INTRODUÇÃO
Entre os grupos das E. coli, as enterohemorrágicas (EHEC) são consideradas as mais patogênicas para os seres humanos, e podem ser transmitidas das fezes do bovino para a água, os vegetais ou os alimentos de origem animal, como o leite e seus derivados, assim como as carnes e seus derivados. As EHEC presentes nos bovinos podem ser transmitidas das fezes do animal para a carcaça no abatedouro, tornando-se a principal via de transmissão para os humanos que ingerem a carne mal cozida (NATARO; KAPER, 1998; MENG et al., 2007; SHAH et al., 2010).
Apesar de a E. coli O157:H7 ser a mais conhecida deste grupo, cepas de diferentes sorotipos também possuem alto potencial patogênico. Patógenos pertencentes ao sorogrupo das E. coli não-O157 são considerados emergentes e um problema para a saúde pública, uma vez que eles também têm sido associados a doenças severas em seres humanos, como a Síndrome Hemolítica Urêmica (SHU), Colite Hemorrágica (CH) e outras doenças gastrointestinais (BUVENS et al., 2012; SASAKI et al., 2012).
Entre os diversos sorotipos de E. coli não-O157, encontram-se o O147, O141, O113, O116, O82, O75, O73, O71, O53, O26, O23, O22, O7, O4 e NT, isolados anteriormente em humanos, bovinos e alimentos de origem animal (BETTELHEIM, 1978; CONSTANTINIU, 2002). Os sorotipos O22, O23, O26, O75, O113 e NT foram descritos em pacientes com SHU. Esses sorotipos e os sorotipos O82, O113 e O141 foram associados a casos de diarreia, colite hemorrágica, dor abdominal, colite ulcerativa ou púrpura trombocitopênica trombótica, e o O26, O55, O11, O126, O127 e O128, à gastroenterite infantil (BETTELHEIM, 1978; CONSTANTINIU, 2002; HUSSEIN, 2007).
Os sorotipos O26 e O113 são considerados patógenos emergentes, responsáveis por surtos de doença de origem alimentar em diversos países (MATHUSA et al., 2010; JORIS et al., 2011; MONAGHAN et al., 2011), sendo que o sorotipo predominantemente responsável por causar doenças severas nos humanos é o O26 (BUVENS et al., 2012; SASAKIet al., 2012).
O aumento e a disseminação da resistência bacteriana têm sido documentadas como um problema de saúde pública mundialmente conhecido, causando preocupação em relação à eficácia nos tratamentos das doenças. A pressão da seleção de antibióticos é favorecida pela falta de informações sobre como os animais contribuem para a resistência de cepas de E. coli que causam doença em humanos, já que os mesmos antibióticos são usados para tratar animais e humanos, e também são utilizados como promotores de crescimento na pecuária (SCHROEDER et al., 2002; MAYNARDet al., 2004).
O uso de antimicrobianos como agentes promotores de crescimento em animais de produção foi incriminado por modificar a microbiota intestinal dos animais pela criação de uma pressão de seleção, favorecendo o desenvolvimento de cepas resistentes a antimicrobianos (DIARRA et al., 2009).
A perda ou adesão de alguns genes pode ocorrer em algumas cepas de E. coli, que são conhecidas por ter uma boa capacidade de realizar transferência horizontal de genes para aumentar a diversidade genética (MANNAet al., 2010), incluindo o desenvolvimento da multirresistência a antimicrobianos (SCHROEDERet al., 2002).
A multirresistência pode se tornar um problema de saúde pública se os humanos se infectarem pela bactéria devido à ingestão de carne contaminada, já que isolados resistentes a antimicrobianos presentes nos animais de produção podem entrar no fluxograma de produção do alimento e serem encontrados nos produtos de origem animal presentes nos mercados (DIARRA et al, 2009).
A ocorrência e a suscetibilidade de E. coli O157 e não-O157 a antimicrobianos têm sido estudadas (SCHROEDERet al., 2002; VAZet al., 2004; JORISet al., 2011; BUVENSet al., 2012; SASAKIet al., 2012), entretanto, há poucos relatos desses sorotipos em abatedouros bovinos, principalmente no Brasil.
Diante do exposto, o trabalho teve como objetivo verificar a ocorrência de E. coli O157:H7 e não-O157 em diversas etapas do abate bovino e avaliar o comportamento dessas bactérias frente à ação de antimicrobianos.
MATERIAL E MÉTODOS
Coleta do material
Foram colhidas em abatedouro bovino, localizado no estado de São Paulo, 349 amostras, sendo sete de água de abastecimento da indústria, 21 de superfície de mãos dos manipuladores, 21 de superfície de facas e 300 provenientes de 50 animais em seis pontos no fluxograma de abate: fezes e pele dos animais, superfície externa e interna das carcaças, água residuária da lavagem das carcaças e carne.
As amostras da água de abastecimento da indústria foram coletadas em sacos de polietileno estéreis contendo pastilhas de tiossulfato de sódio a 10% (Whirl-pak, Nasco), em quantidade aproximada de 400 mL, e o teor de cloro residual livre foi determinado na própria indústria, que atende a determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A coleta das amostras foi realizada de acordo com o fluxograma de abate, e os animais escolhidos foram etiquetados numericamente no traseiro e no dianteiro, para obter amostras sempre do mesmo animal. Foram coletadas amostras de fezes no reto do animal, da pele e da musculatura interna e externa das carcaças por meio de suabes embebidos em água peptonada a 0,1%, e da água de lavagem que escorre pelas faces internas e externas das meias carcaças. Amostras de carne foram coletadas 24 horas após a entrada da carcaça na câmara fria, no momento anterior à desossa. A colheita de material das facas e mãos também foi realizada por meio de suabes. Após a colheita, as amostras foram acondicionadas em caixa isotérmica contendo gelo reciclável e encaminhadas ao laboratório do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, da Universidade Estadual Paulista, campus de Jaboticabal, para a realização das análises.
Metodologia de isolamento
O isolamento foi realizado de acordo com a metodologia descrita por APHA(2001) para E. coli O157:H7, utilizando o TSBm (Modified tryptone soya broth, Oxoid, England) adicionado de novobiocina (20 mg/L - Novobiocin selective supplement, Oxoid, England) como caldo de enriquecimento e incubação a 37oC, sendo numa primeira fase sob agitação por 6 horas e, em seguida, por 18 horas em repouso. Do ágar MacConkey Sorbitol (Oxoid, England) adicionado de 0,05 mg/L de cefixima e 2,5 mg/L de telurito de potássio (CT-SMAC, Invitrogen, USA), foram tomadas até cinco colônias sorbitol negativas e, uma vez caracterizadas como bastonetes Gram negativos, foram submetidas às provas de produção de indol, inoculação em ágar Tríplice Açúcar Ferro (TSI), Vermelho de Metila (VM), Voges-Proskauer (VP), aproveitamento de citrato (C), motilidade, fermentação do sorbitol e descarboxilação da lisina e ornitina (FADDIN,1976).
Caracterização molecular de E. coli
A PCR foi realizada no laboratório referência da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) para E. coli (EcL), daUniversité de Montreal, no Canadá, para caracterização da E. coli O157:H7 e também das E. coli não-O157: O26, O55, O91, O103, O111, O113, O121 e O145, mesmo que esses sorogrupos sejam conhecidos por fermentarem o sorbitol (Tabela 1). O DNA foi extraído pelo método de fervura, de acordo com a metodologia utilizada pelo laboratório referência da OIE para E.coli, a partir de colônias isoladas em placas de Petri contendo ágar Sangue (Oxoid, England).
Tabela 1 Características dos primers utilizados na PCR.
Sorotipo | Gene | Sequência (5’→ 3’) | PCR amplicon (pb) | Condições da PCR | Concentração do primer (pmol) | Referência |
---|---|---|---|---|---|---|
E. coli O157 | rfbEO157 | F: CTACAGGTGAAGGTGGAATGG R: ATTCCTCTCTTTCCTCTGCGG |
327 | 94oC, 5 min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 60 oC por 30s, 72oC por 30s; extensão final de 72oC, 5min | 10 | WANG et al., 2002 |
E. coli H7 | fliC H7 | F: GCGCTGTCGAGTTCTATCGAGC R: AACGGTGACTTTATCGCCATTCC |
625 | 94oC, 5 min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 60 oC por 30s, 72oC por 30s; extensão final de 72oC, 5min | 10 | GANNON et al., 1997 |
E. coli O26 | wzx-wzy O26 | F: AAATTAGAAGCGCGTTCATC R: CCCAGCAAGCCAATTATGACT |
596 | 94oC, 5 min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 55 oC por 30s, 72oC por 30s; extensão final de 72 oC, 5min | 10 | DURSO et al., 2005 |
E. coli O55 | wbgN O55 | F: TGTAATTCGATGCACCAATTCAG R: CGCTTCGACGTTCGATACATAA |
70 | 94oC, 5 min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 55 oC por 30s, 72oC por 30s; extensão final de 72oC, 5min | 10 | PERELLE et al., 2004 |
E. coli O91 | wzy O91 | F: CGATTTTCTGGAATGCTTGATG R: CAATACATAGTTTGATTTGTGTTTAAAGTTTAAT |
105 | 94oC, 5 min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 55 oC por 30s, 72 oC por 30s; extensão final de 72 oC, 5min | 10 | PERELLE et al., 2004 |
E. coli O103 | wzx O103 | F: TTGGAGCGTTAACTGGACCT R: GCTCCCGAGCACGTATAAG |
321-280 | 94oC, 5 min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 55 oC por 30s, 72oC por 30s; extensão final de 72oC, 5min | 10 | FRATAMICO et al., 2005 |
E. coli O111 | O111 | F: TAGAGAAATTATCAAGTTAGTTCC R: ATAGTTATGAACATCTTGTTTAGC |
406 | 94oC, 5 min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 60 oC por 30s, 72oC por 30s; extensão final de 72oC, 5min | 10 | PATON & PATON, 1998 |
E. coli O113 | O113 | F: AGCGTTTCTGACATATGGAGTG R: GTGTTAGTATCAAAAGAGGCTCC |
593 | 94oC, 5min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 60oC por 30s, 7 oC por 30s; extensão final de 72oC, 5min | 10 | PATON et al., 1999 |
E. coli O121 | wzx O121 | F: GTAGCGAAAGGTTAGACTGG R: ATGGGAAAGCTGATACTGC |
651 | 94oC, 5min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 60 oC por 30s, 72oC por 30s; extensão final de 72oC, 5min | 10 | MONDAY et al., 2007 |
E. coli O145 | wzx1 O145 | F: ACTGGGATTGGACGTGGATA R: AGGCAAGCTTTGGAAATGAA |
222 | 94oC, 5min; 24 ciclos de 94oC por 30s, 55oC por 30s, 72oC por 30s; extensão final de 72oC, 5min | 10 | FRATAMICO et al., 2009 |
Teste de suscetibilidade frente a antimicrobianos
O teste de sensibilidade a antimicrobianos foi realizado conforme o método de difusão em discos Kirb-Bauer em ágar Muller-Hinton (Merck) (NCCLS, 1990). Os antimicrobianos utilizados foram amicacina (30 µg), amoxicilina/ácido clavulânico (30 µg), ampicilina (10 µg), aztreonam (30 µg), cefalotina (30 µg), cefepime (30 µg), cefoxitina (30 µg), ceftadizima (30 µg), ceftriaxona (30 µg), ciprofloxacina (5 µg), cloranfenicol (30 µg), gentamicina (10 µg), piperacilina/tazobactam (110 µg), sulfazotrim (25 µg), tetraciclina (30 µg) (Polisensidisc 15 DME(r)série Gram-negativo).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ocorrência de Escherichia coli
Dos 50 animais coletados, seis (12,0%) apresentaram E. coli O157:H7; quatro (8,0%), E. coli O26; e um (2,0%), E. coli O113. Em dois (9,52%) dos 21 suabes de faca, isolou-se a E. coli O26, fato inesperado, uma vez que, segundo SHAHet al. (2010), apenas aproximadamente 6% de isolados atípicos das E. coli não-O157 não fermentam o sorbitol. Em relação aos pontos coletados, verificou-se a presença da E. coli O157:H7 nas fezes de três (6,0%) animais, na pele de um (2,0%) e, concomitantemente, nas fezes e pele de dois (4,0%). A E. coli O26 foi identificada na pele de três (6,0%) animais, no músculo externo da carcaça de um (2,0%), na água residuária da lavagem da carcaça de um (2,0%) e em duas (9,52%) suabes de facas.
Não houve a presença de bactérias na água de abastecimento da indústria, confirmando a eficiência do cloro em seu tratamento. Observa-se, pela presença de E. coli patogênicas em algumas etapas do abate, que há o risco de transmissão desses micro-organismos durante o processamento, o que confirma a possibilidade de tais bactérias chegarem à carne e serem ingeridas pelos consumidores. A presença da bactéria na faca dos manipuladores durante a evisceração mostra que este objeto não está sendo esterilizado de maneira corret, conforme designa a circular No175/2005, do MAPA, que preconiza a esterilização das facas por 20 segundos a 82ºC, no mínimo, após cada operação, pois durante a evisceração pode ocorrer uma contaminação da carcaça mais extensa por conteúdo gastrointestinal (BRASIL, 2005). ELDER et al. (2000) também indicaram que o processo de evisceração é um ponto crítico de controle para a contaminação das carcaças, e estratégias de intervenção devem ser implementadas.
A ocorrência de E. coli O157:H7 neste estudo (12,0%) foi maior do que a relatada por VAZ et al. (2004), em um estudo retrospectivo de E. coli em humanos no Brasil (6,67%), e por BUVENSet al. (2012), em um estudo sobre a a incidência e determinantes de virulência de STEC em casos de infecções na Bélgica (0,23%). Já KAPPELI et al. (2011) obtiveram STEC O157:H7 em 100% das amostras provenientes de casos clínicos na Suíça.
THOMAS et al. (2012), no intuito de rastrear diversos sorotipos de E. coli em etapas do abate bovino no Irã, verificaram prevalência de E. coli O157 de 18,9% nas amostras de pele, de 2,7% nas de fezes, de 0,7% nas carcaças pré-evisceradas e de 0,7% nas carcaças após a lavagem. Em relação a este estudo, as porcentagens citadas foram maiores para as amostras de pele (2,0%) e menores para as de fezes (6,0%). Os autores também identificaram o sorotipo O26 em 0,2% das amostras de pele, 1,5% das de fezes e em nenhuma carcaça, diferenciando-se deste estudo, que mostrou a presença da bactéria em 6,0% das amostras de pele, em nenhuma amostra de fezes e 2,0% das amostras de músculo externo da carcaça.
PADDOCK et al. (2012), verificando a aplicabilidade da PCR multiplex para detectar E. coli não-O157 e O157 em bovinos, identificaram a E. coli O157 em 49,0% e O26 em 82,0% das amostras, valores maiores que os obtidos neste trabalho, de 12,0% e 8,0%. Já BUVENSet al. (2012), ao estudarem STEC em casos de infecções na Bélgica, relataram menor ocorrência de E. coli O26 (0,14%) em relação a este estudo (8,0%).
Suscetibilidade a antimicrobianos
Todos os 52 isolados de E. coli O157:H7 provenientes dos seis (12,0%) animais foram sensíveis à tetraciclina, cefepime, cefoxitina, ciprofloxacina e sulfazotrim. A sensibilidade também foi relatada em 98,08% (51) dos isolados ao cloranfenicol, 94,23% (49) à amoxicilina/ácido clavulânico, 88,46% (46) à ceftriaxona e ao aztreonam, 86,54% (45) à ceftadizima e à gentamicina, 84,61% (44) à piperacilina/tazobactam, 71,15% (37) à amicacina, 51,92% (27) à ampicilina e 15,38% (8) à cefalotina. A resistência foi verificada em 78,85% (41) das culturas para a cefalotina, 34,61% (18) para ampicilina, 7,70% (4) para aztreonam e ceftadizima, 3,84% (2) para amicacina e piperacilina/tazobactam e 1,92% (1) para gentamicina.
A multirresistência a antimicrobianos do sorotipo O157:H7 foi verificada em 46,15% (24) dos isolados, sendo 38,46% (20) resistentes a dois; 5,77% (3), a três; e 1,92% (1), a seis antibimicrobianos. A distribuição entre os 24 isolados foi de 70,83% (17) para ampicilina e cefalotina; 8,33% (2) para aztreonam e cefalotina; 4,17% (1) para amicacina e cefalotina, assim como para ceftadizima, piperacilina/tazobactam e cefalotina, para ceftadizima, amicacina e cefalotina, para aztreonam, ceftadizima e cefalotina, e também para aztreonam, ceftadizima, piperacilina/tazobactam, ampicilina, gentamicina e cefalotina (Fig. 1).
Corroborando com este estudo, SCHROEDERet al. (2002) também encontraram E. coli O157:H7 em bovinos suscetíveis à cefoxitina, ciprofloxacina e ceftriaxona, porém, diferentemente deste estudo, no que se refere à tetraciclina, frente à qual 100% das culturas foram sensíveis. Os autores também relataram multirresistência a dois, três e seis antimicrobianos. Baixa porcentagem de resistência à ampicilina (5,4%) e à gentamicina (1,92%), e maior multirresistência (75,0%) a dois, três, quatro, seis e oito antimicrobianos, também foram encontradas em gado de corte no Japão (SASAKIet al., 2012).
Diferentemente deste estudo, KAPPELI et al. (2011) verificaram que 4,5% dos isolados de STEC O157 provenientes de casos clínicos na Suíça foram resistentes à tetraciclina. Porém, assim como neste estudo, encontraram 100% de sensibilidade para ciprofloxacina, cefepime e cefoxitina.
Todos os 17 isolados de E. coli O26 provenientes dos quatro (8,0) animais e de dois (9,52%) suabes de facas mostraram-se sensíveis à cefoxitina, cefepime e sulfazotrim; 82,35% (14), à ciprofloxacina e cloranfenicol; 47,06% (8), ao aztreonam, amicacina e gentamicina; 35,29% (6), à piperacilina/tazobactam e ceftriaxona; 23,53% (4), à ceftadizima; 11,76% (2), à amoxicilina/ácido clavulânico; e 5,88% (1) à tetraciclina. A resistência foi verificada em 88,23% (15) dos isolados para tetraciclina e cefalotina, 82,35% (14) para ampicilina, 17,65% (3) para aztreonam, ceftadizima, piperacilina/tazobactam e amicacina, e 11,76% (2) para gentamicina e amoxicilina/ácido clavulânico (Fig. 2).
A multirresistência aos antimicrobianos foi observada em 94,12% (16) dos isolados, sendo resistentes 11,76% (2) a dois, 29,41% (5) a três, 35,29% (6) a quatro, 11,76% (2) a cinco e 5,88% (1) a seis antibióticos. A distribuição entre os 16 isolados foi de 25% (4) para tetraciclina, ampicilina e cefalotina; 12,5% (2), para tetraciclina, amicacina, ampicilina e cefalotina; 6,25% (1), para tetraciclina e cefalotina; 6,25% (1), para ampicilina e cefalotina; 6,25% (1), para tetraciclina, ampicilina e amoxicilina/ácido clavulânico; 6,25% (1), para aztreonam, ceftadizima, tetraciclina e cefalotina; 6,25% (1), para tetraciclina, ampicilina, gentamicina e amoxicilina/ácido clavulânico; 6,25% (1), para piperacilina/tazobactam, tetraciclina, ampicilina e cefalotina; 6,25% (1), para aztreonam, tetraciclina, ampicilina e cefalotina; 6,25% (1), para piperacilina/tazobactam, tetraciclina, ampicilina, gentamicina e cefalotina; 6,25% (1), para aztreonam, ceftadizima, tetraciclina, ampicilina e cefalotina; 6,25% (1), para ceftadizima, piperacilina/tazobactam, tetraciclina, amicacina, ampicilina e cefalotina (Fig. 3).
O único isolado pertencente ao sorotipo O113 mostrou-se sensível à maioria dos antibimicrobianos testados, exceto para a ampicilina e cefalotina, às quais foi resistente.
MORA et al. (2005), analisando a resistência antimicrobiana de cepas de STEC O157:H7 e não-O157 isoladas de humanos, bovinos, ovelhas e alimentos na Espanha, verificaram porcentagem maior (98%) de multirresistência entre as STEC O157:H7 em relação a este estudo (46,15%), e os perfis de multirresistência frequentemente encontrados são diferentes, como sulfisoxazole, tetraciclina e estreptomicina.
SASAKI et al. (2012), ao estudarem a resistência a antimicrobianos em STEC O157 e O26 isoladas de gado de corte no Japão, relataram 36,4% das cepas de E. coli O26 resistentes à ampicilina, nenhuma à gentamicina e 18,2% delas ao cloranfenicol, diferentemente deste estudo, que encontrou porcentagens maiores de 82,35% e 11,76% para ampicilina e gentamicina, respectivamente, e nenhuma cepa resistente ao cloranfenicol. Os autores verificaram multirresistência a dois, três, sete e oito antimicrobianos em 100% das cepas, porcentagem semelhante a este estudo, que foi de 94,12%.
BUVENS et al. (2012), em um estudo sobre a resistência de STEC O157 e O26 em casos de infecção em humanos na Bélgica, encontraram, para a O157, 32,4% de resistência para a tetraciclina, 23,5% para ampicilina e 2,9% para cloranfenicol, porcentagens maiores para tetraciclina e cloranfenicol, e menor para a ampicilina em relação a este estudo. Os autores ainda relataram porcentagens de resistência menores de E. coli não-O157 em relação à ampicilina (27,1%), tetraciclina (26,2%), amoxicilina/ácido clavulânico (2,8%), piperacilina/tazobactam (1,9%), ceftadizima (1,9%), gentamicina (1,9%) e aztreonam (0,9%) quando comparadas a E. coli O26 encontrada neste trabalho, que apresentou resistência, respectivamente, de 82,3%, 88,23%, 11,76%, 17,65%, 17,65%, 11,76% e 17,65%.
BUVENS et al. (2012) verificaram alta sensibilidade da E. coli O157:H7 para piperacilina/tazobactam, ceftadizima, aztreonam, amicacina e gentamicina, e da O26 para ceftriaxona, cefepime, ciprofloxacina e amicacina, resultados similares aos deste estudo, exceto para a amicacina, cuja resistência foi de 17,65%.
Entretanto, VAZ et al. (2004) verificaram cepas pertencentes a E. coli O157:H7 e O26 isoladas de pacientes no Brasil, não multirresistentes a antimicrobianos.
A resistência a múltiplos antimicrobianos em STEC pode resultar da distribuição de elementos genéticos, como plasmídeos, transposons e íntegrons, que conferem resistência a vários antibióticos. Porém, outros estudos são necessários para definir os mecanismos e diminuir o desenvolvimento da resistência (MORAet al., 2005). A multirresistência a antimicrobianos também pode ser resultado da passagem horizontal de genes por mecanismos de transferência adotados pela bactéria (SCHROEDERet al., 2002) e se tornar um problema de saúde pública se os humanos se infectarem devido à ingestão de carne contaminada.
Portanto, assim como THOMAS et al. (2012), em um estudo sobre E. coli produtoras de verotoxina (VTEC) O157, O26, O103 e O145 em gado iraniano, verifica-se que a E. coli O157:H7 foi a mais prevalente no matadouro-frigorífico. Porém, as não-O157, como a O26 e O113, que são potencialmente patogênicas, estão começando a emergir no processo de abate bovino no país. É importante revisar as medidas de prevenção dentro do frigorífico, a fim de evitar que elas cheguem à carne e prejudiquem a saúde do consumidor. Com isso, em concordância com VAZ et al. (2004), nota-se que é ainda mais importante a implementação de um sistema de vigilância para pessoas com diarreia sanguinolenta e SHU no Brasil, a fim de contribuir com a estimativa real da associação de cepas de E. coli O157:H7 e não-O157 com infecções humanas. Apesar de grande parte dos isolados deste estudo serem suscetíveis à maioria dos antimicrobianos testados, eles devem ser usados com critério para evitar a multirresistência em tratamentos futuros, visto que muitos antibimicrobianos são usados tanto na medicina veterinária quanto na humana.