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Modelagem matemática para a secagem de clones de café (Coffea canephora Pierre) em terreiro de concreto

Mathematical modeling for drying coffee (Coffea canephora Pierre) berry clones in concrete yard

Resumos

Objetivou-se com o presente trabalho estimar e avaliar as curvas de secagem do café da espécie Coffea Canephora e ajustar diferentes modelos matemáticos aos valores experimentais de quatro clones. Foram utilizados frutos de café dos clones: Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, colhidos com os teores de água iniciais de 1,20; 1,32; 1,51 e 1,46 (decimal b.s.), respectivamente. A secagem prosseguiu em terreiro de concreto até que o produto atingisse o teor de água de, aproximadamente, 0,10 (decimal b.s.). Aos dados experimentais foram ajustados dez modelos matemáticos, citados na literatura específica e utilizados para representação do processo de secagem de produtos agrícolas. Pelos resultados obtidos e com base em parâmetros estatísticos, pode-se concluir que o modelo de Page foi adequado para representação da secagem dos quatro clones de café analisados. Além desse, para o clone Cpafro 180, os modelos Verna, Dois Termos e Aproximação da Difusão também se mostraram satisfatórios na descrição do fenômeno. O tempo necessário para a secagem em terreiro de concreto dos clones de café Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, até o teor de água de 0,10 (decimal b.s.), foi de 117,5 h, e o coeficiente de difusão foi de 4,50 x 10-11; 5,17 x 10-11; 5,08 x 10-11 e 5,50 x 10-11 m² s-1 , para os clones analisados, respectivamente.

café; clones; modelagem matemática; teor de água


The objective of this work was to obtain and evaluate the drying curves for the coffee berry species Coffea Canephora, and to fit different mathematical models into the experimental data of four clones. Coffee berries from the following clones were used: Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 and Cpafro 180, harvested at moisture contents of 1.20; 1.32; 1.51 and 1.46 (decimal d.b.), respectively. The drying continued in a concrete yard until the moisture content of 0.10 (decimal d.b.) was achieved. Ten mathematical models cited in literature were fitted to the experimental data in order to represent the drying process. According to the results and based on the statistical parameters, it can be concluded that the Page model represents well the drying of four coffee berry clones; for the clone Cpafro180, the Verna and other models were also satisfactory in describing the phenomenon. The drying time in concrete yard for coffee berry clones Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 and Cpafro 180, up to the moisture content of 0.10 (decimal d.b.) was 117.5 hours and the diffusion coefficient was 4.50 x 10-11; 5.17 x 10-11; 5.08 x 10-11 and 5.50 x 10-11 m² s-1, for analyzed clones, respectively.

coffee berry; clones; mathematical model; moisture content


ENGENHARIA RURAL

Modelagem matemática para a secagem de clones de café (Coffea canephora Pierre) em terreiro de concreto

Mathematical modeling for drying coffee (Coffea canephora Pierre) berry clones in concrete yard

Osvaldo ResendeI,* * Autor para correspondência. E-mail: osvresende@yahoo.com.br ; Renan Vieira ArcanjoII; Valdiney Cambuy SiqueiraII; Silvestre RodriguesIII

IInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Rod. Sul Goiana, km 1, 75901-970, Zona Rural, Rio Verde, Goiás, Brasil

IIUniversidade Federal de Rondônia, Rolim de Moura, Rondônia, Brasil

IIIDepartamento de Agronomia, Universidade Federal de Rondônia, Rolim de Moura, Rondônia, Brasil

RESUMO

Objetivou-se com o presente trabalho estimar e avaliar as curvas de secagem do café da espécie Coffea Canephora e ajustar diferentes modelos matemáticos aos valores experimentais de quatro clones. Foram utilizados frutos de café dos clones: Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, colhidos com os teores de água iniciais de 1,20; 1,32; 1,51 e 1,46 (decimal b.s.), respectivamente. A secagem prosseguiu em terreiro de concreto até que o produto atingisse o teor de água de, aproximadamente, 0,10 (decimal b.s.). Aos dados experimentais foram ajustados dez modelos matemáticos, citados na literatura específica e utilizados para representação do processo de secagem de produtos agrícolas. Pelos resultados obtidos e com base em parâmetros estatísticos, pode-se concluir que o modelo de Page foi adequado para representação da secagem dos quatro clones de café analisados. Além desse, para o clone Cpafro 180, os modelos Verna, Dois Termos e Aproximação da Difusão também se mostraram satisfatórios na descrição do fenômeno. O tempo necessário para a secagem em terreiro de concreto dos clones de café Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, até o teor de água de 0,10 (decimal b.s.), foi de 117,5 h, e o coeficiente de difusão foi de 4,50 x 10-11; 5,17 x 10-11; 5,08 x 10-11 e 5,50 x 10-11 m2 s-1 , para os clones analisados, respectivamente.

Palavras-chave: café, clones, modelagem matemática, teor de água.

ABSTRACT

The objective of this work was to obtain and evaluate the drying curves for the coffee berry species Coffea Canephora, and to fit different mathematical models into the experimental data of four clones. Coffee berries from the following clones were used: Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 and Cpafro 180, harvested at moisture contents of 1.20; 1.32; 1.51 and 1.46 (decimal d.b.), respectively. The drying continued in a concrete yard until the moisture content of 0.10 (decimal d.b.) was achieved. Ten mathematical models cited in literature were fitted to the experimental data in order to represent the drying process. According to the results and based on the statistical parameters, it can be concluded that the Page model represents well the drying of four coffee berry clones; for the clone Cpafro180, the Verna and other models were also satisfactory in describing the phenomenon. The drying time in concrete yard for coffee berry clones Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 and Cpafro 180, up to the moisture content of 0.10 (decimal d.b.) was 117.5 hours and the diffusion coefficient was 4.50 x 10-11; 5.17 x 10-11; 5.08 x 10-11 and 5.50 x 10-11 m2 s-1, for analyzed clones, respectively.

Key words: coffee berry, clones, mathematical model, moisture content.

Introdução

A cafeicultura é uma importante atividade agrícola desenvolvida no Brasil, que é, historicamente, líder mundial da produção de café. O Estado de Rondônia é o sexto produtor de café do país, apresentando, na safra de 2006/2007, a produção de 1.263.000 sacas, que representa 3% da produção nacional, com produtividade média de 7,8 sacas por hectare. Considerando apenas a espécie de café cultivada em Rondônia (Coffea Canephora Pierre), o Estado é o segundo maior produtor, sendo responsável por 13,3% da produção brasileira, superado apenas pelo Espírito Santo, com 72,5%.

A produção de café desenvolvida no Estado de Rondônia se caracteriza pelo baixo nível tecnológico utilizado na condução da lavoura. A cultura do café, em Rondônia, pode ser caracterizada por dois sistemas produtivos principais: cafeicultura tradicional - ocorre sem adubação e desbrota das plantas, o café é plantado no espaçamento 4 x 1 m em área de pastagem e a secagem do produto realizada em carreadores, dentro da própria lavoura; cafeicultura adubada - o café é plantado no espaçamento 3 x 1,5 m e conduzido com três hastes, realiza-se a adubação de plantio (adubo mineral e matéria orgânica) e em cobertura (adubo mineral e adubação foliar) e a secagem é conduzida em terreiro de concreto.

O café recém-colhido, por ser um produto que apresenta certas peculiaridades, tais como alto teor de água, aproximadamente 60% (b.u.), e desuniformidade em relação à maturação, difere dos demais grãos cultivados em larga escala, necessitando, portanto, de um método de secagem específico.

Assim, a secagem é uma etapa de fundamental importância na fase pós-colheita do café e deve ser iniciada logo após a colheita para reduzir, rapidamente, o alto teor de água da casca, polpa e mucilagem e evitar as fermentações que podem prejudicar a qualidade do café.

A secagem do café pode ser realizada de diferentes formas: em terreiros, mecanicamente, utilizando secadores, ou ainda, de forma mista combinando secagem em terreiros e secadores.

Na secagem em terreiros, ou com ar natural, o produto é retirado da planta e depositado em um pátio previamente preparado, denominado terreiro, e a radiação solar é a energia utilizada para remoção do teor de água. A secagem em terreiros é possível quando da ocorrência da baixa umidade relativa do ar e pouca nebulosidade existente em diversas regiões do Brasil durante o período de colheita. A principal vantagem do método é a economia de energia, porém apresenta o inconveniente de exigir extensas áreas e depender dos fatores climáticos, que, sendo desfavoráveis, retardam o processo e favorecem a ocorrência de fermentações indesejáveis, comprometendo a qualidade do produto (SILVA; BERBERT, 1999).

No Brasil, ainda é predominante a secagem de café em terreiros, os quais podem ser construídos de concreto, asfalto, tijolos, chão batido, leito suspenso e lama asfáltica. O produto é espalhado sobre a superfície e revolvido periodicamente. Quando o café atinge o estádio de meia seca, aproximadamente 30% (b.u.), recomenda-se amontoá-lo e cobri-lo, quando as condições não são adequadas para a secagem.

Na maioria dos casos, a secagem é executada em camadas finas, com espessura em torno de 5 cm. Conforme a uniformidade de maturação dos grãos, a secagem do café, até os níveis comerciais, tem duração que varia de oito a 20 dias, dependendo das condições climáticas locais. No entanto, em regiões de clima quente, que apresentem elevado índice de radiação solar, o tempo de secagem em terreiros de concreto pode ser ainda menor.

Diversos trabalhos já foram realizados com o objetivo de estudar a secagem do café em diversas condições. Entretanto, a maioria destas investigações é realizada para descrever a secagem de cultivares de café da espécie Coffea arabica (CHANDRASEKAR; VISWANATHAN, 1999; ANDRADE et al., 2003; AFONSO JÚNIOR et al., 2004; CORRÊA et al., 2006; LACERDA FILHO et al., 2006; BORÉM et al., 2008).

Gitimu (1995) relata que a secagem do café ao sol tem efeito positivo na qualidade, e que alguns cuidados especiais devem ser tomados de acordo com os estágios da secagem: a) de 44 a 33% (b.u.), para evitar rachaduras no pergaminho, a secagem deve ocorrer de forma lenta; para isso, deve-se cobrir o café durante as horas mais quentes do dia; b) de 32 a 22% (b.u.), a cor final do grão é formada, por isso é recomendado que o café fique exposto à luz solar por um período não menor que dois dias para melhorar a qualidade da cor; a secagem mecânica não deve ser usada nesse estágio; c) de 21 a 12% (b.u.), o café pode ser seco mais rapidamente sem prejuízo na qualidade, inclusive com a utilização de secadores.

Durante a comparação entre diferentes materiais de pavimentação de terreiro para a secagem de café na região da Zona da Mata Mineira, Lacerda Filho et al. (2006) verificaram que o terreiro de terra recoberto com 'esterco verde' e o pavimentado com tijolos não permitiram a boa qualidade do produto; por outro lado, os terreiros pavimentados com asfalto e cimento proporcionaram maior redução no teor de água dos frutos e foram mais eficientes energeticamente no processo de secagem.

De acordo com Andrade et al. (2003), o terreiro de concreto apresentou a maior taxa de redução de água e, consequentemente, menor tempo de secagem, comparativamente aos terreiros de chão batido, lama asfáltica e leito suspenso, durante a secagem dos cafés cereja natural, cereja desmucilado e boia.

Além disso, o fenômeno de redução do teor de água de grãos envolve simultaneamente a transferência de calor e massa, que pode alterar de forma substancial a qualidade e as propriedades físicas do produto, dependendo do método e das condições de secagem (BROOKER et al., 1992).

No desenvolvimento e aperfeiçoamento de equipamentos utilizados para a secagem de grãos, é de fundamental importância a simulação e a obtenção de informações teóricas a respeito do comportamento de cada produto durante a remoção de água. Para a simulação, cujo princípio se fundamenta na secagem de sucessivas camadas delgadas do produto, utiliza-se um modelo matemático que representa, satisfatoriamente, sua perda de água durante o período de secagem (BERBERT et al., 1995; GINER; MASCHERONI, 2002).

O processo de secagem de produtos agrícolas, em camada delgada, tem por finalidade a determinação das taxas de secagem do produto utilizando-se para a coleta de dados o registro das perdas de massa ocorridas em uma amostra durante a remoção de água (MONTE et al., 2008).

Assim, as curvas de secagem, em camada delgada, variam com a espécie, variedade, condições ambientais, métodos de preparo pós-colheita, entre outros fatores. Nesse sentido, diversos modelos matemáticos têm sido utilizados para descrever o processo de secagem de produtos agrícolas, embora, na maioria das vezes, as relações semi-empíricas e empíricas têm-se mostrado como melhores opções para predizer a secagem de grãos e sementes, apesar de sua validade estar restrita às condições sob as quais os dados experimentais foram obtidos (BROOKER et al., 1992).

Esses modelos, geralmente, baseiam-se em variáveis externas ao produto, como a temperatura e a umidade relativa do ar de secagem. Entretanto, não fornecem indicações sobre os fenômenos de transporte de energia e de água no interior dos grãos e consideram que todo o processo de secagem ocorra somente no período de taxa decrescente.

As equações semi-empíricas têm como base a lei de resfriamento de Newton para transferência de calor por convecção, presumindo-se que, durante a secagem, as condições sejam isotérmicas e que a transferência de água seja restrita à superfície do produto.

Recentemente, têm sido realizados inúmeros trabalhos com o objetivo de identificar as características de diversos produtos agrícolas durante a secagem como: feijão (AFONSO JÚNIOR; CORRÊA, 1999; CORRÊA et al., 2007; DOYMAZ, 2005a), arroz em casca (BASUNIA; ABE, 2001), uva (YALDIZ et al., 2001; RAMOS et al., 2004; RAMOS et al., 2005), sementes de ockra (DOYMAZ, 2005b), pimenta (KAYMAK-ERTEKIN, 2002; AKPINAR et al., 2003), pera (LAHSASNI et al., 2004), batata (DOYMAZ, 2004), tomate (DOYMAZ, 2007a), abóbora (DOYMAZ, 2007b), trigo parbolizado (MOHAPATRA; RAO, 2005), milho (DOYMAZ; PALA, 2003) e café em coco (CORRÊA et al., 2006), dentre outros.

Diante da importância do café na economia brasileira e da limitação de informações teóricas a respeito da secagem da espécie Coffea Canephora e suas cultivares, objetivou-se com o presente trabalho estimar e avaliar as curvas de secagem do produto e ajustar diferentes modelos matemáticos aos valores experimentais durante a secagem de quatro clones da espécie.

Material e métodos

O experimento foi desenvolvido no Departamento de Agronomia do campus da Universidade Federal de Rondônia, Rolim de Moura, Estado de Rondônia.

Foram utilizados frutos de café (Coffea canephora Pierre) dos clones: Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, procedentes de lavoura situada na área experimental de clones da Embrapa em Rolim de Moura, Estado de Rondônia. Estes clones foram desenvolvidos pela Embrapa Rondônia e estão em fase de difusão entre os agricultores do Estado.

O produto foi colhido, manualmente, pelo sistema de derriça no pano, com os teores de água iniciais de 1,20; 1,32; 1,51 e 1,46 (decimal b.s.) para os clones Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, respectivamente.

Posteriormente à colheita, os frutos foram submetidos à secagem em terreiro de concreto, sendo espalhados em camadas de 3 cm de espessura e revolvidos periodicamente ao longo do dia. A secagem prosseguiu até que o produto atingisse o teor de água de aproximadamente 0,10 (decimal b.s.).

Os teores de água do produto ao longo da secagem foram acompanhados diariamente e determinados pelo método da estufa, 105±1 ºC, até massa constante, em três repetições.

Para a avaliação da secagem dos clones de café, procedeu-se à determinação da taxa de redução de água do produto de acordo com a expressão descrita por Corrêa et al. (2001):

em que:

TRA = taxa de redução de água (kg kg-1 h-1);

Ma0 = massa de água total anterior (kg);

Mai = massa de água total atual (kg);

Ms = matéria seca (kg);

t0 = tempo total de secagem anterior (h);

ti = tempo total de secagem atual (h).

O teor de água de equilíbrio dos frutos de café foi calculado utilizando-se a seguinte expressão:

em que:

= teor de água de equilíbrio do produto (decimal b.s.);

T = temperatura do ar de secagem (ºC);

UR = umidade relativa do ar de secagem (decimal).

Para a determinação das razões de umidade do café durante a secagem em terreiro de concreto, utilizou-se a seguinte expressão:

em que:

RU = razão de umidade do produto (adimensional);

U* = teor de água do produto (decimal b.s.);

= teor de água inicial do produto (decimal b.s.);

Aos valores médios dos dados experimentais da secagem do café foram ajustados dez modelos matemáticos frequentemente utilizados para representação da secagem de produtos agrícolas (AFONSO JÚNIOR; CORRÊA, 1999; AKPINAR et al., 2003; ERTEKIN; YALDIZ, 2004; LAHSASNI et al., 2004; CORRÊA et al., 2007), cujas expressões estão apresentadas na Tabela 1.

Os dados de temperatura e umidade relativa do ar de secagem foram obtidos por meio de uma estação climatológica de referência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), situada a 100 m do local de secagem. A temperatura da massa de café foi monitorada diariamente, por meio de sonda termométrica.

O coeficiente de difusão foi determinado de acordo com a expressão desenvolvida por Brooker et al. (1992), para a forma geométrica esférica:

em que:

D = coeficiente de difusão líquida, (m2 s-1);

t = tempo de secagem, (s);

n = número de termos;

r = raio equivalente, (m).

em que:

k, ko, k1 : constantes de secagem (s-1);

a, b, c, n : coeficientes dos modelos.

Para o ajuste dos modelos matemáticos, foi realizada análise de regressão linear e não-linear, pelo método Gauss Newton, utilizando-se o software STATISTICA 5.0®. O grau de ajuste de cada modelo considerou a significância do coeficiente de regressão pelo teste t, adotando o nível de 5% de probabilidade, a magnitude do coeficiente de determinação (R2), a magnitude do erro médio relativo (P) e do erro médio estimado (SE) e a verificação do comportamento da distribuição dos resíduos. O erro médio relativo e o erro médio estimado, para cada um dos modelos, foram calculados conforme as seguintes expressões:

em que:

Y = valor observado experimentalmente;

Ŷ= valor estimado pelo modelo ajustado;

N = número de observações experimentais;

GLR= graus de liberdade do modelo (número de observações menos o número de parâmetros do modelo).

Resultados e discussão

A temperatura do ar de secagem influencia na taxa de remoção de água do produto, (OZDEMIR; DEVRES, 1999; BASUNIA; ABE, 2001; YALDIZ et al., 2001; AZZOUZ et al., 2002; KAYMAK-ERTEKIN, 2002; AKPINAR et al., 2003; LAHSASNI et al., 2004; BABALIS; BELESSIOTIS, 2004; MOHAPATRA; RAO, 2005). De acordo com o monitoramento das condições climáticas, os valores médios da temperatura e da umidade relativa no período de secagem foram de 26,3ºC e 63,3%, respectivamente. Já a temperatura da massa de grãos, medida diariamente às 14h, apresentou variação entre 41,1 e 51,1ºC para os quatro clones estudados e durante cinco dias de monitoramento.

Na Figura 1, são apresentados os valores médios da taxa de remoção de água dos clones de café Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180 para a secagem em terreiros de concreto.


Verifica-se, na Figura 1, que as maiores taxas de redução de água, para os quatro clones analisados, ocorreram no início da secagem, sendo o maior valor observado para o clone Cpafro 180 com magnitude de 0,026 kg kg-1 h-1 . No final da secagem, a água se encontra fortemente ligada, necessitando de maior energia para a sua evaporação, assim a secagem do café ocorreu mais lentamente, resultando em menores valores da taxa de redução de água. Para o teor de água de 0,10 ± 0,01 (decimal b.s.), a taxa de remoção de água apresentou magnitude de aproximadamente 0,001 kg kg-1 h-1 para os quatro clones de café. Verifica-se, ainda, que, ao longo da secagem no terreiro de concreto, os clones de café Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180 apresentaram valores da taxas de redução de água semelhantes. Dessa forma, pode-se inferir que estes clones possuem características de secagem similares.

Na Tabela 2, encontram-se os parâmetros estatísticos utilizados para a comparação entre os dez modelos de secagem analisados para a secagem dos quatro clones de café da espécie coffea canephora. Os modelos Verna, Page, Dois Termos e Aproximação da Difusão apresentaram os menores valores do erro médio estimado para os quatro clones analisados.

Para os clones Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167, o modelo de Page foi o único a obter magnitude do erro médio relativo inferior a 10%, indicando, de acordo com Mohapatra e Rao (2005), ser adequado para a descrição do fenômeno; para o clone Cpafro180, os modelos Verna, Page, Dois Termos e Aproximação da Difusão também obtiveram valores do erro médio relativo menores que 10%.

Verifica-se, ainda na Tabela 2, que os modelos Verna, Page, Dois Termos e Aproximação da Difusão obtiveram, para a modelagem da secagem dos quatro clones, distribuição aleatória dos resíduos, resultando, assim, em ajustes satisfatórios aos dados experimentais da secagem do café com ar natural em terreiro de concreto, e em condições experimentadas.

De acordo com os parâmetros estatísticos avaliados, o modelo de Page foi adequado para representação da secagem dos quatro clones de café; além desse, para o clone Cpafro 180, os modelos Verna, Dois Termos e Aproximação da Difusão também se apresentaram satisfatórios na descrição do fenômeno. Diversos pesquisadores observaram que o tradicional modelo de Page foi recomendado e aplicado para predizer o fenômeno de secagem de vários produtos agrícolas (AFONSO JÚNIOR; CORRÊA, 1999; CORRÊA et al., 2007). Para Corrêa et al. (2006), os modelos de Page e Verna foram os que melhor representaram o fenômeno de secagem dos frutos de café da cultivar Mundo Novo da espécie Coffea arabica.

Na Tabela 3, estão os coeficientes do modelo de Page ajustados para os quatro clones analisados e os coeficientes dos modelos Verna, Dois Termos e Aproximação da Difusão para o clone Cpafro 180, durante a secagem em terreiro de concreto.

Na Figura 2, estão ilustrados os teores de água observados e estimados, pelo modelo de Page, para os clones Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro180, durante a secagem do café. Nota-se, por meio da correspondência entre os valores experimentais e estimados, que o modelo de Page descreve adequadamente o fenômeno de secagem dos clones de café estudados.


Verifica-se, na Figura 2, que os clones de café apresentaram teores de água iniciais diferentes, com magnitudes de 1,20; 1,32; 1,51 e 1,46 (decimal b.s.) para os clones Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, respectivamente. Mesmo com essa heterogeneidade inicial entre os clones, o tempo necessário para que o produto atingisse o teor de água de, aproximadamente, 0,10 (decimal b.s.) foi de 117,5 horas para os quatro clones analisados. Pode-se inferir que esse fato, possivelmente, deve-se ao elevado teor de água que o café apresentava no início da secagem, o qual, consequentemente, provocou taxas de secagem superiores no início do processo. Ao final da secagem, as taxas de remoção de água diminuíram e as discrepâncias entre os valores dos teores de água dos clones também reduziram.

O coeficiente de difusão para os frutos de café, durante a secagem em terreiro de concreto, apresentou magnitudes de 4,50 x 10-11; 5,17 x 1011; 5,08 x 10-11 e 5,50 x 10-11 m2 s-1 para os clones Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, respectivamente. Os valores do coeficiente de difusão calculados para os clones de café estão coerentes com os relatados na literatura para secagem de produtos agrícolas que, de acordo com Madamba et al. (1996), apresentam-se na ordem de 10-11 a 10-9 m2 s-1. Corrêa et al. (2006) verificaram que o coeficiente de difusão para os frutos de café da espécie Coffea arabica foi de 2,91 x 10-10; 3,57 x 10-10 e 4,96 x 10-10 m2 s-1, para as temperaturas de 40, 50 e 60ºC, respectivamente.

Conclusão

Analisando os resultados, conclui-se que, com base em parâmetros estatísticos, o modelo de Page foi adequado para representação da secagem dos quatro clones de café analisados; além dele, para o clone Cpafro 180, os modelos Verna, Dois Termos e Aproximação da Difusão também se apresentaram satisfatórios na descrição do fenômeno. O tempo necessário para a secagem em terreiro de concreto dos clones de café, espécie Coffea canephora, Cpafro 194, Cpafro 193, Cpafro 167 e Cpafro 180, até o teor de água de 0,10 (decimal b.s.), foi de 117,5 horas, e o coeficiente de difusão foi de 4,50 x 10-11; 5,17 x 10-11; 5,08 x 10-11 e 5,50 x 10-11 m2 s-1, respectivamente, para os clones analisados.

Received on December 15, 2007.

Accepted on March 23, 2008.

License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.

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    Autor para correspondência. E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Out 2012
    • Data do Fascículo
      Jun 2009

    Histórico

    • Recebido
      15 Dez 2007
    • Aceito
      23 Mar 2008
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