42,9; 87,5; 80,65 e 89,74%, apresentando resultados significativos pelo teste do χ2 ao nível de 10% de probabilidade. Nos testes com F. vulgare 2 = 3,66, P = 0,05) as fêmeas de A. gossypii foram atraídas significativamente para os discos tratados e ocorreu um aumento na produção de ninfas nos resultados obtidos para F. vulgare 2 = 5,87, P = 0,02) e C. ambrosioides2 = 14,31, P = 0,001).

Palavras-chave:Gossypium hirsutum. Pulgão-do-algodoeiro. Comportamento. Inseticidas de origem vegetal.

ABSTRACT

The repellence of botanical insecticides has emerged as a promising technique in the alternative control of urban and agricultural pests, being seen as one component of integrated pest management. The aim of this work was to identify the repellence of botanical insecticides on apterous females of Aphis gossypii Glover. Random-choice tests were carried out with discs from the leaves of cotton plants immersed in insecticide solution and in a control (distilled water with 2% DMSO). Azadirachtin was used (0.075%) and the essential oils of Piper hispidinervum CDC, P. aduncum L., Cymbopogon winterianus (L.), C. citratus (DC) Stapf, Foeniculum vulgare Mill, Syzygium aromaticum (L.) Merrill and Perry, Cinnamomum zeylanicum Blume, Schinus terebinthifolius Raddi and Chenopodium ambrosioides L. at a concentration of 0.05%. C. citratus, C. winterianus, P. aduncum, S. terebinthifolius, azadirachtin and C. zeylanicum showed the highest percentage of repellence, 100, 84, 66.67, 64, 60.87 and 48% respectively, and reduced nymph production by 100, 92, 42.9, 87.5, 80.65 and 89, 74%, with significant results from the χ2 test at 10% probability. In tests with F. vulgare2 = 3.66, P = 0.05) females of A. gossypii were significantly attracted to the treated discs, and there was an increase in the production of nymphs in the results obtained for F. vulgare2 = 5.87, P = 0.02) and C. ambrosioides2 = 14.31, P = 0.001).

Key words:Gossypium hirsutum. Cotton aphid. Behaviour. Insecticides of plant origin.

INTRODUÇÃO

A preocupação da sociedade com os problemas decorrentes dos efeitos adversos do uso abusivo de agrotóxicos na agricultura tem despertado o interesse de pesquisas com táticas alternativas de controle de pragas, destacando-se aquelas com os óleos essenciais (FAZOLIN et al., 2005; MARTINEZ; VAN EMDEN, 2001; VENDRAMIM; CASTIGLIONI, 2000).

Esses produtos, provenientes do metabolismo secundário das plantas, são constituídos por misturas complexas de substâncias químicas, como os monoterpenos, sesquiterpenos e flavonóides, que são componentes importantes nos processos de interação planta versus inseto versus inimigo natural, bem como no controle de insetos-praga, ácaros, fungos, bactérias e nematóides (FAZOLIN et al., 2005; OLIVEIRA; VENDRAMIM, 1999; SCHMUTTERER, 1990; TAVARES; VENDRAMIM, 2005).

Atuam nos insetos por ingestão, contato e fumigação e podem ser utilizados como pós, extratos, óleos essenciais e óleos emulsionáveis. (ABRAMSON et al., 2006; ISMAN, 2006; RAJENDRAN; SRIRANJINI, 2008). São geralmente biodegradáveis, de baixa toxicidade para os vertebrados e podem apresentar seletividade para os inimigos naturais (COSME; CARVALHO; MOURA, 2007; SILVA; MARTINEZ, 2004; VIEIRA; MAFEZOLI; BIAVATTI, 2001). Seus efeitos nos insetos incluem mortalidade, reduções na fecundidade, fertilidade, no processo de crescimento, deterrência na alimentação, na oviposição e repelência (MARTINEZ, 2002; ROEL, 2001; ROEL et al., 2000).

Efeitos repelentes de inseticidas de origem vegetal têm sido evidenciados em diversas pragas. Solanum fastigiatum var. acicularium Dunal (jurubeba-do-sul) repeliu o pulgão Brevicoryne brassicae L. (LOVATTO; GOETZE; THOMÉ, 2004), e os óleos essenciais de Illicium verum L. (anis-estrelado) e Cymbopogon citratus (DC.) apresentaram efeito repelente/deterrente (LIMA et al., 2008). Os Óleos essenciais de Lippia origanoides H.B.K., Eucalyptus citriodora Hook. Tagetes lucida Cav. foram repelentes para Sitophilus zeamais Mots. (NERIO; OLIVERO-VERBEL; STASHENKO, 2009), bem como os de Laurus nobilis L., Citrus bergamia Risso, Foeniculum vulgare Mill. e Lavandula hybrida Rev. também repeliram adultos de S. zeamais, Cryptolestes ferrugineus (Stephens) e larvas de Tenebrio molitor L. (COSIMI et al., 2009). Nerio, Olivero-Verbel, Stashenko (2010) publicaram revisão recente sobre a atividade de repelência de óleos essenciais sobre insetos, destacando como os mais importantes, os componentes das plantas Cymbopogon spp., Ocimum spp. e Eucaliptus spp.

Devido à falta de segurança oferecida pelo DEET (N, N-dietil-meta-toluamida e N, N-dietil-3-metilbenzamida), principalmente para crianças, o mercado americano incorporou como repelentes de uso doméstico, os óleos vegetais de citronela, eucalipto e cedro como alternativa a esse produto (ISMAN, 2006).

Assim, visando testar uma tática alternativa de controle que possa ser aproveitada no manejo integrado de pragas do algodoeiro, principalmente em cultivos orgânicos e familiares, objetivou-se com este trabalho avaliar efeitos repelentes de óleos essenciais e azadiractina em fêmeas ápteras de Aphis gossypii Glover.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no Laboratório de Entomologia Agrícola do Departamento de Agronomia (DEPA) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), utilizando-se câmaras climatizadas com temperatura e umidade relativa, monitoradas e fotofase de 12 h.

Criação de Aphis gossypii.

Os insetos foram criados no laboratório de Entomologia Agrícola da UFRPE, segundo adaptação da metodologia descrita por Oliveira et al. (2010), sendo mantida em sala climatizada à temperatura de 27 ± 1 ºC, 70 ± 5% de umidade relativa e fotofase de 12 h.

Sementes de algodoeiro (Gossypium hirsutum L. Raça latifolium Hutch), cultivar CNPA 8H, foram semeadas em bandejas de isopor (272 x 280 mm e 64 células), contendo substrato Base Plant®, constituído de casca de Pinus, vermiculita, turfa, corretivos de acidez e aditivos, com teor de umidade entre 50 e 55%. Posteriormente, as bandejas foram colocadas dentro de bandejas plásticas, mantendo-se o nível de água adequado para a absorção pelas raízes das plantas, e também contribuir para a manutenção da umidade do ambiente de criação.

A criação foi iniciada com pulgões coletados em plantas de algodoeiro semeadas em áreas do DEPA. As plantas foram mantidas no interior de gaiolas de germinação e crescimento e de infestação, com as dimensões de 1,0 x 1,20 x 0,60 m, cobertas com tecido "voil". No interior das gaiolas foram instaladas lâmpadas florescentes "luz do dia" e "Grolux" para estimular o processo fotossintético. As bandejas foram colocadas sobre suportes de tubos de PVC, aproximadamente a 60 cm das lâmpadas. Potes com água e detergente foram mantidos na parte inferior das gaiolas para evitar a infestação de formigas. Os níveis de água das bandejas plásticas e potes foram constantemente observados e completados quando necessário.

As plantas permaneceram por, aproximadamente, 20 dias nas gaiolas de germinação e crescimento, e posteriormente, foram transferidas para as gaiolas de infestação, colocando-se folhas com pulgões sobre as mesmas. As colônias foram, periodicamente, observadas para prevenir a presença de parasitóides, predadores e de outros insetos indesejáveis. O processo de criação foi estabelecido, de modo a assegurar o suprimento adequado de plantas e de pulgões para a realização dos experimentos.

Repelência de inseticidas botânicos sobre A. gossypii

Os pulgões foram provenientes da criação estoque do Laboratório de Entomologia Agrícola da UFRPE. As sementes foram semeadas em vasos de 5,0 L com substrato Base Plant® e areia na proporção 1:1 e mantidos em casa-de-vegetação. Após, aproximadamente, 30 dias, discos de folha de 3,5 cm de diâmetro foram imersos durante 30 s em cada concentração dos inseticidas e na testemunha (água destilada) e secos por 30 min à temperatura ambiente. Em seguida, os discos foram colocados, dois a dois (tratado e testemunha) em placas petri de plástico, contendo solução ágar-água a 1%, separados por uma tira de papel ofício com dimensões de 1,3 x 2,0 cm, com tampas contendo abertura de 3,5 cm de diâmetro no centro, cobertas com tecido tipo "voil". No retângulo de papel foram colocadas fêmeas de A. gossypii de tamanho uniforme. As placas foram vedadas lateralmente com parafilme e mantidas em sala climatizada à temperatura de 24,9 ± 1,2 ºC, umidade relativa de 71,7 ± 2,8% e fotofase de 12 h. Decorridas 48 h foi registrado em cada disco, o número de fêmeas atraídas e de ninfas depositadas.

Os experimentos foram conduzidos no delineamento inteiramente casualizado com cinco repetições, constituídos por oito fêmeas ápteras para os óleos essenciais de Piper hispidinervum CDC, P. aduncum L., Cymbopogon winterianus (L.) e dez fêmeas para C. citratus (D.C.) Stapf, Foeniculum vulgare Mill, Chenopodium ambrosioides L., Syzygium aromaticum (L.) Merrill e Perry, Schinus terebinthifolius Raddi, Cinnamomum zeylanicum Blume e azadirachtina. Os óleos essências foram usados na concentração de 0,05% em água destilada e DMSO a 2%, e azadirachtina a 0,075% em água destilada. Os discos de folha do tratamento testemunha foram imersos em água destilada e DMSO a 2% (Tabela 1).

Os resultados referentes ao número de pulgões atraídos e número de ninfas produzidas foram analisados pelo teste não-paramétrico χ2 através do programa estatístico SAS, comparados pela probabilidade de erro de 5% (SAS INSTITUTE, 2001). O percentual médio de repelência foi calculado pela fórmula:

sendo: PR = percentual médio de repelência, NC = média de insetos na testemunha e NT = média de insetos no tratamento (OBENG-OFORI, 1995). O percentual de redução de ninfas foi calculado também pela equação 1, substituindo média de insetos por média de ninfas na testemunha e no tratamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Discos de folhas de algodoeiro tratadas com os óleos essenciais de C. citratus2 = 33,33, P* < 0, 001), C. winterianus2 = 6,97, P* = 0,01), P. aduncum2 =6,00, P* = 0,01), S. terebinthifolius2 = 11,40, P* < 0, 001), A. indica2 = 9,39, P* = 0,002) e S. zeylanicum2 = 61,12, P* = 0,01), atraíram um menor número de fêmeas ápteras de A. gossypii, em relação à testemunha, sendo, portanto, considerados repelentes. Os óleos de P. hispidinervum 2 = 0,03, Pns = 0,86) e de C. ambrosioides2 = 0,04, P*=0,84) não obtiveram resultados significativos de repelência, enquanto o óleo de F. vulgare2 = 3,66, P* = 0,05) atraiu um maior número de fêmeas do pulgão quando comparado com a testemunha (Figura 1).

De um modo geral, os óleos que apresentaram repelência, também, diminuíram a produção de ninfas (Figura 2), sendo os óleos de C. citratus (100%), C. winterianus (92,0%), C. zeylanicus (89,74%), S. terebinthifolius (87,5%) e azadirachtina (80,65%) os que apresentam maior percentual de redução (Tabela 2). Porém, ocorreu um aumento na produção de ninfas nos resultados obtidos para F. vulgare 2 = 5,87, P* = 0,02) e C. ambrosioides2 = 14,31, P* = 0,001) (Figura 2).

De acordo com Isman (2006), os óleos essenciais podem atuar de várias maneiras nos insetos, como por contato, ingestão, fumigação, atraentes, repelentes, deterrentes de alimentação e oviposição e nas enzimas digestivas e neurológicas.

O efeito repelente significativo de algumas plantas tem sido apontado como uma forma muito eficiente em evitar a infestação de pragas em áreas agrícolas, reduzindo a postura e injúrias, e consequentemente, as perdas na produtividade, com benefícios econômicos para os agricultores. Segundo Wäckers; Van Rijn e Bruin (2007), os compostos constitutivos de plantas, os voláteis de flores e os nectários extra-florais também podem exercer influência sobre a busca hospedeira, indicando a presença de recursos nutricionais importantes para o incremento da longevidade e do potencial reprodutivo de insetos.

Alguns estudos semelhantes aos desenvolvidos no presente trabalho constataram resultados positivos sobre repelência de inseticidas de origem vegetal em diferentes pragas.

Assim, Lima et al. (2008) constataram efeito repelente do óleo essencial de Illicium verum L. (0,05; 0,10 e 0,50%) e C. citratus (0,01; 0,050 e 0,10%) em B. brassicae. Lovatto, Goetze e Stashenko (2004), em experimentos de múltipla escolha com folhas de couve, observaram que Solanum fastigiatum var. acicularium Dunal e Solanun diflorum Vell repeliram B. brassicae nas concentrações de 2,5 e 5,0%. M. persicae foi repelido pelo extrato metanólico de Impatiens parviflora L, aplicado em folhas de tomate (PAVELA; VRCHOTOVÁ; BOZERA, 2009). O efeito repelente associado ao de deterrência alimentar de azadiractina, nos insetos-praga Schistocerca gregaria (Forskal) e Locusta migratoria (Linnaeus) (Orthoptera: Acrididae), Manduca sexta (L.) (Lepidoptera: Sphingidae) e Peridroma saucia (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) foi mencionado na revisão de Mordue e Blackwell (1993).

Segundo Brito et al. (2006), o inseticida botânico à base de nim, Neemseto®, nas concentrações de 0,25; 0,50 e 1,0% foi considerado repelente para adultos de Tetranychus urticae Koch, e o óleo de nim (Nim-I-Go®) na concentração de 1,5% repeliu Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (JUSTINIANO et al., 2009).

Os resultados obtidos no presente trabalho indicam que F. vulgare apresentou atratividade significativa e os óleos de C. citratus, P. aduncum, C. winterianus e azadirachtina foram repelentes e reduziram a produção de ninfas de A. gossypii, evidenciando que são promissores para utilização no manejo integrado desta praga, principalmente em cultivos orgânicos e familiares de algodoeiro. No entanto, estudos adicionais de casa-de-vegetação e campo devem ser conduzidos, visando avaliar os efeitos letais e subletais sobre os inimigos naturais dessa praga.

CONCLUSÕES

1. O óleo essencial de F. vulgare tem atratividade significativa para fêmeas ápteras de A. gossypii;

2. Os óleos de C. citratus, P. aduncum, C. winterianus e azadirachtina são repelentes e reduzem a produção de ninfas desse pulgão;

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq e FACEPE pela concessão de bolsa aos autores deste trabalho. A Solange Maria de França pelas sugestões nas análises estatísticas.

Recebido para publicação em 18/10/2010; aprovado em 03/03/2013



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  • *
    Autor correspondência
    1
    Capítulo de Tese do primeiro autor financiado por bolsa fornecida pela CAPES e CNPq ao mesmo
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Maio 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      18 Out 2010
    • Aceito
      03 Mar 2013
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