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APLICATIVO INVESTISUS: UMA ABORDAGEM QUALITATIVA SOBRE MOBILE GOVERNMENT

INVESTISUS APP: A QUALITATIVE APPROACH TO MOBILE GOVERNMENT

RESUMO

O desenvolvimento das tecnologias móveis tem contribuído para a transformação da maneira como os governos entregam seus serviços e, como consequência, o governo móvel ou mobile government impacta a forma como os cidadãos se relacionam com os serviços públicos. Dentro desta perspectiva, este artigo propõe, por meio de uma abordagem qualitativa multi-método, identificar e analisar aspectos de mobile government no desenvolvimento e implantação do aplicativo InvestSUS, no contexto do Ministério da Saúde brasileiro. Com isso, vislumbra-se contribuir com o campo de pesquisa sobre mobile government em países em desenvolvimento. Para tanto, foi realizada uma triangulação de técnicas qualitativas na coleta e análise de dados, que resultou na construção de um framework para análise da implementação de ferramentas de mobile government no setor público. Foram identificadas 19 variáveis relacionadas ao framework proposto, bem como 5 novas variáveis, tais como: transparência da informação pública, controle social, usabilidade, equipe multidisciplinar e facilidade de acesso. Os resultados deste estudo, portanto, refletem uma oportunidade para compreensão do fenômeno de mobile government no contexto do setor de saúde pública.

Palavras-chave:
Mobile government; Serviço Público de Saúde; Financiamento em Saúde; Aplicativo

ABSTRACT

The development of mobile technologies has contributed to the transformation of the way governments deliver their services and, as a consequence, mobile government impacts the way citizens relate to public services. In this sense, we propose, through a qualitative multi-method approach, to identify and analyze aspects of mobile government in the development and implementation of the InvestSUS application, in the context of the Brazilian Ministry of Health. In doing so, it aims to contribute to the field of research on mobile government in developing countries. To this end, a triangulation of qualitative techniques was carried out in data collection and analysis, which resulted in the construction of a framework for analyzing the implementation of mobile government tools in the public sector. We identified 19 variables related to the proposed framework, as well as 5 new variables, such as: transparency of public information, social control, usability, multidisciplinary team, and ease of access. The results of this study, therefore, reflect an opportunity to understand the phenomenon of mobile government in the context of the public health sector.

Keywords:
Mobile government; Public Health Service; Health Financing; Application, Developing Countries

INTRODUÇÃO

A disseminação de dispositivos móveis na economia provocou o crescimento do acesso a serviços pela utilização da tecnologia mobile (Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
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; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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). Esta alta adoção de dispositivos habilitados para Internet já excedeu o uso de computadores pessoais em muitos países, e até 2020, esse número ultrapassará o número de assinaturas ativas de linhas fixas em todo o mundo (Abu-Shana & Haider, 2015Abu-Shana, E., & Haider, S. (2015). Major factors influencing the adoption of m-government in Jordan. Electronic Government, An International Journal, 11(4), 223-240 https://dx.doi.org/10.1504/EG.2015.071394
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). Estes usuários interagem com seus dispositivos por uma variedade de razões diferentes (Kim et al., 2013Kim, Y., Kim, D. J., & Wachter, K. (2013). A study of mobile user engagement (MoEN): Engagement motivations, perceived value, satisfaction, and continued engagement intention. Decision Support Systems, 56, 361-370. https://doi.org/10.1016/j.dss.2013.07.002
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; Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
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), dentre elas, para se comunicar com o governo (Kanaan, Abumatar & Hussein, 2019Kanaan, R. K. K., Abumatar, G., Al-Lozi, M., & Hussein, A. M. A. (2019). Implementation of M-government: Leveraging Mobile Technology to Streamline the E-governance Framework. Journal of Social Sciences, 8(3), 495-808. https://doi.org/10.25255/jss.2019.8.3.495.508
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).

Na esfera pública, portanto, a oferta de serviços a partir da utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) evoluiu e formou uma base para o que nos anos recentes se tornou conhecido como governo digital, provocando o aumento maciço da penetração móvel no ambiente de governo, bem como o fortalecimento da conectividade deste com a população (UN, 2010UN (United Nations). (2010). Leveraging E-Government at a Time of Financial and Economic Crisis. E-Government Survey. https://www.researchgate.net/publication/318929939_Leveraging_E-government_in_Times_of_Financial_and_Economic_Crisis
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; Criado & Gil-Garcia, 2019Criado, J. I., & Gil-Garcia, J. R. (2019). Creating public value through smart technologies and strategies From digital services to artificial intelligence and beyond. International Journal of Public Sector Management, 32(5), 438-450. https://doi.org/10.1108/IJPSM-07-2019-0178
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).

Estas tecnologias móveis abriram caminho para os governos fornecerem informações rápidas, pontuais e serviços transacionais para os cidadãos (Kushchu & Kuscu, 2003Kushchu, I., & Kuscu, H. (2003). From e-government to m-government: facing the inevitable. In: 3rd European Conference on e-Government, MCIL Trinity College Dublin Ireland. https://www.researchgate.net/publication/228606962_From_E-government_to_M-government_Facing_the_Inevitable
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; Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
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). Com isso, as pessoas passaram a acessar serviços públicos por meio de dispositivos móveis e a este novo modelo de prestação e utilização de serviços públicos se denomina governo móvel, e suas traduções: mobile government, m-government ou simplesmente m-gov (Kushchu & Kuscu, 2003Kushchu, I., & Kuscu, H. (2003). From e-government to m-government: facing the inevitable. In: 3rd European Conference on e-Government, MCIL Trinity College Dublin Ireland. https://www.researchgate.net/publication/228606962_From_E-government_to_M-government_Facing_the_Inevitable
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; OECD, 2011OECD. (2011). M-Government: Mobile Technologies for Responsive Governments and Connected Societies. OECD Publishing. https://doi.org/10.1787/9789264118706-en
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; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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; Rana et al., 2019Rana, N., P., Janssen, M., Sahu, G., P., Baabdullah, A., & Dwivedi, Y. K. (2019). Citizens’ Perception about M-Government Services: Results from an Exploratory Survey. Proceedings of the 52nd Hawaii International Conference on System Sciences, 3356-3365. https://scholarspace.manoa.hawaii.edu/handle/10125/59771
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).

A partir do mobile government, é possível entregar serviços para o cidadão a qualquer hora e em qualquer lugar, o que significa dar mobilidade para os serviços na forma digital. Estes representam um importante benefício para os países em desenvolvimento, pois ao adotar tecnologias de Internet sem fio, contornam as infraestruturas pesadas necessárias para acessar essa Internet regularmente, economizando tempo e custos (Zmijewsk, Elaine & Seele, 2004).

No contexto brasileiro, o governo tem utilizado as plataformas de mobile government para fornecer melhor e maior variedade de serviços para os cidadãos, bem como melhorar a qualidade e eficácia da gestão pública, buscando desenvolver aplicações tecnológicas, a fim de expandir as práticas democráticas do governo (Araujo, Reinhard & Cunha, 2017Araujo, M. H., Reinhard, N., & Cunha, M. A. (2017). Electronic government services in Brazil: an analysis based on measures of access and users’ internet skills. Brazilian Journal of Public dministration, 52(4), 676-694. https://doi.org/10.1590/0034-7612171925.
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).

Dentro dessa perspectiva, o Ministério da Saúde (MS) desenvolveu o aplicativo mobile InvestSUS, o qual foi originalmente concebido para fornecer e acompanhar as informações relativas aos recursos orçamentários e financeiros transferidos aos Estados e Municípios para financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do Fundo Nacional de Saúde (FNS). O objetivo principal desta inovação é facilitar o acompanhamento dos valores repassados pelos gestores estaduais e municipais, informações sobre propostas e saldo de contas em seus smartphones.

Assim, diante da necessidade de compreensão do fenômeno mobile no contexto do setor público e vislumbrando a oportunidade de contribuir com o campo de pesquisa sobre a implementação de ferramentas de mobile government em países em desenvolvimento (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
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; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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), este trabalho fundamentou-se na seguinte pergunta de pesquisa: que aspectos estão relacionados a implantação de aplicativo mobile no contexto do setor público brasileiro? Para responder esta pergunta, o objetivo desse artigo consiste em identificar e analisar aspectos relacionados a implantação do aplicativo InvestSUS.

Este artigo está organizado em quatro seções além desta introdução: primeiramente apresenta-se o referencial teórico sobre mobile government; em seguida os métodos de coleta, triangulação e análise de dados; logo após, a sessão de apresentação e discussão dos resultados encontrados; e, por fim, as considerações finais sobre da pesquisa, seguidas das referências bibliográficas.

MOBILE GOVERNMENT

Os esforços do governo para a prestação de serviços digitais visam o uso de formas inovadoras da TIC, particularmente das aplicações de Internet baseadas na web e, recentemente, na plataforma mobile. Esta última tem provocado a disseminação do uso de tecnologias móveis e sem fio, criando uma nova direção de prestação de serviços conhecida como governo móvel ou mobile government (Araújo, Reinhard & Cunha, 2017Araujo, M. H., Reinhard, N., & Cunha, M. A. (2017). Electronic government services in Brazil: an analysis based on measures of access and users’ internet skills. Brazilian Journal of Public dministration, 52(4), 676-694. https://doi.org/10.1590/0034-7612171925.
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; Monteiro et al., 2018Monteiro, A. C., França, R. P., Estrela, V. V., Iano, Y., Khelassi, & A., Razmjooy, N. (2018). Health 4.0: Applications, Management, Technologies and Review. Medical Technologies Journal. 2(4), 262-276. https://doi.org/10.26415/2572-004X-vol2iss4p262-276
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; Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
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).

Segundo Hermann, Pentek e Otto (2016Hermann, M., Pentek, T., & Otto, B. (2016). Design Principles for Industrie 4.0 Scenarios, in: 49th Hawaii International Conference on System Sciences, 3928-3937. https://doi.org/10.1109/HICSS.2016.488
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), um dos principais facilitadores para o desenvolvimento de ferramentas de mobile government é a interconectividade, pois enquanto os equipamentos da esfera de governo podem ser conectados via tecnologias de comunicação sem fio, por meio do trabalho de equipes multi e interdisciplinares (Chettiparamb, 2007Chettiparamb, A. (2007). Interdisciplinarity: a literature review. The Interdisciplinary Teaching and Learning Group, Subject Centre for Languages, Linguistics and Area Studies, School of Humanities, University of Southampton. https://oakland.edu/Assets/upload/docs/AIS/interdisciplinarity_literature_review.pdf
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), os usuários de serviços públicos necessitam de uma interface para se comunicar com o sistema.

Para esse fim, os smartphones, tablets, notebooks e outros dispositivos que suportam tecnologia móvel são elegíveis, permitindo que os governos compartilhem suas informações aumentando a transparência, garantindo assim uma melhor governança na prestação dos serviços públicos (OECD, 2016OECD. (2016). OECD Reviews of Innovation Policy: Sweden 2016, OECD Publishing. http://dx.doi.org/10.1787/9789264249998-en
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; Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
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). No entanto, as informações proporcionadas por este conjunto de dispositivos interconectados devem ser claras e de fácil acesso para que, desta maneira, os governos aumentem e confiabilidade por parte dos usuários dos serviços de governo (MS, 2009MS (Ministério da Saúde do Brasil). (2009). A experiência brasileira em sistemas de informação em saúde. Falando sobre os sistemas de informação em saúde no Brasil. Editora MS.).

Contudo, faz-se necessário que os governos prototipem e testem estes dispositivos objetivando alcançar o máximo de possibilidades de uso, pois o teste de um sistema operacional em um ambiente natural pode ter requisitos completamente diferentes daqueles realizados em maquetes, o que pode trazer um resultado completamente contrário ao esperado (Kagermann, 2015Kagermann, H. (2015). Change Through Digitization - Value Creation in the Age of Industry 4.0. In: Albach, H., Meffert, H., Pinkwart, A., & Reichwald, R. (eds), Management of Permanent Change (pp. 23-45). Springer.).

Um elemento importante a ser destacado, no que se refere ainda a transparência, a fim de assegurar que os recursos públicos sejam bem empregados em benefício da coletividade, diz respeito ao controle social das ações dos governantes e funcionários públicos. Neste sentido, o mobile government é capaz de oferecer recursos que permitam ao cidadão melhor acompanhar e compartilhar os dados disponíveis de governo. Estas ferramentas possibilitam à população o recebimento de notificações sobre dados e informações públicas de forma fácil, para o claro e efetivo acompanhamento por parte da sociedade (CGU, 2018CGU (Controladoria-geral da União). (2019). Portal da Transparência: Controle Social. http://www.portaltransparencia.gov.br/pagina-interna/603399-controle-social
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).

Segundo a OECD (2001OECD. (2011). M-Government: Mobile Technologies for Responsive Governments and Connected Societies. OECD Publishing. https://doi.org/10.1787/9789264118706-en
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), dado o avanço tecnológico no que diz respeito aos dispositivos de comunicação móvel, os governos perceberam a oportunidade de implementação do mobile government, em função do valor público agregado por estas tecnologias, as quais permitem o avanço nos processos de governança responsiva decorrente da interoperabilidade existente entre os aplicativos mobile. Estas ferramentas oferecem suporte para acesso rápido a dados integrados baseados em localização serviços e abre caminho para modelos inovadores de governança do setor público (Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
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). Com isso, a implantação de mobile government pelo uso da tecnologia móvel no suporte a serviços e na entrega de informações pode representar para a esfera pública a introdução de melhorias no desenvolvimento social e econômico, na eficiência operacional e na participação ativa dos cidadãos (OECD, 2001OECD. (2011). M-Government: Mobile Technologies for Responsive Governments and Connected Societies. OECD Publishing. https://doi.org/10.1787/9789264118706-en
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).

Na visão de Kushchu e Kuscu (2003Kushchu, I., & Kuscu, H. (2003). From e-government to m-government: facing the inevitable. In: 3rd European Conference on e-Government, MCIL Trinity College Dublin Ireland. https://www.researchgate.net/publication/228606962_From_E-government_to_M-government_Facing_the_Inevitable
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), mobile government é uma influência substancial para geração de um conjunto de estratégias, adaptações e novas ferramentas complexas para a prestação de melhores serviços de governo, ou seja, torna-se inevitável a adesão ao mobile government como um novo canal de entrega de informações e serviços oportunamente onipresentes, por meio de dispositivos móveis, aos cidadãos, empresas e outros departamentos governamentais.

Este caráter inevitável vem da preocupação dos governos com a variação da qualidade dos serviços públicos e da má utilização de recursos, o que reflete diretamente nos serviços de educação, saúde e segurança (ME, 2019ME (Ministério da Economia do Brasil). (2019). Economia quer reconquistar confiança dos brasileiros no serviço público. Portal do ministério da Economia do Brasil. http://www.economia.gov.br/noticias/2019/10/economia-quer-reconquistar-confianca-dos-brasileiros-no-servico-publico
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). Pela necessidade de entregar mais e melhores serviços para a população, considera-se o mobile government como uma forma de reforçar a confiança da população nos serviços prestados pelo governo.

Nos serviços de saúde, por exemplo, uma das estratégias é tentar mitigar desafios existentes em função de barreiras logísticas e financeiras, a fim de promover acesso conforme as necessidades e preferências dos indivíduos nos vários níveis do sistema (Orton et al., 2018Orton, M., Agarwal, S., Muhoza, P., Vasudevan, & L., Vuc, A. (2018). Strengthening Delivery of Health Services Using Digital Devices. Global Health: Science and Practice. 6(1), 61-71. https://doi.org/10.9745/ghsp-d-18-00229
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). Portanto, a base da infraestrutura de telefonia móvel já existente é fundamental no desenvolvimento de tarefas executadas pelos profissionais da linha de frente na prestação dos serviços de governo (Zmijewsk, Elaine & Seele, 2004), neste caso, os serviços de saúde. Além disso, a plataforma mobile pode ser utilizada também para fornecer conteúdo de treinamento sob demanda, para implementar sistemas de apoio à decisão clínica, bem como suportar ferramentas de planejamento e programação de trabalho, adicionando valor aos serviços públicos (Orton et al., 2018Orton, M., Agarwal, S., Muhoza, P., Vasudevan, & L., Vuc, A. (2018). Strengthening Delivery of Health Services Using Digital Devices. Global Health: Science and Practice. 6(1), 61-71. https://doi.org/10.9745/ghsp-d-18-00229
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).

Twizeyimana e Andersson (2019Twizeyimana, J. D., & Andersson, A. (2019). The public value of E-Government - A literature review. Government Information Quarterly, 36, 167-178. https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.01.001
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) apontam que valor público neste contexto pode ser entendido como a capacidade dos sistemas de governo, pela adesão e utilização de novas tecnologias, em fornecer eficiência, melhores serviços e promover participação social. Neste sentido, importante reforçar que o investimento e desenvolvimento de recursos, o engajamento público e inovação do setor público são cruciais para entender a transformação no processo de criação de valor público, observando o caráter imperativo da inovação (Pang et al., 2014Pang, M.S., Lee, G. and Delone, & W.H. (2014). IT Resources, Organizational Capabilities, and Value Creation in Public-Sector Organizations: A Public-Value Management Perspective, Journal of Information Technology, 29(3), 187-205. https://doi.org/10.1057/jit.2014.2
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; Criado & Gil-Garcia, 2019Criado, J. I., & Gil-Garcia, J. R. (2019). Creating public value through smart technologies and strategies From digital services to artificial intelligence and beyond. International Journal of Public Sector Management, 32(5), 438-450. https://doi.org/10.1108/IJPSM-07-2019-0178
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; Twizeyimana & Andersson, 2019Twizeyimana, J. D., & Andersson, A. (2019). The public value of E-Government - A literature review. Government Information Quarterly, 36, 167-178. https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.01.001
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).

O mobile government, portanto, é uma inovação que se utiliza de tecnologias da informação e comunicação através de dispositivos mobile para entregar, acessar e gerenciar serviços públicos (Ingrams, 2018Ingrams, A. (2018). M-government. In Holzer, M., Manoharan, A. P., & Melitski, J. (eds.),E-government and information technology management: Concepts and best practices(pp. 155-182). Melvin Leigh. ; Rana et al., 2019Rana, N., P., Janssen, M., Sahu, G., P., Baabdullah, A., & Dwivedi, Y. K. (2019). Citizens’ Perception about M-Government Services: Results from an Exploratory Survey. Proceedings of the 52nd Hawaii International Conference on System Sciences, 3356-3365. https://scholarspace.manoa.hawaii.edu/handle/10125/59771
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), acrescentando valor ao serviço público por oportunizar aos cidadãos acesso ao governo pela utilização de tecnologias como telefones celulares, dispositivos habilitados para wi-fi e redes sem fio (Antovski & Gusev, 2012Antovski, L., & Gusev, M. (2005). M-Government Framework. Proceeding of Euro mGOV 2005: The First European Conference on Mobile Government, Brighton, UK. https://www.researchgate.net/publication/235247958_M-government_framework
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).

Resalta-se que os principais facilitadores que encaminharam o governo para a prestação de serviços por meio de tecnologia mobile foram o aumento do acesso a dispositivos móveis na sociedade, o surgimento da internet móvel e dos aplicativos e serviços de rede móvel e o crescimento das taxas de introdução de dispositivos móveis habilitados para a internet de forma incremental (Hassan, Jaber & Hamdan, 2009Hassan, M., Jaber,T., & Hamdan, Z. (2009). Adaptive Mobile- Government Framework. Proceedings of International Conference on Administrative Development: Towards Excellence in Public Sector Performance, Riyadh, Saudi Arabia. https://www.researchgate.net/profile/Mohammad_Hassan21/publication/228810483_Adaptive_Mobile-Government_Framework/links/544f61ff0cf26dda08904970.pdf
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).

Toda esta mudança vem transformando a maneira como os cidadãos passaram a se comunicar com seus governos, bem como a forma como passaram a demandar e utilizar seus serviços. O smartphone passou a ser utilizando não apenas para comunicação de texto e voz, mas também como uma ferramenta de conectividade multimídia para transferir dados e realizar transações de forma confiável (Kushchu & Kuscu, 2003Kushchu, I., & Kuscu, H. (2003). From e-government to m-government: facing the inevitable. In: 3rd European Conference on e-Government, MCIL Trinity College Dublin Ireland. https://www.researchgate.net/publication/228606962_From_E-government_to_M-government_Facing_the_Inevitable
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).

A disseminação destes dispositivos móveis em economias emergentes, portanto, já ultrapassou a utilização dos desktops no acesso a serviços públicos, consequentemente, com o aumento maciço da penetração móvel nesses países, os governos iniciaram um movimento de fortalecimento da sua conectividade com os usuários dos seus serviços (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
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; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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).

Segundo Li, Ding e Li (2019Li, X., Ding, Y., & Li, Y. (2019). M-Government Cooperation for Sustainable Development in China: A Transaction Cost and Resource-Based View. Sustainability 11(7), 2-17. https://doi.org/10.3390/SU11071884
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), a entrega de serviços de maneira móvel pelo governo deve envolver cooperação, alianças estratégicas, atualizações, segurança, know-how, aspectos populacionais, dentre outros quesitos indispensáveis ao desenvolvimento e fornecimento de serviços mobile. Muitos outros recursos de tecnologias de plataformas móveis, incluindo aplicativos de smartphones, instalações de internet, plataformas integradas de computadores pessoais são aplicações promissoras para incorporação em vários sistemas socioeconômicos (Kanaan, Abumatar & Hussein, 2019Kanaan, R. K. K., Abumatar, G., Al-Lozi, M., & Hussein, A. M. A. (2019). Implementation of M-government: Leveraging Mobile Technology to Streamline the E-governance Framework. Journal of Social Sciences, 8(3), 495-808. https://doi.org/10.25255/jss.2019.8.3.495.508
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), consequentemente estas novas tecnologias e estratégias inteligentes irão moldar e serão moldadas pelo futuro das organizações públicas para a prestação de serviços (Criado & Gil-Garcia, 2019Criado, J. I., & Gil-Garcia, J. R. (2019). Creating public value through smart technologies and strategies From digital services to artificial intelligence and beyond. International Journal of Public Sector Management, 32(5), 438-450. https://doi.org/10.1108/IJPSM-07-2019-0178
https://doi.org/10.1108/IJPSM-07-2019-01...
).

É importante destacar, portanto, que uma estratégia de mobile government associa-se a um conjunto de ações a serem executadas a fim de concretizar a visão idealizada pelos governos, o que envolve processos através dos quais os tomadores de decisão precisam definir ações estratégicas coerentes com o contexto de seus países, ou seja, aspectos políticos, econômicos, democráticos, culturais e estruturais, analisando particularmente o conjunto de desafios existentes (Scherer et al., 2008Scherer, S., Schneider, C., Wimmer, M.A. & Shaddock, J. (2008). Studying eParticipation in government innovation programmes: lessons from a survey, Association for Information sistem. https://aisel.aisnet.org/bled2008/9/
https://aisel.aisnet.org/bled2008/9/...
; Mkude & Wimmer, 2013Mkude, C.G., & Wimmer, M.A. (2013). Strategic framework for designing e-government in developing countries. In: Wimmer, M.A., Janssen, M., Scholl, H.J. (eds.), Springer, Heidelberg (pp. 148-162). https://doi.org/10.1007/978-3-642-40358-3_13
https://doi.org/10.1007/978-3-642-40358-...
).

Assim, ao longo dos próximos anos, o acesso móvel em qualquer lugar a qualquer momento se tornará parte da vida cotidiana das pessoas. Para tal, os governos precisam se empenhar em transformar suas atividades, adaptando-as de acordo com essa nova demanda (OECD, 2011OECD. (2011). M-Government: Mobile Technologies for Responsive Governments and Connected Societies. OECD Publishing. https://doi.org/10.1787/9789264118706-en
https://doi.org/10.1787/9789264118706-en...
; Davies, 2015Davies, R. (2015). eGovernment: Using technology to improve public services and democratic participation. EPRS | European Parliamentary Research Service, 1-24. https://ec.europa.eu/futurium/en/system/files/ged/eprs_ida2015565890_en.pdf
https://ec.europa.eu/futurium/en/system/...
; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-...
). No entanto, ainda há muitos desafios que devem ser abordados para melhorar a qualidade da prestação de serviços na modalidade mobile, pois os usuários esperam cada vez mais acessar serviços de maneira igualitária de forma eficiente, integrativa, inclusiva e segura (Fan, 2018Fan, Q. (2018). A longitudinal evaluation of e-government at the local level in Greater Western Sydney (Gws) Australia, J. Public Adm, 41, 13-21. https://doi.org/10.1080/01900692.2016.1242621
https://doi.org/10.1080/01900692.2016.12...
).

MÉTODO

Quanto aos meios de investigação, este artigo é classificado do ponto de vista de sua abordagem como qualitativo multi-método, a partir da triangulação de técnicas de coleta de dados, tais como: revisão de literatura, pesquisa documental e dois grupos focais (Cronin, Ryan & Coughlan 2008Cronin, P., Ryan, F., & Coughlan, M. (2008). Undertaking a literature review: a step-by-step approach.British journal of nursing,17(1), 38-43. https://doi.org/10.12968/bjon.2008.17.1.28059
https://doi.org/10.12968/bjon.2008.17.1....
; Morgan, 1996Morgan, D. L. (1996). Focus groups as qualitative research. (Vol. 16). Sage publications.; Scott, 2014Scott, J. (2014). A matter of record: Documentary sources in social research. Polity Press.; Jorgensen, 2015Jorgensen, D. L. (2015). Emerging trends in the social and behavioral sciences: An interdisciplinary, searchable, and linkable resource. Participant Observation, 1(15). https://doi.org/10.1002/9781118900772.etrds0247
https://doi.org/10.1002/9781118900772.et...
).

Primeiramente, foi realizada a revisão de literatura a fim de identificar artigos científicos que abordassem temas de governo móvel, governo eletrônico e governo digital e seus respectivos termos em inglês mobile government e digital government, sendo este último a base para o estabelecimento do mobile government. Como critério de busca, estabeleceu-se que seriam utilizadas as bases Web of Science, Science Direct, Scopus e Proquest, bem como não foi estabelecido lapso temporal. Os termos deveriam estar presentes no título, nas palavras-chaves e nos resumos ou em pelo menos um dos três.

Obedecendo tais critérios, foram selecionados 18 artigos que tratam de mobile government, 6 de governo digital e 8 de governo eletrônico. Dentre os trabalhos identificados, dois deles levantam a lacuna na literatura em relação à necessidade de condução de estudos empíricos sobre implantação de ferramentas de mobile government nos países em desenvolvimento (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
https://doi.org/10.1002/isd2.12064...
; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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), o que foi adotada como agenda para a elaboração desta pesquisa.

A leitura completa e análise dos artigos selecionados foram trianguladas com dados da pesquisa documental (Miles & Huberman, 1994Miles, M. B., & Huberman, A. M. (1994). Qualitative data analysis: An expanded sourcebook. Sage Publications, https://books.google.com.br/books?id=U4lU_-wJ5QEC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
https://books.google.com.br/books?id=U4l...
) realizada sobre uma análise dos registros do aplicativo InvestSUS, dentre os quais se destacam a plataforma desenvolvida e em funcionamento, quantidade de downloads, quantidade de desinstalações, frequência de acesso, atualizações, avaliação do usuário, requisitos de segurança, infraestrutura, gerenciamento, acessibilidade, e por fim, informações disponibilizadas pelo aplicativo.

A triangulação das informações oriundas das supracitadas técnicas evidenciou que o fenômeno mobile government, no contexto brasileiro, está organizado em torno de cinco categorias principais, a saber: segurança, que está relacionada com as ações relativas às vulnerabilidades e riscos que os dispositivos móveis podem gerar aos seus usuários; gerenciamento do projeto de desenvolvimento do aplicativo; infraestrutura das organizações envolvidas com o projeto e que reúne todos os elementos e a tecnologia para a segura continuidade operacional de suas ações e seus procedimentos; acessibilidade, que diz respeito a oferta de atenção aos detalhes e a como os usuários interagem como o aplicativo; e por fim, o engajamento do usuário do aplicativo, o qual está relacionado com o processo que cria relações com os usuários, capturando a atenção deles.

Além disso, reuniu-se insumos para a construção de três instrumentos: framework para análise do desenvolvimento e implantação de ferramentas de mobile government no setor público; roteiro para realização de grupo focal com os servidores envolvidos com o projeto do aplicativo; e, outro roteiro para grupo focal com técnicos de Tecnologia da Informação (TI), desenvolvedores do aplicativo. No tocante ao framework desenvolvido, este é composto de 19 variáveis de mobile government distribuídas em cinco categorias advindas da triangulação realizada e das contribuições teóricas de Ishengoma, Mselle e Mongi (2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
https://doi.org/10.1002/isd2.12064...
), Isagah e Wimmer (2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-...
), Li, Ding e Li (2019Li, X., Ding, Y., & Li, Y. (2019). M-Government Cooperation for Sustainable Development in China: A Transaction Cost and Resource-Based View. Sustainability 11(7), 2-17. https://doi.org/10.3390/SU11071884
https://doi.org/10.3390/SU11071884...
), e Joseph (2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
https://doi.org/10.4018/IJESMA.201901010...
), conforme Tabela 01.

Tabela 1.
Framework de Mobile Government

Para aplicação do instrumento de coleta de dados, foram convidados 11 servidores da unidade FNS do MS, responsáveis pela concepção do InvestSUS, e 8 profissionais de Tecnologia da Informação (TI), de empresa terceirizada contratada pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS), e diretamente envolvidos com o desenvolvimento do aplicativo. A escolha destes participantes se deu conforme o critério de disponibilidade da agenda dos mesmos na organização. Os grupos focais ocorreram primeiramente com seis técnicos de TI no dia 25 de setembro de 2019, e em seguida, no dia 30 de setembro, com seis servidores envolvidos com o projeto do aplicativo.

Os dados coletados nos dois grupos focais foram transcritos e analisados por meio da aplicação da técnica de análise de conteúdo (Saldaña, 2015Saldaña, J. (2015).The coding manual for qualitative researchers. Sage. ), e ao final, na etapa de tratamento dos resultados obtidos e interpretação, foram trabalhados os dados de forma a serem significativos e válidos para identificar as categorias e variáveis do framework proposto.

Na próxima sessão, serão apresentados os resultados sistematizados da análise dos dados coletados, bem como a estrutura gráfica do framework validado pela análise do fenômeno de mobile government no contexto brasileiro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos dados coletados, a partir da aplicação do framework proposto, revela a oportunidade de entender o mobile government no contexto do setor de saúde pública brasileira. Os resultados foram classificados em dois vetores: o vetor número um que corresponde a presença das categorias de análise e variáveis ​​previamente identificadas na literatura; e, o vetor dois no qual foram agrupadas novas variáveis ​​observadas no fenômeno. Adicionalmente, entre parênteses, estão as categorias e variáveis ​​encontradas, enquanto que o código entre chaves representa os discursos de servidores, variando de S1 a S6, e dos profissionais desenvolvedores do InvestSUS, de D1 a D6.

A Tabela 2 apresenta o resultado da análise dos dados em relação a categoria segurança (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
https://doi.org/10.1002/isd2.12064...
; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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), e demonstra a presença das variáveis credibilidade nos canais de entrega de serviços e mecanismos de segurança de dados. Duas novas variáveis foram identificadas: transparência da informação pública e controle social.

Tabela 2
Resultados da aplicação do framework referente à categoria Segurança.

A análise dos dados referente ao desenvolvimento e implantação do InvestSUS mostrou que o aplicativo precisou passar por uma análise de segurança e consistência dos dados que são utilizados, a fim de aumentar a segurança e credibilidade dos usuários tanto nas informações quanto nas operações executadas (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
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). O uso da tecnologia, aliada a desburocratização e simplificação para a prestação de serviços têm sido adotados pelo setor público, contudo é importante garantir a confiança dos usuários nos canais de entrega destes serviços (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
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; ME, 2019ME (Ministério da Economia do Brasil). (2019). Economia quer reconquistar confiança dos brasileiros no serviço público. Portal do ministério da Economia do Brasil. http://www.economia.gov.br/noticias/2019/10/economia-quer-reconquistar-confianca-dos-brasileiros-no-servico-publico
http://www.economia.gov.br/noticias/2019...
).

Ressalta-se, portanto, as rápidas transformações proporcionadas pelo ambiente digital na sociedade, o que impõem novos desafios à atuação do governo (OECD, 2011OECD. (2011). M-Government: Mobile Technologies for Responsive Governments and Connected Societies. OECD Publishing. https://doi.org/10.1787/9789264118706-en
https://doi.org/10.1787/9789264118706-en...
; Davies, 2015Davies, R. (2015). eGovernment: Using technology to improve public services and democratic participation. EPRS | European Parliamentary Research Service, 1-24. https://ec.europa.eu/futurium/en/system/files/ged/eprs_ida2015565890_en.pdf
https://ec.europa.eu/futurium/en/system/...
; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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). Com isso, preservar e aumentar a capacidade de fazer entregas e atender às expectativas da sociedade, neste caso pela prestação de informações relativas aos recursos orçamentários e financeiros do SUS, a partir do aplicativo InvestSUS, é um fator importante e que leva a transformação dos serviços públicos (Orton, Agarwal, Muhoza, Vasudevan, & Vuc, 2018Orton, M., Agarwal, S., Muhoza, P., Vasudevan, & L., Vuc, A. (2018). Strengthening Delivery of Health Services Using Digital Devices. Global Health: Science and Practice. 6(1), 61-71. https://doi.org/10.9745/ghsp-d-18-00229
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). Assim, garantir a confiança nos canais de entrega de serviços é uma forma estratégica de potencializar ainda mais o papel do governo como habilitador e facilitador da transformação digital, tendo em vista sua competência como prestador de serviços e garantidor de direitos (Kushchu & Kuscu, 2003Kushchu, I., & Kuscu, H. (2003). From e-government to m-government: facing the inevitable. In: 3rd European Conference on e-Government, MCIL Trinity College Dublin Ireland. https://www.researchgate.net/publication/228606962_From_E-government_to_M-government_Facing_the_Inevitable
https://www.researchgate.net/publication...
; Ishengoma, Mselle & Mongi 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
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).

Em relação aos mecanismos de segurança de dados, o serviço entregue a partir do aplicativo utiliza uma base consolidada denominada Brasil Cidadão, que é usada por todos os outros produtos construídos no MS, não havendo a necessidade de desenvolver um mecanismo de segurança exclusivamente para este aplicativo.

No entanto, torna-se fundamental lembrar que nestes casos inovar não é uma opção e que a atuação pública deve ter como propósito servir, entregar valor à sociedade e é uma questão de sobrevivência, visto que é exigido cada vez mais uma melhor atuação do governo (Pang et al., 2014Pang, M.S., Lee, G. and Delone, & W.H. (2014). IT Resources, Organizational Capabilities, and Value Creation in Public-Sector Organizations: A Public-Value Management Perspective, Journal of Information Technology, 29(3), 187-205. https://doi.org/10.1057/jit.2014.2
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; Twizeyimana & Andersson, 2019Twizeyimana, J. D., & Andersson, A. (2019). The public value of E-Government - A literature review. Government Information Quarterly, 36, 167-178. https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.01.001
https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.01.00...
; Criado & Gil-Garcia, 2019Criado, J. I., & Gil-Garcia, J. R. (2019). Creating public value through smart technologies and strategies From digital services to artificial intelligence and beyond. International Journal of Public Sector Management, 32(5), 438-450. https://doi.org/10.1108/IJPSM-07-2019-0178
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; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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). Dessa forma, entregar uma ferramenta integrada, simplificada e segura (Li, Ding & Li, 2019Li, X., Ding, Y., & Li, Y. (2019). M-Government Cooperation for Sustainable Development in China: A Transaction Cost and Resource-Based View. Sustainability 11(7), 2-17. https://doi.org/10.3390/SU11071884
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) para acompanhar os recursos transferidos pelo MS aos gestores estaduais e municipais, é um importante passo para o amadurecimento da gestão dos órgãos e entidades da saúde no governo brasileiro.

Ainda sobre a categoria segurança, duas novas variáveis foram identificadas: a transparência da informação pública e o controle social. O objetivo de dar transparência no repasse dos recursos destinados à saúde é um dos grandes desafios do governo principalmente por haver uma parcela da população não satisfeita com a forma de publicização das informações dos serviços públicos (ME, 2019ME (Ministério da Economia do Brasil). (2019). Economia quer reconquistar confiança dos brasileiros no serviço público. Portal do ministério da Economia do Brasil. http://www.economia.gov.br/noticias/2019/10/economia-quer-reconquistar-confianca-dos-brasileiros-no-servico-publico
http://www.economia.gov.br/noticias/2019...
). Proporcionar acesso rápido e prático às informações de financiamento da saúde significa dar acesso a dados de forma mais clara, organizada e acessíveis a qualquer cidadão (Ishengoma, Mselle & Mongi 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
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).

Isto corrobora com o aumento da demanda levantada pela sociedade por maior integridade dos governos em relação a financiamentos e implementação de políticas de saúde cada vez mais forte e presente entre os brasileiros (ME, 2019ME (Ministério da Economia do Brasil). (2019). Economia quer reconquistar confiança dos brasileiros no serviço público. Portal do ministério da Economia do Brasil. http://www.economia.gov.br/noticias/2019/10/economia-quer-reconquistar-confianca-dos-brasileiros-no-servico-publico
http://www.economia.gov.br/noticias/2019...
). Usuários de diversos serviços têm sido mais participativos reivindicando dados e acesso à informação em busca de saber como seus representantes estão investindo os recursos do governo, cobrando por uma maior aproximação entre administração pública e sociedade na busca por uma prestação serviço eficiente, fundamentada em acompanhamento técnico, interconexão, transparência, sendo todos estes elementos relacionados com controle social (Hermann, Pentek & Otto, 2016Hermann, M., Pentek, T., & Otto, B. (2016). Design Principles for Industrie 4.0 Scenarios, in: 49th Hawaii International Conference on System Sciences, 3928-3937. https://doi.org/10.1109/HICSS.2016.488
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).

O controle social representa um passo importante nas próximas atualizações do aplicativo InvestSUS pela disponibilização de um perfil exclusivo para o acesso direto do cidadão. Este é um aspecto que torna o cidadão um dos principais agentes responsáveis pela fiscalização das ações do Estado de maneira que possam atuar no dia a dia para fiscalizar os atos praticados pelos representantes da sociedade nas instâncias de governo, agindo na supervisionamento de ações de transformação das políticas públicas e financiamento em saúde e bem-estar para a sociedade brasileira. O controle social é fundamental para assegurar que os recursos públicos sejam bem empregados em benefício da coletividade. É a participação da sociedade no acompanhamento e verificação das ações da gestão pública na execução das políticas públicas (CGU, 2018CGU (Controladoria-geral da União). (2019). Portal da Transparência: Controle Social. http://www.portaltransparencia.gov.br/pagina-interna/603399-controle-social
http://www.portaltransparencia.gov.br/pa...
).

Em relação à análise dos dados na categoria gerenciamento (Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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), foram identificadas as variáveis comunicação eficiente, integração entre os envolvidos no projeto, cumprimento dos prazos de entrega, e apoio da alta gestão, conforme Tabela 3.

Tabela 3
Resultados da aplicação do framework referente à categoria Gerenciamento.

A proposta do InvestSUS nasceu primeiramente sob a demanda de atendimento aos stakeholders responsáveis pela gestão dos recursos da saúde no Brasil, por meio de uma comunicação bilateral envolvendo MS e gestores públicos de saúde estaduais e municipais. No entanto, as equipes de desenvolvimento do aplicativo já deram início a elaboração do módulo InvestSUS cidadão, a fim de proporcionar, além de informações sobre os repasses de recursos, um canal de comunicação e interação eficientes e direto entre o MS com os cidadãos.

Contudo, sabemos que comunicar-se bem não representa apenas a capacidade de saber dizer algo a outras pessoas, mas consiste em fazer com que o receptor da mensagem possa compreender aquilo que é dito de maneira que não ocorra má interpretação da mensagem em função do código e do meio utilizado pelo interlocutor. Portanto, o desenvolvimento e implementação do InvestSUS representa a disponibilização de uma ferramenta da tecnologia de comunicação que promove eficácia na redução de ruídos e eficiência na troca de informações entre o MS e todos os beneficiários dos recursos da saúde no Brasil, corroborando o proposto por Isagah e Wimmer (2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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).

A comunicação eficiente também se fez presente nos processos de desenvolvimento do aplicativo, proporcionando agilidade e maior integração entre os envolvidos no projeto o que se mostrou como um fator fundamental. O bom acompanhamento e o retorno às solicitações foram resultado da boa integração entre as equipes o que proporcionou um fluxo contínuo de demandas e respostas. De acordo com Isagah e Wimmer (2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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), os profissionais do governo móvel devem identificar todas as partes relacionadas aos processos do serviço prestado, de maneira a torná-las conscientes da importância do seu papel e participação.

Quanto ao cumprimento dos prazos de entrega, terceira variável da categoria gerenciamento, segundo Isagah e Wimmer (2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-...
), as partes envolvidas na implementação de governo mobile devem estar comprometidas com os processos de design e de suas aplicações para garantir a conclusão de seus projetos no prazo. Dentro desta lógica, o acompanhamento diário no desenvolvimento do InvestSUS por meio de relatórios e reuniões proporcionou um fluxo ágil de solução de problemas, principalmente no que se refere à fase de entrega do protótipo do aplicativo.

Para isto, o apoio da alta gestão foi fundamental para implantação do InvestSUS. Tanto no setor público quanto no privado, quando a alta direção se adapta aos processos de mudança os demais profissionais tendem a se adequar. Isto deve-se ao fato de que as lideranças são consideradas exemplo para os colaboradores e, portanto, o comprometimento da alta gestão mediante ao apoio incondicional às necessidades de mudança, significa a consolidação de missão e valores da empresa. Por outro lado, não adianta um agente querer executar procedimentos de mudança se o quadro de gestão superior não pensar e agir da mesma forma (Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-...
).

Na análise dos dados em relação à infraestrutura (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
https://doi.org/10.1002/isd2.12064...
; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-...
; Li, Ding & Li, 2019Li, X., Ding, Y., & Li, Y. (2019). M-Government Cooperation for Sustainable Development in China: A Transaction Cost and Resource-Based View. Sustainability 11(7), 2-17. https://doi.org/10.3390/SU11071884
https://doi.org/10.3390/SU11071884...
) foram encontradas as variáveis de compatibilidade com diferentes dispositivos e atualização de software e hardware. Duas novas variáveis foram identificadas: usabilidade e equipe multidisciplinar, de acordo com Tabela 4.

Tabela 4
Resultados da aplicação do framework referente à categoria Infraestrutura.

A compatibilidade com diferentes dispositivos é indispensável para o desenvolvimento e implantação de ferramentas de mobile government, visto que a crescente integração de equipamentos por meio da internet e sua disponibilidade em diferentes plataformas compõe a base para o estabelecimento do fenômeno e, consequentemente, para a oferta de serviços on-line, promovendo assim a comunicação entre máquinas, pessoas e outros recursos por meio de processos descentralizados e interconectados (Kagermann, 2015Kagermann, H. (2015). Change Through Digitization - Value Creation in the Age of Industry 4.0. In: Albach, H., Meffert, H., Pinkwart, A., & Reichwald, R. (eds), Management of Permanent Change (pp. 23-45). Springer.; Orton, Agarwal, Muhoza, Vasudevan, & Vuc, 2018Orton, M., Agarwal, S., Muhoza, P., Vasudevan, & L., Vuc, A. (2018). Strengthening Delivery of Health Services Using Digital Devices. Global Health: Science and Practice. 6(1), 61-71. https://doi.org/10.9745/ghsp-d-18-00229
https://doi.org/10.9745/ghsp-d-18-00229...
). Toda esta interatividade abre caminho para uma nova forma de prestação de serviços públicos (Hermann, Pentek & Otto, 2016Hermann, M., Pentek, T., & Otto, B. (2016). Design Principles for Industrie 4.0 Scenarios, in: 49th Hawaii International Conference on System Sciences, 3928-3937. https://doi.org/10.1109/HICSS.2016.488
https://doi.org/10.1109/HICSS.2016.488...
; Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
https://doi.org/10.4018/IJESMA.201901010...
).

Quanto à atualização de software e hardware, esta é uma variável importante do ponto de vista que a tecnologia evolui diariamente, e por conseguinte, executa periodicamente as atualizações do sistema com o intuito de assegurar uma maior proteção, já que muitas destas atualizações trazem consigo melhorias na segurança por meio da inclusão de novas ferramentas e funcionalidades (Fan, 2018Fan, Q. (2018). A longitudinal evaluation of e-government at the local level in Greater Western Sydney (Gws) Australia, J. Public Adm, 41, 13-21. https://doi.org/10.1080/01900692.2016.1242621
https://doi.org/10.1080/01900692.2016.12...
). É importante observar que nem sempre um sistema irá sinalizar a necessidade de instalação de versões recentes, contudo, é necessário estar atento para a disponibilidade de novas versões. Uma vulnerabilidade do software, por exemplo, pode se tornar uma significativa falha na segurança (Kanaan, Abumatar & Hussein, 2019Kanaan, R. K. K., Abumatar, G., Al-Lozi, M., & Hussein, A. M. A. (2019). Implementation of M-government: Leveraging Mobile Technology to Streamline the E-governance Framework. Journal of Social Sciences, 8(3), 495-808. https://doi.org/10.25255/jss.2019.8.3.495.508
https://doi.org/10.25255/jss.2019.8.3.49...
).

Para que estas vulnerabilidades no sistema sejam reduzidas de maneira eficaz, o trabalho das equipes na busca por atualizações é fundamental. O conjunto de ações integradas entre os envolvidos no processo de desenvolvimento e implantação das tecnologias são essenciais para a garantia da segurança (Pang et al., 2014Pang, M.S., Lee, G. and Delone, & W.H. (2014). IT Resources, Organizational Capabilities, and Value Creation in Public-Sector Organizations: A Public-Value Management Perspective, Journal of Information Technology, 29(3), 187-205. https://doi.org/10.1057/jit.2014.2
https://doi.org/10.1057/jit.2014.2...
; Twizeyimana & Andersson, 2019Twizeyimana, J. D., & Andersson, A. (2019). The public value of E-Government - A literature review. Government Information Quarterly, 36, 167-178. https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.01.001
https://doi.org/10.1016/j.giq.2019.01.00...
.

No processo de desenvolvimento do InvestSUS, primeiramente a equipe de TI juntamente com os servidores do FNS/MS desenvolveram em conjunto os principais requisitos para a concepção do aplicativo. Seguido das aprovações necessárias ao projeto, uma das equipes desenvolvia a estrutura pré-definida, enquanto outra já deveria estar um passo à frente desenvolvendo o próximo pacote de implementação. De acordo com a documentação do projeto e as declarações dos envolvidos no desenvolvimento e implantação do InvestSUS, o processo funcionou como em uma esteira de montagem onde todas as equipes trabalharam em sintonia.

A primeira nova variável identificada referente a categoria infraestrutura foi a usabilidade. Esta, segundo Kagermann (2015Kagermann, H. (2015). Change Through Digitization - Value Creation in the Age of Industry 4.0. In: Albach, H., Meffert, H., Pinkwart, A., & Reichwald, R. (eds), Management of Permanent Change (pp. 23-45). Springer.), refere-se à viabilidade dos usuários poderem utilizar com êxito determinados produtos como os dispositivos de tecnologia mobile. Considera-se, portanto, prototipar e testar estes dispositivos objetivando alcançar o máximo de possibilidades de uso. No entanto, para o autor, nem todo sucesso no início dos testes implica em facilidade de uso posterior, pois o teste de um sistema operacional em um ambiente natural pode ter requisitos completamente diferentes daqueles realizados em maquetes. No caso do InvestSUS, os testes de usabilidade foram realizados com foco na visão do usuário, buscando sintetizar as informações disponibilizadas no aplicativo. Os testes de usabilidade naturalmente levam as equipes de desenvolvimento a uma visão mais ampla sobre as limitações e capacidade de atendimento ao usuário de um determinado serviço (Kagermann, 2015Kagermann, H. (2015). Change Through Digitization - Value Creation in the Age of Industry 4.0. In: Albach, H., Meffert, H., Pinkwart, A., & Reichwald, R. (eds), Management of Permanent Change (pp. 23-45). Springer.).

Com relação à segunda nova variável identificada, equipe multidisciplinar, destaca-se, neste contexto, a importância da composição de equipes com múltiplos conhecimentos, ou seja, indivíduos com conhecimento e competências diversas, objetivando a integração e síntese interdisciplinar, permitindo que problemas sejam vistos em um contexto mais amplo por meio de entendimentos diversos capazes de orientar o desenvolvimento de atividades estratégicas dentro de um projeto (Chettiparamb, 2007Chettiparamb, A. (2007). Interdisciplinarity: a literature review. The Interdisciplinary Teaching and Learning Group, Subject Centre for Languages, Linguistics and Area Studies, School of Humanities, University of Southampton. https://oakland.edu/Assets/upload/docs/AIS/interdisciplinarity_literature_review.pdf
https://oakland.edu/Assets/upload/docs/A...
). Para o InvestSUS, a formação multidisciplinar das equipes representa uma forma de equilibrar a interligação entre necessidade do usuário e desenvolvimento do aplicativo que contribua diretamente para a usabilidade.

Isto posto, as equipes formadas e envolvidas com o projeto foram constituídas por arquitetos de informação, pessoas da área de user experience, design, publicidade, TI, equipe de teste e qualidade, back-end e front-end, pessoas especializadas com refinamento para trabalhar layout, e engenheiros de software.

No que tange à categoria acessibilidade (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
https://doi.org/10.1002/isd2.12064...
; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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), Tabela 5, foram identificadas as variáveis igualdade de acesso para os diversos usuários, canal de comunicação direta com o usuário e clareza. Uma nova variável foi também identificada: facilidade de acesso.

Tabela 5
Resultados da aplicação do framework referente à categoria Acessibilidade

A interface do serviço prestado pelo mobile government deve ser capaz de se adaptar a várias plataformas e facilitar o acesso às necessidades dos vários grupos socioeconômicos (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
https://doi.org/10.1002/isd2.12064...
).

Nesta perspectiva, a visão inicial do projeto do InvestSUS sempre foi de dar transparência no repasse dos recursos destinados à saúde pública, por meio da simplificação da chegada da informação ao destinatário de uma maneira mais fácil e mais rápida, e de notificações, a fim de informar as etapas e os estágios que já foram cumpridos, de qualquer lugar e plataforma, desde que exista uma conexão com a Internet.

Uma das formas de facilitar esta comunicação entre o MS, gestores e beneficiários dos recursos da saúde é possuir um canal direto de comunicação com os usuários o que é fundamental para uma boa prestação de serviços. Portanto, o investimento na comunicação com os usuários de serviços de saúde é uma importante medida quando se pensa em promover o engajamento destes usuários com prestadores de serviço. No aplicativo InvestSUS, atualmente é possível a troca de mensagens em determinados estágios, porém nas próximas atualizações estão previstas a troca de mensagem tipo chat, bem como de e-mails entre a Project Owner (PO), com um representante do gestor público de saúde, que poderá fazer uma chamada pública direcionada.

Ressalta-se também que os usuários e os prestadores de serviços públicos possam definir e comunicar as suas próprias necessidades para conduzir a elaboração e controle de políticas e serviços, principalmente a partir de três conjuntos de tecnologia: infraestrutura, soluções e exploração de portais públicos. Ao fornecer serviços de acesso via chat e e-mail, o impacto positivo do mobile government virá de soluções e serviços que podem ser acessados a partir da exploração de portais públicos e destas ferramentas de comunicação (Fang, 2002Fang, Z. (2002). E-government in digital era: concept, practice, and development. Int. J. Comput. Internet Manage. 10(2), 1-22. http://www.ijcim.th.org/past_editions/2002V10N2/article1.pdf
http://www.ijcim.th.org/past_editions/20...
).

Outra variável identificada foi a clareza, elemento fundamental para uma melhor qualidade da informação e maior controle. As regras de acesso e de segurança das TICs precisam ser claras, precisas, concisas, de fácil entendimento e adequadas à apresentação das informações, lembrando que os sistemas são de acesso universal e não só dos técnicos (MS, 2009MS (Ministério da Saúde do Brasil). (2009). A experiência brasileira em sistemas de informação em saúde. Falando sobre os sistemas de informação em saúde no Brasil. Editora MS.).

A postura adotada em relação ao design, estrutura e construção do InvestSUS foi exatamente a de deixar o aplicativo mais claro para o usuário final por meio da simplificação de arquitetura somada a utilização de elementos visuais que facilitem a identificação das funções do aplicativo, proporcionando rápido de acesso à informação.

Todo o trabalho realizado foi voltado para a facilidade de acesso do usuário, nova variável identificada a partir da análise dos dados. O InvestSUS foi projetado de maneira a permitir que todos os usuários consigam operar prontamente o aplicativo a fim de encontrar as informações que procuram e realizar as operações que necessitam.

Para a categoria engajamento (Ishengoma, Mselle & Mongi, 2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
https://doi.org/10.1002/isd2.12064...
; Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-...
; Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
https://doi.org/10.4018/IJESMA.201901010...
) foram identificadas as variáveis: usuário consciente, demanda de serviços pelo usuário e envolvimento do usuário, consoante Tabela 6.

Tabela 6
Aplicação do framework referente à categoria Engajamento.

Um dos aspectos fundamentais referente à introdução de novas tecnologias para a melhoria da gestão pública compreende o fornecimento de treinamentos pelas organizações governamentais, a fim de promover conscientização dos usuários finais, por meio de capacitação para utilização de novas ferramentas. Estes treinamentos ajudam a reconhecer as particularidades dos usuários finais e atendê-las, bem como identificar fragilidades dos recursos tecnológicos disponibilizados (Isagah & Wimmer, 2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
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; Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
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).

Nesta perspectiva, foram realizados pelo FNS treinamentos para utilização do InvestSUS, objetivando romper com a barreira do acesso, do contato, disponibilizando uma ferramenta que atenda desde as instâncias superiores até os municípios menores e de médio porte, de maneira a conscientizá-los do seu papel de gestores financeiro e orçamentário dos recursos. Além disso, estes gestores são representantes e responsáveis por estes recursos diante dos Conselhos de Saúde e dos Órgãos de Controle, o que evidencia a necessidade de acompanhamento e controle por meio de tecnologias móveis.

A disseminação destes dispositivos representa a tecnologia chegando diretamente nas mãos dos cidadãos e proporcionando acesso a uma vasta quantidade de serviços públicos. Esta nova modalidade de acesso aos serviços transformou a maneira como os usuários interagem com o governo. Dessa forma, o InvestSUS entrega mais autonomia instrumentalizando os gestores dos recursos da saúde de maneira que a partir das informações disponíveis no aplicativo a gestão possa ser realizada integralmente (Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
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).

Tudo isto representa um reflexo da progressão natural em que os indivíduos migram o uso de seus dispositivos móveis de consumo para outros domínios, possibilitando tanto que demandem serviços ao MS, como que também sejam demandados. Com isto, os cidadãos provocam a disruptura na forma de prestação de serviços pelo governo em função da quantidade de acesso e demanda por serviços (Joseph, 2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
https://doi.org/10.4018/IJESMA.201901010...
).

Nesta perspectiva, o aplicativo InvestSUS permite o estabelecimento de um elo fundamental entre concedente e beneficiário dos recursos da saúde, principalmente para aqueles municípios de pequeno porte e que talvez tenham insuficiência técnica para ter acesso a informações referentes aos repasses.

No entanto, para que os governos possam entregar estes serviços em uma plataforma mobile envolve, dentre outros quesitos, know-how, alianças estratégicas e cooperação (Li, Ding & Li, 2019Li, X., Ding, Y., & Li, Y. (2019). M-Government Cooperation for Sustainable Development in China: A Transaction Cost and Resource-Based View. Sustainability 11(7), 2-17. https://doi.org/10.3390/SU11071884
https://doi.org/10.3390/SU11071884...
). Nesse sentido, o envolvimento dos usuários contribui como elemento cooperativo para uma boa prestação e gerenciamento do serviço público.

Todas as informações de análise apresentadas até aqui referem-se à validação das categorias e variáveis do framework proposto, desenvolvido a partir do levantamento de dados sobre a implantação do InvestSUS, enquanto ferramenta de mobile government pelo MS.

Inicialmente, o framework proposto constituiu-se de 19 variáveis distribuídas em cinco categorias identificadas na literatura de mobile government. Após sua validação, o quadro teórico corroborou com 16 das categorias previamente estabelecidas. Ressalta-se que cinco novas variáveis emergiram dos relatos dos participantes dos grupos focais, totalizando 21 variáveis relacionadas com o fenômeno de mobile government, como se pode observar na Figura 1.

Fig. 1.
Framework de mobile government.

O framework, portanto, oportuniza a análise do desenvolvimento e implantação de ferramentas de mobile government no setor público, em busca de dar um passo a mais na investigação de aspectos referentes a adoção do governo móvel no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como objetivo investigar e analisar aspectos relacionados ao aplicativo InvestSUS no contexto do MS do Brasil, enquanto ferramenta de mobile government, o que resultou na construção de um framework baseado em Ishengoma, Mselle e Mongi (2018Ishengoma, F., Mselle, L., & Mongi, H. (2019). Critical success factors for m‐Government adoption in Tanzania: A conceptual framework. John Wiley & Sons Ltd, 1-10. https://doi.org/10.1002/isd2.12064
https://doi.org/10.1002/isd2.12064...
), Isagah e Wimmer (2019Isagah, T., & Wimmer, M. A. (2019). Recommendations for M-Government Implementation in Developing Countries: Lessons Learned from the Practitioners. International Federation for Information Processing, 551, 554-555. https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-1_45
https://doi.org/10.1007/978-3-030-18400-...
), Li, Ding e Li, 2019Li, X., Ding, Y., & Li, Y. (2019). M-Government Cooperation for Sustainable Development in China: A Transaction Cost and Resource-Based View. Sustainability 11(7), 2-17. https://doi.org/10.3390/SU11071884
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e Joseph (2019Joseph, R. C. (2019). A Structured Analysis of mGovernment Apps and User Engagement. International Journal of E-Services and Mobile Applications. 11(1), 24-35. https://doi.org/10.4018/IJESMA.2019010102
https://doi.org/10.4018/IJESMA.201901010...
).

O framework foi validado por meio de sua aplicação aos dados coletados de dois grupos focais realizados com os grupos envolvidos no processo de desenvolvimento e implantação do InvestSUS, servidores e desenvolvedores. Após sua validação, o quadro teórico convalidou categorias previamente propostas a partir da triangulação de técnicas de coleta de dados, no entanto, das 19 variáveis propostas, foram validadas 16 e cinco novas variáveis foram identificadas nos relatos dos participantes dos grupos focais, totalizando 21 variáveis relacionadas com o contexto de uma aplicação de mobile government no setor de saúde pública brasileiro.

Contudo, é importante observar algumas limitações do estudo. Esta pesquisa se baseia em dados coletados no contexto do MS do Brasil e utiliza abordagem multimétodo qualitativa, não tendo sido utilizado para este trabalho métodos quantitativos de análise. Além disso, dado o fato de que a tecnologia muda rapidamente, os resultados desta pesquisa devem ser utilizados para o desenvolvimento de novos estudos considerando as transformações e novas tendências no desenvolvimento das ferramentas de mobile government.

Para estudos futuros, sugere-se investigar o desempenho das ferramentas de mobile government a partir da visão do usuário dos serviços, a fim de obter uma avaliação com dados coletados na ponta onde o serviço é entregue. Outro caminho também para pesquisa futura trata da mensuração das diferenças culturais e seu impacto na adoção do mobile government, em regiões diferentes do Brasil ou em outros países.

Uma lacuna para os pesquisadores realizarem análises futuras diz respeito a multissegmentos, ou seja, realizar estudo em diferentes instituições utilizando o framework para mobile government desenvolvido neste artigo, considerando as diferenças existentes nas organizações como, por exemplo, cultura local e organizacional.

Pode-se também examinar as barreiras e fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento e implantação de instrumentos de mobile government, ou ainda investigar o impacto de fatores específicos nas intenções dos cidadãos em usar serviços móveis do governo.

Por fim, evidencia-se que este estudo investigou aspectos relativos à experiência brasileira, com o objetivo de contribuir para o campo de pesquisas sobre o desenvolvimento e implantação de aplicativos móveis e inovação. Ademais, trata-se de uma oportunidade para entendimento do fenômeno do mobile government no contexto do setor de saúde pública, especialmente nos países em desenvolvimento.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    01 Jan 2021
  • Aceito
    10 Nov 2021
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