OCORRÊNCIA DE GONIPTERUS SCUTELLATUS GYLLENHAL (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) EM PLANTAÇÕES DE EUCALIPTO NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

GONIPTERUS SCUTELLATUS GYLLENHAL (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) OCCURRENCE IN EUCALYPTUS PLANTATIONS IN ESPÍRITO SANTO STATE, BRAZIL

RESUMO

O gorgulho do eucalipto Gonipterus scutellatus Gyllenhal foi encontrado no Estado do Espírito Santo atacando plantações clonais de Eucalyptus urophylla x E. grandis (híbrido “urograndis”). Essa espécie de gorgulho é conhecida no Brasil desde 1979, tendo sua distribuição geográfica restrita aos estados da região Sul e São Paulo. A introdução do inseto no Estado do Espírito Santo foi provavelmente acidental e sua ocorrência tem se limitado à região central do Estado. Nos levantamentos de campo não foi detectado o parasitóide de ovos Anaphes nitens (Hymenoptera: Mymaridae), que é o principal inimigo natural do gorgulho do eucalipto.

PALAVRAS-CHAVE
Praga florestal; gorgulho do eucalipto; Eucalyptus ; proteção florestal

ABSTRACT

The eucalyptus snout beetle Gonipterus scutellatus Gyllenhal was found in Espirito Santo State, Brazil, attacking clonal plantations of Eucalyptus urophylla x E. grandis (hybrid “urograndis”). The presence of this species in Brazil has been known since 1979, with a geographical distribution restricted to Brazil’s South and São Paulo State. The pest’s introduction to the state of Espírito Santo was probably accidental and its occurrence has been limited to the central region of the state. Field surveys did not detect the egg parasitoid Anaphes nitens (Hymenoptera: Mymaridae), which is the main natural enemy of G. scutellatus.

KEY WORDS
Forest pest; eucalyptus snout beetle; Eucalyptus ; forest protection

Gonipterus scutellatus Gyllenhal, 1833 (Coleoptera: Curculionidae), vulgarmente conhecido como gorgullho do eucalipto, é considerada a principal espécie de besouro desfolhador de eucalipto em nível mundial devido aos danos causados em diferentes regiões onde foi introduzida. A espécie encontra-se geograficamente distribuída na África (Kenia, Lesoto, Madagascar, Malawi, Ilhas Maurício, Moçambique, África do Sul, Santa Helena, Swazilandia, Uganda e Zimbabue), na Europa (Espanha e Portugal), na Ásia (China) e na América do Norte (EPPO, 2005). Na América do Sul a praga encontra-se estabelecida na Argentina, Uruguai, Chile e Brasil (LANFRANCO; DUNGEY, 2001) e Uruguai (EPPO, 2005).

G. scutellatus causa danos durante o estágio larval e adulto, atacando principalmente o terço superior da planta hospedeira (MANSILLA VAZQUEZ, 1992). As larvas, logo que eclodem, passam a raspar a superfície foliar, alimentando-se da epiderme e mesófilo sem perfurar a epiderme oposta. Quando mais desenvolvidas, alimentam-se indiscriminadamente de qualquer área das folhas e brotações jovens. Os adultos tendem a se alimentar nas extremidades das folhas e em ramos tenros (TOOKE, 1955).

Diferentes espécies de Eucalyptus são citadas como hospedeiras de G. scutellatus, sendo E. viminalis. E. globulus e E. maidenii consideradas as preferidas pelo gorgulho (TOOKE, 1955; RICHARDSON; MEAKINS, 1986). No campo, os adultos distribuem-se de forma uniforme na planta, podendo viver de 6 a 12 meses (MANSILLA, 2001 apud SANTOLAMAZZA-CARBONE; FERNÁNDEZDE ANA-MAGÁN, 2004).

O controle biológico, com o uso do parasitóide de ovos Anaphes nitens (Hymenoptera: Mymaridae), tem se mostrado a melhor alternativa de controle, com vários relatos documentados do sucesso desse método: nos EUA (HANKS et al., 2000), no Chile (LANFRANCO; DUNGEY, 2001), na Nova Zelândia (WITHERS, 2001), Espanha (CORDERO-RIVERA et al., 1999) e África do Sul (LOCH; FLOYD, 2001). A espécie A. nitens ocorre na região sul do Brasil, onde a praga tem ocorrência esporádica (SANCHES, 2000).

No Brasil há relatos da presença de Gonipterus gibberus desde a década de 1920 atacando Eucalyptus spp. no Estado do Rio Grande o Sul (ANDRADE, 1928; BARBIELLINI, 1955), no entanto a espécie G. scutellatus foi registrada pela primeira vez por FREITAS (1979) na região de Curitiba (PR), em árvores de E. viminalis e E. saligna (var. protusa ). Em 1982 foi detectado em Lages no Estado de Santa Catarina (FENILLI, 1982). Em 1992, foi encontrado danificando E. dunni em Itararé, no Estado de São Paulo (ROSADO-NETO, 1993).

Durante uma década no Brasil os ataques de G. scutellatus ocorreram de maneira esporádica em plantações de eucalipto na Região Sul e sul do Estado de São Paulo, onde a praga manteve-se em equilíbrio devido a presença do inimigo natural específico, o micro himenóptero A. nitens. No entanto, em setembro de 2003, foi verificada a ocorrência de larvas e adultos do gorgulho do eucalipto atacando plantios clonais de eucalipto E. grandis X E. urophylla (‘urograndis’), com idades entre 8 meses e 6 anos, no Município de Aracruz, ES. Após identificação detalhada, constatou-se serem mesmo adultos de G. scutellatus, sendo este o primeiro registro desta espécie de gorgulho no Estado do Espírito Santo.

O inseto pode ter sido introduzido acidentalmente no Estado do Espírito Santo entre 2001 e 2002, provavelmente por carga de madeira trazida de regiões com presença da praga, principalmente da Região Sul (RS e PR). Em regiões de clima frio, os adultos de G. scutellatus podem entrar em diapausa e ficarem alojados sob as cascas soltas dos troncos de eucalipto.

Na região de Aracruz foram vistoriadas áreas de alta, média e baixa infestação por G. scutellatus, com variação no grau de desfolha. Aparentemente, há diferença de suscetibilidade entre diferentes materiais genéticos. Um determinado clone mostrou-se mais susceptível à praga, em relação aos demais. Essa suscetibilidade pode ser devido a estresses sofridos por este material genético, uma vez que foi constatada a ocorrência de manchas foliares causadas por fungos fitopatogênicos (Cylindrocladium e Coniella ).Após visita às áreas, verificou-se a preferência do gorgulho do eucalipto por florestas com idades entre 5 a 6 anos. Foi também observada desfolha de ponteiro em plantios novos, entre 1 e 2 anos, mas sempre em talhões vizinhos a talhões com plantas com maior idade. A área atacada mostrou que a população da praga expandiu-se consideravelmente de setembro de 2003 para julho de 2004, atingindo aproximadamente 50 mil hectares de florestas plantadas na região. Essa expansão pode ser provavelmente devido à ausência inicial nesta região de seu inimigo natural específico o microhimenóptero A. nitens.

A detecção de G. scutellatus em 2003, na região de Aracruz, ES, demonstra que o inseto continua a se dispersar lentamente pelo Brasil, podendo atingir ainda outros estados produtores de eucalipto. Como não foi detectado o parasitóide de ovos, específico para G. scutellatus, o inseto tem causado danos preocupantes nos plantios desta região. A procura pelo parasitóide já esta em andamento em plantios de eucalipto nos estados da região Sul, visando sua introdução no Estado do Espírito Santo.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  02 Jul 2021
• Data do Fascículo
  Jan-Mar 2008

Histórico

• Recebido
  13 Fev 2007
• Aceito
  12 Mar 2008