INTRODUÇÃO
O uso terapêutico de plantas medicinais possui origem nos primórdios da medicina e tem sido objeto de crescente interesse popular, científico e institucional1 , 2.
No Brasil, este tema tem sido abordado no âmbito da saúde coletiva, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde para o uso da Medicina Tradicional e Complementar/Alternativa nos sistemas de saúde, de forma integrada às técnicas da medicina ocidental moderna3. A fitoterapia constitui, assim, uma das práticas preconizadas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares proposta em 20063.
O Ministério da Saúde descreve a fitoterapia como sendo um recurso terapêutico caracterizado pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal3. Essa prática já está consolidada em alguns municípios, por meio do Programa Farmácias Vivas, no qual a dispensação dos produtos à comunidade ocorre nas Unidades Básicas vinculadas ao modelo de atenção familiar, principalmente em regiões em que a cultura popular exerce forte influência4.
Neste cenário, é importante que o uso da fitoterapia não se restrinja exclusivamente ao saber popular, mas também à luz do conhecimento científico5, e que haja aceitabilidade por parte dos profissionais de saúde, inclusive os Cirurgiões-Dentistas, contribuindo assim para a inserção apropriada dessa prática na assistência à saúde.
Alguns estudos têm sido realizados buscando conhecer as percepções de coordenadores de unidades de saúde, gestores e profissionais sobre fitoterapia e outras práticas integrativas e complementares. Os resultados têm mostrado uma boa aceitação da fitoterapia, porém identificou-se a importância de ampliar o debate sobre o tema entre os atores e as instâncias envolvidas6 - 8.
Uma pesquisa realizada com profissionais de saúde em vários municípios de um mesmo Estado, dentre estes alguns Cirurgiões-Dentistas, identificou a fitoterapia como a segunda terapia alternativa mais prescrita em instituições públicas e privadas. No entanto, foi encontrada grande reticência na indicação das plantas medicinais pelo receio dos efeitos adversos, apontando para a necessidade de formação adequada para a aplicação e a indicação destas plantas 9.
Em outros estudos envolvendo Médicos e Enfermeiros, a necessidade de capacitação sobre o assunto tanto na Graduação quanto em programas de educação permanente ficou clara10 - 13.
Contudo, o conhecimento sobre o profissional da saúde bucal frente às práticas integrativas e complementares é escasso. Na literatura, foi encontrado apenas um estudo específico sobre os Cirurgiões-Dentistas com abordagem qualitativa, mostrando que estes não tiveram nenhum treinamento na Graduação e na Pós-Graduação, e apresentavam pouco conhecimento e utilização da fitoterapia14. Assim, o presente estudo foi realizado com o objetivo de investigar os conhecimentos, atitudes e práticas do Cirurgião-Dentista sobre a fitoterapia na prática clínica.
MATERIAL E MÉTODO
Foi realizado um estudo transversal com um grupo de Cirurgiões-Dentistas no exercício clínico da Odontologia no serviço público e privado do município de Anápolis-GO, em 2011. Para a identificação dos profissionais do serviço público, utilizou se uma lista fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde de todos os locais em que trabalhavam Cirurgiões Dentistas atuantes na clínica odontológica. Quanto aos profissionais do serviço privado, buscou-se junto à Prefeitura o cadastro de atividades econômicas do município, com o endereço dos consultórios odontológicos. Foi estabelecida uma amostra de conveniência composta por 200 Cirurgiões-Dentistas, sendo 100 de cada setor de atuação. Este número representava aproximadamente 30% dos profissionais do município, inscritos no Conselho Regional de Odontologia - Seção de Goiás, no ano da pesquisa. Para a seleção dos participantes, buscaram-se, inicialmente, as unidades de serviço público que possuíam um maior número de profissionais e os bairros que possuíam uma maior quantidade de consultórios da iniciativa privada, sendo estes dois bairros centrais e um localizado na periferia do município.
O instrumento de coleta de dados foi um questionário autoaplicável, elaborado para a presente pesquisa e pré-testado com 12 Cirurgiões-Dentistas, contendo 15 questões. Os questionários foram deixados nos locais de trabalho e foi acertada uma data para o recolhimento dos mesmos. Foram pesquisadas as características demográficas e aquelas relativas à atuação profissional dos participantes, e o seu nível de conhecimento, atitudes e uso de fitoterápicos ou plantas medicinais. Nas questões sobre conhecimentos, foi perguntado aos profissionais se conheciam a seguinte legislação sobre o tema: Resolução 82/2008 do Conselho Federal de Odontologia, que reconhece e regulamenta o uso de práticas integrativas e complementares à saúde bucal, pelo cirurgião-dentista15, e Portaria 971/05/2006 do Ministério da Saúde, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS)16, na qual estão inseridas as plantas medicinais e os fitoterápicos3. As duas questões abertas, sobre a prescrição fitoterápica e as dificuldades para a inserção da fitoterapia na prática odontológica, foram categorizadas para a análise quantitativa.
Os dados foram tabulados e analisados por meio de estatística descritiva, utilizando-se o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS 22.0 for Windows). Inicialmente, foi examinada a distribuição das frequências das categorias das variáveis incluídas no estudo. Em seguida, realizaram-se comparações entre grupos buscando analisar associações entre o relato de prescrição de fitoterápicos pelos Cirurgiões-Dentistas e as variáveis demográficas e sobre o exercício da profissão, bem como seus conhecimentos a respeito da fitoterapia. Para essa finalidade, foi utilizado o teste do Qui-quadrado com nível de significância de 5%.
O levantamento dos dados ocorreu após o parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Anápolis - UniEVANGÉLICA, tendo sido aprovado pelo protocolo nº 6261 /2010. Os profissionais que concordaram em participar assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADO
Dos 200 Cirurgiões-Dentistas convidados a participar, 105 aceitaram (Taxa de resposta de 52,5%). A amostra foi predominantemente feminina (60%) e um pouco mais da metade encontrava-se na faixa etária de 20 a 31 anos (50,5%) (Tabela 1). A maioria possuía até dez anos de término da Graduação (66,7%). Quanto à instituição formadora da Graduação, a faculdade privada apareceu em maior número (83,8%) e a grande maioria era situada no Estado de Goiás (67,6%) (Tabela 1).
Tabela 1 Distribuição da amostra de Cirurgiões-Dentistas, segundo toterápicos na prática odontológica. variáveis demográficas e sobre o exercício da profissão. Anápolis-GO, 2011. (N=105)
Variáveis | n | % |
---|---|---|
Sexo | ||
Feminino | 63 | 60,0 |
Masculino | 41 | 39,0 |
Não informado | 1 | 1,0 |
Faixa etária (anos) | ||
20 a 31 | 53 | 50,5 |
32 ou mais | 52 | 49.5 |
Anos de conclusão do curso de Graduação | ||
Até 10 | 70 | 66,7 |
Acima de 10 | 34 | 32,4 |
Não informado | 1 | 0,9 |
Instituição formadora da Graduação | ||
Privada | 88 | 83,8 |
Pública | 15 | 14,3 |
Não informado | 2 | 1,9 |
Estado da instituição formadora | ||
Goiás | 71 | 67,6 |
Outros Estados | 18 | 17,2 |
Não informado | 16 | 15,2 |
Qualificação profissional | ||
Com Pós-Graduaçãoa | 65 | 61,9 |
Sem Pós-Graduação | 40 | 38,1 |
Setor de atuação | ||
Apenas Privado | 44 | 41,9 |
Apenas Público | 24 | 22,9 |
Público e privado | 37 | 35,2 |
aEspecialização e Mestrado.
Grande parte dos profissionais era de Pós-Graduados (61,9%), sendo dois Mestres e, os demais, Especialistas (Tabela 1). A maior parte dos cursos concentrava-se na área clínica (85,7%) e, em menor quantidade, nas áreas de saúde coletiva (9,9%) e diagnóstica (4,4%). Alguns profissionais (n = 11) possuíam mais de uma especialização. Quanto ao setor de atuação profissional, 41,9% relataram trabalhar exclusivamente na iniciativa privada, enquanto 35,2% atuavam nos setores público e privado (Tabela 1).
Cerca de 16% dos Cirurgiões-Dentistas afirmaram que tiveram embasamento teórico acerca da fitoterapia e, destes, metade relatou ter tido este conteúdo básico na Graduação (Tabela 2). Embora mais da metade dos Cirurgiões-Dentistas (61,9%) tenha considerado viável a inserção do fitoterápico no tratamento auxiliar ou principal de patologias bucais, poucos relataram prescrevê-los (12,4%) ou questionarem, durante a consulta, se seu paciente estava fazendo, à época, uso de fitoterápico (36,2%) (Tabela 2). As características demográficas e profissionais dos respondentes não foram associadas ao relato de prescrição de fitoterápicos na prática odontológica.
Tabela 2 Conhecimentos, atitudes e práticas a respeito da fitoterapia. Cirurgiões-Dentistas de Anápolis-GO, 2011. (N=105)
Variáveis | Total de respondentes | |
---|---|---|
N | % | |
Teve embasamento teórico acerca da fitoterapia? | ||
Sim | 16 | 15,2 |
Não | 88 | 83,8 |
Não informado | 1 | 1,0 |
Em que momento recebeu embasamento teórico acerca da fitoterapia? (n=16) | ||
Graduação | 8 | 50,0 |
Atualização / Aperfeiçoamento | 2 | 37,5 |
Especialização / Mestrado | 6 | 12,5 |
Considera viável a inserção do fitoterápico no tratamento auxiliar ou principal de patologias bucais? | ||
Sim | 65 | 61,9 |
Não | 10 | 9,5 |
Prefiro não opinar | 26 | 24,8 |
Não informado | 4 | 3,8 |
Prescreve fitoterápico para seu paciente? | ||
Sim | 13 | 12,4 |
Não | 89 | 84,8 |
Não informado | 3 | 2,8 |
Questiona o paciente durante a consulta se está fazendo uso de fitoterápico no momento? | ||
Sim | 38 | 36,2 |
Não | 63 | 60,0 |
Não informado | 4 | 3,8 |
Quanto aos conhecimentos existentes sobre fitoterápicos e plantas medicinais, os Cirurgiões-Dentistas entrevistados citaram aqueles que prescrevem, assim como o uso terapêutico em Odontologia, sendo a própolis a mais citada (Tabela 3). Quanto à opinião sobre os fatores que dificultam a inserção dos fitoterápicos no âmbito da Odontologia, os mais citados foram desconhecimento, ausência de pesquisas e falta de divulgação (Tabela 4).
Tabela 3 Fitoterápicos/plantas medicinais citados para o uso odontológico e indicação terapêutica. Cirurgiões-Dentistas de Anápolis-GO, 2011. (N=13)
Fitoterápico / planta medicinal | Número de citações | Indicação terapêutica |
---|---|---|
Própolis | 05 | Úlcera traumática / afta |
Ação anti-inflamatória | ||
Folha de Batata (Ipomoea batatas) |
03 | Abcesso dentoalveolar |
Ação anti-inflamatória | ||
Periodontia | ||
Maracujá (Passiflora edulis) |
03 | Pré-operatório / ansiedade |
Camomila (Matricaria chamomilla) |
02 | Sintomas da 1.ª dentição |
Pré-operatório / ansiedade | ||
Folha de Goiabeira (Psidium guajavaL.) | 02 | Abcesso dentoalveolar |
Ação anti-inflamatória | ||
Periodontia | ||
Arruda (Ruta graveolens) |
01 | Periodontia |
Romã (Punica granatum) |
01 | Ação anti-inflamatória |
Ação cicatrizante | ||
Folha de Algodão (Gossypium hirsutum L.) |
01 | Ação anti-inflamatória |
Ação Cicatrizante | ||
Unha-de-gato (Uncaria tomentosa) |
01 | Herpes |
Transagem (Plantago major L.) |
01 | Úlcera traumática / afta |
Infecção |
Tabela 4 Fatores que dificultam a inserção dos fitoterápicos na prática odontológica. Cirurgiões-Dentistas de Anápolis-GO, 2011. (N=105)
Fatores | Número de citaçõesa |
---|---|
Desconhecimento sobre o fitoterápico e/ou plantas medicinais | 59 |
Ausência de pesquisas sobre o fitoterápico e/ou plantas medicinais | 18 |
Falta de divulgação sobre o fitoterápico e/ou plantas medicinais | 12 |
Falta de aceitação por parte dos pacientes | 5 |
Falta de aceitação por parte dos profissionais | 3 |
Não acredita nos resultados do fitoterápico e/ou plantas medicinais | 2 |
Não vê dificuldades em prescrever | 2 |
Tempo de resposta é lento | 2 |
Contra os interesses da indústria farmacêutica alopática | 1 |
SUS não disponibiliza | 1 |
aMais de uma resposta.
Quanto ao conhecimento da legislação sobre o tema, mais da metade dos respondentes (58,1%) alegou desconhecimento sobre a Resolução do CFO 82/2008. Um percentual mais elevado de participantes (72,4%) também alegou desconhecimento acerca da Portaria do MS/GM nº 971/2006 (Tabela 5). Os resultados das comparações entre os grupos mostraram que o relato desta prática foi mais frequente entre aqueles que conheciam a legislação a respeito da fitoterapia (p<0,05).
Tabela 5 Associação entre prescrição de fitoterápico
Variáveis | Total | Prescreve fitoterápico | pa | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Sim | Não | ||||||
n | % | n | % | n | % | ||
Conhece a Resolução CFO 82/2008b | |||||||
Sim | 38 | 36,2 | 9 | 25,0 | 27 | 75,0 | 0,015 |
Não | 61 | 58,1 | 4 | 6,7 | 56 | 93,3 | |
Não Informado | 6 | 5,7 | |||||
Conhece a Portaria MS/GM nº 971/2006c | |||||||
Sim | 24 | 22,9 | 7 | 31,8 | 15 | 68,2 | 0,009 |
Não | 76 | 72,4 | 6 | 8,0 | 69 | 92,0 | |
Não informado | 5 | 4,8 |
aTeste Exato de Fisher
bResolução do Conselho Federal de Odontologia que reconhece e regulamenta o uso de práticas integrativas e complementares à saúde bucal, pelo Cirurgião-Dentista
cPortaria do Ministério da Saúde que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, na qual estão inseridas as plantas medicinais e os fitoterápicos.
DISCUSSÃO
O presente estudo buscou investigar os conhecimentos, atitudes e práticas do Cirurgião-Dentista frente à fitoterapia na prática clínica. Os principais achados indicam que a maioria dos Cirurgiões-Dentistas pesquisados não teve embasamento teórico sobre fitoterapia na sua formação profissional, sendo poucos os que declararam fazer uso do fitoterápico ou de planta medicinal na sua prática profissional. Porém, se mostram receptíveis à utilização desta terapia ao considerarem viável a inserção da fitoterapia no tratamento auxiliar ou principal de patologias bucais. No entanto, os Cirurgiões-Dentistas parecem não estar seguros para agregar à sua prática clínica os fitoterápicos, sendo o desconhecimento o principal motivo de tal insegurança.
O fato de não ser abordado o uso do fitoterápico e de plantas medicinais na Graduação do Curso de Odontologia, nas especializações e também na educação continuada dos serviços de saúde locais, também foi identificado por Lima Júnior, Dimenstein14. Este resultado era esperado, em função da data da realização daquela pesquisa, que precede a Portaria MS 971/2006 e a Resolução CFO 82/2008. Contudo, a pequena porcentagem de entrevistados que citaram a abordagem do tema na Graduação e na Pós-Graduação no presente estudo é preocupante, uma vez que, no momento da coleta dos dados, já existiam políticas públicas de saúde referentes a esta prática.
Pesquisas que investigaram profissionais da Estratégia Saúde da Família encontraram resultados semelhantes no que se refere ao fato de estes não terem tido contato com a fitoterapia em sua formação acadêmica7 , 10. O fato de poucos profissionais da saúde bucal terem relatado prescrever fitoterápico ou plantas medicinais para seus pacientes e o desconhecimento como a principal justificativa apresentada pelos Cirurgiões-Dentistas para não prescrever já foram descritos na literatura14 , 17.
O desconhecimento sobre o tema pode justificar também o fato de os profissionais não questionarem seus pacientes, durante a consulta, se estão fazendo uso de fitoterápico no momento. Este achado é preocupante, uma vez que pesquisas têm confirmado que o uso do fitoterápico e de plantas medicinais por parte da população é comum9 , 14 , 18 - 21. Nesse sentido, pode haver interações medicamentosas e reações adversas advindas do uso incorreto ou indiscriminado, ou ainda, de fonte duvidosa9 , 22 , 23.
Fazendo-se uma comparação entre os fitoterápicos / plantas medicinais citados pelos Cirurgiões-Dentistas entrevistados e aqueles que a literatura descreve como utilizados por profissionais da saúde, podem-se identificar o Maracujá (Passiflora edulis), utilizado como efeito calmante4 , 17; a Romã (Punica granatum), utilizada como efeito antimicrobiano4 , 14 , 18; a Folha de Batata (Ipomoea batatas), utilizada para dor, inflamação, infecção e edema19; a Transagem (Plantago major L.), utilizada para dor, edema e inflamação19; a Folha de Algodão (Gossypium hirsutum L.), utilizada para infecção e dor19, e a Camomila (Matricaria chamomilla), utilizada para dor19 e ansiolítico17.
Em estudo realizado no Brasil, 90% da população entrevistada afirmou fazer uso regular de plantas para a cura de seus males, sendo que somente 4,2% afirmaram ser por indicação de profissionais da área de saúde9. Esse fato alerta para a necessidade de o profissional da saúde estar inteirado do assunto. Outros estudos também identificaram que a maior fonte de informação sobre o uso dos fitoterápicos não tem sido os profissionais da saúde e sim parentes, amigos, vizinhos e usuários do SUS7 , 10.
Em estudos que abordaram acadêmicos da área de saúde, foi identificada uma boa aceitação sobre o uso do fitoterápico. Os autores acreditam que a inclusão de disciplinas sobre práticas não convencionais em saúde cumpriria o papel da academia de fomentar discussões para a formação de opinião e de promover a capacitação profissional24.
Há também evidência de que a maioria dos profissionais da Estratégia Saúde da Família não teve contato com política, programa ou normatização relacionada à fitoterapia7. No presente estudo, o conhecimento da legislação (Portaria MS/GM nº 971/2006 ou a Resolução CFO 82/2008) foi mais frequente entre os profissionais que prescreviam fitoterápicos na prática clínica, indicando que esta pode ser uma estratégia importante para a inserção desta terapia na Odontologia. Contudo, para que os profissionais se sintam seguros para atuar com as práticas integrativas e complementares, outras medidas são necessárias, como a inclusão curricular do tema na Graduação, a ampliação dos cursos de especialização, a disponibilização via Sistema Único de Saúde e a educação continuada e permanente para os profissionais que se encontram no serviço. Além disso, é fundamental envolver a comunidade, via controle social, num debate amplo sobre as reais possibilidades, os benefícios e os riscos no uso do fitoterápico e de plantas medicinais5.
Observa-se uma movimentação, por parte de alguns atores sociais, no sentido de articular políticas facilitadoras para a ampliação do acesso da população a condições que promovam a qualidade de vida. Um exemplo disso foi a publicação, pelo Ministério da Saúde, da Portaria nº 2.846, de 26 de novembro de 2013, referente a recursos financeiros como apoio à estruturação e ao fortalecimento da assistência farmacêutica em plantas medicinais e fitoterápicos25.
Sendo a fitoterapia uma questão de grande importância nas práticas de saúde nos dias atuais, verifica-se que há poucos estudos semelhantes na literatura direcionados para o profissional Cirurgião-Dentista. O presente estudo é o primeiro realizado no Brasil após o surgimento de políticas públicas que incentivam e permitem ao Cirurgião-Dentista a utilização desta prática integrativa e complementar; porém, os resultados devem ser avaliados com cautela em função das limitações do estudo. Assim como nos estudos anteriores, a amostragem foi por conveniência, o que limita a possibilidade de generalização dos resultados. Outra limitação deste estudo foi o tamanho reduzido da amostra, que não possibilitou análises estatísticas mais complexas. Torna-se, então, necessário confirmar os resultados encontrados em estudos em outros locais.
Os resultados do presente estudo mostram a necessidade de reorientação da formação acadêmica e atualização dos profissionais, de forma a melhorar o seu nível de informação e qualificação para o emprego da fitoterapia em Odontologia, em sintonia com o que é preconizado nas atuais políticas de saúde. A mudança de um paradigma é sempre difícil e esta responsabilidade não cabe unicamente ao poder público, mas deve envolver profissionais da saúde, gestores, academia, indústrias e a população, por meio das instâncias de participação social numa construção coletiva, no intuito de buscar caminhos que possibilitem, acima de tudo, mais saúde.
CONCLUSÃO
Concluiu-se que os Cirurgiões-Dentistas pesquisados apresentaram deficiências no conhecimento e pouca utilização da fitoterapia na prática clínica, porém possuem atitudes favoráveis acerca do seu uso. Para que haja suporte apropriado para esta utilização, é necessária uma reorientação na formação acadêmica e profissional.