PARASITOS DE ANIMAIS SILVESTRES NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL: II – PIOLHOS (AMBLYCERA: ISCHNOCERA) DE NETTA PEPOSACA (MARRECÃO) (AVES: ANATIDAE)

PARASITES OF WILD ANIMALS IN THE STATE OF RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL:II – LICE (AMBLYCERA: ISCHNOCERA) ON NETTA PEPOSACA (ROSY-BILLED POCHARD) (AVES: ANATIDAE)

RESUMO

É descrito pela primeira vez no Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, e na literatura mundial, o parasitismo pelos piolhos Trinoton querquedulae (Menoponidae) Anatoecus icterodes, Anaticola sp. e Acidoproctus fuligulae (Philopteridae) em Netta peposaca, hospedeiro pertencente à ordem Anseriformes e à família Anatidae. Dados sobre prevalência, abundância e intensidade média de parasitismo dos piolhos, são também informados.

PALAVRAS-CHAVE
Trinoton querquedulae ; Anatoecus icterodes ; Anaticola sp.; Acidoproctus fuligulae ; Netta peposaca

ABSTRACT

The authors report, for the first time in the state of Rio Grande do Sul, Brazil, parasitism by the menoponid louse Trinoton querquedulae and by the philopterid lice Anatoecus icterodes, Anaticola sp. and Acidoproctus fuligulae on the host Netta peposaca, order Anseriformes, family Anatidae. Data about prevalence, abundance and mean intensity of parasitism of the lice are also reported.

KEY WORDS
Trinoton querquedulae ; Anatoecus icterodes ; Anaticola sp.; Acidoproctus fuligulae ; Netta peposaca

Os fitirápteros da subordem Amblycera estão distribuídos em 7 famílias, 4 parasitando mamíferos e 3 parasitando aves. Entre os Ischnocera, a família Philopteridae é a maior, ocorrendo em todo o mundo e parasitando várias ordens de aves (PRICE; GRAHAM, 1997). Na ordem Anseriformes, 22 espécies ocorrem no Rio Grande do Sul, sendo a maioria residente e algumas migratórias do Cone Sul ou do Hemisfério Norte (BENCKE, 2001).

Com relação aos piolhos de aves silvestres no Estado, a literatura é escassa, com exceção das citadas por VALENTE et al. (2001) de Colpocephalum maculatum em Rupornis magnirostris (gavião-carijó) e Poliborus plancus (caracará), por BRUM, et al. (2003) de Colpocephalum sp. em Casmerodius albus (garça branca grande) e por BRUM, et al. (2005) de piolhos menoponídeos Dicteisia tristis em tachã (Chauna torquata), Holomenopon brevithoracicum em cisne-do-pescoço-preto (Cygnus melanocoryphus) e Holomenoponleu coxanthum em marrecão-da-Patagônia (Netta peposaca), hospedeiros pertencentes à Ordem Anseriformes.

Este trabalho teve por objetivo registrar a ocorrência de piolhos das famílias Menoponidae e Philopteridae em N. peposaca (marrecão), além de informar sobre as suas respectivas, prevalência, abundância e intensidade média dos parasitos, nesta espécie de Anatidae.

Das 30 aves capturadas, 17 foram procedentes de bandos existentes na área da Estância Boa Vista, situada à margem direita da BR 471, km 473, Município de Rio Grande, e capturadas através da caça com arma de fogo e as outras 13 foram decorrentes de apreensão feita pelo IBAMA em áreas situadas à margem da BR 116, km 491, Município de Turuçú, RS.

Tabela 1
Número total de piolhos, prevalência, abundância e intensidade média em Netta peposaca (marrecão).

Piolhos	Nº total de parasitos	Nº total de aves infestadas	Prevalência (%)	Abundância	Intensidade Média
Holomenopom leucoxantum	593	29	96,67	19,77	20,45
Acidoproctus fuligulae	387	29	96,67	12,90	13,34
Trinoton querquedulae	118	25	83,33	3,93	4,72
Anatoecus icterodes	72	18	60,00	2,40	4,00
Anaticola sp.	7	5	16,67	0,23	1,40

As aves foram acondicionadas em sacos plásticos individuais, sendo estes numerados e acondicionados em isopor com gelo e transportados até o Laboratório de Parasitologia do Departamento de Microbiologia e Parasitologia (DEMP) do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no decorrer dos meses de maio a setembro de 2003 e 2004, conforme licenças do IBAMA (015/ 2003/RS e 034/2003/RS), devido ao fato de ser somente neste período que ocorre o aparecimento desta espécie de anatídeo no RS.

Foram analisadas penas dos 30 marrecões (N. peposaca) após lavagem em um tamis de malha 150μm, cujo conteúdo retido no tamis fora acondicionado em frascos individuais contendo álcool 70ºGL e identificados com o nº de cada ave correspondente. Em seguida, o material foi analisado em lupa num aumento de 40X, na busca de piolhos e, na medida em que foram sendo encontrados, eram mantidos no álcool 70ºGL, para posterior identificação. Cada exemplar foi clarificado em líquido de Nesbitt, desidratado em etanol, diafanizado em creosoto de Faia; e montadas lâminas permanentes em bálsamo do Canadá. Para identificação específica dos piolhos foram utilizadas as chaves de PRICE (1971) e CLAY; HOPKINS (1950, 1951 e 1960).

Após identificação das espécies de piolhos, procedeu-se à determinação dos parâmetros prevalência, abundância e intensidade média de parasitismo, conforme proposto por MARGOLIS et al. (1982).

Cinco espécies de piolhos, incluídos em diferentes gêneros foram identificados, utilizando-se características genéricas, quetotaxia e morfologia da genitália dos machos. Elas são indicadas, juntamente com os respectivos parâmetros ecológicos na Tabela 1.

Os hospedeiros-tipo dos gêneros Acidoproctus, Holomenopom, Trinoton, Anatoecus e Anaticola são patos, gansos e cisnes da ordem Anseriformes. Estes piolhos já foram citados em vários países do mundo parasitando vários anatídeos, porém nunca em N. peposaca , exceção feita à Acidoproctus fuligulae (DALGLEISH, 2004). Infelismente não existem trabalhos sobre prevalência, abundância e intensidade média de piolhos em N. peposaca, salvo em outros Anatidae como Dendrocygna viduata (marreca-caneleira), da Flórida em que FORRESTER et al. (1994) encontraram prevalência de 97% para H. leucoxanthum, 77% para Acidoproctus rostratus e 63% para Anatoecus icterodes. Apesar de serem, gêneros distintos, as prevalências para H. leucoxanthum e A. icterodes foram praticamente as mesmas em D. viduata e N. peposaca. Este trabalho registra, portanto, pela primeira vez: a) a ocorrência destes piolhos no sul do país e no mundo; b) a citação do parasitismo de T. querquedulae, A. icterodes e Anaticola sp. em N. peposaca, caracterizando este anatídeo como um novo hospedeiro para estas espécies de piolhos; e c) a prevalência, abundância e intensidade média dessas espécies de piolhos sobre seu novo hospedeiro.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Jan 2022
• Data do Fascículo
  Jan-Mar 2007

Histórico

• Recebido
  17 Fev 2006
• Aceito
  26 Mar 2007