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O importante papel do parecerista

O processo mais comumente utilizado pela maioria das Comissões Editorias de periódicos científicos para avaliação de artigos é uma pré-avaliação dos editores, seguida de convite a especialistas no tema relativo ao artigo. De forma geral, são convidados profissionais com certa experiência e tempo de serviço, que realizam pesquisas e publicam artigos com regularidade em bons periódicos. Excepcionalmente, são convidados pesquisadores mais novos, sem muita experiência e tradição em publicar artigos, mas que relevam possuir competência técnica necessária para avaliação do manuscrito.

A pressão por publicações tem exigido muito das Comissões Editoriais na busca de profissionais que se disponham a fazer uma revisão boa e dentro do prazo estabelecido. É comum o Editor de uma revista convidar pareceristas que não aceitam avaliar determinado artigo, mesmo sendo uma autoridade naquele tema. Diversas razões são apontadas para justificar a recusa em avaliar o artigo, dentre elas: (i) a sobrecarga de trabalho; (ii) a necessidade de elaboração de pareceres para outras revistas e/ou órgãos de fomento à pesquisa; (iii) excessiva carga horária didática em salas de aulas (válido para professores); (iv) atividades administrativas; etc.

Devido à dificuldade de captar bons pareceristas, as Comissões Editoriais se veem, muitas vezes, obrigadas a lançar mão de convites a profissionais sem a devida experiência e (às vezes) competência para realizar uma boa avaliação de manuscritos. Em muitos desses casos, os pareceres são ruins e os Editores são forçados a eliminar alguns pareceres devido a inúmeros erros. A seguir, são listados alguns pontos que nos parecem importantes num processo de revisão de artigos científicos por “pares”:

1) Conhecer o escopo da revista: é importante que o parecerista saiba a proposta da revista, suas principais linhas editoriais, seu público-alvo e o rigor com que o artigo deve ser avaliado.

2) Avaliação técnica: o parecerista somente deve aceitar avaliar o artigo caso se sinta familiarizado com o tema, pois só assim poderá avaliar a real contribuição do artigo ao estado atual da arte de terminado assunto.

3) Avaliar versus sugerir: embora muitos profissionais possam fazer excelentes sugestões aos autores, não é essa sua principal atribuição. Muitos pareceristas confundem avaliação com sugestões de correções e inserção de novas frases. Há pareceristas que reescrevem trechos dos artigos. De forma geral, os Editores necessitam de um parecer técnico sobre a qualidade do artigo e sua base científica, da avaliação se os autores deixaram claras as dúvidas/perguntas que quiseram responder com base em seu estudo, da conferência sobre o uso de métodos adequados, da correta interpretação/análise estatística dos resultados (quando for o caso) e da comparação com referências bibliográficas. Porém, não é raro encontrar pareceristas que se limitam a fazer sugestões aos autores, sem entrar no mérito da qualidade do artigo. Isso sobrecarrega o trabalho do Editor e pouco acrescenta ao processo de avaliação do manuscrito.

4) Cumprimento de prazo: é fundamental que o parecerista cumpra os prazos estabelecidos, a fim de não prejudicar o processo de avaliação dos manuscritos. Infelizmente, há profissionais que elaboram excelentes pareceres, mas, via de regra, não cumprem os prazos.

5) Cordialidade: o parecerista deve pontuar suas colocações com frases cordiais, que tratem apenas do caráter científico do artigo. Em vez de frases como “o artigo está mal escrito e é extremamente simples”, “a discussão dos resultados está ruim”, “a forma de avaliação dos resultados está totalmente errada”, “muitas frases estão mal redigidas e impossíveis de entender”, “as hipóteses estão mal formuladas, o que mostra que o autor não tem ideia do que estudou”, “o artigo é fraco e não traz nada de novo ao conhecimento atual”, “os resultados eram esperados e não trazem nenhuma novidade”, “esse artigo deve ser rejeitado”; são sugeridas frases como: “o artigo não aborda o tema com a devida profundidade”, “a discussão dos resultados não está adequada”, “a forma de avaliação dos resultados não está correta”, “muitas frases estão confusas e de difícil entendimento”, “as hipóteses não estão claramente definidas”, “não ficou clara a real contribuição do artigo”, “os resultados são apenas confirmatórios e, salvo melhor juízo, não justificam a publicação nesse periódico”.

Como conclusão, é necessário um claro entendimento da fundamental contribuição que os pareceristas têm no processo de avaliação de manuscritos e na qualidade dos periódicos. Bons pareceres são cruciais para aumentar a eficiência do trabalho de Editores. Dessa forma, as Comissões Editoriais deveriam buscar formas de premiar bons pareceristas, seja na forma do envio gratuito de exemplares das revistas, seja convidando-os a fazer parte da Comissão Editorial, etc. Assim, haveria uma motivação adicional a esses bons pareceristas que tanto contribuem com a qualidade das revistas científicas, mas poucas vezes têm seu trabalho devidamente reconhecido.


Luís Reynaldo Ferracciú Alleoni Editor-Chefe da Scientia Agricola
(www.scielo.br/sa)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2014
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