INTRODUÇÃO
O Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, vem passando, ao longo dos anos, por uma modificação no seu perfil epidemiológico; tais mudanças são decorrentes do declínio de doenças infecciosas e do aumento das doenças crônicas1. As doenças crônicas não transmissíveis apresentam, entre seus principais fatores de risco, os hábitos tabagista e etilista2,3. Em todo o mundo, o consumo de substâncias psicoativas está aumentando a cada dia, sendo os hábitos etilistas e tabagistas importantes problemas de saúde pública, estando associados à ocorrência de inúmeras doenças e distúrbios4,5. Dentro desse contexto e considerando-se o fato de que a saúde bucal é parte integrante da saúde geral6, sabe-se que os hábitos tabagistas e etilistas podem se configurar como potenciais fatores de risco para a ocorrência de agravos bucais, entre os quais, a doença periodontal7, as lesões cancerizáveis8,9 e o câncer bucal10.
As desordens bucais, bem como suas sequelas, são de grande frequência na clínica estomatológica, podendo representar graves consequências sociais e econômicas. As variações da normalidade, bem como as lesões da mucosa bucal, exercem e sofrem a influência da saúde geral do indivíduo11, assim como de seus hábitos. O diagnóstico da grande variedade de lesões que ocorrem na cavidade bucal é fundamental para a prática odontológica12. Desta forma, o exame clínico criterioso aliado à realização de exames complementares, o conhecimento fundamentado do profissional e a criteriosa anamnese têm permitido diagnosticar lesões que acometem a cavidade bucal de forma mais frequente e precisa13. Ao saber da influência de hábitos nocivos à saúde, na ocorrência de lesões bucais7-10, deve-se conhecer a prevalência dos mesmos, assim como possíveis fatores associados. Desta forma, permite-se o planejamento de tratamentos adequados e implementação de estratégias de prevenção, individualizando as ações de acordo com as peculiaridades daquele grupo estudado.
Nesse contexto, o presente estudo propõe-se a identificar a prevalência dos hábitos tabagistas e etilistas entre pacientes diagnosticados com lesões bucais, assim como possíveis fatores associados.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo analítico, de caráter retrospectivo, entre pacientes assistidos pela Clínica de Diagnóstico Bucal do Departamento de Odontologia das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE/SOEBRAS), na cidade de Montes Claros-MG, Brasil. Foram analisados os prontuários odontológicos e laudos histopatológicos dos pacientes que realizaram o procedimento de biópsia entre fevereiro de 2010 a julho de 2012.
Os dados foram coletados por dois acadêmicos do Curso de Odontologia da referida instituição, sendo devidamente anotados em planilha apropriada. Para obtenção das informações necessárias, foram consultados os prontuários clínicos dos pacientes, as requisições de exames e os laudos histopatológicos.
No presente estudo, foram incluídos todos os pacientes que continham, em seus prontuários, informações referentes aos hábitos tabagista e etilista, na seção “hábitos e vícios” do prontuário. As variáveis dependentes – hábitos nocivos à saúde – foram construídas pelas informações referentes aos hábitos tabagistas e etilistas então atuais ou passados (Ausente, Presente), constantes nos prontuários odontológicos.
Além disso, os pacientes foram caracterizados quanto aos seguintes aspectos: condições sociodemográficas (sexo, faixa etária, raça); condições sistêmicas (presença de doença sistêmica, uso de medicação contínua), e caracterização das lesões bucais (localização, tempo de ocorrência, tipo de biópsia realizada e diagnóstico histopatológico).
Os diagnósticos histopatológicos foram classificados e agrupados de acordo com os parâmetros preconizados por Neville, Damm14.
Para análise dos dados, foi utilizado o programa estatístico Statiscal Package Social Sciences (SPSS) versão 19.0. Foram conduzidas análises descritivas das variáveis investigadas com valores absolutos (n) e porcentagens (%). A normalidade da amostra foi investigada pelo teste Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk (p<0,05). Em seguida, foram conduzidas análises univariadas pelo teste qui-quadrado de Pearson, com intuito de identificar as variáveis estatisticamente significantes (p≤0,05), associadas aos hábitos tabagista e etilista.
Este estudo foi conduzido de acordo com os preceitos determinados pela resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE/SOEBRAS), sob o parecer n. 152.952.
RESULTADO
Dos 125 pacientes atendidos no período de avaliação e que tiveram seus prontuários analisados, 110 atenderam aos critérios de inclusão deste estudo. A presença de hábitos tabagistas e etilistas então atuais ou passados foi identificada em 42 (38,2%) e 21 (19,1%) pacientes, respectivamente. A média de idade dos pacientes foi de 49,4 anos (desvio padrão=18,11), sendo a maioria do sexo feminino e leucoderma, além de possuir doença crônica (Tabela 1).
Tabela 1 Caracterização dos pacientes quanto aos hábitos nocivos à saúde, condições sociodemográficas e sistêmicas, 2010-2012 (n=110)
Variáveis | n | % |
---|---|---|
HÁBITOS NOCIVOS À SAÚDE | ||
Hábito tabagista atual ou passado | ||
Ausente | 68 | 61,8 |
Presente | 42 | 38,2 |
Habito etilista atual ou passado | ||
Ausente | 89 | 80,9 |
Presente | 21 | 19,1 |
CONDIÇÕES SOCIODEMOGRÁFICAS | ||
Sexo | ||
Feminino | 64 | 58,2 |
Masculino | 46 | 41,8 |
Faixa etária | ||
5 a 20 anos | 9 | 8,2 |
21 a 39 anos | 20 | 18,2 |
40 a 59 anos | 50 | 45,5 |
60 a 89 anos | 31 | 28,2 |
Raça* | ||
Melanoderma | 31 | 30,7 |
Faioderma | 33 | 32,7 |
Leucoderma | 37 | 36,6 |
CONDIÇÕES SISTÊMICAS | ||
Presença de doença sistêmica | ||
Sim | 76 | 69,1 |
Não | 34 | |
Uso de medicação contínua | ||
Sim | 50 | 45,5 |
Não | 60 | 54,5 |
*Variação no (n).
O lábio foi o principal local de ocorrência das lesões bucais (25,5%). Os processos proliferativos não neoplásicos foram os diagnósticos histopatológicos mais prevalentes entre os pacientes investigados (Tabela 2).
Tabela 2 Caracterização das lesões bucais diagnosticadas nos pacientes investigados, 2010-2012 (n=110)
Variáveis | n | % |
---|---|---|
Localização da lesão | ||
Lábio | 28 | 25,5 |
Mucosa jugal | 20 | 18,2 |
Gengiva | 3 | 2,7 |
Fundo de sulco | 8 | 7,3 |
Rebordo alveolar | 12 | 10,9 |
Língua | 12 | 10,9 |
Orofaringe | 1 | 0,9 |
Palato | 7 | 6,4 |
Envolvendo elemento dental | 4 | 3,6 |
Mandíbula | 6 | 5,5 |
Soalho bucal | 2 | 1,8 |
Trígono retromolar | 2 | 1,8 |
Abrangendo mais de uma região | 5 | 4,5 |
Tempo de ocorrência da lesão* | ||
5 a 30 dias | 6 | 8,2 |
1 a 6 meses | 29 | 39,7 |
7 a 12 meses | 3 | 4,1 |
1 a 5 anos | 27 | 37,0 |
6 anos ou mais | 4 | 5,5 |
Não soube informar | 4 | 5,5 |
Diagnóstico histopatológico* | ||
Processos Proliferativos não Neoplásicos | 36 | 33,3 |
Lesões cancerizáveis | 19 | 17,6 |
Doenças autoimunes | 9 | 8,3 |
Neoplasias Mesenquimais Benignas | 2 | 1,9 |
Neoplasias Epiteliais Malignas | 12 | 11,1 |
Doenças de glândulas salivares | 9 | 8,3 |
Lesões Pigmentares da mucosa bucal | 2 | 1,9 |
Neoplasias Epiteliais Benignas | 5 | 4,6 |
Cistos Odontogênicos | 5 | 4,6 |
Lesões fibro-ósseas dos maxilares | 4 | 3,7 |
Tumores Odontogênicos | 2 | 1,9 |
Cistos de desenvolvimento não odontogênicos | 2 | 1,9 |
Parasitose Bucal | 1 | 0,9 |
Tipo de biópsia realizada* | ||
Biópsia incisional | 52 | 50,0 |
Biópsia excisional | 52 | 50,0 |
*Variação no (n).
Na análise univariada, as variáveis estatisticamente significantes (p≤0,05), associadas ao hábito tabagista, foram: sexo (p=0,000), faixa etária (p=0,012), tipo de biópsia (p=0,000) e diagnóstico histopatológico (p=0,000). Quanto ao hábito etilista, as variáveis foram: sexo (p=0,010) e tipo de biópsia (p=0,047) (Tabela 3).
Tabela 3 Análise univariada da relação entre os hábitos nocivos à saúde e demais variáveis (n=110)
Variáveis
|
Hábito tabagista
|
|
Habito etilista
|
|
||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Não | Sim | Não | Sim | |||||||
CONDIÇÕES SOCIODEMOGRÁFICAS | % | p | % | p | ||||||
Sexo | ||||||||||
Feminino | 81,3 | 18,8 | 89,1 | 10,9 | ||||||
Masculino | 34,8 | 65,2 | 0,000 | 69,6 | 30,4 | 0,010 | ||||
Faixa etária | ||||||||||
5 a 20 anos | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
21 a 39 anos | 80,0 | 20,0 | 85,0 | 15,0 | ||||||
40 a 59 anos | 52,0 | 48,0 | 74,0 | 26,0 | ||||||
60 a 89 anos | 54,8 | 45,2 | 0,012 | 83,9 | 16,1 | 0,255 | ||||
Raça* | ||||||||||
Melanoderma | 51,6 | 48,4 | 74,2 | 25,8 | ||||||
Faioderma | 60,6 | 39,4 | 84,8 | 15,2 | ||||||
Leucoderma | 64,9 | 35,1 | 0,533 | 81,1 | 18,9 | 0,557 | ||||
CONDIÇÕES SISTÊMICAS | ||||||||||
Presença de doença sistêmica | ||||||||||
Sim | 57,9 | 42,1 | 80,3 | 19,7 | ||||||
Não | 70,6 | 29,4 | 0,205 | 82,4 | 17,6 | 0,797 | ||||
Uso de medicação contínua | ||||||||||
Sim | 54,0 | 46,0 | 76,0 | 24,0 | ||||||
Não | 68,3 | 31,7 | 0,123 | 85,0 | 15,0 | 0,232 | ||||
LESÕES BUCAIS | ||||||||||
Localização da lesão | ||||||||||
Lábio | 67,9 | 32,1 | 85,7 | 14,3 | ||||||
Mucosa jugal | 70,0 | 30,0 | 80,0 | 20,0 | ||||||
Gengiva | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Fundo de sulco | 75,0 | 25,0 | 87,5 | 12,5 | ||||||
Rebordo alveolar | 41,7 | 58,3 | 75,0 | 25,0 | ||||||
Língua | 66,7 | 33,3 | 0,081 | 75,0 | 25,0 | 0,395 | ||||
Orofaringe | 0,0 | 100,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Palato | 71,4 | 28,6 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Envolvendo elemento dental | 75,0 | 25,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Mandíbula | 66,7 | 33,3 | 66,7 | 33,3 | ||||||
Soalho bucal | 50,0 | 50,0 | 50,0 | 50,0 | ||||||
Trígono retromolar | 0,0 | 100,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Abrangendo mais de uma região | 0,0 | 100,0 | 40,0 | 60,0 | ||||||
Tempo de ocorrência da lesão* | ||||||||||
5 a 30 dias | 66,7 | 33,3 | 83,3 | 16,7 | ||||||
1 a 6 meses | 55,2 | 44,8 | 72,4 | 27,6 | ||||||
7 a 12 meses | 66,7 | 33,3 | 0,921 | 66,7 | 33,3 | 0,682 | ||||
1 a 5 anos | 66,7 | 33,3 | 77,8 | 22,2 | ||||||
6 anos ou mais | 50,0 | 50,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Não soube informar | 75,0 | 25,0 | ||||||||
Diagnóstico histopatológico* | ||||||||||
Processos Proliferativos não neoplásicos | 83,3 | 16,7 | 86,1 | 13,9 | ||||||
Lesões cancerizáveis | 21,1 | 78,9 | 73,7 | 26,3 | ||||||
Doenças autoimunes | 66,7 | 33,3 | 77,8 | 22,2 | ||||||
Neoplasias Mesenquimais Benignas | 50,0 | 50,0 | 50,0 | 50,0 | ||||||
Neoplasias Epiteliais Malignas | 25,0 | 75,0 | 50,0 | 50,0 | ||||||
Doenças de glândulas salivares | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Lesões Pigmentares da mucosa bucal | 100,0 | 0,0 | 0,000 | 100,0 | 0,0 | 0,173 | ||||
Neoplasias Epiteliais Benignas | 40,0 | 60,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Cistos Odontogênicos | 80,0 | 20,0 | 80,0 | 20,0 | ||||||
Lesões fibro-ósseas dos maxilares | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Tumores Odontogênicos | 50,0 | 50,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Cistos de desenvolvimento não odontogênicos | 50,0 | 50,0 | 50,0 | 50,0 | ||||||
Parasitose Bucal | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | ||||||
Tipo de biópsia realizada* | ||||||||||
Biópsia incisional | 42,3 | 57,7 | 73,1 | 26,9 | ||||||
Biópsia excisional | 78,8 | 21,2 | 0,000 | 88,5 | 11,5 | 0,047 |
*Variação no (n).
DISCUSSÃO
O aumento no número de indivíduos tabagistas e etilistas é um fenômeno mundial que tem transcendido a categoria de “problema de saúde”. No presente estudo, uma parcela considerável dos pacientes investigados possuía hábitos tabagistas e etilistas então atuais ou passados. A presença de tais hábitos entre indivíduos com lesões bucais foi identificada, em estudos prévios, entre pacientes portadores de paracoccidioidomicose, sendo os hábitos etilista e tabagista relatados por 45,9% dos pacientes15; e entre pacientes com carcinoma de células escamosas de boca, os hábitos etilista (74%) e tabagista (76,8%) foram identificados na maioria dos investigados16. As diferenças entre a prevalência desses hábitos em estudos distintos podem ser explicadas pela diversidade sociocultural do Brasil. A presença de hábitos tabagista e etilista entre indivíduos com lesões bucais é preocupante, uma vez que estes hábitos se configuram como importantes fatores de risco à ocorrência do câncer de boca10, além de outras desordens de ordem sistêmica.
O tabaco promove mudanças efetivas em células da mucosa bucal, mesmo na ausência de exposição ao fumo17, podendo apresentar ação carcinogênica. Já o consumo excessivo de álcool facilita a penetração de carcinógenos na mucosa bucal18, por meio da solubilização de agentes genotóxicos e pelo aumento da permeabilidade da mucosa na presença do álcool19. Estudo prévio realizado entre 388 alcoólicos revelou que o usuário de álcool geralmente consome mais de um tipo de bebida diariamente e, após um exame intrabucal destes indivíduos, foram identificadas 227 lesões na mucosa bucal em 50% desses pacientes. Entre as várias lesões observadas, foram diagnosticados três casos de leucoplasia e um paciente com carcinoma bucal20.
O sexo dos pacientes investigados manteve-se estatisticamente associado aos hábitos tabagista e etilista, sendo a frequência de ambos os hábitos maiores entre homens. Resultado similar foi identificado no relatório brasileiro sobre drogas21 e em estudos nacionais e internacionais22,23. Tradicionalmente, por questões sociais e comportamentais, os homens estão mais expostos à adoção de hábitos nocivos a saúde do que as mulheres. Contudo, especificamente sobre o uso de álcool, tem sido observado um estreitamento entre os sexos quanto às antigas diferenças do número de doses alcoólicas consumidas, da frequência de episódios de binge drinking (consumo de várias bebidas alcoólicas numa só ocasião), da prevalência de transtornos de uso de álcool e da taxa de abstinência24.
No que diz respeito à faixa etária, a mesma foi estatisticamente associada ao hábito tabagista, sendo a frequência desse hábito maior entre pacientes com 40 a 59 anos de idade. Menor frequência de uso de tabaco entre indivíduos mais jovens, no presente estudo, corrobora com os dados do Instituto Nacional do Câncer, que apontam expressiva redução desse hábito entre jovens brasileiros nos últimos anos25, possivelmente pela maciça contrapropaganda a este uso. Acredita-se que a relação entre faixa etária e maior prevalência de hábito tabagista, da maioria dos pacientes investigados, pode indicar uma possível influência deste hábito como fator de risco para a ocorrência de lesões bucais. Além disso, sabe-se que o hábito tabagista, assim como desordens bucais, podem impactar negativamente na qualidade de vida de indivíduos mais velhos26, salientando as consequências da relação entre hábitos nocivos à saúde e lesões bucais na vida diária dos indivíduos.
A relação entre o diagnóstico histopatológico e o hábito tabagista foi estatisticamente significante, uma relação esperada, já que o tabaco é reconhecidamente um fator de risco para a ocorrência de agravos bucais8,10. Ressalta-se ainda que as lesões mais frequentes entre os fumantes foram as lesões cancerizáveis, um fato preocupante, visto que o tabaco é um dos principais fatores de risco para a ocorrência do câncer bucal10.
O risco de desenvolvimento de câncer em indivíduos que fumam cigarros industrializados é 6,3 vezes maior do que em não usuários de tabaco27. Em relação ao uso de álcool, os indivíduos que consomem diariamente mais de seis doses de bebida, com elevados teores de álcool, apresentam probabilidade dez vezes maior de desenvolverem o câncer bucal quando comparados com indivíduos que não consomem bebida alcoólica28. O sinergismo entre o álcool e o tabaco eleva, em média, 100 vezes a probabilidade de desenvolvimento do câncer bucal29.
O tipo de biópsia associou-se estatisticamente aos hábitos tabagista e etilista, sendo que os pacientes que realizaram biópsia incisional apresentaram maior prevalência desses hábitos. Sabe-se que biópsias incisionais podem ser inicialmente indicadas para lesões extensas, de difícil acesso ou em doenças cujo tratamento não é apenas cirúrgico30. A utilização da mesma pode estar relacionada à presença de lesões nas quais hábitos etilistas e tabagistas atuam como importantes fatores de risco, tais como lesões cancerizáveis e neoplasias malignas. Ressalta-se, ainda, que a indicação de exames complementares, como a biópsia, deve ser baseada nos dados colhidos no exame clínico do paciente31.
Os aspectos metodológicos empregados na presente investigação propiciaram identificar uma relevante prevalência de hábitos nocivos à saúde entre pacientes diagnosticados com lesões bucais. Dentre as limitações do presente estudo, destaca-se a impossibilidade de estabelecimento de relações de causa e efeito entre as associações identificadas, devido ao caráter transversal dos dados. Apesar disso, os achados aqui discutidos possibilitarão uma melhor compreensão da presença dos hábitos investigados entre pacientes acometidos por agravos bucais. Desta forma, subsidiarão a criação e a implementação de políticas que visem à prevenção e ao controle destes hábitos, e, consequentemente, da ocorrência de lesões bucais.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados apresentados neste estudo, percebe-se que os hábitos tabagistas e etilistas estiveram ou permaneceram presentes na vida de uma parcela significativa dos indivíduos investigados que desenvolveram lesões bucais. Mostra-se, ainda, relevante o sinergismo de ambos no desenvolvimento de tais lesões. Estes resultados reforçam a necessidade de mais pesquisas com o intuito de esclarecer a relação causa-efeito entre a existência dos hábitos e o risco das lesões, especialmente as cancerizáveis.