INTRODUÇÃO
O sistema de semeadura direta, sistema conservacionista de manejo do solo, que mantém os resíduos culturais em sua superfície, constitui uma importante técnica para a manutenção e recuperação da capacidade produtiva de solos manejados convencionalmente e de áreas degradadas (BERTIN; ANDRIOLI; CENTURION, 2005; CAIRES et al., 2006). No entanto a diminuição das operações agrícolas não é suficiente para evitar a compactação ou para minimizá-la (GONÇALVES et al., 2006).
O sucesso do sistema de semeadura direta depende da manutenção de cultivos capazes de gerar quantidades de matéria seca suficientes para manter o solo coberto durante todo o ano, o que significa que áreas destinadas às culturas de primavera-verão não devem permanecer em pousio durante o inverno, sendo necessário o uso de rotação de culturas, com a inclusão de plantas de cobertura (AMARAL; ANGHINONI; DESCHAMPS, 2004; ANDREOTTI et al., 2008; CERETTA et al., 2002b).
Porém, a formação e manutenção de cobertura morta é um dos principais entraves ao estabelecimento do sistema de semeadura direta nos trópicos, onde as altas temperaturas, associadas à umidade adequada, promovem a decomposição rápida dos resíduos vegetais, e a cobertura morta resultante dos restos culturais e de plantas daninhas, geralmente é insuficiente para a plena cobertura do solo (STONE et al., 2006).
O trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a produção de soja e milho sobre a palhada de cinco plantas de cobertura, utilizadas para produção de grãos, sementes e forragem, em diferentes gastos de sementes por hectare, e sobre a vegetação espontânea.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram instalados em março de 2008, no Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Seringueira e Sistemas Agroflorestais, Instituto Agronômico - IAC, estabelecido no município de Votuporanga, SP a 20º20' S de Latitude, 49º58' W de Longitude e 510 m de altitude, em um Latossolo Vermelho eutrófico de textura arenosa (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA , 2006), e na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão da UNESP, Campus de Ilha Solteira, localizada no município de Selvíria, MS, na Seção de Produção Vegetal, com coordenadas geográficas: Latitude 20º25'24'' S e Longitude 52º21'13''W, e altitude média de 335 m, em um Latossolo Vermelho distroférrico típico de textura argilosa (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 2006).
O solo foi preparado por meio de uma aração (arado de discos), em fevereiro de 2008, e duas gradagens (grade niveladora de discos), uma em fevereiro e outra no início de março, após a amostragem de solo para fins de fertilidade, na camada de 0-0,20 m, realizada nos dois locais de cultivo. Os resultados das análises de solo são os seguintes, para Votuporanga e Selvíria, respectivamente: P (resina): 28 e 8 mg dm-3; MO: 14 e 19 mg dm-3; pH (CaCl2): 5,2 e 4,2; K: 3,8 e 1,0 mmolc dm-3; Ca: 16 e 6 mmolc dm-3; Mg: 8 e 6 mmolc dm-3; H+Al: 16 e 47 mmolcdm-3; Al: 0 e 8 mmolc dm-3; S-SO4: 2 e 3 mg dm-3; V: 63 e 22%. Foi realizada calagem somente em Selvíria para elevação da saturação por bases a 70%, pois no ano seguinte seria introduzida a cultura do milho na área, utilizando-se 3.400 kg ha-1 de calcário dolomítico, com PRNT de 85%, incorporado com a segunda gradagem.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com quatro repetições, utilizandose cinco plantas de cobertura, com três diferentes quantidades de sementes por hectare de cada planta de cobertura e um tratamento controle com vegetação espontânea, totalizando dezesseis tratamentos, distribuídos ao acaso em parcelas de 2,7 m de largura por 10 m de comprimento cada.
Foram utilizadas as seguintes plantas de cobertura com os seguintes gastos de sementes: sorgo granífero (Sorghum bicolor (L.) Moench) cultivar DKB 550, com 85% de germinação: 6, 7 e 8 kg ha-1; milheto (Pennisetum americanum (L.) Leek) cultivar BN 2, com 60% de germinação: 10, 15 e 20 kg ha-1; capim sudão (Sorghum sudanense (Piper) Stapf) com valor cultural (VC) de 43,5%, sendo corrigido para 100%: 12; 15 e 18 kg ha-1; híbrido de S. bicolor com S. sudanense cultivar Cover Crop, com germinação de 74%, sendo acrescidos 10%: 8, 9 e 10 kg ha-1 e Urochloa ruziziensis (Syn. Brachiaria ruziziensis ) (cultivar comum), com VC de 50,7%, sendo acrescidos 10%: 8, 12 e 16 kg ha-1. Os diferentes gastos de sementes adotados foram baseados em recomendações dos detentores das sementes e de diferentes trabalhos da literatura.
Os espaçamentos entre linhas utilizados foram: S. bicolor: 0,45 m; P. americanum: 0,225 m; S. sudanense: 0,225 m; híbrido de S. bicolor com S. sudanense: 0,45 m e U. ruziziensis: 0,225 m.
O tratamento controle com vegetação espontânea era composto principalmente por Cenchrus echinatus L. e Digitaria horizontalisWilld, nos dois locais. As parcelas com o tratamento controle foram deixadas em pousio, após o preparo do solo, e após o cultivo da cultura da soja, no entanto receberam os mesmos tratos culturais das plantas de cobertura.
As plantas de cobertura foram semeadas em 24/03/2008 em Votuporanga, mecanicamente com semeadora de parcelas, e em 26/03/2008 em Selvíria, manualmente, abrindo-se sulcos de plantio com enxadas, distribuindo as sementes no sulco, e depois tampando o sulco com enxadas.
A semeadura das plantas de cobertura foi realizada após a adubação de semeadura, feita mecanicamente com semeadoras de grãos em toda a área, inclusive nas parcelas controle, utilizando-se o fertilizante formulado 08-28-16 nas doses de 170 e 315 kg ha-1, em Votuporanga e Selvíria, respectivamente.
A adubação de cobertura foi realizada manualmente a lanço, em toda a área, inclusive nas parcelas com o tratamento controle, utilizando-se sulfato de amônio, na dose de 185 kg ha-1, aos 15 dias após a semeadura e ureia, na dose de 170 kg ha-1, aos 30 dias após a semeadura, em Votuporanga, e ureia, na dose de 65 kg ha-1, e cloreto de potássio, na dose de 35 kg ha-1, aos 30 dias após a semeadura, em Selvíria. Por ser a planta de cobertura mais exigente, foi utilizada a cultura do S. bicolor como referência para as adubações, baseadas nas recomendações do Boletim Técnico 100 (RAIJ et al., 1997).
Foi realizado o corte das panículas do S. bicolor, do P. americanum e do S. sudanense, aos 115, 110 e 125 dias após a semeadura respectivamente, simulando-se a colheita de grãos e/ou sementes. O híbrido de S. bicolor com S. sudanense e a U. ruziziensis foram cortados a 0,20 m do solo e retirados da área, aos 95 e 145 dias após a semeadura, respectivamente, simulando-se ensilagem do híbrido e fenação da U. ruziziensis. No tratamento controle deixaram-se as plantas daninhas desenvolverem-se. No final do mês de agosto de 2008 todas as parcelas foram roçadas. No início de novembro realizou-se a primeira dessecação e vinte dias após realizou-se a segunda dessecação.
Após as dessecações foi semeada mecanicamente a cultura da soja, em sistema de semeadura direta, nos dias 28/11/2008 e 03/12/2008, em Selvíria e Votuporanga, respectivamente, utilizando-se a cultivar M-Soy 7908 RR, no espaçamento de 0,45 m com 14 sementes m-1, e 250 kg ha-1 e 350 kg ha-1 do adubo formulado 04-20-20, em Votuporanga e Selvíria, respectivamente, conforme Boletim Técnico 100 (RAIJ et al., 1997).
A colheita foi realizada nos dias 08/04/2009 e 16/04/2009, em Selvíria e Votuporanga, respectivamente.
No segundo ano de estudo, a semeadura das plantas de cobertura foi realizada nos dias 13/04/2009, em Selvíria e 18/05/2009 em Votuporanga, manualmente sobre a palhada de soja cultivada anteriormente, abrindo-se sulcos de plantio com enxadas, distribuindo-se as sementes no sulco, e depois tampando-se o sulco com enxadas.
As adubações foram novamente realizadas mecanicamente com semeadoras de grãos em todas as parcelas, utilizando-se o fertilizante formulado 08-28-16 nas doses de 300 kg ha-1 e 275 kg ha-1 em Votuporanga e Selvíria, respectivamente.
O manejo das plantas de cobertura e do tratamento controle foi o mesmo do ano anterior. As plantas de cobertura foram roçadas no final do mês de julho de 2009, em Selvíria e em setembro, em Votuporanga.
Em Votupora. As plantas de cobertura foram roçadas no final do mês de julho de 2009, em Selvíria e eegunda em 14/12/2009, e em Selvíria, foi realizada a primeira dessecação em 04/11/2009 e a segunda em 25/11/2009.
Em Votuporanga, após as dessecações, foi realizada a semeadura do milho, em sistema de semeadura direta, em 14/12/2009, utilizando-se o híbrido DKB 350, com 5,1 sementes m-1, no espaçamento de 0,8 m. Na adubação de semeadura, utilizou-se 300 kg ha-1 do adubo formulado 08-20-20. As adubações de cobertura foram realizadas em 30/12/2009 e em 11/01/2010, utilizando-se sulfato de amônio, na dose de 250 kg ha-1.
Em Selvíria, após as dessecações, foi realizada a semeadura do milho em 25/11/2009, utilizando-se o híbrido DKB 350, com 6,0 sementes m-1, no espaçamento de 0,8 m. Na adubação de semeadura, utilizou-se 320 kg ha-1 do adubo formulado 08-28-16. As adubações de cobertura foram realizadas em 15/12/2009, utilizando-se 300 kg ha-1 do adubo formulado 20-00-20, e em 22/12/2009, utilizandose 175 kg ha-1 de sulfato de amônio.
As adubações de semeadura e de cobertura da cultura do milho foram realizadas conforme Boletim Técnico 100 (RAIJ et al., 1997).
Foram realizados todos os tratamentos fitossanitários necessários para o desenvolvimento adequado das culturas da soja e do milho.
As avaliações de fitomassa das coberturas foram realizadas no momento da colheita de grãos (S. bicolor), da colheita de sementes (P. americanum e S. sudanense) e do corte (híbrido e U. ruziziensis), e antes da roçada no tratamento controle, nos dois anos de estudo, na pré-semeadura da soja, em 28/10/2008 e 06/11/2008, em Selvíria e Votuporanga, respectivamente, e na présemeadura do milho, em 04/11/2009 e 16/11/2009, em Selvíria e Votuporanga, respectivamente, retirando-se duas amostras de 0,5 x 0,5 m por parcela da parte aérea das plantas de cobertura e do tratamento controle, as quais foram acondicionadas em sacos de papel e levadas para secagem em estufa de ventilação forçada regulada a 65-70 ºC por 72 horas.
Na cultura da soja a altura de plantas e a altura de inserção da primeira vagem, foram avaliadas em dez plantas das duas linhas centrais de cada parcela. O estande final m-1, a quantidade total de vagens planta-1, incluindo vagens com grãos chochos, a massa de cem grãos e a produtividade de grãos, foram avaliados em três metros das duas linhas centrais de cada parcela. As avaliações foram realizadas no momento da colheita, realizada nos dias 08/04/2009 e 16/04/2009, em Selvíria e Votuporanga, respectivamente.
Na cultura do milho avaliou-se o estande final de plantas, altura de inserção da primeira espiga, altura de plantas, número de espigas ha-1, massa de cem grãos e produtividade de grãos, em 3,0 m das duas linhas centrais de cada parcela, no momento da colheita do milho, realizada no dia 15/04/2010 em Selvíria e no dia 26/04/2010 em Votuporanga.
Os dados foram submetidos ao teste F e realizado o teste de Tukey (p<0,05), para comparação das médias, com o uso do programa computacional ESTAT, desenvolvido pelo Departamento de Ciências Exatas da FCAV/UNESP/Jaboticabal (SISTEMAPARAANÁLISES ESTATÍSTICAS, 1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta os quadrados médios das características agronômicas das culturas da soja e do milho e a significância do teste F a 1 e 5% de probabilidade.
Tabela 1 Resumo da análise de variância das características agronômicas das culturas da soja e do milho sobre diferentes coberturas em Votuporanga, SP e Selvíria, MS
F.V. | G.L. | QUADRADO MÉDIO | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
AIV | AP | EF | NV | MC | PR | ||
---------------------------------------------------------- Soja - Votuporanga ----------------------------------------------------------- | |||||||
B | 3 | 0,0003ns | 0,0056ns | 0,4174ns | 875,56ns | 0,6790ns | 861.301,18* |
C | 15 | 0,0008ns | 0,0043ns | 1,0026ns | 513,32ns | 1,4059ns | 576.075,49* |
R | 45 | 0,0016 | 0,0029 | 1,1926 | 536,5 | 1,7982 | 290.252,19 |
CV | 29,09 | 11,19 | 12,46 | 26,08 | 7,30 | 12,88 | |
------------------------------------------------------------- Soja - Selvíria -------------------------------------------------------------- | |||||||
B | 3 | 0,0004ns | 0,0119ns | 0,2212ns | 165,43ns | 1,3215ns | 595.989,06ns |
C | 15 | 0,0033** | 0,0097ns | 1,5484ns | 931,92* | 0,9291ns | 325.771,36ns |
R | 45 | 0,0007 | 0,0083 | 2,5264 | 489,65 | 1,0422 | 229.574,60 |
CV | 13,74 | 11,96 | 19,17 | 27,86 | 6,34 | 18,19 | |
AIE | AP | EF | NE | MC | PR | ||
--------------------------------------------------------- Milho - Votuporanga ---------------------------------------------------------- | |||||||
B | 3 | 0,0072ns | 0,0317ns | 19.309.077,06ns | 72.151.545,29ns | 2,1546ns | 5.142.142,79ns |
C | 15 | 0,0124** | 0,0645** | 13.141.176,58ns | 42.273.216,48ns | 6,6499** | 6.658.808,72* |
R | 45 | 0,0042 | 0,0201 | 12.319.790,01 | 39.060.502,01 | 2,4918 | 2.872.524,59 |
CV | 6,50 | 7,69 | 6,75 | 13,77 | 6,00 | 31,36 | |
------------------------------------------------------------ Milho - Selvíria ------------------------------------------------------------- | |||||||
B | 3 | 0,0341** | 0,0394** | 18.217.570,77ns | 6.742.883,33ns | 5,0961ns | 5.818.517,17** |
C | 15 | 0,0060ns | 0,0078** | 32.952.298,72* | 27.173.828,8* | 1,4993ns | 1.336.218,98ns |
R | 45 | 0,0059 | 0,0069 | 17.043.416,48 | 13.976.107,58 | 2,4349 | 1.006.288,61 |
CV | 7,28 | 3,98 | 6,12 | 5,68 | 6,39 | 15,98 |
FV - Fontes de variação; B - Bloco; C - Coberturas; R - Resíduo; CV - Coeficiente de variação (%); G.L. - Graus de liberdade; AIV - Altura de inserção da primeira vagem (m); AIE - Altura de inserção da primeira espiga; AP - Altura de plantas (m); EF - Estande final m-1; NV -Número de vagens planta-1; NE - Número de espigas ha-1; MC - Massa de cem grãos (g); PR - Produtividade (kg ha-1);
nsnão significativo;
*significativo a 5% pelo teste F;
**significativo a 1% pelo teste F
Na Tabela 2 constam as produtividades acumuladas de matéria seca das diferentes coberturas, obtidas no momento do corte/colheita das coberturas e na pré-semeadura da cultura da soja e do milho.
Tabela 2 Matéria seca acumulada da parte aérea das plantas de cobertura e do tratamento controle no momento do corte/colheita, em Votuporanga, SP e Selvíria, MS, em 2008 e 2009
Coberturas | Gasto de sementes (kg ha-1) | Votuporanga | Selvíria | Votuporanga | Selvíria |
---|---|---|---|---|---|
2008 | 2009 | ||||
Mg ha-1 | |||||
S. bicolor | 6 | 17,5 | 14,3 | 10,5 | 22,7 |
S. bicolor | 7 | 20,0 | 16,0 | 9,5 | 21,7 |
S. bicolor | 8 | 19,8 | 14,9 | 10,4 | 21,6 |
P. americanum | 10 | 10,3 | 9,0 | 8,3 | 11,6 |
P. americanum | 15 | 9,8 | 9,5 | 9,1 | 12,4 |
P. americanum | 20 | 11,0 | 8,3 | 9,0 | 11,6 |
S. sudanense | 12 | 19,5 | 14,6 | 22,2 | 21,7 |
S. sudanense | 15 | 18,3 | 14,3 | 21,5 | 30,3 |
S. sudanense | 18 | 19,1 | 15,5 | 22,0 | 28,2 |
Híbrido | 8 | 26,1 | 16,3 | 17,4 | 28,3 |
Híbrido | 9 | 31,4 | 14,2 | 14,2 | 30,4 |
Híbrido | 10 | 28,5 | 16,6 | 14,5 | 27,8 |
U. ruziziensis | 8 | 15,5 | 16,8 | 10,9 | 22,9 |
U. ruziziensis | 12 | 15,7 | 17,0 | 12,0 | 24,6 |
U. ruziziensis | 16 | 14,9 | 14,9 | 11,6 | 23,7 |
Controle | - | 6,1 | 6,8 | 5,0 | 6,9 |
A adubação realizada em todas as parcelas propiciou um bom desenvolvimento de todas as coberturas, inclusive do tratamento controle, que acumulou quantidades superiores a 5,0 Mg ha-1 de matéria seca, sendo maior que a constatada por Torres et al. (2005), o que pode ter favorecido o desenvolvimento da cultura da soja, pois o tratamento controle não diferiu das demais coberturas, em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, em relação a altura de plantas, estande final m-1, número de vagens planta-1, massa de cem grãos e produtividade de grãos da cultura da soja, em nenhum dos dois locais, conforme Tabelas 3 e 4.
Tabela 3 Valores médios das características agronômicas da cultura da soja sobre diferentes coberturas, Votuporanga, SP, 2009
Coberturas | Gasto de sementes | Altura de | Altura de | Estande | Número de | Massa de cem | Produtividade |
---|---|---|---|---|---|---|---|
(kg ha-1) | inserção (m) | plantas (m) | final m-1 | vagens | grãos (g) | (kg ha-1) | |
S. bicolor | 6 | 0,16 | 0,49 | 8,50 | 105,00 | 18,63 | 4.147 ab |
S. bicolor | 7 | 0,15 | 0,53 | 9,38 | 81,75 | 18,41 | 4.219 ab |
S. bicolor | 8 | 0,11 | 0,47 | 8,46 | 105,50 | 17,48 | 4.097 ab |
P. americanum | 10 | 0,14 | 0,47 | 9,21 | 97,25 | 18,72 | 4.613 ab |
P. americanum | 15 | 0,12 | 0,46 | 8,63 | 91,00 | 19,76 | 4.639 ab |
P. americanum | 20 | 0,16 | 0,52 | 8,21 | 91,50 | 18,55 | 4.218 ab |
S. sudanense | 12 | 0,13 | 0,48 | 9,00 | 90,75 | 18,46 | 3.974 ab |
S. sudanense | 15 | 0,13 | 0,43 | 9,13 | 75,25 | 18,66 | 3.841 ab |
S. sudanense | 18 | 0,14 | 0,50 | 9,04 | 67,00 | 17,43 | 3.274 b |
Híbrido | 8 | 0,12 | 0,46 | 7,96 | 86,00 | 17,82 | 3.800 ab |
Híbrido | 9 | 0,14 | 0,46 | 8,88 | 82,25 | 17,82 | 3.987 ab |
Híbrido | 10 | 0,13 | 0,44 | 8,17 | 92,75 | 19,01 | 4.115 ab |
U. ruziziensis | 8 | 0,14 | 0,51 | 8,92 | 72,50 | 18,70 | 4.396 ab |
U. ruziziensis | 12 | 0,13 | 0,47 | 8,67 | 85,25 | 18,00 | 4.721 a |
U. ruziziensis | 16 | 0,12 | 0,49 | 9,84 | 103,50 | 18,04 | 4.679 a |
Controle | - | 0,15 | 0,55 | 8,28 | 94,00 | 18,30 | 4.194 ab |
DMS | 10,11 | 13,86 | 2,80 | 59,37 | 3,44 | 1.381 | |
CV (%) | 29,09 | 11,19 | 12,46 | 26,08 | 7,30 | 12,88 |
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%
Tabela 4 Valores médios das características agronômicas da cultura da soja sobre diferentes coberturas, Selvíria, MS, 2009
Coberturas | * | Altura de | Altura de | Estande | Número de | Massa de cem | Produtividade |
---|---|---|---|---|---|---|---|
inserção (m) | plantas (m) | final m-1 | vagens | grãos (g) | (kg ha-1) | ||
S. bicolor | 6 | 0,14 d | 0,71 | 8,46 | 102,50 | 16,47 | 3.347 |
S. bicolor | 7 | 0,18 bcd | 0,73 | 8,33 | 73,00 | 16,91 | 2.420 |
S. bicolor | 8 | 0,19 abcd | 0,75 | 7,63 | 83,25 | 15,67 | 2.289 |
P. americanum | 10 | 0,17 bcd | 0,82 | 9,00 | 83,75 | 16,60 | 2.396 |
P. americanum | 15 | 0,18 bcd | 0,71 | 6,58 | 64,25 | 15,81 | 2.474 |
P. americanum | 20 | 0,16 cd | 0,72 | 9,17 | 74,25 | 16,55 | 2.686 |
S. sudanense | 12 | 0,19 abcd | 0,78 | 8,46 | 78,00 | 16,33 | 2.853 |
S. sudanense | 15 | 0,22 abc | 0,73 | 8,08 | 69,75 | 16,40 | 2.787 |
S. sudanense | 18 | 0,20 abcd | 0,74 | 8,50 | 69,75 | 15,57 | 2.511 |
Híbrido | 8 | 0,17 bcd | 0,68 | 8,79 | 91,50 | 15,74 | 2.854 |
Híbrido | 9 | 0,20 abcd | 0,78 | 7,50 | 93,25 | 16,44 | 2.424 |
Híbrido | 10 | 0,16 cd | 0,76 | 8,38 | 106,75 | 15,74 | 2.827 |
U. ruziziensis | 8 | 0,21abc | 0,83 | 8,54 | 67,50 | 15,96 | 2.941 |
U. ruziziensis | 12 | 0,25 a | 0,82 | 8,34 | 67,50 | 16,30 | 2.266 |
U. ruziziensis | 16 | 0,24 ab | 0,85 | 8,34 | 50,50 | 15,92 | 2.537 |
Controle | - | 0,17 bcd | 0,78 | 8,58 | 95,00 | 15,06 | 2.545 |
DMS | 6,67 | 23,36 | 4,07 | 56,72 | 2,62 | 1.228 | |
CV (%) | 13,74 | 11,96 | 19,17 | 27,86 | 6,34 | 18,19 |
Médias seguidas de mesma letra na ncolunaão diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%,
*Gasto de sementes (kg ha-1)
Em Votuporanga, os diferentes gastos de sementes das diferentes coberturas e o tratamento controle, propiciaram diferenças significativas, em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, em relação à produtividade de grãos da cultura da soja, com os gastos de sementes de 12 e 18 kg ha-1 da U. ruziziensis apresentando as maiores produtividades, superior a 4.650 kg ha-1, e diferindo do gasto de sementes de 18 kg ha-1 do S. sudanense, que apresentou a menor produtividade, 3.274 kg ha-1. No entanto, esta produtividade foi superior à média nacional da safra 2008/09, que foi de 2.629 kg ha-1 (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO, 2012), sendo que a produtividade de grãos da U. ruziziensis e do P. americanum, nos três diferentes gastos de sementes, e do tratamento controle foi superior à encontrada por Pacheco et al. (2011), na mesma safra, em Rio Verde, GO.
Em relação à altura de inserção da primeira vagem, altura de plantas, estande final m-1, número de vagens e massa de cem grãos da cultura da soja, os diferentes gastos de sementes das diferentes coberturas e o tratamento padrão, não propiciaram diferenças significativas, em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, no entanto, os valores da massa de cem grãos foram superiores aos encontrados por Nunes et al. (2010), na safra 2005/06 em Jaboticabal, SP, sobre Urochloa decumbens e Urochloa brizantha.
Em Selvíria, MS, os diferentes gastos de sementes das diferentes coberturas e o tratamento padrão, propiciaram diferenças significativas, em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, em relação à altura de inserção da primeira vagem da cultura da soja, sendo que os três diferentes gastos de sementes da U. ruziziensis e o gasto de sementes de 15 kg ha-1 do S. sudanense, apresentaram as maiores alturas de inserção, e diferiram do gasto de sementes de 6 kg ha-1 do S. bicolor . Já em relação à altura de plantas, estande final m-1, número de vagens planta-1, massa de cem grãos e produtividade de grãos da cultura da soja, os diferentes gastos de sementes das diferentes coberturas e o tratamento controle, não propiciaram diferenças significativas, em nível de 5 % de probabilidade pelo teste de Tukey, corroborando com Carvalho et al . (2004) que também não constataram diferenças significativas na massa de cem grãos da cultura da soja. Por outro lado, Muraishi et al . (2005) verificaram diferenças com relação a altura de plantas e massa de mil grãos da cultura da soja.
Em relação à cultura do milho, em Votuporanga, os diferentes gastos de sementes das diferentes coberturas e o tratamento controle não diferiram entre si, em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, em relação ao estande final ha-1, número de espigas ha-1, e massa de cem grãos, mas apresentaram diferenças significativas em relação à altura de inserção da primeira espiga, altura de plantas e produtividade de grãos, sendo que o gasto de sementes de 10 kg ha-1 do P. americanum propiciou a maior altura de inserção e altura de plantas e o gasto de sementes de 9 kg ha-1 do híbrido de S. bicolor com S. sudanense as menores alturas de inserção e de planta, conforme Tabela 5.
Tabela 5 Valores médios das características agronômicas da cultura do milho, sobre diferentes coberturas, Votuporanga, SP, 2010
Coberturas | * | Altura de | Altura de | Estande | Número de | Massa de cem | Produtividade |
---|---|---|---|---|---|---|---|
inserção (m) | plantas (m) | final ha-1 | espigas | grãos (g) | (kg ha-1) | ||
S. bicolor | 6 | 1,00 abc | 1,82 abc | 52.500 | 43.750 | 25,13 | 4.806 ab |
S. bicolor | 7 | 0,98 abc | 1,80 abc | 52.083 | 43.333 | 25,53 | 4.861 ab |
S. bicolor | 8 | 1,05 abc | 1,90 abc | 53.333 | 52.083 | 25,29 | 5.532 ab |
P americanum | 10 | 1,11 a | 2,07 a | 52.917 | 50.000 | 28,76 | 7.758 a |
P americanum | 15 | 1,08 ab | 2,00 ab | 51.667 | 45.000 | 27,56 | 7.131 ab |
P. americanum | 20 | 1,04 abc | 1,99 abc | 47.500 | 43.750 | 28,21 | 6.307 ab |
S. sudanense | 12 | 0,99 abc | 1,80 abc | 52.084 | 41.667 | 26,34 | 4.839 ab |
S. sudanense | 15 | 1,00 abc | 1,78 abc | 54.583 | 45.417 | 25,72 | 4.016 ab |
S. sudanense | 18 | 0,97 abc | 1,74 abc | 52.084 | 41.250 | 24,95 | 3.392 b |
Híbrido | 8 | 0,99 abc | 1,84 abc | 50.833 | 45.417 | 25,72 | 5.148 ab |
Híbrido | 9 | 0,92 c | 1,63 c | 52.084 | 45.417 | 24,91 | 4.086 ab |
Híbrido | 10 | 1,06 abc | 1,91 abc | 55.417 | 49.583 | 27,14 | 5.997 ab |
U. ruziziensis | 8 | 0,99 abc | 1,78 abc | 51.250 | 43.333 | 26,96 | 5.490 ab |
U. ruziziensis | 12 | 0,92 bc | 1,75 abc | 52.917 | 45.000 | 25,50 | 4.745 ab |
U. ruziziensis | 16 | 0,94 bc | 1,71 bc | 50.000 | 41.667 | 25,13 | 4.629 ab |
Controle | - | 1,05 abc | 2,03 ab | 51.042 | 49.375 | 28,06 | 7.743 a |
DMS | 0,17 | 0,36 | 8.997 | 16.020 | 4,05 | 4.344 | |
CV (%) | 6,50 | 7,69 | 6,75 | 13,77 | 6,00 | 31,36 |
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%,
*Gasto de sementes (kg ha-1)
A maior altura de inserção e de plantas proporcionada pelo gasto de sementes de 10 kg ha-1 do P. americanum refletiu em maior produtividade de grãos, pois o gasto de sementes de 10 kg ha-1 do P. americanum, juntamente com o tratamento padrão, apresentaram as maiores produtividades de grãos e diferiram do gasto de sementes de 18 kg ha-1 do S. sudanense, o que não foi observado por Guimarães et al. (2006) que verificaram piores desempenhos, em relação a produtividade de grãos da cultura do milho, nas parcelas sobre Urochloa decumbens e sobre pousio.
A menor produtividade de grãos da cultura do milho sobre a palhada do S. sudanense, com o gasto de sementes de 18 kg ha-1, pode estar relacionada com a elevada quantidade de matéria seca acumulada pelo S. sudanense, conforme Tabela 2, o que pode ter diminuído os teores de nitrogênio do solo, devido a sua utilização por microorganismos na decomposição da palha. Segundo Ros e Aita (1996), para utilizar o C na biossíntese e também como fonte de energia, os microrganismos do solo imobilizam o N da palha, inclusive parte do N mineral do solo, diminuindo a sua disponibilidade para o milho.
Esta redução no teor de nitrogênio do solo também pode ter influenciado a menor produtividade de grãos da cultura da soja, com o gasto de sementes de 18 kg ha-1 do S. sudanense, em Votuporanga, conforme Tabelas 3, pois apesar da cultura da soja realizar a fixação biológica do nitrogênio, através da simbiose com as bactérias do gênero Bradyrhizobium, o nitrogênio é o nutriente requerido e exportado em maior quantidade pela cultura da soja, com valores próximos a 51 kg ha-1 de N por tonelada de grãos (EMPRESA BRASILEIRADE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 2005).
Em Selvíria, os diferentes gastos de sementes das diferentes coberturas e o tratamento padrão, propiciaram diferenças significativas, em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, em relação ao número de espigas, conforme Tabela 6, sendo que o S. sudanense com o gasto de sementes de 12 kg ha-1 propiciou o maior número de espigas e diferiu da U. ruziziensis com o gasto de sementes de 12 kg ha-1. No entanto a maior quantidade de espigas não refletiu em produtividade, pois não houve diferenças significativas, em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, em relação à produtividade de grãos, e também em relação ao estande final, altura de inserção da primeira espiga, altura de plantas e massa de cem grãos, corroborando com Camargo e Piza (2007) que verificaram que não houve diferença significativa em relação à produtividade de grãos em comparação com a testemunha. Por outro lado, todas as coberturas propiciaram produtividades de grãos superiores à média nacional da safra 2009/10, que foi de 4.412 kg ha-1 (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO, 2012).
Tabela 6 Valores médios das variáveis agronômicas da cultura do milho, sobre diferentes coberturas, Selvíria, MS, 2010
Coberturas | * | Altura de | Altura de | Estande | Número de | Massa de | Produtividade |
---|---|---|---|---|---|---|---|
inserção (m) | plantas (m) | final ha-1 | espigas ha-1 | cem grãos (g) | (kg ha-1) | ||
S. bicolor | 6 | 1,10 | 2,13 | 64.167 | 62.500 ab | 24,42 | 6.704 |
S. bicolor | 7 | 1,06 | 2,04 | 70.000 | 65.417 ab | 24,06 | 6.668 |
S. bicolor | 8 | 1,05 | 2,09 | 66.250 | 63.334 ab | 25,44 | 5.745 |
P. americanum | 10 | 1,04 | 2,13 | 66.250 | 66.250 ab | 25,39 | 6.965 |
P. americanum | 15 | 1,07 | 2,11 | 65.417 | 66.667 ab | 23,94 | 6.099 |
P. americanum | 20 | 1,08 | 2,09 | 71.250 | 67.500 ab | 23,90 | 5.364 |
S. sudanense | 12 | 1,06 | 2,12 | 71,250 | 71.250 a | 24,41 | 6.894 |
S. sudanense | 15 | 1,03 | 2,02 | 67.917 | 66.667 ab | 24,56 | 6.676 |
S. sudanense | 18 | 0,95 | 2,08 | 70.834 | 69.167 ab | 24,67 | 6.973 |
Híbrido | 8 | 1,02 | 2,02 | 67.083 | 65.000 ab | 23,98 | 5.678 |
Híbrido | 9 | 1,08 | 2,04 | 70.000 | 65.834 ab | 22,95 | 5.063 |
Híbrido | 10 | 1,00 | 2,04 | 67.500 | 67.500 ab | 24,44 | 6.048 |
U. ruziziensis | 8 | 1,10 | 2,16 | 65.000 | 63.333 ab | 24,47 | 6.340 |
U. ruziziensis | 12 | 1,08 | 2,12 | 62.083 | 61.667 b | 24,13 | 6.519 |
U. ruziziensis | 16 | 1,07 | 2,13 | 64.167 | 63.333 ab | 24,98 | 6.173 |
Controle | - | 1,05 | 2,11 | 70.000 | 68.334 ab | 24,82 | 6.546 |
DMS | 0,20 | 0,21 | 10.582 | 9.583 | 4,00 | 2.571 | |
CV (%) | 7,28 | 3,98 | 6,12 | 5,68 | 6,39 | 15,98 |
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%,
*Gasto de sementes (kg ha-1)
CONCLUSÕES
As diferentes coberturas mostraram-se como boas opções de plantas de cobertura antecessoras à cultura da soja em Votuporanga, SP e a cultura do milho em Selvíria, MS;
Os diferentes gastos de sementes utilizados para cada planta de cobertura propiciaram diferenças em relação às características agronômicas das culturas da soja e do milho.