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O impacto do isolamento social no ensino a distância em cursos da área de saúde

The impact of social isolation on distance learning in healthcare courses

Resumo

Introdução

O conceito de qualidade de vida é multidimensional, apresenta uma organização complexa e dinâmica dos seus componentes, difere de pessoa para pessoa de acordo com seu ambiente/contexto e mesmo entre duas pessoas inseridas em um contexto similar. Em dezembro de 2019 surgiu na China uma epidemia pelo coronavírus, surgindo a necessidade de mudanças, incluindo isolamento social e ensino a distância.

Objetivo

Avaliar o impacto do isolamento social e ensino a distância na qualidade de vida dos graduandos da área da saúde da Universidade Federal de Sergipe.

Material e método

Foi aplicado aos estudantes de graduação da área de saúde da Universidade Federal de Sergipe, no período de janeiro de 2021, o questionário de qualidade de vida, Short-Form Health Survey. O questionário foi aplicado via o sistema online.

Resultado

Foram aplicados 678 questionários, sendo 672 concordando em participar do estudo. Dos estudantes avaliados, 58% eram do sexo feminino e 50% com idade de 21 a 25 anos. Ao se analisar o questionário, verifica-se que para capacidade funcional os valores variaram de 80 a 89, ou seja, com bom escore de qualidade de vida. Os aspectos emocionais apresentaram os menores escores e 21 a 37,3, sendo o pior resultado encontrado nos estudantes do curso de fonoaudiologia. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os diferentes cursos de saúde estudados.

Conclusão

Verifica-se que o aspecto emocional tem sido o mais afetado entre os estudantes de saúde da Universidade Federal de Sergipe.

Descritores:
Qualidade de vida; saúde mental; avaliação educacional; universidades

Abstract

Introduction

The concept of quality of life is multidimensional, presents a complex and dynamic organization of its components, and differs from person to person according to the environment/context and even between two people in a similar context. In December 2019, a Coronavirus epidemic emerged in China, aiming to make some changes, including social isolation and distance learning.

Objective

Evaluate the impact of social isolation and distance learning on the quality of life of undergraduates in the health area at the Federal University of Sergipe.

Material and method

The quality of life questionnaire, Short-Form Health Survey, was applied to undergraduate students in the health area at the Federal University of Sergipe in January 2021. The questionnaire was applied online.

Result

678 questionnaires were applied, with 672 agreeing to participate in the study. According to the evaluated students, 58% were female and 50% were aged from 21 to 25 years. When analyzing the questionnaire, it appears that the values ​​ranged from 80 to 89 for functional capacity, with a good quality of life score. Emotional aspects had the lowest scores from 21 to 37.3, the worst result in speech therapy students. There was no statistically significant difference between the different health courses studied.

Conclusion

It appears that the emotional aspect has been the most affected among health students at the Federal University of Sergipe.

Descriptors:
Quality of life; mental health; educational assessment; universities.

INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019 surgiram casos de pneumonia de etiologia desconhecida na China, e o patógeno foi classificado como betacoronavírus e denominado atualmente de coronavírus-2 associado à síndrome respiratória aguda grave - SARS-CoV-211 Dias VMCH, Carneiro M, Vidal CFL, Corradi MFDB, Brandão D, Cunha CA, et al. Orientações sobre diagnóstico, tratamento e isolamento de pacientes com Covid-19. J Infect Control. 2020 Abr-Jun;9(2):1-20.. A partir desse período, a doença foi se disseminando por todo o mundo, quando em março de 2020 a Organização Mundial da Saúde declarou o status de pandemia para a Covid-19.

O vírus da Covid-19 é transmitido através de gotículas respiratórias ou em contato direto com objetos contaminados22 Gomes VTS, Rodrigues RO, Gomes RNS, Gomes MS, Viana LVM, Silva FS. A pandemia da Covid-19: repercussões do ensino remoto na formação médica. Rev Bras Educ Med. 2020;44(4):e114. http://dx.doi.org/10.1590/1981-5271v44.4-20200258.
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. A doença ainda não apresenta o risco clínico totalmente definido, não se conhece com exatidão o padrão de transmissibilidade, letalidade e mortalidade33 Lima CKT, Carvalho PMM, Lima IAAS, Nunes JVAO, Saraiva JS, de Souza RI, et al. The emotional impact of Coronavirus 2019-nCoV (new Coronavirus disease). Psychiatry Res. 2020 May;287:112915. http://dx.doi.org/10.1016/j.psychres.2020.112915. PMid:32199182.
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.

Diante disso, o isolamento social se fez necessário, acarretando muitas mudanças na vida das pessoas, entre elas a rotina dos estudantes, que passaram a ter aulas remotamente44 Brooks SK, Webster RK, Smith LE, Woodland L, Wessely S, Greenberg N, et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet. 2020 Mar;395(10227):912-20. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30460-8. PMid:32112714.
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. Assim, os estudantes precisaram se adaptar de forma rápida a uma nova realidade.

O ensino a distância apresenta alguns desafios a serem vencidos, como problemas com a internet, ambiente de estudo e dificuldades com as plataformas online. Diante disso, a qualidade do aprendizado pode não ser equivalente entre alunos de uma mesma turma, pois cada aluno possui uma realidade de vida diferente55 Dosea GS, Rosário WES, Silva EA, Firmino LR, Oliveira AMS. Métodos ativos de aprendizagem no ensino online: a opinião de universitários durante a pandemia de Covid-19. Interfaces Cient Educ. 2020 Sep;10(1):137-48. http://dx.doi.org/10.17564/2316-3828.2020v10n1p137-148.
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As incertezas das notícias fornecidas pela mídia podem gerar ansiedade e medo na população. Devido ao excesso de informações, algumas vezes discordantes, e o rápido avanço da doença, podem ocorrer algumas mudanças comportamentais que podem causar alterações na saúde mental66 Pereira MD, Oliveira LC, Costa CFT, Oliveira CMB, Pereira MD, Santos CKA, et al. A pandemia de Covid-19, o isolamento social, consequências na saúde mental e estratégias de enfrentamento: uma revisão integrativa. Res Soc Dev. 2020 Jun;9(7):e652974548. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i7.4548.
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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. O conceito de qualidade de vida é multidimensional, apresenta uma organização complexa e dinâmica dos seus componentes, difere de pessoa para pessoa de acordo com seu ambiente/contexto e mesmo entre duas pessoas inseridas em um contexto similar77 Chagas NB, Sanches FB, Silva RF, Melo DG, Germano CMR, Avó LRD. Qualidade de vida de estudantes de medicina em um curso que adota metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Rev Bras Educ Med. 2018 Oct-Dec;42(4):96-102. http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v42n4rb20170095.
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,88 The Whoqol Group. The World Health Organization Quality of Life Assessment (WHOQOL): development and general psychometric properties. Soc Sci Med. 1998 Jun;46(12):1569-85. http://dx.doi.org/10.1016/S0277-9536(98)00009-4. PMid:9672396.
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Assim, avaliar a qualidade de vida dos estudantes, principalmente da área de saúde, visto que são os que mais deixaram suas atividades práticas e as aulas remotas não contemplam a totalidade do seu ensino, se torna importante neste momento.

Desta forma, o presente estudo teve por objetivo avaliar o impacto do isolamento social e ensino a distância na qualidade de vida dos estudantes da área da saúde (enfermagem, odontologia, medicina, fisioterapia, fonoaudiologia, educação física) que estudam na Universidade Federal de Sergipe, campus de Aracaju e Lagarto.

METODOLOGIA

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (CAAE: 29893920.7.0000.5546). Todos os voluntários leram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e concordaram em participar do estudo. O questionário online foi enviado via SIGAA (Sistema da Universidade Federal - utilizado pela Universidade Federal de Sergipe) para os alunos dos cursos de enfermagem, odontologia, medicina, fisioterapia, fonoaudiologia e educação física do campus dos municípios de Aracaju e Lagarto.

O questionário aplicado foi o Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36). Esse questionário é um instrumento de avaliação da qualidade de vida que abrange campos variados. As questões envolvem oito componentes: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. A análise dos dados foi realizada conforme orientado pelo próprio instrumento, com escores variando de 0 a 100 para cada componente avaliado, sendo valores próximos de 100 indicando melhores condições.

Foi ainda questionado sobre idade, gênero, local onde reside, período escolar (semestre que está cursando) e renda familiar para caracterizar a amostra pesquisada.

A análise dos dados deu-se de forma descritiva, e ao se comparar os diferentes cursos foi utilizado o teste de normalidade seguido por Kruskal Wallis. O programa utilizado foi o Bioestat 5.0.

RESULTADO

Foram enviados questionários online para alunos dos cursos de odontologia, medicina, enfermagem, fonoaudiologia, educação física e fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe, no campus de Aracaju e Lagarto.

Ao todo foram enviados 687 questionários, sendo que 15 não concordaram em participar do estudo e 672 concordaram em participar. Dos entrevistados, 58% eram do sexo feminino, 50% com idade de 21 a 25 anos, 70% dos alunos residem com a família, seguido de 16% que residem com outros universitários, 91% são solteiros, 93% não têm filhos, 78% não trabalham, 94% possuem computador em casa, 69% têm um espaço em casa em que se sentem confortáveis para estudar, 29% eram do curso de medicina, seguido de 15% da enfermagem, 43% estavam entre o primeiro e o terceiro semestre (Figura 1).

Figura 1
Cursos que participaram do estudo. Sergipe, 2021. Fonte: autoria própria.

Sobre o estado de saúde, 51% dos estudantes a consideravam boa, seguida por 30% que a consideravam muito boa. Ao se questionar como está esse seu estado de saúde se comparado a um ano atrás, 35% responderam que estaria igual a um ano atrás, seguido por 32% que acreditam estar um pouco pior (Tabela 1).

Tabela 1
Escores médios dos domínios avaliados pelo SF-36 em estudantes da área de saúde da Universidade Federal de Sergipe, 2021

Ao se avaliar aspectos do questionário entre os diferentes cursos não foi observada diferença estatisticamente significativas (Kruskal Wallis, p = 0,9).

Verifica-se que os domínios com valores mais elevados se encontram nos aspectos funcionais e na saúde mental, e o pior, nos aspectos emocionais.

DISCUSSÃO

Diante do impacto da pandemia de Covid-19 houve necessidade de adaptação de muitos setores, entre eles o educacional, que passou de aulas presenciais para aulas remotas, mudando estratégias de ensino e aprendizagem. O isolamento social imposto pela pandemia trouxe entre outros inúmeros impactos pessoais, tanto de ordem psicológica, como o estresse, a ansiedade e a depressão99 Maia BR, Dias PC. Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da Covid-19. Estud Psicol (Campinas). 2020;37:200067. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067.
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, quanto de ordem social e física, como o isolamento social e o agravamento de doenças crônicas1010 Torun F, Torun SD. The psychological impact of the Covid-19 pandemic on medical students in Turkey. Pak J Med Sci. 2020 Sep-Oct;36(6):1355-9. http://dx.doi.org/10.12669/pjms.36.6.2985. PMid:32968408.
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,1111 Wang C, Pan R, Wan X, Tan Y, Xu L, Ho CS, et al. Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 coronavirus disease (Covid-19) epidemic among the general population in China. Int J Environ Res Public Health. 2020 Mar;17(5):1729. http://dx.doi.org/10.3390/ijerph17051729. PMid:32155789.
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.

O ensino a distância (remoto) tem sido um dilema vivenciado por professores e estudantes, uma vez que envolvem a continuidade do processo ensino aprendizagem1212 Ramos TH, Pedrolo E, Santana LL, Ziesemer NBS, Haeffner R, Carvalho TP. O impacto da pandemia do novo coronavírus na qualidade de vida de estudantes de enfermagem. R Enferm Cent O Min. 2020;10:e4042. http://dx.doi.org/10.19175/recom.v10i0.4042.
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, além de se considerar que o impacto da pandemia na vida acadêmica se refere às desigualdades vivenciadas pelos estudantes, no desenvolvimento de atividades escolares no ambiente domiciliar, pela distinção nas condições de moradia, de recursos tecnológicos e mesmo de papéis sociais assumidos por homens e mulheres1313 Vommaro P. O mundo em tempos de pandemia: certezas, dilemas e perspectivas. Rev Direito e Práx. 2021 Abr-Jun;12(2):1095-1115. https://doi.org/10.1590/2179-8966/2020/51001.
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.

No presente estudo, avaliou-se por meio do questionário SF 36 a qualidade de vida de estudantes da área de saúde da Universidade Federal de Sergipe, durante as atividades de ensino remoto durante a pandemia.

Dos domínios avaliados, o que apresentou melhor média (80 a 89,9) foram os aspectos funcionais, onde foram analisados aspectos como: correr, levantar objetos pesados, mover uma mesa, passar aspirador de pó, jogar bola, entre outros. Isso pode ser associado ao fato de a pesquisa ser realizada por alunos predominantemente jovens, com 50% da amostra entre 21 e 25 anos de idade. Em outro estudo, onde avaliaram a qualidade de vida de estudantes de enfermagem, o domínio variou de 81 a 91,8, sendo também a média maior do grupo1414 Araujo MAN, Lunardi WD Fo, Leite LRC, Ma RTK, Silva AA, Souza JC. Qualidade de vida de estudantes de enfermagem. Rev Rene. 2014 Nov-Dic;15(6):990-7. http://dx.doi.org/10.15253/2175-6783.2014000600012.
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. Ainda no domínio dos aspectos funcionais, o curso que apresentou a melhor pontuação foi o de educação física, e a pior, o curso de enfermagem. Essa informação demonstra que o conhecimento que os alunos de educação física adquirem, além das práticas que esses estudantes precisam realizar, contribuem de forma direta nas suas atividades diárias, apresentando menor dificuldade para realizá-las.

Nos aspectos físicos, foi avaliado se a saúde física do aluno interferiu em suas atividades diárias, como: se o aluno realizou menos tarefas do que gostaria, se apresentou dificuldade para fazer seu trabalho e outras atividades. A média geral obtida nesse item foi de 55,8, sendo o melhor resultado obtido no curso de medicina (63,5%), e o pior, no de odontologia (49,1%). Esse dado é preocupante, pois a amostra analisada é composta por estudantes jovens, mostrando que desde cedo a saúde física já interfere de forma negativa em suas atividades diárias.

No aspecto de dor, a média obtida foi de 73,3, um valor satisfatório, com o melhor resultado do curso de medicina e o pior fonoaudiologia.

Em relação ao domínio estado de saúde em geral, os dados apresentaram média de 51,3. Neste domínio os alunos responderam perguntas como: eu costumo adoecer um pouco mais fácil que as outras pessoas, eu sou tão saudável quanto outra pessoa que eu conheço, entre outras. O curso de fonoaudiologia apresentou o pior resultado nesse domínio (49,1), e o curso de medicina teve o melhor resultado (54).

No domínio vitalidade, a média envolvendo todos os grupos foi de 46.5, e os alunos responderam questões como: quanto tempo você tem se sentido com muita energia, quanto tempo você tem se sentido esgotado, quanto tempo você tem se sentido cansado. Os alunos do curso de educação física tiveram o melhor resultado e o pior odontologia. Esse resultado demonstra que os alunos se sentem cansados, e esse fato pode ter sido agravado devido às mudanças oriundas do ensino remoto, que exige muito tempo e concentração utilizando atividades no computador.

Os aspectos sociais obtiveram média geral de 52,5; nesse aspecto foi avaliado se a saúde física e emocional interferiu nas atividades sociais do aluno, como visitar amigos e parentes. Visto que estamos vivendo em período de pandemia e quarentena, o resultado desse domínio se encontra em valores médios esperados. O curso de enfermagem apresentou o melhor resultado, e o de odontologia, o pior.

No domínio da saúde mental, o curso que apresentou melhor resultado foi o de fonoaudiologia, e o pior o curso de medicina. Nesse aspecto os alunos responderam perguntas como: quanto tempo se sentiam nervosos, quanto tempo se sentiam tão deprimidos que nada poderia animá-los, quanto tempo se sentiam calmos ou tranquilos, quanto tempo se sentiam desanimados ou abatidos e quanto tempo se sentiam felizes.

O domínio que apresentou o pior resultado foi o aspecto emocional, com média geral de 29,2. Nesse aspecto foi avaliado se o estudante diminuiu o tempo em que se dedicava as suas tarefas e trabalho, se não realizou suas tarefas com tanto cuidado como gostaria, por conta de problemas emocionais como ansiedade e depressão.

No estudo de Araujo et al.1414 Araujo MAN, Lunardi WD Fo, Leite LRC, Ma RTK, Silva AA, Souza JC. Qualidade de vida de estudantes de enfermagem. Rev Rene. 2014 Nov-Dic;15(6):990-7. http://dx.doi.org/10.15253/2175-6783.2014000600012.
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em que avaliaram qualidade de vida em estudantes de enfermagem, os autores encontraram pior escore no domínio aspecto emocional com média de 29,32 em alunos do terceiro ano. Os autores ainda compararam os domínios em relação ao sexo, sendo encontrado na maioria dos escores menores valores para o sexo feminino.

No presente estudo, o escore do aspecto emocional apresenta-se bastante insatisfatório e pode ser relacionado ao isolamento social, pois os alunos continuaram seus estudos de forma remota e com distanciamento social. Afinal, é verificado sentimento de angústia e isolamento social de universitários da área da saúde durante a pandemia de Covid-191515 Ishida JS, Stefano SR, Andrade SM. Avaliação da satisfação no ensino de pós à distância: a visão dos tutores e alunos do PNAP/UAB. Avaliação (Campinas). 2013 Nov;18(3):749-72. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-40772013000300012.
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, sendo ainda observado que os alunos se encontram preocupados principalmente com os aspectos financeiros, emocionais e na formação educacional.

Durante o período da pandemia, Dosea et al.55 Dosea GS, Rosário WES, Silva EA, Firmino LR, Oliveira AMS. Métodos ativos de aprendizagem no ensino online: a opinião de universitários durante a pandemia de Covid-19. Interfaces Cient Educ. 2020 Sep;10(1):137-48. http://dx.doi.org/10.17564/2316-3828.2020v10n1p137-148.
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observaram que 85% dos alunos do curso de fisioterapia, durante o ensino online, consideraram que essa modalidade de ensino foi relevante, porém encontraram algumas dificuldades, como problemas com a internet, ambiente de estudo e dificuldades com a plataforma online.

Essa dificuldade pode interferir principalmente nos aspectos emocionais, como observado no presente estudo. Dosea et al.55 Dosea GS, Rosário WES, Silva EA, Firmino LR, Oliveira AMS. Métodos ativos de aprendizagem no ensino online: a opinião de universitários durante a pandemia de Covid-19. Interfaces Cient Educ. 2020 Sep;10(1):137-48. http://dx.doi.org/10.17564/2316-3828.2020v10n1p137-148.
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afirmam ainda que a internet é um ótimo recurso para a educação, porém, no Brasil, as redes possuem baixa velocidade, e em situações onde ocorre o aumento de usuários simultâneos, essa velocidade fica ainda mais comprometida.

Além disso, o estudo em casa pode sofrer interferências do convívio em família, dos afazeres domésticos, entre outros fatores, contribuindo de forma direta na forma como o aluno se dedica aos estudos. No Brasil, um país com grande desigualdade social, os alunos podem apresentar diferentes níveis de aproveitamento nos estudos, em consequência da sua realidade financeira e social.

Diante disso conclui-se que a qualidade de vida do estudante de saúde da UFS teve domínio baixo no aspecto emocional, podendo ter influência do isolamento social e do ensino remoto.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPQ pelo auxílio para o desenvolvimento do estudo.

  • Como citar: Rodrigues IF, Sena TRR, Lima Júnior J, Amaral RC. O impacto do isolamento social no ensino a distância em cursos da área de saúde. Rev Odontol UNESP. 2023;52:e20230025. https://doi.org/10.1590/1807-2577.02523

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    25 Set 2023
  • Aceito
    12 Out 2023
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