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Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à laringectomia total Como citar este artigo: Castro MA, Dedivitis RA, Salge JM, Matos LL, Cernea CR. Evaluation of lung function in patients submitted to total laryngectomy. Braz J Otorhinolaryngol. 2019;85:623-7. ,☆☆ ☆☆ Instituições: Faculdade de Medicina de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Resumo

Introdução:

A condição pós-laringectomia é caracterizada por várias alterações na função pulmonar. Uma estimativa confiável da função pulmonar pode ser muito útil em pacientes laringectomizados para prevenir complicações após as intervenções cirúrgicas e avaliar os resultados do tratamento.

Objetivo:

Caracterizar a presença de distúrbios funcionais respiratórios e o padrão funcional de pacientes laringectomizados através do uso de um dispositivo extratraqueal.

Método:

Estudo transversal que incluiu 50 pacientes submetidos à laringectomia total pelo menos seis meses antes desta investigação, como tratamento de escolha para o câncer de laringe.

Resultados:

Dos participantes, 56% apresentavam padrão respiratório alterado, assim distribuídos: 14 com padrão obstrutivo sem aprisionamento aéreo, 11 com padrão obstrutivo e aprisionamento aéreo e apenas três com padrão restritivo. Em média, verificou-se que a difusão encontrava-se diminuída (74,3%) e a resistência das vias aéreas aumentada (121,7%) em relação aos resultados esperados em brasileiros.

Conclusão:

A maioria dos pacientes submetidos à laringectomia total apresenta função pulmonar alterada, do tipo obstrutiva, quase sempre associada a história de tabagismo.

PALAVRAS-CHAVE
Testes de função respiratória; Espirometria; Pletismografia; Laringectomia; Célula escamosa

Abstract

Introduction:

The post-laryngectomy state is characterized by several alterations in lung function. A reliable estimation of lung function can be very useful in laryngectomees to prevent postoperative complications and to evaluate the results of the treatment.

Objective:

Characterize the presence of respiratory functional disorders and the functional pattern of laryngectomees through the use of an extratracheal device.

Methods:

This transversal study included 50 patients submitted to total laryngectomy at least 6 months prior to this investigation, as the treatment of choice for laryngeal cancer.

Results:

56% percent of the participants had altered breathing pattern, distributed as follows: 14 with obstructive pattern with no air trapping, 11 with obstructive pattern with air trapping and only 3 with restrictive pattern. On average, the diffusion decreased (74.3%) and airway resistance increased (121.7%) when compared to the expected average values for the Brazilian individuals.

Conclusion:

Most patients submitted to total laryngectomy present altered lung function, usually the obstructive type, frequently associated to a history of smoking.

KEYWORDS
Respiratory function tests; Spirometry; Plethysmography; Laryngectomy; Squamous cell

Introdução

Muitos pacientes com câncer de laringe submetidos a tratamento cirúrgico apresentam história de tabagismo. Nesses pacientes, as complicações pulmonares podem levar à morte no período pós-operatório. Cerca de 81% deles sofrem de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).11 Togawa K, Konno A, Hoshino T. A physiologic study on respiratory handicap of the laryngectomized. Arch Otorhinolaryngol. 1980;229:69-79.,22 Hess MM, Schwenk RA, Frank W, Loddenkemper R. Pulmonary function after total laryngectomy. Laryngoscope. 1999;109:988-94.

A avaliação da função respiratória em pacientes laringectomizados tem sido objeto de estudo desde o artigo de Heyden, publicado em 1950.33 Heyden R. The respiratory function in laryngectomized patients. Acta Otolaryngol. 1950;85:39-59. Devido a dificuldades técnicas para a feitura dessa avaliação, a literatura sobre o assunto é controversa.

Em decorrência do histórico de tabagismo antes da laringectomia, bem como das condições não fisiológicas das vias aéreas, a condição pós-laringectomia apresenta várias alterações na função pulmonar, refletidas na soma das alterações ventilatórias. O ar inalado através do traqueostoma após a laringectomia total não passa pelo condicionamento natural do trato respiratório superior; assim, a filtração de partículas sólidas transmitidas pelo ar e por aerossóis é reduzida. Além disso, o ar inalado não é submetido à umidificação, nem ao aquecimento. Em comparação à respiração através do trato respiratório superior, o paciente traqueostomizado apresenta uma redução aerodinâmica na resistência ao fluxo de ar durante a inspiração e a expiração e isso pode causar um efeito negativo na ventilação pulmonar periférica.44 Torjussen W. Airway obstructions in laryngectomized patients. A spirometric investigation. Acta Otolaryngol. 1968;66:161-70.,55 Ackerstaff AH, Hilgers FJ, Balm AJ, Van Zandwijk N. Long-term pulmonary function after total laryngectomy. Clin Otolaryngol Allied Sci. 1995;20:547-51. Um dos fatores prognósticos negativos mais importantes na sobrevida de pacientes laringectomizados é a deterioração progressiva da função pulmonar.66 Todisco T, Maurizi M, Paludetti G, Dottorini M, Merante F. Laryngeal cancer: long-term follow-up of respiratory functions after laryngectomy. Respiration. 1984;45:303-15.,77 Vázquez de la Iglesia F, Fernández González S. Method for the study of pulmonary function in laryngectomized patients. Acta Otorrinolaringol Esp. 2006;57:275-8.

Uma estimativa confiável da função pulmonar nesses pacientes pode ser muito útil para prevenir complicações após as intervenções cirúrgicas e avaliar os resultados do tratamento.88 Ackerstaff AH, Souren T, van Zandwijk N, Balm AJ, Hilgers FJ. Improvements in the assessment of pulmonary function in laryngectomized patients. Laryngoscope. 1993;103:1391-4.

Uma cânula traqueal com manguito conectado ao espirômetro é normalmente usada para avaliar a sua função pulmonar.11 Togawa K, Konno A, Hoshino T. A physiologic study on respiratory handicap of the laryngectomized. Arch Otorhinolaryngol. 1980;229:69-79.,66 Todisco T, Maurizi M, Paludetti G, Dottorini M, Merante F. Laryngeal cancer: long-term follow-up of respiratory functions after laryngectomy. Respiration. 1984;45:303-15.,99 Tan AK. Incentive spirometry for tracheostomy and laryngectomy patients. J Otolaryngol. 1995;24:292-4. No entanto, o uso de uma cânula não é a opção ideal. Trata-se de uma experiência desconfortável para o paciente e ocasiona tosse.55 Ackerstaff AH, Hilgers FJ, Balm AJ, Van Zandwijk N. Long-term pulmonary function after total laryngectomy. Clin Otolaryngol Allied Sci. 1995;20:547-51. Além disso, devido a uma diminuição no diâmetro real da traqueia, os resultados dos testes de expiração e inspiração forçadas não são precisos. O uso de máscaras traqueais colocadas manualmente sobre o traqueostoma já foi relatado para o mesmo propósito; no entanto, elas permitem escape de ar.22 Hess MM, Schwenk RA, Frank W, Loddenkemper R. Pulmonary function after total laryngectomy. Laryngoscope. 1999;109:988-94.

Poucos estudos encontrados na literatura avaliaram a função pulmonar em pacientes laringectomizados com dispositivos extratraqueais, com uma metodologia reprodutível.1010 Castro MA, Dedivitis RA, Macedo AG. Evaluation of a method for assessing pulmonary function in laryngectomees. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2011;31:243-7.

O objetivo deste estudo foi caracterizar a presença de distúrbios respiratórios funcionais e o padrão funcional de pacientes laringectomizados através do uso de dispositivo extratraqueal.

Método

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Institucional sob no 075/14, em 12 de maio de 2014.

Este estudo transversal incluiu 56 pacientes submetidos à laringectomia total como o tratamento de escolha para o câncer de laringe, pelo menos seis meses antes desta investigação. Os pacientes foram recrutados entre março e junho de 2014.

Os fatores de exclusão foram: doença respiratória aguda nos últimos 30 dias; ausência de condições clínicas no momento em que os testes foram feitos; e a incapacidade de fazer qualquer teste do estudo.

Os dados demográficos foram obtidos, inclusive a história de tabagismo, antes da cirurgia e dificuldades respiratórias ocasionais (Escala de Dispneia - Medical Research Council),1111 Bestall JC, Paul EA, Garrod R, Garnham R, Jones PW, Wedzicha JA. Usefulness of the Medical Research Council (MRC) dyspnea scale as a measure of disability in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Thorax. 1999;54:581-6. através dos depoimentos dos pacientes e dos registros médicos.

Os testes foram feitos com os indivíduos na posição sentada, conectados ao espirômetro por um dispositivo adesivo extratraqueal, com um adaptador de silicone para válvulas que mantêm as mãos livres (Provox®, Atos Medical, Horby, Suécia)1010 Castro MA, Dedivitis RA, Macedo AG. Evaluation of a method for assessing pulmonary function in laryngectomees. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2011;31:243-7. já que os participantes eram laringectomizados, o que impossibilitava a feitura do teste de função pulmonar convencional com um bocal.

O aparelho usado para os testes de função pulmonar e pletismografia foi o Elite DX (Medical Graphics Corporation®, Saint Paul, MN, EUA). A feitura das manobras, bem como a seleção dos resultados, seguiu os critérios estabelecidos nas diretrizes para testes de função pulmonar.1212 Miller MR, Hankinson J, Brusasco V, Burgos F, Casaburi R, Coates A, et al. ATS/ERS Task Force: standardization of lung function testing. Eur Respir J. 2005;26:153-61.

13. Lung function testing: selection of reference values and interpretative strategies. Am Rev Respir Dis. 1991;144:1202-18.
-1414. Standardization of spirometry - 1987 update. Am Rev Respir Dis. 1987;136:1285-98.

As alças inspiratórias e expiratórias da curva de fluxo-X foram obtidas através de manobras de capacidade vital expiratória forçada (CVF), nas quais o indivíduo faz uma expiração forçada, sem hesitação, a partir da capacidade pulmonar total (CPT) até o volume residual (VR). Os valores selecionados para o VEF1 (volume expiratório forçado em um segundo)/CVF foram expressos em porcentagem dos valores normais calculados de acordo com as recomendações da European Respiratory Society.1515 Quanjer P. Standardized lung function testing, Report of the working party for the standardization of lung function tests of the European Community for Coal and Steel. Bull Eur Physiopath Resp. 1983;19:1-95. Além disso, foi feita a manobra de capacidade vital lenta, na qual o indivíduo faz uma expiração completa a partir da insuflação pulmonar máxima, mas sem usar o esforço expiratório máximo. Os resultados dessa manobra foram usados na composição do cálculo dos volumes pulmonares.

Os testes foram interpretados por um especialista em espirometria e classificados como: normal, distúrbios respiratórios obstrutivos sem parada respiratória, distúrbios respiratórios obstrutivos com parada e distúrbios respiratórios restritivos.

O volume de gás torácico (VGT) foi medido com a técnica de pletismografia de corpo inteiro para obter os volumes pulmonares.1616 DuBois AB, Botelho SY, Bedell GN, Marshall R, Comroe JH. A rapid plethysmographic method for measuring thoracic gas volume: a comparison with a nitrogen washout method for measuring functional residual capacity in normal subjects. J Clin Invest. 1956;35:322-6.,1717 Leith DE, Mead J. Principles of body plethysmography. In: Procedures for standardized measurements of lung mechanics. Bethesda: NHL; 1974. VR e CPT foram calculados a partir do VGT. Os resultados obtidos foram expressos em porcentagem dos valores normais calculados e posteriormente ajustados para a tabela de 2008 dos valores esperados para os indivíduos brasileiros de acordo com o sexo.

Para a caracterização da amostra de indivíduos quanto ao comprometimento do parênquima pulmonar, a mensuração da difusão pulmonar foi feita através da técnica clássica de respiração única, com monóxido de carbono (CO),1616 DuBois AB, Botelho SY, Bedell GN, Marshall R, Comroe JH. A rapid plethysmographic method for measuring thoracic gas volume: a comparison with a nitrogen washout method for measuring functional residual capacity in normal subjects. J Clin Invest. 1956;35:322-6. associada às recomendações incorporadas mais recentemente.1212 Miller MR, Hankinson J, Brusasco V, Burgos F, Casaburi R, Coates A, et al. ATS/ERS Task Force: standardization of lung function testing. Eur Respir J. 2005;26:153-61. A manobra foi repetida pelo menos duas vezes, até um máximo de cinco vezes. Os resultados foram expressos como uma porcentagem dos valores esperados para os indivíduos brasileiros de acordo com o sexo. A manobra de mensuração da resistência das vias aéreas foi feita através da técnica de pletismografia de corpo inteiro.1818 Dubois AB, Botelho SY, Marshall R, Comroe JH. A new method for measuring airway resistance in man using a body plethysmograph: values in normal subjects and in patients with respiratory disease. J Clin Invest. 1956;35:327-35. A condutância das vias aéreas foi calculada (Gaw = 1 raw) com a medida raw, bem como a condutância específica das vias aéreas obtida através de sua correção para o volume pulmonar no qual a medida foi feita (sGaw = Gaw/VGT). Os valores de raw e sGaw foram expressos em cm H2O/L/s e 1 cm H2O/s, respectivamente.

A distribuição de frequências foi usada para descrever as variáveis categóricas (número de casos e porcentagem) e as medidas de tendência central (média e mediana) e variabilidade (valores mínimo, máximo e desvio-padrão) para as variáveis contínuas ou numéricas.

Resultados

Dos 56 participantes deste estudo, seis foram excluídos; três por não conseguirem fazer as manobras solicitadas durante os testes e os demais devido a sua condição cognitiva, o que impedia a compreensão das instruções.

A tabela 1 descreve as características demográficas e o histórico de tabagismo (antes da cirurgia) dos indivíduos laringectomizados avaliados. A média da idade foi de 64 anos e 88% dos indivíduos eram do sexo masculino; 58% dos participantes fumavam mais de 40 cigarros por dia.

Tabela 1
Características demográficas e de tabagismo do paciente laringectomizado

Em relação à escala de dispneia (Medical Research Council),1111 Bestall JC, Paul EA, Garrod R, Garnham R, Jones PW, Wedzicha JA. Usefulness of the Medical Research Council (MRC) dyspnea scale as a measure of disability in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Thorax. 1999;54:581-6. os participantes foram estratificados como mostra a tabela 2. Dos 56 participantes, 28 apresentavam dispneia apenas após fazer exercícios extenuantes e 19 quando caminhavam de maneira apressada no plano ou quando subiam uma pequena inclinação.

Tabela 2
Estratificação dos participantes quanto à escala de dispneia

As medidas funcionais respiratórias estão descritas na tabela 3, que mostra uma porcentagem média da CVF e do VEF1 abaixo do esperado para os brasileiros. Em média, verificou-se que a difusão estava reduzida e a resistência das vias aéreas aumentada.

Tabela 3
Medidas funcionais respiratórias

Os resultados obtidos após a interpretação e classificação dos padrões respiratórios estão descritos na tabela 4. Dos participantes, 56% encontravam-se com padrão respiratório alterado, assim distribuídos: 14 com padrão obstrutivo sem aprisionamento aéreo, 11 com padrão obstrutivo com aprisionamento aéreo e apenas três com padrão restritivo.

Tabela 4
Frequência e porcentagem de padrões de respiração

Discussão

Depois da probabilidade de morrer devido a um segundo câncer, as doenças pulmonares são a segunda causa de mortalidade em pacientes laringectomizados e isso pode sugerir a necessidade de feitura de espirometria nesses pacientes.77 Vázquez de la Iglesia F, Fernández González S. Method for the study of pulmonary function in laryngectomized patients. Acta Otorrinolaringol Esp. 2006;57:275-8. Entretanto, pouca atenção tem sido dada na literatura à avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à laringectomia total, principalmente devido às dificuldades técnicas para a feitura do teste, e não à falta de indicação dele.1919 Matsuura K, Ebihara S, Yoshizumi T, Asai M, Hayashi R, Shizuka T, et al. Changes in respiratory function before and after laryngectomy. Nippon Jibiinkoka Gakkai Kaiho. 1995;98:1097-103.

Vários estudos concordam que muitos pacientes laringectomizados poderiam se beneficiar do tratamento medicamentoso devido à alta porcentagem de obstrução das vias aéreas.22 Hess MM, Schwenk RA, Frank W, Loddenkemper R. Pulmonary function after total laryngectomy. Laryngoscope. 1999;109:988-94.,66 Todisco T, Maurizi M, Paludetti G, Dottorini M, Merante F. Laryngeal cancer: long-term follow-up of respiratory functions after laryngectomy. Respiration. 1984;45:303-15.,77 Vázquez de la Iglesia F, Fernández González S. Method for the study of pulmonary function in laryngectomized patients. Acta Otorrinolaringol Esp. 2006;57:275-8. De acordo com a escala de dispneia do Medical Research Council,1111 Bestall JC, Paul EA, Garrod R, Garnham R, Jones PW, Wedzicha JA. Usefulness of the Medical Research Council (MRC) dyspnea scale as a measure of disability in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Thorax. 1999;54:581-6. 56% dos pacientes relataram cansaço apenas após exercícios extenuantes e 38% quando caminhavam de maneira apressada no plano ou quando subiam uma pequena inclinação. Esse achado pode estar relacionado ao abandono do tabagismo após a cirurgia, uma vez que o efeito de deixar de fumar é relativamente imediato.2020 Bossé R, Sparrow D, Rose CL, Weiss ST. Longitudinal effect of age and smoking cessation on pulmonary function. Am Rev Respir Dis. 1981;123:378-81.

Ao avaliar a espirometria, vários estudos encontraram valores subnormais em indivíduos laringectomizados.11 Togawa K, Konno A, Hoshino T. A physiologic study on respiratory handicap of the laryngectomized. Arch Otorhinolaryngol. 1980;229:69-79.,66 Todisco T, Maurizi M, Paludetti G, Dottorini M, Merante F. Laryngeal cancer: long-term follow-up of respiratory functions after laryngectomy. Respiration. 1984;45:303-15.,2121 Davidson RN, Hayward L, Pounsford JC, Saunders KB. Lung function and within-breath changes in resistance in patients who have had a laryngectomy. Q J Med. 1986;60:753-62.,2222 Harris S, Jonson B. Lung function before and after laryngectomy. Acta Otolaryngol. 1974;78:287-94. Nossos resultados mostraram uma porcentagem média de CVF e VEF1 abaixo do esperado para os brasileiros, respectivamente 83,3% e 75,8%. Esses dados confirmam aqueles coletados por Duran et al.,2323 Durán Cantolla J, Sampedro Alvarez JR, Zurbano Goñi F, Agüero Balbín R, Terán Santos J, Rodríguez Asensio J, et al. Measurement of pulmonary function in laryngectomized patients. An Otorrinolaringol Ibero Am. 1989;16:387-400. que encontraram uma redução significativa nesses índices.

Os dados obtidos em nossa investigação estão de acordo com outros resultados,77 Vázquez de la Iglesia F, Fernández González S. Method for the study of pulmonary function in laryngectomized patients. Acta Otorrinolaringol Esp. 2006;57:275-8. nos quais um aumento do volume residual e diminuição do VEF1 foram encontrados, mostraram, assim, uma condição respiratória obstrutiva.

Em média, verificou-se que a difusão estava diminuída (74,3%) e a resistência das vias aéreas aumentada (121,7%) em nossos resultados, em comparação aos resultados esperados para indivíduos brasileiros.

Após a feitura dos testes de função pulmonar, 44% dos pacientes apresentaram um padrão respiratório normal e 56% um padrão alterado, distribuídos em 14 pacientes com padrão obstrutivo sem aprisionamento aéreo, 11 com padrão obstrutivo e com aprisionamento aéreo e apenas três com padrão restritivo. Nossos resultados estão de acordo com os encontrados por Duran et al.2323 Durán Cantolla J, Sampedro Alvarez JR, Zurbano Goñi F, Agüero Balbín R, Terán Santos J, Rodríguez Asensio J, et al. Measurement of pulmonary function in laryngectomized patients. An Otorrinolaringol Ibero Am. 1989;16:387-400. Esses autores verificaram, em sua série com 30 pacientes laringectomizados, que 47% apresentavam função pulmonar normal, enquanto 53% apresentavam função pulmonar alterada. Na série de Vasquez et al.,77 Vázquez de la Iglesia F, Fernández González S. Method for the study of pulmonary function in laryngectomized patients. Acta Otorrinolaringol Esp. 2006;57:275-8. verificou-se que 81% dos pacientes tinham função pulmonar no padrão respiratório obstrutivo. Como já referido por Ackerstaff et al.,55 Ackerstaff AH, Hilgers FJ, Balm AJ, Van Zandwijk N. Long-term pulmonary function after total laryngectomy. Clin Otolaryngol Allied Sci. 1995;20:547-51. talvez o maior índice de disfunção respiratória encontrado em pacientes laringectomizados seja devido a um maior número de infecções respiratórias devido ao traqueostoma.

Nossos resultados estão de acordo com os do estudo feito por Hess et al.,22 Hess MM, Schwenk RA, Frank W, Loddenkemper R. Pulmonary function after total laryngectomy. Laryngoscope. 1999;109:988-94. mostram que pode ser necessário reavaliar o papel do teste de função pulmonar no monitoramento de pacientes submetidos alaringectomia total.

O uso de um dispositivo extratraqueal padronizado com metodologia reprodutível é essencial para garantir a precisão e acurácia dos testes de função pulmonar em pacientes submetidos à laringectomia total.

Conclusão

A maioria dos pacientes submetidos à laringectomia total apresenta função pulmonar alterada, do tipo obstrutiva, quase sempre associada a histórico de tabagismo.

  • A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.
  • Como citar este artigo: Castro MA, Dedivitis RA, Salge JM, Matos LL, Cernea CR. Evaluation of lung function in patients submitted to total laryngectomy. Braz J Otorhinolaryngol. 2019;85:623-7.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2019

Histórico

  • Recebido
    20 Fev 2018
  • Aceito
    13 Maio 2018
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Sede da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, Av. Indianópolia, 1287, 04063-002 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (0xx11) 5053-7500, Fax: (0xx11) 5053-7512 - São Paulo - SP - Brazil
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