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Capacidades Dinâmicas: Uma Proposta de Medição e sua Relação com o Desempenho

RESUMO

Apesar da relevância e do crescimento da pesquisa em Capacidades Dinâmicas, certas lacunas e críticas permanecem. Essas questões estão relacionadas principalmente às suas medidas e seus impactos no desempenho. Há uma carência de pesquisas tentando investigar empiricamente a existência, o desenvolvimento e a orquestração de Capacidades Dinâmicas para suportar um desempenho superior. Este artigo propõe e valida uma escala para medição de Capacidades Dinâmicas com base nas dimensões conceituais de Teece (detecção, apreensão e reconfiguração) por meio de uma pesquisa em um mercado e indústria altamente dinâmicos e investigando o impacto no desempenho. Os resultados, além de validar a escala, mostraram que as três dimensões conceituais de Teece exibiram comportamentos diferentes em relação à cada dimensão de desempenho. A apreensão e reconfiguração demonstram uma relação negativa com o desempenho organizacional enquanto a detecção está positivamente associada ao desempenho. Isso pode ajudar a explicar alguns dos resultados vagos de estudos anteriores que usaram proxies para medir as Capacidades Dinâmicas.

Palavras-chave:
Capacidades Dinâmicas; Tecnologia da Informação; Desempenho; Escala

ABSTRACT

Despite the relevance and growth of research into Dynamic Capabilities, certain gaps and criticisms remain. These issues are primarily related to the measurements of Dynanic Capabilities and its impacts on performance. There is a lack of empirical research that is attempting to investigate the existence, development, and orchestration of Dynamic Capabilities to support superior performance. This paper proposes and validates a scale for the measurement of Dynamic Capabilities based on Teece’s conceptual dimensions (sense, seizing and reconfiguring) through a survey presented in a highly dynamic industry and market, and by investigating the impact on performance. The results, besides validating the scale, showed Teece´s three conceptual dimensions exhibited different behavior in relation to each dimension of performance. Sense and Reconfiguration demonstrated a negative relationship with organizational performance while Seize is positively associated with performance. This may help explain some of the fuzzy results of previous studies that used proxies to measure Dynamic Capabilities.

Keywords:
Dynamic Capabilities; Information Technology; Performance; Scale

1. INTRODUÇÃO

A perspectiva de Capacidades Dinâmicas (CDs) é um assunto de grande interesse na área de estudos de gestão estratégica (Vogel & Güttel, 2013Vogel, R., & Güttel, W. H. (2013). The dynamic capability view in strategic management: A bibliometric review. International Journal of Management Reviews, 15(4), 426-446. doi:10.1111/ijmr.12000
https://doi.org/10.1111/ijmr.12000...
). Desde que foi desenvolvida durante a década de 1990, uma grande quantidade de pesquisas foi conduzida para conceituar e delinear seus elementos e suposições subjacentes (Ambrosini & Bowman, 2009Ambrosini, V., & Bowman, C. (2009). What are dynamic capabilities and are they a useful construct in strategic management? International Journal of Management Reviews, 11(1), 29-49. doi:10.1111/j.1468-2370.2008.00251.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2008...
). No entanto, há uma série de visões distintas sobre como as CDs devem ser conceituadas e aplicadas na área de estudos de estratégia que estão desconectados uns dos outros (Eisenhardt & Martin, 2000Eisenhardt, K., & Martin, J. (2000). Dynamic capabilities: what are they? Strategic Management Journal, 21(10-11), 1105-1121. doi:10.1002/1097-0266(200010/11)21:10/11<1105::AID-SMJ133>3.0.CO;2-E
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; Vogel & Güttel, 2013Vogel, R., & Güttel, W. H. (2013). The dynamic capability view in strategic management: A bibliometric review. International Journal of Management Reviews, 15(4), 426-446. doi:10.1111/ijmr.12000
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), causando confusão e possivelmente criando obstáculos para desenvolvimento nessa área (Barreto, 2010Barreto, I. (2010). Dynamic capabilities: A review of past research and an agenda for the future. Journal of Management, 36(1), 256-280. doi:10.1177/0149206309350776
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). Este artigo propõe um método para medição de CDs e também discute o papel que desempenham no desempenho organizacional (DO).

Se as mudanças permanentes e rápidas que caracterizam o ambiente de negócios competitivo, as necessidades dos clientes, a tecnologia e as ações dos concorrentes representam novas oportunidades para as empresas, elas também são riscos que ameaçam sua sobrevivência e crescimento (Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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). Respondendo a esse panorama, a abordagem de CDs oferece uma perspectiva diferente para entender as fontes de vantagem competitiva, uma vez que propõe uma estrutura para entender como as organizações constroem e mantêm uma vantagem competitiva em ambientes complexos e em constante mudança (Teece, Pisano, & Shuen, 1997Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
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). A partir da perspectiva das CDs, uma estratégia para obter uma vantagem competitiva começa com a adoção dos modelos de negócios e tecnologias apropriados que permitem a combinação e a orquestração de ativos que são difíceis de replicar (Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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).

Apesar da relevância do assunto, estudos empíricos que investigam CDs não são mais que incipientes (Laaksonen & Peltoniemi, 2018Laaksonen, O., & Peltoniemi, M. (2018). The essence of dynamic capabilities and their measurement.International Journal of Management Reviews,20(2), 184-205. doi:10.1111/ijmr.12122
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). Faltam pesquisas para confirmar sua existência, identificar os processos pelos quais são desenvolvidas, quais fatores de contingência as afetam e quais podem ser seus efeitos em uma organização, por exemplo, o impacto que elas têm no desempenho (Helfat & Peteraf, 2009Helfat, C. E., & Peteraf, M. A. (2009). Understanding dynamic capabilities: Progress along a developmental path. Strategic Organization, 7(1), 91-102. doi:10.1177/1476127008100133
https://doi.org/10.1177/1476127008100133...
; Shamsie, Martin, & Miller, 2009Shamsie, J., Martin, X., & Miller, D. (2009). In with the old, in with the new: Capabilities, strategies, and performance among the Hollywood studios. Strategic Management Journal, 30(13), 1440-1452. doi:10.1002/smj.789
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). Um fator que pode estar contribuindo para essas lacunas na literatura e as críticas que a abordagem tem atraído é o fracasso em chegar a um consenso sobre métodos para medir CDs. A pesquisa aplicada empregou uma série de proxies para medi-las, possivelmente sem refletir efetivamente o conceito (Pavlou & Sawy, 2011Pavlou, P. A., & El Sawy, O. A. (2011). Understanding the elusive black box of dynamic capabilities.Decision Sciences,42(1), 239-273. doi:10.1111/j.1540-5915.2010.00287.x
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). Apoiando essa disseminação de abordagens, Laaksonen e Peltoniemi (2018) encontraram 232 diferentes operacionalizações de CDs em uma revisão de estudos empíricos sobre CDs. Eriksson (2014Eriksson, T. (2014). Processes, antecedents and outcomes of dynamic capabilities. Scandinavian Journal of Management , 30(1), 65-82. doi:10.1016/j.scaman.2013.05.001
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) aponta a necessidade do desenvolvimento de medições de CDs.

No sentido de contribuir para preencher essas lacunas e abordar as críticas ao conceito, este estudo foi elaborado para cumprir dois objetivos básicos. O primeiro deles é propor uma escala para a medição de CDs que englobe as diversas dimensões do conceito (Sense, Seize and Managing Threats and Reconfiguration) como proposto por Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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), e o segundo é avaliar o papel desempenhado por CDs e suas dimensões dentro das diferentes dimensões do desempenho organizacional. CDs é um conceito multidimensional e suas diferentes dimensões podem ter diferentes influências no desempenho.

Para cumprir esses objetivos, realizamos um estudo em duas fases distintas. Na primeira fase, que foi exploratória e qualitativa, propusemos uma escala baseada nas dimensões das CDs definida por Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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): “Sentir novas oportunidades e ameaças” (Sense); “Aproveitar novas oportunidades” (Seize); e “Gerenciando ameaças e reconfiguração” (MTR). Além destes, integramos indicadores adicionais de outros estudos (Eisenhardt & Martin, 2000Eisenhardt, K., & Martin, J. (2000). Dynamic capabilities: what are they? Strategic Management Journal, 21(10-11), 1105-1121. doi:10.1002/1097-0266(200010/11)21:10/11<1105::AID-SMJ133>3.0.CO;2-E
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; Zahra & George, 2002Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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; Zollo & Winter, 2002Zollo, M., & Winter, S. G. (2002). Deliberate learning and the evolution of dynamic capabilities. Organization Science, 13(3), 339-351. doi:I04 7-7039/02/1303/0339
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), tratando do mesmo assunto.

A segunda etapa foi descritiva e quantitativa e consistiu em testar a escala, realizando um levantamento dos gestores que atuam na indústria brasileira de Tecnologia da Informação (TI). Essa indústria e mercado são adequados para esta linha de pesquisa porque tanto a indústria quanto o mercado (país) são altamente dinâmicos, com taxa rápida e alto volume de mudanças e velocidade de introdução de inovações e são intensos em conhecimento e altamente competitivos (Teece et al., 1997Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
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).

Os resultados fornecem evidências mostrando que a escala multidimensional proposta tem um ajuste adequado e que as CDs têm uma influência positiva na OP, revelando o comportamento diferente de cada dimensão (Sense, Seize e MTR) em relação às CDs e ao próprio desempenho.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A primeira definição formal de CDs foi apresentada em um artigo seminal de Teece et al. (1997Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
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), que abriu o caminho para um campo de pesquisa fértil e diversificado dentro da área de estudos de gestão estratégica (Di Stefano, Peteraf, & Verona, 2010Di Stefano, G., Peteraf, M., & Verona, G. (2010). Dynamic capabilities deconstructed: A bibliographic investigation into the origins, development, and future directions of the research domain. Industrial and Corporate Change, 19(4), 1187-1204. doi:10.1093/icc/dtq027
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). Teece et al. (1997Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
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) conceituaram CDs como “a capacidade da empresa de integrar, construir e reconfigurar competências internas e externas para lidar com ambientes em rápida mudança” (p. 516). Esse conceito se preocupa com métodos proativos de encontrar caminhos diferentes e inovadores para obter vantagem competitiva (Teece et al., 1997Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
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).

CDSs são capacidades com possibilidades de criar, amplificar e modificar propositalmente suas bases de recursos (Teece, 2019Teece, D. J. (2019). A capability theory of the firm: An economics and (strategic) management perspective.New Zealand Economic Papers,53(1), 1-43. doi:10.1080/00779954.2017.1371208
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; Teece et al., 1997Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
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). O escopo dos CDs permeia a capacidade da empresa não apenas moldar o ecossistema no qual faz negócios, mas também desenvolver novos produtos, processos e modelos de negócios, e permite que a organização se adapte às oportunidades tecnológicas e mudanças nas demandas dos clientes (Teece , 2014Teece, D. J. (2014). A dynamic capabilities-based entrepreneurial theory of the multinational enterprise. Journal of International Business Studies, 45(1), 8-37. doi:10.1057/jibs.2013.54
https://doi.org/10.1057/jibs.2013.54...
; Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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). No entanto, o constructo das CDs é permeado por uma variedade de interpretações e conceituações, e seus conceitos e elementos subjacentes mudam de pesquisa para pesquisa (Di Stefano et al., 2010Di Stefano, G., Peteraf, M., & Verona, G. (2010). Dynamic capabilities deconstructed: A bibliographic investigation into the origins, development, and future directions of the research domain. Industrial and Corporate Change, 19(4), 1187-1204. doi:10.1093/icc/dtq027
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).

Não obstante, as diferentes definições de CDs convergem em termos de identificá-las como processos organizacionais que permitem às empresas mudar suas bases de recursos. Essas capacidades são construídas, dependem do caminho da organização e são incorporadas à empresa (Helfat et al., 2007Helfat, C. E., Finkelstein, S., Mitchell, W., Peteraf, M., Singh, H., Teece, D., & Winter, S. G. (2007).Dynamic capabilities: Understanding strategic change in organizations. United Kingdom: Blackwell Publishing.). Esses processos são integrados e enraizados na empresa, não são facilmente codificáveis ​​ou transferíveis, mas permitem que as empresas implementem recursos em conjunto, combinando atividades explícitas e elementos tácitos (como know-how e liderança), e são desenvolvidos ao longo do tempo como resultado de interações complexas entre os recursos de uma empresa (Wang & Ahmed, 2007Wang, C. L., & Ahmed, P. K. (2007). Dynamic capabilities: A review and research agenda. International Journal of Management Reviews, 9(1), 31-51. doi:10.1111/j.1468-2370.2007.00201.x
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). Segundo Teece et al. (1997Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
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), a vantagem competitiva depende dos processos gerenciais da empresa (a forma como as coisas são feitas), sua posição patrimonial (ativos circulantes, propriedade intelectual, ativos complementares, base de clientes e relações externas) e suas trajetórias (possíveis alternativas estratégicas, retornos e dependência de caminho).

As CDs são compostas por uma combinação do histórico, valores e rotinas da empresa e pelas habilidades da alta gerência, permitindo que uma empresa invista em novos produtos, processos e modelos de negócios no momento apropriado e com referência às avaliações de tecnologia e do ambiente de negócios (Teece, 2014Teece, D. J. (2014). A dynamic capabilities-based entrepreneurial theory of the multinational enterprise. Journal of International Business Studies, 45(1), 8-37. doi:10.1057/jibs.2013.54
https://doi.org/10.1057/jibs.2013.54...
).

Dado o escopo e a complexidade do assunto, diferentes estudos se concentraram em elementos específicos de CDs. Zollo e Winter (2002Zollo, M., & Winter, S. G. (2002). Deliberate learning and the evolution of dynamic capabilities. Organization Science, 13(3), 339-351. doi:I04 7-7039/02/1303/0339
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) consideram que um pré-requisito para os CDs é a estabilidade nas atividades organizacionais que desenvolvem melhorias e modificações nas rotinas operacionais para melhorar sua eficácia. Os mecanismos de aprendizagem e a capacidade da empresa de combinar e recombinar ativos para produzir melhorias são característicos das CDs. Zahra e George (2002Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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) ligam CDs à capacidade de absorção da empresa, o que permite gerar e introduzir o conhecimento necessário para criar outras capacidades organizacionais, por meio de rotinas organizacionais e processos estratégicos. Na visão de Eisenhardt e Martin (2000Eisenhardt, K., & Martin, J. (2000). Dynamic capabilities: what are they? Strategic Management Journal, 21(10-11), 1105-1121. doi:10.1002/1097-0266(200010/11)21:10/11<1105::AID-SMJ133>3.0.CO;2-E
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), as CDs são rotinas organizacionais e estratégicas que possibilitam novas configurações de recursos em mercados em mudança. Eles veem as CDs como as melhores práticas de uma empresa que adotaram antes de seus concorrentes. Eles listam rotinas para transferência e recombinação de conhecimento, rotinas para desenvolvimento de produtos e controle de qualidade, e equipes de pesquisa e desenvolvimento (P&D) como elementos importantes para apoiar as CDs. Finalmente, Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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) dividiu as CDs em três capacidades ou dimensões: (1) Perceber e moldar oportunidades e ameaças (Sense) (2) Aproveitar oportunidades (Seize) e (3) Gerenciar ameaças e reconfiguração (MTR). Ele também propôs uma série de indicadores ou microfundamentos originados na literatura sobre estratégia, inovação e organização (Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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).

A figura abaixo (Quadro 1) ilustra os resultados da integração dessas diferentes perspectivas. Baseia-se na fundação proposta por Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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), uma vez que esta é a proposta mais abrangente e instrutiva e, em seguida, elementos de outros estudos foram integrados nessa proposta. A integração resultante é a base da escala usada neste estudo.

Quadro 1
Dimensões das CDs e seus Microfundamentos

2.1 Diferentes mensurações

Uma das fontes mais óbvias de complexidade em artigos empíricos sobre CDs é a abrangência conceitual adotada e os métodos para medi-las. Alguns estudos estimam CDs avaliando o desenvolvimento de novos produtos e mercados (Schilke, 2014Schilke, O. (2014). On the contingent value of dynamic capabilities for competitive advantage: The nonlinear moderating effect of environmental dynamism. Strategic Management Journal, 35(2), 179-203. doi:10.1002/smj.2099
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; Shamsie et al., 2009Shamsie, J., Martin, X., & Miller, D. (2009). In with the old, in with the new: Capabilities, strategies, and performance among the Hollywood studios. Strategic Management Journal, 30(13), 1440-1452. doi:10.1002/smj.789
https://doi.org/10.1002/smj.789...
), outros buscam evidências de inovação e tecnologia ou mesmo de investimento em P&D (Danneels, 2012Danneels, E. (2012). Second‐order competences and Schumpeterian rents.Strategic Entrepreneurship Journal, 6(1), 42-58. doi:10.1002/sej.1127
https://doi.org/10.1002/sej.1127...
; Efrat, Hughes, Nemkova, Souchon, & Sy-Changco, 2018Efrat, K., Hughes, P., Nemkova, E., Souchon, A. L., & Sy-Changco, J. (2018). Leveraging of Dynamic export capabilities for competitive advantage and performance consequences: Evidence from China.Journal of Business Research,84, 114-124.); capacidades de marketing (Pedron, Picoto, Colaco e Araújo, 2018Pedron, C. D., Picoto, W. N., Colaco, M., & Araújo, C. C. (2018). CRM System: The role of dynamic capabilities in creating innovation capability.BBR. Brazilian Business Review,15(5), 494-511. doi:10.15728/bbr.2018.15.5.6
https://doi.org/10.15728/bbr.2018.15.5.6...
); alianças e formação de parcerias e aquisições também foram utilizadas (Castro & Roldán, 2015Castro, I., & Roldán, J. L. (2015). Alliance portfolio management: dimensions and performance.European Management Review,12(2), 63-81. doi:10.1111/emre.12042
https://doi.org/10.1111/emre.12042...
; Schilke, 2014Schilke, O. (2014). On the contingent value of dynamic capabilities for competitive advantage: The nonlinear moderating effect of environmental dynamism. Strategic Management Journal, 35(2), 179-203. doi:10.1002/smj.2099
https://doi.org/10.1002/smj.2099...
); como capacidade de aprendizagem (Lin & Wu, 2014Lin, Y., & Wu, L. Y. (2014). Exploring the role of dynamic capabilities in firm performance under the resource-based view framework.Journal of Business Research ,67(3), 407-413. doi:10.1016/j.jbusres.2012.12.019
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2012.1...
); flexibilidade estratégica (Efrat et al., 2018Efrat, K., Hughes, P., Nemkova, E., Souchon, A. L., & Sy-Changco, J. (2018). Leveraging of Dynamic export capabilities for competitive advantage and performance consequences: Evidence from China.Journal of Business Research,84, 114-124.), entre outros indicadores.

No entanto, quando comparado com o parâmetro fornecido pela proposta de Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
https://doi.org/10.1002/smj.640...
), verifica-se que os conceitos e métodos de medição listados são de alguma forma incompletos. Em alguns casos, eles abrangem parte do conceito de CDs, mas não incluem todas as suas dimensões. Em nossa análise, apenas em Wilden, Gudergan, Nielsen e Lings (2013Wilden, R., Gudergan, S. P., Nielsen, B. B., & Lings, I. (2013). Dynamic capabilities and performance: Strategy, structure and environment. Long Range Planning, 46(1-2), 72-96. doi:10.1016/j.lrp.2012.12.001
https://doi.org/10.1016/j.lrp.2012.12.00...
), Takahashi, Bulgacov, Semprebon e Giacomini (2017Takahashi, A. R. W., Bulgacov, S., Semprebon, E., & Giacomini, M. M. (2017). Dynamic capabilities, marketing capability and organizational performance.BBR Brazilian Business Review,14(5), 466-478. doi:10.15728/bbr.2017.14.5.1
https://doi.org/10.15728/bbr.2017.14.5.1...
) e Wilden e Gudergan (2017Wilden, R., & Gudergan, S. (2017). Service-dominant orientation, dynamic capabilities and firm performance.Journal of Service Theory and Practice,27(4), 808-832. doi:10.1108/JSTP-04-2016-0077
https://doi.org/10.1108/JSTP-04-2016-007...
), as três dimensões propostas por (Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
https://doi.org/10.1002/smj.640...
) estão presentes, apesar dos indicadores em cada construto não integrar completamente o conceito de Teece. Por exemplo, os autores não perguntaram sobre a capacidade de construir um modelo de negócios no constructo do Seize ou sobre as práticas para identificar novas tecnologias no constructo Sense.

2.2 CDs e DO

Há algumas críticas sobre a relação entre as CDs e o desempenho superior, uma vez que uma relação positiva não foi encontrada em todos os estudos empíricos analisados ​​(Pezeshkan, Fainshmidt, Nair, Lance Frazier, & Markowski, 2016Pezeshkan, A., Fainshmidt, S., Nair, A., Lance Frazier, M., & Markowski, E. (2016). An empirical assessment of the dynamic capabilities-performance relationship. Journal of Business Research , 69(8), 2950-2956. doi:10.1016/j.jbusres.2015.10.152
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2015.1...
). Uma possibilidade é que não haja uma relação direta entre CDs e desempenho. Nesse sentido, para Teece (2014Teece, D. J. (2014). A dynamic capabilities-based entrepreneurial theory of the multinational enterprise. Journal of International Business Studies, 45(1), 8-37. doi:10.1057/jibs.2013.54
https://doi.org/10.1057/jibs.2013.54...
), as CDs e as estratégias de negócios codificam o desempenho. Também para Ambrosini e Bowman (2009Ambrosini, V., & Bowman, C. (2009). What are dynamic capabilities and are they a useful construct in strategic management? International Journal of Management Reviews, 11(1), 29-49. doi:10.1111/j.1468-2370.2008.00251.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2008...
), os recursos, as rotinas operacionais e as competências da empresa podem afetar a relação entre as CDs e o desempenho. Em consonância com isso, Laaksonen e Peltoniemi (2018Laaksonen, O., & Peltoniemi, M. (2018). The essence of dynamic capabilities and their measurement.International Journal of Management Reviews,20(2), 184-205. doi:10.1111/ijmr.12122
https://doi.org/10.1111/ijmr.12122...
) propõem que as CDs sejam dependentes das capacidades comuns das empresas modificadas pelas CDs e pela adequação evolutiva dessas capacidades.

Apesar de tais posições controversas, a literatura sugere uma relação positiva entre CDs e desempenho. As CDs possibilitam que as organizações identifiquem e implementem a melhor maneira de construir e manter sua vantagem competitiva em ambientes complexos e em constante mudança (Kay, Leih, & Teece, 2018Kay, N. M., Leih, S., & Teece, D. J. (2018). The role of emergence in dynamic capabilities: A restatement of the framework and some possibilities for future research.Industrial and Corporate Change,27(4), 623-638. doi:10.1093/icc/dty015
https://doi.org/10.1093/icc/dty015...
; Teece et al., 1997Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
https://doi.org/10.1002/(SICI)1097-0266(...
). A perspectiva das CDs está intimamente relacionada ao DO, já que a posse e a orquestração dessas capacidades alteram a base de competências, rotinas operacionais e recursos de uma empresa, o que pode mudar sua posição de mercado e, consequentemente, seu desempenho (Zott, 2003Zott, C. (2003). Dynamic capabilities and the emergence of intraindustry differential firm performance: Insights from a simulation study. Strategic Management Journal, 24(2), 97-125. doi:10.1002/smj.288
https://doi.org/10.1002/smj.288...
).

É ordenando seus recursos que as organizações que os possuem desenvolvem capacidades e chegam a modelos sistemáticos para suas atividades organizacionais, que lhes permitam gerar e adaptar suas rotinas para alcançar maior eficiência (Zollo & Winter, 2002Zollo, M., & Winter, S. G. (2002). Deliberate learning and the evolution of dynamic capabilities. Organization Science, 13(3), 339-351. doi:I04 7-7039/02/1303/0339
https://doi.org/I04 7-7039/02/1303/0339...
). Como resposta ao DO, as CDs possibilitam maior capacidade de resposta para lidar com mudanças ambientais, oferecendo oportunidades para aumentar as receitas e ajustar as operações a fim de reduzir custos (Drnevich & Kriauciunas, 2011Drnevich, P. L., & Kriauciunas, A. P. (2011). Clarifying the conditions and limits of the contributions of ordinary and dynamic capabilities to relative firm performance. Strategic Management Journal, 32(3), 254-279. doi:10.1002/smj.882
https://doi.org/10.1002/smj.882...
; Kay, Leih, & Teece, 2018Kay, N. M., Leih, S., & Teece, D. J. (2018). The role of emergence in dynamic capabilities: A restatement of the framework and some possibilities for future research.Industrial and Corporate Change,27(4), 623-638. doi:10.1093/icc/dty015
https://doi.org/10.1093/icc/dty015...
).

2.3 O modelo de mensuração

A Figura 1 ilustra o modelo no qual a proposta descrita neste documento é baseada. Baseia-se no entendimento de que as CDs revelam sua existência na forma da capacidade de gerar melhores DOs em ambientes em constante mudança.

Figura 1
Modelo de pesquisa.

A base subjacente do modelo é a relação entre CDs e DO. Muitos estudos propuseram e confirmaram essa relação, tais como os de Schilke (2014Schilke, O. (2014). On the contingent value of dynamic capabilities for competitive advantage: The nonlinear moderating effect of environmental dynamism. Strategic Management Journal, 35(2), 179-203. doi:10.1002/smj.2099
https://doi.org/10.1002/smj.2099...
), Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
https://doi.org/10.1002/smj.640...
) e Wang e Ahmed (2007Wang, C. L., & Ahmed, P. K. (2007). Dynamic capabilities: A review and research agenda. International Journal of Management Reviews, 9(1), 31-51. doi:10.1111/j.1468-2370.2007.00201.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2007...
), entre outros. No entanto, o modelo apresentado neste trabalho é diferente dos estudos empíricos anteriores e é uma evolução positiva em relação a eles por causa de dois elementos centrais. O primeiro desses elementos é a escala projetada especificamente para medir CDs, criada com o uso da estrutura básica definida por Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
https://doi.org/10.1002/smj.640...
) e complementada com aspectos de outros estudos, mas sem depender de proxies para capturar CDs, como é normalmente proposto. Isso oferece uma medição mais abrangente e completa e pode contribuir com uma base para a realização de estudos que possam ser comparados entre si. O segundo desses elementos é que a proposta reconhece a total complexidade do conceito de CDs e divide a mensuração em suas distintas dimensões de “Sense”, “Seize” e “MTR” (Teece, 2007). Esse elemento é importante porque cada um desses recursos tem conceitos e funções diferentes e, embora sejam todos componentes de CDs, eles podem ter relações diferentes com o DO ou funções diferentes para desempenhar. Investigar seu comportamento, tanto em relação às CDs quanto em relação ao desempenho organizacional, deve contribuir para o avanço das pesquisas sobre o assunto.

Trabalhando a partir desses argumentos e dentro da estrutura de pesquisa mostrada acima, levantamos as seguintes hipóteses:

  • H1: Existe uma relação positiva e significativa entre CDs e DO;

  • H2: Existe uma relação positiva e significativa entre o Sense e o DO;

  • H3: Existe uma relação positiva e significativa entre o Seize e o DO;

  • H4: Existe uma relação positiva e significativa entre MTR e DO.

3. MÉTODOS

Realizamos este estudo em duas fases. A primeira é qualitativa e exploratória e consiste na construção da escala proposta para medir CDs e um modelo para guiar o componente empírico do estudo. A segunda fase é descritiva e quantitativa e consiste em testar a escala e o modelo proposto usando dados transversais da indústria brasileira de TI.

3.1 Contexto empírico

Escolhemos a indústria brasileira de TI (software, hardware e telecomunicações) por ser um ambiente turbulento, tanto em termos de indústria quanto em termos de mercado - a crise política e econômica no Brasil (2015-2017) representou uma oportunidade sui generis de avaliar como as empresas imersas em um cenário turbulento desenvolveram CDs. Tal combinação é um cenário em que há uma grande mudança, uma alta taxa de introdução de inovações, alta intensidade de conhecimento e um alto grau de competitividade, tornando-a muito apropriada para investigar o papel das CDs.

3.2 Fase qualitativa

A partir do modelo de Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
https://doi.org/10.1002/smj.640...
) e com base nos outros artigos que compuseram a síntese das referências teóricas ilustradas na Figura 1 (Eisenhardt & Martin, 2000Eisenhardt, K., & Martin, J. (2000). Dynamic capabilities: what are they? Strategic Management Journal, 21(10-11), 1105-1121. doi:10.1002/1097-0266(200010/11)21:10/11<1105::AID-SMJ133>3.0.CO;2-E
https://doi.org/10.1002/1097-0266(200010...
; Zahra & George, 2002Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
https://doi.org/10.5465/amr.2002.6587995...
; Zollo & Winter, 2002Zollo, M., & Winter, S. G. (2002). Deliberate learning and the evolution of dynamic capabilities. Organization Science, 13(3), 339-351. doi:I04 7-7039/02/1303/0339
https://doi.org/I04 7-7039/02/1303/0339...
), construímos uma escala que compreende indicadores para cada uma das dimensões, Sense, Seize e MTR. Essa escala foi discutida com sete empreendedores do setor de TI em outubro e novembro de 2015. Esses empreendedores foram escolhidos com base nas recomendações da Assespro (Associação Brasileira de Empresas de TI) e os critérios mais importantes foram a amplitude de experiência na indústria de TI e seu status como gerentes de alto nível em suas respectivas empresas. Essa fase foi importante para adequar a redação dos indicadores a uma linguagem gerencial. Pedimos a cada entrevistado que respondesse ao questionário e, depois disso, discutimos cada questão.

3.3 Fase quantitativa

Coletamos dados de dezembro de 2015 a março de 2016 utilizando uma survey. As empresas pesquisadas foram selecionadas a partir de listas dos membros das associações do setor. O questionário foi administrado por telefone. Os entrevistados eram executivos responsáveis ​​pela estratégia da empresa. Realizamos um pré-teste com 34 empresas para testar a qualidade do questionário, e isso resultou em um pequeno número de mudanças para chegar ao questionário final. A mudança mais significativa foi estabelecer faixas de receita para classificar as empresas por tamanho que fossem mais apropriadas para o setor. O questionário foi aplicado em Português. A versão em Português é mostrada na Tabela 6.

O questionário foi aplicado a representantes de uma amostra de 99 empresas. Apenas uma empresa foi eliminada da amostra final porque o seu questionário apresentava um elevado número de perguntas não respondidas, resultando numa amostra final de 98 empresas para análise. As características das empresas que participaram refletem a imensa diversidade da indústria brasileira de TI: 78% deles são desenvolvedores de software, 16% produzem hardware e 5% são empresas de telecomunicações. O número médio de funcionários por empresa foi de 243, mas uma empresa tem 10 mil funcionários, enquanto a menor tem apenas um. A grande maioria dessas empresas (80%) possui uma receita de menos de 10 milhões de reais por ano (cerca de 3 milhões de dólares americanos).

3.4 Medidas

3.4.1. Variáveis Independentes (VIs)

As VIs são as três dimensões das CDs propostas por Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
https://doi.org/10.1002/smj.640...
): Sense (SE), Seize (SZ) e Managing Amreats and Reconfiguration (MTR). Para cada dimensão, há uma série de declarações, e o respondente é solicitado a indicar até que ponto concordam com cada uma delas em uma escala de 5 pontos.

3.4.2. Variável Dependente (VD)

Em última análise, a VD é o desempenho organizacional, mas adotamos várias dimensões diferentes de desempenho - desempenho financeiro (FP), desempenho estratégico (SP), satisfação com o desempenho (SaP) e inovação (IN).

As medidas para FP, SP e SAP foram baseadas na escala EXPERF criada por Zou, Taylor e Osland (1998Zou, S., Taylor, C. R., & Osland, G. E. (1998). The EXPERF Scale: A cross-national generalized export performance measure. Journal of International Marketing, 6(3), 37-58. doi:10.2307/25048739), em que cada construto é composto por três indicadores e o foco é nos três anos anteriores. Além disso, usando uma variável observável, a última VD é a percepção do entrevistado sobre o grau de inovação da empresa em relação a seus concorrentes. Para todos esses indicadores, as respostas são dadas em uma escala de concordância de 5 pontos.

Neste estudo, empregamos dados subjetivos, capturando as percepções dos entrevistados de cada indicador avaliado. Escolhemos esse método porque estamos estudando uma indústria complexa e heterogênea com um alto grau de , e outra em um mercado emergente, onde a coleta de dados é difícil, particularmente no que diz respeito aos dados secundários.

3.4.3. Variáveis de Controle (VC)

Nós escolhemos a experiência da firma (idade da empresa - AG) e tamanho (número de funcionários - EM e receita - RV) como variáveis de controle. Mais experiência implica mais aprendizado e comprometimento com o mercado, e o tamanho de uma empresa maior está relacionado a um maior acesso a recursos e potencial para desenvolver capacidades (Musteen, Francis, & Datta, 2010Musteen, M., Francis, J., & Datta, D. K. (2010). The influence of international networks on internationalization speed and performance: A study of Czech SMEs. Journal of World Business, 45(3), 197-205. doi:10.1016/j.jwb.2009.12.003
https://doi.org/10.1016/j.jwb.2009.12.00...
).

3.5 Validação de medidas e procedimentos analíticos

Avaliamos cada constructo separadamente usando a Análise Fatorial Confirmatória (CFA), calculando a confiabilidade composta (CR), variância extraída (VE), alfa de Cronbach (CA) e cargas fatoriais (FL) para cada indicador contra o construto. Também testamos a validade discriminante dos construtos. Finalmente, usamos o AMOS 16 para prosseguir com a Modelagem de Equações Estruturais (SEM) para testar o ajuste do modelo de CDs. Usamos a análise de regressão linear da estatística IBM SPSS 20 para testar a relação entre as VIs e a VD. Decidimos não usar o SEM por causa do tamanho da amostra (Kline, 1998Kline, R. B. (1998). Software review: Software programs for structural equation modeling: Amos, EQS, and LISREL.Journal of Psychoeducational Assessment,16(4), 343-364. doi:10.1177/073428299801600407
https://doi.org/10.1177/0734282998016004...
).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 A Escala de Capacidades Dinâmicas

Devido ao caráter exploratório dessa fase, a primeira versão da escala proposta foi muito longa, compreendendo mais de 50 indicadores, uma vez que a intenção era capturar a essência de cada dimensão das CDs (Sense, Seize e MTR), e a expectativa inicial foi que vários deles podem não aderir ao construto. Primeiro, cada construção foi avaliada separadamente usando as normas para CFA e, finalmente, o ajuste do modelo foi avaliado usando o SEM.

Do ponto de vista quantitativo, a dimensão SE inicialmente compreendeu 11 indicadores e após a análise fatorial confirmatória o construto final teve 5; A SZ começou com 19 indicadores e terminou com 8 e, finalmente, a MTR tinha originalmente 12, enquanto a versão final continha 8 indicadores. A Tabela 1 lista os dados para a confiabilidade dos constructos.

Tabela 1
Confiabilidade das Dimensões dos CDs

Os dados indicam que os constructos oferecem boa confiabilidade. Apenas a VE para SE ficou ligeiramente abaixo do 0,5 recomendado por Hair, Black, Babin e Anderson (2010Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2010). Multivariate data analysis (7th ed.). Harlow: Pearson. ), mas isso não teve impacto na validade discriminante, como pode ser observado na Tabela 2.

A análise da validade discriminante testa se os construtos medem diferentes aspectos das CDs. Fornell e Larcker (1981Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Structural equation models with unobservable variables and measurement error: Algebra and statistics. Journal of Marketing Research, 18(3), 382-388. doi:10.1177/002224378101800313
https://doi.org/10.1177/0022243781018003...
) recomendam que a VE de cada constructo seja maior que a variância compartilhada pelos construtos (a correlação ao quadrado). A Tabela 2 lista as comparações entre o VE para cada construto (diagonal central) e as variâncias compartilhadas.

Tabela 2
Validade Discriminante das Dimensões das CDs

Como pode ser observado, em todos os casos a VE é maior que uma variância compartilhada, demonstrando a validade discriminante dos construtos.

Finalmente, as diferentes dimensões foram todas avaliadas no mesmo modelo para verificar seu ajuste usando o SEM. Optou-se pela verossimilhança como método de estimação e a matriz de entrada de dados foi a matriz de covariância. A Figura 2 ilustra o modelo estimado e as cargas para cada dimensão.

Figura 2
Modelo de CDs.

A Tabela 3 lista os indicadores do ajuste do modelo.

Tabela 3
Indicados de Ajuste do Modelo (CFA)

Os resultados estatísticos confirmam o ajuste e a confiabilidade do modelo e a importância de cada dimensão para a formação de CDs. Os mesmos procedimentos estatísticos foram aplicados aos constructos relativos à variável dependente. A Tabela 4 lista os resultados para os indicadores da confiabilidade dos construtos de desempenho, e a Tabela 5 lista os resultados da análise da validade discriminante para os constructos.

Tabela 4
Confiabilidade dos Constructos de Desempenho
Tabela 5
Validade Discriminante dos Constructos de Desempenho

Todos os resultados observados confirmaram o grau adequado de confiabilidade.

A Tabela 6 lista o questionário completo aplicado.

Tabela 6
A Escala da Pesquisa

Como os resultados demonstraram que os construtos possuíam confiabilidade adequada, procedeu-se ao teste das hipóteses de pesquisa utilizando regressão linear. Para essa análise, foram criadas variáveis ​​observáveis ​​para representar cada construto, estabelecido por suas médias. Foram criadas as seguintes variáveis: SE (Sense), SZ (Seize), MTR (Gerenciamento de ameaças e reconfiguração), FP (desempenho financeiro), SP (desempenho estratégico) e SAP (satisfação com o desempenho). A variável IN (inovação) já era uma variável observável. Além disso, uma variável CDs (Capacidades Dinâmicas) foi criada calculando a média de todas as variáveis ​​de dimensão SE, SZ e MTR.

Construímos ,dois blocos de regressão para os testes de hipóteses. O primeiro bloco contém os modelos I a IV e inclui as relações entre as variáveis de CDs ​​e as dimensões de desempenho. O segundo bloco é composto pelo modelo V ao modelo VIII, que testa as relações entre as três diferentes dimensões das CDs (SE, SZ e MTR) e as dimensões de desempenho. Nós incluímos Funcionários (EM), Receita (RV) para controlar a influência do tamanho da empresa e idade (AG) para controlar a influência da experiência em todos os modelos.

A Tabela 7 lista os resultados dos modelos I a IV, e a Tabela 8 lista os resultados do modelo V através do modelo VIII.

Tabela 7
Modelos de Regressão para CDs e Desempenho
Tabela 8
Modelos de Regressão para Dimensões de CDs e de Desempenho

O cumprimento das premissas inerentes ao método foi verificado após as regressões terem sido realizadas. Correlações entre variáveis ​​dependentes e independentes foram testadas usando correlações bivariadas com os coeficientes de correlação de Pearson, e os resultados mostraram correlações significativas entre 0,518 e 0,592. A homocedasticidade dos resíduos foi verificada por meio dos testes de Breusch-Pagan e White. A independência dos resíduos foi verificada pelo teste de Durbin Watson.

Além disso, como coletamos dados de um único respondente em cada empresa (ou seja, os dados das variáveis ​​independentes e dependentes vieram da mesma fonte), usamos o teste de um fator de Harman para avaliar a variância do método comum (Podsakoff, MacKenzie, Lee, & Podsakoff, 2003Podsakoff, P. M., MacKenzie, S. B., Lee, J.-Y., & Podsakoff, N. P. (2003). Common method biases in behavioral research: A critical review of the literature and recommended remedies. The Journal of Applied Psychology, 88(5), 879-903. doi:10.1037/0021-9010.88.5.879
https://doi.org/10.1037/0021-9010.88.5.8...
). O teste de um fator revelou uma covariância entre as variáveis ​​de menos de 50%, indicando que não há problemas sérios com a variância do método comum. Também verificamos a correlação entre os desempenhos subjetivos com dados objetivos de desempenho para uma subamostra de 45 empresas, conforme Tabela 9. Existe uma correlação positiva entre desempenho subjetivo e objetivo, permitindo inferir que a percepção dos respondentes tenha relação com os resultados.

Tabela 9
Correlação entre Desempenho Subjetivo e Objetivo

4.2 Discussão

4.2.1. CDs e Desempenho

Por um lado, os resultados listados na Tabela 7 confirmaram o que algumas pesquisas anteriores na área indicaram (Drnevich & Kriauciunas, 2011Drnevich, P. L., & Kriauciunas, A. P. (2011). Clarifying the conditions and limits of the contributions of ordinary and dynamic capabilities to relative firm performance. Strategic Management Journal, 32(3), 254-279. doi:10.1002/smj.882
https://doi.org/10.1002/smj.882...
; Wang & Ahmed, 2007Wang, C. L., & Ahmed, P. K. (2007). Dynamic capabilities: A review and research agenda. International Journal of Management Reviews, 9(1), 31-51. doi:10.1111/j.1468-2370.2007.00201.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2007...
; Zott, 2003Zott, C. (2003). Dynamic capabilities and the emergence of intraindustry differential firm performance: Insights from a simulation study. Strategic Management Journal, 24(2), 97-125. doi:10.1002/smj.288
https://doi.org/10.1002/smj.288...
). Existe uma relação direta e significativa entre CDs com o desempenho organizacional. Os resultados mostram a relação entre os CDs com SP, SaP e IN. Esses resultados suportaram a hipótese 1. Mas, por outro lado, não encontramos apoio para a relação com o desempenho financeiro, confirmando outros achados do estudo - não há relação entre CD e desempenho financeiro (Pezeshkan et al., 2016Pezeshkan, A., Fainshmidt, S., Nair, A., Lance Frazier, M., & Markowski, E. (2016). An empirical assessment of the dynamic capabilities-performance relationship. Journal of Business Research , 69(8), 2950-2956. doi:10.1016/j.jbusres.2015.10.152
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2015.1...
).

De fato, os resultados guardam a controvérsia encontrada em estudos anteriores. No entanto, desde que a literatura mostrou que a posse e a orquestração de CDs influenciam as capacidades, rotinas e recursos de uma empresa e tal relacionamento afeta a posição no mercado e, consequentemente, seu desempenho (Wang & Ahmed, 2007Wang, C. L., & Ahmed, P. K. (2007). Dynamic capabilities: A review and research agenda. International Journal of Management Reviews, 9(1), 31-51. doi:10.1111/j.1468-2370.2007.00201.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2007...
; Zott, 2003Zott, C. (2003). Dynamic capabilities and the emergence of intraindustry differential firm performance: Insights from a simulation study. Strategic Management Journal, 24(2), 97-125. doi:10.1002/smj.288
https://doi.org/10.1002/smj.288...
). Possivelmente é mais o resultado de um problema metodológico do que uma controvérsia teórica. Como discutido no contexto teórico, muitas das pesquisas usaram proxies ou fizeram uma avaliação unidimensional das CDs.

Concordamos que as CDs são um conceito multidimensional (Barreto, 2010Barreto, I. (2010). Dynamic capabilities: A review of past research and an agenda for the future. Journal of Management, 36(1), 256-280. doi:10.1177/0149206309350776
https://doi.org/10.1177/0149206309350776...
; Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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), e suas diferentes dimensões podem ter diferentes influências no desempenho. Na Tabela 2 podemos ver a validade discriminante entre as dimensões das CDs, mas também podemos ver uma correlação positiva entre elas. Isso significa que eles estão medindo diferentes aspectos dos CDs, mas esses aspectos têm uma correlação positiva entre eles.

A partir desse ponto, verificamos a influência da dimensão de cada CD no desempenho. Uma visão geral dos resultados da Tabela 8 mostra que as dimensões SE, SZ e MTR têm resultados diferentes entre si e também exibem uma influência distinta no desempenho, dependendo dos diferentes métodos usados para medir o desempenho.

4.2.2. Sense

A hipótese 2 propôs a existência de uma relação direta e significativa entre o SE e o desempenho, mas, ao contrário do esperado, a relação foi negativa para algumas medidas de desempenho (FP, SP e SaP). A própria natureza da dimensão SE implica esforços de pesquisa, mapeamento de informações e monitoramento de mercado, que exigem alocações de recursos que não mostram retornos em uma análise imediata; pelo contrário, são atividades que exigem investimentos. Isso poderia explicar a relação negativa com o desempenho.

De fato, a dimensão Sense pode ser considerada como um pré-requisito ou um antecedente das outras dimensões, não apenas pela importância demonstrada pela força de sua relação com as outras dimensões (SZ e MTR) e com o construto CDs. Nesse sentido, os resultados podem ajudar a explicar alguns resultados que não encontraram uma relação positiva entre as CDs com o desempenho. Se algum desses estudos utilizou indicadores associados às dimensões do sense, os resultados podem apresentar, de alguma forma, um viés. Os resultados, no entanto, também demonstraram uma relação positiva entre sense com a inovação de produtos e processos, mesmo que essa relação não tenha significância estatística.

4.2.3. Seize

Seize representa a eficácia de aproveitar as oportunidades que foram identificadas. Significa a transformação de ideias em novos produtos, serviços e processos que, por meio da aplicação de estratégias e planos de negócios bem construídos, terão um impacto no desempenho organizacional.

A estratégia para obter vantagem competitiva baseia-se na adoção de tecnologias e modelos de negócios apropriados que permitem a combinação e a orquestração de ativos difíceis de imitar (Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
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). Isso é confirmado pelas relações positivas entre SZ e FP, SP e SaP. Tais resultados suportam a hipótese 3.

4.2.4. MTR

O MTR só teve uma relação direta e significativa com a IN. A natureza dos indicadores que compõem essa dimensão está relacionada à gestão de parcerias com foco no desenvolvimento de recursos e capacidades e na proteção de ativos. Esses indicadores, por sua natureza, estão mais relacionados ao desempenho da inovação.

Em comum com SE, MTR exibiu uma relação diferente da proposta no início do estudo, mas desempenha um papel importante tanto em relação às outras dimensões (SE, SZ) quanto em relação ao construto CDs. Seu papel em relação às outras dimensões pode ser desempenhado de forma indireta, possivelmente por meio de outras capacidades ou, possivelmente, atuando apenas como um elemento de proteção de capacidades ou inovações.

Teece (2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi:10.1002/smj.640
https://doi.org/10.1002/smj.640...
) aponta que a reconfiguração é uma maneira de uma empresa escapar dos aspectos desfavoráveis ​​da dependência de trajetória. Portanto, é válido sugerir que, tendo a ausência de uma relação direta entre MTR e as dimensões de desempenho, juntamente com os resultados mostrando uma relação negativa entre experiência e desempenho, as empresas pesquisadas podem estar presas aos aspectos negativos de seus caminhos, impedindo-as de agirem em parceria ou proteger seus ativos. Isso pode ser um elemento relacionado ao setor investigado e não à natureza dos recursos. Em vista do exposto, a Hipótese 4 é parcialmente apoiada pelos resultados do estudo.

4.2.5. Tamanho e Experiência

Outro aspecto importante dos resultados está relacionado com as variáveis ​​de controle. O tamanho da empresa teve uma influência positiva em várias dimensões do desempenho, tanto quando avaliadas em termos de receita quanto quando avaliadas em termos de um número de funcionários. Isso é provavelmente porque as empresas maiores têm maior acesso a recursos e maior capacidade, incluindo capacidade financeira, para fazer investimentos (Musteen et al., 2010Musteen, M., Francis, J., & Datta, D. K. (2010). The influence of international networks on internationalization speed and performance: A study of Czech SMEs. Journal of World Business, 45(3), 197-205. doi:10.1016/j.jwb.2009.12.003
https://doi.org/10.1016/j.jwb.2009.12.00...
).

A experiência teve um relacionamento negativo com muitas dimensões do desempenho. Isso pode ocorrer porque as empresas estabelecidas há mais tempo já estão maduras em alguns mercados e, portanto, têm maior dependência de trajetória - possivelmente em termos de linhas de produtos e serviços, em termos de clientes ou em termos das opções estratégicas adotadas. Por essa razão, a mudança é mais cara e mais arriscada, e elas acham mais difícil inovar; muitas vezes essas empresas têm estruturas que se solidificaram e se estabeleceram. Como mencionado anteriormente, este poderia ser um fator relacionado à natureza do setor estudado e, por isso, merece investigação mais aprofundada em pesquisas futuras.

5. CONCLUSÕES

A contribuição mais importante deste estudo é a escala proposta para a medição de CDs. Argumentamos que essa escala é uma evolução positiva em relação a estudos anteriores sobre o assunto, a maioria dos quais utilizou proxies para medir CDs. Muitas dessas aproximações adotam medidas que podem, de fato, cobrir certos elementos das CDs, mas permanecem parciais. Alguns utilizaram dados sobre novos produtos e mercados, inovação e tecnologia, investimentos em P&D e/ou gestão de relacionamentos, entre outros. A questão da medição de CDs constitui uma das lacunas mais importantes da área e é alvo de grande parte das críticas que foram direcionadas à abordagem. A escala permite refletir a integralidade do conceito e apresenta uma forma objetiva de mensuração para os CDs, conforme solicitado por Pavlou e Sawy (2011Pavlou, P. A., & El Sawy, O. A. (2011). Understanding the elusive black box of dynamic capabilities.Decision Sciences,42(1), 239-273. doi:10.1111/j.1540-5915.2010.00287.x
https://doi.org/10.1111/j.1540-5915.2010...
) e Eriksson (2014Eriksson, T. (2014). Processes, antecedents and outcomes of dynamic capabilities. Scandinavian Journal of Management , 30(1), 65-82. doi:10.1016/j.scaman.2013.05.001
https://doi.org/10.1016/j.scaman.2013.05...
).

A escala proposta neste estudo tem características diferentes. É baseada nos conceitos mais importantes das CDs, ela emprega as três dimensões diferentes que compõem CDs, e os resultados, tanto estatísticos quanto de validade de conteúdo, indicam que a proposta oferece bom ajuste e confiabilidade. Uma escala dessa natureza deve contribuir para a ampliação do conhecimento na área, tanto por possibilitar a realização de estudos que possam ser comparados entre si, pois adotam procedimentos metodológicos semelhantes, como possibilitam uma análise mais robusta dos elementos que compõem o conceito. Assim, essa proposta pode aumentar a congruência nas interpretações do papel das CDs e melhorar os problemas de divergências nas pesquisas de CDs destacadas por Di Stefano et al. (2010Di Stefano, G., Peteraf, M., & Verona, G. (2010). Dynamic capabilities deconstructed: A bibliographic investigation into the origins, development, and future directions of the research domain. Industrial and Corporate Change, 19(4), 1187-1204. doi:10.1093/icc/dtq027
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).

Além disso, os resultados da survey também apresentam uma série de contribuições para a área temática e podem influenciar a agenda de pesquisas futuras. Em termos de contribuições acadêmicas, além de propor e testar a escala, este estudo também contribui para o conhecimento sobre os papéis desempenhados pelas diferentes capacidades ou dimensões que compõem as CDs.

O papel desempenhado pela dimensão Sense indica que se trata de um estágio ou fase de investimento que tem impacto negativo no desempenho, possivelmente porque implica esforço e gasto sem retorno perceptível. No entanto, suas relações com as outras dimensões e com o construto de CDs fornecem evidências de sua importância para o desempenho no longo prazo. Esses resultados corroboram a ideia de que as CDs permitem que uma empresa trate de mudanças ambientais, ajuste e reconfigure seus recursos para aumentar receitas e reduzir custos (Kay, Leih, & Teece, 2018Kay, N. M., Leih, S., & Teece, D. J. (2018). The role of emergence in dynamic capabilities: A restatement of the framework and some possibilities for future research.Industrial and Corporate Change,27(4), 623-638. doi:10.1093/icc/dty015
https://doi.org/10.1093/icc/dty015...
; Teece, 2014Shamsie, J., Martin, X., & Miller, D. (2009). In with the old, in with the new: Capabilities, strategies, and performance among the Hollywood studios. Strategic Management Journal, 30(13), 1440-1452. doi:10.1002/smj.789
https://doi.org/10.1002/smj.789...
).

A dimensão Seize caracteriza a importância dos planos de negócios e estratégias que permitem às empresas aproveitar as oportunidades identificadas. Isso indica a importância da capacidade estratégica para alcançar resultados. É também a dimensão com a relação direta mais forte com as medidas de desempenho.

A dimensão MTR só apresentou uma relação direta e significativa com a inovação e, portanto, convida a um estudo mais aprofundado para melhorar a compreensão. É possível que seu papel seja proteger os ativos de uma empresa e contribuir para seu desempenho por meio da inovação e do gerenciamento de relacionamentos. Esse resultado também pode ser influenciado pelas características da indústria estudada - as empresas dessa indústria podem estar presas a aspectos desfavoráveis de seus caminhos. Estes são obviamente caminhos para pesquisas futuras. Deve-se ressaltar, no entanto, que os testes de ajuste aplicados à escala demonstram que todas as três dimensões são importantes para a medição das CDs mostrando que, a partir dessa contribuição central, o papel das dimensões deve ser estudado em maior profundidade na pesquisa futura.

Para o ambiente executivo, esses resultados demonstram com maior clareza os elementos que compõem as CDs das organizações e seus impactos nas diferentes dimensões do desempenho. Isso oferece escopo para as empresas melhorarem deliberadamente o gerenciamento dessas dimensões. Como é verdade em todas as pesquisas científicas, este estudo tem certas limitações. A pesquisa foi realizada em apenas uma indústria e, portanto, não há como controlar os efeitos da indústria nos resultados; o setor de TI é intensivo em serviços, e os serviços têm características muito diferentes daquelas da indústria manufatureira tradicional; a amostra de 98 entrevistados é muito pequena para realizar testes mais robustos (como modelagem de equações estruturais) para testar a relação com variáveis ​​de desempenho em um único modelo, razão pela qual o SEM foi usado apenas parcialmente no estudo.

Essas contribuições abrem caminhos para futuras pesquisas, como verificar as influências da indústria nas relações propostas; as diferenças entre serviços e indústrias manufatureiras em termos das relações entre CDs e suas dimensões e desempenho organizacional; e as influências da “dependência da trajetória” da organização no desenvolvimento das CDs.

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  • Financiamento

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2020

Histórico

  • Recebido
    20 Dez 2018
  • Revisado
    11 Abr 2019
  • Aceito
    23 Maio 2019
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