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Perfil dos desvios posturais da coluna vertebral em adolescentes de escolas públicas do município de Juazeiro do Norte - CE

Profile of postural deviations of the spine in adolescents from public schools in the city of Juazeiro do Norte - CE

Resumos

Postura é definida como sendo a posição adotada pelo ser humano. Dados epidemiológicos apontam para uma alta prevalência de alterações posturais de coluna entre crianças e adolescentes. O objetivo do presente estudo foi investigar os desvios posturais da coluna vertebral em escolares (n=670) de 11 a 19 anos. Utilizou-se como metodologia um simetrógrafo e uma máquina fotográfica para pesquisar a presença de desvios na coluna vertebral. Foram utilizados um nível d'água e uma régua para aferir a gibosidade, um fio de prumo e uma régua para medir os desvios laterais da coluna. Dos resultados obtidos, encontrou-se uma prevalência de 8,8% de desvios laterais e 2,4% de gibosidade, além de ser observada a presença de escoliose em portadores de assimetrias de ombros e ilíacos. Porém, não houve influência do peso, altura e índice de massa corporal (IMC) para a prevalência de escoliose. Dessa maneira, com este estudo, constatou-se elevada prevalência dos desvios posturais em escolares.

postura; escoliose; adolescente


Posture is defined as the position taken by humans. Epidemiological data indicate a high prevalence of backbone postural changes among children and adolescents. The aim of this study was to investigate the postural deviations of the spine in schoolchildren (n=670) from 11 to 19 years. The methodology used was a simetrograf and a camera for the presence of deviations in the spine. We used a water level and a ruler to measure the spinal deformity, a plumb line and a ruler to measure the lateral deviation of the spine. Of the obtained results it was found a prevalence of 8.8% of lateral deviation and 2.4% of gibbosity, besides it was observed the presence of scoliosis in patients with asymmetries in the shoulders and hipbones. However, there was no influence of weight, height and body mass index (BMI) for the prevalence of scoliosis. Thus, through this study, it was stated the high prevalence of postural deviations in schoolchildren.

posture; scoliosis; adolescent


PESQUISA ORIGINAL ORIGINAL RESEARCH

Perfil dos desvios posturais da coluna vertebral em adolescentes de escolas públicas do município de Juazeiro do Norte - CE

Profile of postural deviations of the spine in adolescents from public schools in the city of Juazeiro do Norte - CE

José Vitorino de Souza JuniorI; Rafaella Maria Monteiro SampaioII; Jaina Bezerra de AguiarIII; Francisco José Maia PintoIV

IFisioterapeuta; Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) - Fortaleza (CE), Brasil; Docente do curso de fisioterapia da Faculdade Leão Sampaio - Juazeiro do Norte (CE), Brasil

IINutricionista; Discente do Mestrado Acadêmico em Saúde Pública pela UECE - Fortaleza (CE), Brasil

IIIEducadora Física; Discente do Mestrado Acadêmico em Saúde Pública pela UECE - Fortaleza (CE), Brasil

IVDoutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Docente do Curso de Medicina, do Mestrado Acadêmico em Saúde Pública e do Mestrado Profissional em Saúde da Criança e do Adolescente da UECE - Fortaleza (CE), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rafaella Maria Monteiro Sampaio Rua Doutor Jurandyr Nunes, 508 - Sapiranga CEP: 60833-192 - Fortaleza (CE), Brasil E-mail: rafaellasampaio@yahoo.com.br

RESUMO

Postura é definida como sendo a posição adotada pelo ser humano. Dados epidemiológicos apontam para uma alta prevalência de alterações posturais de coluna entre crianças e adolescentes. O objetivo do presente estudo foi investigar os desvios posturais da coluna vertebral em escolares (n=670) de 11 a 19 anos. Utilizou-se como metodologia um simetrógrafo e uma máquina fotográfica para pesquisar a presença de desvios na coluna vertebral. Foram utilizados um nível d'água e uma régua para aferir a gibosidade, um fio de prumo e uma régua para medir os desvios laterais da coluna. Dos resultados obtidos, encontrou-se uma prevalência de 8,8% de desvios laterais e 2,4% de gibosidade, além de ser observada a presença de escoliose em portadores de assimetrias de ombros e ilíacos. Porém, não houve influência do peso, altura e índice de massa corporal (IMC) para a prevalência de escoliose. Dessa maneira, com este estudo, constatou-se elevada prevalência dos desvios posturais em escolares.

Descritores: postura; escoliose; adolescente.

ABSTRACT

Posture is defined as the position taken by humans. Epidemiological data indicate a high prevalence of backbone postural changes among children and adolescents. The aim of this study was to investigate the postural deviations of the spine in schoolchildren (n=670) from 11 to 19 years. The methodology used was a simetrograf and a camera for the presence of deviations in the spine. We used a water level and a ruler to measure the spinal deformity, a plumb line and a ruler to measure the lateral deviation of the spine. Of the obtained results it was found a prevalence of 8.8% of lateral deviation and 2.4% of gibbosity, besides it was observed the presence of scoliosis in patients with asymmetries in the shoulders and hipbones. However, there was no influence of weight, height and body mass index (BMI) for the prevalence of scoliosis. Thus, through this study, it was stated the high prevalence of postural deviations in schoolchildren.

Keywords: posture; scoliosis; adolescent.

INTRODUÇÃO

Postura pode ser definida como sendo a posição corporal adotada pelo ser humano1, podendo ser influenciada por maus hábitos que podem produzir maior tensão sobre as estruturas de suporte2. As afecções do sistema músculo-esquelético, particularmente as algias vertebrais, constituem problema tão sério na sociedade que equipes multidisciplinares procuram desenvolver formas para adequada avaliação da coluna vertebral3.

Em escolares, as posturas inadequadas adotadas em sala de aula e/ou em casa podem levar ao desequilíbrio na musculatura, produzindo alterações posturais1,4. Dentre as diversas alterações posturais possíveis de serem encontradas em escolares, destaca-se a escoliose1.

O termo escoliose tem origem grega e significa curvatura, sendo, portanto, definida como desvio lateral do plano frontal do corpo, associado ou não à rotação dos corpos vertebrais nos planos axial e sagital com ângulo maior que 10 graus2,5.

Dados epidemiológicos apontam para alta prevalência de alterações posturais de coluna entre crianças e adolescentes. Em relação à escoliose, a prevalência global está entre 1 e 2%, e a escoliose idiopática em adolescentes é o subgrupo mais comum6.

Na grande maioria dos casos, a causa específica não é encontrada, sendo a etiologia denominada de idiopática5. Seu desenvolvimento pode ocorrer desde a infância e agravar-se na adolescência2,4,7.

No caso da escoliose idiopática do adolescente, o momento de maior risco para a progressão da doença ocorre no período da puberdade, em que o crescimento ósseo ocorre de forma muito rápida, havendo, portanto, a necessidade de meios de diagnóstico precoce e de intervenção eficaz para evitar a progressão da doença5.

Alguns países desenvolvidos já adotam a realização sistemática de avaliações posturais durante a fase escolar para identificar e acompanhar a progressão das alterações da postura em geral e, principalmente, da postura da coluna vertebral. Desse modo, as avaliações posturais, em que os indivíduos são submetidos a testes não invasivos, tornam-se opção viável para estudos das alterações da postura corporal. Sob o ponto de vista ortopédico, as avaliações posturais em escolares são benéficas e proporcionam oportunidade individual de diagnóstico precoce7.

A fisioterapia ainda é pouco atuante no campo escolar, o que denota a necessidade de maior atenção, especialmente em relação aos aspectos preventivos posturais. Diante das evidências apresentadas, destaca-se a relevância científica e social de se investigar os principais desvios posturais da coluna vertebral, dentre eles a escoliose em adolescentes.

A realização deste estudo dá-se pela necessidade de se aprofundar o conhecimento dos agravos e eventos relacionados com a saúde do adolescente, em especial os desvios posturais da coluna vertebral8.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo do tipo transversal e analítico. A amostra foi selecionada a partir de um universo de 2.432 alunos entre 11 e 19 anos, que estavam matriculados e que frequentavam uma das 67 salas de aula do turno diurno das 3 escolas do Ensino Fundamental II e Médio do município de Juazeiro do Norte, no estado do Ceará9.

A amostra foi calculada usando a técnica de estratificação de acordo com o nível de escolaridade. Foram sorteados aleatoriamente, conforme presença em sala de aula, 10 alunos (distribuídos equitativamente entre o sexo masculino e o sexo feminino) de cada sala, perfazendo uma amostra total de 670 alunos.

Foram excluídos os estudantes do turno noturno, por tratar-se, nesse período, de área com risco de segurança, bem como alunos portadores de doenças, uma vez que o objetivo desse estudo foi observar alterações em alunos habitualmente sadios.

Com o objetivo de facilitar a visualização, o exame físico foi realizado nos alunos com roupas de banho, sendo feitas demarcações de referência no corpo deles para facilitar a análise postural pela fotogrametria. Com a utilização de um simetrógrafo e de uma máquina fotográfica, pesquisou-se qualitativamente a presença de desvios na coluna vertebral por meio de duas fotografias por sujeito estudado (a presença de gibosidade na flexão anterior do tronco foi observada no plano frontal em vista posterior, e, em posição bípede, inspecionou-se a simetria de ombros e da pelve bem como os desvios laterais da coluna vertebral).

Foram usados nível d'água e régua para aferir a gibosidade dorsal e/ou lombar, além de um fio de prumo e de uma régua para medir os desvios laterais da coluna vertebral. Também utilizou-se um divã tubular para acomodar o aluno ao ser examinado em decúbito dorsal e uma fita métrica para medir o comprimento dos membros inferiores, da espinha ilíaca ântero-superior (EIAS) ao maléolo medial ipsilateral.

Por fim, o diagnóstico do possível desvio encontrado foi baseado no exame físico, sendo considerado como ponto de corte as assimetrias posturais, com base no alinhamento global dos segmentos do corpo encontrado nos planos acima descritos; as assimetrias de membros inferiores (MMII), considerando o encurtamento quando maior que 1 cm; a escoliometria a nível dorsal com medida superior a 0,8 cm e a nível lombar acima de 0,5 cm, caracterizando a presença de gibosidade dorsal e/ou lombar e, por conseguinte, a possível escoliose10,11.

O registro fotográfico e a avaliação postural foram realizados pelo pesquisador, sendo entregue um laudo do exame a todos os alunos submetidos a ele, bem como uma carta de encaminhamento ao serviço público de saúde para possível realização de radiografia panorâmica de coluna toracolombar em antero-posterior (AP) àqueles que apresentaram os referidos desvios.

Para efeito do cruzamento de dados, foram consideradas como variáveis categóricas: sexo; hábitos laborais (trabalha ou não); hábitos escolares (uso de mochila, mão que escreve e tipo de cadeira); assimetrias de ombros ilíacos ou MMII; desvios laterais da coluna vertebral; presença de gibosidade e história familiar de deformidade postural. As variáveis quantitativas foram: idade; peso; altura e índice de massa corporal (IMC). Os dados gerais foram analisados de forma descritiva utilizando as frequências absolutas e percentuais. Na análise inferencial, foram utilizados os testes Χ2 e Exato de Fisher ao nível de significância de 5% (p<0,05). O tratamento estatístico foi realizado pelo programa EPI - Info 6.04.

O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Os alunos selecionados e que aceitaram participar do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de acordo com o preconizado pela resolução 196/96.

RESULTADOS

De acordo com a Tabela 1, pode-se observar que a prevalência de alterações posturais nos estudantes foi de 6,9%, 7,8% e 8,8% para as assimetrias de ombro, ilíaco e desvio lateral da coluna, respectivamente. Dentre os tipos de desvio da coluna, os principais tipos presentes foram: dorso-lombar à direita; dorsal à direita; lombar à direita e lombar à esquerda. Verificou-se também que a escoliometria para a coluna dorsal e a escoliometria para a coluna lombar estiveram presentes. No entanto, a gibosidade esteve presente em 16 (2,4%) estudantes, sendo que 50,0% deles apresentaram gibosidade do tipo dorsal à direita. Em relação à assimetria de MMII, apenas 1,0% dos estudantes apresentaram tal deformidade.

Ainda na Tabela 1, observa-se que os estudantes relataram a existência de alguma deformidade postural na família, classificadas como escoliose, cifose, lordose ou mista, sendo a cifose e a escoliose as mais frequentes.

Em relação ao sexo, observa-se na Tabela 2 que a escoliose ocorreu com maior frequência no sexo feminino (1,34%), sendo a maior proporção de casos ocorridos na faixa etária menor que 17 anos.

Conforme a Tabela 2, não foi encontrada associação significativa entre escoliose e as seguintes variáveis estudadas: sexo, idade, peso, altura, IMC<20 kg/m2, trabalho, uso de mochila, mão que escreve e tipo de cadeira. No entanto, foi encontrada associação significativa entre escoliose e assimetrias de ombros e ilíacos.

DISCUSSÃO

Objetivando investigar os principais desvios posturais da coluna vertebral em escolares adolescentes, o presente estudo encontrou elevada prevalência de escoliose. Segundo Perdriolle12, a frequência de escoliose é relatada por diversos autores entre 30 e 80%, sendo 40% o índice mais frequentemente citado. Atualmente, os especialistas convergem em direção à hereditariedade multifatorial, podendo estar associada ao retardo de maturação do equilíbrio corporal, relacionado, por sua vez, ao sistema músculo-esquelético e a problemas metabólicos. Segundo Coillard e Rivard13, 80% das escolioses são consideradas de origem idiopática, e diversas hipóteses buscam explicar o seu surgimento, dentre elas: fatores genéticos; esqueléticos; miogênicos; neurogênicos; assim como associação de diferentes fatores.

Os dados relativos à presença de desvios laterais da coluna vertebral encontrados nesta pesquisa são superiores à prevalência encontrada em estudos anteriores com população geral, que variou de 1 a 3%14. Andersen et al.15 confirmaram que a prevalência global da escoliose encontra-se entre 1 e 2%, e segundo esse estudo os adolescentes são o subgrupo mais comumente afetado pela escoliose idiopática. A prevalência de escoliose em escolares entre 10 e 14 anos de idade, de ambos os sexos, em estudo dirigido por Nery et al.16 foi de 1,4%, assemelhando-se a encontrada por Rocha et al.17. É possível que a diferença encontrada em relação à prevalência de desvios laterais da coluna vertebral seja devido aos diferentes métodos nos estudos, apesar de estes terem analisado faixas etárias semelhantes.

A superioridade encontrada em relação à presença de desvios laterais no presente estudo, quando comparado com os resultados de outros estudos14,15, mostra uma realidade preocupante no contexto estudado, visto que as alterações posturais modificam os pontos de pressão sobre os segmentos corporais e podem causar problemas como dores nas costas, senão no momento atual, provavelmente em uma idade mais avançada18.

Um aspecto relevante foi o fato de ter sido encontrado o desvio dorso-lombar à direita como o tipo predominante de desvio neste estudo, o que se contrapõe aos dados referidos por Kisner e Colby19, que afirmam que a escoliose geralmente envolve as regiões torácica e lombar, podendo apresentar-se em "S" tipicamente em destros com curvatura para direita na região torácica e esquerda na lombar, ou leve curvatura em "C" para esquerda nas regiões torácica e lombar. Porém, pode ainda haver assimetria nos ombros, pelve e membros inferiores, fato que está de acordo com as observações no presente estudo.

Em relação ao lado da convexidade da curva mais acometido, outros estudos divergem do resultado encontrado nesta pesquisa. Fornazari e Pereira20 apresentaram que 53% das curvaturas na região torácica localizavam-se à esquerda. Em concordância, no estudo de Minghelli5 as curvas foram analisadas em relação ao seu número e ao lado da sua convexidade, além de ser verificada a predominância de desvios na região torácica, representando 17,3% dos desvios, sendo 7,9% à direita e 9,4% à esquerda.

Em relação ao sexo, os achados do presente estudo estão de acordo com os de Minghelli5, que também encontrou maior prevalência em meninas. O estudo realizado por Nery et al.16 mostrou prevalência de 1,98% entre as meninas e de 0,8% entre os meninos. Taylor e Twomey21 relatam que esse desvio em indivíduos do sexo feminino tem maior probabilidade de progressão devido à forma do corpo vertebral e do menor suporte muscular. É possível que essas diferenças encontradas tenham ocorrido em virtude de o pico de crescimento do corpo das mulheres ocorrer mais cedo que nos rapazes, tornando assim mais fácil detectar a deformidade caso o estudo tenha sido realizado no período em que os rapazes ainda não tenham vivenciado o pico de crescimento16.

Com relação à proporção dos casos de acordo com as faixas etárias, na pesquisa de Pereira et al.1 realizada com ambos os sexos, a frequência de casos suspeitos foi maior no grupo etário de 13 a 15 anos. No estudo de Minghelli5, os dados relativos à idade revelaram maior prevalência de posturas escolióticas na idade de 11 anos. Porém, os resultados desse estudo indicam que não há relação significativa entre a idade e as posturas escolióticas.

Esses dados evidenciam a relevância dos programas de detecção precoce dos desvios no período da adolescência. Segundo Ortiz22, as possíveis malformações vertebrais ocorrem antes do desenvolvimento dos centros de ossificação.

Não foi encontrada associação significativa entre escoliose e IMC<20 kg/m2, ou seja, em adolescentes com baixo peso. Tal fato contrapõe-se aos achados que tratam sobre carências nutricionais durante a fase de crescimento e desenvolvimento, referindo-se às carências como fator de risco para a escoliose. É o que ocorre no estudo de Damsim et al.23, relatando que inúmeros fatores interferem no processo evolutivo, alguns geneticamente programados, enquanto outros como mecânicos, biológicos e medicamentosos são capazes de modificar, alterar ou interferir no crescimento, podendo assim gerar desvios posturais.

Complementando os achados de Damsim et al.23 sobre desvios posturais e baixo IMC, Martelli e Traebert4 descrevem que menor estatura e menor peso corporal estão estatisticamente associados à ocorrência de hiperlordose relacionada à coluna cervical. Porém, no estudo de Detsch7, as alunas com IMC normal apresentaram maior prevalência de alterações na coluna vertebral se comparadas com aquelas com sobrepeso ou obesidade. Mesmo após a análise multivariada, os desvios posturais laterais continuaram associados com o IMC7.

Em oposição, Brandalize e Leite24 observaram que crianças e adolescentes obesos são mais predispostos a desenvolver complicações ortopédicas que os indivíduos eutróficos, sendo que, no estudo citado, os principais problemas relatados foram: alterações posturais, como hiperlordose lombar e joelhos valgos, e dores músculo-esqueléticas principalmente na coluna lombar e membros inferiores. Essas alterações posturais não foram constatadas na presente pesquisa.

Segundo Kendall et al.11, a assimetria de ombros pode estar relacionada ao lado dominante do sujeito. Raine e Twomey25 discutiram essa relação a partir do pressuposto que o ombro mais baixo poderia corresponder ao lado dominante. Eles notaram em seus achados que o ombro direito é frequentemente mais baixo um grau que o esquerdo.

Mighelli5 relata achados referentes à presença de assimetria e à diferença entre o comprimento dos membros inferiores em indivíduos com posturas escolióticas. Diferentemente do estudo de Mighelli5, em nosso estudo não foi encontrada uma relação significativa entre variáveis assimetria e postura escoliótica.

A relação da assimetria com a escoliose ainda não está bem estabelecida, sendo que esta pode ser o fator desencadeante da curvatura ou apenas uma consequência. Chagas et al.26 consideram que os músculos efetores do movimento são, em situações de desequilíbrio, produtores de deformidades esqueléticas.

Howard et al.27 alertam que grandes curvas sem tratamento progridem substancialmente durante a vida adulta e causam aumento da deformidade, podendo reduzir a expectativa de vida, além de possuir grande impacto na vida diária como dor lombar.

Cabe ressaltar que o presente estudo teve as seguintes limitações: não foram analisados sinais e sintomas específicos da dor como localização, intensidade e irradiação; não possibilitou o estabelecimento de uma relação temporal de causa e efeito devido ao tipo de delineamento utilizado.

Portanto, recomendamos a realização de intervenções, que tenham como finalidade desenvolver e avaliar a aplicação de ações educativas por meio de atividade física, e de intervenções fisioterapêuticas, com o objetivo de prevenir as algias de coluna vertebral em adolescentes. Segundo Zapater et al.28, a fisioterapia preventiva é capaz de incluir programas de educação postural que possibilitam o conhecimento acerca dos desvios posturais, minimizando as complicações entre os escolares.

CONCLUSÃO

Foi encontrada maior predominância de escoliose em portadores de assimetrias de ombros e em portadores de assimetrias de ilíacos, além da predominância de escoliose no sexo feminino. Porém, não foi constatada influência de peso, altura e IMC para a prevalência de escoliose.

Apresentação mar. 2011

Aceito para publicação out. 2011

Fonte de financiamento: nenhuma

Conflito de interesse: nada a declarar

Estudo desenvolvido em três escolas do Ensino Fundamental II e Médio do município de Juazeiro do Norte (CE), Brasil.

Parecer de aprovação no Comitê de Ética da UECE (processo nº 051.73.853-8)

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  • Endereço para correspondência:

    Rafaella Maria Monteiro Sampaio
    Rua Doutor Jurandyr Nunes, 508 - Sapiranga
    CEP: 60833-192 - Fortaleza (CE), Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Fev 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Aceito
      Out 2011
    • Recebido
      Mar 2011
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