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Mobilização na Unidade de Terapia Intensiva: revisão sistemática

Resumos

Permanência prolongada na Unidade de Terapia Intensiva e ventilação mecânica estão associadas com declínio funcional, aumento da morbidade e mortalidade e custos assistenciais. A mobilização precoce parece ter efeitos benéficos sobre estes fatores. O objetivo do presente estudo foi sistematizar o conhecimento sobre a mobilização precoce na Unidade de Terapia Intensiva. Trata-se de uma revisão sistemática, com inclusão de ensaios clínicos publicados entre 1998 e 2012. Utilizou-se a escala Physiotherapy Evidence Database (PEDro) para avaliação da qualidade metodológica das investigações. Oito estudos foram incluídos e analisados. Concluiu-se que a mobilização precoce na Unidade de Terapia Intensiva apresentou um impacto significativamente positivo nos resultados funcionais dos pacientes.

Deambulação Precoce; Exercício; Unidades de Terapia Intensiva; Reabilitação; Modalidades de Fisioterapia


Prolonged stay in the Intensive Care Unit and mechanical ventilation are associated with functional decline, increased morbidity and mortality, and healthcare costs. The early mobilization seems to have beneficial effects on these factors. The aim of this study was to systematize knowledge about early mobilization in the Intensive Care Unit. This is a systematic review, with inclusion of clinical trials published between 1998 and 2012. We used the scale Physiotherapy Evidence Database (PEDro) to assess the methodological quality of the studies. Eight studies were included and analyzed. It was concluded that early mobilization in the Intensive Care Unit has a significant impact on patients' functional outcomes.

Early Ambulation; Exercise; Intensive Care Units; Rehabilitation; Physical Therapy Modalities


La permanencia prolongada en la Unidad de Cuidados Intensivos y la ventilación mecánica están asociadas a la caída funcional, al aumento de morbidad y mortalidad y a los costos asistenciales. La movilización precoz parece tener efectos benéficos en esos factores. El objetivo del presente estudio fue sistematizar el conocimiento acerca de la movilización precoz en la Unidad de Cuidados Intensivos. Se trata de una revisión sistemática, con la inclusión de ensayos clínicos publicados entre el 1998 y el 2012. Se utilizó la escala Physiotherapy Evidence Database (PEDro) para evaluación de la cualidad metodológica de las investigaciones. Ocho estudios fueron inclusos y analizados. Se concluye que la movilización precoz en la Unidad de Cuidados Intensivos presentó un impacto significativamente positivo en los resultados funcionales de los pacientes.

Ambulación Precoz; Ejercicio; Unidades de Cuidados Intensivos; Rehabilitación; Modalidades de Fisioterapia


INTRODUÇÃO

A evolução tecnológica e científica do suporte avançado de vida e assistência à saúde, com consequente melhora no tratamento, tem desempenhado um papel importante na conversão da mortalidade em maior sobrevida dos pacientes11. Maclntyre NR, Cook DJ, Ely EW Jr, Epstein SK, Fink JB, Heffner JE, et al. Evidence-based guidelines for weaning and discontinuing ventilatory support: a collective task force facilitated by the American college of chest physicians; the American association for respiratory care; and the American college of critical care medicine. Chest. 2001;120(6 Suppl):S375-96.

2. França EE, Ferrari F, Fernandes P, Cavalcanti R, Duarte A, Martinez BP, et al. Fisioterapia em pacientes críticos adultos: recomendações do departamento de fisioterapia da associação de medicina intensiva brasileira. Rev Bras Ter Intensiva. 2012;24(1):6-22.
- 33. Adler J, Malone D. Early mobilization in the intensive care unit: a systematic review. Cardiopulm Phys Ther J. 2012;23(1):5-13.. Há, cada vez mais, sobreviventes de doenças críticas, cujas complicações decorrentes da permanência prolongada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) contribuem para desordens neuromusculares, piora nas habilidades funcionais, aumento dos custos assistenciais e redução da qualidade de vida após alta hospitalar44. Soares TR, Avena KM, Olivieri FM, Feijó LF, Mendes KM, Souza Filho SA, et al. Retirada do leito após a descontinuação da ventilação mecânica: há repercussão na mortalidade e no tempo de permanência na unidade de terapia intensiva? Rev Bras Ter Intensiva. 2010;22(1):27-32. , 55. Herridge MS. Legacy of intensive care unit-acquired weakness. Crit Care Med. 2009;37(10):457-61S..

A disfunção muscular pode ser agravada por consequências de doença, sedação e imobilidade no leito, bem como intensidade e duração inadequadas da reabilitação física55. Herridge MS. Legacy of intensive care unit-acquired weakness. Crit Care Med. 2009;37(10):457-61S. , 66. Herridge MS, Cheung AM, Tansey CM, Matte-Martyn A, Diaz-Granados N, Al-Saidi F, et al. One-year outcomes in survivors of the acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2003;348(8):683-93.. A frequência e gravidade da fraqueza neuromuscular e suas manifestações clínicas podem ser amenizadas, utilizando-se alternativas como a mobilização precoce (MP) para a prevenção e o tratamento de tais complicações77. Fletcher SN, Kennedy DD, Ghosh IR, Misra VP, Kiff K, Coakley JH, et al. Persistent neuromuscular and neurophysiologic abnormalities in long-term survivors of prolonged critical illness. Crit Care Med. 2003;31(4):1012-6..

A terapia física precoce, inclusive durante o período de intubação e suporte ventilatório, pode ser realizada com segurança, melhorando os resultados funcionais dos pacientes22. França EE, Ferrari F, Fernandes P, Cavalcanti R, Duarte A, Martinez BP, et al. Fisioterapia em pacientes críticos adultos: recomendações do departamento de fisioterapia da associação de medicina intensiva brasileira. Rev Bras Ter Intensiva. 2012;24(1):6-22. , 44. Soares TR, Avena KM, Olivieri FM, Feijó LF, Mendes KM, Souza Filho SA, et al. Retirada do leito após a descontinuação da ventilação mecânica: há repercussão na mortalidade e no tempo de permanência na unidade de terapia intensiva? Rev Bras Ter Intensiva. 2010;22(1):27-32. , 88. Montagnani G, Vagheggini G, Vlad EP, Berrighi D, Pantani L, Ambrosino N. Use of the functional independence measure in people for whom mechanical ventilation is difficult. Phys Ther. 2011;91(7):1109-15.. Diante da necessidade de conhecimento sobre os efeitos da mobilização na UTI, o presente estudo teve por objetivo sistematizar o conhecimento sobre a MP no ambiente de terapia intensiva e sua repercussão, especialmente, nos aspectos funcionais e de permanência na ventilação mecânica (VM) e na UTI.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão sistemática com levantamento bibliográfico nas bases de dados MedLine, LILACS, Cochrane e SciELO, nas línguas inglesa e portuguesa, de estudos publicados entre 1998 a 2012. Os descritores utilizados foram "early ambulation" OR "exercise" OR "rehabilitation" OR "physical therapy modalities" AND "Intensive Care Units", com correlatos em inglês. Foram inclusos apenas ensaios clínicos com Grupo Controle (GC) e disponibilidade de acesso na íntegra, que avaliaram o efeito da MP na UTI em humanos adultos acima de 18 anos. Estudos que utilizaram outros recursos, como prancha ortostática e eletroestimulação não associados à cinesioterapia, foram excluídos. A análise dos títulos e resumos das investigações foi realizada por dois avaliadores independentes, e um terceiro foi acionado na ausência de consenso.

Os ensaios clínicos selecionados foram avaliados pela escala Physiotherapy Evidence Database (PEDro)99. Physiotherapy Evidence Database [Internet]. Sydney: PEDro; c1999-2006 [cited 2012 Aug 20]. Disponível em: http://www.pedro.org.au.
http://www.pedro.org.au...
, que avalia a qualidade metodológica por meio de 11 itens preestabelecidos, com escores de 0 a 10. Os ensaios não indexados nessa escala foram classificados por dois avaliadores que a aplicaram de forma independente. Na ausência de consenso, um terceiro avaliador procedeu à análise. Estes eram fisioterapeutas, sendo um especialista, um mestrando e um pós-doutor, com ampla experiência na área estudada. A pontuação da escala não foi utilizada como critério de inclusão/exclusão dos artigos, mas como indicador de evidência científica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 875 estudos, sendo que na seleção final foram incluídos oito ensaios clínicos, conforme diagrama da Figura 1, cujas características encontram-se presentes no Quadro 1.

Figura 1.
Diagrama de seleção dos artigos

Quadro 1.
Descrição dos estudos selecionados GI: Grupo Intervenção; GC: Grupo Controle; VM: ventilação mecânica; MMII: membros inferiores; UTI: Unidade de Terapia Intensiva; FM: força muscular; MRC: Medical Research Council; Pimáx: pressão inspiratória máxima; Pemáx: pressão expiratória máxima; MMSS: membros superiores; AVDs: atividades de vida diária; MIF: medida de independência funcional; TC6: teste de caminhada de seis minutos; SF-36: Short form health survey; IRpA: insuficiência respiratória aguda; TQT: traqueostomia; IRpC: insuficiência respiratória crônica; DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica; FES: eletroestimulação funcional; FR: frequência respiratória; FC: frequência cardíaca; TMR: treinamento muscular respiratório

Todas as investigações obtiveram pontuação ≥ 4 na escala PEDro. Seis abordaram a influência da MP sobre a funcionalidade1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82.

11. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.

12. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6.

13. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.

14. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6.
- 1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54., cinco sobre a força muscular (FM) periférica1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82. , 1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7. , 1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81. , 1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6. , 1616. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8., quatro sobre a FM respiratória1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81. , 1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54.

16. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8.
- 1717. Gerovasili V, Stefanidis K, Vitzilaios K, Karatzanos E, Politis P, Koroneos A, et al. Electrical muscle stimulation preserves the muscle mass of critically ill patients: a randomized study. Crit Care. 2009;13(5):161-8. e sete sobre o tempo de VM e internação na UTI e no hospital1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82.

11. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.

12. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6.
- 1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81. , 1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54.

16. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8.
- 1717. Gerovasili V, Stefanidis K, Vitzilaios K, Karatzanos E, Politis P, Koroneos A, et al. Electrical muscle stimulation preserves the muscle mass of critically ill patients: a randomized study. Crit Care. 2009;13(5):161-8.. Cinco trataram de aspectos como viabilidade e segurança da mobilização na UTI1212. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6., dispneia1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54. , 1717. Gerovasili V, Stefanidis K, Vitzilaios K, Karatzanos E, Politis P, Koroneos A, et al. Electrical muscle stimulation preserves the muscle mass of critically ill patients: a randomized study. Crit Care. 2009;13(5):161-8., fadiga muscular1717. Gerovasili V, Stefanidis K, Vitzilaios K, Karatzanos E, Politis P, Koroneos A, et al. Electrical muscle stimulation preserves the muscle mass of critically ill patients: a randomized study. Crit Care. 2009;13(5):161-8., mortalidade1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7. e custos hospitalares1212. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6.. O tamanho amostral variou de 24 a 330 sujeitos, de ambos os gêneros, com média de 50 a 79 anos, internados em UTIs europeias1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7. , 1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6. , 1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54. , 1717. Gerovasili V, Stefanidis K, Vitzilaios K, Karatzanos E, Politis P, Koroneos A, et al. Electrical muscle stimulation preserves the muscle mass of critically ill patients: a randomized study. Crit Care. 2009;13(5):161-8., norte-americanas1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82. , 1212. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6., asiática1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81., e brasileira1616. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8..

Fraqueza generalizada, redução do estado funcional e suas repercussões na qualidade de vida representam complicações da permanência prolongada na UTI44. Soares TR, Avena KM, Olivieri FM, Feijó LF, Mendes KM, Souza Filho SA, et al. Retirada do leito após a descontinuação da ventilação mecânica: há repercussão na mortalidade e no tempo de permanência na unidade de terapia intensiva? Rev Bras Ter Intensiva. 2010;22(1):27-32.. O presente estudo analisou os desfechos de FM, funcionalidade, tempo de internação e permanência na VM relacionados à MP na UTI, sendo observadas respostas favoráveis.

Força muscular

Estudos revisados indicam ganho de FM periférica mensurada por meio do dinamômetro1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82. , 1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7. , 13 13. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.ou teste muscular manual (Medical Research Council - MRC)1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82. , 1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6. , 1616. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8. em pacientes cronicamente ventilados após um programa de reabilitação. Um ensaio verificou aumento na escala de força (MRC) no Grupo Tratamento (GT), com ganho médio de 6,6 (49±11 para 55±4, p=0,04), enquanto o GC obteve 1,0 (39±14 para 40±10, p=0,82)1616. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8.. Outro estudo com pacientes críticos que utilizaram cicloergômetro nos membros inferiores (MMII) como recurso de reabilitação, além das intervenções físicas habituais, demonstrou aumento da FM do quadríceps entre a alta da UTI e do hospital, mais relevante no GT (1,8 versus 2,3 N/kg, p<0,01) do que no GC (1,8 versus 2,0 N/kg, p<0,11)1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.. A literatura sugere que a imobilização é uma causa importante de fraqueza muscular em pacientes ventilados, cujo treinamento físico poderia reverter e prevenir este efeito, como demonstrado em um ensaio clínico no qual a FM continuou a deteriorar-se no GC durante seis semanas1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.. A falta de uma distribuição aleatória dos pacientes e a não análise da intenção de tratamento foram aspectos negativos relativos à qualidade desse estudo.

Em relação ao volume e à intensidade da mobilização na UTI, pesquisas relatam frequência de uma a duas vezes por dia, cinco a sete dias na semana, por até seis semanas, e progressão individualizada da intensidade por meio da escala de Borg para percepção do esforço, com variação de 10 a 13 pontos1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82. , 1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7. , 1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81. , 1616. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8.. Em um estudo com indivíduos descondicionados e ventilados por longo período, a intensidade do esforço variou entre 10 a 11 na primeira semana, progredindo para 12 a 13 até a quinta semana1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.. Outra análise com pacientes ventilados e mais agudos progrediu os níveis de atividade (leito, sedestração, ortostase, deambulação e distância caminhada), realizando fisioterapia por 0,3 hora/dia até a alta da UTI1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82.. Os estudos revisados não relatam a resistência imposta aos exercícios, o número de séries e as repetições realizadas, dificultando a comparação entre eles e uma possível padronização.

A eletroestimulação funcional (FES) tem sido utilizada como um recurso para a preservação da massa muscular em pacientes críticos e para a recuperação da FM durante a reabilitação1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6. , 1717. Gerovasili V, Stefanidis K, Vitzilaios K, Karatzanos E, Politis P, Koroneos A, et al. Electrical muscle stimulation preserves the muscle mass of critically ill patients: a randomized study. Crit Care. 2009;13(5):161-8.. Ao comparar os efeitos da mobilização ativa com e sem FES em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), verificou-se melhora da FM em ambos os grupos (p<0,05), com maior aumento no GT (p=0,02), o que demonstra efeitos adicionais da FES na reabilitação1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6.. Um estudo não encontrou diferença significativa entre o GT e GC, respectivamente, na FM periférica (MRC de 52 e 48, p=0,09) e de preensão manual (39 e 35 kg-força, p=0,67) na alta hospitalar1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82.. No entanto, sua intervenção focou-se na realização de tarefas funcionais até o retorno ao estado independente (Barthel>70) ou alta hospitalar, e não utilizou exercícios resistidos, o que pode ter influenciado o baixo ganho da FM. Outro estudo também não verificou diferença na força de preensão manual entre os grupos (p=0,83), provavelmente por sua intervenção ter sido centrada nos MMII1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7..

Associação entre força e funcionalidade foi observada em alguns estudos1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7. , 1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6.. Correlação positiva entre o teste de caminhada de seis minutos (TC6) com qualidade de vida (SF-36) (p<0,001; r=0,55) e FM de quadríceps (p=0,002; r=0,40), e deste último com o SF-36 (p<0,001; r=0,46) na alta hospitalar, foi identificada por um estudo que utilizou cicloergômetro dos MMII em pacientes críticos. Essa correlação sugere que a FM do quadríceps pode contribuir para o desempenho da caminhada e a sensação de bem-estar funcional1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.. Nesse estudo1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7., a variável FM de quadríceps apresentou maiores ganhos no GT em relação ao GC, entre a alta da UTI e do hospital (1,83±0,91 versus 2,37±0,62 N/kg e p<0,01, no GT; 1,86±0,78 versus 2,03±0,75 N/kg e p=0,11, no GC). O GT também teve valores superiores no TC6 comparado ao GC na alta hospitalar (196 [126-329] versus 143 m [37-226], p<0,05) e no SF-36 (21 [18-23] versus 15 pontos [14-23], p<0,01). Entretanto, esses valores não podem ser considerados diferentes, devido à interseção existente entre os intervalos de confiança1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.. Outra investigação, em pacientes com DPOC restritos ao leito que receberam VM e utilizaram FES, observou ganho de FM em relação ao GC (2,16±1,02 versus 1,25±0,75, p=0,02) e redução do número de dias necessários para a transferência leito-cadeira comparado aos indivíduos que não utilizaram a técnica (10,75±2,41 versus 14,33±2,53, p=0,001)1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6..

Adicionalmente, estudos observaram melhora na FM inspiratória representada pelo aumento da pressão inspiratória máxima (Pimáx) após programa de exercícios associados à respiração diafragmática1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.(46 para 60 cmH2O, p<0,05), treinamento muscular respiratório com carga linear1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54. (45±1 para 61±1 cmH2O, p<0,05), cicloergômetro para MMII1616. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8. (52±1 para 66±2 cmH2O, p=0,02) ou membros superiores (MMSS)1818. Porta R, Vitacca M, Gilè LS, Clini E, Bianchi L, Zanotti E, et al. Supported arm training in patients recently weaned from mechanical ventilation. Chest. 2005;128(4):2511-20. (43±1 para 52±2 cmH2O, p<0,001). Uma possível limitação de tais estudos, por motivos éticos, foi a falta de um GC real, no qual nenhum programa de reabilitação fosse realizado.

Funcionalidade

Os ensaios clínicos demonstraram aumento na independência funcional, por meio do índice de Barthel e da medida de independência funcional (MIF) após reabilitação em pacientes sob VM1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82. , 1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.. Um estudo relatou que a MIF parece ser mais sensível para detectar mudanças do que o Barthel, entretanto poucos relatam o que se constitui uma alteração clinicamente significativa nessas escalas1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81..

Maior número das atividades de vida diária e distância percorrida na alta hospitalar foi observado por um estudo, em que o retorno ao estado independente pré-morbidade foi verificado em 59% do GT comparado a 35% do GC (p=0,02; OR=2,7; IC95% 1,2-6,1)1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82.. Outro estudo, com indivíduos incapazes de deambular na admissão, demonstrou, após seis semanas de treinamento físico, que 53% do GT recuperaram sua capacidade de deambulação, com distância média percorrida em dois minutos de 42,9±12,7 m (n=9), diferente do GC, o qual permaneceu acamado e incapaz de deambular ao final do estudo1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.. Uma terceira análise, em pacientes com DPOC numa UTI para cuidados respiratórios, mostrou que 87% recuperaram sua autonomia de deambulação após programa de reabilitação1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54.. Apesar da melhora nos estudos citados, a discrepância de valores no efeito do tratamento deve-se, provavelmente, à heterogeneidade das populações estudadas e ao percentual de pacientes ventilados.

Atraso no início da reabilitação física durante a VM foi associado ao pior desempenho após alta da UTI1919. Thomsen GE, Snow GL, Rodriguez L, Hopkins RO. Patients with respiratory failure increase ambulation after transfer to an intensive care unit where early activity is a priority. Crit Care Med. 2008;36(4):1119-24.. Uma melhora significativa nas atividades de transferência supino-sedestação-ortostase após programa de MP1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6. , 1919. Thomsen GE, Snow GL, Rodriguez L, Hopkins RO. Patients with respiratory failure increase ambulation after transfer to an intensive care unit where early activity is a priority. Crit Care Med. 2008;36(4):1119-24. , 2020. Needham DM, Korupolu R, Zanni JM, Pradhan P, Colantuoni E, Palmer JB, et al. Early physical medicine and rehabilitation for patients with acute respiratory failure: a quality improvement project. Arch Phys Med Rehabil. 2010;91(4):536-42., assim como ganhos no tempo necessário à primeira saída do leito no GT (5 versus 11 dias, p<0,001)1212. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6. têm sido evidenciados em pacientes sob VM. Um estudo demonstrou menor tempo para transferência leito-cadeira (10 versus 14 dias, p=0,001) em pacientes com DPOC mobilizados com adição da FES nos MMII, refletindo melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6..

O uso do cicloergômetro em MMII adicionalmente à intervenção padrão resultou em melhoria da autopercepção do estado funcional (SF-36), comparado ao GC na alta hospitalar (21 versus 15 pontos, p<0,01). Nesse estudo1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7., os autores não encontraram diferença entre os grupos na alta da UTI e do hospital, na capacidade de ortostase, por meio da escala de Berg ≥ 2 (p=0,4; p=0,7), e de deambulação independente, por meio da classificação funcional ≥ 4 (p=0,72; p=0,18)1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.. Em contrapartida, pacientes do GT obtiveram maior distância deambulada na alta hospitalar (196 versus 143 m, p<0,05) de forma independente (73 versus 55%), com tendência a uma maior necessidade de reabilitação após alta no GC (17 versus 10%), apesar da não significância1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.. Algumas limitações desse estudo correspondem ao pequeno tamanho amostral e à falta de rigorosa padronização durante estadia na emergência, em que o GT teve maior permanência na UTI antes da inclusão no estudo (14 versus 10 dias, p<0,05), com período superior de sedação intravenosa (11 versus 8 dias, p<0,05). Estas, somadas ao fato de o GT ter tido como única conduta diferenciada do GC a aplicação de cicloergômetro em MMII, podem ter influenciado na sua significância estatística.

Aumento na deambulação após transferência de pacientes ventilados para uma UTI, em que a atividade é meta do cuidado, foi verificado por um estudo (p<0,001). Os autores relataram que sedativos, mesmo que intermitentes, reduziram a probabilidade de deambulação e demonstraram que a internação na UTI pode contribuir para imobilização desnecessária, com consequente disfunção física (p=0,009; OR=1,9; IC95% 1,1-3,1)1919. Thomsen GE, Snow GL, Rodriguez L, Hopkins RO. Patients with respiratory failure increase ambulation after transfer to an intensive care unit where early activity is a priority. Crit Care Med. 2008;36(4):1119-24.. Outro estudo observou aumento da mobilidade após melhoria da qualidade dos serviços de terapia física e reabilitação na UTI, resultando em redução de sedativos e maior estado de alerta dos pacientes (p=0,03)2020. Needham DM, Korupolu R, Zanni JM, Pradhan P, Colantuoni E, Palmer JB, et al. Early physical medicine and rehabilitation for patients with acute respiratory failure: a quality improvement project. Arch Phys Med Rehabil. 2010;91(4):536-42.. Ensaios clínicos que realizaram programa de reabilitação na UTI observaram aumento na distância e na capacidade de deambulação na alta hospitalar, sugerindo que a VM não impede a aquisição de mobilidade1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82. , 1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7. , 1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81. , 1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54..

Internação/ventilação

Menor tempo de permanência na UTI (5,5 versus 6,9 dias, p<0,025) e no hospital (11,2 versus 14,5 dias, p<0,006) foram verificados por um estudo em pacientes com insuficiência respiratória aguda (IRpA), sem que houvesse aumento dos custos1414. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6.. Apesar de outros ensaios1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7. , 1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54. , 16 16. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8.observarem menor número de dias de internação no GT, essa diferença não foi significativa em relação ao tempo de permanência na UTI e no hospital, provavelmente pelo pequeno tamanho amostral dos estudos.

O tempo de desmame foi analisado apenas por um ensaio clínico, o qual não verificou diferença entre o GT (exercícios e cicloergômetro) e o GC (exercícios) de pacientes com doença crítica (6 versus 6 dias, p=0,40)1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.. Redução significativa no tempo de desmame após programa de reabilitação foi notada por um estudo numa unidade multidisciplinar, na qual 30% dos pacientes foram desmamados em até sete dias, demonstrando correlação inversa entre FM em MMSS e tempo de desmame (r=0,72 e p<0,001), em que, para cada ponto ganho na escala de FM (MRC), houve redução em sete dias no tempo de desmame2121. Martin UJ, Hincapie L, Nimchuk M, Gaughan J, Criner GJ. Impact of whole-body rehabilitation in patients receiving chronic mechanical ventilation. Crit Care Med. 2005;33(10):2259-65.. A discrepância entre os achados pode ser devido ao maior período de sedação e internação na UTI do GT antes da inclusão no estudo, além da diferenciação do GC apenas pelo uso do cicloergômetro. Entretanto, apesar da não melhoria significativa do tempo de desmame, o ensaio clínico identificou melhora no TC6, na FM de quadríceps e na qualidade de vida.

Uma análise verificou que a interrupção diária de sedação combinada à terapia física e ocupacional precoce em pacientes sob VM resultou em mais dias livres do ventilador (23,5 versus 21,1 dias, p=0,05)1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82.. Outro ensaio com pacientes sob VM prolongada (52 e 46 dias no GT e GC, respectivamente) também mostrou aumento do tempo livre da VM no GT (8,9 versus 4,8 horas, p<0,01), com maior capacidade de remoção do ventilador durante pelo menos 12 horas/dia (47 versus 20%)1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.. Esse estudo1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81. encontrou correlações entre o tempo livre da VM e os resultados funcionais (r=0,66), sugerindo que a VM prolongada está associada à piora no desempenho funcional, logo o treinamento físico não deve ser subestimado nestes pacientes.

Outros aspectos

Baixa ocorrência de eventos adversos após protocolo de exercícios foi observada por um ensaio clínico, demonstrando segurança e viabilidade, sem aumento dos custos1212. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6.. Quanto aos sintomas, estudos demonstram redução da dispneia1515. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54. , 18 18. Porta R, Vitacca M, Gilè LS, Clini E, Bianchi L, Zanotti E, et al. Supported arm training in patients recently weaned from mechanical ventilation. Chest. 2005;128(4):2511-20.e fadiga muscular1818. Porta R, Vitacca M, Gilè LS, Clini E, Bianchi L, Zanotti E, et al. Supported arm training in patients recently weaned from mechanical ventilation. Chest. 2005;128(4):2511-20. após treinamento precoce em pacientes em recuperação de IRpA.

Embora o período prolongado em VM esteja associado a uma maior deterioração da função física comparada à cognitiva, um estudo verificou aumento no escore do domínio cognitivo no GT, com deterioração significativa no GC, após treinamento físico em pacientes submetidos à VM prolongada1313. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.. Outro verificou que a interrupção diária de sedação e terapias física e ocupacional precoce em pacientes críticos sob VM resultou em menor duração do delirium (2 versus 4 dias, p=0,02)1010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82.. Esses achados demonstram relação entre as funções neuromuscular e cognitiva e a importância da MP para preservação desses sistemas.

Adicionalmente, estudos observaram maior mortalidade hospitalar no GC (25 versus 18%, p=0,531010. Schweickert WD, Pohlman MC, Pohlman AS, Nigos C, Pawlik AJ, Esbrook CL, et al. Early physical and occupational therapy in mechanically ventilated, critically ill patients: a randomized controlled trial. Lancet. 2009;373(9678):1874-82. e 18,2 versus 12,1%, p=0,1251212. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6.) comparado ao GT que realizou MP, apesar da não significância. Outra pesquisa avaliou as taxas de mortalidade durante a internação (24 versus 16%) e após um ano de alta (10 versus 8%), sendo que elas foram maiores no GT, porém sem diferença significativa entre os grupos (p=0,29) e sem associação das causas de morte relatadas pelos intensivistas com as intervenções propostas1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7..

Os principias fatores que influenciaram a qualidade dos estudos revisados foram: falta de distribuição aleatória, cegamento dos avaliadores, acompanhamento adequado e análise da intenção de tratamento1111. Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):1-7.

12. Morris PE, Goad A, Thompson C, Taylor K, Harry B, Passmore L, et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit Care Med. 2008;36(8):1-6.

13. Chiang L, Wang L, Wu C, Wu H, Wu Y. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.

14. Zanotti E, Felicetti G, Maini M, Fracchia C. Peripheral muscle strength training in bed-bound patients with COPD receiving mechanical ventilation: effect of electrical stimulation. Chest. 2006;124(1):292-6.

15. Nava S. Rehabilitation of patients admitted to a respiratory intensive care unit. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(7):849-54.
- 1616. Dantas CM, Silva PF, Siqueira FH, Pinto RM, Matias S, Maciel C, et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica e respiratória em pacientes críticos. Rev Bras Ter Intensiva. 2006;24(2):173-8. , 1818. Porta R, Vitacca M, Gilè LS, Clini E, Bianchi L, Zanotti E, et al. Supported arm training in patients recently weaned from mechanical ventilation. Chest. 2005;128(4):2511-20..

CONCLUSÃO

MP na UTI parece minimizar a perda das habilidades funcionais, com resultados favoráveis para a prevenção e o tratamento de desordens neuromusculares decorrentes da maior sobrevida dos pacientes e permanência prolongada no leito, como demonstrado por estudos desta revisão. Sua utilização na prática clínica parece ser viável e segura, sendo capaz de promover melhora na capacidade funcional, na qualidade de vida, na FM periférica e respiratória, além de redução do tempo de internação e VM. Sugere-se a realização de ensaios clínicos com maior padronização para descrição e comparação de diferentes protocolos de tratamento, objetivando identificar a frequência, a dose, a intensidade e os tipos de exercícios terapêuticos necessários para a melhoria dos desfechos associados à Fisioterapia.

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  • Estudo desenvolvido pelo Programa de Pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar da Faculdade Social da Bahia (FSBA) - Salvador (BA), Brasil
  • Fonte de financiamento: nenhuma

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    Set 2013
  • Aceito
    Mar 2014
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