Acessibilidade / Reportar erro

Medidas temporoespaciais indicativas de quedas em mulheres saudáveis entre 50 e 70 anos avaliadas pela análise tridimensional da marcha

La detección de los riesgos de caídas en muyeres sanas de 50 a 70 años de edad desde el análisis de medidas temporoespaciales de la marcha

RESUMO

Objetivou-se comparar e correlacionar medidas temporoespaciais da marcha indicativas de quedas. Participaram do estudo 35 mulheres saudáveis, sem histórico de quedas no ano da avaliação. A análise computadorizada tridimensional da marcha forneceu cinco medidas temporoespaciais de cada participante, dos membros inferiores direito (D) e esquerdo (E). A análise inferencial abordou dois grupos de mulheres: jovens (20 40 anos) e adultas-idosas (50-70 anos). Houve diferença estatística significativa entre os grupos para comprimento da passada D (p=0,003) e E (p=0,002); passo D (p=0,008) e E (p=0,001); tempo de apoio E (p=0,008); tempo de passo D (p=0,049); tempo de apoio duplo E (p=0,003); largura da base E (p=0,005); resposta à carga E (p=0,001); pré-balanço D (p=0,001) e E (p=0,001) e para algumas medidas em percentil do ciclo de marcha: apoio E (p=0,001); balanço E (p=0,001); apoio simples E (p=0,025); resposta à carga E (p=0,00); pré-balanço E (p=0,001) e pré-balanço D (p=0,014). A regressão linear indicou que a variação da idade modificou em média 18% as medidas de comprimento do passo e da passada e em 20% a velocidade da marcha. Com o avanço da idade, as medidas funcionais diminuíram; e, consequentemente, as medidas de estabilidade, como duração dos períodos de apoio, apoio duplo e pré-balanço, aumentaram. Essas modificações indicam risco de queda na faixa etária de 50 a 70 anos. Algumas medidas de marcha podem apresentar alteração em uma faixa etária ainda considerada de baixo risco.

Descritores:
Marcha; Acidentes por Quedas; Saúde da Mulher; Meia-Idade; Tecnologia Biomédica

RESUMEN

El propósito de este estudio fue comparar y correlacionar las medidas temporoespaciales de la marcha, indicativas de caídas. Del estudio participaron 35 mujeres sanas, sin historial de caídas en el periodo del estudio. El análisis computadorizado tridimensional de la marcha brindó cinco medidas temporoespaciales de cada participante, de los miembros inferiores derecho (D) e izquierdo (I). En el análisis inferencial se evaluaron dos grupos de participantes: jóvenes (20-40 años) y adultas-personas mayores (50-70 años). Hubo diferencia estadísticamente significativa entre grupos en la longitud del paso D (p=0,003) e I (p=0,002); paso D (p=0,008) e I (p=0,001); tiempo de apoyo I (p=0,008); tiempo de paso D (p=0,049); tiempo de doble apoyo I (p=0,003); longitud de la base I (p=0,005); respuesta a la carga I (p=0,001); preoscilación D (p=0,001) e I (p=0,001) y para algunas medidas en percentil de ciclo de marcha: apoyo I (p=0,001); oscilación I (p=0,001); apoyo simples I (p=0,025); respuesta a la carga I (p=0,00); preoscilación I (p=0,001) y preoscilación D (p=0,014). La regresión lineal mostró que la variación de la edad cambió en media un 18% en las medidas de la longitud del paso y del movimiento y un 20% en la velocidad de marcha. Avanzado la edad, las medidas funcionales disminuyen, y, en consecuencia, aumentan las medidas de estabilidad, como duración de los periodos de apoyo, doble apoyo y preoscilación. Esos cambios señalan el riesgo de caída en la franja etaria de 50 a 70 años. Algunas medidas de marcha pueden presentar alteraciones en una franja etaria que todavía la consideran de bajo riesgo.

Palabras clave:
Marcha; Accidentes por Caídas; Salud de la Mujer; Mediana Edad; Tecnología Biomédica

ABSTRACT

The aim of this study was to compare and correlate spatiotemporal parameters that would indicate falls risk. Thirty-five healthy women without a history of falls in the previous year were selected. Five spatiotemporal parameters were collected from right (R) and left (L) lower limbs using three-dimensional gait analysis. Two groups: young women (20-40 years) and adult/older women (50-70 years) were analyzed. The comparisons between the groups differed in R (p=0.003) and L (p=0.002) stride length, R (p=0.008) and L (p=0.001) step length, L stance period (p=0.008), R step period (p=0.049), L double support time (p=0.003), step width (p=0.005), L loading response time (p=0.001), R (p=0.001) and L (p=0.001) pre-swing time. Gait cycle percentage data also showed statistical difference in L stance (p=0.001), L swing (p=0.001), L single support (p=0.025), L loading response (p=0.001), R (p=0.014) and L (p=0.001) pre-swing. Linear regression indicated that step and stride length increased 18% and gait velocity increased 20% with age variation. The results propose that functional measures (velocity, step and stride length) decrease as age increases, while stability measures (stance, double support and pre-swing time) increase. These findings suggest that women aged between 50-70 years may have falls risk. Women aged 50-60 are usually considered as having low falls risk.

Keywords:
Gait; Accidental Falls; Women’s Health; Middle Age; Biomedical Technology

INTRODUÇÃO

O fator preditor mais consistente para detectar quedas é a modificação intrínseca da marcha11 Ganz DA, Bao Y, Shekelle PG, Rubenstein LZ. Will my patient fall? JAMA. 2007;297(1):77-86., geralmente não identificada por escalas clínicas22 Senden R, Savelberg HH, Grimm B, Heyligers IC, Meijer K. Accelerometry-based gait analysis, an additional objective approach to screen subjects at risk for falling. Gait Posture. 2012;36(2):296-300. doi: 10.1016/j.gaitpost.2012.03.015.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2012....
. Assim, a análise instrumentada tridimensional é a avaliação padrão-ouro para o estudo de marcha33 Callisaya ML, Blizzard L, Schmidt MD, McGinley JL, Srikanth VK. Ageing and gait variability - a population-based study of older people. Age Ageing. 2010;39(2):191-7. doi: 10.1093/ageing/afp250.
https://doi.org/10.1093/ageing/afp250...
. Velocidade44 Thaler-Kall K, Peters A, Thorand B, Grill E, Autenrieth CS, Horsch A, et al. Description of spatio-temporal gait parameters in elderly people and their association with history of falls: results of the population-based cross-sectional KORA-Age study. BMC Geriatr. 2015;15(1):32. doi: 10.1186/s12877-015-0032-1.
https://doi.org/10.1186/s12877-015-0032-...
, comprimentos do passo22 Senden R, Savelberg HH, Grimm B, Heyligers IC, Meijer K. Accelerometry-based gait analysis, an additional objective approach to screen subjects at risk for falling. Gait Posture. 2012;36(2):296-300. doi: 10.1016/j.gaitpost.2012.03.015.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2012....
e passada55 Schwesig R, Fischer D, Lauenroth A, Becker S, Leuchte S. Can falls be predicted with gait analytical and posturographic measurement systems? A prospective follow-up study in a nursing home population. Clin Rehabil. 2013;27(2):183-90. doi: 10.1177/0269215512452880.
https://doi.org/10.1177/0269215512452880...
), (66 MacAulay RK, Allaire TD, Brouillette RM, Foil HC, Bruce-Keller AJ, Han H, et al. Longitudinal assessment of neuropsychological and temporal/spatial gait characteristics of elderly fallers: taking it all in stride. Front Aging Neurosci. 2015;7:34. doi: 10.3389/fnagi.2015.00034.
https://doi.org/10.3389/fnagi.2015.00034...
, tempo de balanço e duplo suporte77 Verghese J, Holtzer R, Lipton RB, Wang C. Quantitative gait markers and incident fall risk in older adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2009;64A(8):896-901. doi: 10.1093/gerona/glp033.
https://doi.org/10.1093/gerona/glp033...
) são as medidas de marcha que mais frequentemente se associam ao risco de queda em idosos caidores e não caidores a partir dos 65 anos de idade.

Há aumento da prevalência e da incidência nas alterações da marcha com o avançar da idade88 Doyo W, Kozakai R, Kim HY, Ando F, Shimokata H. Spatiotemporal components of the 3-D gait analysis of community-dwelling middle-aged and elderly Japanese: age and sex-related differences. Geriatr Gerontol Int. 2011;11(1):39-49. doi: 10.1111/j.1447-0594.2010.00632.x.
https://doi.org/10.1111/j.1447-0594.2010...
. A identificação de alterações de marcha relacionadas ao risco de queda em mulheres na faixa etária de transição entre a fase adulta e idosa não tem descrição na literatura brasileira, e há poucos relatos internacionais99 Talbot LA, Musiol RJ, Witham EK, Metter EJ. Falls in young, middle-aged and older community dwelling adults: perceived cause, environmental factors and injury. BMC Public Health. 2005;5:86. doi: 10.1186/1471-2458-5-86.
https://doi.org/10.1186/1471-2458-5-86...
. A detecção de instabilidade dinâmica em grupos etários não considerados de risco pode oferecer informações a respeito da prevenção de alterações da mobilidade e do declínio de capacidades funcionais, além de encorajar mudanças nos hábitos diários para promover um envelhecimento saudável1010 0. Oh-Park M, Holtzer R, Xue X, Verghese J. Conventional and robust quantitative gait norms in community-dwelling older adults. J Am Geriatr Soc. 2010;58(8):1512-8. doi: 10.1111/j.1532-5415.2010.02962.x.
https://doi.org/10.1111/j.1532-5415.2010...
, que mininize agravos físicos, financeiros e sociais.

O presente estudo visou comparar e correlacionar, dentre as medidas temporoespaciais da marcha de mulheres jovens e de adultas idosas, as que indiquem possibilidade de queda.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo analítico transversal realizado no Laboratório de Movimento Dr. Cláudio de Almeida Borges, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG), protocolo nº 741.298/2014. Todos os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Amostra

A amostra probabilística intencional foi composta por mulheres saudáveis, recrutadas por convite, oriundas da região metropolitana de Goiânia (GO). O cálculo amostral para este estudo considerou: intervalo de confiança de 95%; nível de significância de 0,05 (erro tipo I); poder de 95% (erro tipo II); e tamanho de efeito de 1,29. Utilizando a medida de comprimento da passada, esse cálculo mostrou a necessidade de um total de 34 sujeitos, sendo 17 para o grupo de jovens e 17 para o grupo de adultas-idosas. O cálculo foi realizado pelo software GPower versão 3.2. Considerando uma perda de 10%.

Os critérios de exclusão foram: relato de osteoartrose na coluna vertebral e/ou endoprótese em membros inferiores; diagnóstico médico de artrite reumatóide; doença neuromuscular ou neurodegenerativa; incluindo diabetes mellitus; sequela de doença neurológica; dor articular ou edema nos últimos 30 dias; volume abdominal que impedisse a visualização de marcadores refletores na pelve; deficiência visual; índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30 kg/m2; uso de dispositivos auxiliares de marcha; prática regular de atividade física1111 1. Arnold JB, Mackintosh S, Jones S, Thewlis D. Differences in foot kinematics between young and older adults during walking. Gait Posture. 2014;39(2):689-94. doi: 10.1016/j.gaitpost.2013.09.021.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013....
; ausência de histórico de queda no ano anterior à avaliação de marcha.

As mulheres apresentam maior ocorrência de limitações funcionais e de quedas com o avanço da idade1212 Suzuki T, Bean JF, Fielding RA. Muscle power of the ankle flexors predicts functional performance in community-dwelling older women. J Am Geriatr Soc. 2001;49(9):1161-7., e um IMC maior que 30 modifica a marcha do idoso devido à obesidade1313 Silva-Hamu TCD, Formiga CKMR, Gervásio FM, Ribeiro DM, Christofoletti G, França Barros J. The impact of obesity in the kinematic parameters of gait in young women. Int J Gen Med. 2013;6:507-13. doi: 10.2147/IJGM.S44768.
https://doi.org/10.2147/IJGM.S44768...
), (1414 Ko S, Stenholm S, Ferrucci L. Characteristic gait patterns in older adults with obesity - Results from the Baltimore Longitudinal Study of Aging. J Biomech. 2010;43(6):1104-10. doi: 10.1016/j.jbiomech.2009.
https://doi.org/10.1016/j.jbiomech.2009...
. O gênero e a idade marcam a diferença entre os parâmetros temporoespaciais de marcha a partir dos 70 anos, independente do histórico de quedas88 Doyo W, Kozakai R, Kim HY, Ando F, Shimokata H. Spatiotemporal components of the 3-D gait analysis of community-dwelling middle-aged and elderly Japanese: age and sex-related differences. Geriatr Gerontol Int. 2011;11(1):39-49. doi: 10.1111/j.1447-0594.2010.00632.x.
https://doi.org/10.1111/j.1447-0594.2010...
. A associação desses fatores justifica o desenvolvimento deste estudo com uma amostra de mulheres estratificadas nos grupos denominados “jovens” e “adultas-idosas”, sem histórico prévio de quedas.

Procedimentos do estudo

Em ortostatismo, foram colocados marcadores refletores nas participantes, segundo o protocolo de Helen Hayes1515 Kadaba MP, Ramakrishnan HK, Wootten ME. Measurement of lower extremity kinematics during level walking. J Orthop Res. 1990;8(3):383-92. doi: 10.1002/jor.1100080310.
https://doi.org/10.1002/jor.1100080310...
. As coletas foram feitas individualmente, com a mulher descalça, andando em velocidade autosselecionada, em uma pista de oito metros (8 m) de comprimento, com duas plataformas de força (AMTI® modelo OR6; OR7) localizadas no solo, até se obter cinco filmagens válidas para cada mulher.

O tempo de filmagem foi de sete segundos, feita por duas câmeras VHS nas vistas sagital e frontal e por seis câmeras infravermelhas Pulmix® 120 hz por segundo (modelo TM-6701AN). Os dados foram processados pelo software Vicon Peak 9.2®(1616 Peak Performance Technologies. Manual Peak Motus 9.2. Colorado: Motus; 2000.), (1717 Elble RJ, Thomas SS, Higgins C, Colliver J. Stride-dependent changes in gait of older people. J Neurol. 1991;238(1):1-5.), (1818 Novaes RD, Miranda AS, Dourado VZ. Usual gait speed assessment in middle-aged and elderly Brazilian subjects. Rev Bras Fisioter. 2011;15(2):117-22.).

Figura 1
Vista panorâmica do Laboratório UEG, indicando plataformas de força, câmeras infravermelhas e VHS

As medidas temporoespaciais consideradas na pesquisa totalizaram 46 variáveis, considerando os lados direito e esquerdo de forma independente, definidos no quadro a seguir1919 Kaufman KR, Sutherland DH. Cinemática da marcha normal. In: Rose J, Gamble JG, editors. Marcha: teoria e prática da locomoção humana. 3. ed. São Paulo: Guanabara Koogan; 2007. p. 35-52.), (2020 0. Perry J, Burnfield JM. Gait analysis: normal and pathological function. 2. ed. New Jersey: Slack Incorporated; 2010.:

Quadro 1
Descrição dos parâmetros temporoespaciais da marcha aplicados na pesquisa

A análise estatística verificou normalidade de distribuição dos dados pelo teste de Shapiro-Wilk, considerando p≤0,01. Realizou-se análise inferencial com média, desvio-padrão e intervalo de confiança. Comparou-se as médias dos grupos pelos testes t de Student e de Mann-Whitney seguindo a distribuição da variável. Utilizou-se a regressão linear para analisar a previsão das alterações nas variáveis temporoespaciais de marcha pela idade com o programa Statistical Package for Social Sciences versão 22.0 - nível de confiança de 95%.

RESULTADOS

A amostra foi composta por dois grupos de mulheres, denominados “jovens” (n=19, média 28,5 anos±5,6) e “adultas-idosas” (n=19, média de 61,2 anos ±6,9) (Tabela 1).

As adultas-idosas do estudo eram eutróficas2121 Lipschitz DA. Screening for nutritional status in the elderly. Prim Care. 1994;21(1):55-67., com IMC médio de 23 kg/m2, havendo diferença estatisticamente significante na comparação entre mulheres jovens e adultas-idosas para vários parâmetros temporoespaciais (Tabela 2).

A comparação (Tabela 2) e a regressão linear (Tabela 3) apresentaram resultados indicativos de diferenças entre os grupos, com presença de medidas de risco de queda.

Tabela 1
Descrição e análise inferencial das variáveis antropométricas, comparando os grupos etários jovens (20-40 anos) e adultas idosas (50-70 anos)
Tabela 2
Comparação dos parâmetros temporoespaciais da marcha entre jovens (20-40 anos) e adultas idosas (50-70 anos)
Tabela 3
Análise da previsão da idade sobre as alterações dos parâmetros temporoespaciais de marcha, utilizando a regressão linear.

DISCUSSÃO

No estudo, as mulheres de 50 a 70 anos de idade apresentaram alteração precoce dos parâmetros temporoespaciais da marcha, indicativos de risco de queda. A alteração na marcha do idoso ocorre a partir de 60 a 65 anos2222 Moreira BS, Sampaio RF, Kirkwood RN. Spatiotemporal gait parameters and recurrent falls in community-dwelling elderly women: a prospective study. Braz J Phys Ther. 2015;19(1):61-9. doi: 10.1590/bjpt-rbf.2014.0067.
https://doi.org/10.1590/bjpt-rbf.2014.00...
), (2323 DeVita P, Hortobagyi T. Age causes a redistribution of joint torques and powers during gait. J Appl Physiol (1985). 2000;88(5):1804-11., sem considerar que há risco de quedas na população entre 45 a 65 anos2424 Talbot LA, Musiol RJ, Witham EK, Metter EJ. Falls in young, middle-aged and older community dwelling adults: perceived cause, environmental factors and injury. BMC Public Health. 2005;18(5):86. doi: 10.1186/1471-2458-5-86.
https://doi.org/10.1186/1471-2458-5-86...
.

Identificou-se outros marcadores biomecânicos de alterações no aparelho locomotor que implicam risco de queda. O enfraquecimento muscular, as alterações na mobilidade articular, na flexibilidade e no equilíbrio são condições próprias do envelhecimento, que influenciam na marcha independente da idade definida para o senescente2525 Kerrigan DC, Todd MK, Della Croce U, Lipsitz LA, Collins JJ. Biomechanical gait alterations independent of speed in the healthy elderly: evidence for specific limiting impairments. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(3):317-22..

Houve diferença significante para as medidas temporoespaciais entre os lados direito e esquerdo no estudo, confirmando assimetria e risco de queda nas mulheres da pesquisa, como foi analisado por Patterson et al.2626 Patterson KK, Nadkarni NK, Black SE, McIlroy WE. Gait symmetry and velocity differ in their relationship to age. Gait Posture. 2012;35(4):590-4. doi: 10.1016/j.gaitpost.2011.11.030.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2011....
. Essas diferenças podem ter ocorrido devido à oscilação do centro de massa ou à direção do pé dominante durante a fase de balanço2727 Krishnan V, Rosenblatt NJ, Latash ML, Grabiner MD. The effects of age on stabilization of the mediolateral trajectory of the swing foot. Gait Posture. 38(4):923-8. doi: 10.1016/j.gaitpost.2013.04.023.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013....
.

A medida da largura da base apresentou diferença estatística significativa entre jovens e adultas-idosas no estudo, concordando com Muir et al.2828 Muir BC, Rietdyk S, Haddad JM. Gait initiation: the first four steps in adults aged 20-25 years, 65-79 years, and 80-91 years. Gait Posture. 2014;39(1):490-4. doi: 10.1016/j.gaitpost.2013.08.037.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013....
. A largura da base reflete no equilíbrio e na marcha, atuando na regulação do posicionamento do centro de massa2929 McAndrew Young PM, Dingwell JB. Voluntarily changing step length or step width affects dynamic stability of human walking. Gait Posture. 2012;35(3):472-7. doi: 10.1016/j.gaitpost.2011.11.010.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2011....
, marcando a diferença de marcha entre idosos caidores e não caidores44 Thaler-Kall K, Peters A, Thorand B, Grill E, Autenrieth CS, Horsch A, et al. Description of spatio-temporal gait parameters in elderly people and their association with history of falls: results of the population-based cross-sectional KORA-Age study. BMC Geriatr. 2015;15(1):32. doi: 10.1186/s12877-015-0032-1.
https://doi.org/10.1186/s12877-015-0032-...
.

A velocidade média de marcha é um marcador funcional que indica risco de queda no idoso3030 0. Montero-Odasso M, Schapira M, Soriano ER, Varela M, Kaplan R, Camera LA, et al. Gait velocity as a single predictor of adverse events in healthy seniors aged 75 years and older. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2005;60(10):1304-9., especialmente a partir da sétima década de vida1111 1. Arnold JB, Mackintosh S, Jones S, Thewlis D. Differences in foot kinematics between young and older adults during walking. Gait Posture. 2014;39(2):689-94. doi: 10.1016/j.gaitpost.2013.09.021.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013....
. No estudo, cuja média de idade é 42 anos, a velocidade de marcha das jovens foi de 1,26 m/s, e das adultas-idosas, 1,12m/s - valores semelhantes aos de outros estudos3131 Allard P, Lachance C, Aissaoui R, Duhaime M. Simultaneous bilateral 3-D able-bodied gait. Hum Mov Sci. 1996;15:327-46.), (3232 Crosbie J, Vachalathiti R, Smith R. Age, gender and speed effects on spinal kinematics during walking. Gait Posture. 1997;5:13-20.. Considerou-se o efeito da variação da idade sobre a velocidade, e a análise de regressão linear mostrou que, a cada avanço em um ano na idade, a velocidade de marcha das mulheres mudaria em 20%. A diminuição da velocidade de marcha pode ser utilizada como um marcador de fragilidade3333 Freire Junior RC, Porto JM, Rodrigues NC, Brunelli R M, Braga LF, Abreu DC. Spatial and temporal gait characteristics in pre-frail community-dwelling older adults. Geriatr Gerontol Int. 2016;16(10):1102-8. doi: 10.1111/ggi.12594.
https://doi.org/10.1111/ggi.12594...
, e quanto mais precocemente identificada a alteração da velocidade na marcha, melhor a condução terapêutica para diminuir o risco de quedas.

Os comprimentos da passada e do passo, bilateralmente, apresentaram diferença significante. A redução do comprimento da passada está associada a quedas em homens acima de 74 anos, o que não ocorre em mulheres na mesma faixa etária ou entre homens e mulheres de 65 a 74 anos de idade44 Thaler-Kall K, Peters A, Thorand B, Grill E, Autenrieth CS, Horsch A, et al. Description of spatio-temporal gait parameters in elderly people and their association with history of falls: results of the population-based cross-sectional KORA-Age study. BMC Geriatr. 2015;15(1):32. doi: 10.1186/s12877-015-0032-1.
https://doi.org/10.1186/s12877-015-0032-...
.

No presente estudo, com o avançar da idade, as medidas funcionais - comprimentos do passo, passada e velocidade - diminuíram, e as medidas de estabilidade - duração dos períodos de apoio, apoio duplo e pré-balanço - aumentaram na busca por estabilidade, no intuito de diminuir o risco de quedas3434 Bridenbaugh SA, Kressig RW. Laboratory review: the role of gait analysis in seniors' mobility and fall prevention. Gerontology. 2011;57(3):256-64. doi: 10.1159/000322194.
https://doi.org/10.1159/000322194...
), (3535 König N, Singh NB, von Beckerath J, Janke L, Taylor WR. Is gait variability reliable? An assessment of spatio-temporal parameters of gait variability during continuous overground walking. Gait Posture. 2014;39(1):615-7. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013.06.014.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013....
. A medida de apoio duplo apresentou relação direta com o avançar da idade a partir dos 50 anos (r=0,48 e p=0,010 à direita; e r=0,60 e p<0,001 à esquerda), semelhante ao estudo de LaRoche et al.3636 LaRoche DP, Greenleaf BL, Croce RV, McGaughy JA. Interaction of age, cognitive function, and gait performance in 50-80-year-olds. Age (Dordr.) 2014;36(4):9693. doi: 10.1007/s11357-014-9693-5.
https://doi.org/10.1007/s11357-014-9693-...
. Alguns programas de fisioterapia3737 Verlinden VJ, van der Geest JN, Hoogendam YY, Hofman A, Breteler MM, Ikram MA. Gait patterns in a community-dwelling population aged 50 years and older. Gait Posture. 2013;37(4):500-5. doi: 10.1016/j.gaitpost.2012.09.005.
https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2012....
) podem mudar os parâmetros de velocidade, tempo e comprimento da passada, que são medidas de risco para quedas. Além disso, as medidas temporoespaciais apresentam mudanças sutis, e os equipamentos tridimensionais de análise de movimento detectam mínimas diferenças na marcha advindas da relação com a idade.

CONCLUSÃO

As medidas do comprimento do passo, passada e velocidade diminuem, enquanto as medidas de tempo de apoio, apoio duplo e pré-balanço aumentam. Na comparação entre os grupos etários, as modificações que indicam risco de queda ocorrem na faixa etária de 50 a 70 anos de idade. Nossos achados ampliam os conhecimentos sobre as alterações de marcha em uma faixa etária ainda não considerada de risco.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Ganz DA, Bao Y, Shekelle PG, Rubenstein LZ. Will my patient fall? JAMA. 2007;297(1):77-86.
  • 2
    Senden R, Savelberg HH, Grimm B, Heyligers IC, Meijer K. Accelerometry-based gait analysis, an additional objective approach to screen subjects at risk for falling. Gait Posture. 2012;36(2):296-300. doi: 10.1016/j.gaitpost.2012.03.015.
    » https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2012.03.015
  • 3
    Callisaya ML, Blizzard L, Schmidt MD, McGinley JL, Srikanth VK. Ageing and gait variability - a population-based study of older people. Age Ageing. 2010;39(2):191-7. doi: 10.1093/ageing/afp250.
    » https://doi.org/10.1093/ageing/afp250
  • 4
    Thaler-Kall K, Peters A, Thorand B, Grill E, Autenrieth CS, Horsch A, et al. Description of spatio-temporal gait parameters in elderly people and their association with history of falls: results of the population-based cross-sectional KORA-Age study. BMC Geriatr. 2015;15(1):32. doi: 10.1186/s12877-015-0032-1.
    » https://doi.org/10.1186/s12877-015-0032-1
  • 5
    Schwesig R, Fischer D, Lauenroth A, Becker S, Leuchte S. Can falls be predicted with gait analytical and posturographic measurement systems? A prospective follow-up study in a nursing home population. Clin Rehabil. 2013;27(2):183-90. doi: 10.1177/0269215512452880.
    » https://doi.org/10.1177/0269215512452880
  • 6
    MacAulay RK, Allaire TD, Brouillette RM, Foil HC, Bruce-Keller AJ, Han H, et al. Longitudinal assessment of neuropsychological and temporal/spatial gait characteristics of elderly fallers: taking it all in stride. Front Aging Neurosci. 2015;7:34. doi: 10.3389/fnagi.2015.00034.
    » https://doi.org/10.3389/fnagi.2015.00034
  • 7
    Verghese J, Holtzer R, Lipton RB, Wang C. Quantitative gait markers and incident fall risk in older adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2009;64A(8):896-901. doi: 10.1093/gerona/glp033.
    » https://doi.org/10.1093/gerona/glp033
  • 8
    Doyo W, Kozakai R, Kim HY, Ando F, Shimokata H. Spatiotemporal components of the 3-D gait analysis of community-dwelling middle-aged and elderly Japanese: age and sex-related differences. Geriatr Gerontol Int. 2011;11(1):39-49. doi: 10.1111/j.1447-0594.2010.00632.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1447-0594.2010.00632.x
  • 9
    Talbot LA, Musiol RJ, Witham EK, Metter EJ. Falls in young, middle-aged and older community dwelling adults: perceived cause, environmental factors and injury. BMC Public Health. 2005;5:86. doi: 10.1186/1471-2458-5-86.
    » https://doi.org/10.1186/1471-2458-5-86
  • 10
    0. Oh-Park M, Holtzer R, Xue X, Verghese J. Conventional and robust quantitative gait norms in community-dwelling older adults. J Am Geriatr Soc. 2010;58(8):1512-8. doi: 10.1111/j.1532-5415.2010.02962.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1532-5415.2010.02962.x
  • 11
    1. Arnold JB, Mackintosh S, Jones S, Thewlis D. Differences in foot kinematics between young and older adults during walking. Gait Posture. 2014;39(2):689-94. doi: 10.1016/j.gaitpost.2013.09.021.
    » https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013.09.021
  • 12
    Suzuki T, Bean JF, Fielding RA. Muscle power of the ankle flexors predicts functional performance in community-dwelling older women. J Am Geriatr Soc. 2001;49(9):1161-7.
  • 13
    Silva-Hamu TCD, Formiga CKMR, Gervásio FM, Ribeiro DM, Christofoletti G, França Barros J. The impact of obesity in the kinematic parameters of gait in young women. Int J Gen Med. 2013;6:507-13. doi: 10.2147/IJGM.S44768.
    » https://doi.org/10.2147/IJGM.S44768
  • 14
    Ko S, Stenholm S, Ferrucci L. Characteristic gait patterns in older adults with obesity - Results from the Baltimore Longitudinal Study of Aging. J Biomech. 2010;43(6):1104-10. doi: 10.1016/j.jbiomech.2009.
    » https://doi.org/10.1016/j.jbiomech.2009
  • 15
    Kadaba MP, Ramakrishnan HK, Wootten ME. Measurement of lower extremity kinematics during level walking. J Orthop Res. 1990;8(3):383-92. doi: 10.1002/jor.1100080310.
    » https://doi.org/10.1002/jor.1100080310
  • 16
    Peak Performance Technologies. Manual Peak Motus 9.2. Colorado: Motus; 2000.
  • 17
    Elble RJ, Thomas SS, Higgins C, Colliver J. Stride-dependent changes in gait of older people. J Neurol. 1991;238(1):1-5.
  • 18
    Novaes RD, Miranda AS, Dourado VZ. Usual gait speed assessment in middle-aged and elderly Brazilian subjects. Rev Bras Fisioter. 2011;15(2):117-22.
  • 19
    Kaufman KR, Sutherland DH. Cinemática da marcha normal. In: Rose J, Gamble JG, editors. Marcha: teoria e prática da locomoção humana. 3. ed. São Paulo: Guanabara Koogan; 2007. p. 35-52.
  • 20
    0. Perry J, Burnfield JM. Gait analysis: normal and pathological function. 2. ed. New Jersey: Slack Incorporated; 2010.
  • 21
    Lipschitz DA. Screening for nutritional status in the elderly. Prim Care. 1994;21(1):55-67.
  • 22
    Moreira BS, Sampaio RF, Kirkwood RN. Spatiotemporal gait parameters and recurrent falls in community-dwelling elderly women: a prospective study. Braz J Phys Ther. 2015;19(1):61-9. doi: 10.1590/bjpt-rbf.2014.0067.
    » https://doi.org/10.1590/bjpt-rbf.2014.0067
  • 23
    DeVita P, Hortobagyi T. Age causes a redistribution of joint torques and powers during gait. J Appl Physiol (1985). 2000;88(5):1804-11.
  • 24
    Talbot LA, Musiol RJ, Witham EK, Metter EJ. Falls in young, middle-aged and older community dwelling adults: perceived cause, environmental factors and injury. BMC Public Health. 2005;18(5):86. doi: 10.1186/1471-2458-5-86.
    » https://doi.org/10.1186/1471-2458-5-86
  • 25
    Kerrigan DC, Todd MK, Della Croce U, Lipsitz LA, Collins JJ. Biomechanical gait alterations independent of speed in the healthy elderly: evidence for specific limiting impairments. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(3):317-22.
  • 26
    Patterson KK, Nadkarni NK, Black SE, McIlroy WE. Gait symmetry and velocity differ in their relationship to age. Gait Posture. 2012;35(4):590-4. doi: 10.1016/j.gaitpost.2011.11.030.
    » https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2011.11.030
  • 27
    Krishnan V, Rosenblatt NJ, Latash ML, Grabiner MD. The effects of age on stabilization of the mediolateral trajectory of the swing foot. Gait Posture. 38(4):923-8. doi: 10.1016/j.gaitpost.2013.04.023.
    » https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013.04.023
  • 28
    Muir BC, Rietdyk S, Haddad JM. Gait initiation: the first four steps in adults aged 20-25 years, 65-79 years, and 80-91 years. Gait Posture. 2014;39(1):490-4. doi: 10.1016/j.gaitpost.2013.08.037.
    » https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013.08.037
  • 29
    McAndrew Young PM, Dingwell JB. Voluntarily changing step length or step width affects dynamic stability of human walking. Gait Posture. 2012;35(3):472-7. doi: 10.1016/j.gaitpost.2011.11.010.
    » https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2011.11.010
  • 30
    0. Montero-Odasso M, Schapira M, Soriano ER, Varela M, Kaplan R, Camera LA, et al. Gait velocity as a single predictor of adverse events in healthy seniors aged 75 years and older. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2005;60(10):1304-9.
  • 31
    Allard P, Lachance C, Aissaoui R, Duhaime M. Simultaneous bilateral 3-D able-bodied gait. Hum Mov Sci. 1996;15:327-46.
  • 32
    Crosbie J, Vachalathiti R, Smith R. Age, gender and speed effects on spinal kinematics during walking. Gait Posture. 1997;5:13-20.
  • 33
    Freire Junior RC, Porto JM, Rodrigues NC, Brunelli R M, Braga LF, Abreu DC. Spatial and temporal gait characteristics in pre-frail community-dwelling older adults. Geriatr Gerontol Int. 2016;16(10):1102-8. doi: 10.1111/ggi.12594.
    » https://doi.org/10.1111/ggi.12594
  • 34
    Bridenbaugh SA, Kressig RW. Laboratory review: the role of gait analysis in seniors' mobility and fall prevention. Gerontology. 2011;57(3):256-64. doi: 10.1159/000322194.
    » https://doi.org/10.1159/000322194
  • 35
    König N, Singh NB, von Beckerath J, Janke L, Taylor WR. Is gait variability reliable? An assessment of spatio-temporal parameters of gait variability during continuous overground walking. Gait Posture. 2014;39(1):615-7. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013.06.014.
    » https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2013.06.014
  • 36
    LaRoche DP, Greenleaf BL, Croce RV, McGaughy JA. Interaction of age, cognitive function, and gait performance in 50-80-year-olds. Age (Dordr.) 2014;36(4):9693. doi: 10.1007/s11357-014-9693-5.
    » https://doi.org/10.1007/s11357-014-9693-5
  • 37
    Verlinden VJ, van der Geest JN, Hoogendam YY, Hofman A, Breteler MM, Ikram MA. Gait patterns in a community-dwelling population aged 50 years and older. Gait Posture. 2013;37(4):500-5. doi: 10.1016/j.gaitpost.2012.09.005.
    » https://doi.org/10.1016/j.gaitpost.2012.09.005
  • Fonte de financiamento: Nada a declarar
  • 3
    Aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Goiás sob o protocolo nº 741.298/2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2016

Histórico

  • Recebido
    Nov 2015
  • Aceito
    Set 2016
Universidade de São Paulo Rua Ovídio Pires de Campos, 225 2° andar. , 05403-010 São Paulo SP / Brasil, Tel: 55 11 2661-7703, Fax 55 11 3743-7462 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revfisio@usp.br