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Perspectiva ecológica na determinação de percursos desportivos contrastantes em jovens futebolistas

Sociocultural domain

Resumos

Pretendeu-se examinar as influências contextuais e sócio-ambientais nas atitudes e comportamentos dos jovens na sua participação desportiva. Participaram 24 jovens jogadores de futebol de um Clube de Orientação Profissional (COP), divididos em quatro escalões dos sub 14 aos sub 17. Participaram em entrevistas de grupo sobre a sua participação desportiva, caracterização do contexto de prática e relações interpessoais. O clima de grupo, entre os pares, foi positivamente referido pelos jovens como importante. A procura de estatuto e reconhecimento, a par da aspiração ao profissionalismo foi referido como importante no trajeto desportivo. Os pais são importantes agentes na participação desportiva e a relação do jovem com o treinador mostrou-se influente no clima motivacional percepcionado pelos jovens. Os resultados determinam importantes ativos a ter em consideração na construção da estrutura de treino em jovens inseridos em clubes profissionais. A participação desportiva dos jovens atletas precisa ter em consideração o contexto de prática de forma a promover um desenvolvimento positivo.

Ecologia prática; Participação desportiva; Jovens atletas


It was intended to examine the contextual influences and socio-environmental attitudes and behaviors of young athletes in sport participation. The participants were 24 young soccer players in a Professional Oriented Club (POC), divided into four teams, sub 14 through sub 17; they participated in group interviews regarding their sport participation, characterization of the context of practice and interpersonal relationships. The group climate, among peers, was positively mentioned by young athletes’ as important. The search for status and recognition, alongside with the aspiration to professionalism were stated as important in their sport trajectories. Parents are important agents in sport participation. The relationship with the young coach proved to be influential in the motivational climate perceived by young people. The results determine important assets to take into consideration when construing the training structure in youngsters playing in professional clubs. Young athletes’ sport participation needs to take into account the context of practice to promote positive development.

Ecology practice; Sport participation; Young athletes


Introdução

A representatividade social do futebol a nível macrossistémico é de grande importância no funcionamento das sociedades uma vez que determina comportamentos em larga escala, nomeadamente, construção de comunidade sensação de pertença e identificação identitária. Por exemplo, a afiliação clubística intensa transforma profundamente o indivíduo, adepto nos seus comportamentos e crenças em relação ao seu quotidiano1. Gibson H, Willming C, Holdnak A. “We’re Gators... Not just Gator fans”: serious leisure and University of Florida Football. J Leisure Res. 2002; 34:397-425..

O desporto jovem tem um grande impacto no desenvolvimento pessoal e social2. Smith R, Smoll FL. Youth sports as a behavior setting for psychosocial interventions. In: Vanraalte JL, editor. Exploring sport and exercise psychology. 2nd ed. Washington: American Psychological Association; 2002. p.341-71.

. Tofler IR, Butterbaugh GJ. Developmental Overview of Child and Youth Sports for the Twenty-first Century. Clin Sport Med. 2005;12:783-804.

. Lau PC, Fox KR, Cheung ML. Psychosocial and socio-environmental correlates of sport identity and sport participation in secondary school-age children. Eur J Sport Sci. 2006;4:1-21.

. Spaaij R, editor. The social impact of sport: cross-cultural perspectives. London: Routledge; 2010.
-6. Checkoway B. What is youth participation? Child Youth Serv Rev. 2011;33:340-5., este envolvimento e participação desportiva produz comportamentos positivos como percepção de habilidade física, desenvolvimento do caráter, desenvolvimento de aptidões sociais, autoestima, sentido de autonomia7. Weiss M, Chaumeton N. Motivational orientations in sport. In: Horn T, editor. Advances in sport psychology. Champaign: Human Kinetics; 1992. p.61-99.

. Coelho e Silva MJ, Figueiredo AJ, Gonçalves CE. Motivos para a prática desportiva: conceitos e instrumentos. Bol SPEF. 2005;30:25-36.

. Gillet N, Vallerand RJ, Amoura S, Baldes B. Influence of coaches’ autonomy support on athletes’ motivation and sport performance: a test of the hierarchical model of intrinsic and extrinsic motivation. Psychol Sport Exerc. 2010;11:155-61.
-1010 . Jõesaar H, Hein V, Hagger MS. Youth athletes’ perception of autonomy support from the coach, peer motivational climate and intrinsic motivation in sport setting: one-year effects. Psychol Sport Exerc. 2012;13:257-62.. O contexto social é importante para a motivação dos jovens contribuindo para a qualidade das experiências desportivas1111 . Smith A. Peer relationships in physical activity contexts: a road less traveled in youth sport and exercise psychology research. Psychol Sport Exerc. 2003;4:25-39.. De fato, começa agora a ser estudada a orientação dos jovens em contextos sociais, a conceitualização da competência e das relações sociais com os outros1212 . Hodge K, Allen JB, Smellie L. Motivation in masters sport: achievement and social goals. Psychol Sport Exerc. 2008;9:157-76.-1313 . Stuntz CP, Weiss MR. Achievement goal orientations and motivational outcomes in youth sport: the role of social orientations. Psychol Sport Exerc. 2009;10:255-62.. Os estudos têm referido que as principais razões para participação desportiva são a afiliação, fazer parte de um grupo, melhoria das relações interpessoais entre pares e estatuto social1414 . Allen J. Social motivation in youth sport. J Sport Exerc Psychol. 2003;25:551-67.-1515 . Jõesaar H, Hein V, Hagger MS. Peer influence on young athletes’ need satisfaction, intrinsic motivation and persistence in sport: a 12-month prospective study. Psychol Sport Exerc. 2011;12:500-8..

O campo de pesquisa no desenvolvimento de desporto de elite tem focado na significância de fatores culturais (estudos macro) e no papel da ciência do desporto e do ambiente próximo dos atletas (estudos micro) na procura do sucesso1616 . Sotiriadou K, Shilbury D. Australian elite athlete development: an organizational perspective. Sport Manage Rev. 2009;12:137-48.. O desporto de elite tem sido enquadrado na perspectiva da formação especializada e desenvolvimento do talento desportivo1717 . Emrich E, Fröhlich M, Klein M, Pitsch W. Evaluation of the elite schools of sport: empirical findings from an individual and collective point of view. Int Rev Sociol Sport. 2009;44:151-71. ou na perspectiva da construção e importância dos outros significantes como o treinador e o pai1818 . Stornes T. Sportspersonship in elite sports: on the effects of personal and environmental factors on the display of sportspersonship among elite male handball players. Eur Phys Educ Rev. 2001;7:283-304.-1919 . Adie JW, Duda JL, Ntoumanis N. Perceived coach-autonomy support, basic need satisfaction and the well- and ill-being of elite youth soccer players: a longitudinal investigation. Psychol Sport Exerc. 2012;13:51-9..

Não existem muitos estudos comparativos entre o desporto de elite jovem e o caminho para a profissionalização2020 . Ford PR, Williams AM. The developmental activities engaged in by elite youth soccer players who progressed to professional status compared to those who did not. Psychol Sport Exerc. 2012;13:349-52., numa perspetiva desenvolvimentista, ecológica e holística2121 . Henriksen K, Stambulova N, Roessler KK. Holistic approach to athletic talent development environments: a successful sailing milieu. Psychol Sport Exerc. 2010;11:212-22., apesar de se começar a ter em consideração a importância contextual nessa construção1818 . Stornes T. Sportspersonship in elite sports: on the effects of personal and environmental factors on the display of sportspersonship among elite male handball players. Eur Phys Educ Rev. 2001;7:283-304.,2222 . Taylor IM, Bruner MW. The social environment and developmental experiences in elite youth soccer. Psychol Sport Exerc. 2012;13:390-6..

A ideia do desenvolvimento ocorrer tendo em consideração os formatos históricos e culturais onde o indivíduo se adapta2323 . Hundeide K. Socio-cultural tracks of development, opportunity situations and access skills. Cult Psychol. 2005;11:241-61. encontra semelhanças com a ideia genuína de desenvolvimento humano que Bronfenbrenner profetizou ao longo da sua vida, uma das teorias de desenvolvimento que melhor retrata a equação social no contexto2424 . Bronfenbrenner U. The ecology of human development: experiments by nature and design. Cambridge: Harvard University Press; 1979.

25 . Bronfenbrenner U, Morris PA. The ecology of developmental process. In: Lerner RM, editor. Handbook of child psychology: theoretical models of human development. 5a ed. New York: John Wiley; 1998. v.1, p.993-1028.
-2626 . Bronfenbrenner U. The future of childhood. In: Bronfenbrenner U, editor. Making human beings human: bioecological perpsectives on human development. Thousand Oaks: Sage; 2005. p.246-60.. Posto isto, o desenvolvimento humano deve ser entendido como um processo cultural e este entendimento requer uma perspetiva histórica das contribuições dos indivíduos na dinâmica das comunidades2727 . Rogoff B. The Cultural nature of human development. New York: Oxford University Press; 2003.-2828 . Zastrow C, Kirst-Ashman K. Understanding human behavior and the social environment. Belmont: Brooks/Cole; 2010..

Com efeito, nos anos 90 a teoria incluiu os processos proximais como o aspecto principal de desenvolvimento2929 . Krebs RJ. Proximal processes as the primary engines of development. Int J Sport Psychol. 2009;40:219-27.. O modelo pessoa-processo proximal-contexto-tempo (modelo PPCT) tenta explicar a natureza, poder, conteúdo dos processos proximais. Estes variam em função das características pessoais em desenvolvimento, contexto onde os processos ocorrem e mudanças que ocorrem durante um período de tempo onde esses processos têm lugar2929 . Krebs RJ. Proximal processes as the primary engines of development. Int J Sport Psychol. 2009;40:219-27.-3030 . Krebs RJ. Bronfenbrenner’s bioecological theory of human development and the process of development of sports talent. Int J Sport Psychol. 2009;40:108-35.. O modelo PPCT tem sido pouco utilizado no estudo do contexto e relações pessoais em ciências do desporto com destaque para os estudos inovadores de Krebs no Brasil, na área do talento desportivo. Apesar dos avanços registrados vários aspectos continuam sem resposta, nomeadamente os ambientes mais favoráveis ao desenvolvimento do talento3131 . Ramadas S, Serpa S, Krebs RJ. Psicologia dos talentos em desporto: um olhar sobre a investigação. Rev Educ Fis. 2012;23:331-45.. O propósito do estudo explora e examina as influências contextuais e sócio-ambientais nas atitudes e comportamentos dos jovens talento na sua participação desportiva.

Método

Participantes

O presente estudo foi conduzido num clube de futebol de orientação profissional (COP) com jovens jogadores dos 13 aos 17 anos de idade, durante uma época desportiva. Foram realizadas quatro entrevistas de grupo, uma por cada escalão (considerando os escalões sub 17, sub 16, sub 15 e sub 14) com seis elementos em cada sessão (n = 24). Os grupos desportivos do COP foram divididos por ano e segundo o nível competitivo.

Coleta de dados

O estudo foi apresentado previamente e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra. O anonimato e confidencialidade foram assegurados pelos investigadores bem como o consentimento informado dos pais. Para aumentar a credibilidade do estudo utilizou-se a triangulação3232 . Denzin N. The research act: a theoretical introduction to sociological methods. 3rd ed. Englewood Cliffs:Prentice Hall; 1989.

33 . Banister P, Burman E, Parker I, Taylor M, Tindall C. Quality methods in psychology. Buckingham: Open University; 1994.
-3434 . Greene JC. Toward a methodology of mixed methods social inquiry. Res Schools. 2006;13:94-9., nomeadamente, a participação observante, entrevistas de grupo e coleta documental. De igual forma os atletas do clube preencherem uma ficha de caracterização demográfica e desportiva. Cada grupo de participantes (seis por grupo) participou numa sessão de entrevistas de grupo, conduzidas pelo primeiro autor. As entrevistas duraram entre 30 a 70 minutos. Todas as entrevistas foram gravadas com equipamento especializado e transcritas textualmente. As entrevistas começaram com duas a três perguntas que providenciaram um contexto, facilitaram a comunicabilidade com os participantes e permitiu conhecê-los melhor de um ponto de vista da sua prática desportiva em contexto (p.e. “O que acham da modalidade que praticam?” e “Qual a vossa opinião sobre o clube?”).

Depois das questões iniciais a entrevista começou com a pergunta: “Quais as razões para te envolveres no desporto? Ele melhorou quem tu és?” As questões seguintes e a ordem pelo qual eram feitas variaram entre cada grupo pois dependia da dinâmica especifíca criada entre o pesquisador e o grupo de jovens. Procedeu-se desta forma para possibilitar o menor constrangimento possível aos entrevistados e fazer emergir a percepção da importância do contexto e relações nele criadas. De igual forma, este procedimento permitiu explorar e manter o foco em alguns temas e questões de interesse que surgiram de entrevistas anteriores (ver seção de análise de dados). No final da entrevista de grupo era feito uma pergunta geral de reflexão sobre os aspectos positivos e negativos do clube e das suas participações desportivas.

Análise de dados

O processo de análise de dados através da análise de conteúdo iniciou-se logo após a primeira entrevista de grupo. As categorias foram desenvolvidas a partir de segmentos de informação ou unidades potencialmente importantes, identificadas nas grelhas de análise criadas3535 . Marvasti A. Qualitative research in sociology. London: Sage; 2004.-3636 . Silverman D. Interpreting qualitative data. 3rd ed. London: Sage; 2010.. O primeiro grande passo consistiu em codificar a informação3737 . Weber RP. Basic content analysis: quantitative applications in social sciences. 2nd ed. London: Sage; 1990.-3838 . Patton MQ. Qualitative research and evaluation methods. Thousand Oaks: Sage; 2002.. Os códigos iniciais foram usados como primeira forma de quebrar a informação em unidades significantes, os códigos com maior sentido analítico e que capturavam com maior precisão, foram usados para percorrer maiores quantidade de informação3939 . Creswell J. Research design: qualitative, quantitative and mixed methods approaches. 3rd ed. Thousand Oaks: Sage; 2009.. Um exemplo foi o código inicial “Papel adultos”, aplicado a fragmentos de informação que indicava as relações que os outros significantes têm na prática desportiva dos jovens. Este código inicial foi englobado num código mais focado e abrangente “ Outros significantes e experiências”, que se tornou, por seu turno, na dimensão crítica “Ambiente desportivo e realização”.

Em alguns casos, os códigos foram elaborados a partir de palavras dos próprios entrevistados; noutros casos os códigos emergiram de conceitos já existentes na literatura. Tanto os primeiros como os segundos ajudaram na organização da informação, sendo que os códigos emergentes e categorias principais estavam incluídas nas entrevistas direcionadas da teoria de base inicial4040 . Hsieh HF, Shannon SE. Three approach to qualitative content analysis. Qual Health Res. 2005;15:1277-88.. Uma revisão extensa permitiu reduzir o viés nas interpretações e, por conseguinte, evitar o perigo de forçar códigos pré-existentes na informação recolhida. O resultado final do processo de codificação foi um sistema coerente de categorias e dimensões críticas tendo por base o modelo PPCT de Bronfenbrenner, especialmente na análise dedutiva da construção das dimensões críticas (ver QUADRO 1).

QUADRO 1
Categorias principais e grupos de respostas COP.

O processo de preenchimento de categorias emergentes foi realizado através de constantes processos de comparação, onde a experiência e percepções de um entrevistado foram comparadas com outro jovem entrevistado, num processo interativo, usando o critério de semelhança e proximidade visual de LINCOLN e GUBA4141 . Lincoln YS, Guba EG. Naturalistic inquiry. Newbury Park: Sage; 1985. e SHENTON4242 . Shenton AK. Strategies for ensuring trustworthiness in qualitative research projects. Educ Inform. 2004;22:64-75.. Contudo, esta uniformidade não implica que as mesmas unidades de texto entrem em mais do que uma categoria simultaneamente3939 . Creswell J. Research design: qualitative, quantitative and mixed methods approaches. 3rd ed. Thousand Oaks: Sage; 2009.,4343 . Tesch, R. Qualitative research: analysis types of software tools. Bristol: Falmer Press; 1990..

No decorrer do processo, unidades subsequentes foram comparadas com unidades já codificadas e integradas em categorias emergentes ou eventualmente desenvolvidas em novas categorias até se atingir a saturação, isto é, até que mais nenhuma informação relativamente a essa categoria (propriedades, processos) emergisse durante o processo de codificação3737 . Weber RP. Basic content analysis: quantitative applications in social sciences. 2nd ed. London: Sage; 1990.,4444 . Schilling J. On the pragmatics of qualitative assessment: designing the process for content analysis. Eur J Psychol Assess. 2006;22:28-37..

Fiabilidade

Vários passos foram seguidos para assegurar que a análise era rigorosa e credível4242 . Shenton AK. Strategies for ensuring trustworthiness in qualitative research projects. Educ Inform. 2004;22:64-75.,4545 . Denzin N, Lincoln Y, editors. Handbook of qualitative research. 4th ed. Thousand Oaks: Sage; 2011.. Primeiro, a estratégia de cruzamento de opiniões e verificação crítica entre os pesquisadores4141 . Lincoln YS, Guba EG. Naturalistic inquiry. Newbury Park: Sage; 1985.-4242 . Shenton AK. Strategies for ensuring trustworthiness in qualitative research projects. Educ Inform. 2004;22:64-75. foi utilizada durante o processo. Segundo, a utilização de constantes comparações assegurou a verificação dos diferentes blocos de informação entretanto criados3838 . Patton MQ. Qualitative research and evaluation methods. Thousand Oaks: Sage; 2002.. Terceiro, os participantes no estudo tinham oportunidade de interagir às interpretações do pesquisador, à medida que os jovens do grupo iam respondendo. Quarto, depois de completa a análise, o grupo de pesquisadores assegurou que a integração de segmentos de informação significativos em categorias particulares fazia sentido analítico. Quinto, ao leitor é fornecido uma completa descrição dos diferentes passos de forma que os resultados possam ser aplicáveis e transferidos para outros contextos4141 . Lincoln YS, Guba EG. Naturalistic inquiry. Newbury Park: Sage; 1985.. Finalmente, a credibilidade e coerência dos resultados foi assegurada através da imersão do primeiro autor no contexto específico durante um ano desportivo e com especial incidência no início e no fim da época desportiva.

Resultados

A partir da análise de conteúdo e do modelo teórico de base emergiram indutivamente 17 grupos de respostas, posteriormente e através de um procedimento dedutivo emergiram seis categorias de análise e após leitura e re-leitura dos códigos de análise foram criadas três dimensões.

Dados sócio-desportivos do Futebol Federado em Portugal e Ligas Profissionais

Em 2007 em Portugal, existiam 100.533 praticantes de futebol federado em todos os escalões, dos quais 60.509 praticantes eram de futebol de 11 sub 14 a sub 19. Partindo do pressuposto que o desporto profissional de elite é cada vez mais visto como um ramo independente de negócio4646 . Renson R. Messages from the future: significance of sport and exercise in the third millennium. Eur J Sport Sci. 2001;1:1-17., a quantidade de jogadores de formação que jogam em clubes profissionais totaliza 4.094 jovens, onde os portugueses representam 95,85%, ou seja, 3.922. Relativamente aos jovens estrangeiros a percentagem ronda os 4,20% ou seja, 172 jogadores jovens. Um dado importante a realçar é o fato de os três maiores clubes de futebol em Portugal contabilizarem 43,8% dos jovens estrangeiros (ver TABELA 1).

TABELA 1
Atletas formação em clubes com equipes profissionais.

Analisando o percurso sócio-desportivo dos jovens analisado no estudo os jovens atletas do COP iniciaram a sua prática desportiva relativamente cedo. Quando analisada a mobilidade desportiva percebe-se que o clube movimenta muitos jogadores na região com percentagens elevadas de mudanças internas dentro de cada grupo desportivo. Relativamente à estrutura familiar, esta apresenta-se com traços de estabilidade apesar de se verificar maior percentagem de pais divorciados no escalão de Juvenis B. Apresentam ainda comportamento disciplinar que tende a acentuar-se nos escalões mais velhos e nos campeonatos mais competitivos (ver TABELA 2).

TABELA 2
Dados sócio-desportivos dos jovens do COP.

Na TABELA 2 estão as quatro equipes alvo do estudo. Duas equipes jogam nos campeonatos nacionais, uma sub 17 (Junior B1 Nacional) e a outra sub 15 (Junior C1 Nacional). De igual forma, duas equipes jogam nas distritais (um ou dois escalões abaixo), uma sub 17 (Junior B2 Distrital) e a outra, sub 15 (Junior C2 Distrital).

Após uma caracterização geral através dos dados sócio-desportivos, os dados serão detalhados de acordo com as categorias correspondentes a cada dimensão crítica e, tendo por base, o modelo PPCT de Bronfenbrenner.

A primeira dimensão “Desenvolvimento Pessoal e AutoMelhoramento” compreende duas categorias principais aqui apresentadas em conjunto. Ela descreve as razões de envolvimento desportivo, a construção de uma identidade através das experiências e do significado do que é estar envolvido no desporto.

Identidade, iniciativa e experiências

Os jovens referem que o envolvimento e participação no desporto deriva de duas perspetivas bem salientes: o prazer e divertimento na prática do futebol e os benefícios físicos, uma perspetiva de corpo saudável, “Eu, desde sempre, que gosto do desporto e principalmente do futebol, e isso é uma coisas que nasceu comigo.” B1. O início da prática desportiva é feito em idades precoces entre os cinco e os sete anos e a participação no desporto e principais influências na adesão ao futebol deve-se sobretudo à estrutura familiar do jovem atleta, especialmente pais.

A segunda dimensão “Processos Proximais e Interações Sociais” foi criada dedutivamente tendo por base o conceito de processo proximal do modelo de Bronfenbrenner. Esta dimensão compreende duas categorias e retrata as relações sociais do jovem futebolista talento, ou seja, os papéis que desempenham, como o de capitão e, não só, os comportamentos e expectativas que demonstram mas também o que eles esperam dos outros atores sociais do clube. Também aqui é retratado a influência que o contexto de clube de orientação profissional desempenha nas aspirações futebolísticas do jovem.

Relações sociais

O papel que os jovens, dentro da equipe, atribuem ao capitão é unânime, na medida em que ele representa um conjunto de características consistente: responsabilidade, prontidão para ajudar, capacidade de comunicação, capacidade de liderança e maturidade, “...um capitão deve ser um bom líder de grupo” (C1); respeito: “Mete respeito, não é respeito, é respeitar os outros e nós respeitamo-lo.” (B2), coesão de grupo e capacidade de trabalho.

...os capitães têm essa função de organizar a equipe, de comandar a equipe, de lutar sempre pela equipe. Eu acho que é essa a minha função adicional de jogador...dar o máximo (B1).

Os capitães de equipe referem a responsabilidade, “Eu sou o capitão...tenho mais responsabilidade, tento sempre pôr mais ordem quando as coisas...” (B2), prontidão para ajudar, capacidade de liderança, maturidade e capacidade de trabalho como características que os distingue no papel específico que desempenham.

...Eu acho que sou humilde mas tenho que admitir que realmente dou tudo nos treinos e sou uma voz de comando dentro da equipe; e por isso acho que me atribuíram este papel dentro da equipe... (B1).

A relação dentro do grupo, mas também entre grupos é encarada pelos jovens como muito boa, existe uma boa comunicação entre eles e, especialmente, capacidade em criar e fortalecer amizades.

Às vezes levamos a brincadeira do balneário para o treino mas a meio do treino nota-se completamente a diferença, mete-se tudo a trabalhar, mais sério...(C2).

Os jovens descrevem um relacionamento positivo apoiado na união de grupo e apoio mútuo onde destacam a capacidade de sociabilização “...nós criamos laços aqui neste balneário, nesta equipe, neste campo” (B1). Existe uma capacidade demarcada em todos os escalões de distinguir divertimento e trabalho, com enfoque na capacidade de produção e concentração como qualidades fundamentais “...Claro que temos os nossos objetivos e temos sempre objetivo de ganhar e/ou de lutar, jogar melhor e evoluir” (C1), apesar dos jovens dos escalões Junior B referirem de forma mais clara a presença desta qualidades.

É brincalhão, nós temos momentos de lazer mas ao mesmo tempo somos um grupo trabalhador...(B2).

O papel dos adultos, na ótica dos jovens, é fundamental e, principalmente, realizado através dos pais sob a forma de suporte e apoio; além disso, o suporte dos vários dirigentes relacionados com os grupos desportivos, “São pessoas que têm muita competência e que nos transmitem todos esses valores que são essenciais para formar uma boa equipe” (C1). Os jovens sentem proximidade nas diferentes relações que se interiorizam no clube; a relação de união com os elementos da academia comporta estabilidade que os jovens referem como importantes.

Acho que também o grupo, o clube quer fazer aqui uma família, não ser cada um por si, sinto isso e isso ajuda-nos a evoluir... (B2).

Aptidões sociais e comportamento

Os jovens apontam vários benefícios sociais como gestão do tempo, resiliência, sentido de autonomia, cumprimento de regras e disciplina, responsabilidade e maturidade: “...estando no futebol, amadurecemos de tal maneira que saímos da adolescência mais cedo para a fase adulta”(C2). Esta sensação de maturidade advém também do reconhecimento do contexto competitivo que o clube em si comporta: “...tento mostrar uma maior maturidade perante os outros porque tento diferenciar-me dos outros. É orgulho de jogar no clube X, tentamos mostrar maturidade”(C2). Os jovens fazem uma ligação com a vida deles na comunidade, na avaliação do impacto positivo que o desporto lhes pode porporcionar.

Na escola também temos de estar concentrados para os testes, para os trabalhos que temos que realizar, acho que a concentração deve-se a um pouco de tudo na vida (C1).

Os jovens atletas na caracterização da relação treinador-atleta reconhecem a sua importância na capacidade em moldar comportamentos, a liderança e gestão do grupo, neste âmbito reforçam a importância da igualdade de tratamentos por ele veiculada.

...sabíamos que tinham valor mas não mostravam qualidade e este ano estão a jogar muito melhor. Com a motivação do treinador, este ano, estão a jogar muito melhor (C2).

A última dimensão considerada “ Ambiente Desportivo e Realização” compreende o conceito de contexto no modelo de Bronfenbrenner. Ela compreende duas categorias principais que focam as expectativas criadas pelos adultos no ambiente desportivo que, de uma forma direta e/ou mais distante influenciam a percepção que os jovens fazem das suas experiências desportivas. Nesta dimensão, ganha preponderência a ligação do jovem com a escola e a influência relativa em contexto desportivo; e a estrutura do clube e o seu impacto organizativo.

Integração social e “network” adultos

Os jovens têm a percepção de que estão num clube que apresenta superioridade no plano desportivo na região, clube que aposta na seleção desportiva e captação dos jovens mais aptos com distinta qualidade, “nós estamos aqui porque os treinadores e as pessoas, que mandam no clube X, acham que nós temos qualidade suficiente para estar aqui”(C2).

Reconhecem igualmente o estatuto e projeção do clube pela sua imagem no panorama do futebol, “Nós gostamos mais em estar no clube X, a camisola pesa mais que as outras”(C2) e manifestam orgulho no clube que representam assim como a responsabilidade perante os outros em ser os melhores;

Se posso estar a jogar num grande clube não vou estar a jogar num clube de uma terriola (...)nós temos objetivos e queremos estar sempre melhor. Sinto-me melhor em estar em clubes cada vez melhores (B2).

Os jovens reconhecem maior qualidade, nomeadamente, superior habilidade técnica dos jovens no clube e têm percepção da importância que o clube tem quando jogam com os adversários,

...tínhamos objetivos e tínhamos essa responsabilidade de ser melhor do que os adversários, que são inferiores e, mesmo quando são superiores...somos do clube X, temos que dar mais, temos que ser responsáveis e ganhar (B2).

Segundo os jovens a aspiração ao profissionalismo está bem presente nas suas consciências. “Acho que toda a gente tem, no fundo, esse sonho de poder tornar-se profissional” (C1). Percebem esta ligação como fruto do trabalho e rigor, ou seja, intensa ligação à tarefa.

...uma grande parte é porque tenho o sonho de ser profissional e acho que tenho aquela vontade de trabalhar sempre mais e acho que, se continuar assim, posso um dia chegar à primeira liga (B1).

Outros significados e experiências

Referem igualmente a importância das relações veiculadas no seio dos grupos desportivos e entre os pares com ligações e benefícios à vida deles na comunidade. Os jovens atletas consideram a estrutura formativa do clube como positiva e estável, assumindo a proximidade e convivência como principais características desta relação com os outros significantes (dirigentes, diretores, coordenador).

...esta família é uma maneira de nos divertirmos, de escaparmos aos problemas que nós temos sem ser no futebol e é muito importante esta relação que nós temos com os nossos companheiros (B1).

Os jovens demonstram satisfação na percepção que têm do suporte dos pais. Os pais proporcionam apoio logístico, mais nos grupos a partir dos 14 anos e principalmente nas equipes que jogam nos campeonatos distritais.

Os jovens, por sua vez, atletas jovens partilham e têm percepção da importância que os outros significantes principalmente os pais mas também treinadores atribuem à escola. Revelam a necessidade e importância em conciliar os dois sistemas, “Os meus treinadores todos sempre disseram que a escola estava sempre em 1º lugar, porque mais cedo ou mais tarde o futebol teria de acabar”(C2). O sistema escolar tem importância na percepção dos pais e é facilmente percebido pelos jovens.

Quando levo recados e mostro à minha mãe ela deixa vir, chateia-se mas deixa. Fui honesto, fiquei mais uma semana de castigo (C2).

O clube apresenta pouca remodelação infraestrutural e condições insuficientes de prática desportiva, “Neste clube ainda não há assim grandes recursos” (B1). Os recursos inadequados para a estrutura formativa com impacto na preparação desportiva dos jovens atletas do clube, é um dos pontos mais negativos apontado pelos jovens.

As relações positivas desenvolvidas no clube têm continuidade fora do futebol, “...cria amizades...sentimentos, para além de jogar à bola” (B1), na comunidade não só na relação entre atletas como na relação com os adultos, treinadores e dirigentes, “...com o futebol eu tive uma convivência muito alargada com várias pessoas, não só a nível desportivo mas convivência fora do desporto”(C1).

Discussão

O estudo é revelador da importância do contexto na determinação dos percursos desportivos dos jovens inseridos em contexto profissionalizante. Os jovens percecionam as interações entre os diversos atores dentro do clube e o clima competitivo como importantes na perspetiva de profissionalização e construção de uma carreira desportiva. A relação treinador-atleta e importância do clube é muito importante no esforço e comprometimento com a prática desportiva.

De fato, BRONFENBRENNER2424 . Bronfenbrenner U. The ecology of human development: experiments by nature and design. Cambridge: Harvard University Press; 1979. e posteriormente, num constructo mais elaborado de processos proximais,2525 . Bronfenbrenner U, Morris PA. The ecology of developmental process. In: Lerner RM, editor. Handbook of child psychology: theoretical models of human development. 5a ed. New York: John Wiley; 1998. v.1, p.993-1028.,4949 . Bronfenbrenner U, Ceci J. Nature-nurture reconceptualized in development perspective: a bioecological model. Psychol Rev. 1994;101:568-86. ajudam a explicar a natureza destas interações no contexto do clube e a presença da estrutura familiar como sistema exterior (mesosistema) com impacto na vida desportiva do jovem. Os processos proximais têm sido um tema central no modelo bioecológico de Bronfenbrenner2525 . Bronfenbrenner U, Morris PA. The ecology of developmental process. In: Lerner RM, editor. Handbook of child psychology: theoretical models of human development. 5a ed. New York: John Wiley; 1998. v.1, p.993-1028.,5050 . Bronfenbrenner U, Crouter AC. The evolution of environmental models in developmental research. In: Mussen PH, editor. Handbook of child psychology. 4th ed. New York: Wiley; 1983. p.357-414.. A este respeito BRONFENBRENNER e MORRIS2525 . Bronfenbrenner U, Morris PA. The ecology of developmental process. In: Lerner RM, editor. Handbook of child psychology: theoretical models of human development. 5a ed. New York: John Wiley; 1998. v.1, p.993-1028. referem que quando a componente pessoa (jovem atleta) é percebida através das suas características (disposições, recursos e características da demanda) resulta num entendimento mais rico sobre o contexto onde a pessoa em desenvolvimento está indelevelmente ligada.

Estudos orientados para perceber os objetivos sociais de participação desportiva não têm sido tão estudados como as motivações psicossociais nas diversas relações significantes dentro do contexto desportivo1313 . Stuntz CP, Weiss MR. Achievement goal orientations and motivational outcomes in youth sport: the role of social orientations. Psychol Sport Exerc. 2009;10:255-62..

A literatura refere que uma percepção positiva por parte dos jovens das relações sociais (pai, amigos e pares) está associado a melhores comportamentos e clima motivacional, maior autonomia percebida e divertimento5151 . Ullrich-French S, Smith AL. Social and motivational predictors of continued youth sport participation. Psychol Sport Exerc. 2009;10:87-95.-5252 . Papaioannou A, Ampatzogloub G, Kalogiannisb P, Sagovitsb A. Social agents, achievement goals, satisfaction and academic achievement in youth sport. Psychol Sport Exerc. 2008;9:122-41.. CARR5353 . Carr S. Adolescent-parent attachment characteristics and quality of youth sport friendship. Psychol Sport Exerc. 2009;10:653-61., a este respeito, providencia evidência de que a relação pai-adolescente influencia a forma como o jovem constrói as suas amizades em contexto desportivo, partindo como pressuposto da importância da unidade familiar2626 . Bronfenbrenner U. The future of childhood. In: Bronfenbrenner U, editor. Making human beings human: bioecological perpsectives on human development. Thousand Oaks: Sage; 2005. p.246-60.. Por sua vez, TAYLOR e BRUNER2222 . Taylor IM, Bruner MW. The social environment and developmental experiences in elite youth soccer. Psychol Sport Exerc. 2012;13:390-6. revelam a influência dos outros significantes, comportamentos relevantes em dimensões como o papel de instrução e controle por parte do treinador e suporte e aprendizagem por parte dos pais.

Com efeito, os resultados do estudo confirmados por KEEGAN et al.5454 . Keegan RJ, Harwoodb CG, Sprayb CM, Lavalleec DE. A qualitative investigation exploring the motivational climate in early career sports participants: Coach, parent and peer influences on sport motivation. Psychol Sport Exerc. 2009;10:361-72. e OLIVER et al.5555 . Oliver EJ, Hardy J, Markland D. Identifying important practice behaviors for the development of high-level youth athletes: exploring the perspectives of elite coaches. Psychol Sport Exerc. 2010;11:433-43. revelam que o pai e treinador revelam-se como os agentes desportivos que mais influência têm no comportamento desportivo dos jovens e no clima competitivo criado no COP. A relação treinador-atleta revela-se importante na compreensão do clima competitivo e no engajamento do jovem atleta no COP. Esta relação do clube com os jovens atletas revela a relação entre recursos ambientais promovidos pelo treinador (autonomia, “feedback” performance) e a performance desportiva como afirmam BAKKER et al.5656 . Bakker AB, Oerlemans W, Demerouti E, Slot BB, Ali DK. Flow and performance: a study among talented Dutch soccer players. Psychol Sport Exerc. 2011;4:442-50.. O estudo de ERICKSON et al.5757 . Erickson K, Côté J, Hollenstein T, Deakin J. Examining coach-athlete interactions using state space grids: an observational analysis in competitive youth sport. Psychol Sport Exerc. 2011;12:645-54. vai ao encontro dos resultados do estudo uma vez que os jovens do COP salientam a interação treinador-atleta com aspectos como a correção técnica, reforço positivo e sequenciação de comportamentos.

A literatura é abundante com relação à percepção da importância do treinador na satisfação, motivação intrínseca e persistência no desporto9. Gillet N, Vallerand RJ, Amoura S, Baldes B. Influence of coaches’ autonomy support on athletes’ motivation and sport performance: a test of the hierarchical model of intrinsic and extrinsic motivation. Psychol Sport Exerc. 2010;11:155-61.,1515 . Jõesaar H, Hein V, Hagger MS. Peer influence on young athletes’ need satisfaction, intrinsic motivation and persistence in sport: a 12-month prospective study. Psychol Sport Exerc. 2011;12:500-8.. Os jovens atletas do COP reconhecem a presença dos outros significantes (dirigentes, diretores, coordenadores) como ponto importante na definição e própria gestão das suas carreiras desportivas rumo ao profissionalismo.

O estudo de ULLRICH-FRENCH e SMITH5151 . Ullrich-French S, Smith AL. Social and motivational predictors of continued youth sport participation. Psychol Sport Exerc. 2009;10:87-95. e JÕESAAR et al.1515 . Jõesaar H, Hein V, Hagger MS. Peer influence on young athletes’ need satisfaction, intrinsic motivation and persistence in sport: a 12-month prospective study. Psychol Sport Exerc. 2011;12:500-8. referem o papel dos pares como importante na satisfação realizada, persistência no desporto e motivação criada. A aspiração ao profissionalismo presente na grande maioria dos jovens, condiciona e promove comportamentos diferenciados e mais competitivos, maior capacidade de trabalho e um clima percepcionado com orientação para a tarefa.

A percepção da importância de cada um, a posição de capitão, que resulta de expectativas do papel e mudanças de comportamento e desenvolvimento foi amplamente referido por BRONFENBRENNER5858 . Bronfenbrenner U. Environments in developmental perspective: theoretical and operational modes. In:Friedman S, Wachs WT, editors. Measuring environment across the life span: emerging methods and concepts. Washington: American Psychological Association Press; 1999. p.3-28.. Sabendo que a noção de grupo de trabalho contribui para a construção de uma consciência coletiva na relação entre os pares5959 . Bosselut G, McLarena CD, Eysb MA, Heuzéc J-P. Reciprocity of the relationship between role ambiguity and group cohesion in youth interdependent sport. Psychol Sport Exerc. 2012;13:341-8., os resultados confirmam que a vida dos jovens no clube estende-se para fora do futebol e é considerada um dos pontos mais positivos do clube.

Do estudo resultam importantes considerações sobre comportamentos socialmente positivos e generativos. Estas disposições comportamentais são as características da pessoa que mais influenciam os processos proximais2525 . Bronfenbrenner U, Morris PA. The ecology of developmental process. In: Lerner RM, editor. Handbook of child psychology: theoretical models of human development. 5a ed. New York: John Wiley; 1998. v.1, p.993-1028.. Os principais benefícios sociais apontados pelos jovens vão ao encontro de estudos existentes na literatura sobre a influência dos pares1515 . Jõesaar H, Hein V, Hagger MS. Peer influence on young athletes’ need satisfaction, intrinsic motivation and persistence in sport: a 12-month prospective study. Psychol Sport Exerc. 2011;12:500-8.,6060 . Vazou S, Ntoumanis N, Duda JL. Peer motivational climate in youth sport: a qualitative inquiry. Psychol Sport Exerc. 2005;6:497-516., onde predominam a cooperação, sentido de autonomia, perseguição de objetivos e eficácia.

Este microssistema dos jovens atletas é constituído pelo padrão de atividades, papéis e relações interpessoais da pessoa em desenvolvimento num ambiente particular2424 . Bronfenbrenner U. The ecology of human development: experiments by nature and design. Cambridge: Harvard University Press; 1979.. Eles reconhecem que um clima de treino orientado não só para a performance mas também para a mestria são um ponto importante no seu desenvolvimento como jogadores. Os jovens percebem que os fatores contextuais (estrutura física do clube e estrutura da formação), a imprevisibilidade e instabilidade para as suas necessidades desportivas constituem um grande impedimento ao desenvolvimento dos processos proximais, tal qual são definidos por BRONFENBRENNER5858 . Bronfenbrenner U. Environments in developmental perspective: theoretical and operational modes. In:Friedman S, Wachs WT, editors. Measuring environment across the life span: emerging methods and concepts. Washington: American Psychological Association Press; 1999. p.3-28..

A projeção do COP proporciona uma perspectiva diferente de percurso desportivo. Esta procura de reconhecimento social e com diferenças demarcadas na escolha de um percurso desportivo é salientado por FORD e WILLIAMS2020 . Ford PR, Williams AM. The developmental activities engaged in by elite youth soccer players who progressed to professional status compared to those who did not. Psychol Sport Exerc. 2012;13:349-52.. A grande trajetória de mobilidade ascendente dos jovens com objetivo superior de carreira desportiva exponencia certos valores sociais, entre eles, uma percepção de habilidade maior, capacidade de esforço e maior sentido de autonomia. Este processo exclusivo e excludente é contrastante com e muitas vezes complementar com a mobilidade desportiva descendente que se verifica em clubes comunitários de bairro.

O futebol de rua é o principal espaço de iniciação ao futebol no Brasil6161 . Salmela JH, Marques MP, Machado R. The informal structure of football in Brasil. FA Coaches Ass J. 2003;1:17-9., e contrasta claramente com a realidade portuguesa, onde há muito que se verificou uma transição em que o jogo deliberado6262 . Côté J. The influence of the family in the development of talent in sport. Sport Psychol. 1999;13:395-417. cedeu definitivamente espaço para a prática deliberada6363 . Ericsson KA, Krampe R, Tesch-Römer C. The role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychol Rev. 1993;100:363-406..

Relativamente ao padrão de especialização, varia bastante entre as modalidades desportivas6464 . Leite N, Sampaio J, Baker J. Paths to expertise in Portuguese national team athletes. J Sport Sci Med. 2009;8:560-6., e uma vez que o contato dos jovens com o treino específico no COP acontece antes da idade sugerida pela literatura, que é dos 13 aos 15 anos6565 . Côté J, Baker J, Abernethy B. From play to practice: a developmental framework for the acquisition of expertise in team sports. In: Starkes JL, Ericsson KA, editors. Expert performance in sports: advances in research on sports expertise. Champaign: Human Kinetics; 2003. p.89-113.-6666 . Drubscky R. O universo tático do futebol: escola brasileira. Belo Horizonte: Health; 2003., de forma peremptória, a partir dos 13 anos acentuam-se os mecanismos de exclusão e seleção desportiva onde o mais apto continua o processo rumo ao profissionalismo.

Os contextos do desenvolvimento humano trabalham de uma forma interdependente, cada um expande-se mas contendo o mais pequeno. Cada um simultaneamente influencia e é influenciado pelos outros6767 . Bronfenbrenner U. Strengthening family systems. In: Zigler EF, Frank M, editors. The parental leave crisis: toward a national policy. New Haven: Yale University Press; 1988.p.143-60..

Os resultados relativos à presença do sistema escolar na vida desportiva dos jovens não apresentaram uma ligação negativa confirmado na literatura por PAPOIANNOU et al.5252 . Papaioannou A, Ampatzogloub G, Kalogiannisb P, Sagovitsb A. Social agents, achievement goals, satisfaction and academic achievement in youth sport. Psychol Sport Exerc. 2008;9:122-41. e não corroboram as afirmações de WYLLEMANN et al.6868 . Wyllemann P, Alfermann D, Lavallee D. Career transitions in sport: European perspectives. Psychol Sport Exerc. 2004;5:7-20. e WYLLEMANN e LAVALLEE6969 . Wyllemann P, Lavallee D. A developmental perspective on transitions faced by athletes. In: Weiss M, editor. Developmental sport and exercise psychology: a lifespan perspective. Morgantown: Fitness Information Technology; 2004. p.507-27. de que jovens atletas envolvidos no desporto de competição têm dificuldade de conciliar estudos e vida desportiva, também em contexto europeu7070 . De Knop P, Wyllemann P, Van Houcke JE, Bollaert L. Sports management: an European approach to the management of the combination of academics and elite-level sport. In: Bailey S, editor. Perspectives: the interdisciplinary series of physical education and sport science. Oxford: Meyer & Meyer Sport; 1999. p.49-62.-7171 . Boiché JS, Sarrazin PG. Self-determination of contextual motivation, inter-context dynamics and adolescents’ patterns of sport participation over time. Psychol Sport Exerc. 2007;8:685-703.. Em contraste com estudos anteriores que associam os clubes sociais de bairro com pouco incentivo ao estudo, os jovens do COP percecionam a importância que os outros (pais, diretores, treinadores) atribuem à escola, verificando-se um maior comprometimento com a escola.

Não só o macrossistema como outro contextos e acontecimentos onde o jovem não está presente (exosistema no modelo de Bronfenbrenner) podem determinar decisivamente esta aceitação desportiva. A percepção do futebol como um espaço de ascensão social e marcado pendor econômico, algo bastante evidente em países de grande expressão futebolística tem revelado ser um mecanismo importante de engajamento dos jovens no desporto rumo a um pretenso profissionalismo.

Ou seja, estes eventos que afetam ou que se vêem afetados por aquilo que acontece nos ambientes imediatos que contêm a pessoa em desenvolvimento3030 . Krebs RJ. Bronfenbrenner’s bioecological theory of human development and the process of development of sports talent. Int J Sport Psychol. 2009;40:108-35. e quando se analisa as aspirações sociais, o rendimento escolar e o estatuto social de determinados “ethos”, nomeadamente culturas afro-americanas, verifica-se como o desporto pode, de fato servir de posicionamento social e perspectiva de uma carreira profissional no desporto.

Os pais estão entre os agentes socializadores mais importantes na manutenção destas crenças na ênfase desportiva7272 . Beamon K, Bell PA. Going pro: the deferential effects of high aspirations for a professional sports career on African-American student athletes and white student athletes. Race Soc. 2004;5:179-91.-7373 . Beamon K, Bell PA. Academics versus athletics: an examination of the effects of background and socialization on African American male student athletes. Soc Sci J. 2006;43:393-403., onde a importância dos pais para se chegar ao alto nível de desempenho desportivo, identificada em estudos realizados em países desenvolvidos7474 . Durand-Bush N, Salmela JH, Thompson KA. The role of parents in the development and maintenance of expertise in sport. 11 th World Congress of Sport Psychology; 2005; Sidney, AUT. Proceedings. Sidney: International Society of Sport Psychology; 2005.-7575 . Wyllemann P, De Knop P, Ewing ME, Cumming SP. Transitions in youth sport: a developmental perspective on parental involvement. In: Lavallee D, Wyllemann P, editors. Career transitions in sport: international perspectives. Morgantown: FIT Publications; 2000. p.143-60.. Comparando os resultados com estudos anteriormente realizados em clubes sociais de bairro, a percepção da existência de uma carreira desportiva na ótica dos jovens no clube profissional é notória e relevante quando comparada com a percepção da prática desportiva condicionada e sem perspectiva de carreira.

Aliás, o grupo de interesses envolvidos na estimulação de atletas de elite através de programas e estratégias que cultivam o sucesso naquilo que pretendem que seja um perfil público do desporto1616 . Sotiriadou K, Shilbury D. Australian elite athlete development: an organizational perspective. Sport Manage Rev. 2009;12:137-48. contrasta com a perspectiva do desenvolvimento pelo desporto, onde surgem variáveis importantes como a estrutura do clube, a organização na formação e a estrutura familiar, têm sido referenciadas em estudos em comunidades desfavorecidas7676 . Skinner J, Zakus DH, Cowell J. Development through sport: building social capital in disadvantaged communities. Sport Manage Rev. 2008;11:253-75..

Do exposto realçam vários apontamentos importantes. Da construção da carreira desportiva em jovens na rota do profissionalismo foram identificados dois atores sociais importantes na percepção da participação desportiva dos jovens atletas, com cargas de ponderação diferentes: pais e treinadores. A percepção dos jovens da sua participação desportiva revela a importância dos fatores contextuais com repercussões importantes rumo ao profissionalismo e uma mobilidade desportiva de sucesso: clima criado pelo treinador e contexto competitivo do clube. A percepção do jovem atleta, na construção de um clima competitivo no COP, depende de três conexões: Primeiro, do suporte parental praticado na sua relação de suporte; segundo, do desenvolvimento de um clima focado no comprometimento e trabalho criado pelo treinador e, por fim, do contexto físico e competitivo que o clube oferece aos jovens jogadores.

Os resultados apontam ainda para benefícios pessoais que os jovens talentos percebem do seu envolvimento desportivo, na construção de aptidões sociais como autonomia, disciplina, respeito e maturidade que se complementam na suas vidas em comunidade. A escolaridade, a formação desportiva inicial, o tipo de suporte familiar e social e os mecanismos de planeamento da carreira utilizados pelo atleta revelam-se importantes para que o jovem possa lidar com o seu percurso profissional. O estudo é inovador no sentido em que salienta características contextuais essenciais para o jovem no caminho do profissionalismo, ou seja, o clima motivacional para o profissionalismo e expectativas dos jovens num clube com estatuto social providencia comportamentos desportivos e sociais que eles interiorizam: a responsabilidade e maturidade, a nível social e sentido de esforço e comprometimento, a nível desportivo. O estudo aponta a relação treinador-atleta (“feedback”, suporte e apoio) como importante na definição das experiências dos jovens talento desportivo a caminho do profissionalismo.

Uma das limitações do estudo e a ser explorado em estudos posteriores, prende-se com os mecanismos de desenvolvimentos das aptidões sociais, a influência da estrutura familiar dos jovens (tema ligeiramente tratado aqui) que se destacam no desporto. De igual forma, será importante perceber a constância destes valores ligados ao desporto, numa fase diferente de formação desportiva, ou seja, conferir ao estudo um caráter longitudinal e em diferentes contextos de performance (situação de bairro). Pensamos que um avanço significativo neste domínio poderá estar dependente de estudos longitudinais, interdisciplinares e que conjuguem abordagens qualitativas e quantitativas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    02 Out 2013
  • Revisado
    07 Jan 2014
  • rev-request
    11 Fev 2014
  • Aceito
    11 Fev 2014
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