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Carcinoma epitelial-mioepitelial em ventre de língua

CASE REPORT

Carcinoma epitelial-mioepitelial em ventre de língua

Felipe Rodrigues de MatosI; João Luiz de MirandaII; Ana Teresinha Marques MesquitaIII; Cássio Roberto Rocha SantosIV; Roseana de Almeida FreitasV

ICirurgião-dentista, Aluno de mestrado do Programa de Pós-graduação em Patologia Oral

IIDoutor em Patologia Oral, Professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

IIIMestre em Estomatologia, Professora da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

IVDoutor em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, Professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

VDoutora em Patologia Oral, Professora do Programa de Pós-graduação em Patologia Oral. Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dra. Roseana de Almeida Freitas Departamento de Odontologia - Patologia Oral Av. Sen. Salgado Filho 1787, Lagoa Nova Natal RN 59056-000 E-mail: roseana@dod.ufrn.br

Palavras-chave: glândulas salivares, língua, neoplasias da língua.

INTRODUÇÃO

Carcinoma epitelial-mioepitelial (CEM) é uma neoplasia epitelial de baixo grau de malignidade e que tem uma prevalência de 1% a 2% de todos os tumores primários em glândula salivar1. Possui maior incidência aos 60 anos. Cerca de 60% dos pacientes são mulheres. A glândula parótida é o sítio anatômico mais relatado; entretanto, outros sítios já foram observados a ocorrência como glândula submandibular, glândulas salivares menores, seio paranasal, traqueia, glândula lacrimal e cavidade nasal1,2,3. São raros os casos em língua1. Clinicamente, o inchaço localizado bem delimitado é o único sinal, associado ou não à dor1.

Os achados microscópicos revelam um crescimento sólido tubular que consiste normalmente em um grupo de células epiteliais internas com citoplasma eosinofílico e outro grupo de células mioepiteliais (CM) externas com citoplasma claro1,4,5.

RELATO DE CASO

A paciente de 48 anos de idade, gênero feminino, leucoderma, procurou o serviço de estomatologia em setembro de 2002 queixando-se de um "caroço na língua". Durante a anamnese, relatou que há um mês sentiu um desconforto na região. Ao exame intraoral, foi observada uma mucosa com coloração normal, sem alterações perceptíveis à inspeção. Entretanto, à palpação na mesma região, percebeu-se uma lesão nodular, endofítica e de consistência mole, medindo aproximadamente 1 cm. A hipótese diagnóstica foi de lipoma. Foi realizada uma biópsia excisional. Na microscopia, em coloração HE, o espécime exibiu um parênquima com estruturas ductiformes, composta por células internas com citoplasma eosinofílico e cúbico e a camada externa composta por células claras (Figura 1A). Na imuno-histoquímica, as células internas das estruturas ductiformes mostraram positividade para citoqueratina (CK) 7 (Figura 1B) e 8 (Figura 2C), sendo assim células epiteliais. As células externas foram reativas ao anticorpo actina músculo lisa (SMA) (Figura 2D), denotando o fenótipo de células mioepiteliais. O diagnóstico histopatológico foi de CEM. A paciente foi encaminhada ao Serviço de Oncologia, sendo que o médico resolveu não realizar uma nova intervenção cirúrgica e apenas proservar. Todavia, a paciente teve recidiva em agosto de 2006, quatro anos após a primeira cirurgia, e foi submetida apenas a uma nova intervenção cirúrgica com margem de segurança. Em três anos de acompanhamento não foi observado recidiva da lesão.



DISCUSSÃO

O CEM é um tumor maligno raro de glândula salivar1,2,3. A paciente tem 48 anos, uma idade abaixo da média de ocorrência3. Clinicamente, pode ocorrer tanto em glândulas salivares maiores e menores2,3. O caso em discussão trata-se de um CEM em ventre de língua e são raros os casos nesse sítio1. O inchaço localizado é o único sinal clínico, que pode direcionar a hipótese de diagnóstico de uma lesão benigna3 ou maligna1. Não há até o momento relatos com associação de fatores de risco como fumo, álcool e radiações no desenvolvimento de CEM1,3.

O diagnóstico do CEM é baseado na microscopia de luz e confirmado pela técnica imuno-histoquímica1,4,5. No caso em discussão, os achados microscópicos foram pertinentes aos descritos na literatura.

Para o tratamento, a maioria dos autores converge para a excisão cirúrgica com boa margem de segurança, proservação e, em alguns casos, radioterapia adjuvante quando se tem dificuldade de delinear margem cirúrgica1,3,6. Em função da raridade da lesão, não se tem protocolo definido para casos recorrentes, sendo apenas realizada uma nova intervenção cirúrgica com proservação do paciente1,3. No caso apresentado, foi realizada uma biópsia excisional e a paciente, após quatro anos da realização da primeira intervenção cirúrgica, teve recidiva da lesão, sendo a segunda intervenção realizada com boa margem de segurança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deve-se ter o conhecimento de casos, como o apresentado, para que profissionais não subestimem lesões em língua e inclua no diagnóstico diferencial a possibilidade de neoplasia para que a abordagem cirúrgica seja a mais adequada possível. Em casos recorrentes deve-se alertar o paciente que a lesão é rara e que se faz necessário longo acompanhamento.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 7 de agosto de 2009. cod. 6552.

Artigo aceito em 15 de dezembro de 2009.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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  • Endereço para correspondência:

    Dra. Roseana de Almeida Freitas
    Departamento de Odontologia - Patologia Oral
    Av. Sen. Salgado Filho 1787, Lagoa Nova
    Natal RN 59056-000
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Ago 2010
    • Data do Fascículo
      Ago 2010
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