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Implicações da prática musical no processamento auditivo central: uma revisão sistemática Como citar este artigo: Braz CH, Gonçalves LF, Paiva KM, Haas P, Patatt FS. Implications of musical practice in central auditory processing: a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:217–26.

Resumo

Introdução:

Estudos recentes evidenciaram que a prática e o treinamento musical mostram-se eficazes e com potencialidades para auxiliar na aquisição e no aprimoramento das habilidades auditivas.

Objetivo:

Verificar as evidências científicas sobre as implicações da prática musical no processamento auditivo central.

Método:

Foi feita uma revisão sistemática conduzida conforme as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) e foram usadas as bases de dados Medline (Pubmed), Lilacs, SciELO, Bireme, Scopus, Web of Science. O período de busca dos artigos compreendeu os últimos 5 anos (2015 a 2020), sem restrição de idioma e localização. Foi feita avaliação da qualidade dos artigos, na qual se incluía artigos com nota mínima 6 em escala de qualidade modificada da literatura.

Resultados:

Inicialmente foram encontradas 1.362 publicações, das quais 1.338 foram excluídas na triagem do título, 15 excluídas pelo resumo, foram nove artigos analisados na íntegra e quatro deles excluídos após análise, pois não responderam à pergunta norteadora proposta para esta pesquisa. Foram admitidos para esta pesquisa cinco artigos que atendiam os critérios de inclusão propostos. Constatou-se que nos adultos a habilidade musical está associada ao melhor desempenho de várias habilidades do processamento auditivo, bem como o treinamento musical em crianças promoveu uma maturidade acelerada do processamento auditivo e a exposição à música facilitou o aprendizado das informações auditivas nos recém-nascidos.

Conclusão:

Considerando as evidências científicas, constatou-se que a experiência musical pode aprimorar habilidades específicas do processamento auditivo central, independentemente da idade, o que aprimora o desenvolvimento linguístico das crianças.

PALAVRAS-CHAVE
Música; Audição; Vias auditivas; Percepção auditiva; Potenciais evocados auditivos

Introdução

Segundo Bréscia,11 Brescia VP. Educação Musical:. bases psicológicas e ação preventiva. 2nd rev: Alínea;. 2003:148. as primeiras civilizações usavam a música em todos os seus rituais, como no nascimento e na morte. A música estimula o estado físico, emocional, cognitivo e social das pessoas. Exames de imagem demonstram atividade em partes do cérebro, em áreas associadas a audição e emoções, quando entram em contato com a música,22 Todres ID. Music is medicine for the heart. J Pediatr (Rio J). 2006;82:166-8. e quando se toca um instrumento musical, são criadas conexões neurais, que ligam os dois hemisférios cerebrais, que começam a atuar em conjunto.33 Rizzo SC, Fernandes E. Neurociência e os benefícios da música para o desenvolvimento cerebral e a educação escolar. RPGM. 2018;1:13-20.

O processamento auditivo central (PAC) refere-se a uma série de processos envolvidos na detecção e na reação aos sons recebidos e envolve predominantemente as estruturas do sistema nervoso central (SNC).44 Pereira LD. Avaliação do processamento auditivo central. In: Lopes Filho O, editor. Novo Tratado de Fonoaudiologia. 3a ed. Barueri: Manole; 2013. p. 179-95. Porém, para que a decodificação ocorra de forma correta é necessário que as habilidades auditivas estejam íntegras e eficazes.55 Martins JS, Pinheiro MMC, Blasi HF. A utilização de um software infantil na terapia fonoaudiológica de Distúrbio do Processamento Auditivo Central. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2008;13:398-404. Observa-se que alterações nesse sistema podem levar a dificuldades de aprendizagem, de entendimento e atraso na linguagem.66 Sartori AA, Delecrode CR, Cardoso ACV. Processamento auditivo (central) em escolares das séries iniciais de alfabetização. CoDAS. 2019;31:e20170237.

O PAC conta com habilidades de reconhecimento e localização sonora, compartilhamento de atenção entre dois estímulos, seleção de um estímulo auditivo na presença de ruído de fundo, diferenciação da variação de frequência, intensidade e duração do som, além de perceber diferenças e semelhanças entre sons verbais.77 Engel AC, Bueno CD, Sleifer P. Treinamento musical e habilidades do processamento auditivo em crianças: revisão sistemática. Audiol Commun Res. 2019;24:e2116. A prática musical é considerada uma ótima forma de estimular essas habilidades,88 Boécha EM. Sistema auditivo nervoso central: plasticidade e desenvolvimento. In: Boéchat EM, Menezes PL, Couto CM, Frizzo ACF, Scharlach RC, Anastásio ART, editors. Tratado de audiologia. Rio de Janeiro: Santos; 2015.p. 15-20. torna-se uma aliada no tratamento e na prevenção de alguns distúrbios.99 Mendonça JE, Lemos SMA. Relações entre prática musical, processamento auditivo e apreciação musical em crianças de cinco anos. Revista da ABEM. 2010;18:58-66.,1010 Eugênio ML, Escalda J, Lemos SMA. Desenvolvimento cognitivo, auditivo e linguístico em crianças expostas à música: produção de conhecimento nacional e internacional. Rev CEFAC. 2012;14:992-1003.

A integridade do processamento auditivo é um pré-requisito para o desenvolvimento das habilidades linguísticas. Relata-se que a experiência musical interfere positivamente no desenvolvimento global infantil, bem como nas habilidades metalinguísticas.1010 Eugênio ML, Escalda J, Lemos SMA. Desenvolvimento cognitivo, auditivo e linguístico em crianças expostas à música: produção de conhecimento nacional e internacional. Rev CEFAC. 2012;14:992-1003.,1111 Carvalho NG, Novelli CV, Colella-Santos MF. Fatores na infância e adolescência que podem influenciar o processamento auditivo: revisão sistemática. Rev CEFAC. 2015;17:1590-603. Destaca-se a experiência musical que poderá promover o aprimoramento das habilidades do processamento auditivo e da consciência fonológica em crianças de 5 anos.1212 Escalda J, Lemos SMA, França CC. Habilidades de processamento auditivo e consciência fonológica em crianças de cinco anos com e sem experiência musical. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:258-63.

Pesquisas sugerem uma plasticidade cerebral induzida pela prática da música e, portanto, uma diferença funcional e estrutural nas áreas auditivas cerebrais de músicos quando comparadas às de não músicos,1313 Pantev C, Oostenveld R, Engelien A, Ross B, Roberts LE, Hoke M. Increased auditory cortical representation in musicians. Nature. 1998;392:811-14.

14 Gaser C, Schlaug G. Brain structures differ between musicians and nonmusicians. J Neurosci. 2003;23:9240-45.

15 Lappe C, Herholz S, Trainor L, Pantev C. Cortical plasticity induced by short-term unimodal and multimodal musical training. J Neurosci. 2008;28:9632-9.
-1616 Lappe C, Trainor L, Herholz S, Pantev C. Cortical plasticity induced by short-term multimodal musical rhythm training. PLoS One. 2011;6:21493. pode indicar um processamento mais rápido dos estímulos auditivos, denotado, por exemplo, pela latência diminuída e amplitude maior do P3 na referida população.1717 George EM, Coch D. Music training and working memory: an ERP study. Neuropsychologia. 2011;49:1083-94.

Estudos recentes evidenciaram que a prática e o treinamento musical aprimoram as habilidades de processamento auditivo,77 Engel AC, Bueno CD, Sleifer P. Treinamento musical e habilidades do processamento auditivo em crianças: revisão sistemática. Audiol Commun Res. 2019;24:e2116.,1818 Alves WA, Rei TG, Boscolo CC, Donicht G. Influência da prática musical em habilidades do processamento auditivo central: uma revisão sistemática. Distúrb Comun. 2018;30:364-75. mostram-se eficazes e com potencialidades para serem usados em crianças a fim de auxiliar na aquisição das habilidades auditivas, bem como para aprimorá-las.77 Engel AC, Bueno CD, Sleifer P. Treinamento musical e habilidades do processamento auditivo em crianças: revisão sistemática. Audiol Commun Res. 2019;24:e2116.

A partir do exposto, a presente pesquisa apresenta como objetivo principal e norteador verificar as evidências científicas sobre as implicações da prática musical no processamento auditivo central, com vistas a responder à seguinte pergunta de pesquisa: “Quais as implicações da prática musical no processamento auditivo central?”

Método

Protocolo e registro

A presente revisão sistemática foi conduzida conforme as recomendações PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses).1919 Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M, et al. Preferred reporting items for systematic review and meta-analysis protocols (PRISMA-P) 2015 statement. Syst Rev. 2015;4:1.

As buscas por artigos científicos foram conduzidas por dois pesquisadores independentes nas bases de dados eletrônicas Medline (Pubmed), Lilacs, SciELO, Scopus, Web of Science e Bireme, sem restrição de idioma, período e localização. A pesquisa foi estruturada e organizada na forma PICOS, que representa um acrônimo para população alvo, intervenção, comparação, outcomes (desfechos) e study type (tipo de estudo). População de interesse ou problema de saúde (P) corresponde a pacientes; intervenção (I) diz respeito à música; comparação (C) corresponde à exposição à prática musical; outcomes (O) refere-se ao PAC; e os tipos de estudos admitidos (S) foram estudo descritivo, estudo transversal, estudo observacional, relatos de caso, estudos de caso-controle, ensaios clínicos controlados e estudos de coorte (tabela 1).

Tabela 1
Descrição dos componentes do PICOS

Estratégia de pesquisa

Os descritores foram selecionados a partir do dicionário em ciências da saúde (DeCS) e Medical Subject Heading Terms (MeSH), considerou-se seu grande uso pela comunidade científica para a indexação de artigos na base de dados PubMed. Diante da busca dos descritores, foi feita a adequação para as outras bases usadas. Em um primeiro momento foi proposta para as buscas a seguinte combinação de descritores: (music) and (auditory processing) and (central nervous system). A busca ocorreu de forma concentrada em julho de 2020.

Critérios de elegibilidade

Os desenhos dos estudos admitidos inicialmente foram dos tipos descritivo, transversal, observacional, de caso-controle, de coorte, relatos de caso e ensaios clínicos controlados. Foram incluídos estudos sem restrição de idioma, período e localização. A tabela 2 representa os critérios de inclusão e exclusão desenvolvidos nesta pesquisa. Os estudos obtiveram pontuação maior do que 6 no protocolo modificado de Pithon et al.2020 Pithon MM, Sant’Anna LIDA, Baião FCS, Santos RL, Coqueiro RS, Maia LC. Assessment of the effectiveness of mouthwashes in reducing cariogenic biofilm in orthodontic patients: a systematic review. J Dent. 2015;43:297-308. para avaliação da qualidade.

Tabela 2
Síntese dos critérios de inclusão/exclusão

Risco de viés

A qualidade dos métodos usados nos estudos incluídos foi avaliada pelos revisores de forma independente (PH, CHB e LFG), de acordo com a recomendação PRISMA.1919 Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M, et al. Preferred reporting items for systematic review and meta-analysis protocols (PRISMA-P) 2015 statement. Syst Rev. 2015;4:1. A avaliação priorizou a descrição clara das informações. Neste ponto, a revisão foi feita às cegas, mascarou os nomes dos autores e revistas, evitaram-se quaisquer vieses potenciais e conflitos de interesse.

Critérios de exclusão

Foram excluídos estudos publicados no formato de cartas ao editor, diretrizes, revisões de literatura, revisões narrativas, revisões sistemáticas, metanálises e resumos. E estudos que não tivesse descrição ou que foram pouco claros ou, ainda, indisponíveis na íntegra, representados na tabela 2.

Análise dos dados

A extração dos dados para o processo de elegibilidade dos estudos foi feita com uma ficha própria para revisão sistemática elaborada por dois pesquisadores em Programa Excel®, na qual os dados extraídos foram adicionados inicialmente por um dos pesquisadores e, então, conferidos por outro pesquisador. Primeiramente foram selecionados de acordo com o título; em seguida, os resumos foram analisados e apenas os que fossem potencialmente elegíveis foram selecionados. Com base nos resumos, os artigos foram selecionados para leitura integral, foram admitidos os que atendiam a todos os critérios pré-determinados. Em caso de desacordo entre avaliadores, um terceiro avaliador tomou a decisão sobre a elegibilidade do estudo em questão.

Forma de seleção dos estudos

Inicialmente os revisores de elegibilidade (CHB e LFG) foram calibrados para a revisão sistemática por FSAP, KMP e PH. Após a calibração e esclarecimentos de dúvidas, os títulos e resumos foram examinados por dois revisores de elegibilidade (CHB e LFG), de forma independente, os quais não estavam cegos para o nome dos autores e das revistas. Aqueles que apresentaram um título dentro do âmbito, mas os resumos não estavam disponíveis, também foram obtidos e analisados na íntegra.

Posteriormente, os estudos elegíveis preliminarmente tiveram o texto completo obtido e avaliado. Em casos específicos, quando o estudo com potencial de elegibilidade apresentasse dados incompletos, os autores foram contatados por e-mail para mais informações. Na inexistência de acordo entre os revisores, um terceiro (PH) foi envolvido para a decisão final.

Dados coletados

Após a triagem, os textos dos artigos selecionados foram revisados e extraídos de forma

padronizada por dois autores (CHB e LFG) sob a supervisão de KMP, FSAP e PH, identificaram-se ano de publicação, local da pesquisa, idioma de publicação, tipo de estudo, amostra, método, resultado e conclusão.

Resultado clínico

O resultado clínico de interesse consistiu em analisar o efeito da música no processamento auditivo. Aqueles que não usaram a abordagem do efeito da música no processamento auditivo não fizeram parte da amostra da revisão de literatura.

Resultados

A partir dos descritores eleitos, os bancos de dados foram consultados e foram obtidos os resultados que estão na tabela 3.

Tabela 3
Classificação das referências obtidas nas bases de dados Pubmed, Scielo, Lilacs, Web of Science e Scopus

Inicialmente foram encontradas 1.362 publicações, das quais, 1.338 foram excluídas na triagem do título, 15 excluídas pelo resumo, sendo nove artigos analisados na íntegra e quatro deles excluídos após análise, pois não responderam aos critérios de inclusão propostos para esta pesquisa. Assim, foram admitidos para este estudo cinco publicações (fig. 1).

Figura 1
Fluxograma do processo de busca e análise dos artigos.Fonte: Desenvolvido pelos autores.

Os desenhos dos estudos admitidos são do tipo transversal e longitudinal, todos com pontuação 11 no protocolo modificado de Pithon et al.,2020 Pithon MM, Sant’Anna LIDA, Baião FCS, Santos RL, Coqueiro RS, Maia LC. Assessment of the effectiveness of mouthwashes in reducing cariogenic biofilm in orthodontic patients: a systematic review. J Dent. 2015;43:297-308. que avalia criteriosamente a qualidade das publicações. Os dados extraídos dos estudos foram feitos de forma descritiva e comparativa.

Com relação à descrição dos resultados dos artigos elegíveis neste estudo, as informações foram apresentadas em formato detalhado. Os potenciais analisados nas avaliações, os estímulos usados e outras informações encontram-se expostos na tabela 4.

Tabela 4
Resultado dos estudos selecionados

Em três estudos admitidos, a amostra foi composta por 20 indivíduos adultos, divididos em grupos de músicos e não músicos.2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59.

22 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84.
-2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52. Com relação à idade dos participantes, em um deles houve variação de 22 a 59 anos;2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52. em outros dois, a idade média dos músicos foi de 23 anos (DP = 2)2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59. e 42,2 anos (DP = 16,04)2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84. e dos não músicos foi de 24 anos (DP = 2)2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59. e 38,4 anos (DP = 12,03).2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84. Os outros dois estudos selecionados nesta pesquisa foram feitos com recém-nascidos (n = 21)2424 Suppanen E, Huotilainen M, Ylinen S. Rhythmic structure facilitates learning from auditory input in newborn infants. Infant Behav Dev. 2019;57:101346. e com crianças entre 6 e 7 anos (n = 7).2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14.

Enquanto os estudos feitos com adultos2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59.

22 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84.
-2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52. avaliaram o funcionamento do sistema nervoso auditivo central de músicos e não músicos, tendo em vista que os músicos já deveriam ter histórico de exposição prolongada à música, os estudos com crianças2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14. e recém-nascidos2424 Suppanen E, Huotilainen M, Ylinen S. Rhythmic structure facilitates learning from auditory input in newborn infants. Infant Behav Dev. 2019;57:101346. submeteram esses sujeitos a diferentes estímulos sonoros, a fim de verificar os efeitos dessa exposição na via auditiva.

O tempo médio de exposição à prática musical em um dos estudos feitos com adultos foi de 14 anos (DP = 2 anos);2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59. no outro, esse tempo variou de 16 a 54 anos; 80% dos músicos tinham 40 anos ou mais de exposição, todos por no mínimo 15 horas semanais;2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52. e, em um deles, o tempo de exposição dos músicos não foi apresentado, embora tenham levado esse fator em consideração ao quantificar os antecedentes e a experiência musical por meio de um questionário (Iowa Musical Background Questionnaire – IMBQ).2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84.

No estudo de Habibi et al.2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14. as crianças do grupo exposto ao treinamento musical (n = 13), por um período de 6 a 7 horas semanais no decorrer de dois anos, foram comparadas com outros dois grupos de crianças com o mesmo contexto socioeconômico, um deles envolvido em treinamento esportivo (n = 11) e outro sem envolvimento com treinamentos sistemáticos (n = 13).

Na pesquisa de Suppanen et al.,2424 Suppanen E, Huotilainen M, Ylinen S. Rhythmic structure facilitates learning from auditory input in newborn infants. Infant Behav Dev. 2019;57:101346. recém-nascidos foram submetidos a uma versão finlandesa de uma conhecida canção de ninar, gravada por uma falante nativa do idioma, em três condições diferentes, usaram-se dois versos distintos em cada condição: uma versão lida como uma canção de ninar, falada metricamente; uma versão cantada em uma determinada melodia; e uma versão lida em forma de discurso comum. Nas três condições foram registrados os potenciais relacionados a eventos auditivos dos recém-nascidos. Em seguida, foi investigado o efeito do aprendizado, introduziram-se mudanças pouco frequentes de vogal, palavra, afinação e intensidade nos trechos da fala e registraram-se as respostas neurais a eles.

As metodologias usadas pelos autores para avaliar o funcionamento da via auditiva central foram diversas, incluíram avaliações comportamentais/psicoacústicas2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84.,2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52.,2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14. e eletrofisiológicas.2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59.,2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52.,2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14. Entre os exames comportamentais usados constataram-se testes de compreensão de fala no ruído, discriminação de pitch,2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84.,2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52. reconhecimento do timbre (tarefa em conjunto fechado),2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84. discriminação de tons/ritmos,2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14. além dos testes Gaps-In-Noise (GIN) e Modulação de Amplitude Sinusoidal (SAM).2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52. Os exames eletrofisiológicos, usados nos cinco estudos selecionados,2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59.

22 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84.

23 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52.

24 Suppanen E, Huotilainen M, Ylinen S. Rhythmic structure facilitates learning from auditory input in newborn infants. Infant Behav Dev. 2019;57:101346.
-2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14. dizem respeito ao registro de Potenciais Relacionados a Eventos (PRE) ou potenciais cognitivos, que são amplamente usados para avaliar o desenvolvimento do sistema auditivo central e permitem a identificação de etapas do processo sensorial e cognitivo em resposta a estímulos auditivos. Os potenciais analisados, bem como os estímulos usados, encontram-se expostos na tabela 4.

Quanto aos resultados obtidos nos estudos admitidos desenvolvidos com adultos, evidenciou-se correlação significativa entre a habilidade musical e as latências de P3, as latências obtidas em músicos foram menores do que as registradas em não músicos,2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59. além de as amplitudes das respostas corticais serem maiores.2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84. Os músicos demonstraram ser capazes de detectar mudanças menores no tom quando comparados aos não músicos.2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84. Além disso, os músicos comprovaram ter mais capacidade de discriminar sinais acústicos espectralmente complexos do que os não músicos.2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84. Um dos estudos constatou ainda que os músicos demonstraram melhor reconhecimento de fala no ruído (voz alvo e voz competitiva iguais, incididas a 0°), além de superar significativamente os não músicos na tarefa de discriminação de frequência.2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52.

O estudo feito com crianças constatou que o treinamento musical, por um período de dois anos, pode resultar em alterações cerebrais específicas e impactar positivamente no desenvolvimento das habilidades auditivas, visto que os resultados mostram uma capacidade aprimorada de detectar alterações no ambiente tonal e maturidade acelerada do processamento auditivo das crianças submetidas ao treinamento musical.2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14.

Quanto aos efeitos da música nos recém-nascidos expostos a uma conhecida canção de ninar em três diferentes condições (falada metricamente; cantada, com melodia e lida como discurso), pôde-se constatar que a estrutura rítmica da canção para dormir facilitou o aprendizado dos recém-nascidos com informações auditivas e, portanto, pode ser benéfico para o desenvolvimento da linguagem. Vale ressaltar que esse efeito não foi encontrado mediante a outra música apresentada.2424 Suppanen E, Huotilainen M, Ylinen S. Rhythmic structure facilitates learning from auditory input in newborn infants. Infant Behav Dev. 2019;57:101346.

Discussão

Os estudos admitidos nesta revisão sistemática convergem no que diz respeito aos efeitos da música ou treinamento musical, infere-se que esses aprimoram as habilidades do processamento auditivo, além de causar mudanças corticais que, em crianças e recém-nascidos, favorecem o aprendizado e o desenvolvimento da linguagem, corroboram o constatado em outras publicações.77 Engel AC, Bueno CD, Sleifer P. Treinamento musical e habilidades do processamento auditivo em crianças: revisão sistemática. Audiol Commun Res. 2019;24:e2116.,1212 Escalda J, Lemos SMA, França CC. Habilidades de processamento auditivo e consciência fonológica em crianças de cinco anos com e sem experiência musical. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:258-63.,2626 Kraus N, Strait DL. Emergence of biological markers of musicianship with school-based music instruction. Ann N Y Acad Sci. 2015;1337:163-9.,2727 Slater J, Skoe E, Strait DL, O’Connell S, Thompson E, Kraus N. Music training improves speech-in-noise perception: Longitudinal evidence from a community-based music program. Behav Brain Res. 2015;291:244-52.

A literatura aponta que a prática musical influencia positivamente as habilidades do PAC99 Mendonça JE, Lemos SMA. Relações entre prática musical, processamento auditivo e apreciação musical em crianças de cinco anos. Revista da ABEM. 2010;18:58-66.,1818 Alves WA, Rei TG, Boscolo CC, Donicht G. Influência da prática musical em habilidades do processamento auditivo central: uma revisão sistemática. Distúrb Comun. 2018;30:364-75. e pode ser considerada como uma ferramenta para melhorar essas habilidades, torna-se um fator de proteção em relação a distúrbios de desenvolvimento, em especial àqueles relacionados ao desenvolvimento de fala e linguagem.99 Mendonça JE, Lemos SMA. Relações entre prática musical, processamento auditivo e apreciação musical em crianças de cinco anos. Revista da ABEM. 2010;18:58-66.

As amostras dos estudos admitidos nesta revisão sistemática foram compostas por adultos, crianças de 6 a 7 anos e por neonatos, pois não consistia em um critério de exclusão a faixa etária. Outros estudos feitos com o intuito de verificar os efeitos da música, bem como do treinamento musical em populações de adultos1717 George EM, Coch D. Music training and working memory: an ERP study. Neuropsychologia. 2011;49:1083-94.,2828 Soncini F, Costa MJ. Efeito da prática musical no reconhecimento da fala no silêncio e no ruído. Pró-Fono R Atual Cient. 2006;18:161-70.

29 Nascimento FM, Monteiro RAM, Soares CD, Ferreira MID. Temporal Sequencing Abilities in Musicians Violinists and Non-Musicians. Intl Arch Otorhinolaryngology. 2010;14:217-24.

30 Moreno S, Wodniecka Z, Tays W, Alain C, Bialystok E. Inhibitory control in bilinguals and musicians: event related potential (ERP) evidence for experience-specific effects. PLoS One. 2014;9:e94169.

31 Mishra SK, Panda MR, Herbert C. Enhanced auditory temporal gap detection in listeners with musical training. J Acous Soc Am. 2014;136:EL173-8.

32 Rabelo CM, Neves-Lobo IF, Rocha-Muniz CN, Ubiali T, Schochat E. Cortical inhibition effect in musicians and non-musicians using P300 with and without contralateral stimulation. Braz J Otorhinolaryngol. 2015;81:63-70.
-3333 Ribeiro ACM, Coelho SR, Canina PMM. Avaliação dos aspectos temporais em cantores populares. CoDAS. 2015;27:520-5. e crianças,77 Engel AC, Bueno CD, Sleifer P. Treinamento musical e habilidades do processamento auditivo em crianças: revisão sistemática. Audiol Commun Res. 2019;24:e2116.,1212 Escalda J, Lemos SMA, França CC. Habilidades de processamento auditivo e consciência fonológica em crianças de cinco anos com e sem experiência musical. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:258-63.,2626 Kraus N, Strait DL. Emergence of biological markers of musicianship with school-based music instruction. Ann N Y Acad Sci. 2015;1337:163-9.,2727 Slater J, Skoe E, Strait DL, O’Connell S, Thompson E, Kraus N. Music training improves speech-in-noise perception: Longitudinal evidence from a community-based music program. Behav Brain Res. 2015;291:244-52.,3434 Moreno S, Marques C, Santos A, Santos M, Castro SL, Besson M. Musical training influences linguistic abilities in 8-year-old children: more evidence for brain plasticity. Cereb Cortex. 2009;19:712-23.

35 Putkinen V, Tervaniemi M, Saarikivi K, Ojala P, Huotilainen M. Enhanced development of auditory change detection in musically trained school-aged children: a longitudinal event-related potential study. Dev Sci. 2014;17:282-97.
-3636 Moreno S, Lee Y, Janus M, Bialystok E. Short-term second language and music training induces lasting functional brain changes in early childhood. Child Dev. 2015;86:394-406. foram evidenciados na literatura. No geral, os estudos com crianças fazem a exposição a música/treinamento musical no período do estudo, enquanto os estudos com adultos avaliam os efeitos da música que já é presente no dia a dia dos sujeitos, há muitos anos.

A literatura sobre os efeitos da música, bem como do treinamento musical no processamento auditivo de adultos, é ampla, é constatada uma superioridade nas habilidades de ordenação temporal,2929 Nascimento FM, Monteiro RAM, Soares CD, Ferreira MID. Temporal Sequencing Abilities in Musicians Violinists and Non-Musicians. Intl Arch Otorhinolaryngology. 2010;14:217-24. reconhecimento de fala no ruído2828 Soncini F, Costa MJ. Efeito da prática musical no reconhecimento da fala no silêncio e no ruído. Pró-Fono R Atual Cient. 2006;18:161-70. e resolução temporal,3131 Mishra SK, Panda MR, Herbert C. Enhanced auditory temporal gap detection in listeners with musical training. J Acous Soc Am. 2014;136:EL173-8. quando comparado ao desempenho de não músicos, além de os músicos demonstrarem superioridade em subtestes padronizados de memória visual, fonológica e executiva.1717 George EM, Coch D. Music training and working memory: an ERP study. Neuropsychologia. 2011;49:1083-94. Estudo desenvolvido com 30 cantores populares de bandas comparou o desempenho nas habilidades auditivas de resolução e ordenação temporal entre indivíduos que cantam e tocam instrumento(s) musical(is) (n = 15) com o desempenho dos que somente cantam (n = 15) e constatou que os cantores populares que tocam instrumentos musicais apresentam melhor desempenho nas referidas habilidades.3333 Ribeiro ACM, Coelho SR, Canina PMM. Avaliação dos aspectos temporais em cantores populares. CoDAS. 2015;27:520-5.

Outra pesquisa, conduzida com 43 adultos entre 18 e 38 anos divididos em três grupos, dos quais um era composto por adultos bilíngues não músicos (n = 15), o outro por músicos monolíngues de língua inglesa (n = 13) e o grupo controle, por falantes monolíngues de inglês (n = 15), evidenciou que o bilinguismo e o treinamento musical têm efeitos diferenciais nas redes cerebrais.3030 Moreno S, Wodniecka Z, Tays W, Alain C, Bialystok E. Inhibitory control in bilinguals and musicians: event related potential (ERP) evidence for experience-specific effects. PLoS One. 2014;9:e94169.

Ao avaliar a latência e a amplitude do P300, na ausência e na presença de ruído contralateral em músicos (n = 30; entre 20 e 53 anos) e não músicos (n = 25; entre 18 e 30 anos), pesquisadores encontraram um maior efeito de inibição nos músicos em comparação com os não músicos, evidenciaram que o sistema nervoso auditivo central de músicos apresenta particularidades características devido à prática musical à qual estão constantemente expostos.3232 Rabelo CM, Neves-Lobo IF, Rocha-Muniz CN, Ubiali T, Schochat E. Cortical inhibition effect in musicians and non-musicians using P300 with and without contralateral stimulation. Braz J Otorhinolaryngol. 2015;81:63-70. Esse potencial também foi estudado em pesquisa desenvolvida com 32 universitários entre 18 e 24 anos, divididos em músicos e não músicos, cujos músicos deveriam estudar algum instrumento por um longo período (entre 9 e 16 anos), com início da prática ainda na infância (entre 5 e 10 anos). Os músicos demonstraram uma atualização mais rápida da memória de trabalho (P300 de menor latência) nos domínios visual e auditivo e alocaram mais recursos neurais aos estímulos auditivos (maior amplitude P300), demonstraram que o treinamento musical em longo prazo está relacionado a melhorias na memória de trabalho, tanto no domínio auditivo quanto no visual.1717 George EM, Coch D. Music training and working memory: an ERP study. Neuropsychologia. 2011;49:1083-94.

Em consonância com o obtido na população adulta, bem como com os achados do estudo feito com crianças de 6 a 7 anos, inserido nesta pesquisa,2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14. resultado de outro estudo conduzido com crianças de 5 anos evidenciou que a experiência musical promoveu o aprimoramento de habilidades auditivas e metalinguísticas,1212 Escalda J, Lemos SMA, França CC. Habilidades de processamento auditivo e consciência fonológica em crianças de cinco anos com e sem experiência musical. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:258-63. assim como há evidências de que o treinamento musical influencia positivamente as habilidades de leitura e percepção de fala no ruído, além de provocar respostas neurais mais rápidas.2626 Kraus N, Strait DL. Emergence of biological markers of musicianship with school-based music instruction. Ann N Y Acad Sci. 2015;1337:163-9.

Outros resultados revelam efeitos positivos da música na transferência entre domínios cognitivos, na população infantil,3434 Moreno S, Marques C, Santos A, Santos M, Castro SL, Besson M. Musical training influences linguistic abilities in 8-year-old children: more evidence for brain plasticity. Cereb Cortex. 2009;19:712-23.,3737 Magne C, Schön D, Besson M. Musician Children Detect Pitch Violations in Both Music and Language Better than Nonmusician Children: Behavioral and Electrophysiological Approaches. J Cogn Neurosci. 2006;18:199-211. visto que o treinamento musical aumenta a sensibilidade a um parâmetro acústico básico específico, a afinação, que é igualmente importante para a prosódia da música e da fala, aprimora a capacidade das crianças de detectar alterações na afinação não apenas na música, mas também no idioma.3737 Magne C, Schön D, Besson M. Musician Children Detect Pitch Violations in Both Music and Language Better than Nonmusician Children: Behavioral and Electrophysiological Approaches. J Cogn Neurosci. 2006;18:199-211. Ao comparar o desempenho de crianças de 5 anos com e sem prática musical, destaca-se que a prática musical exerceu influência positiva sobre as habilidades auditivas de ordenação temporal, localização sonora e apreciação musical.99 Mendonça JE, Lemos SMA. Relações entre prática musical, processamento auditivo e apreciação musical em crianças de cinco anos. Revista da ABEM. 2010;18:58-66.

Há evidência longitudinal de que a percepção da fala no ruído, de crianças, melhora após treinamento musical em grupo por um período de 2 anos.2727 Slater J, Skoe E, Strait DL, O’Connell S, Thompson E, Kraus N. Music training improves speech-in-noise perception: Longitudinal evidence from a community-based music program. Behav Brain Res. 2015;291:244-52. Entretanto, pesquisadores constataram que 6 meses de treinamento musical já foram suficientes para melhorar significativamente o comportamento e influenciar o desenvolvimento de processos neurais, em crianças de 8 anos, fortaleceram as teorias sobre a plasticidade cerebral ao mostrar que períodos relativamente curtos de treinamento têm fortes consequências na organização funcional do cérebro das crianças.3434 Moreno S, Marques C, Santos A, Santos M, Castro SL, Besson M. Musical training influences linguistic abilities in 8-year-old children: more evidence for brain plasticity. Cereb Cortex. 2009;19:712-23.

O benefício duradouro do treinamento musical foi evidenciado em estudo conduzido com crianças entre 4 e 6 anos, no qual foi possível constatar também que novas alterações hemisféricas apareceram, um ano após o treinamento.3636 Moreno S, Lee Y, Janus M, Bialystok E. Short-term second language and music training induces lasting functional brain changes in early childhood. Child Dev. 2015;86:394-406. Assim, a educação musical tem um papel importante no desenvolvimento infantil, bem como o treinamento em música é capaz de moldar também habilidades imprescindíveis no desenvolvimento social e acadêmico.2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14.

As evidências encontradas no estudo feito com recém-nascidos inferem que a ocorrência simultânea de pistas prosódicas exageradas e itens a serem aprendidos parece ajudar os neonatos a processar a entrada da linguagem, corrobora o constatado em estudos anteriores.3838 Curtin S, Campbell J, Hufnagle D. Mapping novel labels to actions: How the rhythm of words guides infants’ learning. J Exp Child Psychol. 2012;112:127-40.,3939 Spinelli M, Fasolo M, Mesman J. Does prosody make the difference?. A meta-analysis on relations between prosodic aspects of infant-directed speech and infant outcomes. Developmental Review. 2017;44:1-18. Para Schon e Tillmann,4040 Schon D, Tillmann B. Short-And Long-Term Rhythmic Interventions: Perspectives for Language Rehabilitation. Ann N Y Acad Sci. 2015;1337:32-9. as rimas em músicas infantis são estímulos auditivos naturais para os recém-nascidos, aprimoram o processamento fonológico. A ausência de indícios de aprendizado nos neonatos mediante uma música apresentada em uma determinada melodia, que não como uma canção de ninar, pode ser em virtude de a melodia não incluir variação suficiente de afinação ou em decorrência da situação desafiadora imposta pelo aprendizado simultâneo da melodia e do conteúdo fonético, e não apenas pelo conteúdo fonético.2424 Suppanen E, Huotilainen M, Ylinen S. Rhythmic structure facilitates learning from auditory input in newborn infants. Infant Behav Dev. 2019;57:101346.

Embora nenhum dos estudos selecionados para esta pesquisa tenha sido feito com a população idosa, há relatos na literatura sobre os benefícios do treinamento musical nas habilidades do processamento auditivo de idosos não protetizados4141 Zendel BR, West GL, Belleville S, Peretz I. Musical training improves the ability to understand speech-in-noise in older adults. Neurobiol Aging. 2019;81:102-15. e usuários de próteses auditivas.4242 Freire KGM. Treinamento auditivo musical: uma proposta para idosos usuários de próteses auditivas [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2009.

43 Hennig TR, Costa MJ, Rossi AG, Moraes AB. Efeitos da reabilitação auditiva na habilidade de ordenação temporal em idosos usuários de próteses auditivas. J Soc Bras Fonoaudiol. 2012;4:26-33.
-4444 Lessa AH, Hennig TR, Costa MJ, Rossi AG. Resultados da reabilitação auditiva em idosos usuários de próteses auditivas avaliados com teste dicótico. CoDAS. 2013;25:169-75. Estudo desenvolvido com idosos designados aleatoriamente para aprender a tocar piano (música), aprender a jogar um videogame (vídeo) ou a servir como controle (sem contato) constatou que após 6 meses o grupo que aprendeu a tocar piano melhorou sua capacidade de entender palavras apresentadas mediante ruído de fundo, enquanto os outros dois grupos, não. É importante ressaltar que esses achados sugerem que o treinamento musical pode ser usado como base para o desenvolvimento de programas de reabilitação auditiva para idosos.4141 Zendel BR, West GL, Belleville S, Peretz I. Musical training improves the ability to understand speech-in-noise in older adults. Neurobiol Aging. 2019;81:102-15.

Outro efeito importante da música foi constatado em estudo que avaliou as habilidades de processamento auditivo ao longo da vida em músicos (n = 74) e não músicos (n = 89), entre 18 e 91 anos, e demonstrou que os músicos experimentam menor declínio relacionado à idade em tarefas auditivas como detecção de gaps e compreensão de fala no ruído.4545 Zendel BR, Alain C. Musicians experience less age-related decline in central auditory processing. Psychol Aging. 2012;27:410-7. As diferenças entre músicos e não músicos em relação às medidas comportamentais e eletrofisiológicas aumentam a crescente literatura sobre plasticidade dependente da experiência em músicos.2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52.

Pesquisas indicam que há diferenças estruturais entre cérebros de músicos e não músicos, entre as quais se encontram o maior volume do córtex auditivo, maior concentração de massa cinzenta no córtex motor, maior corpo caloso anterior. Estudos que envolveram neuroplasticidade indicam correlação entre tempo de estudo musical e as diferenças estruturais. Além disso, é possível que haja um período crítico relacionado a essas mudanças, indicaria uma possível correlação entre idade em que se começou a estudar música e as mudanças estruturais cerebrais.4646 Zatorre RJ, Chen JL, Penhume VB. When the brain plays music: auditory-motor interactions in music perception and production. Nat Rev Neurosci. 2007;8:547-58.,4747 Schlaug G, Jancke L, Huang Y, Staigeri JF, Steinmetz H. Increased corpus callosum size in musicians. Neuropsychologia. 1995;33:1047-55.

Buscando compreender a correlação entre estudo musical e aumento do corpo caloso, foi desenvolvida uma pesquisa com crianças de 5 a 7 anos, divididas em três grupos, um com prática semanal de instrumento musical de uma a 2 horas, um com prática semanal de 2 a 5 horas e um controle que não teve aulas de música. No início do estudo não havia diferenças entre os volumes dos corpos calosos dos sujeitos. Após 29 semanas de prática havia diferença significativa entre o tamanho do corpo caloso das crianças dos três grupos, foi evidenciado um aumento maior do corpo caloso nas crianças com mais tempo de prática musical.4848 Schlaug G, Forgeard M, Zhu L, Norton A, Norton A, Winner E. Training-induced neuroplasticity in young children. Ann N Y Acad Sci. 2009;1169:205-8.

Outro estudo semelhante conduzido com 31 crianças divididas em dois grupos, um deles (n = 15) submetido a aulas de teclado por 15 meses e o grupo controle, que não recebeu treinamento musical instrumental, somente participou de aulas semanais de música em grupo na escola, constatou diferenças em regiões como giro pré-central direito (área motora relacionada a movimento de mãos), corpo caloso e giro de Heschl (área auditiva primária),4949 Hyde KL, Lerch J, Norton A, Forgeard M, Winner E, Evans AC, Schlaug G. The effects of musical training on structural brain development. Ann N Y Acad Sci. 2009;1169:182-6. achados que indicam uma forte possibilidade da indução da plasticidade cerebral por meio da música.

Alterações cerebrais estruturais após treinamento musical na primeira infância, por um curto período (15 meses), foram correlacionadas com melhorias nas habilidades motoras e auditivas. Essas descobertas lançam luz sobre a plasticidade cerebral e sugerem que diferenças estruturais evidenciadas no cérebro em especialistas adultos provavelmente se devem à plasticidade cerebral induzida pelo treinamento.4949 Hyde KL, Lerch J, Norton A, Forgeard M, Winner E, Evans AC, Schlaug G. The effects of musical training on structural brain development. Ann N Y Acad Sci. 2009;1169:182-6. Putkinen et al.,3535 Putkinen V, Tervaniemi M, Saarikivi K, Ojala P, Huotilainen M. Enhanced development of auditory change detection in musically trained school-aged children: a longitudinal event-related potential study. Dev Sci. 2014;17:282-97. ao encontrar um aumento nas amplitudes de MMN e P3a com o aumento da idade em crianças musicalmente treinadas, não sendo estes aumentos evidentes nos estágios iniciais do treinamento, sugeriram que a discriminação auditiva neural superior em músicos adultos se deve ao treinamento, e não a diferenças preexistentes entre músicos e não músicos.

Quanto aos procedimentos usados para avaliar o processamento auditivo nos estudos eleitos para esta pesquisa, constatou-se que dois deles usaram somente avaliação eletrofisiológica (PRE),2121 Faßhauer C, Frese A, Evers S. Musical ability is associated with enhanced auditory and visual cognitive processing. BMC Neurosci. 2015;16:59.,2424 Suppanen E, Huotilainen M, Ylinen S. Rhythmic structure facilitates learning from auditory input in newborn infants. Infant Behav Dev. 2019;57:101346. enquanto os outros três empregaram procedimentos comportamentais associados à avaliação eletrofisiológica.2222 Brown CJ, Jeon EK, Driscoll V, Mussoi B, Deshpande SB, Gfeller K, et al. Effects of Long-Term Musical Training on Cortical Auditory Evoked Potentials. Ear Hear. 2017;38:e74-84.,2323 Meha-Bettison K, Sharma M, Ibrahim RK, Vasuki PRM. Enhanced speech perception in noise and cortical auditory evoked potentials in professional musicians. Int J Audiol. 2018;57:40-52.,2525 Habibi A, Cahn BR, Damasio A. Neural correlates of accelerated auditory processing in children engaged in music training. Dev Cogn Neurosci. 2016;21:1-14. Assim, em todos os estudos foram pesquisados os PRE, os quais constituem um instrumento valioso para estudar a atividade neuronal gerada durante o processamento de novas informações.5050 Pooviboonsuk P, Dalton JA, Curran HV, Lader MH. The effects of single doses of lorazepam on event-related potentials and cognitive function. Hum Psychopharmacol. 1996;11:241-52.

Corroborando esses achados, vários estudos que pesquisaram os efeitos da música e do treinamento musical, contidos na literatura, também usaram procedimentos eletrofisiológicos isoladamente, por meio do registro e análise dos potenciais relacionados a eventos,3030 Moreno S, Wodniecka Z, Tays W, Alain C, Bialystok E. Inhibitory control in bilinguals and musicians: event related potential (ERP) evidence for experience-specific effects. PLoS One. 2014;9:e94169.,3232 Rabelo CM, Neves-Lobo IF, Rocha-Muniz CN, Ubiali T, Schochat E. Cortical inhibition effect in musicians and non-musicians using P300 with and without contralateral stimulation. Braz J Otorhinolaryngol. 2015;81:63-70.,3535 Putkinen V, Tervaniemi M, Saarikivi K, Ojala P, Huotilainen M. Enhanced development of auditory change detection in musically trained school-aged children: a longitudinal event-related potential study. Dev Sci. 2014;17:282-97.,3636 Moreno S, Lee Y, Janus M, Bialystok E. Short-term second language and music training induces lasting functional brain changes in early childhood. Child Dev. 2015;86:394-406. bem como outras pesquisas usaram avaliação comportamental associada à eletrofisiológica.1717 George EM, Coch D. Music training and working memory: an ERP study. Neuropsychologia. 2011;49:1083-94.,3737 Magne C, Schön D, Besson M. Musician Children Detect Pitch Violations in Both Music and Language Better than Nonmusician Children: Behavioral and Electrophysiological Approaches. J Cogn Neurosci. 2006;18:199-211.,4141 Zendel BR, West GL, Belleville S, Peretz I. Musical training improves the ability to understand speech-in-noise in older adults. Neurobiol Aging. 2019;81:102-15. Entretanto, foi possível averiguar que muitos estudos foram desenvolvidos com métodos comportamentais apenas,99 Mendonça JE, Lemos SMA. Relações entre prática musical, processamento auditivo e apreciação musical em crianças de cinco anos. Revista da ABEM. 2010;18:58-66.,1212 Escalda J, Lemos SMA, França CC. Habilidades de processamento auditivo e consciência fonológica em crianças de cinco anos com e sem experiência musical. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:258-63.,2727 Slater J, Skoe E, Strait DL, O’Connell S, Thompson E, Kraus N. Music training improves speech-in-noise perception: Longitudinal evidence from a community-based music program. Behav Brain Res. 2015;291:244-52.

28 Soncini F, Costa MJ. Efeito da prática musical no reconhecimento da fala no silêncio e no ruído. Pró-Fono R Atual Cient. 2006;18:161-70.
-2929 Nascimento FM, Monteiro RAM, Soares CD, Ferreira MID. Temporal Sequencing Abilities in Musicians Violinists and Non-Musicians. Intl Arch Otorhinolaryngology. 2010;14:217-24.,3131 Mishra SK, Panda MR, Herbert C. Enhanced auditory temporal gap detection in listeners with musical training. J Acous Soc Am. 2014;136:EL173-8.,3333 Ribeiro ACM, Coelho SR, Canina PMM. Avaliação dos aspectos temporais em cantores populares. CoDAS. 2015;27:520-5. os quais se mostraram eficazes e denotam os efeitos positivos da música sobre as habilidades auditivas dos participantes. Embora os estímulos usados para evocar os PRE tenham sido diferentes, todos foram capazes de evidenciar a superioridade dos músicos nas habilidades auditivas.

O tempo médio de exposição à música nos estudos selecionados para esta revisão sistemática variou bastante e nenhum deles objetivou comparar o desempenho nas habilidades do processamento auditivo de acordo com o tempo de exposição, porém há consonância na literatura que aponta que quanto maior o tempo de exposição, mais evidentes são as melhorias nas habilidades do processamento auditivo.77 Engel AC, Bueno CD, Sleifer P. Treinamento musical e habilidades do processamento auditivo em crianças: revisão sistemática. Audiol Commun Res. 2019;24:e2116.,1717 George EM, Coch D. Music training and working memory: an ERP study. Neuropsychologia. 2011;49:1083-94.,1818 Alves WA, Rei TG, Boscolo CC, Donicht G. Influência da prática musical em habilidades do processamento auditivo central: uma revisão sistemática. Distúrb Comun. 2018;30:364-75. Entretanto, já há evidências que demonstram que períodos relativamente curtos de treinamento musical têm fortes consequências na organização funcional do cérebro, na população infantil, consolidam as teorias sobre a plasticidade cerebral.3434 Moreno S, Marques C, Santos A, Santos M, Castro SL, Besson M. Musical training influences linguistic abilities in 8-year-old children: more evidence for brain plasticity. Cereb Cortex. 2009;19:712-23.

Conclusão

Considerando as evidências científicas, constatou-se que a experiência musical pode aprimorar habilidades específicas do processamento auditivo central, independentemente da idade, aprimora o desenvolvimento linguístico das crianças. Ademais, indivíduos expostos a experiências musicais são capazes de discriminar sinais acústicos espectralmente complexos, além de experimentar uma melhoria do processamento cognitivo de curto prazo e no reconhecimento de fala no ruído.

Assim, a prática musical tem um papel importante no desenvolvimento das habilidades auditivas, molda também habilidades indispensáveis no desenvolvimento social e acadêmico.

  • Como citar este artigo: Braz CH, Gonçalves LF, Paiva KM, Haas P, Patatt FS. Implications of musical practice in central auditory processing: a systematic review. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:217–26.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Maio 2021
  • Data do Fascículo
    Mar-Apr 2021

Histórico

  • Recebido
    23 Set 2020
  • Aceito
    16 Out 2020
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