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A experiência de segunda tela e o modelo de negócios suportado por publicidade: a sincronização de anúncios entre telas (o caso brasileiro de SuperStar)

La experiencia de segunda pantalla y el modelo de negocio basado en la publicidad: la sincronización de anuncios entre pantallas (el caso brasileño de SuperStar)

Resumo

A experiência de segunda tela tem reconfigurado o modo como a audiência assiste TV (tanto considerando TV social quanto a busca por conteúdos adicionais àqueles veiculados). O manuseio de gadgets concomitantemente ao ato de ver TV, enquanto pode promover distração da audiência, também expande potencialmente o alcance dos patrocinadores caso haja sincronização dos anúncios entre as múltiplas telas acessadas. Tal sincronização pode ser interessante para o modelo de negócios suportado por publicidade da TV comercial, e é aplicável especialmente no caso de fornecimento de apps pelas emissoras para materialização da experiência televisual adaptada. O artigo apresenta a sincronização de anúncios entre telas observada no caso do app fornecido pela Rede Globo para uso durante a veiculação da terceira temporada do reality show SuperStar.

Palavras-chave
Televisão; TV comercial; Experiência de segunda tela; Modelo de negócios de TV; Anunciantes/patrocinadores da TV

Resumen

La experiencia de segunda pantalla ha reconfigurado la forma como la audiencia ve la televisión. El uso de aparatos mientras los espectadores ven la televisión puede promover una distracción de la audiencia, pero también potencialmente amplía el alcance de los patrocinadores de TV – pero para esta expansión, es necesaria la sincronización de anuncios entre las múltiples pantallas accedidas. Dicha sincronización puede ser interesante para el modelo de negocio de televisión comercial basado en la publicidad, y es aplicable especialmente cuando la emisora suministra las aplicaciones para que la audiencia materialice la experiencia televisiva adaptada. Este artículo presenta un caso de sincronización de anuncios entre pantallas observado con el uso por parte del público de una app (suministrada por la cadena brasileña Globo) durante la emisión de la tercera temporada del reality show SuperStar.

Palabras clave
Televisión; Televisión comercial; Experiencia de segunda pantalla; Modelo de negocio de televisión; Anunciantes/patrocinadores de televisión

Abstract

The second screen experience has reconfigured the way audiences watches TV (considering both social TV and the search for additional contents related to the aired one). The use of gadgets while the viewers watch TV can promote a distraction of the audience, but also potentially expands the reach of TV sponsors – to this expansion effectively occurs, it is necessary the ads synchronization between the multiple screens accessed. Such synchronization can be interesting to the advertising-supported business model in commercial TV, and is applicable especially when the broadcaster supplies the apps in order to the audience materialize their adapted televisual experience. This paper presents a case of ads’ synchronization between screens observed with the usage by the audience of an app (supplied by Brazilian Globo Network TV) during the airing of the third season of the SuperStar reality show.

Keywords
Television; Commercial TV; Second screen experience; TV business model; TV advertisers/sponsors

Introdução

A audiência de televisão tem feito – ao redor do mundo – uso de dispositivos móveis para acessar a Internet concomitantemente ao ato de assistir TV1 1 No caso da TV nos Estados Unidos, pesquisa realizada no ano de 2011 identificou que 86% dos entrevistados usavam o telefone celular enquanto assistiam TV, ao passo que 23% utilizavam o aparelho para obter informações em relação ao conteúdo que assistiam. Ainda, 70% dos entrevistados alegaram que utilizavam mais frequentemente seu tablet em frente à televisão (PROULX; SHEPATIN, 2012, p.87). Quanto ao Brasil, dados do relatório PNAD relativos ao ano de 2013 (divulgados em 2015) identificaram, “pela primeira vez, [...] o acesso domiciliar à Internet por meio de [...] telefone móvel celular, tablet, televisão e outros equipamentos eletrônicos” (PNAD, 2015). O relatório informou que os “percentuais de domicílios que utilizavam a Internet conforme o tipo de equipamento são os seguintes: telefone móvel celular ou tablet (57,3% ou 17,9 milhões), telefone móvel celular (53,6% ou 16,8 milhões), tablet (17,2% ou 5,4 milhões), televisão (2,7% ou 832 mil) e outros equipamentos (0,7% ou 210 mil)” (PNAD, 2015). Estes dados, associados às informações de que (i) o público que mais assiste “TV com [enquanto navega na] Internet são os jovens, principalmente entre 20 a 24 anos, [de que (ii)] são os adolescentes de 15 a 19 anos os que mais comentam sobre a televisão na Internet [...] [, e de que (iii) entre os adultos, esse hábito é maior entre as mulheres e entre as pessoas de classe econômica AB” (NO BRASIL, 2013), os dados do relatório PNAD auxiliam a mapear preliminarmente o cenário de adaptação no modo de assistir TV do público brasileiro. Vale destacar que na atualização do relatório PNAD com dados de 2015 (divulgados em 2016) “considerou-se somente a utilização da Internet feita pela própria pessoa por meio de computador de mesa ou portátil (laptop, notebook, palmtop, pocket pc, handheld). Não foi abrangido, portanto, o acesso à Internet feito por outros meios (telefone móvel celular, televisão a cabo ou satélite, game console)” (PNAD, 2016). Contudo, nessa mesma atualização do relatório informou-se que as “proporções de domicílios com microcomputador (46,2%) e com microcomputador com acesso à Internet (40,5%) registraram retrações de 2,3 e 1,6 pontos percentuais. [...] Isso se deve ao crescimento do acesso por meio de outros equipamentos” (PNAD, 2016). É possível inferir então que tal crescimento esteja potencialmente associado exatamente ao uso de gadgets do tipo smartphone e tablet. A atualização dos dados em relatório futuro deve permitir avançar com a análise. . Analisar conceitualmente essa atualização no modo de ver televisão é complexo – inclusive pela variação da nomenclatura adotada: dependendo do tipo de ação executada durante o uso dos aparatos tecnológicos, varia o termo tipicamente atribuído, ora referenciando o ato como (i) TV social, ora como (ii) segunda tela.

A expressão (i) TV social é adotada para referenciar “a metamorfose da televisão” (COLLETTI; MATERIA, 2012COLLETTI, Giampaolo; MATERIA, Andrea. Social TV: guida ala nuova TV nell’era di Facebook e Twitter. Milano: Gruppo24ore, 2012., p.12 – Tradução nossa) quando o uso do gadget conectado à Rede envolve a realização, pelo público, de comentários relacionados ao programa assistido na TV nas redes sociais digitais (como o Facebook ou o Twitter). Esse modo de uso tem associado o estabelecimento de pertencimento via canal de fundo – ou backchannel (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.3): configura-se uma “conversa em tempo real [...] [, conduzida] em canais de mídia social durante o período em que um episódio [ou programa] é veiculado” (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.11 – Tradução nossa, grifo no original). As conversas relativas ao programa de TV nas redes sociais habilitam o “sentimento de estar conectado e de ser parte de algo grande enquanto assistindo televisão” (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.14 – Tradução nossa, grifo nosso). Assim, ainda que se afirme que “o tempo quando uma nação sentia-se única porque todos estavam assistindo ao mesmo programa simultaneamente acabou (exceto no caso de eventos maiores, como esportes, noticiários significativos e poucos programas)” (DOUGLAS, 2015DOUGLAS, Pamela. The future of television: your guide to creating TV in the new world. Studio City: Michael Wiese Productions, 2015., p.19 – Tradução nossa), o modo de uso da TV social parece indicar ainda certa tendência na constituição de uma espécie de sala de estar expandida para além dos limites domésticos2 2 Enquanto no passado os diálogos (durante a veiculação) associados ao conteúdo transmitido ocorriam tipicamente nas salas de visitas das residências (local por excelência onde costumava ser instalado o aparelho televisor nos domicílios), a Internet e as redes sociais digitais ampliaram o alcance dessas conversas. .

Já (ii) segunda tela (ou, ainda, a variação que eventualmente é utilizada, múltiplas telas) é o termo que tem sido utilizado para referenciar a consulta pelo público de informações adicionais, na Internet, em relação ao conteúdo apresentado na TV. No caso de produções televisuais de entretenimento, pode-se considerar, por exemplo, o fornecimento de conteúdos adicionais ao espectador, acessíveis a partir de um app proprietário (um produto de software desenvolvido pela própria emissora) executado em um dispositivo móvel durante a veiculação dos programas na TV3 3 No caso do Brasil, é possível citar os casos da série Hannibal – veiculada pelo canal AXN (MACHADO FILHO, 2013) – e da série Projeto S.O.F.I.A. – desenvolvida pela TV Unesp/Bauru (OLIVEIRA; CARDOSO; COQUEMALA, 2016). . Quando se trata de programas jornalísticos, o app proprietário pode fornecer informações adicionais às matérias veiculadas na TV4 4 Houve um caso no Brasil de conteúdos disponibilizados por uma emissora de TV pública em app proprietário; na situação, à medida que as matérias jornalísticas eram veiculadas na TV, o espectador recebia e podia acessar, em seu gadget, informações complementares fornecidas pelo canal de TV. Trata-se do app da TV Cultura de São Paulo (MARQUIONI, 2016, p.121-129). .

Apesar da variação na forma de nomear os modos de uso, entende-se aqui que, enquanto experiência (constituindo uma espécie de formato geral), as ações executadas envolvem a existência de “uma camada paralela e sincronizada de conteúdo interativo associada à experiência de TV” (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.84 – Tradução nossa). Por estar associada à experiência de TV, sugere-se (e adota-se neste artigo a partir deste ponto) a expressão experiência de segunda tela como alternativa para abarcar as várias denominações utilizadas5 5 Aqui se concorda com observação apresentada por James Blake, segundo a qual a “‘Segunda tela’ é melhor entendida não como um objeto ou um dispositivo de mídia, mas como uma experiência” (2017, p.1 – Tradução nossa, itálico no original). , particularmente considerando que tal experiência é associada ao uso de gadgets conectados à Internet enquanto o indivíduo assiste TV6 6 Novamente conforme James Blake entende-se aqui o “ conceito de ‘segunda tela’ [como] a estória de uma união conveniente entre duas [...] plataformas [...]: a televisão e dispositivos móveis” (2017, p.1 - Tradução nossa); mais especificamente aqueles conectados à Rede. .

Vale destacar também que, adicionalmente a considerar a experiência de segunda tela como associada à “experiência de TV” (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.84 – Tradução nossa), entende-se neste artigo que ocorre uma efetiva reconfiguração cultural na experiência televisual anteriormente observável (que poderia ser pensada como constituindo uma experiência televisual básica). A experiência de TV básica é considerada aqui como resultante de dois aspectos (MARQUIONI; OLIVEIRA, 2016MARQUIONI, Carlos Eduardo; OLIVEIRA, Caroline Cavalcanti. Sobre novas formas de manipulação do tempo na televisão (ou Redefinindo a noção de TV ‘ao vivo’ via redes sociais). Revista Comunicação e Sociedade, v.38, n.2, p.209-229, maio/agosto 2016., p.211-213): tanto o “fluxo” (WILLIAMS, 2005WILLIAMS, Raymond. Television: Technology and Cultural Form. Padstow: Routledge Classics, [1974] 2005., p.89-90 – Nossa tradução) planejado quanto o aspecto de ao vivo7 7 Para mais detalhes acerca da definição de experiência de TV considerada, consulte Marquioni (2016, p.77-99). . Ao materializar experiência de segunda tela, o “fluxo” passa a estar sujeito a variações em função da existência de conteúdos adicionais e opcionais àquele transmitido pela TV (conteúdo este que, disponível no software, pode impactar a narrativa do programa de televisão). Complementarmente, mesmo um programa gravado assume aspecto de quase-‘ao vivo’ com os conteúdos postados no canal de fundo – potencialmente também impactando o aspecto de ao vivo da experiência básica de TV.

Para avançar com a justificativa da afirmação de que a experiência de segunda tela constituiria uma redefinição na experiência de TV, vale observar também que o modo de ver TV em experiência de segunda tela pode ser processualmente resumido da seguinte maneira: enquanto o espectador assiste um conteúdo transmitido na televisão (a primeira tela), ele também utiliza um gadget conectado à Internet – um computador, notebook, tablet, smartphone ou uma combinação entre eles (a segunda tela, ou uma dentre múltiplas telas) – para executar ações relacionadas ao conteúdo televisual. A rigor, o dispositivo tecnológico adicional é utilizado pela audiência “como uma extensão de seu aparelho televisor” (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.84 – Tradução nossa), fazendo que seja expandida a experiência que teria com o uso de uma única tela. Finalmente, há que se notar que, apesar da simplicidade que o formato geral pode sugerir, a experiência de segunda tela afeta diretamente a complexa relação de influências mútuas (GRAY; LOTZ, 2012GRAY, Jonathan; LOTZ, Amanda D. Television studies. Cambridge: Polity Press, 2012.) que é estabelecida entre os três atores sociais chave do sistema de TV: a audiência, as emissoras/produtores e os anunciantes/patrocinadores. Assim, ainda que obviamente a experiência de segunda tela seja evidentemente materializada com ações executadas pela audiência, defende-se aqui que uma análise em perspectiva complexa do uso de gadgets conectados à Internet concomitantemente ao ato de assistir TV necessita considerar também eventuais adaptações relativas às emissoras (que produzem e veiculam os programas) e aos anunciantes (que os patrocinam). Efetivamente entende-se que a “evolução da TV tradicional [...] conectada à Internet perenemente não afeta apenas os hábitos dos telespectadores, mas a indústria de mídia inteira e em todos os níveis” (COLLETTI; MATERIA, 2012COLLETTI, Giampaolo; MATERIA, Andrea. Social TV: guida ala nuova TV nell’era di Facebook e Twitter. Milano: Gruppo24ore, 2012., p.7 – Tradução nossa).

Para analisar o complexo cenário de reconfiguração experiencial que pode ser observado no contexto da TV, o autor deste artigo iniciou em janeiro de 2016 um projeto de pesquisa no qual investiga os impactos motivados pela experiência de segunda tela no ecossistema televisual. Um tema de especial relevância em tal investigação é a sincronização de anúncios entre dispositivos durante o uso de múltiplos gadgets enquanto assistindo TV: tem sido analisada, por exemplo, como a reconfiguração na experiência televisual da audiência potencialmente impacta não apenas o modo de assistir TV, mas também a produção e o patrocínio da televisão comercial terrestre.

Organizando parte da investigação conduzida, neste artigo é apresentado o modo como ocorreram as sincronizações de anúncios entre telas no caso de um app fornecido pela Rede Globo para uso por parte da audiência durante a veiculação da franquia de competição musical SuperStar (a motivação para a escolha é apresentada adiante); a partir de tal apresentação são propostas análises e reflexões em relação a tal aplicativo. O artigo contém três seções, além desta Introdução e das Considerações Finais. Em A venda de audiência e as várias televisões apresenta-se, em linhas gerais, o modelo de negócios da TV comercial terrestre, indicando que o termo televisão costuma ser utilizado para referenciar itens distintos (o que potencialmente promove confusões que podem culminar inclusive com a percepção de que a televisão estaria com seus dias contados): um ponto de partida para pensar a experiência de segunda tela envolve minimizar o risco de tais confusões. Na seção Sincronizando publicidades entre telas é abordada a relevância de sincronizar os anúncios publicitários como alternativa para minimizar o risco de perda de receita relativa à produção de programas de TV em função da distração da audiência motivada pelo uso concomitante de gadgets. Finalmente, a seção O app de SuperStar: um caso de sincronização de publicidades entre telas apresenta um exemplo de sincronização de publicidade entre telas em um app proprietário fornecido para uso da audiência do reality show de competição musical SuperStar, veiculado no Brasil pela Rede Globo.

Sobre a venda de audiência e as várias televisões

O interesse investigado da pesquisa em curso conduzida pelo autor deste artigo engloba não apenas a experiência televisual na perspectiva da audiência, mas também em que medida o modo de assistir TV em segunda tela influencia a produção e patrocínio dos programas; neste artigo interessa a ocorrência das influências mútuas que podem ser observadas entre os três atores sociais principais que operam no ecossistema televisual (a audiência, as emissoras e os anunciantes).

Tais influências, no caso da TV comercial particularmente, se dão em função do modelo de negócios suportado por publicidade, baseado na venda de audiência8 8 “Às vezes é difícil dizer o que não é publicidade na televisão. [...] O telespectador comum pensa que os comerciais são um mal necessário – ou ele assim o diz. Quinze minutos de ‘anúncio’ por hora são uma chateação que acha suportável, já que lhe propicia os programas favoritos. Ele não percebe que o contrário seria mais verdadeiro: toda a programação da televisão está em função da publicidade” (PIGNATARI, 1984, p.29). Consulte também Williams (2005, p.24). . Neste modelo, é estabelecido um claro circuito conceitual: o público assiste aos programas veiculados pelas emissoras; as emissoras, por sua vez, vendem o público de seus programas aos anunciantes9 9 As “audiências não podem ser vistas como uma categoria a ser entendida, mas como uma mercadoria a ser vendida aos anunciantes” (CASEY et al, 2002, p.13 – Tradução nossa). De fato, a disputa por índices de audiência “é algo mais do que uma simples questão de prestígio para as emissoras, pois são eles que determinam as tabelas de preços que elas vendem às agências de publicidade, periodicamente” (PIGNATARI, 1984, p.31). ; tais vendas patrocinam a produção dos programas que o público assiste. A venda do público e patrocínio associado tem como premissa o fato de que a audiência, além dos programas propriamente ditos, vai assistir às peças publicitárias dos anunciantes patrocinadores, que são veiculadas durante os intervalos comerciais como parte do “fluxo” planejado; ao consumir os produtos ou serviços anunciados, a audiência motiva os anunciantes a continuarem com o patrocínio dos programas, que serão produzidos, veiculados e assistidos. Em tal modelo de negócios, a audiência assistir as peças publicitárias veiculadas dos anunciantes constitui indubitavelmente um fator chave.

É importante reforçar que a relação de influências mútuas é válida para os casos de TV que fazem uso do modelo de negócio baseado em venda de audiência (tipicamente, as TVs classificadas como comercial, aberta, gratuita ou linear) e ainda ocorre independentemente da “tecnologia de distribuição [...] [ou da] plataforma na qual [o conteúdo veiculado] é ouvido e/ou assistido” (GRIPSRUD, 2010GRIPSRUD, Jostein. Television in the digital public sphere. In: ______ (ed). Relocating television: television in the digital context. London and New York: Routledge, 2010. p.3-26., p.9 – Tradução nossa). As análises apresentadas neste artigo são então válidas tanto no caso de TV terrestre, via satélite, cabo (ou qualquer tecnologia de distribuição) quanto para conteúdos assistidos em um aparelho de TV de tubo, digital, celular, tablet (ou qualquer outra plataforma) no caso das emissoras que adotam o modelo de negócios suportado por publicidade. Esta observação é relevante (e não tão óbvia quanto pode parecer), especialmente quando observada a confusão relativa à “mistura [entre] ‘TV’ enquanto um modelo de negócios com ‘TV’ enquanto um canal de distribuição. O modelo de negócios da TV deriva sua receita de conteúdo apresentado [dos programas veiculados] através de uma rede de distribuição também nomeada ‘TV’” (WOLFF, 2015WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015., p.28 – Tradução nossa). Complementarmente à confusão entre o (i) modelo de negócios (particularmente aquele associado à venda de audiência) e a (ii) tecnologia de distribuição, vale observar que o termo televisão é utilizado ainda para referenciar o (iii) dispositivo (a plataforma, o aparelho televisor – que tem sido substituído por outros gadgets para assistir os conteúdos televisuais) – e a (iv) experiência (que, conforme mencionado, é reconfigurada com o advento da segunda tela).

É razoável supor que referenciar esses quatro itens pelo mesmo termo gere confusão – no caso da TV, eventualmente tal confusão talvez constitua uma das origens para a afirmação que a televisão estaria com seus dias contados: ao pensar a TV enquanto (iii) dispositivo, há que se considerar que efetivamente alguns tipos de aparato estão em processo de extinção (em especial o televisor de tubo); contudo, de “todas as apostas a fazer, talvez a menos segura [...] seja que as pessoas vão parar de assistir TV, mesmo que elas parem de assistir a TV” (WOLFF, 2015WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015., p.28 – Tradução nossa, itálico no original) – ou, em outros termos, conteúdos televisuais tenderiam a continuar sendo assistidos, independente de qual seja o monitor utilizado – ou a tela. É possível recorrer também (para uma última argumentação) a comentário do executivo Aaron De Bevoise, realizado durante entrevista concedida a Pamela Douglas. Em tal comentário, o vice-presidente executivo aposentado da Machinima menciona que a “afirmação ‘eu assisti [à série] The Walking Dead’ na televisão vai parecer absurda daqui a dez anos. Porque você vai me contar o lugar [o (iii) dispositivo] no qual você assistiu ao programa? Você vai apenas dizer ‘eu assisti à The Walking Dead’” (DOUGLAS, 2015DOUGLAS, Pamela. The future of television: your guide to creating TV in the new world. Studio City: Michael Wiese Productions, 2015., p.14 – Tradução nossa).

De fato, considerando o (iii) dispositivo, parece razoável inferir que a confusão iniciara

[q]uase imediatamente após o [navegador] Netscape fornecido por [Marc] Andreessen tornar a Web um meio visual amplamente disponível e de fácil manipulação em 1994,[:] a comparação [da Internet] com a televisão se tornou um lugar comum. A Web era potencialmente um meio massivo. Mas, com um pouco de imaginação, [poderia ser ainda] melhor [do que a TV] [...], oferecendo uma experiência mais individualizada e participativa do que a televisão. (WOLFF, 2015WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015., p.39 – Tradução nossa).

Há que se observar ainda que eventualmente a confusão citada pode ter relação com o fato de que “analistas têm se espantado com fato do quanto a Internet conseguiu desafiar todas as grandes mídias como música, jornais e livros, mas ainda tem dificuldades em competir com a TV” (SCHLITTLER, 2011SCHLITTLER, João Paulo Amaral. TV digital interativa: convergência das mídias e interfaces do usuário (design de interação e as novas tecnologias de comunicação). São Paulo: Blucher, 2011., p.44). Adicionalmente – para permanecer na metáfora sugerida por Wolff – tampouco parece razoável considerar o fim da (ii) tecnologia de distribuição constitua uma aposta segura. No complexo ecossistema televisual contemporâneo, parece possível o convívio de várias formas de distribuição do conteúdo – inclusive com canais de TV linear vendendo seus produtos televisuais a emissoras de TV a cabo ou que operam em OTT (Over The Top).

Em relação ao item (i) também são estabelecidas confusões. Particularmente o fato de a Internet adotar o (i) modelo de negócios baseado em publicidade contribui com o estabelecimento de misturas entre TV e Internet. É possível utilizar o exemplo do site youtube.com para desenvolver a afirmação: este website não habilita experiência de televisão conforme considerada neste artigo; contudo, faz uso de elementos do modelo de negócios de vídeo suportado por publicidade (WOLFF, 2015WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015., p.145-150) – proporcionando referência direta ao (i) modelo de negócios da TV. Com isso, confundir vídeos no site youtube.com (particularmente aqueles relativos a programas criados originalmente para a TV) com assistir televisão – ou mesmo anunciar a morte da televisão em função de um site da Internet no qual é possível assistir vídeos – parece uma simplificação razoavelmente fácil de entender em termos conceituais. Especialmente porque se trata

de um problema de linguagem. Todo mundo acredita que por trás de um signo está um ‘significado’, mas a verdade é que, quando a gente vai atrás do tal de significado, encontra sempre outros signos. Assim, quando queremos saber o significado de uma palavra que desconhecemos, vamos ao dicionário [...] [que fornece] outras palavras para explicar o ‘significado’ que buscamos.

(PIGNATARI, 1984PIGNATARI, Décio. Signagem da televisão. São Paulo: Brasiliense, 1984., p.11-12).

No caso dos vídeos na Internet, ao procurar seu significado, potencialmente esbarra-se inevitavelmente com os itens (i), (ii) e (iii) que remetem à televisão. Afinal de contas, o (iii) dispositivo mudou, a (ii) tecnologia de distribuição mudou, o (i) modelo de negócios é observável – particularmente os anúncios publicitários – e o conteúdo tipicamente é um vídeo (várias vezes relativo a um programa que foi produzido e veiculado originalmente na TV, ou fazendo uso de recursos que são reconhecíveis em produções de vídeo para a TV).

Ao abstrair a (iv) experiência, de fato é possível inferir se tratar de um contexto em que um novo meio (a Internet)10 10 Vale destacar que aqui se considera a Internet mais como um sistema de informação do que como um meio: “Um sistema de informação não é sempre uma mídia [...] [e] não há mídia sem uma representação a priori de um público. Essa característica fundamental da comunicação mediatizada permite compreender porque um grande número de atividades da Internet não depende de uma lógica das mídias. Na realidade, uma das condições do seu sucesso é que se trata de uma rede em que não há nenhum público predefinido” (WOLTON, 2003, p.95-97). substitui outro, anterior (a TV). É por esta razão que se defende aqui que a (iv) experiência de TV constitui um fator chave para análises e reflexões em relação ao contexto em reconfiguração no ecossistema televisual contemporâneo por constituir uma adaptação na experiência televisual que – caso considerada – habilita a realização de análises envolvendo alternativas de adaptação do (i) modelo de negócios independente da (ii) tecnologia de distribuição ou do (iii) dispositivo.

Adicionalmente ao contexto de influências mútuas (envolvendo os três atores sociais abordados) mencionado anteriormente, na forma de ver TV reconfigurada a audiência (além de assistir o conteúdo veiculado) materializa experiência de segunda tela com o uso de um dispositivo tecnológico adicional à TV, o que pode provocar uma “distração” (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.106 – Tradução nossa) que potencialmente impacta o circuito conceitual apresentado. Para compreender a afirmação, vale uma breve análise do contexto de redefinição observável no sistema televisual abordando a experiência de segunda tela culturalmente (em perspectiva que considera as mudanças nos modos de ver TV na duração), em especial observando que o espectador teria, em algumas situações, autonomia quanto ao momento em que iria sincronizar os conteúdos entre a primeira e a segunda tela durante a materialização de sua experiência televisual adaptada.

Deve-se observar que a experiência de segunda tela engloba o hardware e o software. A distração efetivamente é iniciada pelo gadget – para onde é direcionado o olhar (o hardware); o cenário permite inclusive analogia com um período ainda anterior à Internet:

Anunciantes há tempos acusam os meios de que o serviço seria orientado a um público distraído (idas ao banheiro e à geladeira nos intervalos, folheio desatento da revista) mas, comparado com os meios digitais, os tradicionais eram algo como um teatro com ideias específicas e foco. [...] Os meios digitais aumentaram a distração [...] ao invés de limitá-la. [...] E então vieram os celulares [...] – com telas menores, maiores distrações (os usuários estavam, literalmente, na rua).

(WOLFF, 2015WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015., p.74 – Tradução nossa).

Contudo, além do dispositivo per se, há que se considerar o software utilizado para a ação – a “distração” potencial do telespectador se dá também em função de o que ele olha (o software utilizado durante a experiência). Também é importante notar que ainda que a emissora seja relevante na materialização da experiência (afinal de contas, as ações executadas tendem a ser motivadas pelo conteúdo apresentado na primeira tela), tanto o estabelecimento das conversas no canal de fundo quanto a procura por conteúdos adicionais podem ocorrer de forma (a) controlada pela emissora ou (b) independente da emissora – neste último caso, o telespectador teria maior autonomia.

No caso dos exemplos anteriores (mencionados nas notas de rodapé relativas à segunda tela ainda na Introdução deste artigo, quando da apresentação da variação na nomenclatura adotada), havia tipicamente um app proprietário (fornecido pelo canal de TV). Entende-se que, caso tal produto de software efetivamente seja fornecido, é caracterizada uma experiência de segunda tela (a) controlada pela emissora, uma vez que com o aplicativo proprietário a audiência pode executar ações de TV social realizando seus comentários diretamente naquele software – os apps de segunda tela tipicamente operam conectados com as redes sociais digitais –, ou ainda acessar conteúdos adicionais sugeridos/oferecidos pelo próprio canal de TV. Esta obtenção de conteúdos adicionais pode ocorrer, por exemplo, através do site/portal da própria emissora (seja com o aplicativo direcionando o espectador para aquele site, ou habilitando acesso ao conteúdo do portal via app). A situação pode ser diretamente associada a uma das “dez Regras de Ouro” sugeridas por Colletti e Materia (2012, p.162-167 – Tradução nossa) aos produtores de TV interessados na experiência de segunda tela de sua audiência; mais especificamente à “Regra 7”, que informa que um “formato [de programa] sem o seu próprio aplicativo móvel é agora como um telejornal sem cabeças falantes. [...] A rede que oferta aplicações ‘feitas em casa’ controla sua cadeia de valor completa” (COLLETTI; MATERIA, 2012COLLETTI, Giampaolo; MATERIA, Andrea. Social TV: guida ala nuova TV nell’era di Facebook e Twitter. Milano: Gruppo24ore, 2012., p.166 – Tradução nossa). Em outros termos, a emissora teria maior controle em relação à experiência.

Já no formato (b) independente da emissora, o espectador pode materializar a experiência sem o uso de um software proprietário – mais que isso, a independência envolve, inclusive, o próprio telespectador definir o momento em que deseja materializar a experiência. Para as conversas no canal de fundo pode ser utilizado diretamente o site de uma rede social digital (com o uso de uma hashtag atuando como um marcador/indexador dos diálogos); em relação à procura por conteúdos adicionais, a ação pode se dar a partir de uma ferramenta de busca (como o Google). Há ainda outro cenário de uso (b) independente da emissora possível, em que o espectador utiliza um app que tenha sido fornecido por outra empresa que não o canal de TV que assiste (por exemplo, um app fornecido por uma operadora de canal a cabo). De toda forma, nesses casos, a emissora não tem garantias de acompanhar exatamente a navegação da audiência (no máximo, pode monitorar o emprego de algumas hashtags durante a veiculação do programa na TV).

O controle à cadeia de valor completa referenciado envolve diretamente o modelo de negócios de venda de audiências (assim como o circuito estabelecido descrito no início desta seção do artigo). Para entender a afirmação, é possível considerar, por exemplo, que com o controle da emissora, inclusive do conteúdo apresentado na segunda tela, um dos aspectos que pode ser equacionado é a articulação/sincronização dos anúncios de patrocinadores dos programas de TV entre telas (CARNEIRO, 2012CARNEIRO, Rafael Gonçalez. Publicidade na TV digital: um mercado em transformação. São Paulo: Aleph, 2012.). Ora, caso as peças publicitárias sejam apresentadas nas várias telas, tende a ser minimizada a potencial preocupação dos anunciantes com o fato de que a distração poderia limitar a visualização das peças publicitárias: o tema é abordado na seção seguinte.

Sincronizando publicidades entre telas

Indubitavelmente, o contexto de reconfiguração no cenário televisual com a experiência de segunda tela é complexo: a TV “está mudando” (GRIPSRUD, 2010GRIPSRUD, Jostein. Television in the digital public sphere. In: ______ (ed). Relocating television: television in the digital context. London and New York: Routledge, 2010. p.3-26., p.16 – Grifo no original) e o uso de próteses tecnológicas (de hardware e software) é chave para a adaptação em processo. Mas há que se observar que variações motivadas pelo uso de próteses não são exatamente uma novidade no contexto da televisão comercial que adota o modelo de negócios baseado em venda de audiência. A relação de influências mútuas entre os atores sociais do ecossistema televisual foi afetada também no caso do zapping. Este modo de ver TV (promovido no passado a partir do uso do controle remoto) possibilita, de fato, uma analogia chave com a experiência de segunda tela.

Ocorre que na experiência de zapping, a troca frequente de canais com o controle remoto pela audiência acarretou também preocupação aos anunciantes de que eventualmente suas peças publicitárias poderiam não ser assistidas durante os intervalos comerciais (ainda que as formas de distração mencionadas anteriormente não se concretizassem). O cenário motivou então as emissoras a reavaliarem o momento de realizar os breaks. Quando o público materializa a experiência de segunda tela em cenário (b) independente da emissora, é possível pensar em uma espécie de complexificação do zapping: a visualização dos anúncios dos patrocinadores pode ser novamente comprometida (e, conforme mencionado, isso é crítico para o modelo de negócios de venda de audiência). Enquanto no passado o zapping constituía um mosaico entre canais, ao materializar experiência de segunda tela seria estabelecido um mosaico entre conteúdos visualizados em suportes diferentes (ou entre telas distintas) culminando com a “distração” (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.106 – Tradução nossa) mencionada.

A partir da audiência, o modo reconfigurado de assistir televisão pode ser analisado então como resultado de uma preparação cultural (MARQUIONI, 2016______. Programas jornalísticos na TV aberta brasileira: entre atualizações da experiência televisual e a manutenção de antigos contratos de leitura. Jundiaí: Paco Editorial, 2016., p.86-99) que envolveu inclusive o uso do controle remoto. Mas, no caso das emissoras e dos anunciantes, é necessário avaliar alternativas que equacionem um contexto complexo: há um fator de complexidade adicional em comparação com o zapping quando observado que, com a experiência de segunda tela realizada de (b) modo independente da emissora, o indicativo percentual de espectadores que acompanham o conteúdo fica fragilizado. Mesmo que não seja identificada variação nos índices de audiência pelas empresas que fazem o monitoramento do público sintonizado, há risco de o espectador estar sintonizado no canal, mas com sua atenção orientada majoritariamente ao conteúdo do dispositivo utilizado para materializar a experiência de segunda tela. Assim, diferente do zapping com o controle remoto (situação em que é possível às emissoras terem ao menos um indicativo geral do movimento de migração entre canais pelo público, através da flutuação aferida de cada emissora em relação a suas concorrentes11 11 Fala-se em indicativo geral no sentido em que a partir dos índices percentuais de audiência é possível observar a flutuação entre canais, e inferir o deslocamento do público. ), no caso em que a experiência de segunda tela é materializada sem o uso de um app proprietário, fornecido pela emissora, há probabilidade de que, caso o espectador esteja com a atenção orientada para o conteúdo do dispositivo que não sua primeira tela, ele acompanhe de modo limitado tanto os programas quanto os anúncios dos patrocinadores dos programas, sem que as emissoras tenham qualquer indicativo da situação12 12 É importante destacar, contudo, que mesmo no caso em que o espectador utiliza o app ele pode eventualmente não estar atento aos anúncios. Trata-se de algo que pode ser observado também desde os primórdios da publicidade na Internet – o que acarretou, inclusive, a necessidade de ser reavaliada a forma de mensuração de anúncios na Rede: “Se as pessoas não estavam prestando atenção nos anúncios, se elas podiam evita-los, se elas estavam clicando e deixando-as em microssegundos, se não havia forma estrutural de fazer as pessoas prestarem atenção, então seu valor iria cair” (WOLFF, 2015, p.49 – Tradução nossa). Entende-se, contudo, que este segundo risco tende a ser menor, dependendo do modo como for equacionada a apresentação do conteúdo publicitário entre telas. Aqui, a criatividade dos anúncios apresentados na segunda tela parece constituir um fator chave – inclusive em relação a quando (seria o momento de) exibir conteúdos. . A rigor, parece ser possível afirmar que não basta mais a audiência estar sintonizada na emissora (uma vez que o espectador pode estar distraído em relação ao conteúdo da primeira tela, materializando segunda tela de modo independente); seria preferível a audiência estar conectada ao canal de TV.

Considera-se então que com o uso de app fornecido pela emissora haveria maior probabilidade dessa conexão ocorrer: ao mesmo tempo em que o aplicativo tende a expandir o consumo dos conteúdos televisivos, também deve alinhar os interesses dos patrocinadores dos programas, das emissoras e da audiência. Afinal, os patrocinadores passam – com as duas (ou mais) telas – a ter um alcance maior para seus anúncios (mesmo com o compartilhamento de atenção, uma vez que eles poderiam ser apresentados nas múltiplas telas); as emissoras continuariam a contar com financiamento para as produções; e a audiência materializaria sua experiência de segunda tela enquanto assiste TV.

Contudo, na perspectiva das emissoras, o fornecimento do app pressupõe desenvolvimento e manutenção de produtos de software, o que complexifica o processo utilizado pelos canais de TV comercial para produção televisual, em função da adição de atividades técnicas (relativas à análise de sistemas e construção de programas de software) às tarefas tipicamente executadas para produção de programas de televisão. Complementarmente, desenvolvido o app, no momento de veicular o conteúdo, um complexo contexto é estabelecido, associado a manter camadas de software sincronizadas com o conteúdo veiculado na TV. Os apps podem ser pensados nesta perspectiva de modo análogo aos “overlays” (GAWLINSKI, 2003GAWLINSKI, Mark. Interactive television production. Oxford: Focal Press, 2003., p.17) da TV digital interativa13 13 A TV digital brasileira não habilitou (conforme informado que aconteceria) interatividade efetiva diretamente via aparelho de TV. Tampouco habilitou interatividade considerando a experiência de TV conforme adotada neste artigo: ainda que exista o caso apresentado na obra Brasil 4D no ano de 2013 (cotada nas referências deste artigo) – apesar da inquestionável relevância sob perspectiva social –, a situação de uso abordada naquela iniciativa envolvia transformar o aparelho televisor em um computador (trata-se, a rigor, do uso da TV digital interativa em uma experiência de computador – ou de Internet –, mas não de televisão). As ações de interatividade executadas em experiência de segunda tela parecem equacionar essa espécie de anomalia experiencial (ou ainda proporcionar a interatividade não oferecida efetivamente) em relação à TV digital interativa (no sentido em que passa a ser possível para a audiência interagir com o conteúdo televisual – em experiência de TV – enquanto assistindo TV, ainda que seja necessária outra tela, que não a da televisão digital interativa, para materializar a ação). , sendo necessário considerar a grade de programação vertical (o programa sendo veiculado) para avaliar as opções de interatividade (que seriam realizadas através do app). Afinal, há contratos de leitura14 14 According to data from the Ministry of Education, available on: <http://emec.mec.gov.br/>. Accessed on: July 5th, 2016. distintos relacionados a tipos de programa diferentes (e as ações de interatividade são potencialmente afetadas por esses contratos de leitura).

No complexo cenário, é necessário repensar o modo de produzir TV para tratar as influências mútuas entre os atores sociais do sistema televisual. Ainda que referenciando apenas o período da emissão, Colletti e Materia indicaram a relevância de

[e]stender a experiência de entretenimento [o que] obriga as emissoras a definir uma inédita linha de montagem paralela àquela do programa principal na TV linear: desenvolver conteúdo pré e pós-programa para o público ativo on-line; reter assim o interesse [da audiência] para além dos canônicos 60-120 minutos de transmissão; vender publicidade no novo espaço criado; aumentar os lucros, ou compensar menores entradas de receitas na TV. (2012, p.29-30 – Tradução nossa, itálico no original, negritos nossos).

O que se defende neste artigo é que, além dessa extensão relativa à emissão, seria necessário também considerar o desenvolvimento integrado dos programas (tanto o de TV quanto o de software para o público materializar sua experiência de segunda tela) durante a produção televisual.

É exatamente no sentido de analisar conceitualmente a complexificação processual e os impactos potenciais aos três atores afetados com a experiência de segunda tela, o autor deste artigo tem conduzido (conforme mencionado ainda na Introdução do presente texto) projeto de pesquisa que investiga o processo de produção de TV em abordagem interdisciplinar, considerando a sincronização dos ciclos de vida de projeto15 15 Data about awarded degrees were not explicit in general because there was not a template document that consider this information as a relevant aspect to record. Historically, the Intercom Congress is an inclusive event, open to the presentation of papers from undergraduate students and specialists. Yet, with the consolidation of the GP Radio and Sound Media, there is a prevalence of papers presented by PhDs through the recent years – in 2015, for example, they were 33 (58.9% of the total), both individually written or co-signed with researchers in training. de Produção de TV, Engenharia de Software e Gerenciamento de Projetos/Operação Continuada. São englobadas então duas grandes áreas: Comunicação (abrangendo estudos televisuais e estudos de produção) e Engenharia de Software (processos de desenvolvimento de software), além de aspectos de gestão (gerenciamento de projetos e operação continuada16 16 Tanto o gerenciamento de projetos quanto a operação continuada têm como referência teórica os processos de gestão sugeridos pelo PMI – Project Management Institute (PMBOK, 2013). ). Há que se destacar, contudo, que apesar do envolvimento de vários ciclos de vida, áreas de conhecimento e noções teóricas, a Comunicação constitui a referência central da pesquisa, uma vez que as articulações propostas ocorrem a partir do processo de produção de TV. Mas abordar as potencialidades de integração (assim como as dificuldades observadas) ocuparia muito espaço neste artigo. Caso o leitor tenha interesse, o autor vem desenvolvendo análises e reflexões iniciais acerca de tais integrações (considerando também a sincronização entre os ciclos de vida de produção de TV e desenvolvimento de software, orquestradas por processos de gerenciamento de projetos) que estão disponíveis em anais de congressos17 17 O leitor pode consultar artigos deste autor nos anais do Intercom Nacional (nos anos de 2016 e 2017), nos anais do 14th CONTECSI (International Conference On Information Systems And Technology Management) e nos anais do Working Group Media Production Analysis de 2017 do congresso da IAMCR (International Association for Media and Communication Research). .

Neste texto optou-se por apresentar, considerando uma situação da práxis, como tem ocorrido a sincronização de conteúdos entre telas (como tem sido equacionado pelas emissoras os interesses dos anunciantes, atores fundamentais no modelo de negócios baseado na venda de audiência). Adicionalmente à apresentação, é realizada ainda uma análise em relação ao app proprietário fornecido pela Rede Globo para uso pela audiência durante o programa SuperStar18 18 Super Star é o nome atribuído no Brasil para a franquia do reality show de competição musical Rising Star, cujo formato foi definido e é comercializado pela TV israelense Keshet (RISING STAR, 2015). . Tal análise é resultante de acompanhamento do programa (em formato observação participante) durante a terceira temporada no Brasil do reality show.

Aqui vale uma breve justificativa pela opção em relação à Rede Globo e ao programa SuperStar: inicialmente, a emissora foi selecionada pelo autor para a condução de parte das investigações em função do fato de ela reconhecidamente constituir uma espécie de padrão tácito que acaba sendo adotado pelas demais emissoras que operam em formato comercial no Brasil. Também em função do aspecto de preparação cultural para interatividade desse canal de TV19 19 Podem ser citados desde convites para envio de cartas (ainda na década de 1980 em programas da emissora) até opções para votação em programas como Você decide ou em reality shows (MARQUIONI, 2016, p.115-119). . O autor tem analisado ainda alternativas de interatividade fornecidas pela emissora desde o desenvolvimento de sua tese de doutorado, defendida no ano de 2012.

Em relação ao programa SuperStar, a escolha se deu em função de o app utilizado na franquia de competição musical, constituir um exemplo de materialização de experiência de segunda tela (a) controlada pela emissora que é fundamental para a narrativa do programa. Ele caracteriza então um caso de app que tanto habilita a experiência de segunda tela quanto deve ser fornecido para o público necessariamente junto com o conteúdo televisual (estabelecendo uma espécie de necessidade de máxima sincronização de ciclos de vida para que ambos os programas, de TV e de software, sejam lançados simultaneamente). Há, ainda, uma constante sincronização do conteúdo do app com o conteúdo televisual que acontece repetidamente ao longo da veiculação (a cada episódio apresentado do programa de TV são iniciadas várias seções de votação para a audiência definir os candidatos que devem permanecer na competição musical – tais seções sincronizam o conteúdo veiculado na TV com o conteúdo apresentado no gadget). O app de SuperStar ainda estabelece conexão com redes sociais digitais: as opções de voto durante o programa podem ser compartilhadas pelo telespectador/internauta naquelas redes diretamente a partir do aplicativo proprietário. Finalmente, a opção por apresentar o conteúdo do reality show de competição musical SuperStar pode ser justificada pelo fato de que diferente da perspectiva segundo a qual “próxima coisa a perseguir é compartilhamento de publicidade [patrocinadora do conteúdo da Internet] com a televisão” (WOLFF, 2015WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015., p.25 – Tradução nossa), ou mesmo considerando a possibilidade de sincronização dos “conteúdos dos dispositivos portáteis com a programação linear da emissora” (CARNEIRO, 2012CARNEIRO, Rafael Gonçalez. Publicidade na TV digital: um mercado em transformação. São Paulo: Aleph, 2012., p.152), efetivamente o aplicativo utilizado para materializar experiência de segunda tela no programa permite observar que tais características tem sido consideradas ainda de modo limitado pela emissora que veicula o programa. De fato, ao acompanhar a veiculação do programa usando o app é possível constatar que tem sido adotada uma abordagem que distancia de tratamentos mais elaborados – logo, considerando apenas os anunciantes efetivos do programa, sem mencionar a possibilidade de fornecimento de anúncios a públicos direcionados nos ambientes digitais, analogamente ao que acontece no caso das redes sociais digitais (WOLFF, 2015WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015., p.36-37), quando ocorre a venda de anúncios específicos em função das preferências do público (ou de acessos prévios realizados em seus dispositivos).

Na seção seguinte são apresentadas quais foram as sincronias de anunciantes entre telas passíveis de serem observadas durante a terceira temporada brasileira da franquia, veiculada no primeiro semestre de 2016.

O app de SuperStar: um caso de sincronização de publicidades entre telas

Para compreender o app proprietário de SuperStar vale destacar que a interface do app assume vários estados20 20 Tecnicamente para um produto de software, um “estado é uma situação na vida de um objeto durante a qual ele satisfaz alguma condição ou realiza alguma atividade” (BEZERRA, 2007, p.288). ao longo do período em que o programa está sendo veiculado na primeira tela (na TV). Para compreender a sofisticação associada ao modo de uso do app, a Figura 1 apresenta um diagrama das transições de estados21 21 Ibama is the acronym for the Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources. possíveis – o diagrama foi elaborado pelo autor a partir do uso do app durante a observação participante, e foi criado de acordo com as regras da notação UMLUnified Modeling Language (BEZERRA, 2007BEZERRA, Eduardo. Princípios de Análise e Projeto de Sistemas com UML. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007., p.15-19) –, que é adotada pela comunidade de software mundial.

Figura 1
Diagrama sugerido das transições de estados do app do reality show de competição musical Superstar

A leitura do diagrama apresentado (Figura 1) ocorre a partir dos pontos indicados como Início, e avança acompanhando o sentido das setas entre os estados (as caixas apresentadas). Observe que cada estado teve uma numeração associada em seu título, a fim de facilitar as referências ao longo das análises realizadas adiante.

Cada seta associada à transição entre estados apresenta duas marcações. A primeira marcação corresponde à condição (C) que deve ocorrer no ambiente de uso do app para que seu uso avance (se passe de um estado a outro): trata-se de um evento iniciado ora pelos telespectadores, ora pela emissora; na Figura 1, os eventos iniciados pelos telespectadores são indicados com a notação {T}, enquanto os eventos iniciados pela emissora são indicados com a notação {E}. O segundo marcador apresentado é a ação (A) correspondente executada no aplicativo que promove a efetiva transição entre um estado e outro. A leitura do diagrama ocorre então entre estados, no sentido das setas, até ser alcançado o ponto indicado como Final. Vale observar também que o quadro ‘Repetição’ na Figura 1 indica o grupo de estados que vai se repetindo ao longo de toda a veiculação do programa na primeira tela (tal grupo se repete para cada votação da audiência, em relação a cada competidor do reality show que se apresenta). Assim, os estados entre 03 e 10 (inclusive) ocorrem várias vezes enquanto o programa está no ar; por outro lado, os estados 01 e 02 ocorrem tipicamente apenas uma vez (a única possibilidade de os estados 01 e 02 ocorrerem mais que uma vez durante a mesma veiculação de SuperStar é no caso de o telespectador sair por conta própria do app, e desejar acessar o app posteriormente ainda durante aquela veiculação do programa). O estado 11 também ocorre uma única vez, quando a emissora encerra a veiculação do programa na TV (e, no mesmo instante, encerra a execução do app através do qual é materializada a experiência de segunda tela).

Uma análise quantitativa dos marcadores nas setas que indicam a transição entre os estados permite constatar que efetivamente o (a) controle é da emissora durante o uso do app: na maioria dos casos, em dezessete ocorrências, os eventos têm associada uma ação originada pela emissora (trata-se de ações executadas em retaguarda, que justificam realizar análise futura em artigo específico). Por outro lado, em apenas oito transições entre estados os eventos têm ação direta do telespectador. Contudo, é fundamental notar que ainda que o telespectador não gere eventos no app em relação a uma série de eventos que motivam transições de estados (conforme é possível observar na Figura 1), em todos os onze estados indicados há uma interface específica exibida (trata-se de uma imagem apresentada no app), com a qual a audiência tem contato visual (e, em oito casos, pode efetivamente interagir). A própria identificação dos estados pelo autor deste artigo (que inclusive habilitou a elaboração do diagrama apresentado na Figura 1) somente foi possível em função do fato de que tais interfaces variam a cada estado assumido.

Ora, uma vez que o telespectador necessita olhar também para o app durante a veiculação (a fim de identificar os momentos em que pode interagir) é possível realizar uma análise da mencionada articulação/sincronização dos anunciantes entre primeira e segunda tela, já que a “segunda tela é uma grande oportunidade aos anunciantes que veem a compra do meio televisual como uma experiência integrada [...] em que cada componente (ou tela) trabalha em conjunto – tornando assim a publicidade mais impactante” (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.103 – Tradução nossa). Para esta análise, as Figuras 2, 3, 4 e 5 apresentam interfaces capturadas relativas a quatro dos estados apresentados na Figura 1 (tratam-se dos estados 01, 02, 03 e 10).

Figura 2, 3, 4 e 5
Conteúdo apresentado no app durante os estados 01, 02, 03 e 1022 22 Vale observar que o estado 10, referente à Figura 05, é iniciado também quando o programa tem exibição suspensa temporariamente por motivos distintos dos breaks comerciais (no caso do dia da captura das imagens, houve uma série de interrupções durante a veiculação de SuperStar solicitadas pelo Departamento de Jornalismo da Rede Globo em função da cobertura jornalística do dia de votação na Câmara dos Deputados da abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff). (conforme Figura 01), respectivamenteFonte: Imagens obtidas na Internet23 23 Disponível em: <http://api.rtp.scrnz.com/front/mt-webview/?

Vale observar que as imagens apresentadas em seguida foram obtidas no website do programa (acessado pelo notebook, e não através de um aparelho smartphone); contudo, mesmo naquele site é sugerido que o app estaria sendo acessado em uma tela de smartphone (um aparelho telefônico deste tipo é apresentado como a alternativa para voto da audiência no site da emissora). Parece se caracterizar um caso de preparação cultural para uso de apps de segunda tela através de um aparelho tablet ou smartphone, quando o telespectador estiver de posse de um dispositivo deste tipo.

Há que se destacar também que apesar de serem fornecidas nas Figuras 2, 3, 4 e 5 as imagens relativas a apenas quatro dos onze estados apresentados na Figura 1, esse conteúdo visual parece suficiente para as análises deste artigo. Ocorre que, curiosamente, os patrocinadores do programa são apresentados no app de SuperStar apenas em contexto que não envolve o ato de compartilhamento de atenção em sentido estrito (ou nos momentos em que supostamente o espectador estaria com maior atenção orientada ao gadget de segunda tela). Explicando: apenas no caso das Figuras 2 e 3 é possível observar um dos três anunciantes do programa24 24 Na temporada em tela (a terceira edição da versão brasileira da franquia), havia três patrocinadores principais: a bala Tic-Tac, a rede de hipermercados Carrefour e o desengordurante Veja Multiuso. – trata-se da bala Tic-Tac, cujo banner pode ser observado no rodapé do monitor das Figuras 2 e 3, mas não aparece em nenhuma outra interface do app durante toda a veiculação do programa. Mesmo ao acessar o app a partir de outros dispositivos (o autor do artigo acessou o aplicativo em três gadgets, smartphone, tablet e notebook), apenas um dos três anunciantes era apresentado. Os demais patrocinadores (assim como a própria bala que é anunciada no gadget) são mencionados apenas em ações de merchandising enquanto o programa está no ar (ou nos breaks comerciais).

Outro aspecto que merece destaque em relação a este anúncio envolve o fato de que apenas enquanto o programa não está no ar (caso do estado 01), ou quando o programa já entrou no ar, mas o espectador ainda não alcançou o status de votante o anunciante tem publicidade apresentada (o espectador assume status de votante, papel chave no contexto do reality show de competição musical relativo ao app apenas a partir do estado 03). Mesmo que seja argumentado que esta opção por omitir anunciantes durante as etapas chave do uso do app seja associada a não confundir o público em momentos importantes, há que se observar que, paradoxalmente, mesmo no momento quando o programa inicia seu break comercial na primeira tela, o app apresenta um estado específico (estado 10, Figura 5), no qual não há indicação dos patrocinadores do programa.

Tal análise permite inferir que no caso do app proprietário para a audiência materializar sua experiência de segunda tela deste programa no Brasil, ainda que o (a) controle das ações esteja com a emissora, a sincronização de anunciantes entre telas tem ocorrido de modo limitado. Afinal de contas, o uso do potencial de apresentar ao telespectador os anunciantes de modo sincronizado entre telas não pode ser efetivamente observado no app proprietário de SuperStar. A rigor, naquele que pode ser considerado o momento de participação máxima do público em relação ao programa (quando é realizada a votação que define a permanência do competidor em apresentação) – e que ainda constitui uma interface apresentada várias vezes para a qual o membro da audiência precisa olhar – não há menção aos patrocinadores do programa.

Considerações finais

Espera-se, caso haja uma nova temporada do programa, acompanhar novamente a veiculação em formato de observação participante para nova avaliação de sincronização entre telas. De fato, é possível inferir que a articulação de anunciantes entre as telas durante a veiculação do programa tem ocorrido de modo relativamente limitado, ainda que o controle esteja com a emissora; em outros termos, considerando o modelo de negócios de venda de publicidade, a experiência de segunda tela tem sido limitadamente expandida no caso do app analisado. Tal uso limitado parece, em certa medida, reforçar o problema potencial da “distração” da audiência, ainda que no caso analisado neste artigo a interatividade ocorra através do uso de um app proprietário fornecido pela emissora. Paradoxalmente, ainda que o controle do app esteja com a emissora, ela não exibiu (no caso de SuperStar) os patrocinadores em momentos chave do uso do software que possibilita materializar a experiência de segunda tela.

Na continuidade do projeto espera-se sistematizar as análises relativas à integração dos ciclos de vida de desenvolvimento de software e gerenciamento de projetos com aquele de produção de TV. Especialmente pelo uso de abordagem teórica associada aos estudos de produção, tem-se ainda tentado contato (até o momento, quando este artigo é finalizado, sem sucesso) com duas emissoras de TV que fornecem app de segunda tela no sentido de realizar uma investigação que vá além da observação do conteúdo veiculado na TV e disponibilizado no app.

De toda forma, independentemente do sucesso em tais contatos com as emissoras, espera-se adicionalmente, considerando as análises apresentadas neste artigo, abordar conceitualmente em que medida (e de que modo) os intervalos comerciais e a publicidade no app (ou os anúncios publicitários entre telas) poderiam ser articulados para atender aos três atores chave afetados pelas reconfigurações em curso (e inevitáveis) no complexo sistema cultural que é a televisão no Brasil. Afinal de contas, essa articulação parece fundamental para que o público de TV possa passar pela espécie de migração de uma audiência sintonizada para uma audiência efetivamente conectada aos canais de TV.

  • 1
    No caso da TV nos Estados Unidos, pesquisa realizada no ano de 2011 identificou que 86% dos entrevistados usavam o telefone celular enquanto assistiam TV, ao passo que 23% utilizavam o aparelho para obter informações em relação ao conteúdo que assistiam. Ainda, 70% dos entrevistados alegaram que utilizavam mais frequentemente seu tablet em frente à televisão (PROULX; SHEPATIN, 2012PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV: How Marketers Can Reach and Engage Audiences by Connecting Television to the Web, Social Media, and Mobile. New Jersey: John Wiley & Sons, 2012., p.87). Quanto ao Brasil, dados do relatório PNAD relativos ao ano de 2013 (divulgados em 2015) identificaram, “pela primeira vez, [...] o acesso domiciliar à Internet por meio de [...] telefone móvel celular, tablet, televisão e outros equipamentos eletrônicos” (PNAD, 2015PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Acesso à Internet e à Televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2013. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv93373.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2015.
    http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac...
    ). O relatório informou que os “percentuais de domicílios que utilizavam a Internet conforme o tipo de equipamento são os seguintes: telefone móvel celular ou tablet (57,3% ou 17,9 milhões), telefone móvel celular (53,6% ou 16,8 milhões), tablet (17,2% ou 5,4 milhões), televisão (2,7% ou 832 mil) e outros equipamentos (0,7% ou 210 mil)” (PNAD, 2015PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Acesso à Internet e à Televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2013. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv93373.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2015.
    http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac...
    ). Estes dados, associados às informações de que (i) o público que mais assiste “TV com [enquanto navega na] Internet são os jovens, principalmente entre 20 a 24 anos, [de que (ii)] são os adolescentes de 15 a 19 anos os que mais comentam sobre a televisão na Internet [...] [, e de que (iii) entre os adultos, esse hábito é maior entre as mulheres e entre as pessoas de classe econômica AB” (NO BRASIL, 2013NO BRASIL, 43% dos internautas assistem à TV enquanto navegam. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/No-Brasil-43-dos-internautas-assistem-a-TV-enquanto-navegam.aspx>. Acesso em: 08 ago. 2013.
    http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/P...
    ), os dados do relatório PNAD auxiliam a mapear preliminarmente o cenário de adaptação no modo de assistir TV do público brasileiro. Vale destacar que na atualização do relatório PNAD com dados de 2015 (divulgados em 2016) “considerou-se somente a utilização da Internet feita pela própria pessoa por meio de computador de mesa ou portátil (laptop, notebook, palmtop, pocket pc, handheld). Não foi abrangido, portanto, o acesso à Internet feito por outros meios (telefone móvel celular, televisão a cabo ou satélite, game console)” (PNAD, 2016______. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Síntese de Indicadores 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98887.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2016.
    http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac...
    ). Contudo, nessa mesma atualização do relatório informou-se que as “proporções de domicílios com microcomputador (46,2%) e com microcomputador com acesso à Internet (40,5%) registraram retrações de 2,3 e 1,6 pontos percentuais. [...] Isso se deve ao crescimento do acesso por meio de outros equipamentos” (PNAD, 2016______. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Síntese de Indicadores 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98887.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2016.
    http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac...
    ). É possível inferir então que tal crescimento esteja potencialmente associado exatamente ao uso de gadgets do tipo smartphone e tablet. A atualização dos dados em relatório futuro deve permitir avançar com a análise.
  • 2
    Enquanto no passado os diálogos (durante a veiculação) associados ao conteúdo transmitido ocorriam tipicamente nas salas de visitas das residências (local por excelência onde costumava ser instalado o aparelho televisor nos domicílios), a Internet e as redes sociais digitais ampliaram o alcance dessas conversas.
  • 3
    No caso do Brasil, é possível citar os casos da série Hannibal – veiculada pelo canal AXN (MACHADO FILHO, 2013) – e da série Projeto S.O.F.I.A. – desenvolvida pela TV Unesp/Bauru (OLIVEIRA; CARDOSO; COQUEMALA, 2016OLIVEIRA, Bruno J.; CARDOSO, Fabio; COQUEMALA, Natália A.. Convergência e interatividade na linguagem televisiva: elaboração do programa de TV Projeto S.O.F.I.A.. In: Intercom Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, XXXIV Intercom, 2016, São Paulo. Anais... São Paulo: ECA/USP, 2016.).
  • 4
    Houve um caso no Brasil de conteúdos disponibilizados por uma emissora de TV pública em app proprietário; na situação, à medida que as matérias jornalísticas eram veiculadas na TV, o espectador recebia e podia acessar, em seu gadget, informações complementares fornecidas pelo canal de TV. Trata-se do app da TV Cultura de São Paulo (MARQUIONI, 2016______. Programas jornalísticos na TV aberta brasileira: entre atualizações da experiência televisual e a manutenção de antigos contratos de leitura. Jundiaí: Paco Editorial, 2016., p.121-129).
  • 5
    Aqui se concorda com observação apresentada por James Blake, segundo a qual a “‘Segunda tela’ é melhor entendida não como um objeto ou um dispositivo de mídia, mas como uma experiência” (2017, p.1 – Tradução nossa, itálico no original).
  • 6
    Novamente conforme James Blake entende-se aqui o “ conceito de ‘segunda tela’ [como] a estória de uma união conveniente entre duas [...] plataformas [...]: a televisão e dispositivos móveis” (2017, p.1 - Tradução nossa); mais especificamente aqueles conectados à Rede.
  • 7
    Para mais detalhes acerca da definição de experiência de TV considerada, consulte Marquioni (2016, p.77-99)MARQUIONI, Carlos Eduardo; OLIVEIRA, Caroline Cavalcanti. Sobre novas formas de manipulação do tempo na televisão (ou Redefinindo a noção de TV ‘ao vivo’ via redes sociais). Revista Comunicação e Sociedade, v.38, n.2, p.209-229, maio/agosto 2016..
  • 8
    “Às vezes é difícil dizer o que não é publicidade na televisão. [...] O telespectador comum pensa que os comerciais são um mal necessário – ou ele assim o diz. Quinze minutos de ‘anúncio’ por hora são uma chateação que acha suportável, já que lhe propicia os programas favoritos. Ele não percebe que o contrário seria mais verdadeiro: toda a programação da televisão está em função da publicidade” (PIGNATARI, 1984PIGNATARI, Décio. Signagem da televisão. São Paulo: Brasiliense, 1984., p.29). Consulte também Williams (2005, p.24)WILLIAMS, Raymond. Television: Technology and Cultural Form. Padstow: Routledge Classics, [1974] 2005..
  • 9
    As “audiências não podem ser vistas como uma categoria a ser entendida, mas como uma mercadoria a ser vendida aos anunciantes” (CASEY et al, 2002CASEY, Neil et al. Television studies: the key concepts. London and New York: Routledge Taylor & Francis Group, 2002., p.13 – Tradução nossa). De fato, a disputa por índices de audiência “é algo mais do que uma simples questão de prestígio para as emissoras, pois são eles que determinam as tabelas de preços que elas vendem às agências de publicidade, periodicamente” (PIGNATARI, 1984PIGNATARI, Décio. Signagem da televisão. São Paulo: Brasiliense, 1984., p.31).
  • 10
    Vale destacar que aqui se considera a Internet mais como um sistema de informação do que como um meio: “Um sistema de informação não é sempre uma mídia [...] [e] não há mídia sem uma representação a priori de um público. Essa característica fundamental da comunicação mediatizada permite compreender porque um grande número de atividades da Internet não depende de uma lógica das mídias. Na realidade, uma das condições do seu sucesso é que se trata de uma rede em que não há nenhum público predefinido” (WOLTON, 2003WOLTON, Dominique. Internet, e depois? Porto Alegre: Editora Sulina, 2003., p.95-97).
  • 11
    Fala-se em indicativo geral no sentido em que a partir dos índices percentuais de audiência é possível observar a flutuação entre canais, e inferir o deslocamento do público.
  • 12
    É importante destacar, contudo, que mesmo no caso em que o espectador utiliza o app ele pode eventualmente não estar atento aos anúncios. Trata-se de algo que pode ser observado também desde os primórdios da publicidade na Internet – o que acarretou, inclusive, a necessidade de ser reavaliada a forma de mensuração de anúncios na Rede: “Se as pessoas não estavam prestando atenção nos anúncios, se elas podiam evita-los, se elas estavam clicando e deixando-as em microssegundos, se não havia forma estrutural de fazer as pessoas prestarem atenção, então seu valor iria cair” (WOLFF, 2015WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015., p.49 – Tradução nossa). Entende-se, contudo, que este segundo risco tende a ser menor, dependendo do modo como for equacionada a apresentação do conteúdo publicitário entre telas. Aqui, a criatividade dos anúncios apresentados na segunda tela parece constituir um fator chave – inclusive em relação a quando (seria o momento de) exibir conteúdos.
  • 13
    A TV digital brasileira não habilitou (conforme informado que aconteceria) interatividade efetiva diretamente via aparelho de TV. Tampouco habilitou interatividade considerando a experiência de TV conforme adotada neste artigo: ainda que exista o caso apresentado na obra Brasil 4D no ano de 2013 (cotada nas referências deste artigo) – apesar da inquestionável relevância sob perspectiva social –, a situação de uso abordada naquela iniciativa envolvia transformar o aparelho televisor em um computador (trata-se, a rigor, do uso da TV digital interativa em uma experiência de computador – ou de Internet –, mas não de televisão). As ações de interatividade executadas em experiência de segunda tela parecem equacionar essa espécie de anomalia experiencial (ou ainda proporcionar a interatividade não oferecida efetivamente) em relação à TV digital interativa (no sentido em que passa a ser possível para a audiência interagir com o conteúdo televisual – em experiência de TV – enquanto assistindo TV, ainda que seja necessária outra tela, que não a da televisão digital interativa, para materializar a ação).
  • 14
    According to data from the Ministry of Education, available on: <http://emec.mec.gov.br/>. Accessed on: July 5th, 2016.
  • 15
    Data about awarded degrees were not explicit in general because there was not a template document that consider this information as a relevant aspect to record. Historically, the Intercom Congress is an inclusive event, open to the presentation of papers from undergraduate students and specialists. Yet, with the consolidation of the GP Radio and Sound Media, there is a prevalence of papers presented by PhDs through the recent years – in 2015, for example, they were 33 (58.9% of the total), both individually written or co-signed with researchers in training.
  • 16
    Tanto o gerenciamento de projetos quanto a operação continuada têm como referência teórica os processos de gestão sugeridos pelo PMI – Project Management Institute (PMBOK, 2013PMBOK. A guide to the project management body of knowledge (5th ed.). Pennsylvania: Project Management Institute, Inc., 2013.).
  • 17
    O leitor pode consultar artigos deste autor nos anais do Intercom Nacional (nos anos de 2016 e 2017), nos anais do 14th CONTECSI (International Conference On Information Systems And Technology Management) e nos anais do Working Group Media Production Analysis de 2017 do congresso da IAMCR (International Association for Media and Communication Research).
  • 18
    Super Star é o nome atribuído no Brasil para a franquia do reality show de competição musical Rising Star, cujo formato foi definido e é comercializado pela TV israelense Keshet (RISING STAR, 2015RISING STAR. The music talent show that lets the viewer reach for the stars in real time!. Disponível em: <http://www.keshetinternational.com/show/entertainment/rising-star/>. Acesso em: 19 dez. 2015.
    http://www.keshetinternational.com/show/...
    ).
  • 19
    Podem ser citados desde convites para envio de cartas (ainda na década de 1980 em programas da emissora) até opções para votação em programas como Você decide ou em reality shows (MARQUIONI, 2016______. Programas jornalísticos na TV aberta brasileira: entre atualizações da experiência televisual e a manutenção de antigos contratos de leitura. Jundiaí: Paco Editorial, 2016., p.115-119).
  • 20
    Tecnicamente para um produto de software, um “estado é uma situação na vida de um objeto durante a qual ele satisfaz alguma condição ou realiza alguma atividade” (BEZERRA, 2007BEZERRA, Eduardo. Princípios de Análise e Projeto de Sistemas com UML. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007., p.288).
  • 21
    Ibama is the acronym for the Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources.
  • 22
    Vale observar que o estado 10, referente à Figura 05, é iniciado também quando o programa tem exibição suspensa temporariamente por motivos distintos dos breaks comerciais (no caso do dia da captura das imagens, houve uma série de interrupções durante a veiculação de SuperStar solicitadas pelo Departamento de Jornalismo da Rede Globo em função da cobertura jornalística do dia de votação na Câmara dos Deputados da abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff).
  • 23
  • 24
    Na temporada em tela (a terceira edição da versão brasileira da franquia), havia três patrocinadores principais: a bala Tic-Tac, a rede de hipermercados Carrefour e o desengordurante Veja Multiuso.

Referências

  • BEZERRA, Eduardo. Princípios de Análise e Projeto de Sistemas com UML Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
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    » http://www.ebc.com.br/sites/default/files/brasil_4d.pdf
  • CARNEIRO, Rafael Gonçalez. Publicidade na TV digital: um mercado em transformação. São Paulo: Aleph, 2012.
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  • MACHADO FILHO, Francisco. Segunda tela: tendências, oportunidades e modelo de negócio concomitante à TV digital aberta no Brasil. In: Intercom Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, XXXVI Intercom, 2013, Manaus. Anais... Manaus: UFAM, 2013.
  • MARQUIONI, Carlos Eduardo; OLIVEIRA, Caroline Cavalcanti. Sobre novas formas de manipulação do tempo na televisão (ou Redefinindo a noção de TV ‘ao vivo’ via redes sociais). Revista Comunicação e Sociedade, v.38, n.2, p.209-229, maio/agosto 2016.
  • ______. Programas jornalísticos na TV aberta brasileira: entre atualizações da experiência televisual e a manutenção de antigos contratos de leitura. Jundiaí: Paco Editorial, 2016.
  • NO BRASIL, 43% dos internautas assistem à TV enquanto navegam. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/No-Brasil-43-dos-internautas-assistem-a-TV-enquanto-navegam.aspx>. Acesso em: 08 ago. 2013.
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  • SCHLITTLER, João Paulo Amaral. TV digital interativa: convergência das mídias e interfaces do usuário (design de interação e as novas tecnologias de comunicação). São Paulo: Blucher, 2011.
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  • WOLFF, Michael. Television is the new television: the unexpected triumph of old media in the digital age. New York: Portfolio/Penguin, 2015.
  • WOLTON, Dominique. Internet, e depois? Porto Alegre: Editora Sulina, 2003.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    19 Dez 2016
  • Aceito
    07 Jul 2017
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