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FUNGOS ASSOCIADOS ÀS SEMENTES DE GIRASSOL (HELIANTHUS ANNUUS L.) E CAPUCHINHA (TROPAEOLUM MAJUS L.) EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO

FUNGI ASSOCIATED WITH SUNFLOWER (HELIANTHUS ANNUUSL.) AND NASTURTIUM (TROPAEOLUM MAJUS L.) SEEDS AT DIFFERENT TEMPERATURES DURING STORAGE

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo analisar a população fúngica das sementes de Helianthus annuus L. (girassol) e Tropaeolum majus L. (capuchinha) externa e internamente, comparando diferentes temperaturas na estocagem. Este trabalho foi desenvolvido no CEN - Centro de Estudos da Natureza da Universidade do Vale do Paraíba, na Cidade de São José dos Campos, SP. Analisou-se 400 sementes de girassol e capuchinha estocando-as em condição ambiental e de refrigeração por um período de 15 dias, sendo 50% de sementes de cada espécie tratadas com hipoclorito e o restante serviram de testemunha, o método utilizado no plaqueamento foi Blotter test. Considerando-se todos os tratamentos realizados, nas sementes de girassol houve o predomínio de Rhizopuz sp. e Fusarium sp., porém nas sementes de capuchinha o maior índice de fungos foi da espécie Aspergillus niger.

PALAVRAS-CHAVE
Fungos; girassol; capuchinha; semente; sanidade

ABSTRACT

This study was aimed to analyze the fungi population of Helianthus annuus L. (sunflower) seeds and Tropaeolum majus L. (nasturtium) externally and internally, in relation to different temperatures during storage. This work was carried out by CEN (Center of Nature Studies) at Universidade do Vale do Paraiba, located at São Jose dos Campos City, São Paulo State, Brazil. A total of 400 sunflower and nasturtium seeds were analyzed at refrigerated and environment temperatures for a period of 15 days, where 50% of the seeds of each species were treated with sodium hypochlorite and the remainder were kept as controls, the method used being the blotter test. Considering all treatments, the predominant fungi were Rhizopuz sp. and Fusarium sp., however in the nasturtium seeds the predominant fungi species was Aspergillys niger.

KEY WORDS
Fungi; sunflower; nasturtium; seed; health

O girassol (Helianthus annuus L.) é uma das quatro maiores oleaginosas produtoras de óleo vegetal comestível em utilização no mundo (UNGARO, 2000UNGARO, M.R.G. Cultivo e processamento de girassol. Tecnologia e Treinamento Agropecuário, v.4, n.17, p.43, 2000.).

O óleo de girassol, além do seu uso generalizado na alimentação humana, incorporado em margarinas, ou como óleo de cozinha, já é usado em tintas e vernizes e pode também ser usado como combustível para tratores e outras veículos (SILVA, 1987SILVA, M.N; ALMEIDA, C.M.R. Plantas de muitas utilidades. Casa da Agricultura, v.9, n.5, p.19-20, 1987.).

A capuchinha (Tropaeolum majus L.), também conhecida como chagas, apresenta um valor medicinal no tratamento do escorbuto, da escrofulose e é depurativa dos intestinos. Produzem pequenos frutos para combater eczemas, doenças de pele e outras. (ALVES FILHO, 2003ALVES-FILHO, M. Flor que enfeita salada previne doenças: tese revela que a Capuchinha é rica em luteína, carotenóide associado à prevenção de problemas oftalmológicos. Jornal da Unicamp, n.230, p.22-28, 2003.). A propagação da espécie ocorre preferencialmente por sementes, entretanto, segundo Zenimori (comunicação pessoal), o índice germinativo, das sementes provenientes do Viveiro de Plantas Medicinais da Universidade do Vale do Paraíba é muito baixo. Dentre os fatores que influenciam o poder germinativo das sementes, está a infecção fúngica.

A maioria dos agentes etiológicos das doenças é transmitida por sementes, principalmente às causadas por fungos que reduzem o poder germinativo e podem ser disseminados, estabelecendo assim focos primários de infecção em novas áreas de cultivo (MACHADO, 1994MACHADO, J.C. Padrões de tolerância de patógenos associados à sementes. Revisão Anual de Patologia de Plantas, v.2, p.229-262, 1994.).

A semente é considerada um dos meios mais eficientes na disseminação de patógenos, os quais podem infestá-las ou infecta-las, dependendo da sua localização (AGARWAL; SINCLAIR, 1987 apud MACHADO, 1994MACHADO, J.C. Padrões de tolerância de patógenos associados à sementes. Revisão Anual de Patologia de Plantas, v.2, p.229-262, 1994.).

Os fungos presentes nas sementes armazenadas são tradicionalmente divididos em dois grupos: de campo e de armazenamento. Os primeiros invadem a sementes ainda no campo, requerendo para seu crescimento, umidade relativa em torno de 90-95%. O tempo de sobrevivência desses fungos nas sementes está diretamente relacionado às condições ambientais do local de armazenamento (LAL; KAPOOR, 1979LAL, S.P.; KAPOOR, J.N. Succession of fungi in wheat and maize during storage. Indian Phytopathology, v.32, p.101-104, 1979.; BERJAK, 1987BERJAK, P. Seed stored problems: our research program. In: ADVANCED INTERNATIONAL COURSE ON SEED PATHOLOGY, 1987, Passo Fundo. Proceedings. Passo Fundo: EMBRAPA/ABRATES, 1987. p.113-130.; MERONUCK, 1987MERONUCK, R.A. The significance of fungi in cereal grains. Plant Disease, v.71, p.287-291, 1987.).

Trabalhos com fungos associados às sementes de capuchinha e girassol, comparando sementes armazenadas em condições de refrigeração e ambiente são ainda incipientes, necessitanto, portanto, novos estudos. Diante disto, o presente trabalho teve como objetivo analisar a população fúngica das sementes de H. annuus (girassol) e T. majus (capuchinha) externa e internamente, comparando diferentes temperaturas de armazenamento.

O trabalho foi realizado no CEN – Centro de Estudos da Natureza, no Laboratório de Microscopia na Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, na Cidade de São José dos Campos, SP. As sementes de girassol e capuchinha foram coletadas nos canteiros de produção de plantas medicinais, localizados na Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, SP. Após a colheita, as sementes foram armazenadas em duas condições distintas, sendo parte armazenada em condição ambiental e parte em condições de resfriamento a uma temperatura de 4º C, as sementes foram mantidas nestas condições por um período de 15 dias devidamente acondicionado em sacos de polietileno transparente e lacrado. Um lote de 100 sementes de cada espécie e de cada condição ambiental foi desinfestado superficialmente por meio da imersão em hipoclorito de sódio a 1% durante 3min. Após a desinfestação, os grãos foram lavados, com água destilada e esterilizada, para remover completamente os resíduos dos produtos. No outro lote de 100 sementes de cada espécie e de cada condição ambiental, não se realizou a desinfestação superficial, permitindo assim, conhecer a população externa, a qual representa uma fonte de inóculo em potencial durante o período de transporte e armazenamento das sementes. As sementes submetidas ao armazenamento em condição ambiental e sob refrigeração a 4º C, desinfestadas e não desinfestadas com hipoclorito foram distribuídas em placas de Petri de 15 cm de diâmetro, contendo 3 folhas de papel filtro, previamente esterilizadas e umedecidas com água destilada e esterilizada. Cada placa com 15 sementes foi considerada uma repetição, totalizando 120 sementes por tratamento. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado. Após plaqueamento, as sementes foram incubadas em câmara com temperatura de 20º C ± e fotoperíodo de 12h de luz durante 8 dias até exteriorização e desenvolvimento dos fungos. A micoflora associada aos grãos foi avaliada através da identificação e contagem dos fungos, examinando individualmente os grãos em microscópio estereoscópico. A identificação foi confirmada pela visualização das estruturas morfológicas dos fungos em microscópio óptico.

Os resultados foram expressos através de porcentagens de sementes infectadas para cada condição avaliada. Os dados foram submetidos à análise da variância e teste de Tukey pelo sistema estatístico Instat.

A incidência média de fungos em sementes de girassol submetidas ou não a desinfecção superficial com NaOCl (1%) e armazenadas sob diferentes condições de armazenamento, pode ser observada na Tabela 1.

Tabela 1
Porcentagem média de incidência fúngica (%) associada aos grãos de girassol em diferentes condições de armazenamento, não desinfestadas (ND) e desinfestadas (D) com NaOCl (1%).

Verifica-se que os fungos Fusarium sp. e Rhizopus sp. apresentaram as maiores incidências, com valores médios de 80 e 75% respectivamente, para as sementes não desinfestadas e 55 e 42% para as sementes desinfestadas com hipoclorito de sódio. Observa se que as sementes armazenadas sob condições de refrigeração apresentaram incidência média de Fusarium sp., Rhizopus sp. superior à incidência encontrada no lote de sementes armazenadas, sob condições ambientes.Os resultados sugerem que o armazenamento das sementes de girassol em temperaturas mais baixas pode favorecer o desenvolvimento destes fungos, TANAKA (2001)TANAKA, M.A.R. Sobrevivência de Fusarium moniliforme em sementes de milho mantidas em duas condições de armazenamento. Fitopatologia Brasileira, v.26, n.1, p.58-62, 2001. constatou que a sobrevivência de Fusarium moliniforme em sementes de milho conservadas durante 12 meses em câmara fria foi favorecida em relação ao armazenamento em ambiente não controlado.Neste estudo a baixa temperatura de armazenamento favoreceu o desenvolvimento destes fungos, mesmo no curto período.

Os resultados, obtidos no presente estudo demonstram, de uma maneira geral, uma maior porcentagem média dos fungos quando as sementes não foram submetidas a desinfestação superficial, estes resultados evidenciam que a infestação externa é ligeiramente superior à interna. Alguns fungos detectados, neste lote de sementes são classificados como saprófitas e oportunistas, necessitando, portanto, de condições favoráveis para infectar o interior das sementes, no entanto, mesmo com um reduzido tempo de armazenamento, observou-se à infestação interna destes fungos. CHRISTENSEN (1973)CHRISTENSEN, C.M. Loss of viability in storage: microflora. Seed Science and Technology, v.1, n.3, p.547-562, 1973. relata que fungos de armazenamento ocorrem apenas durante este período não estando presente em grãos recém colhidos, neste trabalho, o fungo Aspergillus e possivelmente se associou às sementes ainda no campo, já que o procedimento para exteriorização destes fungos foi realizado apenas 15 dias após a colheita.

Tabela 2
Porcentagem média de incidência fúngica (%) associada às sementes de Capuchinha em diferentes condições de armazenamento, não desinfestadas (ND) e desinfestadas (D) com NaOCl (1%).

Os fungos do gênero Cladosporium, Fusarium também foram detectados em sementes de girassol provenientes de 2 regiões do Estado de Goiás, por FALEIRO et al. (2001)FALEIRO, H.T.; SILVA JÚNIOR, R.P. DA; SILVA, F.L. Caracterização de grãos de girassol (Helianthus annusl) ao longo do período da colheita em dois municípios do Estado de Goiás. Pesquisa Agropecuária Tropical, v.31, n.2, p.164-168, 2001., apresentando porcentagens médias de incidência de 86%, 0,9% e 0,4%, respectivamente.No presente estudo, um dos fungos que apresentou maior porcentagem média de incidência foi o gênero Fusarium sp., que se associou às sementes tanto internamente quanto externamente, confirmando, portanto ser um fungo comum em condições de campo, de ampla distribuição, encontrado em vários tipos de solo, podendo inclusive causar várias doenças em diferentes espécies vegetais (TANAKA, 2001TANAKA, M.A.R. Sobrevivência de Fusarium moniliforme em sementes de milho mantidas em duas condições de armazenamento. Fitopatologia Brasileira, v.26, n.1, p.58-62, 2001.).

Outro grupo representativo em termos de porcentagem de incidência foi o gênero Rhizopus, segundo BARRETO et al. (2004)BARRETO, A.F.; E GBERTO, A.; BONIFÁCIO, B.F.; F ERREIRA, O.R.R.S.; BELÉM, L.F. Qualidade fisiológica e a incidência de fungos em sementes de algodoeiro herbáceo tratadas com estratos de agave. Revista de Oleaginosas e Fibrosas, v.8, n.2/3, p.839-849, 2004., este grupo de fungo pode afetar as sementes ocasionando a redução da germinação e vigor.

Dentre os fungos detectados neste lote de sementes encontram-se gêneros toxigênicos. SCUSSEL (1998)SCUSSEL, V.M. Micotoxinas em alimentos. Florianópolis: Insular, 1998. 144p. relata que espécies micotoxigênicas podem ser encontradas em todos os principais grupos de fungos, sendo que os gêneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium são os maiores produtores destes metabólitos.

Como as sementes de girassol podem ser utilizadas in natura para diversas aplicações, este resultado pode ser relevante, já que o gênero Fusarium foi encontrado com incidência média de 72 e 85% respectivamente, nas condições de armazenamento em temperatura ambiente e sob condição de refrigeração (4º C).

Para sementes de capuchinha, observou maior incidência do fungo Aspergillus niger para as sementes armazenadas em condição ambiente, sendo a porcentagem da incidência de 82 e 75% para as sementes desinfestadas e não, respectivamente. O gênero Fusarium, apresentou incidência significativa apenas para as sementes desinfestadas com NaOCl, armazenadas em condição de refrigeração (Tabela 2), ressaltando um maior desenvolvimento deste fungo em condições de baixa temperatura. Este resultado também evidencia a infecção interna das sementes, pode-se inferir, portanto, que a baixa germinalidade das sementes provenientes do viveiro de plantas medicinais da UNIVAP, possivelmente seja devida a alta contaminação de Fusarium e A. niger, já que segundo MACHADO (1994)MACHADO, J.C. Padrões de tolerância de patógenos associados à sementes. Revisão Anual de Patologia de Plantas, v.2, p.229-262, 1994., os fungos associados às sementes podem reduzir o poder germinativo das sementes infectadas.

REFERÊNCIAS

  • ALVES-FILHO, M. Flor que enfeita salada previne doenças: tese revela que a Capuchinha é rica em luteína, carotenóide associado à prevenção de problemas oftalmológicos. Jornal da Unicamp, n.230, p.22-28, 2003.
  • BARRETO, A.F.; E GBERTO, A.; BONIFÁCIO, B.F.; F ERREIRA, O.R.R.S.; BELÉM, L.F. Qualidade fisiológica e a incidência de fungos em sementes de algodoeiro herbáceo tratadas com estratos de agave. Revista de Oleaginosas e Fibrosas, v.8, n.2/3, p.839-849, 2004.
  • BERJAK, P. Seed stored problems: our research program. In: ADVANCED INTERNATIONAL COURSE ON SEED PATHOLOGY, 1987, Passo Fundo. Proceedings Passo Fundo: EMBRAPA/ABRATES, 1987. p.113-130.
  • CHRISTENSEN, C.M. Loss of viability in storage: microflora. Seed Science and Technology, v.1, n.3, p.547-562, 1973.
  • FALEIRO, H.T.; SILVA JÚNIOR, R.P. DA; SILVA, F.L. Caracterização de grãos de girassol (Helianthus annusl) ao longo do período da colheita em dois municípios do Estado de Goiás. Pesquisa Agropecuária Tropical, v.31, n.2, p.164-168, 2001.
  • LAL, S.P.; KAPOOR, J.N. Succession of fungi in wheat and maize during storage. Indian Phytopathology, v.32, p.101-104, 1979.
  • MACHADO, J.C. Padrões de tolerância de patógenos associados à sementes. Revisão Anual de Patologia de Plantas, v.2, p.229-262, 1994.
  • MACHADO, J.C; OLIVEIRA, J.A; VIEIRA, M.G.G.C; ALVES, M.C. Controle da germinação de sementes de soja em testes de sanidade pelo uso da restrição hídrica. Revista Brasileira de Sementes, v.25, n.2, 2003.
  • MERONUCK, R.A. The significance of fungi in cereal grains. Plant Disease, v.71, p.287-291, 1987.
  • SCUSSEL, V.M. Micotoxinas em alimentos Florianópolis: Insular, 1998. 144p.
  • SILVA, M.N; ALMEIDA, C.M.R. Plantas de muitas utilidades. Casa da Agricultura, v.9, n.5, p.19-20, 1987.
  • TANAKA, M.A.R. Sobrevivência de Fusarium moniliforme em sementes de milho mantidas em duas condições de armazenamento. Fitopatologia Brasileira, v.26, n.1, p.58-62, 2001.
  • UNGARO, M.R.G. Cultivo e processamento de girassol. Tecnologia e Treinamento Agropecuário, v.4, n.17, p.43, 2000.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2007

Histórico

  • Recebido
    02 Maio 2006
  • Aceito
    08 Nov 2006
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