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Avaliação da ação de uma virose na produção e qualidade de tubérculos de batata-doce

Action evaluation of a virus on yield and quality of sweet potato tubers

O oeste do estado de São Paulo responde por cerca de 40% da produção estadual de batata-doce, mesmo sem a adoção, pelos agricultores da região, de tecnologias fundamentais para o aumento da produtividade. Este trabalho avaliou o impacto de viroses sobre variáveis da produção de batata-doce. O experimento foi conduzido em área comercial no município de Presidente Prudente, São Paulo, Brasil, utilizando plantas de Ipomoea batatas L, grupo rosada, cv. Canadense. Como material de propagação foram utilizadas mudas livres de vírus produzidas em viveiros e mudas originadas de lavoura comercial infectada por vírus. Na colheita foram demarcadas três parcelas de 10 x 4 m em cada uma das metades do campo (com e sem vírus), quando se avaliou, aleatoriamente, número, massa, comprimento e diâmetro dos tubérculos de dez plantas localizadas na área central de cada parcela. As parcelas sem vírus produziram cerca de 50% a mais e o dobro em massa (kg) de tubérculos colhidos em relação aos provenientes das parcelas com vírus. Os tubérculos obtidos das plantas não infectadas apresentaram maior massa (p < 0,01), comprimento (p < 0,01) e diâmetro médio (p < 0,05) do que os colhidos das plantas infectadas. Foi constatada também uma frequência de 65% de tubérculos com classificação 2A (150 a 299 g) para o grupo rosada-CEAGESP, que representa 70% do volume comercializado no CEAGESP, o que confere maior lucratividade ao produtor.

Ipomoea batatas; qualidade; vírus; mercado


ABSTRACT

The Western region of São Paulo State, Brazil, is responsible for approximately 40% of the production of sweet potato (Ipomoea batatas L.) in the state, even under low-technology. The study aimed to evaluate the impact of viruses on sweet potato production variables. The experiment was conducted in Presidente Prudente, São Paulo, Brazil, in a commercial sweet potato crop of pink group, cv. Canadense, with and without virus. In three randomly chosen plots of 10 x 4 m in each half of the field (with and without virus), ten central plants were randomly collected. The number, weight, length and diameter were evaluated. The plots without virus produced 50% more tubers and 100% more weight during harvesting. Tubers obtained from virus-free seedlings showed a greater mass (p < 0.01), height (p < 0.01) and mean diameter (p < 0.05) than those harvested from infected plants. From free-of-virus seedlings, 65% of tubers were classified as 2A (150 to 299 g), the standard that represents 70% of the trading volume at a Food Market place, which provides greater profitability to the producer.

Ipomoea batatas; quality; virus; market

O oeste de São Paulo é uma das principais regiões produtoras de batata-doce do estado. Apesar da importância econômica desse segmento do agronegócio, o cultivo dessa olerícola é realizado por pequenos produtores que não utilizam tecnologias fundamentais para o aumento da produtividade. A ocorrência de viroses se destaca entre os fatores que mais causam prejuízos à produção de batata-doce, o que se deve à falta de material de propagação sadio isento de agentes fitopatogênicos, e da disponibilização, aos agricultores, de cultivares resistentes às doenças. Na cultura da batata-doce, mais de 15 espécies de vírus (Valverde et al., 2007VALVERDE, R.A.; CLARK, C.A.; VALKONEN, J.P.T. Viruses and virus disease complexes of Sweetpotato. Plant Viruses , v.1, n.1, p.116-126, 2007.; Di Feo et al., 2000DI FEO, L.; NOME, S.F.; BIDERBOST, E. Etiology of sweet potato chlorotic dwarf diseasein Argentina. Plant Disease , v.84, n.1, p.35-39, 2000.) já são descritos, entre os quais ocorrem no Brasil: o vírus do mosqueado plumoso (sweet potato feathery mottle virus - SPFMV); vírus do mosqueado suave (sweet potato mild mottle virus - SPMMV); o vírus latente (sweet potato latent virus - SPLV) e o que causa a mancha clorótica (sweet potato chlorotic flecks virus - SPCFV) (Moyer; Salazar, 1989MOYER, J.; SALAZAR, L.F. Viruses and virus-like diseases of sweet potato., Plant Disease v.73, p.451-455, 1989.; Pio Ribeiro et al., 1993PIO RIBEIRO, G.; ASSIS-FILHO, F.M.; DA PAZ, C.D.; PIRES, C.R.C. Ocorrência de Sweet potato feathery mottle virus em germoplasma de batata-doce no Estado de Pernambuco. Fitopatologia Brasileira , v.18, p.458-460, 1993.; Daniels, 1999DANIELS, J. Utilização de técnicas sorológicas para detecção de vírus em batata-doce . Brasília: Embrapa/CPACT, 1999.; Kroth et al., 2001KROTH, L.L.; FUENTES, S.; SALAZAR, L.F.; DANIELS, J. Detecção sorológica de vírus por NCM-ELISA em lavouras de batata-doce no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Agrociência , v.7, n.2, p. 117-119, 2001.). Desses, o SPFMV é o mais disseminado, com ocorrência comum em todo o mundo, inclusive no Brasil, causando perdas significativas na produção (Valverde et al, 2007VALVERDE, R.A.; CLARK, C.A.; VALKONEN, J.P.T. Viruses and virus disease complexes of Sweetpotato. Plant Viruses , v.1, n.1, p.116-126, 2007.).

A produção comercial da batata-doce é baseada na propagação vegetativa, o que causa o acúmulo e a perpetuação dos vírus em praticamente todas as cultivares plantadas nas principais áreas do mundo, causando perdas significativas nos aspectos quantitativo e qualitativo dos tubérculos (Cecílio-Filho et al., 1998CECÍLIO FILHO, A.B.; REIS, M.S.; SOUZA, R.J.; PASQUAL, M. Degenerescência em cultivares de batata-doce. Horticultura Brasileira , Brasília, v.16, n.1, p.82-84, 1998.; Pozzer et al., 1994POZZER, L.; SILVA, J.B.C.; DUSI, A.N.; KITAJIMA, E.W. Avaliação da taxa de reinfecção de plantas de batata-doce livre de vírus pelo Sweet potato feathery mottle virus em condições de campo., Fitopatologia Brasileira v.19, n.2, p.231-234, 1994.).

Na África, foram registradas perdas variando de 56 a 90% em plantações afetadas pela associação do SPFMV com SPCSV (Ndunguru et al., 2009NDUNGURU, J.; KAPINGA, R.; SSERUWAGI, P.; SAYI, B.; MWANGA, R.; TUMWEGAMIRE, S.; RUGUTU, C. Assessing the sweet potato virus disease and its associated vectors in northwestern Tanzania and central Uganda. African Journal of Agricultural Research , v.4, n.4, p.334-343, 2009.).

No Brasil, estudo realizado na região de Presidente Prudente, São Paulo, mostrou que o emprego de material livre de vírus no plantio recupera a produtividade das cultivares, mesmo quando cultivadas próximas a plantios comerciais, expostos à pressão do inóculo de vírus (Montes et al., 2010MONTES, S.M.N.M.; RÓS-GOLLA, A.; PAULO, E.M. Produção de tubérculos de cultivares de batata doce na ausência e presença de vírus. Biológico São Paulo, v.72, n.2, p.103-170, 2010.).

O estudo objetivou avaliar o impacto da utilização de material de propagação livre de vírus quanto aos padrões qualitativos e quantitativos da batata-doce. Para tanto, o experimento foi instalado em uma área de produção comercial de batata-doce situada no Distrito de Emilianópolis, município de Presidente Prudente, São Paulo, Brasil. No estudo foram utilizadas plantas de batata-doce (Ipomoea batatas L.) da cultivar canadense, grupo rosada, como fonte de material propagativo e de inóculo de vírus. O material propagativo infectado foi obtido de plantas provenientes de cultivos anteriores do produtor. A outra parte de plantas, isenta de vírus, foi produzida no setor de fitossanidade do Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico da Alta Sorocabana (PRDT-Alta Sorocabana)/Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). O plantio foi realizado em 02/10/2011 em leiras, com espaçamento de 0,90 x 0,30 m e adubação de 700 kg/alq de 4-14-8. Na colheita, realizada aos 150 dias após o plantio, foram demarcadas aleatoriamente 3 parcelas de 10 metros de comprimento por 4 metros de largura em cada uma das metades do campo, com e sem vírus, em que se avaliaram, para cada parcela, número, massa, comprimento e diâmetro dos tubérculos das 10 plantas centrais, coletadas ao acaso. O diâmetro foi obtido por meio da medida da porção central dos tubérculos colhidos, utilizando um paquímetro.

Na análise dos dados de produção foi utilizada a estatística descritiva e aplicado o teste t para comparação das médias das variáveis estudadas.

Foi constatado que as parcelas sem vírus produziram 50% a mais de tubérculos com o dobro de massa (kg), quando comparados aos provenientes das parcelas com vírus. Os tubérculos obtidos das plantas sem vírus produziram maior massa (p < 0,01), comprimento (p < 0,01) e diâmetro médio (p < 0,05) quando comparados com as plantas infectadas (Tabela 1).

Tabela 1:
Massa, comprimento e diâmetro dos tubérculos de batata-doce produzidos a partir de mudas com e sem vírus. Presidente Prudente, São Paulo, 2012.

Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), a comercialização da batata-doce requer a classificação dos tubérculos do grupo rosada pela massa, nas seguintes classes: 1A (70 a 149 g); 2A (150 a 299 g); G (maior que 300 g) (CEAGESP, 2012CEAGESP. COMPANHIA DE ENTREPOSTOS E ARMAZÉNS GERAIS DE SÃO PAULO. Orientador de Mercado . Adilson da Silva Munhoz (informação pessoal), 2012.). No CEAGESP, 70% do volume comercializado de batata-doce pertence à classificação 2A que, direcionado para mercados e quitandas, alcança o dobro do preço de mercado em relação às da classificação 1A e G. As classificações 1A, normalmente adquirida por feirantes, e G, utilizada por cozinhas industriais, representam, respectivamente, 20 e 10% do volume total das vendas (CEAGESP, 2012CEAGESP. COMPANHIA DE ENTREPOSTOS E ARMAZÉNS GERAIS DE SÃO PAULO. Orientador de Mercado . Adilson da Silva Munhoz (informação pessoal), 2012.).

Nas análises das plantas isentas de vírus, observou-se uma frequência de 65% de tubérculos com classificação 2A, 24% de 1A e 33% de G (Fig. 1). Nas plantas com vírus, observou-se uma frequência de 16% de tubérculos com classificação 2A, 61% de 1A e 8% de G (Fig. 2).

Figura 1:
Frequência da massa dos tubérculos produzidos a partir de plantas sem vírus. Presidente Prudente, São Paulo, 2012.

Figura 2:
Frequência da massa dos tubérculos produzidos a partir de plantas com vírus. Presidente Prudente, São Paulo, 2012.

A grande percentagem de tubérculos de batata-doce com peso entre 72 e 144 g obtida a partir do material com vírus evidenciou não só a baixa produtividade, como também a grande percentagem de batata-doce com classificação de mercado abaixo do exigido, o que implica em um retorno financeiro 50% inferior ao esperado com participação de apenas 20% no mercado.

Os resultados evidenciam que a virose em batata-doce é um importante problema fitossanitário a ser controlado nos campos de produção pelo fato de limitar o desenvolvimento do sistema radicular e/ou a tuberização das raízes e, consequentemente, a formação de tubérculos que serão classificados como pertencentes ao grupo de menor valor comercial restringindo a produtividade. Além de limitar a produtividade, o plantio de material infectado por vírus condiciona a formação de tubérculos de batata-doce com menor valor comercial.

REFERÊNCIAS

  • CEAGESP. COMPANHIA DE ENTREPOSTOS E ARMAZÉNS GERAIS DE SÃO PAULO. Orientador de Mercado . Adilson da Silva Munhoz (informação pessoal), 2012.
  • CECÍLIO FILHO, A.B.; REIS, M.S.; SOUZA, R.J.; PASQUAL, M. Degenerescência em cultivares de batata-doce. Horticultura Brasileira , Brasília, v.16, n.1, p.82-84, 1998.
  • DANIELS, J. Utilização de técnicas sorológicas para detecção de vírus em batata-doce . Brasília: Embrapa/CPACT, 1999.
  • DI FEO, L.; NOME, S.F.; BIDERBOST, E. Etiology of sweet potato chlorotic dwarf diseasein Argentina. Plant Disease , v.84, n.1, p.35-39, 2000.
  • KROTH, L.L.; FUENTES, S.; SALAZAR, L.F.; DANIELS, J. Detecção sorológica de vírus por NCM-ELISA em lavouras de batata-doce no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Agrociência , v.7, n.2, p. 117-119, 2001.
  • MONTES, S.M.N.M.; RÓS-GOLLA, A.; PAULO, E.M. Produção de tubérculos de cultivares de batata doce na ausência e presença de vírus. Biológico São Paulo, v.72, n.2, p.103-170, 2010.
  • MOYER, J.; SALAZAR, L.F. Viruses and virus-like diseases of sweet potato., Plant Disease v.73, p.451-455, 1989.
  • NDUNGURU, J.; KAPINGA, R.; SSERUWAGI, P.; SAYI, B.; MWANGA, R.; TUMWEGAMIRE, S.; RUGUTU, C. Assessing the sweet potato virus disease and its associated vectors in northwestern Tanzania and central Uganda. African Journal of Agricultural Research , v.4, n.4, p.334-343, 2009.
  • PIO RIBEIRO, G.; ASSIS-FILHO, F.M.; DA PAZ, C.D.; PIRES, C.R.C. Ocorrência de Sweet potato feathery mottle virus em germoplasma de batata-doce no Estado de Pernambuco. Fitopatologia Brasileira , v.18, p.458-460, 1993.
  • POZZER, L.; SILVA, J.B.C.; DUSI, A.N.; KITAJIMA, E.W. Avaliação da taxa de reinfecção de plantas de batata-doce livre de vírus pelo Sweet potato feathery mottle virus em condições de campo., Fitopatologia Brasileira v.19, n.2, p.231-234, 1994.
  • VALVERDE, R.A.; CLARK, C.A.; VALKONEN, J.P.T. Viruses and virus disease complexes of Sweetpotato. Plant Viruses , v.1, n.1, p.116-126, 2007.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2015

Histórico

  • Recebido
    07 Jun 2013
  • Aceito
    20 Nov 2014
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