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Bibliotecas universitárias públicas no YouTube: métricas dos canais

Public university libraries on YouTube: channel metrics

Resumo:

Analisa as bibliotecas universitárias federais e estaduais no que concerne ao desenvolvimento de novas formas de interação e comunicação com suas comunidades, a partir das métricas de visualização no YouTube. Caracteriza-se como uma pesquisa exploratória e descritiva, de abordagem mista com a aplicação das técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Para a identificação das universidades federais e estaduais brasileiras, recorreu-se a plataforma E-mec, no qual aplicaram-se os seguintes filtros na busca: sendo considerados todas as unidades federativas, selecionando apenas universidades de natureza pública federal e pública estadual, totalizando 110 universidades. Com base nas instituições listadas, foram acessados os sites das universidades e, posteriormente, localizadas as abas que se intitulavam de Biblioteca e ou Sistema de Biblioteca. Na aba das bibliotecas, localizou-se informação sobre redes sociais, tutoriais e canal no YouTube. Quando não localizadas essas informações, pesquisou-se diretamente no YouTube pela abreviatura da universidade, associando como biblioteca ou sistema de biblioteca. Assim foram localizados 57 canais de bibliotecas, sendo delimitados os canais a partir de 1.000 inscritos, restando 14 deles vinculados às 14 universidades. As bibliotecas universitárias da região sul e sudeste consolidam suas práticas e serviços nos canais, e o maior fluxo de publicações e visualizações nos canais corresponderam ao período de distanciamento social, inferindo que as bibliotecas universitárias utilizaram a plataforma como recurso de comunicação. As temáticas recorrentes nos 70 vídeos listados focam o Currículo Lattes, a normalização de trabalhos acadêmicos (citação, referência), o uso de fontes de informação e pesquisa em bases de dados, a utilização dos gerenciadores bibliográficos (Mendeley, EndNote, Zotero), a construção de trabalhos acadêmicos, projeto de pesquisa e artigos científicos (escrita), plágio acadêmico, uso do Canva, Excel, Open Journal Systems.

Palavras-chave:
biblioteca universitária; inovação; YouTube; vídeo; tecnologias digitais de informação e comunicação

Abstract:

It analyzes federal and state university libraries with regard to the development of new forms of interaction and communication with their communities, based on YouTube viewing metrics. It is characterized as an exploratory and descriptive research, with a mixed approach with the application of bibliographic and documentary research techniques. For the identification of Brazilian federal and state universities, the E-mec platform was used, in which the following filters were applied in the search: considering all federative units, selecting only federal and state public universities, totaling 110 universities. Based on the listed institutions, the websites of the universities were accessed and, subsequently, the tabs entitled Library and or Library System were located. In the libraries tab, information about social networks, tutorials and YouTube channel was located. When this information was not found, we searched directly on YouTube for the abbreviation of the university, associating it with library or library system. Thus, 57 library channels were located, the channels being delimited from 1,000 subscribers, leaving 14 of them linked to the 14 universities. University libraries in the south and southeast regions consolidate their practices and services in the channels, and the greater flow of publications and views in the channels corresponded to the period of social distancing, inferring that university libraries used the platform as a communication resource. The recurring themes in the 70 videos listed focus on the Lattes Curriculum, the standardization of academic works (citation, reference), the use of information sources and research in databases, the use of bibliographic managers (Mendeley, EndNote, Zotero), the construction of academic works, research design and scientific articles (writing), academic plagiarism, use of Canva, Excel, Open Journal Systems.

Keywords:
academic library; innovation; video; digital information and communication Technologies

1 Introdução

As bibliotecas universitárias estão configuradas como ambientes propiciadores de disseminação e mediação do conhecimento científico, congregados em múltiplas áreas do conhecimento, pautadas nas atividades de ensino, pesquisa e extensão integradas às universidades. Com o advento das tecnologias, estes ambientes modificaram suas práticas, havendo a necessidade de agregar estratégias focadas na inovação dos serviços publicizados (ZANINELLI; NOGUEIRA; PERES, 2019ZANINELLI, Tais Batista; NOGUEIRA, Cibele Andrade; PERES, Ana Luísa Moure. Bibliotecas universitárias: uma perspectiva teórica sobre inovação em serviços informacionais. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia & Ciência da Informação, Campinas, v. 17, 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.20396/rdbci.v17i0.8652821 . Acesso em: 1 ago. 2022.
http://dx.doi.org/10.20396/rdbci.v17i0.8...
).

Durante o período de distanciamento social no Brasil, decorrente da pandemia de covid-19, as bibliotecas universitárias, assim como outros setores das universidades, permaneceram fechadas ou atuaram de forma remota e ou híbrida. Neste cenário crítico, surgiram oportunidades; pois alguns destes ambientes de saberes se utilizaram das mídias sociais, como, por exemplo, a plataforma do Youtube, usufruindo dos recursos para transmissão de capacitações, palestras e a disponibilização de tutoriais, a fim de aprimorar a comunicação e ampliar o acesso à informação.

Ante essa perspectiva de mudanças na oferta de serviços com os paradigmas tecnológicos contextualizados na sociedade, buscou-se neste artigo responder a indagação: as bibliotecas universitárias federais e estaduais estão se apropriando das inovações tecnológicas para desenvolverem novas formas de interação e comunicação com suas comunidades? Para tanto, teve-se o objetivo de analisar as bibliotecas universitárias federais e estaduais no que concerne ao desenvolvimento de novas formas de interação e comunicação com suas comunidades, a partir das métricas de visualização no YouTube. Especificamente, definiram-se os objetivos de (1) mapear as bibliotecas de universidade federais e estaduais com canais no YouTube; (2) verificar o número de inscritos, vídeos e visualizações dos canais mais influentes; (3) categorizar os cinco vídeos com maior visualização nos canais mais influentes e; (4) discutir o uso dos canais no YouTube como forma de ampliar o acesso aos serviços de informação.

Investigar a apropriação das mídias sociais pelas bibliotecas universitárias não é novidade em pesquisas (HUBNER; TEIXEIRA; KROTH, 2014HÜBNER, Marcos Leandro Freitas; TEIXEIRA, Marcelo Votto; KROTH, Diego Fabrizio. Serviços da biblioteca na web 2.0: um estudo de caso dos tutoriais em vídeo da Universidade de Caxias do Sul no site youtube.com. PontodeAcesso, Salvador, v. 8, n. 1, p. 39-55, 2014. ; MURIEL-TORRADO; GONÇALVES, 2017MURIEL-TORRADO, Enrique.; GONÇALVES, Marcio. Youtube nas bibliotecas universitárias brasileiras: quem, como e para o que é utilizado. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 98-113, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994 . Acesso em: 18 jul. 2022.
https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994...
; TEIXEIRA, 2021TEIXEIRA, Robson da Silva. O papel das bibliotecas universitárias no contexto da informação digital: uso do canal de vídeos da biblioteca do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro - IF UFRJ. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia & Ciência da Informação, Campinas, v. 19, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.20396/rdbci.v19i00.8667336 . Acesso em: 18 jul. 2022.
https://doi.org/10.20396/rdbci.v19i00.86...
) nas áreas da Biblioteconomia e Ciência da Informação. No entanto, buscou-se aqui focar no uso do YouTube pelas bibliotecas universitárias brasileiras, tendo em vista sua ampla adesão entre os diferentes grupos sociais e linguagem contemporânea.

Pressupõe-se que as bibliotecas universitárias podem explorar essa mídia para fidelizar seus usuários e ampliar sua atuação no ambiente digital, pois limitar-se ao espaço físico e a tutorias em arquivos Portable Document Format (PDF) pode fortalecer estigmas de bibliotecas desconectadas com a realidade do mundo pós-pandemia.

O YouTube está na segunda posição entre as mídias sociais mais utilizadas mundialmente (DIGITAL 2022DIGITAL 2022: july global statshot report. Produção: Simon Kemp. Editores: Datareportal; We are Social; Hootsuite. [S.l.]: Kepios, 2022. 1 vídeo (296 slides). , 2022DIGITAL 2022: july global statshot report. Produção: Simon Kemp. Editores: Datareportal; We are Social; Hootsuite. [S.l.]: Kepios, 2022. 1 vídeo (296 slides). ). Na perspectiva de Henry, Vardeman e Syma (2012HENRY, Cynthia L.; VARDEMAN, Kimberly K.; SYMA, Carrye K. Reaching out: connecting students to their personal librarian. Reference Services Review, United Kingdom, v. 40, n. 3, p. 396-407, 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1108/00907321211254661 . Acesso em: 4 jul. 2022.
http://dx.doi.org/10.1108/00907321211254...
, p. 399, tradução nossa) “o YouTube é certamente uma maneira de encontrar os usuários independentemente de onde estão localizadas, em vez de esperar que eles venham à biblioteca”.

A escolha das bibliotecas universitárias públicas como objeto de análise advém da sua consolidação e tradição no cenário nacional que apresentam corpo técnico robusto.

Posto isso, na próxima seção se discorre sobre os principais tópicos que sustentam a compreensão desta pesquisa.

2 Fundamentação teórica

Neste escopo teórico são abordadas as tipologias de inovação relacionadas aos serviços das bibliotecas, perpassando a apropriação das bibliotecas universitárias no uso das mídias sociais de compartilhamento de vídeos, com foco no YouTube mapeado no cenário nacional e internacional, relacionado às métricas que possibilitam a análise de cenários quantitativos aplicados.

2.1 Inovação: síntese da tipologia

Ao ampliar a perspectiva conceitual do termo inovação é possível identificar vários exemplos de inovação em bibliotecas. A tipologia de inovação, de acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 2005OCDE. Manual de Oslo: proposta de diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação tecnológica. Brasília: Finep, 2005. ), contempla as inovações de: produto, processo, organizacional e marketing. Com base neste documento de padronização, a inovação de produto corresponde à introdução de um novo produto ou significativamente melhorado. Este tipo tem sido o mais disseminado, quando se pensa em inovação são produtos tecnológicos que muitas vezes são facilmente visualizados pelas pessoas.

As inovações de processo são melhorias no método de produção ou a incorporação de novas formas de desenvolvimento de um produto ou serviço. As inovações de marketing são novas maneiras de divulgação, incluem aqui desde aspectos de a embalagem, design até os canais de interação com clientes e usuários. Por sua vez, a inovação organizacional representa novas formas de desenvolvimento estratégico, incluem-se melhorias e propostas inovadoras no ambiente da organização, bem como a forma de se relacionar com o ambiente externo, como é o caso das formas de parcerias estratégicas.

Na versão mais recente do Manual de Oslo (OCDE, 2018OCDE. Oslo Manual 2018: guidelines for collecting, reporting and using data on innovation. 4. ed. Paris: Eurostat, 2018. ), esta tipologia foi dividida em duas nomenclaturas principais: inovação como resultado de produto ou serviço, comumente disseminada em produtos e serviços, e atividades de inovação que são os processos inerentes do desenvolvimento à oferta de um produto ou serviço. Aqui se incluem: (1) produção de bens ou serviços; (2) distribuição e logística; (3) marketing e vendas; (4) sistemas e informação e comunicação; (5) atividades administrativas e de gestão; (6) Desenvolvimento de produtos e negócio.

O impacto da inovação também faz parte da tipologia de inovação (OCDE, 2005OCDE. Manual de Oslo: proposta de diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação tecnológica. Brasília: Finep, 2005. ), sendo dois principais: incremental e radical. O grau de impacto incremental é em quase todos os setores o mais disseminado, pois corresponde às melhorias em produtos e/ou processos. O custo é menor, são inovações mais rápidas de serem implementadas e com resultado mais imediato. Após a comercialização de um produto ou serviço, inúmeras melhorias podem ser implementadas. O grau de impacto radical, de maneira geral, está mais associado às inovações tecnológicas. Neste fenômeno são caracterizados pelos desenvolvimentos que demandam, no geral, mais tempo e investimento para a criação. No entanto, quando bem-sucedidas proporcionam maiores ganhos às organizações. Sendo em alguns casos a origem desta inovação responsável por uma alteração no modelo de negócio da organização e/ou até mesmo alterações no comportamento de um setor de mercado.

Como se observa, a inovação transcende o estigma da inovação de base tecnológica apenas. São vários aspectos que caracterizam a inovação em uma determinada situação da organização, seja na oferta de um produto ou serviço ou mesmo na forma de interagir com seus clientes e usuários. Amplia-se também o escopo quando se entende a dimensão de análise: novo para a organização, novo para o setor, novo para o mundo. Desta forma, uma empresa pode ser considerada inovadora mesmo que tenha um perfil de seguidora de um determinado recurso, tecnologia ou ideia. Não sendo requisito para tal concepção o caráter de ineditismo.

A caracterização sobre o fenômeno da inovação é diretamente aplicada ao que ocorre no ambiente das bibliotecas. Os tipos de inovação podem ser elencados mesmo quando abordadas organizações sem fins lucrativos. Assim, considerando o objeto de análise do estudo, torna-se importante mencionar que as inovações que ocorrem em bibliotecas universitárias também podem ser classificadas de acordo com o Manual de Oslo.

Da mesma forma, ferramentas utilizadas como suporte no desenvolvimento de inovações já têm sido exploradas por profissionais da Biblioteconomia, como o Design Thinking, Lean Startup, Mapa de Empatia, Canvas (SENA, 2022SENA, Priscila. Inovação para o desenvolvimento de serviços de informação. ConCI: Convergências em Ciência da Informação, Aracaju, v. 5, n. dossiê, p. 1-24, 5 ago. 2022. ) para modelo de negócios, entre outras ferramentas mais tradicionais de gestão. Vale aqui destacar alguns dos estudos empíricos utilizados pelas bibliotecas universitárias como objeto de análise: Lazzari et al. (2021 LAZZARI, Letícia; KLEINÜBING, Luiza da Silva; SOUZA, Marcela Reinhardt de; TREVISOL NETO, Orestes. Inovação na biblioteca universitária: relato de experiência da Udesc. Ciência da Informação em Revista, Maceió, v. 8, n. 3, p. 53-64, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.28998/cirev.2021v8n3d . Acesso em: 1 ago. 2022.
https://doi.org/10.28998/cirev.2021v8n3d...
), Fonseca e Paletta (2022FONSECA, Diego Leonardo de Souza; PALETTA, Francisco Carlos. A inovação em serviços de informação e a biblioteca das coisas. Bibliotecas. Anales de Investigación, Cuba, v. 18, n. 1, 2022. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/193735 . Acesso em: 1 ago. 2022.
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapc...
), Rossi et al. (2020ROSSI, Tatiana; CÂNDIDO, Ana Clara; PAZMINO, Ana Verónica; VIANNA, William Barbosa. Serviços inovadores em biblioteca universitária. Informação & Informação, Londrina, v. 25, n. 2, p. 403-429, 2020. Disponível em: http:// http://dx.doi.org/10.5433/1981-8920.2020v25n2p403 . Acesso em: 1 ago. 2022.
http:// http://dx.doi.org/10.5433/1981-8...
), Trevisol Neto e Franceschi (2019TREVISOL NETO, Orestes; FRANCESCHI, Marilene dos Santos. Ações intraempreendedoras em uma biblioteca universitária especializada. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 24, n. 1, p. 281-296, 2019. ) Zaninelli, Nogueira e Peres (2019ZANINELLI, Tais Batista; NOGUEIRA, Cibele Andrade; PERES, Ana Luísa Moure. Bibliotecas universitárias: uma perspectiva teórica sobre inovação em serviços informacionais. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia & Ciência da Informação, Campinas, v. 17, 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.20396/rdbci.v17i0.8652821 . Acesso em: 1 ago. 2022.
http://dx.doi.org/10.20396/rdbci.v17i0.8...
), Juliani, Cavaglieri e Machado (2015JULIANI, Jordan Paulesky; CAVAGLIERI, Marcelo; MACHADO, Raquel Bernadete. Design thinking como ferramenta para geração de inovação: um estudo de caso da biblioteca universitária da UDESC. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, São Paulo, v. 6 n. 2, n. 2, p. 66-83, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2178-2075.v6i2p66-83 . Acesso em: 1 ago. 2022.
https://doi.org/10.11606/issn.2178-2075....
) e Martins (2012MARTINS, Camila Quaresma. Gestão do conhecimento para serviços de informação: análise de produtos e serviços inovadores em bibliotecas universitárias. BIBLOS: Revista do Instituto de Ciências Humanas e da Informação, Rio Grande, v. 26, n. 1, p. 13-30, 2012. ).

Nesse cenário da inovação aplicada em bibliotecas universitárias, a apropriação do YouTube, ao observar com as lentes da inovação, o uso dos vídeos na plataforma de compartilhamento de vídeos, de forma mais acentuada, na rotina das bibliotecas universitárias, a partir do período de distanciamento social decorrente da pandemia (covid-19), é possível identificar sobretudo dois tipos principais de inovação: do ponto de vista do processo e do marketing.

O uso dos vídeos no YouTube com a finalidade de apresentar conteúdo para capacitação e treinamento, por exemplo, é uma inovação de processo. Certamente na preparação e no desenvolvimento dos vídeos pelas equipes de profissionais outras inovações incrementais de processo ocorreram internamente nas rotinas destas bibliotecas, como é o caso da adaptação para o trabalho remoto. A inovação de marketing ocorre também quando as bibliotecas universitárias ao promoverem os vídeos utilizam-nos para a divulgação e sensibilização de usuários e potenciais usuários sobre os serviços da biblioteca.

É perceptível o uso das mídias sociais pelas instituições como forma de se aproximar do seu público-alvo, o desenvolvimento de vídeos por profissionais de diversas áreas marca alterações na forma de utilizar este recurso para fins de divulgação de produtos e serviços, sendo estratégico à disseminação, aplicando a tecnologia como mecanismo propiciador de novos caminhos de publicização do que está sendo produzido nos ambientes das universidades.

2.2 Apropriação do YouTube pelas bibliotecas universitárias: métricas para análise

No intuito de discutir a apropriação do YouTube pelas bibliotecas universitárias, destacam-se alguns estudos e relatos nacionais e internacionais. No Brasil, incipientes são as publicações o que denota uma lacuna de pesquisa na Biblioteconomia e Ciência da Informação. Hubner, Teixeira e Kroth (2014HÜBNER, Marcos Leandro Freitas; TEIXEIRA, Marcelo Votto; KROTH, Diego Fabrizio. Serviços da biblioteca na web 2.0: um estudo de caso dos tutoriais em vídeo da Universidade de Caxias do Sul no site youtube.com. PontodeAcesso, Salvador, v. 8, n. 1, p. 39-55, 2014. ) relatam a experiência do Sistema de Bibliotecas Universitárias da Universidade de Caxias do Sul (UCS) na criação e disponibilização de tutorias no canal do YouTube “Bibliotecas UCS”.

Na perspectiva dos autores, foi necessário desenvolver as habilidades dos bibliotecários para a construção dos tutoriais, analisar softwares para a gravação e edição, bem como selecionar a plataforma para hospedar os vídeos, que no caso, a escolha recaiu sobre o YouTube, permitindo interação entre os usuários por meio dos likes (curtidas), comentários e compartilhamentos. Assim, foram elaboradas 11 tutorias que abarcam os serviços da biblioteca, impactando na reformulação das oficinas ministradas pelos bibliotecários e aumento da demanda dos serviços. Destacam ainda que o projeto foi inovador no Brasil, recebendo feedbacks positivos da comunidade acadêmica (HUBNER; TEIXEIRA; KROTH, 2014HÜBNER, Marcos Leandro Freitas; TEIXEIRA, Marcelo Votto; KROTH, Diego Fabrizio. Serviços da biblioteca na web 2.0: um estudo de caso dos tutoriais em vídeo da Universidade de Caxias do Sul no site youtube.com. PontodeAcesso, Salvador, v. 8, n. 1, p. 39-55, 2014. ).

Muriel-Torrado e Gonçalves (2017MURIEL-TORRADO, Enrique.; GONÇALVES, Marcio. Youtube nas bibliotecas universitárias brasileiras: quem, como e para o que é utilizado. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 98-113, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994 . Acesso em: 18 jul. 2022.
https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994...
) analisaram como o YouTube é utilizado pelas bibliotecas de universidades reconhecidas no Brasil, no qual a amostra do estudo contemplou as 50 universidades mais bem posicionadas no Ranking Webometrics de 2016. Consequentemente, analisaram os sites das bibliotecas e pesquisaram no YouTube com o intuito de mapear seus canais. A amostra da pesquisa congregou dez canais localizados e constataram que tais bibliotecas fazem diferentes usos do canal (armazém de vídeos e tutoriais), sendo o canal da Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina (BU UFSC) o mais visualizado.

Conforme o apontamento dos autores, não basta estar presente no YouTube, é preciso ter um planejamento estratégico fundamentado nas necessidades de informação, nos objetivos institucionais e nas métricas de acessos. Por fim, são elencadas algumas formas de uso do YouTube no contexto das bibliotecas como:

[...] gravação de breves aulas expositivas de assuntos de interesse para os usuários; registro de eventos que aconteçam na biblioteca ou na universidade; explicações dos bibliotecários ou dos próprios usuários sobre como usar os serviços da biblioteca; apresentação de procedimentos da universidade: como conseguir a carteira de estudante, como criar um e-mail institucional, etc. (MURIEL-TORRADO; GONÇALVES, 2017MURIEL-TORRADO, Enrique.; GONÇALVES, Marcio. Youtube nas bibliotecas universitárias brasileiras: quem, como e para o que é utilizado. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 98-113, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994 . Acesso em: 18 jul. 2022.
https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994...
, p. 111).

O relato mais atual no contexto destes ambientes é o caso da Biblioteca do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFUFRJ). Conforme Teixeira (2021TEIXEIRA, Robson da Silva. O papel das bibliotecas universitárias no contexto da informação digital: uso do canal de vídeos da biblioteca do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro - IF UFRJ. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia & Ciência da Informação, Campinas, v. 19, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.20396/rdbci.v19i00.8667336 . Acesso em: 18 jul. 2022.
https://doi.org/10.20396/rdbci.v19i00.86...
), a ideia de criar o canal da biblioteca no YouTube surgiu como uma demanda da própria comunidade por meio de um estudo realizado pela biblioteca em 2018, e também, em consonância com o surgimento da pandemia de covid-19 que mudou as formas de interação, assim o canal foi criado em outubro de 2019. No ano de 2021, o canal contava com 123 inscritos e 17 vídeos, categorizados em: habilidades informacionais, lives, entrevistas, produtos e serviços e outros. Por fim, o autor destaca que o canal é uma ferramenta para desenvolver as habilidades informacionais dos usuários no que tange ao uso das fontes de informação e serviços, bem como disseminar a informação de forma eficaz e dinâmica.

Sob a perspectiva internacional, observa-se que no Canadá, Estados Unidos e Espanha, algumas bibliotecas universitárias também agregaram o YouTube no seu rol de mídias sociais. Henry, Vardeman e Syma (2012HENRY, Cynthia L.; VARDEMAN, Kimberly K.; SYMA, Carrye K. Reaching out: connecting students to their personal librarian. Reference Services Review, United Kingdom, v. 40, n. 3, p. 396-407, 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1108/00907321211254661 . Acesso em: 4 jul. 2022.
http://dx.doi.org/10.1108/00907321211254...
) descrevem a ação da equipe de comunicação e marketing da Texas Tech University Library que produziu uma série de vídeos intitulada “Meet the Librarian” com o objetivo de apresentar e aproximar os bibliotecários à comunidade acadêmica; em vídeos curtos os bibliotecários comentam sobre seus hobbies, gostos e área de atuação. Depois de editados, os vídeos foram disponibilizados no canal da biblioteca no YouTube, no Facebook e nos perfis profissionais dos bibliotecários. Segundo os autores, foi uma forma inovadora e proativa de apresentar os bibliotecários à comunidade, melhorando assim a interação e comunicação entre eles.

Dalal e Lackie (2014DALAL, Heather A.; LACKIE, Robert J. What if you build it and they still won’t come? addressing student awareness of resources and services with promotional videos. Journal of Library & Information Services in Distance Learning, Abingdon, v. 8, n. 3-4, p. 225-241, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1080/1533290X.2014.945841 . Acesso em: 1 ago. 2022.
https://doi.org/10.1080/1533290X.2014.94...
) compartilham a experiência da The Rider Library na construção do projeto The Rider Libraries Minute (TRLM) no qual bibliotecários e alunos produziram e editaram vídeos promocionais da biblioteca pois constataram que os alunos desconheciam os recursos ofertados, subutilizando a biblioteca. Portanto, bibliotecários e alunos uniram forças para produzir vídeos envolventes, indo além dos tutoriais tradicionais já existentes. Essa equipe colaborativa escolheu o nome do projeto, criou a marca, escreveu os storybords e divulgou os vídeos no YouTube, Twitter, Facebook e Google+, além de engajar personalidades estratégicas da comunidade acadêmica.

Collins e Quan-Haase (2014COLLINS, Gary; QUAN-HAASE, Anabel. Are social media ubiquitous in academic libraries? A longitudinal study of adoption and usage patterns. Journal of Web Librarianship, London, v. 8, n. 1, p. 48-68, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1080/19322909.2014.873663 . Acesso em: 1 ago. 2022.
https://doi.org/10.1080/19322909.2014.87...
) relatam que cinco bibliotecas universitárias canadenses da região de Ontário já utilizavam o YouTube entre 2010 e 2012 para divulgar os serviços das bibliotecas, promover palestras e desenvolver a competência informacional por meio de vídeos instrutivos de como pesquisar nas bases de dados. Por fim, concluíram que se comparado ao Facebook, Twitter e Flicker, o Youtube é ótima ferramenta para se alcançar os usuários, pois um vídeo pode ter alcance maior do que um post textual, consequentemente demanda menos esforços nas publicações e atualização diária.

Marchis (2018MARCHIS, Bogdana. Putting levity into literacy: professionally produced library instruction videos. Journal of Information Literacy, London, v. 12, n. 2, p. 113-120, dec. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.11645/12.2.2488 . Acesso em: 1 ago. 2022.
https://doi.org/10.11645/12.2.2488...
) descreve o projeto de criação de vídeos instrutivos (tutorias) para substituir as aulas e capacitações ministradas nas bibliotecas de Stanford. O objetivo do projeto foi desenvolver as habilidades informacionais dos alunos e capacitá-los para uso dos recursos informacionais e pesquisa. Os vídeos versaram sobre pesquisa no catálogo das bibliotecas, pesquisa em bases de dados, avaliação crítica das fontes de informação, uso de fontes primárias e coleções especiais, entre outros. Os vídeos foram produzidos e editados por uma empresa contratada, sendo disponibilizados no canal da Biblioteca no YouTube. Como estratégia criaram vídeos curtos, informativos e divertidos; assim, os resultados foram positivos ao atrair a comunidade para a biblioteca.

Outra perspectiva internacional é apresentada por Herrera Morillas (2019HERRERA MORILLAS, José Luis. Las bibliotecas universitarias españolas y el empleo de vídeos promocionales en línea. Ibersid: revista de sistemas de información y documentación, Zaragoza, v. 13, n. 1, p. 43-50, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.54886/ibersid.v13i1.4640 . Acesso em: 1 ago. 2022.
https://doi.org/10.54886/ibersid.v13i1.4...
) ao analisar 87 vídeos institucionais (promocionais) de 45 bibliotecas universitárias Espanholas e categorizá-los com base nos títulos, duração, descrições dos vídeos, ano de criação ou publicação, localização dos vídeos (site ou YouTube) entre outras variáveis. Constatou-se que o seu uso é positivo para melhorar a imagem das bibliotecas, ampliar a divulgação, sendo utilizadas ferramentas de baixo custo na sua produção.

Diante do exposto, há uma tendência de as bibliotecas universitárias utilizarem e se apropriarem dos canais no YouTube para disponibilizar e divulgar seus conteúdos, considerando as possibilidades de atingir não apenas sua comunidade interna, mas também usuários de outras instituições, tendo a necessidade de analisar as métricas disponíveis na plataforma de compartilhamento de vídeos e a visibilidade proporcionada nos serviços ofertados pelas bibliotecas universitárias neste canal.

3 Procedimentos metodológicos

Caracteriza-se a pesquisa apresentada como exploratória e descritiva, apresenta uma abordagem mista e aplica as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Para identificar as universidades federais e estaduais brasileiras, recorreu-se à plataforma E-mec, na qual aplicaram-se os seguintes filtros na busca: foram considerados todas as unidades federativas, selecionando apenas universidades de natureza pública federal e pública estadual, totalizando 110 universidades federais e estaduais.

Com base nas instituições listadas, foram acessados os sites das universidades e, posteriormente, localizadas as abas que se intitulavam de Biblioteca e ou Sistema de Biblioteca. Na aba das bibliotecas localizou-se informação sobre redes sociais, tutoriais e canal no YouTube. Quando não localizadas essas informações, pesquisou-se diretamente no YouTube pela abreviatura da universidade, associando como biblioteca ou sistema de biblioteca. Portanto, das 110 universidades foram localizados 57 canais de bibliotecas federais e estaduais. Para compor a amostra da pesquisa foram delimitados os canais que possuem mais de 1.000 inscritos, entendendo que este indicador denota interesse pelo seu conteúdo produzido, restando 14 canais vinculados às 14 universidades.

Sendo elas: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Universidade estadual de campinas (UNICAMP), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Universidade de Brasília (UNB), Fundação Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal Fluminense (UFF).

A coleta dos dados ocorreu na primeira quinzena de julho de 2022 no YouTube; em cada um dos 14 canais foram extraídos dados como número de inscritos, ano de inscrição, número de visualização dos canais, número de playlists, número de vídeos e os cinco vídeos mais visualizados de cada canal. No quadro 1 está descrito o nome do canal e seu endereço eletrônico.

Quadro 1 -
Canais no YouTube das bibliotecas universitárias analisadas

Justifica-se a seleção do universo da pesquisa pelo entendimento de que as universidades públicas possuem um quadro consolidado de bibliotecas universitárias, apresentam um histórico de destaque em relação a serviços e infraestrutura e, principalmente, pela incompatibilidade de comparar estruturas públicas com estruturas privadas.

Para a fundamentação teórica do artigo realizaram-se levantamentos bibliográficos nas seguintes bases de dados que englobam a produção de conhecimento científico: Brapci, Ebsco, Scopus, Scielo e Web of Science, no qual se utilizaram os descritores nos campos de busca por título e palavras-chave (“biblioteca universitária” OR “academic library” OR “university library”) AND (video OR youtube) entre 2012 e 2022 nos idiomas português, inglês e espanhol.

4 Apresentação dos resultados e discussão

Os resultados da pesquisa foram dimensionados em analisar os indicadores dos canais das bibliotecas universitárias pautados no número de inscritos, visualizações, playlists, vídeos e ano de inscrição na plataforma, além de mapear metricamente os vídeos mais visualizados com um olhar temático do que foi discutido e apresentado para os usuários nos serviços disponibilizados pelo universo levantado, congregando em métricas de acesso e visualização dos canais.

Na Tabela 1 estão os indicadores de visualização, organização e acesso dos 14 canais mais representativos, infere-se; que dos 14 canais apresentados, dez estão vinculados a universidades federais e quatro a universidades estaduais, com predominância das regiões sul (3) e sudeste (7). Os três maiores canais em termos de inscritos estão vinculados a duas universidades federais e uma estadual da região sul (UFSC, UDESC, UFPR) e representam os sistemas de bibliotecas dessas universidades.

Tabela 1 -
Indicadores dos canais das Bibliotecas Universitárias

No que tange ao número de visualizações do canal, a Biblioteca UNESP Rio Claro (336.717) se destaca, seguida da BU UFSC (224.071) e da BU UDESC (122.591), ultrapassando a marca acima de 100.000 visualizações. O canal da BU UFSC (2010) foi o primeiro a se inscrever no YouTube, no ano seguinte foi a vez da Biblioteca UNESP Rio Claro (2011) e Biblioteca Central da UNB (2011). Na perspectiva dos canais mais recentes, Sistema de Bibliotecas UFPR, SIBI UFSCAR, Sistema de Bibliotecas UFF foram inscritos em 2019 e 2020, e tendo relação direta com o período de isolamento social, no qual bibliotecas atuaram no ambiente virtual. Destaca-se que o YouTube foi fundado em 2005 e comprado pela Google em 2006 (CANALTECH, [2022CANALTECH. Tudo sobre o Youtube: histórias e notícias. Brasil, [2022?].?]).

Ressalta-se em relação à data de inscrição dos canais que não representa exatamente o período de maior atividade, ou seja, de produção e publicação de conteúdos e consequentemente de visualização, mas potencializa que nos anos de 2010/2011 as bibliotecas já vislumbravam o uso dessa plataforma de vídeos como recurso estratégico para a disseminação e oferta de serviços aos usuários; com o uso recorrente das mídias sociais na sociedade, tornou-se mais efetiva a necessidade de sua aplicabilidade.

Muriel-Torrado e Gonçalves (2017MURIEL-TORRADO, Enrique.; GONÇALVES, Marcio. Youtube nas bibliotecas universitárias brasileiras: quem, como e para o que é utilizado. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 98-113, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994 . Acesso em: 18 jul. 2022.
https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994...
) evidenciaram o canal da BU UFSC como o mais representativo em número de inscritos, sendo que no momento do estudo contava com 311 inscritos, em 2022; o canal passa de cinco mil inscritos. O canal da Biblioteca Universitária da UFMG contava com 51 inscritos e no ano de 2022 possui um número maior de mil inscritos. Tais indicadores denotam um esforço por parte das bibliotecas para ampliar a comunicação e divulgar seus serviços. Nota-se que, em 2016, o canal da BU UFSC se destacava em termos de visualizações gerais.

Na perspectiva da organização dos vídeos em playlist nos canais, como uma forma de categorizar ou classificar os vídeos com base na semelhança dos conteúdos, atividade tradicional no fazer dos bibliotecários e conteúdo presente nas disciplinas de classificação dos cursos de Biblioteconomia. Um aspecto positivo é que os canais com maior número de inscritos organizam seus conteúdos com playlists, facilitando a navegação e recuperação por parte dos internautas.

No que se refere ao volume de vídeos do canal, os três destacados são BU UFSC (287), Biblioteca Central da UNB (160) e BU UDESC (140). O volume de vídeos denota o interesse da biblioteca em utilizar esse recurso e o investimento de esforços na comunicação e divulgação no ambiente digital. Conforme Muriel-Torrado e Gonçalves (2017MURIEL-TORRADO, Enrique.; GONÇALVES, Marcio. Youtube nas bibliotecas universitárias brasileiras: quem, como e para o que é utilizado. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 98-113, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994 . Acesso em: 18 jul. 2022.
https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994...
), não basta estar presente nas mídias digitais, é preciso produzir conteúdo e interagir, analisar os feedbacks como curtidas, visualizações e comentários para o planejamento de ações e conteúdo.

Reitera-se que as três referidas bibliotecas apresentam nos sites o canal no YouTube. Portanto, é preciso deixar visível que a biblioteca possui canal, por exemplo, divulgando no site da biblioteca, por e-mail e relacionando o link com outras mídias. Com a finalidade de analisar os vídeos mais populares em cada canal, foram listados os cinco vídeos com mais visualizações, respectivamente, totalizando 70 vídeos (tabela 2). Observa-se no Gráfico 1 que o ano de maior fluxo de publicações dos vídeos nos canais analisados corresponde aos períodos de isolamento social, equivalente aos anos de 2020 e 2021.

Gráfico 1 -
Período de publicação dos 70 vídeos com maior visualização nos 14 canais

Na tabela 2 estão descritos os cinco vídeos (tutorias, capacitações, videoaulas, contação de histórias, etc.) mais visualizados em cada canal, no qual se descreve o título do vídeo, quantitativo de visualizações por ordem decrescente e ano de publicação. Assim, constatou-se que os 5 vídeos mais visualizados dos 70 vídeos listados são oriundos do canal da Biblioteca UNESP Rio Claro, inscrito em 2011 no YouTube e também destacado em visualizações gerais por canal, ressaltando a sua relevância efetiva à comunidade de usuários que compõem a universidade.

Tabela 2 -
Vídeos mais representativos das bibliotecas universitárias analisadas

As temáticas recorrentes nos 70 vídeos são focadas no preenchimento do Currículo Lattes, na normalização de trabalhos acadêmicos (citação, referência), no uso de fontes de informação e pesquisa em bases de dados, utilização dos gerenciadores bibliográficos (Mendeley, EndNote, Zotero), construção de trabalhos acadêmicos, projeto de pesquisa e artigos científicos (escrita), plágio acadêmico, uso do Canva, Excel, Open Jounal Systems entre outros. Em contraponto com os dados evidenciados por Muriel-Torrado e Gonçalves (2017MURIEL-TORRADO, Enrique.; GONÇALVES, Marcio. Youtube nas bibliotecas universitárias brasileiras: quem, como e para o que é utilizado. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 98-113, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994 . Acesso em: 18 jul. 2022.
https://doi.org/10.1590/1981-5344/2994...
), os vídeos com enfoque para formação, capacitação e desenvolvimento das habilidades informacionais e pesquisa tiveram mais visibilidade nos últimos anos. Supõe-se que algumas bibliotecas observaram a oportunidade de crescer no YouTube no período da pandemia, levando alguns serviços que ocorriam de forma presencial para essa plataforma.

Ressalta-se que os resultados apresentados são um recorte dos canais mais influentes, considerando o número de inscritos do canal. Isso significa que pode haver outros canais que disponibilizam conteúdos similares ou não. Um equívoco por parte das bibliotecas reside no fato de não comunicar a existência dos canais às comunidades, pois algumas partem do pressuposto que usuário terá proatividade em pesquisar pela biblioteca no YouTube. No entanto, é necessário um plano estratégico de marketing de todas as ações, inclusive a comunicação e pensar em mecanismos para cativar a comunidades acadêmica, indo além da presença digital.

5 Considerações finais

O objetivo principal neste artigo se delimitou em analisar as bibliotecas universitárias federais e estaduais no que concerne ao desenvolvimento de novas formas de interação e comunicação com suas comunidades, a partir das métricas de visualização no YouTube, que consiste em uma plataforma de compartilhamento de vídeos e possibilita a apresentação de conteúdo para capacitação e treinamento. Partiu-se da necessidade de conhecer a apropriação das mídias sociais pelas bibliotecas universitárias.

Com o mapeamento dos canais das bibliotecas universitárias federais e estaduais no YouTube e análise dos aspectos relacionados ao número de inscritos, visualizações, playlists, vídeos publicados, ano de inscrição na plataforma e mapeamento dos canais mais influentes, discutiu-se o seu uso como forma de ampliar o acesso aos serviços de informação.

Desta forma, das 110 universidades listadas no E-mec, foram localizados 57 canais de bibliotecas, destacando que parte delas não utilizam plataforma de compartilhamento de vídeo. Apenas 14 bibliotecas possuíam mais de 1.000 inscritos, 10 federais e quatro estaduais. Os três maiores canais em números de inscritos estão na região Sul e são mantidos por sistemas de bibliotecas. Apenas três canais ultrapassaram a marca acima de 100.000 visualizações. Essas informações evidenciam um esforço por parte das bibliotecas na ampliação da comunicação e divulgação de seus serviços.

Analisaram-se os cinco vídeos com maior número de visualizações em cada canal, totalizando 70 vídeos. Os anos com maior fluxo de publicações foram 2020 e 2021, correspondente aos períodos de distanciamento social. Ao estabelecermos um recorte focado nos canais mais influentes, com base no número de inscritos, constatou-se que as temáticas de maior atenção estão relacionadas às habilidades informacionais e de pesquisa, direcionadas ao interesse do seu público-alvo.

Registra-se como sugestão que as bibliotecas elaborem um plano estratégico de marketing, visando à aderência da comunidade acadêmica e adotando ações para ampliar o acesso aos serviços de informação. Sugere-se a ampliação da pesquisa para outros canais bibliotecas universitárias, especialmente as que são vinculadas a instituições privadas, não contempladas neste estudo. Com isso, espera-se que por meio desta pesquisa tenhamos contribuído com as bibliotecas universitárias e seus profissionais, no sentido de irem além da presença digital, ampliando o acesso democrático aos serviços de informação, otimizando recursos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    08 Set 2022
  • Aceito
    28 Mar 2023
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