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EFEITO DE EXTRATOS AQUOSOS DE PLANTAS NO DESENVOLVIMENTO DE PLUTELLA XYLOSTELLA (L.) (LEPIDOPTERA: PLUTELLIDAE) EM COUVE

FFECT OF PLANT AQUEOUS EXTRACTS ON THE DEVELOPMENT OF PLUTELLA XYLOSTELLA (L.) (LEPIDOPTERA: PLUTELLIDAE), ON COLLARD GREENS

RESUMO

Avaliou-se o efeito de extratos aquosos de plantas na concentração de 10%, no desenvolvimento de Plutella xylostella, sobre discos de folhas de couve, imersos no extrato. Os discos tratados foram colocados em placas juntamente com 12 lagartas recém-eclodidas avaliando-se a viabilidade e duração das fases larval e pupal e peso de pupa após 24 horas. A mortalidade larval foi afetada pelos extratos de Enterolobium contortisilliquum, Nicotiana tabacum Sapindus saponaria e Trichilia pallida, resultando em 100% de mortalidade, seguidos dos extratos de T. pallida (93,8%), Azadirachta indica (89,6%), Symphytum officinale (77,1%), Bougainvillea glabra (72,9%), Achillea millefolium (70,8%) e Chenopodium ambrosioides (70,8%). A duração da fase larval variou de 8,2 dias (testemunha) a 10,7 dias (A. indica). Houve correlação direta entre a duração e a mortalidade de larvas, sendo que os extratos que causaram maior mortalidade, causaram também aumento na duração larval. A maior diferença no peso de pupa em relação à testemunha foi observada no tratamento com extrato de B. glabra, que causou redução de 1,2 mg. Em todos os parâmetros avaliados, T. pallida apresentou maior toxicidade em relação a Trichilia catiguae os ramos foram mais tóxicos que as folhas em ambas as espécies, diferença observada também entre as partes vegetais de S. saponaria, sendo os frutos mais tóxicos que as folhas.

PALAVRAS-CHAVE
Insecta; Plutella xylostella ; planta inseticida; Cruciferae

ABSTRACT

The effect of plant aqueous extracts was evaluated in the concentration of 10% on the development of Plutellax y lostella on disks of collard greens leaves, immersed in the extract. The disks were put in plates together with 12 caterpillars recently emerged, evaluating the viability and duration of the larval and pupal phases and weight of pupa after 24 hours.The larval mortality was affected by the extracts from Enterolobium contortisilliquum, Nicotiana tabacum, Sapindus saponaria and Trichilia pallida resulting in 100% of larvae mortality, followed by the extracts of T. pallida (93.8%), Azadirachta indica (89.6%), Symphytum officinale (77.1%), Bougainvillea glabra (72.9%), Achillea millefolium (70.8%) and Chenopodium ambrosioides (70.8%). The length of the larval stage varied from 8.2 days (control) to 10.7 days ( A. indica). There was direct correlation between the duration and the larvae mortality, since the extracts that induced higher mortality also increased the larval phase. Regarding the pupae weight, the biggest difference in relation to the control was observed in the treatment with the extract of B. glabra, which caused reduction of 1.2 mg. In all of the evaluated parameters, T. pallida showed higher toxicity in relation to Trichilia catigua and the branches were more poisonous than leaves in both of species, what was also observed for S. saponaria.

KEY WORDS
Insecta; Plutella xylostella ; plant insecticide; Cruciferae

INTRODUÇÃO

A couve, Brassica oleracea var. acephala destaca-se entre as plantas hortícolas como um dos alimentos importantes na nutrição humana, sendo rica principalmente em cálcio, ferro, vitamina A, niacina e ácido ascórbico (FRANCO, 1960FRANCO, G. Tabela de composição química de alimentos. Rio de Janeiro: Serviço de Alimentação da Previdência Social, 1960. 194p.). Dentre as inúmeras pragas que incidem sobre essa crucífera, podem ser destacados: pulgões, curuquerê-da-couve, traça-dascrucíferas, lagarta-rosca e lagarta-mede-palmo (GALLO et al., 2002GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L; BATISTA, G.C. DE; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIM, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p.). MARANHÃO et al. (1998)MARANHÃO, E.A. DE A.; LIMA, M.P.L. DE; MARANHÃO, E.H. DE A.; LYRA FILHO, H.P. Flutuação populacional da traça das crucíferas, em couve, na zona da Mata de Pernambuco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 38., 1998, Brasília. Resumos. Hortic. Bras., v.16, n.1, p.50, 1998. consideraram a traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Plutellidae), como a principal praga da couve, repolho e outras brássicas. Destaca-se pela alta taxa de alimentação durante o período larval, causando grandes prejuízos à cultura chegando a atingir até 100% de perdas na produção (OOI & KELDERMAN, 1979OOI, P.A.C. & KELDERMAN, W. The biology of three common pests of cabbages in Cameron Highlands, Malaysia. Malays. Agric. J., v.52, p.85-101, 1979.; VILLAS BÔAS et al., 1990VILLAS BOAS, G.L.; CASTELO BRANCO, M.; GUIMARÃES, A.L. Controle químico da traça das crucíferas em repolho do Distrito Federal. Hortic. Bras., v.8, n.2, p.10-11, 1990.; BEZERRIL & CARNEIRO, 1992BEZERRIL, E.F. & CARNEIRO J. DA S. Manejo integrado da traça do repolho, Plutella xylostella (L.) no Planalto do Ibiapaba-Ceará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 32., 1992, Brasília. Resumos. Hortic. Bras., v.10, n.1, p.49, 1992.; CHEN et al., 1996CHEN, C.; CHANG, S.; CHENG, L.; HOU, R.F. Deterrent effect of the chinaberry extract on oviposition of the diamondback moth, Plutella xylostella (L.) (Lep. Yponomeutidae). J. Appl. Entomol., v.120, p.165-169, 1996.).

O controle químico é considerado como a principal forma de controle da praga (VILLAS BÔAS et al., 1990VILLAS BOAS, G.L.; CASTELO BRANCO, M.; GUIMARÃES, A.L. Controle químico da traça das crucíferas em repolho do Distrito Federal. Hortic. Bras., v.8, n.2, p.10-11, 1990.; FRANÇA et al., 1985FRANÇA, F.H.; CORDEIRO, C.M.T.; GIORDANO L. DE B.; RESENDE, A.M. Controle da traça das crucíferas em repolho. Hortic. Bras., v.3, n.2, p.50-51, 1985.). A maioria dos inseticidas sintéticos tem ação semelhante em organismos alvos e não alvos, representando um perigo para os insetos benéficos, animais selvagens e para homem (CHEN et al., 1996CHEN, C.; CHANG, S.; CHENG, L.; HOU, R.F. Deterrent effect of the chinaberry extract on oviposition of the diamondback moth, Plutella xylostella (L.) (Lep. Yponomeutidae). J. Appl. Entomol., v.120, p.165-169, 1996.), a busca de novos compostos para o uso no manejo integrado de pragas sem problemas como a contaminação ambiental, resíduos nos alimentos, efeitos prejudiciais sobre organismos benéficos e aumento de freqüência de insetos resistentes têm despertado o interesse de vários pesquisadores com relação aos extratos vegetais (VENDRAMIM, 1997VENDRAMIN, J.D. Plantas inseticidas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 16., 1997, Salvador, BA. Resumos. Salvador: 1997. v.1, n.1, p.10.).

Atualmente, vem crescendo o interesse por substâncias com propriedades deterrentes de origem vegetal para os insetos como, por exemplo, a ajugarina, a azadiractina e a imperatonina, sendo esses produtos considerados de baixo impacto para o meio ambiente (SAITO & LUCHINI, 1998SAITO, M.L. & LUCHINI, F. Substâncias obtidas de plantas e a procura por praguicidas eficientes e seguros ao meio ambiente. Jaguariúna: EMBRAPA – CNPMA, 1998. 46 p.), de baixa nocividade ou toxicidade (SANTOS et al., 1998SANTOS, J.H.R.DOS; GADÊLHA, J.W.R.; CARVALHO, M.L.; PIMENTEL, J.V.F.; JÚLIO, P.V.M.R. Controle alternativo de pragas e doenças. Fortaleza: UFC, 1998. 216p.) e de fácil decomposição (SAITO & LUCHINI, 1998SAITO, M.L. & LUCHINI, F. Substâncias obtidas de plantas e a procura por praguicidas eficientes e seguros ao meio ambiente. Jaguariúna: EMBRAPA – CNPMA, 1998. 46 p.). Esses produtos levam vantagen s sobre os pesticidas, pois não poluem, não apresentam efeitos residuais, não exigem muita precaução no manuseio (SANTOS et al., 1998SANTOS, J.H.R.DOS; GADÊLHA, J.W.R.; CARVALHO, M.L.; PIMENTEL, J.V.F.; JÚLIO, P.V.M.R. Controle alternativo de pragas e doenças. Fortaleza: UFC, 1998. 216p.). Tais compostos podem proporcionar ao agricultor de baixa renda, um método fácil, natural e econômico de manejo de insetos, utilizando as ferramentas do seu próprio ecossistema (HERNANDEZ & VENDRAMIM, 1997HERNANDEZ, C.R. & V ENDRAMIM, J.D.Avaliaçãodabioatividade de extratos aquosos de Meliaceae sobre Spodoptera frugiperda (J.E. Smith). Rev. Agric., v.72, p.305-318, 1997.), porém, na opinião de SAITO & LUCHINI (1998)SAITO, M.L. & LUCHINI, F. Substâncias obtidas de plantas e a procura por praguicidas eficientes e seguros ao meio ambiente. Jaguariúna: EMBRAPA – CNPMA, 1998. 46 p., esses produtos vegetais não deixam de ser componentes químicos, devendo seus efeitos serem estudados.

GRAINGE & AHMED (1988)GRAINGE, M. & AHMED, S. Handbook of plants with pest control properties. New York: John Wiley, 1988. 470p. catalogaram 2.400 espécies de plantas com propriedades úteis no controle de pragas, mencionando as características gerais da planta, ação sobre insetos, além de uma listagem de 800 pragas controladas por essas plantas e ainda 100 plantas com outras substância químicas reportadas no controle de doenças e nematóides parasitas do homem e de animais. SCHMUTTERER (1992)SCHMUTTERER, H. Potential of azadirachtin-containing pesticides for integrated pest control in developing and industrialized countries. J. Insect. Physiol., v.34, p.713-719, 1988. por outro lado, cita as famílias Meliaceae, Asteraceae, Labiaceae, Aristolochiaceae e Annonaceae como principais fontes de princípios ativos inseticidas, influenciando o desenvolvimento, comportamento e reprodução dos insetos.

GONÇALVES-GERVÁSIO & VENDRAMIM (2004)GONÇALVES-GERVÁSIO, R. de C.R. & VENDRAMIM, J.D. Modo de ação de extratos de meliáceas sobre Tuta absoluta (Meyrick, 1917) (Lepidoptera: Gelichiidae). Arq. Inst.Biol., São Paulo [on-line], v.71, n.2, p.215-220, 2004. Disponível: <http://www.biologico.sp.gov.br/arquivos/V71_2/gervasio.pdf>. Acesso em: 1 mar. 2005.
http://www.biologico.sp.gov.br/arquivos/...
utilizando extratos aquosos de sementes de nim observaram alta mortalidade larval de Tuta absoluta,independentemente da sua forma que de aplicação e que, embora em menor intensidade, extratos aquosos e clorofórmicos de folhas de T. pallida em concentrações maiores do que 5% também prejudicamodesenvolvimento dessa praga, atuando de forma translaminar, sistêmica e tópica, sendo o efeito translaminar mais pronunciado que os demais.

STEIN & KLINGAUF (1990)STEIN, U. & KLINGAUF, F. Insecticidal effect of plant extracts from tropical and subtropical species. Traditional methods are good as long as they are effective. J. Appl. Entomol., v.110, p.160-166, 1990. avaliaram 13 extratos de espécies de vegetais de plantas de regiões trópicas contra P. xylostella, mostrando que os extratos de Chrysanthemum cinerariaefolium e Persea americana mantiveram a eficácia de 100% e 74,8%, respectivamente, de mortalidade para P. xylostella. Utilizando os extratos de cinamomo (Melia azedarach) e Bonina (Mirabilis jalapa) para o controle de P. xylostella em condições de laboratório, a emergência dos adultos foram de 6,8% e 5,6%, respectivamente (CARNEIRO & BEZERRIL, 1992CARNEIRO, J.S. & BEZERRIL E.F. Efeito de alguns extratos vegetais crus sobre a traça do repolho, Plutellaxylostella, em condições de laboratório. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 32., 1992, Brasília, Resumos. Hortic. Bras., v.10, n.1, p.50, 1992.).

Devido a importância da traça-das-crucíferas, que causa perdas significativas na cultura da couve e problemas ligados às medidas de controle, pois muitas vezes, devido à proximidade da época de colheita, não se podem utilizar inseticidas químicos (LARA, 1991LARA, F.M. Princípios de resistência de plantas a insetos. São Paulo: Ícone, 1991. 336p.). Há necessidade de serem estudados métodos alternativos de controle que se ajustem ao manejo integrado de pragas. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de extratos aquosos de 18 espécies de plantas, aplicados sobre folhas de couve B. oleracea var. acephala cultivar Georgia, no desenvolvimento de P. xylostella, em condições de laboratório.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida em laboratório, à temperatura de 25 ± 1º C, umidade relativa de 74 ± 5% e fotofase de 12h.

Sementes de couve, B. oleracea var. acephala, cultivar Georgia, foram semeadas em bandejas de isopor contendo substrato Plantmaxâ, em casa de vegetação. Após 35 dias, foram transplantadas para canteiro definitivo na área Experimental do Departamento de Fitossanidade, recebendo tratos culturais padrão para a cultura (CAMARGO, 1992CAMARGO, L.S. As hortaliças e seu cultivo. São Paulo: Fundação Cargill, 1992. 252p.). Irrigações por aspersão foram realizadas quando necessárias.

Para o preparo dos extratos foram utilizadas folhas, ramos, frutos e cascas de plantas (Tabela 1) coletadas no Campus da FCAV – UNESP – Jaboticabal, com exceção de Trichilia pallida e de Trichilia catigua, coletadas na Mata Santa Tereza, no Município de Ribeirão Preto. Logo após a coleta, as partes vegetais foram colocados para secagem em estufa à temperatura de 35 a 38ºC, por um período de 15 dias, até peso constante e, moídas em seguida com auxílio de moinho de facas com peneira de 0,8 mm. No mesmo dia da moagem, foram preparadas suspensões contendo 10 g de cada espécie vegetal moída (Tabela 1) e 100 mL de água destilada, permanecendo em repouso por 12 horas, com o propósito de extrair os compostos hidrossolúveis. Decorrido esse tempo, fez-se uma coagem usando-se tecido tipo 'voil', obtendo-se extratos na concentração (peso/volume) de 10%.

Tabela 1
Denominação e estrutura vegetal das plantas utilizadas na avaliação dos efeitos dos extratos aquosos na biologia de P. xylostella. Jaboticabal, SP, 2004.

Após a preparação do extrato, discos de 8 cm de diâmetro de folhas de couve foram imersos em cada extrato por um período de 1 min. A testemunha foi constituída por discos imersos em água destilada. Depois desse tempo, os discos foram colocados sobre papel toalha e deixados ao ar livre para perda do excesso de umidade superficial por cerca de 1h, sendo em seguida, transferidos para placas de Petri contendo disco de papel filtro de igual tamanho e levemente umedecido com água destilada. Em cada placa, foram confinadas 12 lagartas recém-eclodidas (entre 0 e 12h de idade), provenientes da criação em laboratório. Essas placas foram vedadas com 'filme' plástico transparente PVC para evitar fuga das larvas. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com 22 tratamentos e 4 repetições.

A primeira avaliação do experimento foi feita 3 dias após a sua instalação, contando o número de lagartas sobreviventes em cada tratamento, e as demais, diariamente avaliando os parâmetros biológicos da lagarta. Os discos de folhas eram substituídos a cada 3 dias por outros submetidos aos mesmos tratamentos e procedimentos descritos anteriormente.

As larvas que se transformavam em pupas foram individualizadas em placas de 'Teste ELISA' para posterior avaliação. Os parâmetros biológicos avazliados foram: viabilidade e duração das fases, larval e pupal e peso de pupa com 24h de idade. Cada repetição foi constituída por 12 larvas de P. xylostella recém-eclodidas. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P < 0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A mortalidade larval de P. xylostella foi afetada pelos extratos aquosos das espécies vegetais sendo os extratos de Enterolobium contortisilliquum, Nicotiana tabacum, Sapindus saponaria (frutos) e Trichilia pallida (ramos) os mais eficientes, causando 100% de mortalidade das larvas, seguidos dos extratos de T. pallida (folhas) (93,8%), Azadirachta indica (89,6%), Symphytum officinale (77,1%), Bougainvillea glabra (72,9%), Achillea millefolium (70,8%) e Chenopodium ambrosioides (70,8%) que não diferiram estatisticamente dos primeiros e entre si, mas deferiram da testemunha (25,0%) (Tabela 2). Nos demais extratos, os resultados obtidos não diferiram da testemunha. MORDUE & BLACKWELL (1993)MORDUE A.J. & BLACKWELL, A. Azadirachtin: an update. J. Insect. Physiol., v.39, p.903-924, 1993. também relataram que insetos tratados ou alimentados com azadiractina apresentam inibição de crescimento, má-formação, prolongamento da fase larval e até morte das lagartas algumas horas após o tratamento. No presente trabalho isso ocorreu com os extratos de E. contortisilliquum e N. tabacum, S. saponaria (frutos) que causaram mortalidade total das larvas no primeiro dia de avaliação, enquanto que T. pallida (ramos) provocou mortalidade total no décimo dia após instalação do experimento. Segundo TORRES et al. (2001)TORRES, A.L.; BARROS, R.; OLIVEIRA, J.V. DE Efeito de extratos aquosos de plantas no desenvolvimento de Plutella xylostella L. (Lepidoptera). Neotrop. Entomol., v.30, n.1, p.151-156, 2001 os extratos aquosos de plantas com consistência viscosa, como Cecropia sp. e Prosopis juliflora, podem afetar a viabilidade larval dificultando a locomoção e, principalmente, a alimentação das larvas de primeiro ínstar, o que pode ter ocorrido com os extratos deE. contortisilliquum e S. saponaria (frutos) que, além de serem viscosos, podem ter elevado potencial inseticida.

Em relação à duração larval, não houve diferença estatística entre os tratamentos, embora com o extrato de A. indica (10,07 dias) tenha havido prolongamento de cerca de 2 dias em relação à testemunha (8,2 dias) (Tabela 2). As larvas que se alimentaram de folhas de couve contendo os extratos de E. contortisilliquum, N. Tabacum, S. saponaria (frutos) e T. pallida (ramos) não atingiram a fase de pupa, não permitindo o cálculo dos demais parâmetros biológicos. Esse fato também foi observado por TORRES et al. (2001)TORRES, A.L.; BARROS, R.; OLIVEIRA, J.V. DE Efeito de extratos aquosos de plantas no desenvolvimento de Plutella xylostella L. (Lepidoptera). Neotrop. Entomol., v.30, n.1, p.151-156, 2001 com extratos aquosos de Aspidosperma pyrifolium, A. indica (frutos) e uma formulação à base de óleo de A. indica.

Apesar de os tratamentos não diferirem estatisticamente quanto à duração da fase larval, houve correlação direta (r = 0,75; P < 0,05) entre essa duração e a mortalidade de larvas, sendo que os extratos que causaram maior mortalidade, também causaram aumento na fase larval. Esse aumento relacionase geralmente com uma menor ingestão de alimento por existir neste um ou vários deterrentes ou por ocorrer desequilíbrio nutricional (HERNANDEZ & VENDRAMIM, 1997HERNANDEZ, C.R. & V ENDRAMIM, J.D.Avaliaçãodabioatividade de extratos aquosos de Meliaceae sobre Spodoptera frugiperda (J.E. Smith). Rev. Agric., v.72, p.305-318, 1997.). De acordo com TORRES et al. (2001)TORRES, A.L.; BARROS, R.; OLIVEIRA, J.V. DE Efeito de extratos aquosos de plantas no desenvolvimento de Plutella xylostella L. (Lepidoptera). Neotrop. Entomol., v.30, n.1, p.151-156, 2001, o alongamento da fase larval de P. xylostella, adicionalmente à mortalidade da fase larval, mediante aplicação de extratos vegetais é muito importante em campo, pois aumentará o tempo de exposição da praga aos inimigos naturais, bem como o tempo médio de cada geração, reduzindo o crescimento populacional da praga.

Quanto ao peso de pupa e duração deste período, não houve diferença estatística entre os tratamentos (Tabela 3). Resultado semelhante foi encontrado por TORRES (2001)TORRES, A.L.; BARROS, R.; OLIVEIRA, J.V. DE Efeito de extratos aquosos de plantas no desenvolvimento de Plutella xylostella L. (Lepidoptera). Neotrop. Entomol., v.30, n.1, p.151-156, 2001, que avaliou extratos aquosos de 13 espécies vegetais para esta mesma praga.

Porcentagem média (± EP) de mortalidade e duração da fase larval de P.21 xylostella alimentadas com discos de couve tratados com extratos aquosos de espécies vegetais à concentração de 10% (peso/volume). T (ºC) = 25 ± 1, UR (%) = 74 ± 5, Fotofase de 12h. Jaboticabal, SP., 2004.

Tabela 2
Porcentagem média (± EP) de mortalidade e duração da fase larval de P.21 xylostella alimentadas com discos de couve tratados com extratos aquosos de espécies vegetais à concentração de 10% (peso/volume). T (ºC) = 25 ± 1, UR (%) = 74 ± 5, Fotofase de 12h. Jaboticabal, SP., 2004.
Tabela 3
Porcentagem média (± EP) do peso, duração e mortalidade da fase pupal de P. xylostella alimentadas com discos de couve tratados com extratos aquosos de espécies vegetais à concentração de 10% (peso/volume). T (ºC) = 25 ± 1, UR (%) = 74 ± 5, Fotofase de 12h. Jaboticabal, SP., 2004.

A mortalidade pupal variou de 0% (C. ambrosioides) a 38,9% (S. officinale), porém não houve diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 3). Apesar da não diferença, observou-se correlação inversa (r = 0,48; P < 0,05) entre o peso e a mortalidade de pupa, evidenciando que os extratos que ocasionaram menor peso de pupa proporcionaram maiores mortalidades desta fase. CARNEIRO & BEZERRIL (1992)CARNEIRO, J.S. & BEZERRIL E.F. Efeito de alguns extratos vegetais crus sobre a traça do repolho, Plutellaxylostella, em condições de laboratório. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 32., 1992, Brasília, Resumos. Hortic. Bras., v.10, n.1, p.50, 1992. estudaram os efeitos de extratos vegetais em relação aP. xylostella e verificaram reduções na emergência de adultos, da ordem de 86,6% para M. azedarach, 43,6% para Datura stramonium, 71,6% para Sapindus spp., 87,8% para Marabilis jalapa e 60,0% para C. ambrosioides, quando comparados à testemunha.

Em todos os parâmetros avaliados, quando se comparam ramos e folhas de T. catigua e T. pallida, os ramos causaram maior toxicidade em relação às folhas, como foi observado em S. frugiperda por ROEL et al. (2000)ROEL, A.R.; VENDRAMIM, J.D.; FRIGHETTO, R.T.S.; FRIGHETTO, N. Atividade tóxica de extratos orgânicos de Trichilia pallida Swartz (Meliaceae) sobre Spodoptera frugiperda (J. E. Smith). An. Soc. Entomol. Bras., v.29, p.799-808, 2000. utilizando extrato metanólico de T. pallida. Essa diferença também foi observada entre frutos e folhas de S. saponaria, sendo que os frutos se mostraram mais tóxicos que as folhas.

Apesar de algumas plantas não terem apresentado efeito na biologia de P. xylostella, elas não devem ser descartadas, devendo ser testados outros meios de extração dos princípios ativos existentes nas plantas, pois ROEL et al. (2000)ROEL, A.R.; VENDRAMIM, J.D.; FRIGHETTO, R.T.S.; FRIGHETTO, N. Atividade tóxica de extratos orgânicos de Trichilia pallida Swartz (Meliaceae) sobre Spodoptera frugiperda (J. E. Smith). An. Soc. Entomol. Bras., v.29, p.799-808, 2000. verificaram diferentes resultados em função do solvente utilizado para a extração. Também STEIN & KLINGAUF (1990)STEIN, U. & KLINGAUF, F. Insecticidal effect of plant extracts from tropical and subtropical species. Traditional methods are good as long as they are effective. J. Appl. Entomol., v.110, p.160-166, 1990., estudando o efeito de extratos etanólicos e aquosos de folhas de P.juliflora contra Myzus persicae e larvas de P. xylostella, encontraram eficácia de 90 e 28% com extrato etanólico e 6 e 10% com extrato aquoso, respectivamente.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela bolsa de produtividade em pesquisa, concedida ao primeiro autor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2005

Histórico

  • Recebido
    13 Mar 2005
  • Aceito
    31 Mar 2005
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