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Perda auditiva unilateral: adaptação CROS

CASE REPORT

Perda auditiva unilateral: adaptação CROS

Maria Fernanda Capoani Garcia MondelliI; Lia Auer HoshiiII; Tatiana Manfrini GarciaIII; Regina Tangerino de Souza JacobI

IDoutora (Professora Doutora da Faculdade de Odontologia de Bauru-USP)

IIMestre (Gerente de produtos - Aparelhos Auditivos Phonak do Brasil)

IIIMestranda em Fonoaudiologia pela Faculdade de Odontologia de Bauru - USP (Fonoaudióloga da Clínica de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru - USP)

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Maria Fernanda Capoani Garcia Mondelli Al. Octávio Pinheiro Brizola, nº 9-75. Vila Universitária Bauru - SP. Brasil. CEP: 17012-901

Palavras-chave: auxiliares de audição; perda auditiva unilateral; questionários.

INTRODUÇÃO

Perda auditiva unilateral (PAUn) caracteriza-se pela dificuldade na percepção da fala em situação de ruído, localização sonora e maior esforço para compreensão da fala.

Os déficits abordados em pacientes com PAUn apontaram dificuldade quando a origem do discurso estava localizada no lado prejudicado, provavelmente devido à exploração reduzida do processamento binaural da informação1.

Adaptação CROS (Contralateral Routing Signal) é uma opção para indivíduos com esta perda. Um microfone é colocado na orelha prejudicada e envia um sinal por meio da tecnologia wireless para um receptor acoplado na orelha com audição normal2.

Este estudo de caso clínico avaliou o desempenho de um paciente com sistema CROS de amplificação.

APRESENTAÇÃO DO CASO

T.C.B.M. apresentou quadro de caxumba aos 5 anos de idade. Os exames audiológicos indicaram PAUn sensorioneural à direita e audição normal à esquerda.

Em 2011, T. com 19 anos, estudante de Fonoaudiologia, buscou auxílio devido à dificuldade para compreensão em sala de aula, comunicação em ambientes ruidosos e localização da fonte sonora. Foi indicada a adaptação CROS Audéo SSmart IX.

Para avaliação do benefício e satisfação, foram realizados os procedimentos:

1. Questionários HHIA (Hearing Handicap Inventory for Adults) antes e 3 meses após a adaptação;

2. Questionário de localização sonora;

3. Medidas com microfone sonda;

4. Avaliação de percepção de fala - Hearing in Noise Test (HINT).

O HHIA3 apresenta 25 itens, dos quais 13 envolvem aspectos emocionais e 12 sociais e situacionais. O escore elevado sugere significativa percepção da perda auditiva pelo sujeito avaliado.

O questionário de localização sonora4 é aplicado sem e com o AASI, apresenta 14 questões relacionadas às atividades de vida diária e quatro opções de resposta, com valores de 1 a 4, em que 4 indica menor grau de dificuldade.

Para realização das medidas com microfone sonda, deve haver dois microfones de referência, essencial para comparar com precisão a saída do aparelho de amplificação, quando o som é apresentado para orelha melhor versus a orelha comprometida. O microfone sonda é inserido apenas na orelha com audição normal, que apresenta a saída do sistema CROS.

Para avaliação com HINT5, T. deveria reconhecer e repetir sentenças simples no silêncio e ruído. As seguintes situações foram avaliadas: fala e ruído à frente: 0º; fala frontal e ruído à esquerda 90º; fala frontal e ruído à direita: 90º.

DISCUSSÃO

A paciente apresentou resultados do handicap significativo no HHIA (46%), com maior dificuldade auditiva em situações sociais, sendo uma característica comum nesses ambientes o fato de apresentarem ruído ambiental.

Após uso do AASI por 3 meses durante 12 horas por dia, os resultados do HHIA foram considerados ausentes (8%), indicando benefício com uso do CROS.

A localização é afetada porque indivíduos com PAUn não têm o benefício do tempo interaural: quando um som provém de uma direção, a diferença de tempo interaural e diferenças de fase de sons contínuos nas duas orelhas permite que o indivíduo determine qual a direção que o som está chegando6.

No questionário, T. apresentou valor indicativo de menor grau de dificuldade com o uso de AASI (3,32) em relação à ausência de amplificação (1,67). A adaptação CROS deve ser indicada em pacientes que controlam o posicionamento da cabeça em relação a um ruído indesejável, otimizando o uso da adaptação3.

As medidas com microfone sonda verificaram o funcionamento do sistema CROS e eliminação do efeito sombra da cabeça.

Os resultados do HINT antes e após a adaptação encontram se no Quadro 1.


COMENTÁRIOS FINAIS

A perda auditiva limitava a vida diária da paciente e com o uso da adaptação CROS houve melhoras relacionadas ao handicap, habilidade de localização sonora, efeito sombra da cabeça e discriminação de fala.

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 2 de maio de 2012. cod. 9185.

Artigo aceito em 1 de julho de 2012.

Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo.

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  • Endereço para correspondência:

    Maria Fernanda Capoani Garcia Mondelli
    Al. Octávio Pinheiro Brizola, nº 9-75. Vila Universitária
    Bauru - SP. Brasil. CEP: 17012-901
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Ago 2013
    • Data do Fascículo
      Ago 2013
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