Acessibilidade / Reportar erro

Pólipo antrocoanal bilateral: relato de caso Como citar este artigo: Sabino HAC, Faria FM, Tamashiro E, Lima WTA, Valera FCP. Bilateral antrochoanal polyp: case report. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80:182-3.

Introdução

O pólipo antrocoanal (PAC) é uma lesão benigna que surge da mucosa do seio maxilar, atravessa o óstio do seio e atinge a coana e a rinofaringe, podendo estender-se até orofaringe.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4. Corresponde a 4% a 6% dos pólipos nasais e é, geralmente, unilateral, sendo extremamente raros os casos de lesão bilateral.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.

Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.

Sousa DW, Pinheiro SD, Silva VC, Bastos JP. Bilateral antrochoanal polyps in an adult. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77:539
-4Freitas MR, Giesta RP, Pinheiro SD, Silva VC. Antrochoanal polyp: a review of sixteen cases. Braz J Otorhinolaryngol. 2006;72:831-5. Inicialmente relatada por Palfyn, em 1753, em 1906 Killiandetalhou-a minuciosamente, descrevendo seu sítio de origem no seio maxilar.2Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.,5Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82.

A manifestação clínica usual é a obstrução nasal, podendo estar associada à descarga posterior, secreção nasal, roncos, sensação de corpo estranho, halitose e, raramente, disfagia ou dispneia.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.,2Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6. Epidemiologicamente, acomete mais homens e crianças.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.

Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.

Sousa DW, Pinheiro SD, Silva VC, Bastos JP. Bilateral antrochoanal polyps in an adult. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77:539

Freitas MR, Giesta RP, Pinheiro SD, Silva VC. Antrochoanal polyp: a review of sixteen cases. Braz J Otorhinolaryngol. 2006;72:831-5.
-5Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82.

Apresentação do caso

Paciente CRS, masculino, 48 anos, apresentava-se com obstrução nasal bilateral há cerca de 30 anos, pior à esquerda, coriza, hiposmia e dificuldade para dormir. Negava cacosmia, cefaleia, queixas atópicas ou otológicas. Negava tabagismo ou etilismo, alergia a AINEs, asma e outras comorbidades.

Avaliação nasofibroscópica evidenciou massas de aspecto polipoide ocluindo, bilateralmente, a totalidade da a cavidade nasal. A tomografia dos seios da face apresentou massas de densidade de partes moles em ambas as fossas nasais estendendo-se até às coanas (fig. 1A), maior à esquerda, alargamento de complexo ostiomeatal bilateral e velamentos parciais de seios maxilares, células etmoidais e frontais, e espessamento mucoso esfenoidal esquerdo.

Figura 1
- A – Tomografia de seios da face. Corte coronal, demonstrando o pólipo ocupando as fossas nasais bilateralmente, com velamento de seios etmoidais por retenção de secreção e inserção dos pólipos antrocoanais em parede medial dos seios maxilares bilateralmente. B – Fotografia de histologia representativa em aumento 100× marcada com hematoxilina e eosina, demonstrando pólipo antrocoanal com revestimento pseudoestratificado cilíndrico, com discreto infiltrado inflamatório superficial com ocasionais eosinófilos.

Foi realizada cirurgia exclusivamente por via endoscópica nasal. Os achados intraoperatórios foram massas polipoides grandes, únicas em cada fossa nasal, com implantação na parede medial do seio maxilar e estendendo-se até às coanas bilateralmente, concha média bolhosa à direita, edema e retenção de secreção em células etmoidais anteriores e posteriores.

Avaliação anatomopatológica evidenciou lesões com dimensões de 5,0 × 2,0 × 1,0 cm à direita e 5,0 × 2,5 × 1,0 cm à esquerda, polipoides, revestidas de epitélio respiratório, sem hiperplasia de células caliciformes, sem espessamento de membrana basal, com edema grau 3 associado a fibrose grau 1 no estroma, leve infiltrado misto, com contagem de quatro neutrófilos por campo e quatro a seis eosinófilos por campo, sem sinais de malignidade, compatível com hipótese diagnóstica de pólipo antrocoanal (fig. 1B).

Paciente evoluiu bem, com melhora completa das queixas, sem recidiva das lesões após quatro meses de pós operatório.

Discussão

São extremamente raros os casos de PAC bilateral, e apenas oito relatos foram documentados na literatura até julho de 2012.2Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.

Sousa DW, Pinheiro SD, Silva VC, Bastos JP. Bilateral antrochoanal polyps in an adult. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77:539
-4Freitas MR, Giesta RP, Pinheiro SD, Silva VC. Antrochoanal polyp: a review of sixteen cases. Braz J Otorhinolaryngol. 2006;72:831-5.

A etiologia do PAC ainda é obscura; especula-se como sua origem um cisto que cresceu próximo ao óstio maxilar. O efeito de Bernoulli, causado pelo fluxo aéreo respiratório perpendicular ao óstio, projetaria a lesão para a cavidade nasal.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.,2Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.

Relação entre PAC e rinossinusite crônica é documentada; porém, é controverso determinar qual fator seria a causa e a consequência.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.,5Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82.

A nasofibroscopia associada à tomografia computadorizada é padrão-ouro para diagnóstico do PAC, que demonstra massa de aspecto polipoide de inserção maxilar, com alargamento do complexo ostiomeatal e extensão da massa para coanas.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.

Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.

Sousa DW, Pinheiro SD, Silva VC, Bastos JP. Bilateral antrochoanal polyps in an adult. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77:539

Freitas MR, Giesta RP, Pinheiro SD, Silva VC. Antrochoanal polyp: a review of sixteen cases. Braz J Otorhinolaryngol. 2006;72:831-5.
-5Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82.

Parede posterior do seio maxilar é o sítio de maior incidência de surgimento do PAC, que apresenta duas porções macroscopicamente distintas: porção intrassinusal de aspecto cístico e porção intranasal de aspecto sólido.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.,2Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.,5Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82. Microscopicamente, mostra-se revestido de epitélio respiratório normal e edema no estroma.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.,2Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.,5Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82.,6Min YG, Chung JW, Shin JS, Chi JG. Histologic structure of antrochoanal polyps. Acta Otolaryngol. 1995;115:543-7. Apresenta diferenças claras em relação aos pólipos inflamatórios: menor infiltrado inflamatório; infiltrado eosinofílico significativamente menor; menor quantidade de glândulas submucosas; e presença de fibrose no estroma.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.,2Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.,5Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82.,6Min YG, Chung JW, Shin JS, Chi JG. Histologic structure of antrochoanal polyps. Acta Otolaryngol. 1995;115:543-7.

Tais achados são compatíveis com o quadro clínico, radiográfico e histopatológico do paciente aqui relatado, confirmando a hipótese de PAC bilateral. A remoção cirúrgica endoscópica é preferencial e mandatória, associada ou não com abordagem cirúrgica por via externa, para evitar riscos de recidiva.1Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.

Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.

Sousa DW, Pinheiro SD, Silva VC, Bastos JP. Bilateral antrochoanal polyps in an adult. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77:539

Freitas MR, Giesta RP, Pinheiro SD, Silva VC. Antrochoanal polyp: a review of sixteen cases. Braz J Otorhinolaryngol. 2006;72:831-5.
-5Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82.

Comentários finais

O PAC bilateral é extremamente raro, mas deve ser diagnóstico diferencial de rinossinusite crônica com polipose. Nesses casos, a biópsia da lesão é mandatória para confirmação histopatológica.

  • 1
    Yaman H, Yilmaz S, Karali E, Guclu E, Ozturk O. Evaluation and management of antrochoanal polyps. Clin Exp Otorhinolaryngol. 2010;3:110-4.
  • 2
    Frosini P, Picarella G, De Campora E. Antrochoanal polyp: analysis of 200 cases. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2009;29:21-6.
  • 3
    Sousa DW, Pinheiro SD, Silva VC, Bastos JP. Bilateral antrochoanal polyps in an adult. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77:539
  • 4
    Freitas MR, Giesta RP, Pinheiro SD, Silva VC. Antrochoanal polyp: a review of sixteen cases. Braz J Otorhinolaryngol. 2006;72:831-5.
  • 5
    Maldonado M, Martínez A, Alobid I, Mullol J. The antrochoanal polyp. Rhinology. 2004;42:178-82.
  • 6
    Min YG, Chung JW, Shin JS, Chi JG. Histologic structure of antrochoanal polyps. Acta Otolaryngol. 1995;115:543-7.
  • Como citar este artigo: Sabino HAC, Faria FM, Tamashiro E, Lima WTA, Valera FCP. Bilateral antrochoanal polyp: case report. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80:182-3.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2014

Histórico

  • Recebido
    05 Ago 2012
  • Aceito
    06 Jan 2014
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Sede da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, Av. Indianópolia, 1287, 04063-002 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (0xx11) 5053-7500, Fax: (0xx11) 5053-7512 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@aborlccf.org.br