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Avaliação do nível de fragilidade em idosos participantes de um grupo de convivência

Assessment of frailty levels of older adults that participate of a senior citizen center

Resumos

A Síndrome da Fragilidade é uma condição frequente em idosos e pode ser precursora de incapacidade e quedas. Os objetivos deste estudo foram avaliar o nível de fragilidade em idosos de um Grupo de Convivência (GC) e a relação entre fragilidade, incapacidade e quedas. Participaram do estudo 64 idosos, avaliados de acordo com o Fenótipo de Fragilidade, que é composto pelos indicadores: perda de peso não intencional, auto-relato de fadiga, diminuição da força de preensão, baixo nível de atividade física e redução da velocidade da marcha. Foi considerado frágil o idoso que apresentasse três ou mais critérios, pré-frágil quem apresentasse um ou dois e não-frágil nenhum. Foram utilizadas a escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD), a escala de Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD) e questões sobre história de quedas e medo de cair. O teste Mann-Whitney U e o coeficiente de Spearman foram utilizados (a=0,05). Em relação ao nível de fragilidade, foram encontrados 21 idosos não-frágeis, 42 pré-frágeis e um frágil. Os idosos pré-frágeis apresentaram maior necessidade de assistência em ABVD (p=0,046) e AIVD (p=0,011), maior ocorrência de quedas (p=0,004) e medo de cair (p=0,007) que os não-frágeis. Foram encontradas associações significativas e fracas entre estas variáveis e o nível de fragilidade. Os resultados demonstram a importância de intervenções preventivas em idosos pré-frágeis e sugere que fragilidade e incapacidade são entidades distintas em idosos deste GC.

Idoso frágil


Frailty Syndrome is a common condition in older people and it can be a precursor of disability and falls. The aims of this study were to evaluate the level of frailty in older adults of a senior citizen center and the relation between frailty, disability and of falls. The sample was composed by 64 older adults, evaluated according to the Phenotype of Frailty, composed by five criteria: unintentional loss of weight, self-reported exhaustion, weakness, low physical activity and slow walking speed. The older adult would be considered frail if three or more criteria were present, pre-frail if one or two were present and not frail if none of these were present. The Instrumental Activities of Daily Life (IADL) Scale, the Basic Activities of Daily Life (ADL) Scale, number of falls and fear of falling were used as well. The Mann-Whitney U test and Spearman coeficient were used (α=0.05). Among older adults, 21 were considered not frail, 42 pre-frail and only one frail. Pre-frail older adults presented greater need of assistance in ADL (p=0.046) and IADL (p=0.011) and higher ocurrence of falls (p=0.004) and fear of falling (p=0.007). Weak association between these variables and the frailty level was found. The results show the importance of preventive interventions for pre-frail older adults and suggest that frailty and disability are distint entities in older adults that participate of a senior citizen center.

Frail Elderly


PESQUISA ORIGINAL ORIGINAL RESEARCH

Avaliação do nível de fragilidade em idosos participantes de um grupo de convivência

Assessment of frailty levels of older adults that participate of a senior citizen center

Lívia Viegas do CarmoI; Luciene Penna DrummondII; Paula Maria Machado ArantesIII

IAcadêmica do curso de graduação de Fisioterapia da FUNCESI, Rua Metaluzina, 396 - bairro Viúva, Barão de Cocais, MG - Brasil

IIAcadêmica do curso de graduação de Fisioterapia da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (FUNCESI), Rua Hildebrando Martins da Costa, 116 - bairro Água Fresca, Itabira, MG-Brasil

IIIMestre em Ciências da Reabilitação e Professora do curso de Fisioterapia da FUNCESI

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Lívia Viegas do Carmo Rua Metaluzina,396. B: Viúva Barão de Cocais-MG. CEP: 35.970.000. livia18_viegas@yahoo.com.br (31) 8838-8747

RESUMO

A Síndrome da Fragilidade é uma condição frequente em idosos e pode ser precursora de incapacidade e quedas. Os objetivos deste estudo foram avaliar o nível de fragilidade em idosos de um Grupo de Convivência (GC) e a relação entre fragilidade, incapacidade e quedas. Participaram do estudo 64 idosos, avaliados de acordo com o Fenótipo de Fragilidade, que é composto pelos indicadores: perda de peso não intencional, auto-relato de fadiga, diminuição da força de preensão, baixo nível de atividade física e redução da velocidade da marcha. Foi considerado frágil o idoso que apresentasse três ou mais critérios, pré-frágil quem apresentasse um ou dois e não-frágil nenhum. Foram utilizadas a escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD), a escala de Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD) e questões sobre história de quedas e medo de cair. O teste Mann-Whitney U e o coeficiente de Spearman foram utilizados (a=0,05). Em relação ao nível de fragilidade, foram encontrados 21 idosos não-frágeis, 42 pré-frágeis e um frágil. Os idosos pré-frágeis apresentaram maior necessidade de assistência em ABVD (p=0,046) e AIVD (p=0,011), maior ocorrência de quedas (p=0,004) e medo de cair (p=0,007) que os não-frágeis. Foram encontradas associações significativas e fracas entre estas variáveis e o nível de fragilidade. Os resultados demonstram a importância de intervenções preventivas em idosos pré-frágeis e sugere que fragilidade e incapacidade são entidades distintas em idosos deste GC.

Palavras-chave: Idoso frágil

ABSTRACT

Frailty Syndrome is a common condition in older people and it can be a precursor of disability and falls. The aims of this study were to evaluate the level of frailty in older adults of a senior citizen center and the relation between frailty, disability and of falls. The sample was composed by 64 older adults, evaluated according to the Phenotype of Frailty, composed by five criteria: unintentional loss of weight, self-reported exhaustion, weakness, low physical activity and slow walking speed. The older adult would be considered frail if three or more criteria were present, pre-frail if one or two were present and not frail if none of these were present. The Instrumental Activities of Daily Life (IADL) Scale, the Basic Activities of Daily Life (ADL) Scale, number of falls and fear of falling were used as well. The Mann-Whitney U test and Spearman coeficient were used (α=0.05). Among older adults, 21 were considered not frail, 42 pre-frail and only one frail. Pre-frail older adults presented greater need of assistance in ADL (p=0.046) and IADL (p=0.011) and higher ocurrence of falls (p=0.004) and fear of falling (p=0.007). Weak association between these variables and the frailty level was found. The results show the importance of preventive interventions for pre-frail older adults and suggest that frailty and disability are distint entities in older adults that participate of a senior citizen center.

Keywords: Frail Elderly

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é hoje ocorrência mundial1. No Brasil a população de 60 anos ou mais passou de 1,7 milhões em 1940 para 14,5 milhões em 20001. A velocidade do processo demográfico é um abalo econômico e de saúde e requer decisões consistentes de entidades específicas2.

Com a idade o corpo torna-se vulnerável, conferindo risco à qualidade de vida, sobrecarga de cuidadores e altos custos com saúde3. Toda essa vulnerabilidade pode estar relacionada à Síndrome da Fragilidade (SF).

As definições em relação à Síndrome da Fragilidade variam consideravelmente. Hogan et al. definem a SF como dependência em atividades de vida diária (AVD), vulnerabilidade e doenças4. Markle-Reid et al classificaram como dependência em AVD; comprometimento dos mecanismos de homeostase; déficit cognitivo; doença crônica incapacitante; envelhecimento; diminuição da força muscular; mobilidade e equilíbrio5. Bergman et al. observam que fragilidade é uma entidade multidimensional, resultante da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais no curso de vida6.

O conceito mais aceito a descreve como síndrome geriátrica de caráter biológico e natureza multifatorial caracterizada por um estado de vulnerabilidade fisiológica, por diminuição de reserva e resistência aos estressores devido declínios cumulativos dos múltiplos sistemas fisiológicos3. Para a classificação da SF, foi proposto um fenótipo com cinco indicadores: perda de peso não intencional, auto-relato de fadiga, diminuição da força de preensão, redução da atividade física, diminuição da velocidade da marcha. De acordo com o fenótipo, o idoso é frágil quando apresenta três ou mais componentes, pré-frágil um ou dois e não-frágil nenhum3. Este fenótipo apresenta validade interna e de critério7.

Existem poucos dados sobre a incidência e pre-valência da SF. Isso pode ser devido à falta de consenso de sua definição8.

A SF pode ser um precursor fisiológico e fator etiológico na incapacidade, independente de comorbidades3. Foi demonstrado que idosos frágeis apresentam risco aumentado à incapacidade, quedas, hospitalizações e morte3. Os idosos pré-frágeis se encontram em risco intermediário de apresentar estes desfechos nos próximos três ou sete anos3. Além disso, apresentam risco duas vezes maior de se tornarem frágeis3. Assim, por esta relação causal entre a SF e ocorrência de desfechos prejudiciais e a escassez dos estudos na população brasileira, é relevante avaliar suas características e prevalência em idosos brasileiros.

Os estudos que avaliam a prevalência da SF são em idosos de serviços de saúde3,9. É importante a realização de estudos em outras populações como os grupos de convivência (GC), já que aumentam no Brasil. Os GC favorecem o bem-estar físico, psicológico e social, evitando a baixa qualidade de vida e depressão10. Assim, é possível que o perfil de fragilidade seja diferente nesta população. Apesar disto, não foi encontrado nenhum estudo que avaliasse a SF e fatores associados a ela em GC.

Um maior conhecimento sobre o tema contribuirá para um trabalho mais efetivo, que evite a progressão e previna a SF. Assim, os objetivos deste estudo foram avaliar o nível de fragilidade em idosos participantes de um GC e avaliar a correlação entre fragilidade, incapacidade e quedas.

METODOLOGIA

A pesquisa foi aprovada pela Prefeitura Municipal de Itabira e pelo comitê de ética da Santa Casa de Misericórdia BH-MG (protocolo nº 069/2009).

Delineamento

Estudo observacional exploratório.

Participantes

Participaram 64 idosos da comunidade e de um GC de Itabira-MG recrutados por conveniência, de 65-87 anos. Critérios de inclusão: 65 anos ou mais; participar do GC; viver na comunidade e deambular seis metros com ou sem dispositivos. Foram excluídos idosos com déficit cognitivo rastreados pelo Mini Exame do Estado Mental (MEEM)11 ou com doença neurológica limitante. As atividades realizadas no GC baseiam-se em jogos, palestras, excursões, caminhadas, dramatização, ginástica, dança, organização de festas e outros. O idoso se inscreve e inicia a recreação no momento mais adequado para si.

Instrumentos

Função Cognitiva

O MEEM rastreou comprometimento cognitivo que trouxesse dificuldade à compreensão de comandos11. Avalia orientação temporal/espacial, memória imediata, cálculo, evocação de palavras, nomeação, repetição, comando, leitura, redigir frase e cópia de desenho. Os escores medianos por escolaridade são: analfabetos 20; escolaridade 1-4 anos 25; 5-8 anos 26,5; 9-11 anos 28 e superior a 11 anos 2911.

Fenótipo de Fragilidade

Seguindo o fenótipo3 foram avaliados:

■ Perda de peso não intencional (> 4,5kg ou > 5% do peso no ano anterior);

■ Diminuição da força de preensão no Dinamômetro Manual Jamar® (mão dominante). Ponto de corte para homens: força < 21 kgf e mulheres ajustado ao índice de massa corporal (IMC)9,12:

- IMC < 24 Força de preensão < 14

- IMC 24.1-27 Força de preensão < 15

- IMC 27.1-31 Força de preensão < 17

- IMC > 31 Força de preensão < 14

■ Exaustão, por auto-relato de fadiga: "Senti que tive que fazer esforço para fazer tarefas habituais" e "Não consegui levar adiante minhas coisas" do Center for Epidemiological Studies - Depression CES-D13. Os idosos que obtiveram escore três ou quatro em qualquer uma das questões preencheram o critério.

■ Baixo nível de atividade física pelo Minessota Leisure Time Activity - versão Fibra, considerando critério de fragilidade o gasto energético por semana inferior a 383 kcal para homens e 270 kcal para mulheres14.

■ Diminuição da velocidade da marcha calculada através do tempo em segundos gasto para percorrer 4,6 metros13. Foram adotados os pontos de corte ajustados pelo sexo e altura9:

Homens:

- Altura < 169 cm > 5 segundos

- Altura > 169 cm > 6 segundos

Mulheres:

- Altura < 153 cm > 6 segundos

- Altura > 153 cm > 5 segundos

Com o fenótipo, o idoso é frágil se apresenta três ou mais critérios, pré-frágil um ou dois e não-frágil nenhum3.

Medidas de Funcionalidade

A escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD) de Lawton relaciona as atividades: usar telefone, usar transporte, fazer compras, preparar alimentos, tarefas domésticas, usar medicação e manejo do dinheiro. Apresenta três respostas: independência, capacidade com ajuda ou dependência16. Seu escore varia de 7-21 e quanto menor, maior comprometimento16.

O Índice de Katz, que avalia Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD), possui seis itens: banho, vestir-se, higiene pessoal, transferência, continência e alimentação. Cada resposta positiva vale um ponto. A pontuação se dá por contagem do número de atividades com dependência, variando de 0-617.

Inquérito de Quedas

Foi utilizado um inquérito de quedas composto pelas seguintes perguntas: Quantas vezes o senhor(a) caiu nos últimos seis meses ou último ano?; Houve consequência?; Causa e Local?; Que atividade o senhor(a) realizava?; Você tem medo de cair?; Você deixou de fazer atividades por medo de cair?

Procedimentos da Coleta

Os voluntários receberam convite durante visita ao GC. Quem se disponibilizou foi convidado a comparecer em local e horário agendados para a aplicação do MEEM por duas investigadoras treinadas. Os voluntários que atenderam aos critérios de inclusão assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Após a seleção da amostra foi realizada pela 1º investigadora uma entrevista contendo dados pessoais e sócio-demográficos e o fenótipo de fragilidade. A 2º aplicou o inquérito de quedas e as escalas de ABVD e AIVD. A partir dos dados coletados foram divididos os grupos não-frágil, pré-frágil e frágil.

Análise estatística

Foi realizada análise descritiva dos dados. Para verificar a normalidade da distribuição foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk. O teste de correlação de Spearman associou os perfis de fragilidade e as variáveis número de quedas, medo de cair e escores das escalas de ABVD e AIVD. Em relação à classificação da força da associação, os coeficientes de correlação entre 0,25 e 0,50 foram considerados como indicando correlação fraca, entre 0,50 e 0,75 indicaram correlação moderada e acima de 0,75, correlação forte18. O teste Mann-Whitney U comparou os grupos Não-frágil e Pré-frágil em relação a estas variáveis e à idade. Os cálculos foram realizados no programa SPSS (Chicago II, USA) versão 14,0 para Windows. O nível de significância estatística foi estabelecido em α=0,05.

RESULTADOS

Em relação ao nível de fragilidade, 22 idosos eram não-frágeis, 41 pré-frágeis e um frágil. O idoso frágil foi excluído das análises, considerando a inviabilidade de comparar o dado de apenas um participante com os outros grupos. Observou-se a presença dos seguintes critérios de fragilidade: 6,3% de perda de peso; 1,6% de fadiga; 56,3% de força; 28,1% de velocidade e 0% de nível de atividade. Os dados clínicos e demográficos estão descritos na tabela 1.

Os idosos pré-frágeis apresentaram maior ocorrência de quedas, mais medo de cair e pior escore nos questionários que avaliaram as ABVD e AIVD que os idosos não frágeis, com diferenças estatisticamente significativas.

Na escala de ABVD, os idosos relataram ser independentes para a maioria das atividades. As únicas com necessidade de assistência foram vestir (3,1%) e continência (26,6%). A independência em todas as atividades básicas avaliadas foi relatada por 86,4% dos idosos do grupo Não-frágil e 63,4% dos idosos do grupo Pré-frágil.

Na escala de AIVD, nenhum participante apresentou dependência (tabela 2).

As atividades cujo maior número de idosos necessitaram assistência foram tarefas domésticas (20,3%) e usar telefone (20,3%) e as de menor relato foram manejo do dinheiro (3.1%) e uso de transporte (4,7%). Fazer compras, usar medicação e preparo dos alimentos apresentaram assistência de 14,10%, 10,90% e 9,40%, respectivamente.

Os escores das escalas de ABVD e AIVD, a ocorrência de quedas e o medo de cair apresentaram correlações fracas e estatisticamente significativas com o nível de fragilidade (tabela 3).

DISCUSSÃO

A amostra apresentou mais mulheres. Isso concorda com estudos que demonstram um processo de feminização da velhice19.

Um achado importante está relacionado ao número de medicamentos usados pelos idosos. O uso de quatro ou mais foi relatado por 60% dos idosos pré-frágeis e 40% dos idosos não frágeis. O fácil acesso a medicações, e a idade avançada contribuem para aumento desse consumo20. Estudos mostram que é necessário o desenvolvimento de programas de educação medicamentosa, uma vez que os idosos apresentam riscos mais elevados de sofrerem suas interações21.

A perda da acuidade visual e de equilíbrio também apresentaram porcentagens elevadas nesta amostra e podem levar à queda pela diminuição da estabilidade postural, redução da mobilidade e função física22. Em relação à presença de comorbidades associadas ao aumento do risco de quedas, as mais relatadas foram as doenças osteomioarticulares, o que está de acordo com a literatura23. A frequência de idosos caidores desta amostra também foi semelhante a outros estudos24. Esse fato remete à necessidade de trabalhos efetivos de prevenção da ocorrência de quedas.

A amostra aqui descrita apresentou apenas um (1,56%) idoso frágil enquanto outros estudos apresentaram 7%, 13,27% e 17,5%3,10,25. É possível que este baixo número se relacione a efeitos benéficos do GC19. Outra explicação é que os idosos frágeis tenham menos acesso aos GC. Já foi demonstrado que estes apresentam maior limitação funcional. Assim, é possível que fatores como dificuldade de locomoção, meios de transporte seguros, medo de cair, falta de informação e desmotivação dificulte o acesso dos idosos aos GC.

Durante a caracterização dos grupos, os critérios mais presentes foram diminuição da força e da velocidade da marcha, o que está de acordo com estudos que apresentam os mesmos critérios como mais frequentes13,25. A causa disso pode estar ligada às alterações neuromusculares como a sarcopenia com mudanças na qualidade de fibras musculares e nervosas, e diminuição do controle central das habilidades visuais, vestibulares e proprioceptivas prejudicando, por exemplo, o equilíbrio26,27.

Em relação à perda de peso não-intencional, apenas 6,3% da amostra obteve esse critério. Dados de estudos mostram a perda de peso como um critério mais frequente. Fried et al (2001) encontraram prevalência de perda de peso de 6% para homens e 6% para mulheres3. Ostir et al (2004) em estudo de 7 anos, relataram 13% de prevalência de perda involuntária de peso, que atingiu 20.1% no 7º ano27.

Um consenso sobre a diminuição do peso a partir da 7ª década de vida indica que perdas involuntárias de 5-10%, no período de um ano devem ser investigadas28. Também merece atenção a presença de maior frequência na elevação do IMC. O presente estudo mostrou este dado com média de 27.70 kg/m2 com relatos semelhantes a estudos nacionais13.

A prevalência de pontuação na exaustão auto-relatada desta amostra foi inferior àquela encontrada em outros estudos 3,13. Os idosos deste estudo podem não ter relatado exaustão por estarem em um programa de atividade física e lazer, uma vez que estudos mostram que possíveis causas de cansaço, exaustão e fadiga incluem a falta de atividade física, sarcopenia, anemia e desnutrição28.

No estudo de Fried et al (2001), 22% dos participantes apresentaram o critério baixo nível de atividade física3. Neste estudo, nenhum idoso preencheu este critério. Isso pode ser explicado pela prática de atividade física duas vezes por semana ser considerada método eficaz para preservar a mobilidade e o declínio funcional9. Assim, tal prática pode ter aumentado o nível de atividade. Além disso, a média do nível de atividade deste estudo foi superior a de outros estudos10. Assim, é possível que os idosos participantes dos GC avaliados tenham um perfil mais ativo em relação aos idosos de serviços de saúde10,13,25.

Apesar dos idosos terem sido classificados como ativos, é possível que este nível de atividade não esteja sendo suficiente para prevenir o declínio da força e da funcionalidade. Assim, o ponto de corte para o nível de atividade pode não estar refletindo nível de atividade necessário para produzir benefícios terapêuticos.

Em relação às ABVD, os idosos relataram necessitar de assistência para vestir e continência. Isso pode estar relacionado ao grande número de idosos com dores em membros inferiores e de mulheres com fatores associados à incontinência, respectivamente. As dores são mais frequentes em atividades de vestuário, higiene pessoal, adoção de posturas e transferências posturais, limpeza e manutenção da casa29. Os fatores associados à incontinência estão relacionados a sexo feminino, idade avançada e limitação funcional30.

O grupo pré-frágil apresentou maior necessidade de assistência nas AIVD do que nas ABVD. A relação entre incapacidade e fragilidade primeiramente é evidenciada nas AIVD31 e um prejuízo nestas contribui para maior afastamento do entorno social e tendência ao isolamento. Já as ABVD estão associadas a sobrevivência32.

Idosos pré-frágeis encontram-se em risco intermediário de apresentar desfechos clínicos como aumento na dificuldade de AVD e queda3. Os resultados deste estudo corroboraram este achado. Neste estudo, o grupo pré-frágil relatou necessitar de mais assistência em ABVD e AIVD. O aumento da dificuldade na realização destas atividades pode levar ao aumento da dependência e contribuir para o aparecimento da SF. Além disso, estes idosos apresentaram mais quedas e medo de cair. As quedas podem gerar consequências como fraturas, aumento da dependência, medo de novas quedas, restrição de atividades, institucionalização, aumento da morbidade e mortalidade, além de repercutir entre os cuidadores e familiares33. Assim, considerando as repercussões que o declínio funcional, ocorrência e medo de quedas podem trazer para a saúde do idoso, é importante estratégias de intervenção para prevenir estes desfechos e suas consequências.

Apesar de ter sido encontrada correlação significativa entre o perfil de fragilidade e as ABVD e AIVD, estas foram baixas. Isto demonstra que, fragilidade e dependência funcional não são a mesma entidade, pois há idosos frágeis que não exibem incapacidade, embora os dois conceitos estejam relacionados. A fragilidade pode prever a incapacidade e a incapacidade pode agravar a fragilidade, mas são entidades com prognósticos diferentes e exigem medidas específicas de prevenção e intervenção3.

Pelo delineamento transversal do estudo não é possível inferir causalidade sugerindo por isso novos estudos que rastreiem a SF.

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo demonstraram um número de idosos frágeis inferior a de outros estudos. Os idosos pré-frágeis relataram necessitar maior assistência em ABVD e AIVD, maior ocorrência de quedas e medo de cair quando comparados aos não-frágeis. Estes resultados demonstram a importância de intervenções preventivas nesta população. Foi encontrada fraca associação entre o perfil de fragilidade, a incapacidade e a ocorrência de quedas.

Apresentação:nov. 2009

Aceito para publicação:set. 2010

Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (FUNCESI)

Órgão financiador: Faculdade Itabirana da Saúde/Funcesi-MG, 2009.

Número de aprovação pelo comitê de ética: protocolo nº 069/2009.

Trabalho apresentado para título de graduação em Fisioterapia.

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  • Endereço para correspondência:
    Lívia Viegas do Carmo
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Mar 2012
    • Data do Fascículo
      Mar 2011

    Histórico

    • Aceito
      Set 2010
    • Recebido
      Nov 2009
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