Acessibilidade / Reportar erro

Distúrbio olfativo e o risco de declínio cognitivo e demência em idosos: uma metanálise Please cite this article as: Chen Z, Xie H, Yao L, Wei Y. Olfactory impairment and the risk of cognitive decline and dementia in older adults: a meta-analysis. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:94-102.

Resumo

Introdução

A previsão do impacto do comprometimento olfativo no declínio cognitivo em idosos tem sido distinta entre diferentes faixas etárias.

Objetivo

Esta metanálise buscou estimar o poder preditivo do comprometimento olfativo no declínio cognitivo durante o seguimento em idosos de diferentes idades.

Material e métodos

Foi feita uma pesquisa na literatura médica nos seguintes bancos de dados para estudos elegíveis: Medline, Cochrane e Embase. Os estudos que registraram olfação e detecção de cognição no início e no fim do seguimento foram incluídos na triagem preliminar. Os prontuários médicos de idosos sem comprometimento cognitivo no início do seguimento foram considerados nessa análise. Os dados brutos foram extraídos para estimar o risco relativo e o intervalo de confiança de 95% (IC95%) correspondente. A análise de subgrupos da idade foi feita para eliminar o efeito da idade nos resultados. A heterogeneidade estatística foi medida utilizando o índice I2 e o teste Q de Cochran.

Resultados

Oito estudos foram incluídos nesta análise (3.237 eventos e 13.165 participantes) e o risco relativo combinado para o subgrupo de 70 a 80 anos foi de 2,00 (IC95% = 1,79-2,23).

Conclusão

Relativamente, existe um risco maior de comprometimento cognitivo no fim do seguimento em adultos mais jovens que se se apresentam com comprometimento olfativo no início do seguimento. A duração do seguimento tem um pequeno efeito no risco relativo.

PALAVRAS-CHAVE
Distúrbios olfatórios; Anosmia; Declínio cognitivo; Demência; Metanálise

Abstract

Introduction

The prediction of the impact of olfactory impairment on cognitive decline in older adults has been different among different age groups.

Objective

This meta-analysis sought to estimate the predictive power of olfactory impairment on cognitive decline during follow-up in older adults of different ages.

Material and methods

A medical literature search was carried out using these databases for eligible studies: MEDLINE, COCHRANE and EMBASE. Studies recording olfaction and cognition detection at the beginning and end of the follow-up were included in the preliminary screening. The medical records of older adults without cognitive impairment at the beginning of the follow-up were taken into account in this analysis. Raw data was extracted in order to estimate the relative risk and the corresponding 95% confidence interval (95% CI). Subgroup analysis of age was performed to eliminate the effect of age on the results. Statistical heterogeneity was measured using the I 2 index and Cochran's Q test.

Results

Eight studies were enrolled in this analysis (3237 events and 13165 participants), and the pooled relative risk for the 70-80 years old subgroup was 2.00 (95% CI = 1.79-2.23).

Conclusion

Relatively, there is a higher risk of cognitive impairment at the end of follow-up in younger adults with olfactory impairment at the beginning of follow-up. The length of follow-up has a little effect on the relative risk.

KEYWORDS
Olfaction disorders; Anosmia; Cognitive declines; Dementia; Meta-analysis

Introdução

O declínio cognitivo geralmente aparece com o envelhecimento e tem um grande impacto na vida diária, aumenta a mortalidade dos idosos e imputa uma enorme carga na sociedade.11 Langa KM, Levine DA. The diagnosis and management of mild cognitive impairment: a clinical review. JAMA. 2014;312:2551-61.

2 Ferri CP, Prince M, Brayne C, Brodaty H, Fratiglioni L, Ganguli M, et al. Global prevalence of dementia: a Delphi consensus study. Lancet. 2005;366:2112-7.

3 Chan KY, Wang W, Wu JJ, Liu L, Theodoratou E, Car J, et al. Epidemiology of Alzheimer's disease and other forms of dementia in China, 1990-2010: a systematic review and analysis. Lancet. 2013;381:2016-23.
-44 Devanand DP, Lee S, Manly J, Andrews H, Schupf N, Masurkar A, et al. Olfactory identification deficits and increased mortality in the community. Ann Neurol. 2015;78:401-11. Dado o início insidioso do declínio cognitivo e seu lento progresso na transição para demência e o fato de que não há tratamento eficaz para esse distúrbio, a prevenção primária é essencial por meio da triagem de grupos de alto risco.55 Scheltens P, Blennow K, Breteler MM, de Strooper B, Frisoni GB, Salloway S, et al. Alzheimer's disease. Lancet. 2016;388:505-17. O comprometimento olfativo, especialmente o comprometimento da identificação olfativa, é considerado um sinal potencial de alerta precoce de distúrbios neurodegenerativos, como a doença de Parkinson (DP) e a doença de Alzheimer (DA).66 Attems J, Walker L, Jellinger KA. Olfactory bulb involvement in neurodegenerative diseases. Acta Neuropathol. 2014;127:459-75.

7 Palta P, Chen H, Deal JA, Sharrett AR, Gross A, Knopman D, et al. Olfactory function and neurocognitive outcomes in old age: the Atherosclerosis Risk in Communities Neurocognitive Study. Alzheimers Dement. 2018;14:1015-21.

8 Roalf DR, Moberg MJ, Turetsky BI, Brennan L, Kabadi S, Wolk DA, et al. A quantitative meta-analysis of olfactory dysfunction in mild cognitive impairment. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2017;88:226-32.

9 Roberts RO, Christianson TJ, Kremers WK, Mielke MM, Machulda MM, Vassilaki M, et al. Association between olfactory dysfunction and amnestic mild cognitive impairment and Alzheimer disease dementia. JAMA Neurol. 2016;73:93-101.
-1010 Bathini P, Brai E, Auber LA. Olfactory dysfunction in the pathophysiological continuum of dementia. Ageing Res Rev. 2019;55:100956. Estudos anatômicos sugerem que emaranhados neurofibrilares no bulbo olfatório e nas vias de projeção do bulbo olfatório para as regiões cerebrais olfativas secundárias são as características patológicas iniciais da DA que danificam a olfação.66 Attems J, Walker L, Jellinger KA. Olfactory bulb involvement in neurodegenerative diseases. Acta Neuropathol. 2014;127:459-75.,1111 Kovács T. Mechanisms of olfactory dysfunction in aging and neurodegenerative disorders. Ageing Res Rev. 2004;3:215-32. A deposição de proteínas patogênicas, α-sinucleína e proteína tau hiperfosforilada, no bulbo e trato olfatório (OBT, Olfactory Bulb and Tract) enfraquece a função sináptica.1212 Rey NL, Wesson DW, Brundin P. The olfactory bulb as the entry site for prion-like propagation in neurodegenerative diseases. Neurobiol Dis. 2018;109:226-48.

13 Koss DJ, Jones G, Cranston A, Gardner H, Kanaan NM, Platt B. Soluble pre-fibrillar tau and β-amyloid species emerge in early human Alzheimer's disease and track disease progression and cognitive decline. Acta Neuropathol. 2016;132:875-95.

14 McKhann GM, Knopman DS, Chertkow H, Hyman BT, Jack CR, Kawas CH, et al. The diagnosis of dementia due to Alzheimer's disease: recommendations from the National Institute on Aging-Alzheimer's Association workgroups on diagnostic guidelines for Alzheimer's disease. Alzheimers Dement. 2011;:1552-5279.

15 Bourdenx M, Koulakiotis NS, Sanoudou D, Bezard E, Dehay B, Tsarbopoulos A. Protein aggregation and neurodegeneration in prototypical neurodegenerative diseases: examples of amyloidopathies, tauopathies and synucleinopathies. Prog Neurobiol. 2017;155:171-93.
-1616 Sepulcre J, Grothe MJ, d’Oleire Uquillas F, Ortiz-Terán L, Diez I, Yang HS, et al. Neurogenetic contributions to amyloid beta and tau spreading in the human cortex. Nat Med. 2018, 1546-170X.

A atrofia do OBT na ressonância magnética (RM) na DA e o comprometimento cognitivo leve são outras provas de comprometimento olfativo.66 Attems J, Walker L, Jellinger KA. Olfactory bulb involvement in neurodegenerative diseases. Acta Neuropathol. 2014;127:459-75.,1717 Thomann PA, Dos Santos V, Seidl U, Toro P, Essig M, Schroder J. MRI-derived atrophy of the olfactory bulb and tract in mild cognitive impairment and Alzheimer's disease. J Alzheimers Dis. 2009;17:213-21. Vários estudos confirmaram o fato de que idosos com disfunção olfativa apresentam um risco aumentado de transição para demência.1818 Adams DR, Kern DW, Wroblewski KE, McClintock MK, Dale W, Pinto JM. Olfactory dysfunction predicts subsequent dementia in older US adults. J Am Geriatr Soc. 2018;66:140-4.

19 Devanand DP, Liu X, Tabert MH, Pradhaban G, Cuasay K, Bell K, et al. Combining early markers strongly predicts conversion from mild cognitive impairment to Alzheimer's disease. Biol Psychiatry. 2008;64:871-9.

20 Yoon JH, Kim M, Moon SY, Yong SW, Hong JM. Olfactory function and neuropsychological profile to differentiate dementia with Lewy bodies from Alzheimer's disease in patients with mild cognitive impairment: a 5-year follow-up study. J Neurol Sci. 2015;355:174-9.

21 Sohrabi HR, Bates KA, Weinborn MG, Johnston ANB, Bahramian A, Taddei K, et al. Olfactory discrimination predicts cognitive decline among community-dwelling older adults. Transl Psychiatry. 2012;2.

22 Quarmley M, Moberg PJ, Mechanic-Hamilton D, Kabadi S, Arnold SE, Wolk DA, et al. Odor identification screening improves diagnostic classification in incipient Alzheimer's disease. J Alzheimers Dis. 2017;55:1497-507.
-2323 Velayudhan L, Pritchard M, Powell JF, Proitsi P, Lovestone S. Smell identification function as a severity and progression marker in Alzheimer's disease. Int Psychogeriatr. 2013;25:1157-66.

Estudos anteriores demonstraram que o declínio cognitivo em adultos mais velhos se apresenta com olfação ou identificação olfativa prejudicada.2424 Devanand DP, Tabert MH, Cuasay K, Manly JJ, Schupf N, Brickman AM, et al. Olfactory identification deficits and MCI in a multi-ethnic elderly community sample. Neurobiol Aging. 2010;31:1593-600.,2525 Devanand DP, Michaels-Marston KS, Liu X, Pelton GH, Padilla M, Marder K, et al. Olfactory deficits in patients with mild cognitive impairment predict Alzheimer's disease at follow-up. Am J Psychiatry. 2000;157:1399-405. O declínio cognitivo torna-se evidente na meia-idade (45 a 49 anos); 2626 Singh-Manoux A, Kivimaki M, Glymour MM, Elbaz A, Berr C, Ebmeier KP, et al. Timing of onset of cognitive decline: results from Whitehall II prospective cohort study. BMJ. 2012;344:d7622. entretanto, só é percebido por alguns indivíduos. Uma revisão sistemática relatou o valor preditivo do comprometimento olfativo para o declínio cognitivo em adultos cognitivamente normais.2727 Windon MJ, Kim SJ, Oh ES, Lin SY. Predictive value of olfactory impairment for cognitive decline among cognitively normal adults. Laryngoscope. 2019. Não foram feitas análises adicionais dos subgrupos etários devido a dados limitados. Nesta revisão, o autor tem como objetivo estimar o risco relativo (RR) de cada subgrupo etário para explicar o poder preditivo do comprometimento olfativo para o declínio cognitivo e demência em diferentes faixas etárias.

Método

Estratégia de busca

Os autores fizeram essa análise seguindo os critérios das diretrizes Meta-analyses of Observational Studies in Epidemiology (MOOSE).2828 Stroup DF, Berlin JA, Morton SC, Olkin I, Williamson GD, Rennie D, et al. Meta-analysis of observational studies in epidemiology: a proposal for reporting, Meta-analysis Of Observational Studies in Epidemiology (MOOSE) group. JAMA. 2000;283:2008-12. Uma extensa pesquisa bibliográfica foi feita para identificar estudos que registraram a avaliação do olfato e da cognição no início e fim dos períodos de seguimento. Os participantes eram residentes locais e a média de idade em cada estudo era superior a 50 anos. Os participantes com declínio cognitivo foram excluídos no início do seguimento. Estudos muito curtos para um período de seguimento foram excluídos, dado o longo período de latência da doença. As bases de dados Medline, Cochrane e Embase foram usadas para obter os estudos identificados. Para a busca sobre o desfecho, identificamos os artigos com as palavras-chave médicas ([cognitive OR cognition OR dementia OR Alzheimer's disease OR mild cognitive impairment OR Parkinson's disease] AND [olfactory OR olfaction OR odor OR odorant OR smelling OR hyposmia]). As referências bibliográficas dos artigos recuperados foram pesquisadas em busca de estudos relevantes adicionais.

Os dados exigiram resultados suficientes para construir a tabela de contingência 2×2 de desempenho diagnóstico para o teste de olfação. O comprometimento olfativo no início do seguimento foi definido como o fator de exposição. O declínio cognitivo no fim do seguimento foi definido como resultado positivo. Os participantes foram divididos em quatro grupos com base nas funções olfativas e cognitivas e o RR de cada grupo foi calculado.

Os estudos selecionados forneceram informações estatísticas que permitiram o uso de métodos metanalíticos. Esse procedimento de busca resultou em oito artigos. Os detalhes dos participantes em cada estudo incluído estão descritos na tabela 1.

Tabela 1
Características basais de cada população estudada

Avaliação da qualidade

A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi avaliada por dois revisores de forma independente, com a Escala de Newcastle-Ottawa (NOS).2929 Rewa OG, Villeneuve P-M, Lachance P, Eurich DT, Stelfox HT, Gibney RTN, et al. Quality indicators of continuous renal replacement therapy (CRRT) care in critically ill patients: a systematic review. Intensive Care Med. 2017;43:750-63. As discordâncias foram resolvidas em reuniões de consenso. Os detalhes são mostrados na figura 1.

Figura 1
Avaliação da qualidade de oito estudos incluídos.

Extração de dados

Dois autores avaliaram independentemente a elegibilidade de todos os estudos recuperados nas bases de dados de acordo com os critérios de seleção acima; as duas listas foram então comparadas e as divergências entre avaliadores foram resolvidas por discussão. Extraímos os seguintes dados de cada publicação, com um formulário padronizado: nome do estudo (juntamente com o nome do primeiro autor e o ano da publicação), desenho, população, país, tamanho da amostra, período, resultados (população do caso, RRs ou ORs ajustados com seus correspondentes ICs de 95%), instrumento de medida da função olfativa, método de avaliação cognitiva e ajustes para fatores de confusão na análise (tabela 1).

Análise estatística

O comprometimento olfativo foi considerado como fator de exposição, enquanto declínio cognitivo e demência foram definidos como resultados positivos. Uma tabela 2 × 2 do desempenho diagnóstico para o teste olfativo foi construída para estimar o RR de cada estudo e calcular um RR combinado com IC de 95%.

A heterogeneidade estatística foi medida com o índice I2 e o teste Q de Cochran. Os graus de heterogeneidade “nenhum”, “baixo”, “moderado” e “alto” foram definidos como < 25%, 25% ≥ 50%, 50% ≥ 75% e ≥75%, respectivamente. A hipótese nula de que os estudos eram homogêneos foi rejeitada caso o valor de p fosse menor que 0,05. O modelo de efeito fixo foi usado para estimar o RR combinado, assumiu-se que os estudos incluídos na metanálise tinham o mesmo tamanho de efeito. Dada a existência de heterogeneidade estatisticamente significativa, o modelo de efeito aleatório foi usado para combinar os resultados, assumiu-se que os estudos incluídos na metanálise apresentavam tamanhos de efeito variados nos estudos. Nesta metanálise, a hazard ratio (HR) e a odds ratio (OR) foram consideradas equivalentes ao RR como medidas gerais de risco.

Duas análises de sensibilidade foram feitas para testar a estabilidade dos resultados: 1) Substituiu-se um modelo de efeitos aleatórios por um modelo de efeitos fixos e 2) Removeu-se um estudo primário da análise agrupada de cada vez. Entretanto, os resultados da avaliação da assimetria têm poder relativamente baixo para refletir um verdadeiro viés de publicação quando o número total de estudos incluídos na metanálise é pequeno (25 ou menos), como é o caso nesta revisão. Todas as análises foram feitas com o software estatístico Review Manager (versão 5.3). Foi considerado estatisticamente significante um valor de p bilateral ≤ 0,05.

Resultados

Características do estudo

Após a revisão de 1.466 títulos e resumos e 43 artigos completos, oito artigos foram incluídos nesta metanálise.1818 Adams DR, Kern DW, Wroblewski KE, McClintock MK, Dale W, Pinto JM. Olfactory dysfunction predicts subsequent dementia in older US adults. J Am Geriatr Soc. 2018;66:140-4.,3030 Devanand DP, Lee S, Luchsinger JA, Andrews H, Goldberg T, Huey ED, et al. Intact global cognitive and olfactory ability predicts lack of transition to dementia. Alzheimers Dement. 2019.

31 Fischer ME, Cruickshanks KJ, Schubert CR, Pinto AA, Carlsson CM, Klein BEK, et al. Age-related sensory impairments and risk of cognitive impairment. J Am Geriatr Soc. 2016;64:1981-7.

32 Graves AB, Bowen JD, Rajaram L, McCormick WC, McCurry SM, Schellenberg GD, et al. Impaired olfaction as a marker for cognitive decline: interaction with apolipoprotein E epsilon4 status. Neurology. 1999;53:1480-7.

33 Yaffe K, Freimer D, Chen H, Asao K, Rosso A, Rubin S, et al. Olfaction and risk of dementia in a biracial cohort of older adults. Neurology. 2017;88:456-62.

34 Lipnicki DM, Sachdev PS, Crawford J, Reppermund S, Kochan NA, Trollor JN, et al. Risk factors for late-life cognitive decline and variation with age and sex in the Sydney Memory and Ageing Study. PLoS One. 2013;8:e65841.

35 Roberts RO, Christianson TJH, Kremers WK, Mielke MM, Machulda MM, Vassilaki M, et al. Association between olfactory dysfunction and amnestic mild cognitive impairment and Alzheimer disease dementia. JAMA Neurol. 2016;73:93-101.
-3636 Stanciu I, Larsson M, Nordin S, Adolfsson R, Nilsson LG, Olofsson JK. Olfactory impairment and subjective olfactory complaints independently predict conversion to dementia: a longitudinal, population-based study. J Int Neuropsychol Soc. 2014;20:209-17. O processo de busca na literatura é mostrado na figura 2. Entre esses estudos, 6 foram feitos nos Estados Unidos,1818 Adams DR, Kern DW, Wroblewski KE, McClintock MK, Dale W, Pinto JM. Olfactory dysfunction predicts subsequent dementia in older US adults. J Am Geriatr Soc. 2018;66:140-4.,3030 Devanand DP, Lee S, Luchsinger JA, Andrews H, Goldberg T, Huey ED, et al. Intact global cognitive and olfactory ability predicts lack of transition to dementia. Alzheimers Dement. 2019.

31 Fischer ME, Cruickshanks KJ, Schubert CR, Pinto AA, Carlsson CM, Klein BEK, et al. Age-related sensory impairments and risk of cognitive impairment. J Am Geriatr Soc. 2016;64:1981-7.

32 Graves AB, Bowen JD, Rajaram L, McCormick WC, McCurry SM, Schellenberg GD, et al. Impaired olfaction as a marker for cognitive decline: interaction with apolipoprotein E epsilon4 status. Neurology. 1999;53:1480-7.
-3333 Yaffe K, Freimer D, Chen H, Asao K, Rosso A, Rubin S, et al. Olfaction and risk of dementia in a biracial cohort of older adults. Neurology. 2017;88:456-62.,3535 Roberts RO, Christianson TJH, Kremers WK, Mielke MM, Machulda MM, Vassilaki M, et al. Association between olfactory dysfunction and amnestic mild cognitive impairment and Alzheimer disease dementia. JAMA Neurol. 2016;73:93-101. enquanto o restante foi feito na Austrália e na Suécia.3434 Lipnicki DM, Sachdev PS, Crawford J, Reppermund S, Kochan NA, Trollor JN, et al. Risk factors for late-life cognitive decline and variation with age and sex in the Sydney Memory and Ageing Study. PLoS One. 2013;8:e65841.,3636 Stanciu I, Larsson M, Nordin S, Adolfsson R, Nilsson LG, Olofsson JK. Olfactory impairment and subjective olfactory complaints independently predict conversion to dementia: a longitudinal, population-based study. J Int Neuropsychol Soc. 2014;20:209-17. O tamanho da amostra variou de 5723434 Lipnicki DM, Sachdev PS, Crawford J, Reppermund S, Kochan NA, Trollor JN, et al. Risk factors for late-life cognitive decline and variation with age and sex in the Sydney Memory and Ageing Study. PLoS One. 2013;8:e65841. a 2.9061818 Adams DR, Kern DW, Wroblewski KE, McClintock MK, Dale W, Pinto JM. Olfactory dysfunction predicts subsequent dementia in older US adults. J Am Geriatr Soc. 2018;66:140-4. e o período de seguimento variou de 23 meses3434 Lipnicki DM, Sachdev PS, Crawford J, Reppermund S, Kochan NA, Trollor JN, et al. Risk factors for late-life cognitive decline and variation with age and sex in the Sydney Memory and Ageing Study. PLoS One. 2013;8:e65841. a 12 anos.3333 Yaffe K, Freimer D, Chen H, Asao K, Rosso A, Rubin S, et al. Olfaction and risk of dementia in a biracial cohort of older adults. Neurology. 2017;88:456-62. Todos incluíram OR, RR ou HR ajustados e IC 95%. Os detalhes de cada estudo podem ser vistos na tabela 1.

Figura 2
Fluxograma mostrando o processo de identificação dos estudos adequados para a metanálise.

Dos 8 estudos com dados sobre declínio cognitivo e demência, que incluíram 13.165 participantes e 1.574 eventos, 5 relataram resultados sobre declínio cognitivo,2020 Yoon JH, Kim M, Moon SY, Yong SW, Hong JM. Olfactory function and neuropsychological profile to differentiate dementia with Lewy bodies from Alzheimer's disease in patients with mild cognitive impairment: a 5-year follow-up study. J Neurol Sci. 2015;355:174-9.

21 Sohrabi HR, Bates KA, Weinborn MG, Johnston ANB, Bahramian A, Taddei K, et al. Olfactory discrimination predicts cognitive decline among community-dwelling older adults. Transl Psychiatry. 2012;2.

22 Quarmley M, Moberg PJ, Mechanic-Hamilton D, Kabadi S, Arnold SE, Wolk DA, et al. Odor identification screening improves diagnostic classification in incipient Alzheimer's disease. J Alzheimers Dis. 2017;55:1497-507.

23 Velayudhan L, Pritchard M, Powell JF, Proitsi P, Lovestone S. Smell identification function as a severity and progression marker in Alzheimer's disease. Int Psychogeriatr. 2013;25:1157-66.

24 Devanand DP, Tabert MH, Cuasay K, Manly JJ, Schupf N, Brickman AM, et al. Olfactory identification deficits and MCI in a multi-ethnic elderly community sample. Neurobiol Aging. 2010;31:1593-600.

25 Devanand DP, Michaels-Marston KS, Liu X, Pelton GH, Padilla M, Marder K, et al. Olfactory deficits in patients with mild cognitive impairment predict Alzheimer's disease at follow-up. Am J Psychiatry. 2000;157:1399-405.

26 Singh-Manoux A, Kivimaki M, Glymour MM, Elbaz A, Berr C, Ebmeier KP, et al. Timing of onset of cognitive decline: results from Whitehall II prospective cohort study. BMJ. 2012;344:d7622.

27 Windon MJ, Kim SJ, Oh ES, Lin SY. Predictive value of olfactory impairment for cognitive decline among cognitively normal adults. Laryngoscope. 2019.

28 Stroup DF, Berlin JA, Morton SC, Olkin I, Williamson GD, Rennie D, et al. Meta-analysis of observational studies in epidemiology: a proposal for reporting, Meta-analysis Of Observational Studies in Epidemiology (MOOSE) group. JAMA. 2000;283:2008-12.

29 Rewa OG, Villeneuve P-M, Lachance P, Eurich DT, Stelfox HT, Gibney RTN, et al. Quality indicators of continuous renal replacement therapy (CRRT) care in critically ill patients: a systematic review. Intensive Care Med. 2017;43:750-63.

30 Devanand DP, Lee S, Luchsinger JA, Andrews H, Goldberg T, Huey ED, et al. Intact global cognitive and olfactory ability predicts lack of transition to dementia. Alzheimers Dement. 2019.

31 Fischer ME, Cruickshanks KJ, Schubert CR, Pinto AA, Carlsson CM, Klein BEK, et al. Age-related sensory impairments and risk of cognitive impairment. J Am Geriatr Soc. 2016;64:1981-7.
-3232 Graves AB, Bowen JD, Rajaram L, McCormick WC, McCurry SM, Schellenberg GD, et al. Impaired olfaction as a marker for cognitive decline: interaction with apolipoprotein E epsilon4 status. Neurology. 1999;53:1480-7.,3535 Roberts RO, Christianson TJH, Kremers WK, Mielke MM, Machulda MM, Vassilaki M, et al. Association between olfactory dysfunction and amnestic mild cognitive impairment and Alzheimer disease dementia. JAMA Neurol. 2016;73:93-101.,3636 Stanciu I, Larsson M, Nordin S, Adolfsson R, Nilsson LG, Olofsson JK. Olfactory impairment and subjective olfactory complaints independently predict conversion to dementia: a longitudinal, population-based study. J Int Neuropsychol Soc. 2014;20:209-17. 2 sobre demência1818 Adams DR, Kern DW, Wroblewski KE, McClintock MK, Dale W, Pinto JM. Olfactory dysfunction predicts subsequent dementia in older US adults. J Am Geriatr Soc. 2018;66:140-4.,3333 Yaffe K, Freimer D, Chen H, Asao K, Rosso A, Rubin S, et al. Olfaction and risk of dementia in a biracial cohort of older adults. Neurology. 2017;88:456-62. e um sobre ambos.3434 Lipnicki DM, Sachdev PS, Crawford J, Reppermund S, Kochan NA, Trollor JN, et al. Risk factors for late-life cognitive decline and variation with age and sex in the Sydney Memory and Ageing Study. PLoS One. 2013;8:e65841.

Risco relativo (RR)

O comprometimento olfativo foi associado positivamente a um risco de declínio cognitivo. Comparando o olfato normal com o comprometido, o risco de declínio cognitivo aumentou 137% (RR combinado = 2,37; IC95% = 1,91-2,94); (fig. 3), o que é basicamente consistente com a revisão de Windon et al.2727 Windon MJ, Kim SJ, Oh ES, Lin SY. Predictive value of olfactory impairment for cognitive decline among cognitively normal adults. Laryngoscope. 2019. Entretanto, foi observada uma heterogeneidade estatisticamente significativa entre esses estudos (I2 = 77%, p < 0,00001). Considerando que a variabilidade nos tamanhos de efeito entre as populações com comprometimento olfativo e as populações com olfato normal diferiu mais do que seria esperado apenas com o erro de amostragem, faz-se necessária a análise de possíveis variáveis moderadoras.

Figura 3
Gráfico do tipo Forest Plot de RRs combinados e IC95% de declínio cognitivo em relação ao comprometimento olfativo.

Obtivemos estimativas combinadas com um modelo de efeito aleatório. Os pontos indicam os RRs ajustados e comparam o olfato comprometido com o normal. O tamanho do quadrado sombreado é proporcional à porcentagem do peso de cada estudo. As linhas horizontais representam ICs de 95%.

Análise de subgrupos

Na análise de subgrupos por idade, os RR de diferentes subgrupos foram obviamente diferentes (fig. 4). No subgrupo de 60 anos,1818 Adams DR, Kern DW, Wroblewski KE, McClintock MK, Dale W, Pinto JM. Olfactory dysfunction predicts subsequent dementia in older US adults. J Am Geriatr Soc. 2018;66:140-4.,3131 Fischer ME, Cruickshanks KJ, Schubert CR, Pinto AA, Carlsson CM, Klein BEK, et al. Age-related sensory impairments and risk of cognitive impairment. J Am Geriatr Soc. 2016;64:1981-7.,3636 Stanciu I, Larsson M, Nordin S, Adolfsson R, Nilsson LG, Olofsson JK. Olfactory impairment and subjective olfactory complaints independently predict conversion to dementia: a longitudinal, population-based study. J Int Neuropsychol Soc. 2014;20:209-17. a associação entre comprometimento olfativo e subsequente declínio cognitivo foi persistente (RR = 3,06, IC95% = 1,98-4,75). Devido à limitação das amostras, uma heterogeneidade substancial foi observada no grupo de 60 anos (I22 Ferri CP, Prince M, Brayne C, Brodaty H, Fratiglioni L, Ganguli M, et al. Global prevalence of dementia: a Delphi consensus study. Lancet. 2005;366:2112-7. = 84%, p = 0,002). Essa associação também foi significativa no subgrupo de 70 anos (RR = 2,00, IC95% = 1,79-2,23), mas foi mais fraca do que a do subgrupo de 60 anos, sem graus de heterogeneidade (I2 = 0%, p = 0,93).3030 Devanand DP, Lee S, Luchsinger JA, Andrews H, Goldberg T, Huey ED, et al. Intact global cognitive and olfactory ability predicts lack of transition to dementia. Alzheimers Dement. 2019.,3232 Graves AB, Bowen JD, Rajaram L, McCormick WC, McCurry SM, Schellenberg GD, et al. Impaired olfaction as a marker for cognitive decline: interaction with apolipoprotein E epsilon4 status. Neurology. 1999;53:1480-7.-3333 Yaffe K, Freimer D, Chen H, Asao K, Rosso A, Rubin S, et al. Olfaction and risk of dementia in a biracial cohort of older adults. Neurology. 2017;88:456-62. Os participantes do estudo de Devanand3030 Devanand DP, Lee S, Luchsinger JA, Andrews H, Goldberg T, Huey ED, et al. Intact global cognitive and olfactory ability predicts lack of transition to dementia. Alzheimers Dement. 2019. foram divididos em subgrupos etários. Os participantes com mais de 80 anos foram incluídos no subgrupo de 80 anos e a correlação entre comprometimento olfativo e subsequente declínio cognitivo nesse grupo foi mais leve do que a de outros grupos (RR = 1,36, IC95% = 0,93-1,98).3030 Devanand DP, Lee S, Luchsinger JA, Andrews H, Goldberg T, Huey ED, et al. Intact global cognitive and olfactory ability predicts lack of transition to dementia. Alzheimers Dement. 2019.

Figura 4
Gráfico do tipo Forest Plot de análise de subgrupos.

Todos os estudos incluídos foram divididos em três subgrupos com base na média de idade da população incluída em cada um deles. O RR da análise de subgrupo para o faixa de 61 a 70 anos foi de 3,06, o RR para o grupo de 71 a 80 anos foi de 2,00 e o RR para o grupo acima de 80 anos foi de 1,36.

Análises de sensibilidade

O modelo de efeito fixo foi usado para testar a robustez do resultado da análise. Para verificar o impacto de cada estudo no RR combinado, fizemos análises de sensibilidade, removemos um estudo primário da análise de cada vez. As análises de subgrupos mostraram que nenhum estudo isolado apresentou uma interferência substancial nas estimativas gerais.

Discussão

Este estudo descreveu a associação entre o comprometimento olfativo e subsequente declínio cognitivo e demência em idosos com cognição normal e sugeriu que o valor preditivo é diferente para diferentes subgrupos etários. Adultos mais velhos com comprometimento olfativo apresentaram um risco quase duplicado de desenvolver declínio cognitivo ou demência. Essas associações estáveis aparentemente persistiram em diferentes áreas geográficas, períodos de seguimento, tamanho da amostra, métodos de avaliação da função cognitiva e qualidades dos estudos primários. Estudos transversais e longitudinais anteriores corroboram essa opinião e uma revisão confirmou o valor preditivo do comprometimento olfativo para declínio cognitivo ou demência.88 Roalf DR, Moberg MJ, Turetsky BI, Brennan L, Kabadi S, Wolk DA, et al. A quantitative meta-analysis of olfactory dysfunction in mild cognitive impairment. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2017;88:226-32.,3535 Roberts RO, Christianson TJH, Kremers WK, Mielke MM, Machulda MM, Vassilaki M, et al. Association between olfactory dysfunction and amnestic mild cognitive impairment and Alzheimer disease dementia. JAMA Neurol. 2016;73:93-101.,3737 Choi JS, Hur K, Chow M, Shen J, Wrobel B. Olfactory dysfunction and cognition among older adults in the United States. Int Forum Allergy Rhinol. 2018;8:648-54.,3838 Chan A, Tam J, Murphy C, Chiu H, Lam L. Utility of olfactory identification test for diagnosing Chinese patients with Alzheimer's disease. J Clin Exp Neuropsychol. 2002;24:251-9. Este estudo mostrou que adultos mais jovens com comprometimento olfativo eram mais propensos a desenvolver comprometimento da cognição ou demência no fim do seguimento.

Os pontos fortes dessa análise são os seguintes: todos os estudos incluídos eram de coorte longitudinal, com valor mais confiável, e o período de seguimento foi superior a 20 meses, o que elimina o viés de memória.

Houve algumas limitações nesta análise que criaram a heterogeneidade estatística. Diferentes métodos de detecção olfativa foram usados nos estudos inscritos. O Brief Smell Identification Test (B-SIT),3939 Doty RL, Marcus A, Lee WW. Development of the 12-item Cross-Cultural Smell Identification Test (CC-SIT). Laryngoscope. 1996;106:353-6. também denominado Cross-Cultural Smell Identification Test (CC-SIT), foi amplamente usado em todo o mundo. O Validated 5-item Test, o Subjective Olfactory Complaint e o San Diego Odor Identification Test (SDOIT)4040 Murphy C, Schubert CR, Cruickshanks KJ, Klein BEK, Klein R, Nondahl DM. Prevalence of olfactory impairment in older adults. JAMA. 2002;288:2307-12. também foram usados nos estudos incluídos.3131 Fischer ME, Cruickshanks KJ, Schubert CR, Pinto AA, Carlsson CM, Klein BEK, et al. Age-related sensory impairments and risk of cognitive impairment. J Am Geriatr Soc. 2016;64:1981-7. Já foi provado que esses métodos de detecção são comprovadamente eficazes. Alguns desses testes são adaptados do Pennsylvania Smell Identification Test (UPSIT).4141 Doty RL, Shaman P, Dann M. Development of the University of Pennsylvania Smell Identification Test: a standardized microencapsulated test of olfactory function. Physiol Behav. 1984;32:489-502. Existem diferenças sutis nos pontos de corte, o que contribuiu para a heterogeneidade estatística. Padrões rigorosos e precisos foram usados em cada estudo para avaliar as funções cognitivas. O Mini-Mental State Examination (MMSE) foi o mais usado entre os estudos incluídos. Todos os métodos de avaliação de cada estudo são demonstrados na tabela características dos estudos (tabela 1).

O subgrupo com idade média mais jovem mostrou um fator RR mais alto de comprometimento olfativo no declínio cognitivo ou na transição para demência. Os participantes com comprometimento olfativo no subgrupo de 60 a 70 anos apresentaram uma probabilidade 2,64 a 5,27 maior de declínio cognitivo ou transição para demência em comparação com aqueles com olfação normal. Em um estudo de 10 anos de seguimento, ocorreu declínio cognitivo na meia idade (idade basal de 45 a 50 anos) e o grupo com idade basal de 64 a 70 anos experimentou um maior declínio na função cognitiva após dez anos, com uma redução de 9,6% em comparação com a linha de base.2626 Singh-Manoux A, Kivimaki M, Glymour MM, Elbaz A, Berr C, Ebmeier KP, et al. Timing of onset of cognitive decline: results from Whitehall II prospective cohort study. BMJ. 2012;344:d7622. A prevalência estimada de comprometimento cognitivo leve em estudos de base populacional varia de 10% a 20% em pessoas com mais de 65 anos.4242 Plassman BL, Langa KM, Fisher GG, Heeringa SG, Weir DR, Ofstedal MB, et al. Prevalence of cognitive impairment without dementia in the United States. Ann Intern Med. 2008;148:427-34.,4343 Petersen RC. Clinical practice. Mild cognitive impairment. N Engl J Med. 2011;364:2227-34. A idade pode contribuir principalmente para o maior RR deste subgrupo em comparação com outros subgrupos. O tamanho limitado da amostra também contribuiu para a heterogeneidade.

A duração do seguimento para o subgrupo de 70 a 80 anos variou entre 23 meses e 12 anos, com RR estável de 1,84 a 2,11. Isso mostrou que não houve correlação linear entre o tempo de seguimento e o RR de comprometimento olfativo na função cognitiva. Particularmente, o RR não aumentou significativamente com a extensão do tempo de seguimento, o que é inconsistente com os resultados de revisões sistemáticas anteriores.2727 Windon MJ, Kim SJ, Oh ES, Lin SY. Predictive value of olfactory impairment for cognitive decline among cognitively normal adults. Laryngoscope. 2019. Em estudos com uma duração de seguimento superior a dez anos,3333 Yaffe K, Freimer D, Chen H, Asao K, Rosso A, Rubin S, et al. Olfaction and risk of dementia in a biracial cohort of older adults. Neurology. 2017;88:456-62.,3636 Stanciu I, Larsson M, Nordin S, Adolfsson R, Nilsson LG, Olofsson JK. Olfactory impairment and subjective olfactory complaints independently predict conversion to dementia: a longitudinal, population-based study. J Int Neuropsychol Soc. 2014;20:209-17. tanto o RR calculado a partir dos dados originais quanto o RR ajustado não foram significativamente diferentes daqueles de estudos com seguimento de curta duração.3232 Graves AB, Bowen JD, Rajaram L, McCormick WC, McCurry SM, Schellenberg GD, et al. Impaired olfaction as a marker for cognitive decline: interaction with apolipoprotein E epsilon4 status. Neurology. 1999;53:1480-7.,3434 Lipnicki DM, Sachdev PS, Crawford J, Reppermund S, Kochan NA, Trollor JN, et al. Risk factors for late-life cognitive decline and variation with age and sex in the Sydney Memory and Ageing Study. PLoS One. 2013;8:e65841.

Estudos anteriores sugeriram que o comprometimento olfativo está associado ao declínio cognitivo e ao comprometimento do OBT. As vias de projeção do bulbo olfativo para as regiões cerebrais olfativas secundárias foram igualmente e significativamente correlacionadas com os emaranhados neurofibrilares e proteínas patogênicas como a α-sinucleína e a proteína tau hiperfosforilada nessas áreas, as quais danificam a olfação e contribuem para o processo patogênico precoce de doenças neurodegenerativas, como DA e DP. Consequentemente, o olfato é considerado uma ferramenta eficaz e valiosa para a detecção precoce de doenças neurodegenerativas e pode ser um indicador da função cognitiva futura.

Devido à limitação dos métodos de detecção de demência e declínio cognitivo nos desenhos dos estudos incluídos, é um método inconveniente para diferenciar pessoas com alto risco de comprometimento cognitivo daquelas sem risco. No entanto, as alterações patológicas no OBT e em outras áreas relacionadas à olfação são sinais de alerta para o declínio cognitivo. A olfação é um resultado das alterações patológicas nessas áreas, o que pode contribuir para a prevenção de doenças neurodegenerativas. O treinamento olfativo oferece um futuro positivo para a melhoria da cognição. A triagem precoce e o tratamento preventivo podem retardar a progressão da doença (tabela 2).

Tabela 2
Métodos de detecção

Conclusão

Este estudo reuniu evidências que apoiam o fato de que o comprometimento da função olfativa está significativamente associado aos riscos de declínio cognitivo e demência em idosos. É necessário prestar mais atenção às pessoas de 60 a 70 anos com distúrbios olfativos, devido ao maior fator de risco associado. A duração do seguimento não afeta significativamente os RRs. Considerando suas vantagens de segurança, relação custo-benefício e facilidade de teste e interpretação, os testes olfativos podem ser indicadores efetivos do desenvolvimento de declínio cognitivo e demência em idosos.

Limitações

Mais estudos de coorte em larga escala são necessários para determinar idade, gênero e pontos de corte dos testes olfativos para aumentar a eficácia e a eficiência de um indicador precoce de comprometimento cognitivo e demência no futuro. O comprometimento olfativo está moderadamente associado ao declínio cognitivo e mais métodos auxiliares de detecção são necessários para melhorar a previsão de declínio cognitivo. A análise do RR combinado foi limitada, uma vez que foi calculada a partir de dados originais sem ajuste.

  • A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.
  • Please cite this article as: Chen Z, Xie H, Yao L, Wei Y. Olfactory impairment and the risk of cognitive decline and dementia in older adults: a meta-analysis. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:94-102.
  • Financiamento
    Este trabalho recebeu apoio financeiro do Beijing Municipal Hospital Scientific Research Training Program (PX2019023).

References

  • 1
    Langa KM, Levine DA. The diagnosis and management of mild cognitive impairment: a clinical review. JAMA. 2014;312:2551-61.
  • 2
    Ferri CP, Prince M, Brayne C, Brodaty H, Fratiglioni L, Ganguli M, et al. Global prevalence of dementia: a Delphi consensus study. Lancet. 2005;366:2112-7.
  • 3
    Chan KY, Wang W, Wu JJ, Liu L, Theodoratou E, Car J, et al. Epidemiology of Alzheimer's disease and other forms of dementia in China, 1990-2010: a systematic review and analysis. Lancet. 2013;381:2016-23.
  • 4
    Devanand DP, Lee S, Manly J, Andrews H, Schupf N, Masurkar A, et al. Olfactory identification deficits and increased mortality in the community. Ann Neurol. 2015;78:401-11.
  • 5
    Scheltens P, Blennow K, Breteler MM, de Strooper B, Frisoni GB, Salloway S, et al. Alzheimer's disease. Lancet. 2016;388:505-17.
  • 6
    Attems J, Walker L, Jellinger KA. Olfactory bulb involvement in neurodegenerative diseases. Acta Neuropathol. 2014;127:459-75.
  • 7
    Palta P, Chen H, Deal JA, Sharrett AR, Gross A, Knopman D, et al. Olfactory function and neurocognitive outcomes in old age: the Atherosclerosis Risk in Communities Neurocognitive Study. Alzheimers Dement. 2018;14:1015-21.
  • 8
    Roalf DR, Moberg MJ, Turetsky BI, Brennan L, Kabadi S, Wolk DA, et al. A quantitative meta-analysis of olfactory dysfunction in mild cognitive impairment. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2017;88:226-32.
  • 9
    Roberts RO, Christianson TJ, Kremers WK, Mielke MM, Machulda MM, Vassilaki M, et al. Association between olfactory dysfunction and amnestic mild cognitive impairment and Alzheimer disease dementia. JAMA Neurol. 2016;73:93-101.
  • 10
    Bathini P, Brai E, Auber LA. Olfactory dysfunction in the pathophysiological continuum of dementia. Ageing Res Rev. 2019;55:100956.
  • 11
    Kovács T. Mechanisms of olfactory dysfunction in aging and neurodegenerative disorders. Ageing Res Rev. 2004;3:215-32.
  • 12
    Rey NL, Wesson DW, Brundin P. The olfactory bulb as the entry site for prion-like propagation in neurodegenerative diseases. Neurobiol Dis. 2018;109:226-48.
  • 13
    Koss DJ, Jones G, Cranston A, Gardner H, Kanaan NM, Platt B. Soluble pre-fibrillar tau and β-amyloid species emerge in early human Alzheimer's disease and track disease progression and cognitive decline. Acta Neuropathol. 2016;132:875-95.
  • 14
    McKhann GM, Knopman DS, Chertkow H, Hyman BT, Jack CR, Kawas CH, et al. The diagnosis of dementia due to Alzheimer's disease: recommendations from the National Institute on Aging-Alzheimer's Association workgroups on diagnostic guidelines for Alzheimer's disease. Alzheimers Dement. 2011;:1552-5279.
  • 15
    Bourdenx M, Koulakiotis NS, Sanoudou D, Bezard E, Dehay B, Tsarbopoulos A. Protein aggregation and neurodegeneration in prototypical neurodegenerative diseases: examples of amyloidopathies, tauopathies and synucleinopathies. Prog Neurobiol. 2017;155:171-93.
  • 16
    Sepulcre J, Grothe MJ, d’Oleire Uquillas F, Ortiz-Terán L, Diez I, Yang HS, et al. Neurogenetic contributions to amyloid beta and tau spreading in the human cortex. Nat Med. 2018, 1546-170X.
  • 17
    Thomann PA, Dos Santos V, Seidl U, Toro P, Essig M, Schroder J. MRI-derived atrophy of the olfactory bulb and tract in mild cognitive impairment and Alzheimer's disease. J Alzheimers Dis. 2009;17:213-21.
  • 18
    Adams DR, Kern DW, Wroblewski KE, McClintock MK, Dale W, Pinto JM. Olfactory dysfunction predicts subsequent dementia in older US adults. J Am Geriatr Soc. 2018;66:140-4.
  • 19
    Devanand DP, Liu X, Tabert MH, Pradhaban G, Cuasay K, Bell K, et al. Combining early markers strongly predicts conversion from mild cognitive impairment to Alzheimer's disease. Biol Psychiatry. 2008;64:871-9.
  • 20
    Yoon JH, Kim M, Moon SY, Yong SW, Hong JM. Olfactory function and neuropsychological profile to differentiate dementia with Lewy bodies from Alzheimer's disease in patients with mild cognitive impairment: a 5-year follow-up study. J Neurol Sci. 2015;355:174-9.
  • 21
    Sohrabi HR, Bates KA, Weinborn MG, Johnston ANB, Bahramian A, Taddei K, et al. Olfactory discrimination predicts cognitive decline among community-dwelling older adults. Transl Psychiatry. 2012;2.
  • 22
    Quarmley M, Moberg PJ, Mechanic-Hamilton D, Kabadi S, Arnold SE, Wolk DA, et al. Odor identification screening improves diagnostic classification in incipient Alzheimer's disease. J Alzheimers Dis. 2017;55:1497-507.
  • 23
    Velayudhan L, Pritchard M, Powell JF, Proitsi P, Lovestone S. Smell identification function as a severity and progression marker in Alzheimer's disease. Int Psychogeriatr. 2013;25:1157-66.
  • 24
    Devanand DP, Tabert MH, Cuasay K, Manly JJ, Schupf N, Brickman AM, et al. Olfactory identification deficits and MCI in a multi-ethnic elderly community sample. Neurobiol Aging. 2010;31:1593-600.
  • 25
    Devanand DP, Michaels-Marston KS, Liu X, Pelton GH, Padilla M, Marder K, et al. Olfactory deficits in patients with mild cognitive impairment predict Alzheimer's disease at follow-up. Am J Psychiatry. 2000;157:1399-405.
  • 26
    Singh-Manoux A, Kivimaki M, Glymour MM, Elbaz A, Berr C, Ebmeier KP, et al. Timing of onset of cognitive decline: results from Whitehall II prospective cohort study. BMJ. 2012;344:d7622.
  • 27
    Windon MJ, Kim SJ, Oh ES, Lin SY. Predictive value of olfactory impairment for cognitive decline among cognitively normal adults. Laryngoscope. 2019.
  • 28
    Stroup DF, Berlin JA, Morton SC, Olkin I, Williamson GD, Rennie D, et al. Meta-analysis of observational studies in epidemiology: a proposal for reporting, Meta-analysis Of Observational Studies in Epidemiology (MOOSE) group. JAMA. 2000;283:2008-12.
  • 29
    Rewa OG, Villeneuve P-M, Lachance P, Eurich DT, Stelfox HT, Gibney RTN, et al. Quality indicators of continuous renal replacement therapy (CRRT) care in critically ill patients: a systematic review. Intensive Care Med. 2017;43:750-63.
  • 30
    Devanand DP, Lee S, Luchsinger JA, Andrews H, Goldberg T, Huey ED, et al. Intact global cognitive and olfactory ability predicts lack of transition to dementia. Alzheimers Dement. 2019.
  • 31
    Fischer ME, Cruickshanks KJ, Schubert CR, Pinto AA, Carlsson CM, Klein BEK, et al. Age-related sensory impairments and risk of cognitive impairment. J Am Geriatr Soc. 2016;64:1981-7.
  • 32
    Graves AB, Bowen JD, Rajaram L, McCormick WC, McCurry SM, Schellenberg GD, et al. Impaired olfaction as a marker for cognitive decline: interaction with apolipoprotein E epsilon4 status. Neurology. 1999;53:1480-7.
  • 33
    Yaffe K, Freimer D, Chen H, Asao K, Rosso A, Rubin S, et al. Olfaction and risk of dementia in a biracial cohort of older adults. Neurology. 2017;88:456-62.
  • 34
    Lipnicki DM, Sachdev PS, Crawford J, Reppermund S, Kochan NA, Trollor JN, et al. Risk factors for late-life cognitive decline and variation with age and sex in the Sydney Memory and Ageing Study. PLoS One. 2013;8:e65841.
  • 35
    Roberts RO, Christianson TJH, Kremers WK, Mielke MM, Machulda MM, Vassilaki M, et al. Association between olfactory dysfunction and amnestic mild cognitive impairment and Alzheimer disease dementia. JAMA Neurol. 2016;73:93-101.
  • 36
    Stanciu I, Larsson M, Nordin S, Adolfsson R, Nilsson LG, Olofsson JK. Olfactory impairment and subjective olfactory complaints independently predict conversion to dementia: a longitudinal, population-based study. J Int Neuropsychol Soc. 2014;20:209-17.
  • 37
    Choi JS, Hur K, Chow M, Shen J, Wrobel B. Olfactory dysfunction and cognition among older adults in the United States. Int Forum Allergy Rhinol. 2018;8:648-54.
  • 38
    Chan A, Tam J, Murphy C, Chiu H, Lam L. Utility of olfactory identification test for diagnosing Chinese patients with Alzheimer's disease. J Clin Exp Neuropsychol. 2002;24:251-9.
  • 39
    Doty RL, Marcus A, Lee WW. Development of the 12-item Cross-Cultural Smell Identification Test (CC-SIT). Laryngoscope. 1996;106:353-6.
  • 40
    Murphy C, Schubert CR, Cruickshanks KJ, Klein BEK, Klein R, Nondahl DM. Prevalence of olfactory impairment in older adults. JAMA. 2002;288:2307-12.
  • 41
    Doty RL, Shaman P, Dann M. Development of the University of Pennsylvania Smell Identification Test: a standardized microencapsulated test of olfactory function. Physiol Behav. 1984;32:489-502.
  • 42
    Plassman BL, Langa KM, Fisher GG, Heeringa SG, Weir DR, Ofstedal MB, et al. Prevalence of cognitive impairment without dementia in the United States. Ann Intern Med. 2008;148:427-34.
  • 43
    Petersen RC. Clinical practice. Mild cognitive impairment. N Engl J Med. 2011;364:2227-34.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2021

Histórico

  • Recebido
    28 Mar 2020
  • Aceito
    11 Jul 2020
  • Publicado
    12 Set 2020
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Sede da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, Av. Indianópolia, 1287, 04063-002 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (0xx11) 5053-7500, Fax: (0xx11) 5053-7512 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@aborlccf.org.br